"Well, if they follow you don't look back / Like Dylan in the movies on your own" B&S
Faroeste alucinógeno. Juro que a coisa mais parecida que já vi acontecer no velho oeste foi "El Topo" (claro, do outro lado da fronteira), só que aqui com um clima e roteiro mais "Bonnie & Clyde".
Hã, Felype, não é exatamente o fato de, no ponto de vista do filme (de acordo com suas palavras), "o problema não ser a raça, mas o caráter do indivíduo que traça o destino de cada um" que faz dele uma resposta ponto a ponto a "Nascimento de uma Nação"? Se fosse simplesmente um filme com heróis negros e vilões brancos, não seria uma resposta, mas uma imagem espelhada invertida do filme de Griffith.
Assistir algo tão incrivelmente bom praticamente só com imagens sem palavras (principalmente se excetuamos aquele final alienígena e desnecessário) me faz quase concordar com aqueles que achavam que o cinema falado arruinaria o que o cinema tem de melhor.
Um filme sobre um rei sem graça de uma família real sem poderes de um império decadente e sanguinário com um recorte especial sobre a provavelmente única relação importante desse império com um Estado estrangeiro que não foi de opressão direta. Em resumo, um filme-propaganda para manter a família real britânica bem na fita da opinião pública mundial, com Geoffrey Rush num papel providencialmente arranjado para a película não parecer tão simplista, bobinha, conservadora e apologista quanto realmente é.
Bonitinho. Os relacionamentos entre os personagens não são lá muito críveis - as coisas que se conhecem factualmente deles são relatadas de uma forma asséptica que não condiz com a natureza violenta dos acontecimentos. Tirando os prós de fazer um filme sobre Rimbaud/Verlaine e os contras de ter feito uso ruim desse material, sobram algumas atuações competentes, belas imagens e nus para todos os gostos, incluindo até gostos heterossexuais masculinos. Mas fiquei com uma curiosidade histórica, a conferir: Rimbaud era mesmo um crianção que achava que estava sendo subversivo quando estava sendo só babaca?
Eu ia fazer um comentário, mas desisti enquanto pensava em como os micróbios do teclado podem me passar câncer. Não que isso faça diferença quando pensamos na marcha abissal do Universo, que segue seu absurdo indiferente ao que fazemos. E de qualquer forma, para quê eu iria comentar qualquer coisa com vocês, vermezinhos cabeça-oca?
Miyazaki antes de ser Miyazaki, trabalhando com personagens que não são dele e sem as temáticas usuais. A profusão absurda de personagens e reviravoltas no plot dão um efeito "cédula-bode" que pode fazer o filme passar por um legítimo 100 % Miyazaki; e como fã do dito cujo, compro fácil (sou fã do cara, vou fazer o quê?).
Filme engraçado e imaginativo, mas também uma inverossímel imagem duma infância pequeno-burguesa idealizada e perfeitinha. Um ode a harmonia de classes, família, escola, e consumismo.
Putz... é como ver uma espécie de mistura norte-americana de "Vidas Secas", "O Quinze" e "Os Corumbas" colocada nas telas sem perder o impacto original. E talvez para um brasileiro (e nordestino) o filme impressione bem mais que a um espectador americano contemporâneo. Afinal, Oklahoma, assim como o Haiti, é bem aqui.
Definitivamente, preciso reassistir... até agora, ainda não vi outro filme pré-Bergman sobre relações familiares tão maduro quanto este. (o que obviamente significa, espero, que ainda conheço muito pouco do cinema dos anos 20, 30 e 40) E essa maldita câmera baixa, pra completar...
Visconti não poderia achar para este filme um título mais adequado: sobre as ondas do mar ou nas relações sociais do seu vilarejo, em tudo os personagens do longa estão sobre "terra trêmula". Se lembrarmos então que já desde a Ilíada Poseidon, deus do mar, é chamado "enosícthon", o "Treme-Terra" (na tradução de Haroldo de Campos)... putz, a coisa encaixa como uma luva, mesmo. A escolha de pescadores nisso que pode ser visto tanto quanto caso concreto quanto alegoria marxista para as relações de produção na nossa sociedade (o que permite a exploração dos pescadores é a não-propriedade do seu meio de produção) não é nem um pouco gratuita: na Itália, desde a revolta seiscentista de Nápoles, liderada pelo pescador Masaniello, a profissão é considerada um arquétipo da força de trabalho explorada. A tentativa de ser simples e claro faz o discurso do filme parecer à beira do panfleto em dados momentos, mas o próprio desenrolar do longa mostra que ele é bem mais que isso (sem contar que a urgência do momento pós-fascista - o filme é de 1948 - mais que justifica a necessidade da mensagem sem arrodeios).
Um faroeste (?) lisérgico e alegórico regado a lições zen-budistas, surrealismo, violência, erotismo, e simbologia de todos os tipos. Fãs de mangás de plantão vão reconhecer instantaneamente a forte inspiração imagética do começo do filme nas histórias do mangá Kozure Ookami ("Lobo Solitário"), que teve seu lançamento em volumes realizado alguns meses mais cedo que a estréia do filme de Jodorowsky (o qual além de cineasta é excelente roteirista de quadrinhos, como pode ser conferido no erótico "Bórgia"), inspiração que transparece também nas lições paradoxais que o Topeira recebe de seus adversários (as falas de e sobre o primeiro dos Quatro chegam a ser transcrições praticamente literais). Uma elegia ambígüa da não-violência e de todas formas de resistência do indivíduo que não quer ou não pode ser normalizado. Sensacional.
O mais poético filme que vi de Griffith. Não entra na minha cabeça como o diretor de "O Nascimento de Uma Nação" pôde dirigir uma coisa cativante e bonita dessas. Simples (o mais simples que vi dele) e genial.
Inacreditável! Griffith muito além de Griffith - por que D. W. Griffith é obviamente um gênio, mas "Intolerância" só pode ter sido rodado pelo espírito da genialidade feito carne. Como foi possível para o mestre do melodrama clássico esse entrecruzamento genial de histórias através das eras, com direito a cortes para citações de Walt Whitman? (aliás, e acrescentando algo de curiosidade apenas acessória, acho que os cortes da Babilônia direto pra época moderna devem ser os de maior distância cronológica da história do cinema antes de 2001 - Uma Odisséia no Espaço) Como foi possível o autor de "O Nascimento de Uma Nação" produzir algo ideologicamente tão diverso e oposto de seu primeiro longa quanto "Intolerância"? Não tem como explicar de outra forma, Griffith foi possuído por um demônio divino ao idealizar e realizar esse filme.
Talvez eu guarde esse filme para sempre como paradigma do cinema melodramático romântico. O tratamento da questão da mulher aqui me surpreendeu positivamente, embora não seja tão liberal ou condescendente quanto possa parecer - um filme onde a heroína foi enganada numa cerimônia de casamento falsa não pode ser encarado exatamente como uma defesa da mãe solteira. A sequência final do clímax na tempestade e gelo é realmente espetacular, mostra o quanto uma produção ousada e cara podia fazer já na época de Griffith. No mais, quem gosta do gênero dificilmente encontrará um exemplar mais perfeito dele (e se não dou nota maior ao filme, é só porque essa não é exatamente minha praia...).
Pat Garrett e Billy the Kid
3.9 68 Assista Agora"Well, if they follow you don't look back / Like Dylan in the movies on your own" B&S
Faroeste alucinógeno. Juro que a coisa mais parecida que já vi acontecer no velho oeste foi "El Topo" (claro, do outro lado da fronteira), só que aqui com um clima e roteiro mais "Bonnie & Clyde".
(... meu terceiro Peckinpah e eu já fã do cara)
Pearl Harbor
3.6 1,2K Assista AgoraFalsificação histórica, pieguice irritante e mediocridade cinematográfica unidos para me oferecer um dos piores filmes da minha vida.
Dentro de Nossos Portões
3.3 33 Assista AgoraHã, Felype, não é exatamente o fato de, no ponto de vista do filme (de acordo com suas palavras), "o problema não ser a raça, mas o caráter do indivíduo que traça o destino de cada um" que faz dele uma resposta ponto a ponto a "Nascimento de uma Nação"? Se fosse simplesmente um filme com heróis negros e vilões brancos, não seria uma resposta, mas uma imagem espelhada invertida do filme de Griffith.
A Última Gargalhada
4.2 103 Assista AgoraAssistir algo tão incrivelmente bom praticamente só com imagens sem palavras (principalmente se excetuamos aquele final alienígena e desnecessário) me faz quase concordar com aqueles que achavam que o cinema falado arruinaria o que o cinema tem de melhor.
O Discurso do Rei
4.0 2,6K Assista AgoraUm filme sobre um rei sem graça de uma família real sem poderes de um império decadente e sanguinário com um recorte especial sobre a provavelmente única relação importante desse império com um Estado estrangeiro que não foi de opressão direta. Em resumo, um filme-propaganda para manter a família real britânica bem na fita da opinião pública mundial, com Geoffrey Rush num papel providencialmente arranjado para a película não parecer tão simplista, bobinha, conservadora e apologista quanto realmente é.
Dente Canino
3.8 1,2K Assista AgoraTremei, mundo; Lars Von Trier e Michael Haneke acabam de ganhar um irmão mais novo.
Eclipse de uma Paixão
3.6 221 Assista AgoraBonitinho. Os relacionamentos entre os personagens não são lá muito críveis - as coisas que se conhecem factualmente deles são relatadas de uma forma asséptica que não condiz com a natureza violenta dos acontecimentos. Tirando os prós de fazer um filme sobre Rimbaud/Verlaine e os contras de ter feito uso ruim desse material, sobram algumas atuações competentes, belas imagens e nus para todos os gostos, incluindo até gostos heterossexuais masculinos. Mas fiquei com uma curiosidade histórica, a conferir: Rimbaud era mesmo um crianção que achava que estava sendo subversivo quando estava sendo só babaca?
Eternamente Sua
3.9 33Que ESTRANHO! (sim, recém-chegado no sudeste asiático)
Dentro de Nossos Portões
3.3 33 Assista AgoraUma resposta à altura para "O Nascimento de Uma Nação". Mesmo sendo muito irregular, só as cenas de flash-back explicativo
sobre o passado da protagonista (com o episódio de quase-estupro e o linchamento de negros por brancos sulistas) e sobre o pastor manipulador
Tudo Pode Dar Certo
4.0 1,1KEu ia fazer um comentário, mas desisti enquanto pensava em como os micróbios do teclado podem me passar câncer. Não que isso faça diferença quando pensamos na marcha abissal do Universo, que segue seu absurdo indiferente ao que fazemos. E de qualquer forma, para quê eu iria comentar qualquer coisa com vocês, vermezinhos cabeça-oca?
Cisne Negro
4.2 7,9K Assista AgoraNatalie Portman, assim como Paulo, tem um espinho na carne. Só que o dela é literal.
O Castelo de Cagliostro
4.0 146 Assista AgoraMiyazaki antes de ser Miyazaki, trabalhando com personagens que não são dele e sem as temáticas usuais. A profusão absurda de personagens e reviravoltas no plot dão um efeito "cédula-bode" que pode fazer o filme passar por um legítimo 100 % Miyazaki; e como fã do dito cujo, compro fácil (sou fã do cara, vou fazer o quê?).
Jules e Jim - Uma Mulher Para Dois
4.1 335 Assista Agora"Abaixo a tudo!" - incluindo moralismo e remorso, n'est-ce pas, Catherine?
O Pequeno Nicolau
4.1 965Filme engraçado e imaginativo, mas também uma inverossímel imagem duma infância pequeno-burguesa idealizada e perfeitinha. Um ode a harmonia de classes, família, escola, e consumismo.
Vinhas da Ira
4.4 206Putz... é como ver uma espécie de mistura norte-americana de "Vidas Secas", "O Quinze" e "Os Corumbas" colocada nas telas sem perder o impacto original. E talvez para um brasileiro (e nordestino) o filme impressione bem mais que a um espectador americano contemporâneo. Afinal, Oklahoma, assim como o Haiti, é bem aqui.
E Agora, Para Algo Completamente Diferente
4.0 41bwah-ha-ha!
Filho Único
4.2 21 Assista AgoraDefinitivamente, preciso reassistir... até agora, ainda não vi outro filme pré-Bergman sobre relações familiares tão maduro quanto este. (o que obviamente significa, espero, que ainda conheço muito pouco do cinema dos anos 20, 30 e 40) E essa maldita câmera baixa, pra completar...
Um Homem com uma Câmera
4.4 196 Assista AgoraMelhor filme que já vi, de qualquer época, estilo ou gênero.
Valentin
4.4 297snif! (enxugando discretamente as lágrimas)
A Terra Treme
4.3 25Visconti não poderia achar para este filme um título mais adequado: sobre as ondas do mar ou nas relações sociais do seu vilarejo, em tudo os personagens do longa estão sobre "terra trêmula". Se lembrarmos então que já desde a Ilíada Poseidon, deus do mar, é chamado "enosícthon", o "Treme-Terra" (na tradução de Haroldo de Campos)... putz, a coisa encaixa como uma luva, mesmo. A escolha de pescadores nisso que pode ser visto tanto quanto caso concreto quanto alegoria marxista para as relações de produção na nossa sociedade (o que permite a exploração dos pescadores é a não-propriedade do seu meio de produção) não é nem um pouco gratuita: na Itália, desde a revolta seiscentista de Nápoles, liderada pelo pescador Masaniello, a profissão é considerada um arquétipo da força de trabalho explorada. A tentativa de ser simples e claro faz o discurso do filme parecer à beira do panfleto em dados momentos, mas o próprio desenrolar do longa mostra que ele é bem mais que isso (sem contar que a urgência do momento pós-fascista - o filme é de 1948 - mais que justifica a necessidade da mensagem sem arrodeios).
El Topo
4.0 219Um faroeste (?) lisérgico e alegórico regado a lições zen-budistas, surrealismo, violência, erotismo, e simbologia de todos os tipos. Fãs de mangás de plantão vão reconhecer instantaneamente a forte inspiração imagética do começo do filme nas histórias do mangá Kozure Ookami ("Lobo Solitário"), que teve seu lançamento em volumes realizado alguns meses mais cedo que a estréia do filme de Jodorowsky (o qual além de cineasta é excelente roteirista de quadrinhos, como pode ser conferido no erótico "Bórgia"), inspiração que transparece também nas lições paradoxais que o Topeira recebe de seus adversários (as falas de e sobre o primeiro dos Quatro chegam a ser transcrições praticamente literais). Uma elegia ambígüa da não-violência e de todas formas de resistência do indivíduo que não quer ou não pode ser normalizado. Sensacional.
Lírio Partido
4.0 97 Assista AgoraO mais poético filme que vi de Griffith. Não entra na minha cabeça como o diretor de "O Nascimento de Uma Nação" pôde dirigir uma coisa cativante e bonita dessas. Simples (o mais simples que vi dele) e genial.
Intolerância
4.0 108 Assista AgoraInacreditável! Griffith muito além de Griffith - por que D. W. Griffith é obviamente um gênio, mas "Intolerância" só pode ter sido rodado pelo espírito da genialidade feito carne. Como foi possível para o mestre do melodrama clássico esse entrecruzamento genial de histórias através das eras, com direito a cortes para citações de Walt Whitman? (aliás, e acrescentando algo de curiosidade apenas acessória, acho que os cortes da Babilônia direto pra época moderna devem ser os de maior distância cronológica da história do cinema antes de 2001 - Uma Odisséia no Espaço) Como foi possível o autor de "O Nascimento de Uma Nação" produzir algo ideologicamente tão diverso e oposto de seu primeiro longa quanto "Intolerância"? Não tem como explicar de outra forma, Griffith foi possuído por um demônio divino ao idealizar e realizar esse filme.
Inocente Pecadora
4.0 46 Assista AgoraTalvez eu guarde esse filme para sempre como paradigma do cinema melodramático romântico. O tratamento da questão da mulher aqui me surpreendeu positivamente, embora não seja tão liberal ou condescendente quanto possa parecer - um filme onde a heroína foi enganada numa cerimônia de casamento falsa não pode ser encarado exatamente como uma defesa da mãe solteira. A sequência final do clímax na tempestade e gelo é realmente espetacular, mostra o quanto uma produção ousada e cara podia fazer já na época de Griffith. No mais, quem gosta do gênero dificilmente encontrará um exemplar mais perfeito dele (e se não dou nota maior ao filme, é só porque essa não é exatamente minha praia...).