O mais notável nesse pequeno filme é como o seu diretor, ancorado pelo roteiro de Nico Mensinga, encontra na encenação do banal aquela veracidade que nos faz estabelecer um vínculo com uma mulher que não compreende se o seu desprendimento com as pessoas é sintoma da perda de sua humanidade. O fato de “Daphne” não estabelecer uma conclusão que ao menos rascunhe passos efetivos por uma transformação, entretanto, não dissipa o interesse por uma protagonista com evidente magnetismo.
A ausência de impasse, que só é suprida brevemente no clímax, não impede que “Corpo Elétrico” esteja contando uma história, muitas vezes traduzida em momentos muito bonitos na tela, como aquele em que Elias e os seus colegas de trabalho caminham pela noite após o fim do expediente, com várias interações particulares se materializando diante do plano. Uma fluidez com méritos que também devem ser depositados na conta de Hilton Lacerda (diretor de “Tatuagem” aqui contribuindo no roteiro) e principalmente pelo carisma de Kelner Macêdo, com potencial de seguir uma carreira tão promissora quanto a de Jesuíta Barbosa.
Como o próprio documentário aponta a certa altura, uma breve entrevista constou na pesquisa da dupla como o único registro audiovisual de Torquato Neto. Restou reconstruí-lo com a música, com as aparições no cinema, as poesias, as cartas pessoais. Há também as declarações somente sonoras de nomes como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Tom Zé e Ivan Cardoso, assim como a narração de Jesuíta Barbosa.
A forma que “Torquato Neto: Todas As Horas do Fim” assim assume poderá causar reações diversas. Por um lado, comprova especialmente o talento do montador João Felipe Freitas em estabelecer rimas. Por outro, a estrutura similar a de uma colagem, de ressignificar todo um material de arquivo, é plano por demais, sem picos emocionais. Vale o esforço em dar luz à uma figura que merece ser descoberta ou rediscutida.
Há muitas fórmulas em estágio de fermentação em “Thelma” e Trier parece um pouco perdido em desenvolvê-las simultaneamente, refletindo em uma experiência que se beneficiaria com alguns minutos a menos. De qualquer modo, acompanha-se com interesse a via crucis quase literal da protagonista, com consequências que rendem um terceiro ato explosivo. Além do mais, a proposta ousada autoriza o realizador a flertar com imagens impactantes nas suas representações de uma jovem aos poucos se livrando das amarras da repressão.
Aparentemente banal, a premissa também desenvolvida por Pedro Coutinho ganha fôlego pela decisão em deixar várias lacunas sobre como se deu o passado recente do protagonista, deixando que os seus passos no presente determinem o seu caráter. Há poucos flashbacks e os encontros que encena entre Antonio e Sofia não verbalizam necessariamente todas as razões para o fim do que experimentaram juntos.
Conhecido por suas extravagâncias, Spielberg volta a fazer um drama sóbrio na linha de seu “Ponte dos Espiões“, confiando à história e aos seus notáveis atores a temperatura emocional para pulsar o seu trabalho. A direção que aqui exerce é, inclusive, uma de suas melhores, enchendo de tensão o simples caminhar na redação do Washington Post ou as ligações feitas em telefones públicos pelo repórter interpretado por Bob Odenkirk, o grande destaque do elenco.
Em tempos de discursos feministas, Spielberg só exagera na licença poética, forçando a personagem como um modelo de liderança feminina. A maneira como ela é admirada ao descer pela escadaria da Suprema Corte chega a ser constrangedora. Mais adequado seria preparar à parte uma cinebiografia para Kay.
“Trama Fantasma” talvez seja o filme em que mais se tem as digitais de Paul Thomas Anderson impregnando o todo, no qual se responsabiliza, sem lhe conferir o crédito, pela fotografia. Mesmo a projeção digital não camufla todos os ruídos da bitola original de 35mm, trazendo uma nitidez à imagem muito mais palpável, bem como o sentimento de que estamos diante de uma narrativa encenada com toda a atmosfera do período na qual é ambientada.
O que impede Paul Thomas Anderson de elevar “Trama Fantasma” vem a ser a sua falta de prática no controle dos elementos fantasmagóricos de sua premissa, como se também tivesse centralizando os seus personagens em um cenário amaldiçoado pelo passado. Quando essa influência passa do campo da sugestão para se materializar diante dos nossos olhos, o sentimento é o de deslocamento com algo que não rivaliza com o assombro dos extremos que Alma e Woodcock sustentarão para seguirem juntos.
Além do acesso privilegiado a um protagonista contando a sua própria história, é interessante como os imprevistos forçam o documentário a percorrer caminhos a princípio inseguros e depois com novas possibilidades. Os diretores inclusive tocaram “Entre os Homens de Bem” dentro do intervalo de dois anos que se deu durante as filmagens de “Cartas Para Um Ladrão de Livros” a partir de uma prisão de Laéssio.
É como se aqui estabelecesse de improviso a pirâmide social defendida por Laéssio no campo criminal, na qual a base sempre atua como bode expiatório para as divisões superiores em que compradores anônimos de obras roubadas nunca são comprometidos criminalmente.
Além do acesso privilegiado a um protagonista contando a sua própria história, é interessante como os imprevistos forçam o documentário a percorrer caminhos a princípio inseguros e depois com novas possibilidades. Os diretores inclusive tocaram “Entre os Homens de Bem” dentro do intervalo de dois anos que se deu durante as filmagens de “Cartas Para Um Ladrão de Livros” a partir de uma prisão de Laéssio.
É como se aqui estabelecesse de improviso a pirâmide social defendida por Laéssio no campo criminal, na qual a base sempre atua como bode expiatório para as divisões superiores em que compradores anônimos de obras roubadas nunca são comprometidos criminalmente.
A singeleza do registro deixa evidente uma falta de espontaneidade, com encontros, troca de diálogos e narrações em off ensaiados demais para algo que deveria ser traduzido na tela com maior naturalidade. De qualquer modo, isso não torna desonesta a parceria sustentada por Agnès e JR, duas gerações que encontram uma possibilidade de cumplicidade mútua a partir de aspirações e inspirações traduzidas em fazeres artísticos bem distintos.
Com as estranhezas que esse relacionamento provoca, Ildikó Enyedi, também autora do texto, costuma um filme com duas horas que se beneficiaria com 20 minutos a menos, estes desperdiçados em uma subtrama que não leva a lugar algum. Neste caso, já é consenso crítico de que a investigação sobre o roubo de estimulantes para a procriação de animais é nula.
O que não significa que o romance, o que verdadeiramente move “Corpo e Alma”, seja comprometido com essa escolha. É bela a maneira como Enyedi vai costurando a aproximação entre Endre e Mária e o nó na garganta que passa a forçar na entrada do clímax, fazendo com que o seu filme se transforme em uma memória muito mais permanente em nós. A cantora folk Laura Marling deve inclusive estar orgulhosa do efeito devastador que a sua “What He Wrote” causa aqui.
É muito bonito ver nomes como Chadwick Boseman, Letitia Wright, Michael B. Jordan, Lupita Nyong’o, Danai Gurira, Daniel Kaluuya, Angela Bassett e Forest Whitaker para formar um elenco majoritariamente negro. Porém, quase todos soam aqui como peças caricaturais, seja em rituais africanos encenados com um gosto duvidoso, no alívio cômico deslocado num contexto de poder quase shakesperiano e principalmente na adoção de um dialeto tão constrangedor equiparável com o de astros americanos forjando sotaque alemão em filmes sobre o Holocausto.
É de fato muito importante o plano final em que um garoto negro da periferia e sem instrução olha admirável para um T’Challa como se estivesse diante de um modelo para ambicionar em seu futuro. Resta agora deixar os discursos um pouco de lado e entregar obras cinematográficas em que o seu panfleto não sirva de embrulho para um material oco.
De modo singelo, Greta Gerwig vai costurando uma narrativa em que os acontecimentos são ditados a partir das contradições enfrentadas pela sua protagonista (e alterego). É o coming of age da vez, um “Quase 18” de 2017 quando este já era um “Eu, Você e a Garota Que Vai Morrer” de 2016 e por assim vai. O que não significa que o registro de Greta seja desprovido de autenticidade e afetuosidade, acertando principalmente na dureza de um relacionamento entre mãe e filha que vai se tornando mais central ao curso do filme.
Por mais especial que seja, Sally Hawkins não tem território para desenvolver a sua personagem, justamente o centro de interesse de “A Forma da Água”, e muito menos a atração desenvolvida por um anfíbio. Elisa é uma mulher que del Toro sempre registra incapaz de se comunicar plenamente ao seu modo, geralmente com Zelda e Giles atuando como os seus porta-vozes. Por outro lado, pouco faz em seu favor quando ela é vista com “A Forma”, em encontros imediatos que não formam qualquer estofo para equiparar a intensidade com a qual tudo se dá em uma tentativa de salvar a criatura.
Bem como “A Colina Escarlate“, “A Forma da Água” também soa em muitos instantes como uma obra de alguém em início de carreira. Esteticamente, é mesmo muito belo. Dentro da embalagem, há um material oco, com direito a um vilão caricato que sempre masca ferozmente pastilhas e a disponibilidade de informações que denota um desleixo no texto em elaborar circunstâncias mais complexas. No encantamento pela aproximação de humanos com outras formas de vida que só poderiam sair de seu imaginário, del Toro, desta vez, só fez algo deslocado mesmo.
Patriótico até a medula, o texto de Anthony McCarten passa batido pelo Churchill real de caráter duvidoso, preferindo registrá-lo como um sujeito desacreditado que vai paulatinamente conquistando os seus compatriotas com uma oratória impecável. Portanto, é até perdoável que ele seja um imbecil em uma série de circunstâncias com a sua datilógrafa Elizabeth (Lily James), pois a seguir sempre haverá um gatinho debaixo da cama que ele deseja acariciar ou a sua esposa Clemmie (Kristin Scott Thomas, grande atriz no papel mais ingrato de sua carreira) para enaltecer o seu ímpeto.
Chega a ser até mesmo constrangedor os esforços para nos simpatizarmos com Churchill, culminando em uma cena patética em que ele não somente toma um metrô com proletariados, como é visto aos prantos se comunicando com eles. Por tudo isso, é triste que o reconhecimento maior do camaleônico Gary Oldman venha por “O Destino de Uma Nação”, no qual está na incômoda posição de bravejar discursos tediosos sob quilos de maquiagem que servem mais como muletas do que como um suporte para um grande talento.
Mesmo com a presença hipnótica de uma das maiores atrizes do cinema em atividade se virando dentro dos mais diversos tipos, “Manifesto”, como cinema, não é de fácil digestão. Tal consequência se dá muito como Rosefeldt opera os seus monólogos, mais preocupado por uma simetria, por uma apropriação absoluta de uma cenografia que se expande além do plano, muito mais criativa do que o modo como subverte os textos que tem em mãos. Felizmente, um dinamismo mais evidente é comprovado quando conseguimos nos habituar com o formato da proposta, vindo especialmente com um tom quase satírico antes ausente.
Como no monólogo de Claes Oldenburg, vindo do pop art, em que é dito como uma oração à mesa por Cate Blanchett como uma mãe conservadora. Ou na melhor parte do filme, onde temos Blanchett como uma âncora e uma repórter como porta-vozes dos representantes da arte conceitual Sol LeWitt, Elaine Sturtevant e Adrian Piper. Antes do encerramento, é também divertido ver a atriz como uma professora recitando as regras do Dogma 95, criadas pelos cineastas Lars von Trier e Thomas Vinterberg.
O melhor, contudo, é a perícia de um realizador que sabe muito bem o ambiente que está registrando. Também um funcionário público, Dellape encontra nos pequenos detalhes um potencial cômico enorme, da burocracia do serviço público (as ligações telefônicas prolongadas, os inúmeros procedimentos para o atendimento de uma solicitação) ao sentimento de estar preso em atribuições inúteis que sugam a vitalidade dos personagens, encontrando nas confraternizações regadas a Cereser e na fila para bater cartão um refúgio. A melhor comédia nacional em muito tempo.
O mais bacana de reconhecer é não apenas o fato de Paddington divertir também os adultos com um humor nada imbecilizado e das belas rimas visuais concebidas pelo diretor Paul King e o seu fotógrafo Erik Wilson, mas o enaltecimento da bondade como um valor a ser praticado nas relações humanas. Não emociona apenas o esforço dos Brown para provar a inocência de Paddington, mas também o poder natural deste em despertar em quem o cerca a capacidade de ser mais cordial e aberto para a vida. Parece pouco, mas há muito não se via um programa família tão afetuoso nessa abordagem.
Ao invés de tratar o enredo como um subterfúgio para construir um filme sobre um amor proibido e as suas barreiras, John Trengove, que tem no texto a colaboração de Malusi Bengu e Thando Mgqolozana, prefere corresponder à crueza da realidade, inclusive nas cenas tórridas entre Xolani e Vija em que há uma entrega que se dá mais por desejos reprimidos e menos por alguma paixão recíproca. Mesmo a resolução levemente calculada não reduz as virtudes de uma realização que contesta o cenário em que homens recorrem às ações extremas para mascarar quem verdadeiramente são em uma sociedade conservadora.
É excepcional a parceria que se dá aqui entre Luca Guadagnino e James Ivory. Nome que passou a ser reconhecido no cinema a partir de sua adaptação de “Cem Escovadas Antes de Ir para Cama”, Guadagnino não tem pudores no modo como registra a entrega entre dois corpos, conferindo uma carga dramática mesmo nas mais fetichistas de suas cenas. Já Ivory, com o seu vasto currículo como um diretor que sempre trabalhou as conexões amorosas, adapta um romance tão forte em palavras quanto é nas imagens fotografadas por Sayombhu Mukdeeprom com todas as granulações que remetem a um álbum de memórias.
Em “A Morte Te Dá Parabéns!”, Christopher Landon, com base no roteiro de Scott Lobdell, parte de um registro claramente mais descompromissado, como se tivesse satirizando não exatamente o slasher movie, mas sim o noventista teen horror, movimento instaurado por Wes Craven a partir da franquia “Pânico”. Caso inclusive fosse concebido para aquela época, é certo que “A Morte Te Dá Parabéns!” seria hoje exaltado como uma obra de culto.
Nesta adaptação do romance de Lauren Oliver, a diretora Ry Russo-Young (de “Caminho Para o Coração”) lida com uma personagem principal que não ganha do público uma empatia imediata. Pois logo Samantha (Zoey Deutch, notável) reavalia a adolescente popular e mesquinha que se transformou ao reconhecer que reprisa o dia em que perdeu a vida em um acidente de carro, paulatinamente admitindo que ser uma pessoa amável e cordial talvez seja muito mais interessante do que meramente inferiorizar aqueles que a cercam por diferenças banais.
Daphne
3.1 16 Assista AgoraO mais notável nesse pequeno filme é como o seu diretor, ancorado pelo roteiro de Nico Mensinga, encontra na encenação do banal aquela veracidade que nos faz estabelecer um vínculo com uma mulher que não compreende se o seu desprendimento com as pessoas é sintoma da perda de sua humanidade. O fato de “Daphne” não estabelecer uma conclusão que ao menos rascunhe passos efetivos por uma transformação, entretanto, não dissipa o interesse por uma protagonista com evidente magnetismo.
+ www.goo.gl/WrAXFw
Corpo Elétrico
3.5 216A ausência de impasse, que só é suprida brevemente no clímax, não impede que “Corpo Elétrico” esteja contando uma história, muitas vezes traduzida em momentos muito bonitos na tela, como aquele em que Elias e os seus colegas de trabalho caminham pela noite após o fim do expediente, com várias interações particulares se materializando diante do plano. Uma fluidez com méritos que também devem ser depositados na conta de Hilton Lacerda (diretor de “Tatuagem” aqui contribuindo no roteiro) e principalmente pelo carisma de Kelner Macêdo, com potencial de seguir uma carreira tão promissora quanto a de Jesuíta Barbosa.
+ www.goo.gl/teHV2K
Torquato Neto - Todas as horas do fim
3.9 21 Assista AgoraComo o próprio documentário aponta a certa altura, uma breve entrevista constou na pesquisa da dupla como o único registro audiovisual de Torquato Neto. Restou reconstruí-lo com a música, com as aparições no cinema, as poesias, as cartas pessoais. Há também as declarações somente sonoras de nomes como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Tom Zé e Ivan Cardoso, assim como a narração de Jesuíta Barbosa.
A forma que “Torquato Neto: Todas As Horas do Fim” assim assume poderá causar reações diversas. Por um lado, comprova especialmente o talento do montador João Felipe Freitas em estabelecer rimas. Por outro, a estrutura similar a de uma colagem, de ressignificar todo um material de arquivo, é plano por demais, sem picos emocionais. Vale o esforço em dar luz à uma figura que merece ser descoberta ou rediscutida.
+ www.goo.gl/5gLd3y
Thelma
3.5 342 Assista AgoraHá muitas fórmulas em estágio de fermentação em “Thelma” e Trier parece um pouco perdido em desenvolvê-las simultaneamente, refletindo em uma experiência que se beneficiaria com alguns minutos a menos. De qualquer modo, acompanha-se com interesse a via crucis quase literal da protagonista, com consequências que rendem um terceiro ato explosivo. Além do mais, a proposta ousada autoriza o realizador a flertar com imagens impactantes nas suas representações de uma jovem aos poucos se livrando das amarras da repressão.
+ www.goo.gl/pZzJ2c
Todas As Razões Para Esquecer
3.2 231Aparentemente banal, a premissa também desenvolvida por Pedro Coutinho ganha fôlego pela decisão em deixar várias lacunas sobre como se deu o passado recente do protagonista, deixando que os seus passos no presente determinem o seu caráter. Há poucos flashbacks e os encontros que encena entre Antonio e Sofia não verbalizam necessariamente todas as razões para o fim do que experimentaram juntos.
+ www.goo.gl/1HZA8v
The Post: A Guerra Secreta
3.5 607 Assista AgoraConhecido por suas extravagâncias, Spielberg volta a fazer um drama sóbrio na linha de seu “Ponte dos Espiões“, confiando à história e aos seus notáveis atores a temperatura emocional para pulsar o seu trabalho. A direção que aqui exerce é, inclusive, uma de suas melhores, enchendo de tensão o simples caminhar na redação do Washington Post ou as ligações feitas em telefones públicos pelo repórter interpretado por Bob Odenkirk, o grande destaque do elenco.
Em tempos de discursos feministas, Spielberg só exagera na licença poética, forçando a personagem como um modelo de liderança feminina. A maneira como ela é admirada ao descer pela escadaria da Suprema Corte chega a ser constrangedora. Mais adequado seria preparar à parte uma cinebiografia para Kay.
+ www.goo.gl/P7Tsfa
Trama Fantasma
3.7 805 Assista Agora“Trama Fantasma” talvez seja o filme em que mais se tem as digitais de Paul Thomas Anderson impregnando o todo, no qual se responsabiliza, sem lhe conferir o crédito, pela fotografia. Mesmo a projeção digital não camufla todos os ruídos da bitola original de 35mm, trazendo uma nitidez à imagem muito mais palpável, bem como o sentimento de que estamos diante de uma narrativa encenada com toda a atmosfera do período na qual é ambientada.
O que impede Paul Thomas Anderson de elevar “Trama Fantasma” vem a ser a sua falta de prática no controle dos elementos fantasmagóricos de sua premissa, como se também tivesse centralizando os seus personagens em um cenário amaldiçoado pelo passado. Quando essa influência passa do campo da sugestão para se materializar diante dos nossos olhos, o sentimento é o de deslocamento com algo que não rivaliza com o assombro dos extremos que Alma e Woodcock sustentarão para seguirem juntos.
+ www.goo.gl/57DzAV
Cartas para um Ladrão de Livros
4.1 16Além do acesso privilegiado a um protagonista contando a sua própria história, é interessante como os imprevistos forçam o documentário a percorrer caminhos a princípio inseguros e depois com novas possibilidades. Os diretores inclusive tocaram “Entre os Homens de Bem” dentro do intervalo de dois anos que se deu durante as filmagens de “Cartas Para Um Ladrão de Livros” a partir de uma prisão de Laéssio.
É como se aqui estabelecesse de improviso a pirâmide social defendida por Laéssio no campo criminal, na qual a base sempre atua como bode expiatório para as divisões superiores em que compradores anônimos de obras roubadas nunca são comprometidos criminalmente.
+ www.goo.gl/gTN9yA
O Sacrifício do Cervo Sagrado
3.7 1,2K Assista AgoraMeu comentário sobre "O Sacrifício do Cervo Sagrado" no Youtube: www.youtube.com/watch?v=PgG29jMsCSo
Cartas para um Ladrão de Livros
4.1 16Além do acesso privilegiado a um protagonista contando a sua própria história, é interessante como os imprevistos forçam o documentário a percorrer caminhos a princípio inseguros e depois com novas possibilidades. Os diretores inclusive tocaram “Entre os Homens de Bem” dentro do intervalo de dois anos que se deu durante as filmagens de “Cartas Para Um Ladrão de Livros” a partir de uma prisão de Laéssio.
É como se aqui estabelecesse de improviso a pirâmide social defendida por Laéssio no campo criminal, na qual a base sempre atua como bode expiatório para as divisões superiores em que compradores anônimos de obras roubadas nunca são comprometidos criminalmente.
+ www.goo.gl/gTN9yA
Visages, Villages
4.4 161 Assista AgoraA singeleza do registro deixa evidente uma falta de espontaneidade, com encontros, troca de diálogos e narrações em off ensaiados demais para algo que deveria ser traduzido na tela com maior naturalidade. De qualquer modo, isso não torna desonesta a parceria sustentada por Agnès e JR, duas gerações que encontram uma possibilidade de cumplicidade mútua a partir de aspirações e inspirações traduzidas em fazeres artísticos bem distintos.
+ www.goo.gl/ZhmD2d
Corpo e Alma
3.6 223 Assista AgoraCom as estranhezas que esse relacionamento provoca, Ildikó Enyedi, também autora do texto, costuma um filme com duas horas que se beneficiaria com 20 minutos a menos, estes desperdiçados em uma subtrama que não leva a lugar algum. Neste caso, já é consenso crítico de que a investigação sobre o roubo de estimulantes para a procriação de animais é nula.
O que não significa que o romance, o que verdadeiramente move “Corpo e Alma”, seja comprometido com essa escolha. É bela a maneira como Enyedi vai costurando a aproximação entre Endre e Mária e o nó na garganta que passa a forçar na entrada do clímax, fazendo com que o seu filme se transforme em uma memória muito mais permanente em nós. A cantora folk Laura Marling deve inclusive estar orgulhosa do efeito devastador que a sua “What He Wrote” causa aqui.
+ www.goo.gl/cHXhzp
Eu, Tonya
4.1 1,4K Assista AgoraÉ uma história inacreditável contada com muita habilidade por Gillespie, mas que também se revela nos desdobramentos finais eticamente questionável.
+ Comentário no YouTube: www.youtube.com/watch?v=fotm7Em1VL4&feature=youtu.be
Pantera Negra
4.2 2,3K Assista AgoraÉ muito bonito ver nomes como Chadwick Boseman, Letitia Wright, Michael B. Jordan, Lupita Nyong’o, Danai Gurira, Daniel Kaluuya, Angela Bassett e Forest Whitaker para formar um elenco majoritariamente negro. Porém, quase todos soam aqui como peças caricaturais, seja em rituais africanos encenados com um gosto duvidoso, no alívio cômico deslocado num contexto de poder quase shakesperiano e principalmente na adoção de um dialeto tão constrangedor equiparável com o de astros americanos forjando sotaque alemão em filmes sobre o Holocausto.
É de fato muito importante o plano final em que um garoto negro da periferia e sem instrução olha admirável para um T’Challa como se estivesse diante de um modelo para ambicionar em seu futuro. Resta agora deixar os discursos um pouco de lado e entregar obras cinematográficas em que o seu panfleto não sirva de embrulho para um material oco.
+ www.goo.gl/5NKioa
Lady Bird: A Hora de Voar
3.8 2,1K Assista AgoraDe modo singelo, Greta Gerwig vai costurando uma narrativa em que os acontecimentos são ditados a partir das contradições enfrentadas pela sua protagonista (e alterego). É o coming of age da vez, um “Quase 18” de 2017 quando este já era um “Eu, Você e a Garota Que Vai Morrer” de 2016 e por assim vai. O que não significa que o registro de Greta seja desprovido de autenticidade e afetuosidade, acertando principalmente na dureza de um relacionamento entre mãe e filha que vai se tornando mais central ao curso do filme.
+ www.goo.gl/N93c1n
A Forma da Água
3.9 2,7KPor mais especial que seja, Sally Hawkins não tem território para desenvolver a sua personagem, justamente o centro de interesse de “A Forma da Água”, e muito menos a atração desenvolvida por um anfíbio. Elisa é uma mulher que del Toro sempre registra incapaz de se comunicar plenamente ao seu modo, geralmente com Zelda e Giles atuando como os seus porta-vozes. Por outro lado, pouco faz em seu favor quando ela é vista com “A Forma”, em encontros imediatos que não formam qualquer estofo para equiparar a intensidade com a qual tudo se dá em uma tentativa de salvar a criatura.
Bem como “A Colina Escarlate“, “A Forma da Água” também soa em muitos instantes como uma obra de alguém em início de carreira. Esteticamente, é mesmo muito belo. Dentro da embalagem, há um material oco, com direito a um vilão caricato que sempre masca ferozmente pastilhas e a disponibilidade de informações que denota um desleixo no texto em elaborar circunstâncias mais complexas. No encantamento pela aproximação de humanos com outras formas de vida que só poderiam sair de seu imaginário, del Toro, desta vez, só fez algo deslocado mesmo.
+ www.goo.gl/Ho1Bf5
O Destino de Uma Nação
3.7 722 Assista AgoraPatriótico até a medula, o texto de Anthony McCarten passa batido pelo Churchill real de caráter duvidoso, preferindo registrá-lo como um sujeito desacreditado que vai paulatinamente conquistando os seus compatriotas com uma oratória impecável. Portanto, é até perdoável que ele seja um imbecil em uma série de circunstâncias com a sua datilógrafa Elizabeth (Lily James), pois a seguir sempre haverá um gatinho debaixo da cama que ele deseja acariciar ou a sua esposa Clemmie (Kristin Scott Thomas, grande atriz no papel mais ingrato de sua carreira) para enaltecer o seu ímpeto.
Chega a ser até mesmo constrangedor os esforços para nos simpatizarmos com Churchill, culminando em uma cena patética em que ele não somente toma um metrô com proletariados, como é visto aos prantos se comunicando com eles. Por tudo isso, é triste que o reconhecimento maior do camaleônico Gary Oldman venha por “O Destino de Uma Nação”, no qual está na incômoda posição de bravejar discursos tediosos sob quilos de maquiagem que servem mais como muletas do que como um suporte para um grande talento.
+ www.goo.gl/Lo6JyD
Manifesto
3.7 116 Assista AgoraMesmo com a presença hipnótica de uma das maiores atrizes do cinema em atividade se virando dentro dos mais diversos tipos, “Manifesto”, como cinema, não é de fácil digestão. Tal consequência se dá muito como Rosefeldt opera os seus monólogos, mais preocupado por uma simetria, por uma apropriação absoluta de uma cenografia que se expande além do plano, muito mais criativa do que o modo como subverte os textos que tem em mãos. Felizmente, um dinamismo mais evidente é comprovado quando conseguimos nos habituar com o formato da proposta, vindo especialmente com um tom quase satírico antes ausente.
Como no monólogo de Claes Oldenburg, vindo do pop art, em que é dito como uma oração à mesa por Cate Blanchett como uma mãe conservadora. Ou na melhor parte do filme, onde temos Blanchett como uma âncora e uma repórter como porta-vozes dos representantes da arte conceitual Sol LeWitt, Elaine Sturtevant e Adrian Piper. Antes do encerramento, é também divertido ver a atriz como uma professora recitando as regras do Dogma 95, criadas pelos cineastas Lars von Trier e Thomas Vinterberg.
+ www.goo.gl/rmQCqq
A Repartição do Tempo
3.1 15 Assista AgoraO melhor, contudo, é a perícia de um realizador que sabe muito bem o ambiente que está registrando. Também um funcionário público, Dellape encontra nos pequenos detalhes um potencial cômico enorme, da burocracia do serviço público (as ligações telefônicas prolongadas, os inúmeros procedimentos para o atendimento de uma solicitação) ao sentimento de estar preso em atribuições inúteis que sugam a vitalidade dos personagens, encontrando nas confraternizações regadas a Cereser e na fila para bater cartão um refúgio. A melhor comédia nacional em muito tempo.
+ www.goo.gl/Xr1Wd9
As Aventuras de Paddington 2
4.0 131O mais bacana de reconhecer é não apenas o fato de Paddington divertir também os adultos com um humor nada imbecilizado e das belas rimas visuais concebidas pelo diretor Paul King e o seu fotógrafo Erik Wilson, mas o enaltecimento da bondade como um valor a ser praticado nas relações humanas. Não emociona apenas o esforço dos Brown para provar a inocência de Paddington, mas também o poder natural deste em despertar em quem o cerca a capacidade de ser mais cordial e aberto para a vida. Parece pouco, mas há muito não se via um programa família tão afetuoso nessa abordagem.
+ www.goo.gl/eNRqj8
Os Iniciados
3.6 47 Assista AgoraAo invés de tratar o enredo como um subterfúgio para construir um filme sobre um amor proibido e as suas barreiras, John Trengove, que tem no texto a colaboração de Malusi Bengu e Thando Mgqolozana, prefere corresponder à crueza da realidade, inclusive nas cenas tórridas entre Xolani e Vija em que há uma entrega que se dá mais por desejos reprimidos e menos por alguma paixão recíproca. Mesmo a resolução levemente calculada não reduz as virtudes de uma realização que contesta o cenário em que homens recorrem às ações extremas para mascarar quem verdadeiramente são em uma sociedade conservadora.
+ www.goo.gl/ixSy8m
Me Chame Pelo Seu Nome
4.1 2,6K Assista AgoraÉ excepcional a parceria que se dá aqui entre Luca Guadagnino e James Ivory. Nome que passou a ser reconhecido no cinema a partir de sua adaptação de “Cem Escovadas Antes de Ir para Cama”, Guadagnino não tem pudores no modo como registra a entrega entre dois corpos, conferindo uma carga dramática mesmo nas mais fetichistas de suas cenas. Já Ivory, com o seu vasto currículo como um diretor que sempre trabalhou as conexões amorosas, adapta um romance tão forte em palavras quanto é nas imagens fotografadas por Sayombhu Mukdeeprom com todas as granulações que remetem a um álbum de memórias.
+ www.goo.gl/hZRNcP
A Morte Te Dá Parabéns
3.3 1,5K Assista AgoraEm “A Morte Te Dá Parabéns!”, Christopher Landon, com base no roteiro de Scott Lobdell, parte de um registro claramente mais descompromissado, como se tivesse satirizando não exatamente o slasher movie, mas sim o noventista teen horror, movimento instaurado por Wes Craven a partir da franquia “Pânico”. Caso inclusive fosse concebido para aquela época, é certo que “A Morte Te Dá Parabéns!” seria hoje exaltado como uma obra de culto.
+ www.goo.gl/eKSPQM
Antes Que Eu Vá
3.5 474 Assista AgoraNesta adaptação do romance de Lauren Oliver, a diretora Ry Russo-Young (de “Caminho Para o Coração”) lida com uma personagem principal que não ganha do público uma empatia imediata. Pois logo Samantha (Zoey Deutch, notável) reavalia a adolescente popular e mesquinha que se transformou ao reconhecer que reprisa o dia em que perdeu a vida em um acidente de carro, paulatinamente admitindo que ser uma pessoa amável e cordial talvez seja muito mais interessante do que meramente inferiorizar aqueles que a cercam por diferenças banais.
+ www.goo.gl/eKSPQM