Com “Força Maior“, Östlund havia entregado um dos grandes filmes de 2014 ao trazer um protagonista um tanto parecido com Christian, que se via desacreditado por sua família por causa de uma atitude nada heroica em uma avalanche. Aqui, uma figura intelectual, respeitável, vai sucumbindo às circunstâncias ao ponto de se encontrar literalmente no lixo.
Fazia todo o sentido em “Força Maior” expôr a masculinidade dos homens, falsa quando estão em uma situação de sobrevivência. Em “The Square: A Arte da Discórdia”, é difícil acreditar em Christian como um homem crível, ainda que Claes Bang, dinamarquês que será visto em “A Garota na Teia de Aranha”, o interprete com a maior dignidade possível. Se não bastasse, há ainda uma conclusão desapontadora, que parece deixar a deus-dará tudo o que se fermentava previamente.
Como não se pode deixar de reconhecer, o novo feito do estúdio é um primor técnico, especialmente no cuidado na caracterização dos personagens, com traços bem particulares justamente por serem vistos já decompostos. Porém, se no último ano tivemos em “Moana: Um Mar de Aventuras” certo fascínio ao conhecer um pouco da cultura polinésia, em “Viva” há uma deturpação com algo que na tela soa mais americano que latino.
Não é mero detalhe, ainda mais pelo sentimento de que tudo é derivativo de outros sucessos é enorme. Chega até a remeter a feitos de estúdios concorrentes, de “Festa no Céu” a “Kubo e as Cordas Mágicas“. No entanto, o pior vem a ser como todo o exibicionismo de cores bem ornadas sufoca uma resolução com tanto potencial para comover sobre a preservação daqueles que se foram em nossa memória. Mas até ela, já é tarde demais para ajustar tantos descompassos.
Rafinha Bastos é um sujeito com muito mais repertório e jogo de cintura que o seu colega Danilo Gentili, seja como apresentador ou como comediante. No entanto, meio que empata com ele na empreitada no cinema, pois o seu “Internet: O Filme” é tão fútil, tão ofensivo e tão vergonhoso para a cinematografia nacional quanto “Como Se Tornar O Pior Aluno da Escola”. Mas ao menos aqui há uma valia: a de documentar, no formato de ficção, a “cultura do lixo” que se constitui o universo dos youtubers, que certamente será repensada futuramente de modo crítico quanto aos danos provocados pela tecnologia ao parir influenciadores descerebrados com um púlpito todo seu.
Tudo é correto em “Entre Irmãs”, seguindo uma narrativa clássica valorizada pelo elenco excelente (especialmente Nanda Costa) e uma direção atenta ao explorar a cenografia de uma época que não existe mais. A se lamentar somente um descuido muito recorrente em filmes ambientados em outros períodos: na maior parte do tempo sujas com a permanente poeira do sertão, Nanda e Marjorie ainda assim dão sorrisos abertos dignos de um comercial de creme dental.
Com tudo isso considerado, “Entre Irmãs” talvez até obtenha uma sobrevida agora na televisão. Os temas, como a posição da mulher em uma sociedade retrógrada, a homossexualidade tratada como doença e um amor em família muito maior do que entre casais, devem repercutir melhor em um público que terá mais fôlego do que aquele que ficou horas sentado na poltrona para discuti-los.
Indicado ao Oscar pela montagem de “Cidade de Deus”, Daniel Rezende faz uma estreia segura na direção de longa-metragem, ainda que tenha que prestar contas ao roteiro de Luiz Bolognesi, que por vezes enaltece demais a figura real de Arlindo Barreto, responsável por vestir o figurino do palhaço Bozo enquanto afundava em sua vida privada. Vibrante na maior parte do tempo não somente por sua impecável reconstituição de época, como também no modo como acompanha o ápice e queda de um homem em luta para assumir o protagonismo com o seu talento, aqui interpretado por Vladimir Brichta em seu melhor momento.
A premissa de vida dupla ganha uma abordagem extremamente original pelas mãos de Fabio Meira em “As Duas Irenes”, a sua estreia como diretor de longa-metragem. Sem recato, registra o cotidiano das Irenes vividas por Priscila Bittencourt e Isabela Torres quando a primeira descobre ser irmã da segunda, consequência de um pai, Tonico (Marco Ricca), que mantém em segredo o fato de ser o chefe de duas famílias. A pré-adolescência é talvez o período de maiores incertezas da existência humana e Meira se apropria disso para inclusive discutir sobre identidade, aqui fragmentada pelo espaço que se ocupa e o que se deseja habitar, pelos desejos na puberdade e até por um contexto de valores que parecem perdidos no tempo. A conclusão é particularmente extraordinária.
Laís Bodanzky promoveu “Como Nossos Pais” sob a tese de que o seu filme defenderia um novo modelo de mulher que se reconfigura em nossa contemporaneidade, não mais conformada com as convenções de esposa, mãe e dona do lar. Rosa (Maria Ribeiro) se vê mesmo nessa situação. De tão insatisfeita, não há uma cena em que não a flagramos à beira de um ataque de nervos. Mas “Como Nossos Pais” é tão mais que isso. Trata também, evidentemente, sobre a influência que a nossa geração passada exerce sobre nós e, principalmente, sobre a necessidade de se permitir a uma liberdade nem sempre possível com as responsabilidades assumidas para toda a vida e compreendida quando de fato batemos de cara com a sua finitude, aqui na forma implacável da mãe de Rosa interpretada pela grande Clarisse Abujamra.
A analogia é fraca, mas assistir a “Liga da Justiça” é como revisitar aquele passado escolar nebuloso, no qual você, provavelmente o aluno antissocial da sala, era obrigado a formar um grupo com componentes com os quais não tinha qualquer afinidade para o desenvolvimento de uma atividade. A história avança, a união é inevitável, mas Batman (Ben Affleck), Superman (Henry Cavill), Mulher-Maravilha (Gal Gadot), Flash (Ezra Miller), Aquaman (Jason Momoa) e Ciborgue (Ray Fisher) não ornam como um conjunto. Na verdade, mais parece um arremedo de tudo que vem dado errado no DC Universe, tornando até mesmo um tanto palatáveis frustrações como “Batman vs Superman: A Origem da Justiça” e “Esquadrão Suicida”.
Composta por oito volumes, a série literária “A Torre Negra” é considerada um dos maiores feitos da carreira do mestre do terror Stephen King. No entanto, estava penando para conseguir uma adaptação para o cinema, algo que foi possível em 2017. A expectativa era de ver uma nova franquia se desenhando, mas a primeira aventura protagonizada pelo Pistoleiro Roland Deschain (o superestimadíssimo Idris Elba) se transformou em algo sem qualquer sentido, totalmente apressado em estabelecer um universo que ambicionava estender em sequências que, já sabemos, não acontecerão. Em suma, um fiasco que somente alimentou uma onda de azar povoando as adaptações de King, felizmente quebrada com os lançamentos posteriores de “It: A Coisa” e “Jogo Perigoso”.
O que não falta são casos de grandes filmes nascidos a partir de vivências particulares de seu diretor, dando amplitude a uma história privada que, como por encanto, é capaz de reverberar ao coletivo. Pois “Muito Romântico” é a forma que se tem quando isso não é alcançado, quando o resultado nada mais parece que um exibicionismo, um capricho de seus envolvidos que jamais deveria ter ganhado as multidões. Casal na vida real e na ficção, Gustavo Jahn e Melissa Dullius enveredam por um experimentalismo presunçoso e que nada comunica, encontrando neles mesmos a única plateia que resista ao fim da projeção com alguma luz de deslumbre.
Os jovens da classe C são um dos principais a formar o público que frequenta as salas de cinema, mas é realmente raro a nossa ficção produzir um registro que de fato consiga servir como um espelho sem filtros de uma geração cercada de tantos dilemas. Mas embora os tipos centrais de “Bye Bye Jaqueline” sejam genuinamente comuns na aparência e no modo como se expressam, há problemas gritantes na condução de Anderson Simão e no texto de Wellington Sari. O baixo orçamento de 130 mil reais não é justificativa para se fazer algo nada cinematográfico, da direção dos atores ao modo como são acomodados dentro de um plano, da péssima construção de personagens (o que dizer do professor interpretado por Sari?) ao sentimento de que eles não se movem para qualquer destino ao final.
Os resultados só não são mais efetivos devido a embalagem conferida por Pedro Vasconcelos. Além de uma linguagem televisiva que corrompe a fotografia, a cenografia, a trilha sonora e até a regência do roteiro, “Fala Sério, Mãe!” também não consegue dar conta com os seus 79 minutos de cobrir com consistência uma relação de 18 anos entre essas mulheres.
De qualquer modo, Ingrid Guimarães e Larissa Manoela têm química evidente em cena, ainda que a segunda esteja presa em um mecanismo de atuação que a faz entoar monólogos com artificialidade. Além do mais, contornam muito bem as curvas dramáticas do texto, capazes inclusive de sensibilizar as mães e filhas, quando não pais e filhos, na plateia.
A diretora e roteirista de 31 anos Léonor Serraille conduz “Jovem Mulher” tentando se equiparar com o espírito de sua protagonista, não abrindo mão do humor mesmo em circunstâncias mais densas. Porém, como estreante, denota uma falta de apuro na construção de algumas relações, geralmente dependendo de acasos ou de uma cumplicidade desproporcional ao perfil mais duro de alguns personagens secundários. Mas nada que comprometa as virtudes de seu filme, obtendo com elas a Caméra d’Or na última edição do Festival de Cannes.
Petra Biondina Volpe não se desvincula daquela narrativa um tanto padronizada esperada de um tema como esse, indo dos monólogos sem fim à morte de uma figura importante na trama como uma espécie de sacrifício para o sucesso de uma luta. Por isso mesmo, entrega um filme melhor do que as expectativas quando passa a focar mais na transição de Nora de uma mulher reprimida para outra em que pela primeira vez reconhece os próprios potenciais e desejos, de alguém que se posiciona firmemente diante dos embates e que se fortalece quando adota uma perspectiva menos puritana sobre o seu próprio corpo.
A partir do momento em que Pepe descobre de sua avó adotiva Ramona que os seus pais biológicos estão vivos, “Historietas Assombradas – O Filme” vai acompanhando o garoto em uma jornada por suas origens em 90 minutos arrastadíssimos, sem que com isso consiga fisgar uma plateia de iniciados ou pregar alguma surpresa em quem já é veterano nesse universo.
Melhor quando o documentário passa a se interessar mais pelo legado de Cora Coralina e menos pela leitura por vezes artificial, capturando a sua essência humilde e hospitaleira com raras imagens de arquivos e dos testemunhos que a asseguram como uma doceira de mão cheia. É certo que tanto os admiradores quanto aqueles que desconhecem a trajetória de Cora se interessarão muito mais por esses momentos reservados para a etapa final da realização.
É inacreditável que “Professor Marston e as Mulheres-Maravilhas”, aqui narrando a história real de como foi concebida a princesa Diana de Themyscira, tenha passado praticamente batido em seu lançamento comercial nos Estados Unidos e que desembarque aqui no Brasil com publicidade praticamente zero. Sem dizer que a diretora e roteirista Angela Robinson faz muito mais que “Mulher-Maravilha”, exibindo que as heroínas das fantasias devem as suas existências às mulheres do lado de cá, singulares na luta por igualdade e independência.
Sem ir muito adiante, pode-se dizer que Power está muito mais interessado em encenar comportamentos do que necessariamente construir personagens íntegros em camadas. Assumir essa escolha traz prejuízos para “O Acampamento”, no sentido de que o progresso de sua violência às vezes depende mais de certa estupidez assumida pelas vítimas e algozes do que por uma resposta mais racional. É extremamente natural agir sem pensar diante do perigo, mas isso passa a ser uma constante no curso dos eventos.
Ainda bem que Power é não somente brilhante na arquitetura do medo (o que dizer do plano em que Samantha caminha enquanto um bebê a acompanha sem a sua ciência há alguns metros de distância?), como na de uma crueldade que quase transforma os protagonistas em um verdadeiro estudo de caso, com um homem assumindo uma postura nada heroica enquanto uma mulher se mostra cada vez mais forte na preservação de seus instintos.
Nascido na África do Sul e com uma filmografia então composta por curtas, Taron Lexton debuta na ficção em longa-metragem fazendo uma homenagem que soa mais oportunista do que sincera a Fellini, pois carregar o nome do cineasta italiano em seu projeto certamente é bem sedutora para os mercados de circuito alternativo. Na prática, a encenação da jornada de Lucy encontra pouca correspondência com a obra de Fellini.
Isso, entretanto, não é lá um demérito completo, pois Lexton faz assim algo com uma personalidade mais identificável, provando ter especialmente um senso estético particular, alternando a fotografia em tom sépia da Itália como concebedora instantânea de paisagens para se gravar na memória com o azul deprimido de um lar em que Claire definha. É inclusive nessa conexão entre filha e mãe que “Em Busca de Fellini” funciona melhor, não deixando que o apreço pelo cinema corrompa a relação dessas duas mulheres que moldam o coração do filme.
“Gosto Se Discute” poderia se apropriar do atual fenômeno dos realities culinários, como o MasterChef, para fazer graça, mas, assim como no recentemente lançado “Duas de Mim”, o plot não passa de uma desculpa para um sem número de piadinhas de rixas que de nada extraem de nós além do enfado. A essa insipidez, vem uma estética televisiva, que pouco faz com a escassez cenográfica e, pior, nenhum sentido aguça com os pratos que contaram com a consultoria da chef Bel Coelho. Bem 1 estrela.
Exatamente na vinda da segunda metade de “Não Me Ame”, Avranas prepara um ponto de virada que direciona essa simples premissa para algo perturbador, operando circunstâncias e consequências que não devem ser antecipadas para o espectador. Transforma-se em algo tão controverso quanto “Miss Violence” e que endereçará a Avranas uma série de acusações de misoginia.
É um risco que vale a pena correr, pois embora “Não Me Ame” de fato ultrapasse um limite, não há como não encontrar na indignação como reação imediata a possibilidade de repensar o preço que se paga pela cobiça. Uma ambição pela sustentação de um status social que incorre não somente ao assassinato da própria identidade, como também o daquela ilusão de que há amor mesmo nos planos mais perversos executados com um cúmplice.
Poderia ser um mero estudo de caso de 90 minutos, mas Jabor, que debutou com o pé direito na direção de “Boa Sorte”, compreende a importância de empreender uma aproximação com esses personagens para que eles tenham uma vida além desse contexto em que o acompanhamos. É excelente a relação em que estabelece entre a sua câmera com Daniel de Oliveira, externando dentro de closes sufocantes o sentimento de enclausuramento.
Um olhar particular para a encenação ou mesmo a criatividade de rever o texto para atualizá-lo definitivamente não há aqui. De diferente, está esse experimento de mesclar a encenação com trechos de uma mesa redonda de ensaios e discussões em que Murilo Benício apenas faz corpo presente.
Com uma promessa de estilização, bem característica em narrativas pensadas e organizadas em capítulos, “Marlina, Assassina em Quatro Atos” se mostra até mesmo contido neste aspecto. As decapitações estão bem distantes dos barris de sangue de um “Kill Bill” e a música instrumental excelente da dupla Yudhi Arfani e Zeke Khaseli tem como função apenas enfatizar a tensão em determinados enfrentamentos com o risco. Somente os toques de humor soam um tanto deslocados da proposta central.
The Square - A Arte da Discórdia
3.6 318 Assista AgoraCom “Força Maior“, Östlund havia entregado um dos grandes filmes de 2014 ao trazer um protagonista um tanto parecido com Christian, que se via desacreditado por sua família por causa de uma atitude nada heroica em uma avalanche. Aqui, uma figura intelectual, respeitável, vai sucumbindo às circunstâncias ao ponto de se encontrar literalmente no lixo.
Fazia todo o sentido em “Força Maior” expôr a masculinidade dos homens, falsa quando estão em uma situação de sobrevivência. Em “The Square: A Arte da Discórdia”, é difícil acreditar em Christian como um homem crível, ainda que Claes Bang, dinamarquês que será visto em “A Garota na Teia de Aranha”, o interprete com a maior dignidade possível. Se não bastasse, há ainda uma conclusão desapontadora, que parece deixar a deus-dará tudo o que se fermentava previamente.
+ www.goo.gl/5Lxw3X
Viva: A Vida é Uma Festa
4.5 2,5K Assista AgoraComo não se pode deixar de reconhecer, o novo feito do estúdio é um primor técnico, especialmente no cuidado na caracterização dos personagens, com traços bem particulares justamente por serem vistos já decompostos. Porém, se no último ano tivemos em “Moana: Um Mar de Aventuras” certo fascínio ao conhecer um pouco da cultura polinésia, em “Viva” há uma deturpação com algo que na tela soa mais americano que latino.
Não é mero detalhe, ainda mais pelo sentimento de que tudo é derivativo de outros sucessos é enorme. Chega até a remeter a feitos de estúdios concorrentes, de “Festa no Céu” a “Kubo e as Cordas Mágicas“. No entanto, o pior vem a ser como todo o exibicionismo de cores bem ornadas sufoca uma resolução com tanto potencial para comover sobre a preservação daqueles que se foram em nossa memória. Mas até ela, já é tarde demais para ajustar tantos descompassos.
+ www.goo.gl/4cSu4z
Internet: O Filme
1.5 317Rafinha Bastos é um sujeito com muito mais repertório e jogo de cintura que o seu colega Danilo Gentili, seja como apresentador ou como comediante. No entanto, meio que empata com ele na empreitada no cinema, pois o seu “Internet: O Filme” é tão fútil, tão ofensivo e tão vergonhoso para a cinematografia nacional quanto “Como Se Tornar O Pior Aluno da Escola”. Mas ao menos aqui há uma valia: a de documentar, no formato de ficção, a “cultura do lixo” que se constitui o universo dos youtubers, que certamente será repensada futuramente de modo crítico quanto aos danos provocados pela tecnologia ao parir influenciadores descerebrados com um púlpito todo seu.
+ www.goo.gl/1tSdUp
Entre Irmãs
4.2 206 Assista AgoraTudo é correto em “Entre Irmãs”, seguindo uma narrativa clássica valorizada pelo elenco excelente (especialmente Nanda Costa) e uma direção atenta ao explorar a cenografia de uma época que não existe mais. A se lamentar somente um descuido muito recorrente em filmes ambientados em outros períodos: na maior parte do tempo sujas com a permanente poeira do sertão, Nanda e Marjorie ainda assim dão sorrisos abertos dignos de um comercial de creme dental.
Com tudo isso considerado, “Entre Irmãs” talvez até obtenha uma sobrevida agora na televisão. Os temas, como a posição da mulher em uma sociedade retrógrada, a homossexualidade tratada como doença e um amor em família muito maior do que entre casais, devem repercutir melhor em um público que terá mais fôlego do que aquele que ficou horas sentado na poltrona para discuti-los.
+ www.goo.gl/uW3Gm7
Bingo - O Rei das Manhãs
4.1 1,1K Assista AgoraIndicado ao Oscar pela montagem de “Cidade de Deus”, Daniel Rezende faz uma estreia segura na direção de longa-metragem, ainda que tenha que prestar contas ao roteiro de Luiz Bolognesi, que por vezes enaltece demais a figura real de Arlindo Barreto, responsável por vestir o figurino do palhaço Bozo enquanto afundava em sua vida privada. Vibrante na maior parte do tempo não somente por sua impecável reconstituição de época, como também no modo como acompanha o ápice e queda de um homem em luta para assumir o protagonismo com o seu talento, aqui interpretado por Vladimir Brichta em seu melhor momento.
+ www.goo.gl/1tSdUp
As Duas Irenes
3.7 111 Assista AgoraA premissa de vida dupla ganha uma abordagem extremamente original pelas mãos de Fabio Meira em “As Duas Irenes”, a sua estreia como diretor de longa-metragem. Sem recato, registra o cotidiano das Irenes vividas por Priscila Bittencourt e Isabela Torres quando a primeira descobre ser irmã da segunda, consequência de um pai, Tonico (Marco Ricca), que mantém em segredo o fato de ser o chefe de duas famílias. A pré-adolescência é talvez o período de maiores incertezas da existência humana e Meira se apropria disso para inclusive discutir sobre identidade, aqui fragmentada pelo espaço que se ocupa e o que se deseja habitar, pelos desejos na puberdade e até por um contexto de valores que parecem perdidos no tempo. A conclusão é particularmente extraordinária.
+ www.goo.gl/1tSdUp
Como Nossos Pais
3.8 444Laís Bodanzky promoveu “Como Nossos Pais” sob a tese de que o seu filme defenderia um novo modelo de mulher que se reconfigura em nossa contemporaneidade, não mais conformada com as convenções de esposa, mãe e dona do lar. Rosa (Maria Ribeiro) se vê mesmo nessa situação. De tão insatisfeita, não há uma cena em que não a flagramos à beira de um ataque de nervos. Mas “Como Nossos Pais” é tão mais que isso. Trata também, evidentemente, sobre a influência que a nossa geração passada exerce sobre nós e, principalmente, sobre a necessidade de se permitir a uma liberdade nem sempre possível com as responsabilidades assumidas para toda a vida e compreendida quando de fato batemos de cara com a sua finitude, aqui na forma implacável da mãe de Rosa interpretada pela grande Clarisse Abujamra.
+ www.goo.gl/1tSdUp
Liga da Justiça
3.3 2,5K Assista AgoraA analogia é fraca, mas assistir a “Liga da Justiça” é como revisitar aquele passado escolar nebuloso, no qual você, provavelmente o aluno antissocial da sala, era obrigado a formar um grupo com componentes com os quais não tinha qualquer afinidade para o desenvolvimento de uma atividade. A história avança, a união é inevitável, mas Batman (Ben Affleck), Superman (Henry Cavill), Mulher-Maravilha (Gal Gadot), Flash (Ezra Miller), Aquaman (Jason Momoa) e Ciborgue (Ray Fisher) não ornam como um conjunto. Na verdade, mais parece um arremedo de tudo que vem dado errado no DC Universe, tornando até mesmo um tanto palatáveis frustrações como “Batman vs Superman: A Origem da Justiça” e “Esquadrão Suicida”.
+ www.goo.gl/4Kw9tu
A Torre Negra
2.6 839 Assista AgoraComposta por oito volumes, a série literária “A Torre Negra” é considerada um dos maiores feitos da carreira do mestre do terror Stephen King. No entanto, estava penando para conseguir uma adaptação para o cinema, algo que foi possível em 2017. A expectativa era de ver uma nova franquia se desenhando, mas a primeira aventura protagonizada pelo Pistoleiro Roland Deschain (o superestimadíssimo Idris Elba) se transformou em algo sem qualquer sentido, totalmente apressado em estabelecer um universo que ambicionava estender em sequências que, já sabemos, não acontecerão. Em suma, um fiasco que somente alimentou uma onda de azar povoando as adaptações de King, felizmente quebrada com os lançamentos posteriores de “It: A Coisa” e “Jogo Perigoso”.
+ www.goo.gl/4Kw9tu
Muito Romântico
3.0 14 Assista AgoraO que não falta são casos de grandes filmes nascidos a partir de vivências particulares de seu diretor, dando amplitude a uma história privada que, como por encanto, é capaz de reverberar ao coletivo. Pois “Muito Romântico” é a forma que se tem quando isso não é alcançado, quando o resultado nada mais parece que um exibicionismo, um capricho de seus envolvidos que jamais deveria ter ganhado as multidões. Casal na vida real e na ficção, Gustavo Jahn e Melissa Dullius enveredam por um experimentalismo presunçoso e que nada comunica, encontrando neles mesmos a única plateia que resista ao fim da projeção com alguma luz de deslumbre.
+ www.goo.gl/4Kw9tu
Bye Bye Jaqueline
1.5 14Os jovens da classe C são um dos principais a formar o público que frequenta as salas de cinema, mas é realmente raro a nossa ficção produzir um registro que de fato consiga servir como um espelho sem filtros de uma geração cercada de tantos dilemas. Mas embora os tipos centrais de “Bye Bye Jaqueline” sejam genuinamente comuns na aparência e no modo como se expressam, há problemas gritantes na condução de Anderson Simão e no texto de Wellington Sari. O baixo orçamento de 130 mil reais não é justificativa para se fazer algo nada cinematográfico, da direção dos atores ao modo como são acomodados dentro de um plano, da péssima construção de personagens (o que dizer do professor interpretado por Sari?) ao sentimento de que eles não se movem para qualquer destino ao final.
+ www.goo.gl/4Kw9tu
Fala Sério, Mãe!
3.1 278Os resultados só não são mais efetivos devido a embalagem conferida por Pedro Vasconcelos. Além de uma linguagem televisiva que corrompe a fotografia, a cenografia, a trilha sonora e até a regência do roteiro, “Fala Sério, Mãe!” também não consegue dar conta com os seus 79 minutos de cobrir com consistência uma relação de 18 anos entre essas mulheres.
De qualquer modo, Ingrid Guimarães e Larissa Manoela têm química evidente em cena, ainda que a segunda esteja presa em um mecanismo de atuação que a faz entoar monólogos com artificialidade. Além do mais, contornam muito bem as curvas dramáticas do texto, capazes inclusive de sensibilizar as mães e filhas, quando não pais e filhos, na plateia.
+ www.goo.gl/LLsggJ
Jovem Mulher
3.4 24 Assista AgoraA diretora e roteirista de 31 anos Léonor Serraille conduz “Jovem Mulher” tentando se equiparar com o espírito de sua protagonista, não abrindo mão do humor mesmo em circunstâncias mais densas. Porém, como estreante, denota uma falta de apuro na construção de algumas relações, geralmente dependendo de acasos ou de uma cumplicidade desproporcional ao perfil mais duro de alguns personagens secundários. Mas nada que comprometa as virtudes de seu filme, obtendo com elas a Caméra d’Or na última edição do Festival de Cannes.
+ www.goo.gl/RrsX4W
Mulheres Divinas
3.9 38 Assista AgoraPetra Biondina Volpe não se desvincula daquela narrativa um tanto padronizada esperada de um tema como esse, indo dos monólogos sem fim à morte de uma figura importante na trama como uma espécie de sacrifício para o sucesso de uma luta. Por isso mesmo, entrega um filme melhor do que as expectativas quando passa a focar mais na transição de Nora de uma mulher reprimida para outra em que pela primeira vez reconhece os próprios potenciais e desejos, de alguém que se posiciona firmemente diante dos embates e que se fortalece quando adota uma perspectiva menos puritana sobre o seu próprio corpo.
+ www.goo.gl/rgV2mt
Historietas Assombradas: O Filme
3.3 24 Assista AgoraA partir do momento em que Pepe descobre de sua avó adotiva Ramona que os seus pais biológicos estão vivos, “Historietas Assombradas – O Filme” vai acompanhando o garoto em uma jornada por suas origens em 90 minutos arrastadíssimos, sem que com isso consiga fisgar uma plateia de iniciados ou pregar alguma surpresa em quem já é veterano nesse universo.
+ www.goo.gl/2CD4R4
Cora Coralina - Todas as Vidas
3.8 23Melhor quando o documentário passa a se interessar mais pelo legado de Cora Coralina e menos pela leitura por vezes artificial, capturando a sua essência humilde e hospitaleira com raras imagens de arquivos e dos testemunhos que a asseguram como uma doceira de mão cheia. É certo que tanto os admiradores quanto aqueles que desconhecem a trajetória de Cora se interessarão muito mais por esses momentos reservados para a etapa final da realização.
+ www.goo.gl/W7A8Tn
Professor Marston e as Mulheres Maravilhas
3.9 172 Assista AgoraÉ inacreditável que “Professor Marston e as Mulheres-Maravilhas”, aqui narrando a história real de como foi concebida a princesa Diana de Themyscira, tenha passado praticamente batido em seu lançamento comercial nos Estados Unidos e que desembarque aqui no Brasil com publicidade praticamente zero. Sem dizer que a diretora e roteirista Angela Robinson faz muito mais que “Mulher-Maravilha”, exibindo que as heroínas das fantasias devem as suas existências às mulheres do lado de cá, singulares na luta por igualdade e independência.
+ www.goo.gl/uVFD8v
O Acampamento
3.0 113 Assista AgoraSem ir muito adiante, pode-se dizer que Power está muito mais interessado em encenar comportamentos do que necessariamente construir personagens íntegros em camadas. Assumir essa escolha traz prejuízos para “O Acampamento”, no sentido de que o progresso de sua violência às vezes depende mais de certa estupidez assumida pelas vítimas e algozes do que por uma resposta mais racional. É extremamente natural agir sem pensar diante do perigo, mas isso passa a ser uma constante no curso dos eventos.
Ainda bem que Power é não somente brilhante na arquitetura do medo (o que dizer do plano em que Samantha caminha enquanto um bebê a acompanha sem a sua ciência há alguns metros de distância?), como na de uma crueldade que quase transforma os protagonistas em um verdadeiro estudo de caso, com um homem assumindo uma postura nada heroica enquanto uma mulher se mostra cada vez mais forte na preservação de seus instintos.
+ www.goo.gl/DKgjoV
Em Busca de Fellini
3.0 20Nascido na África do Sul e com uma filmografia então composta por curtas, Taron Lexton debuta na ficção em longa-metragem fazendo uma homenagem que soa mais oportunista do que sincera a Fellini, pois carregar o nome do cineasta italiano em seu projeto certamente é bem sedutora para os mercados de circuito alternativo. Na prática, a encenação da jornada de Lucy encontra pouca correspondência com a obra de Fellini.
Isso, entretanto, não é lá um demérito completo, pois Lexton faz assim algo com uma personalidade mais identificável, provando ter especialmente um senso estético particular, alternando a fotografia em tom sépia da Itália como concebedora instantânea de paisagens para se gravar na memória com o azul deprimido de um lar em que Claire definha. É inclusive nessa conexão entre filha e mãe que “Em Busca de Fellini” funciona melhor, não deixando que o apreço pelo cinema corrompa a relação dessas duas mulheres que moldam o coração do filme.
+ www.goo.gl/pZfLTJ
Gosto Se Discute
2.2 118“Gosto Se Discute” poderia se apropriar do atual fenômeno dos realities culinários, como o MasterChef, para fazer graça, mas, assim como no recentemente lançado “Duas de Mim”, o plot não passa de uma desculpa para um sem número de piadinhas de rixas que de nada extraem de nós além do enfado. A essa insipidez, vem uma estética televisiva, que pouco faz com a escassez cenográfica e, pior, nenhum sentido aguça com os pratos que contaram com a consultoria da chef Bel Coelho. Bem 1 estrela.
+ www.goo.gl/BVxQQH
Não Me Ame
3.5 13Exatamente na vinda da segunda metade de “Não Me Ame”, Avranas prepara um ponto de virada que direciona essa simples premissa para algo perturbador, operando circunstâncias e consequências que não devem ser antecipadas para o espectador. Transforma-se em algo tão controverso quanto “Miss Violence” e que endereçará a Avranas uma série de acusações de misoginia.
É um risco que vale a pena correr, pois embora “Não Me Ame” de fato ultrapasse um limite, não há como não encontrar na indignação como reação imediata a possibilidade de repensar o preço que se paga pela cobiça. Uma ambição pela sustentação de um status social que incorre não somente ao assassinato da própria identidade, como também o daquela ilusão de que há amor mesmo nos planos mais perversos executados com um cúmplice.
+ www.goo.gl/vLLKMg
Aos Teus Olhos
3.4 288 Assista AgoraPoderia ser um mero estudo de caso de 90 minutos, mas Jabor, que debutou com o pé direito na direção de “Boa Sorte”, compreende a importância de empreender uma aproximação com esses personagens para que eles tenham uma vida além desse contexto em que o acompanhamos. É excelente a relação em que estabelece entre a sua câmera com Daniel de Oliveira, externando dentro de closes sufocantes o sentimento de enclausuramento.
+ www.goo.gl/NDJm11
O Beijo no Asfalto
4.1 95Um olhar particular para a encenação ou mesmo a criatividade de rever o texto para atualizá-lo definitivamente não há aqui. De diferente, está esse experimento de mesclar a encenação com trechos de uma mesa redonda de ensaios e discussões em que Murilo Benício apenas faz corpo presente.
+ www.goo.gl/jvwcET
Marlina, Assassina em Quatro Atos
3.5 2Com uma promessa de estilização, bem característica em narrativas pensadas e organizadas em capítulos, “Marlina, Assassina em Quatro Atos” se mostra até mesmo contido neste aspecto. As decapitações estão bem distantes dos barris de sangue de um “Kill Bill” e a música instrumental excelente da dupla Yudhi Arfani e Zeke Khaseli tem como função apenas enfatizar a tensão em determinados enfrentamentos com o risco. Somente os toques de humor soam um tanto deslocados da proposta central.
+ www.goo.gl/PCbE2V