Aborda a destruição do Estado de bem-estar social inglês, o grande legado (macabro) de Margaret Thatcher, e seus impactos na vida da classe trabalhadora, os "perdedores" da globalização neoliberal.
Hugo Chávez foi um grande líder. Um dos maiores líderes da história da América Latina. É incrível o grau de politização da massa que a revolução boliviariana empreendeu. Politização que ainda reverbera na luta anti-imperialista do povo venezuelano nos dias atuais. Considero a politização da massa como um dos grandes êxitos do chavismo, ao lado da criação de uma mídia popular alternativa aos barões da imprensa corporativa, que é sempre capacho dos interesses dos EUA. Em que pese a manutenção do modelo rentista dependente do petróleo, a revolução bolivariana transformou a Venezuela, erradicando o analfabetismo (através do método cubano de alfabetização), a mortalidade infantil e melhorou uma série de outros indicadores sociais.
Jango foi, inegavelmente, um grande brasileiro. Um dos poucos – senão o único – presidentes do país a convocar as massas populares para defender um projeto nacional de desenvolvimento, as reformas de base, através do plano trienal – feito pelo grandioso Celso Furtado, que mostrava os desafios para o capitalismo nacional e as formas de combater o endividamento, a inflação e os problemas do subdesenvolvimento --, cujo eixo central das reformas, ironicamente, foi adotado pelos governos militares posteriormente no ciclo nacional-desenvolvimentista da ditadura militar brasileira.
A economista Maria Conceição Tavares define o processo de modernização brasileira – até os governos militares – como uma “modernização conservadora”, visto que estruturas atrasadas da sociedade foram mantidas, ao lado da mais brutal desigualdade social do planeta e de um contingente de milhões de pessoas marginalizadas e sem qualquer acesso aos mais básicos canais de cidadania de uma sociedade civilizada. Jango entendia que tais contradições da modernização brasileira impediam um crescimento sustentável do país, assim como uma maior democratização social, propondo reformas cabais para o desenvolvimento capitalista de qualquer país do mundo, a dizer, a reforma agrária, tributária, urbana e extensão dos direitos trabalhistas ao campo, condições mínimas para a acumulação capitalista. À época, grande parte da intelectualidade nacional sonhava com a “revolução brasileira” e pensava o papel da burguesia local em tal processo.
Na história não há “se”, mas o maior erro de João Goulart foi ter abandonado a perspectiva de resistir ao golpe por temer uma possível guerra civil. Em 64, amplos setores das forças armadas eram legalistas, defendiam a constituição e a continuidade de Jango, e estavam prontos para defender o presidente e combater os setores golpistas nas forças armadas – algo dito por Darcy Ribeiro em suas memórias sobre o golpe de 1964. Brizola era ciente da situação. Se a esquerda e os setores nacionais-populares tivessem resistido ao golpe, certamente o Brasil de hoje seria muito diferente. Para o bem e, talvez, para o mal.
Quando não acertamos as contas com o passado ele nos cobra com juros. Em tempos que até a esquerda perdeu a consciência histórica em virtude do lacre, do irracionalismo e das respostas fáceis, o documentário de Tendler é precioso.
Um documentário precioso para a compreensão de um momento ímpar da história da América do Sul: a ascensão de vários governos progressistas e de esquerda no continente e suas relações com a potência hegemônica da região, os EUA.
A América do Sul – e também a América Latina de uma forma geral – foi, talvez, o principal laboratório de teste das políticas neoliberais, nos anos 80 e 90, com resultados catastróficos: aumento da pobreza e da desigualdade, desindustrialização, desemprego e subordinação aos países centrais e suas políticas do Consenso de Washington. Diante de tal quadro de crise, governos de esquerda são eleitos no Brasil – que quebrou em 1999 –, Argentina – o país mais atingido por políticas neoliberais, e que quebrou duas vezes entre 1990 e 2001 –, Uruguai, Venezuela, Equador e Bolívia. Tais governos reduziram a pobreza na região, aumentaram a integração dos 12 países através da União das Nações Sul-americanas (UNASUL, que está sendo destruída) e construíram políticas externas mais autônomas e soberanas.
Oliver Stone mostra como um discurso abertamente hostil aos regimes de esquerda da América do Sul foi construído a partir do fracasso da ALCA, mostra a articulação norte-americana do golpe em 2002 na Venezuela e o incômodo de Washington com governos sul-americanos mais altivos e independentes, já que boa parte da história da região é marcada por cooperação e submissão de suas elites políticas aos desígnios da potência hegemônica.
Olhando a América do Sul hoje, em que houve uma guinada de orientação ideológica dos governos de vários países, com intervenção direta dos Estados Unidos – fatos divulgados por documentos oficiais publicados no Wikileaks e por Edward Snowden –, fica claro o retrocesso em vários níveis sociais e na política externa. Novamente estamos sob a orientação direta de Washington, servindo de exportadores de commodities e adotando o fracassado neoliberalismo, com resultados já desastrosos.
A América do Sul, com a entrada pesada dos chineses na região e sua parceria com diversos países sul-americanos, será alvo de uma grande disputa geopolítica futuramente. Seremos construtores de nossa própria história ou ficaremos à mercê dos donos do mundo?
Gosto da alegoria que a obra faz para criticar a vacuidade existencial do homem contemporâneo, utilizando de um contexto histórico diferente, mas totalmente intimista e inquietante.
Em realidade, Ingmar Berman, ao abordar a perda de fé e o questionamento existencial do cavaleiro medieval, não está fazendo uma crítica à Idade Média, mas sim à sociedade contemporânea. Em o "Sétimo Selo" é possível captar toda a essência humana e social do período histórico em que "Deus está morto". O incômodo do homem moderno, perdido e tomado por incertezas, sem referências estáveis e vendo o progresso científico e tecnológico como o possível promotor do apocalipse – o ápice da produção – no âmbito do auge da Guerra Fria, em que a humanidade temia sua real destruição.
Um cavaleiro medieval jamais teria o suporte racional e emocional para questionar Deus, visto que sua era é marcada por valores absolutos e imutáveis. Aí a obra mostra-se genial, pois consegue alegorizar a inquietação humana e o medo da total destruição – o que é muito comum nos filmes de Berman dessa época, como “Luz de Inverno”, em que um pastor protestante questiona a existência do supremo devido ao seu medo do apocalipse nuclear – contemporânea por meio de recursos históricos.
Ao sermos expulsos do paraíso pela racionalidade, o homem moderno inaugura novos palcos na infindável batalha da vida e, ciente das contradições que dilaceram a sociedade humana, questiona o progresso, a própria racionalidade e intima Deus. O progresso não é só emancipador, mas também é promotor da barbárie.
Como lidar com a finitude da vida e do mundo quando deus está morto? Como lidar com a impotência humana perante forças despertadas pela própria humanidade?
Bom filme. O humor negro traz bons e reflexivos diálogos e uma ácida crítica ao neoliberalismo. Gostei da crítica ao protagonista no filme, um pequeno burguês, que é incapaz de enxergar as relações de poder e de desigualdade que permeiam o capitalismo. Julgando o desemprego, um fenômeno social, como um problema particular, Bruno Davert acha que a solução para tal situação é a competição voraz e sem escrúpulos da lei do mais forte. Tal condição é bem comum na pequena burguesia que assimila a concepção de mundo burguesa e uma das formas de alienação. O capitalismo não é apenas um sistema econômico, mas um sistema ideológico potente e voraz que dilacera toda a solidariedade humana e transforma todas as relações interpessoais em mera competição.
Sem a consciência das relações desiguais que regem este sistema fica difícil de combatê-lo e o neoliberalismo traz para as relações sociais o individualismo cego e a indiferença. No fim, Davert foi apenas mais uma vítima da máquina de egoísmo e competição neoliberal, do famoso "cada um por si".
Acho importante ilustrar as análises/discussões do doc com um trecho de um dos livros do filósofo Noam Chomsky que estou lendo:
“Analisando um quarto de século de experiências neoliberais, um estudo do Center For Economic and Policy Research mostra que elas se fizeram acompanhar de taxas muito mais baixas de crescimento e reduzido progresso dos indicadores sociais para países de todos os quintis, ricos e pobres. Essa tendência geral tem exceções: registraram-se altas taxas de crescimento em países que ignoraram as regras (com tremendas desigualdades e outros severos efeitos colaterais na China e índia). ‘O padrão global de crescimento é inequívoco’, conclui de sua detalhada análise o economista Robert Pollin: ‘A era neoliberal foi marcada por um nítido declínio do crescimento – a quase metade – relativamente ao período do Estado desenvolvimentista’ que a precedeu, tendência ‘ainda mais dramática’ quando considerada em termos per capita, com aumento da desigualdade ou pequena, ou nenhuma, redução da pobreza (quando se exclui a China) e devastadores efeitos colaterais entre os mais vulneráveis. [...] Esses fatos são às vezes obscurecidos pela observação de que as condições melhoraram em geral sob o regime neoliberal, como ocorre quase que invariavelmente ao longo do tempo em qualquer regime econômico ou quase se recorre a um conceito de ‘globalização’ que confunde orientação exportadora com neoliberalismo, de um modo tal que, se um bilhão de chineses experimenta um elevado crescimento sob políticas orientadas para a exportação que violam radicalmente os princípios neoliberais, o aumento das taxas de crescimento médio global é saudado como triunfo dos princípios violados.
[...] as reformas neoliberais são a antítese da promoção da democracia. Elas não são projetadas para reduzir o Estado, como se diz com frequência, mas para reforçar as instituições estatais, de tal maneira que sirvam ainda mais do que antes às necessidades das pessoas substantivas. Um tema dominante é a limitação da arena pública e a transferência das decisões para as mãos de tiranias privadas que não prestam contas a ninguém. Um dos métodos utilizados para isso é a privatização, que elimina o público da influência potencial na política. Uma de suas formas extremas é a privatização dos ‘serviços’, categoria que abrange praticamente tudo que diz respeito ao interesse público imediato: saúde, educação, abastecimento d’água, e assim por diante. Uma vez que estes sejam eliminados do âmbito público pela ‘comercialização dos serviços’, as práticas democráticas formais são amplamente reduzidas a um dispositivo de mobilização periódica do público em favor dos interesses da elite e da ‘crise da democracia’ substancialmente superada.”.
Esqueça a Paris dos sonhos de "Casablanca", do "O Ultimo Tango em Paris" e de todos os filmes que mitificam a capital francesa. A Paris de "La Haine" é racista, xenófoba, suja e indesejável para todos aqueles que não são franceses.
É sempre um filme atual para discutir o atual momento da França e da Europa como um todo. As periferias das grandes cidades do país -- como Marseille e Paris -- são caldeirões prestes a explodir. O grande levante da periferia francesa em 2005 e os atos neste ano para combater a discriminação e a violência policial são prelúdios de uma situação que a França terá de se deparar futuramente: o enorme contingente de franceses marginalizados. Em uma sociedade que historicamente sempre teve problemas com a imigração e sempre prezou por valores próprios a questão da identidade é vital. Muito do que "La Haine" trata está dentro das discussões das eleições francesas que estão ocorrendo neste exato momento que escrevo. Um resgate da França branca e de valores históricos ou um país para todos?
Cada vez mais convencido de que o maio de 68 foi apenas um surto pequeno-burguês, que valia mais a pena chocar a "velha sociedade" do que uma mudança do sistema econômico-político de fato:
"Quando os franceses entraram em greve geral em maio de 1968, os acontecimentos no Teatro Odeon e aquelas maravilhosas inscrições ('É proibido proibir', 'Quando faço revolução, sinto-me como se fizesse amor', etc.) poderiam ser vistos como formas menores de literatura e teatro, marginais aos eventos principais. Quanto mais visíveis estes fenômenos, mais certeza podemos ter de que os acontecimentos realmente decisivos não estão ocorrendo. Chocar a burguesia é, infelizmente, mais fácil do que derrubá-la".
(Eric Hobsbawn - Revolucionários, artigo "Revolução e Sexo", p. 281.)
Esse filme, aliás, encerra a "trilogia" de Bernardo Bertolucci sobre o maio de 68 (cujos filmes anteriores são: "Antes da Revolução" e "Partner". Em todos os três filmes é perceptível uma crítica à geração de 68 -- pequeno-burguesa --, que queria de fato mais chocar os costumes do que uma mudança radical. Também percebo um quê de decepção e lamento na obra de Bertolucci do tipo: "estouramos a 'revolução'... e agora?"; como participante do evento ele sempre, penso eu, colocou esses dilemas pequeno-burgueses em evidência. Abandonar o conforto dos pais ou lutar pelo socialismo?
Os três jovens nada possuem de anarquistas. Anarquismo não é estilo de vida ou "chocar" a velha sociedade destruindo os valores antigos. Os velhos comunistas e anarquistas do maio francês, em sua maioria, hoje em dia, viraram políticos conservadores ou respeitáveis social-democratas. O anarquismo é um elemento classista, surgido no século XIX, da luta de classes e da crítica à sociedade capitalista, para a libertação da classe trabalhadora. Outro ponto importante é os tais "revolucionários" de 68 terem rompido com o Partido Comunista da França em plena guerra fria, freando a revolução socialista em solo ocidental europeu.
O filme é muito bem feito e competente em diversos aspectos. Uma verdadeira aula de cinema do Bernardo.
A criação do Estado sionista constitui um dos episódios mais lamentáveis da história do século XX e um dos grandes crimes contra a humanidade. Um Estado sustentado por uma concepção racista de mundo, o sionismo -- condenado pela ONU como racismo em diversas resoluções --, e fundamentado por um pseudo direito do povo judeu à “terra santa” (que historicamente não se sustenta), além de braço do imperialismo no Oriente Médio. É interessante notar que desde o surgimento do sionismo no fim do século XIX até a criação do Estado de Israel, todos os planos de expansão e de tomar os territórios palestinos já estavam bem claros para qualquer observador crítico, planos estes que são apoiados pelo poderoso lobby sionista e que tiveram o Brasil como um dos principais responsáveis pela resolução da ONU que consistia na famigerada partilha da Palestina histórica.
Um estado fundado com base em uma tragédia humanitária, no terrorismo, na guerra, na violência, no racismo e na mentira. Ao olharmos os mapas da Palestina de 1948 até os dias de hoje, fica claro que a intenção do estado sionista é dominar todos os territórios através de assentamentos judaicos e da limpeza étnica contra a população local. Desde a vitória sionista na Guerra dos Seis Dias a postura de Israel é de desrespeito para com todas as medidas da ONU e a ocupação sistemática de territórios estrangeiros (Colinas de Golã, Monte do Sinai (devolvido ao Egito), Faixa de Gaza e Cisjordânia).
Achei importante o doc discutir o poder da retórica sionista no Ocidente, divulgada e aclamada pela mídia sionista e pelos poderosíssimos lobbies que blindam Israel de qualquer crítica. Israel é o único país do mundo incriticável e quem ousa quebrar esse consenso em torno do regime sionista logo é caluniado de forma cretina como antissemita e revisionista do Holocausto, o fato histórico que virou trunfo para justificar qualquer crime cometido pelo sionismo. Ainda há muito a se revelar sobre o Holocausto e também sobre como tal episódio lamentável é explorado para fins econômicos e políticos pela elite sionista. Neste sentido, Norman Finkelstein e Noam Chomsky, ambos judeus, nos dão bons argumentos para entender tais questões.
70 anos após a partilha da Palestina, um povo tem sido exterminado com a conivência/participação de todos os governos “democráticos” e da elite ocidental. Como o documentário mostra, não há mais espaços para uma mediação do conflito ou uma pressão para que os sionistas respeitem os acordos históricos da ONU. Israel só pode ser derrubado/destruído através do poderio militar. Por fim, qualquer pessoa que apoie a causa Palestina tem de apoiar a RESISTÊNCIA ARMADA palestina, hoje capitaneada pelo Hamas.
O problema da questão Palestina não é religioso ou étnico: é político.
Quanto maior a ascensão, maior a queda. Heleno, o primeiro "jogador problema" do futebol mundial... Sensibilizante todo o drama humano que cerca a vida de um gênio. Intenso, genial, egocêntrico, repugnante e admirável, Heleno, essa convulsão dos mais variados aspectos do caráter humano foi refém de suas escolhas. Viveu e morreu de acordo com suas escolhas. Nada mais justo e digno para um homem que isso.
Esportivamente, como o filme deixa bem claro, o atacante jogou em um momento conturbado do Botafogo. Depois do tetracampeonato carioca nos anos 30, o clube alvinegro entra em um jejum de títulos, uma grave crise financeira, perda de status e Heleno é realmente a "estrela solitária" de um elenco medíocre. Como botafoguense, fiquei sensibilizado em ver o amor do atleta ao clube ("Não sou jogador de futebol, sou jogador do Botafogo"). Poderia ter sido maior, ter tido uma carreira maior, mas suas escolhas impediram tal acontecimento. Acho que, se tivesse optado por outro caminho, Heleno não seria tão fascinante e tão marcante até os dias de hoje.
Magnífica atuação do Rodrigo Santoro. Um filme que faz jus à grandeza de Heleno de Freitas.
Botafogo, por que és tão apaixonante até nos momentos de sofrimento?
Enquanto a campanha do tricampeonato era usada pelo regime militar como uma campanha ufanista para manter a população tranquila, nas ruas, a convulsão social contrasta com a ideia ufanista do "Brasil, ame ou deixe-o". Um ano e meio após o famigerado AI-5, assassinatos, torturas, prisões, censura e violações de direitos são as marcas do regime nos chamados "anos de chumbo", com grupos das forças populares democráticas enfrentando o regime através da luta armada.
O filme foi feito em 82 -- época em que o regime militar já estava bastante enfraquecido e o clamor popular pela "redemocratização" já era bem grande -- e me parece uma tentativa de evidenciar para aquela sociedade que vivia sob o fim da ditadura militar as atrocidades cometidas pelo regime no que tange aos direitos humanos. Importantíssimo o fato do filme frisar que a ditadura foi civil-militar, ou seja, os militares calcaram seu poder baseado em forças da sociedade civil (no filme, por exemplo, um empresário, um empreiteiro, é um dos favorecedores e contribui financeiramente com o regime em troca de contratos em obras públicas de expansão da infraestrutura nacional durante o "milagre econômico"). A participação da burguesia nacional -- e também a internacional -- como mantenedora da ditadura e sua relação corrupta e criminosa com o governo foi muito bem evidenciada.
Para aqueles imbecis que acham que no regime militar não houve corrupção, que a ditadura só matou "terroristas" e que o "cidadão de bem" foi respeitado, esse filme desmente todos os mitos difundidos pela histérica e deplorável direita brasileira.
Uma aguda e feroz crítica à sociedade capitalista pós-moderna, demonstrando a decadência e iminente falência da mesma. Uma sociedade moribunda, escandalosamente desigual, fetichista e voyeurista (sociedade do espetáculo) e mercantilizadora de todas as emoções e subjetividades humanas. O "narrador", Jack, um pequeno-burguês yuppie, é o típico produto desta sociedade moribunda: alienado, fragmentado, solitário e perdido em meio à decadência contemporânea, onde nada parece fazer sentido e não há referências estáveis para lidar com as constantes transformações (inúteis, porque não há como renovar algo que está putrefato) e o esfriamento das relações humanas na "Era do Vazio", um livro do sociólogo francês Gilles Lipovetsky que contempla todas as questões abordadas no filme.
A obra é genial, permitindo tirar questões para grandes debates na sociologia, na filosofia, na ciência política e na psicologia. Eu enxerguei referências diretas à Karl Marx (trabalho alienado, alienação capitalista...), Nietzsche, à autores anarquistas e até mesmo à Lenin (ação revolucionária através da violência militarizada) e uma série de outras referências importantes. A obra é tão genialmente complexa que discorrer sobre a mesma sempre será uma tarefa complicada pois as questões são inúmeras.
Das dezenas de livro que eu li, "Fight Club", sem dúvidas, foi o que mais me influenciou. Para quem apenas viu o filme -- que é fantástico -- e ainda não leu o livro, eu recomendo a leitura.
Navegamos todos em uma nau fadada ao fracasso. Só através da ação revolucionária é possível evitar este naufrágio anunciado.
5 anos depois e a Primavera Árabe no Egito está morta. Impressionante é que, tirando a Tunísia, todos os países que sofreram protestos na chamada "primavera árabe" deram uma guinada para regimes militares ou para governos ultraconservadoradores. As grandes transformações sociais não são feitas de um dia para o outro, e o nascimento de uma nova sociedade é sempre um parto dolorido. A luta é contínua.
Achei interessante o doc frisar a diferença ideológica e os movimentos políticos que compunham a massa que foi às ruas. Nem sempre manifestação de massa significa uma luta progressista ou revolucionária. É necessário organização para dar um viés revolucionário aos processos políticos. O êxito da Irmandade Muçulmana se deu justamente por ser a força politicamente mais organizada em um momento de crise.
Pura propaganda nacionalista contra a URSS. Não se propõe a discutir o fato ocorrido, mas apenas acusa o Exército Vermelho de tal crime sem apresentar provas consistentes. Sem valor histórico algum. Engraçado -- politicagem -- é que um filmeco desse chegou a ser indicado ao Oscar.
"Se eu soubesse quem inventou o emprego, eu mandaria fuzilar."
A saga nordestina em meio à selva de pedra do sonho capitalista em São Paulo. Bastante atual e com críticas geniais ao capitalismo, que geram inúmeros debates marxistas (trabalho alienado, lumpenproletariado, exploração da força de trabalho, desemprego, mais-valia, proletarização e uma série de questões importantes). Digníssimo!
“O certo é que nossas intervenções no Oriente Médio fracassaram”.
Muito bom! Faz um apanhado desde a invasão norte-americana ao Iraque, até o vácuo de poder deixado após a saída dos EUA e a guerra civil que foi o germe do Estado Islâmico (Isis). De um realismo político incrível para uma produção da tv americana.
A desastrosa invasão do Iraque na famigerada “guerra ao terror” destruiu um país que se mantinha estável – apesar de Saddam – e a saída do exército americano em 2011 deixou um vácuo de poder, cujo regime xiita que assumiu o governo não teve capacidade de centralizar de forma democrática e, pior, usou a máquina governamental para oprimir a minoria sunita gerando uma guerra civil entre os dois grupos religiosos e a origem do ISIS na Al-Qaeda, se expandido para a Síria e se aproveitando dos efeitos da Primavera Árabe e da guerra contra o Bashar al-Assad em Damasco para fundar um “califado”. Importante frisar a enorme dimensão política desse fato e o apoio de aliados ocidentais no Oriente Médio a ascensão do ISIS (Arábia Saudita, Qatar e as monarquias sunitas fundamentalistas do Oriente Médio) e o envolvimento de potências estrangeiras na Guerra da Síria e do Iraque, além da complicada questão curda em meio ao assombroso terror do Estado Islâmico. Enfim, é um doc que dá um bom norte para compreender como surgiu o ISIS e qual a dimensão da complexa guerra naquela região atualmente, mas peca um pouco por não mostrar os interesses econômicos dos agentes do imperialismo na região.
Antes de morrer, Saddam Hussein havia avisado aos EUA que caso fosse derrubado seria necessário colocar três líderes no Iraque para conter a guerra entre xiitas, sunitas e os curdos: não deu outra.
Acho que o principal ponto do documentário é o que eu chamo de "privatização da política". Um processo político cada vez mais excludente, elitista e totalmente moldado pelos detentores do dinheiro numa economia altamente financeirizada e monopolizada. Partidos políticos que não são mais capazes de atender aos anseios populares virando meros favorecedores de benesses para a elite econômica, governos privatizando lucros e socializando os custos e catástrofes da produção, processo político cada vez mais desacreditado, ausência de uma arena pública de debate, enfim, as variáveis são muitas para mostrar a falência da famigerada política que temos. Chomsky deixa bem claro que a mudança e resistência a esse sistema não está dentro dele, mas sim em movimentos fora da estrutura estatal, movimentos de massa organizados para atacar o status quo e derrubar esse sistema através de uma revolução. . Outro ponto que eu considero importante no doc é a discussão sobre o poder da ideologia e dos meios de comunicação para a criação de uma concepção única sobre a realidade, despolitizando a sociedade e criando um consenso em torno de um tipo de projeto político. Chomsky discute o papel do consenso em livros como “O Lucro ou as Pessoas e “O Que o Tio Sam Realmente Quer”. Um trecho de um de seus livros encaixa perfeitamente nas análises do documentário:
“A mídia é apenas uma parte de um sistema doutrinário maior: as outras partes são os jornais de opinião, as escolas e as universidades, as pesquisas acadêmicas, e assim por diante. Estamos mais cônscios da mídia, particularmente a mídia de maior prestígio, porque é nela que estão concentrados aqueles que analisam criticamente a ideologia. O sistema maior tal como é não tem sido estudado, porque é muito difícil investigá-lo sistematicamente. Mas há bons motivos para acreditar que ele representa os mesmos interesses que os da mídia, como qualquer um pode imaginar. “
Impressionante os relatos dos sobreviventes. Sem dúvida Stalingrado foi a mais brutal batalha da história. A poderosa máquina de guerra nazista foi dilacerada pela voracidade do gigante oriental. Um banho de mortes dos dois lados.
O nazismo ainda é uma ferida em aberto na sociedade alemã -- e não poderia deixar de ser. Até meados da década de 70 a política oficial da sociedade alemã era não falar sobre o nazismo para não abrir "velhas" feridas. O filme deixa isso bem claro quando evidencia a ignorância da juventude no tocante ao passado nazista. A "desnazificação" da Alemanha após a Segunda Guerra foi um mito. A burocracia nazista foi muito útil na reconstrução do país, ocupando altos postos no Estado alemão. De fato, por questões políticas -- a Guerra Fria --, não houve interesse dos aliados em acertar as contas com os nazistas e a impunidade marcou o pós-guerra no Ocidente. O cinema alemão é muito crítico e frequentemente vasculha o passado do país para entendimento histórico sobre determinados períodos.
Um outro filme que discute de forma inteligente a dimensão política do processo de desnazificação na Alemanha é o estupendo clássico "O Julgamento de Nuremberg (1961)".
"Primeiro, a utopia é, provavelmente, um dispositivo social necessário para gerar os esforços sobre-humanos sem a qual nenhuma grande revolução é alcançada."
O sistema de castas de "Gattaca" é bem parecido com o sistema de castas e de reprodução humana descrito por Aldous Huxley no genial "Admirável Mundo Novo". A discussão do filme sobre o totalitarismo político com base na ciência lembra bastante o livro de Huxley. Apesar do desenvolvimento do filme ser mediano -- poderia ser muito melhor --, a discussão sobre os limites da ciência, eugenia e totalitarismo é interessantíssima.
A concepção de mundo nazista ia muito além do plano político. O nazismo era muito mais que uma ideologia, era uma filosofia de vida, uma visão abrangente de mundo. Hitler pretendia criar um novo homem - moldado à imagem e semelhança da visão de mundo nazista. Arte e literatura eram fundamentais na criação do novo homem ariano.
Já disse em um comentário mais abaixo e repito: um doc totalmente simplista e maniqueísta feito para iludir os leigos sobre política internacional. Embora tenha seu valor por mostrar a repressão brutal dos aparelhos estatais de segurança, a produção ignora o controle neonazista nas manifestações, os militantes antifascistas mortos em Kiev e Lyiv (30 foram queimados vivos por grupelhos neonazistas), o antissemitismo (a organização judaica europeia recomendou que judeus fugissem da Ucrânia após a revirada e domínio neofascista no país) e o financiamento ocidental aos grupos de extrema-direita. Esse documentário tem pouco valor político-histórico e não passa de uma propaganda barata pró-Ocidente, que a mídia ocidental fez incessantemente durante vários meses. Por que o documentário "escondeu" a violência neonazista e omitiu as bandeiras nazistas que eram exibidas livremente em qualquer protesto do povo ucraniano? Enfim, a indicação desse documentário ao Oscar mostra como o Oscar envolve muito mais que questões cinematográficas e num momento onde as tensões entre a Rússia e o Ocidente chegam a níveis próximos da Guerra Fria, a indicação de um documentário explicitamente contra o governo russo é muito estranho e soa totalmente político, não?
Sou neutro em relação ao ocorrido na Ucrânia, mas sei que não há lado bonzinho ou malvado como o documentário mostrou. As milícias neonazistas cometeram uma verdadeira carnificina em cidades como Kiev, Lyiv e Odessa e assumiram o total controle da guerra. Rússia e Ucrânia, dois grandes parceiros comerciais, atravessam grande crise econômica por causa da guerra civil na Crimeia e a Ucrânia tem muito pouco a ganhar se aliando ao Ocidente. Estudem mais sobre o ocorrido na Ucrânia e não se baseiem em um doc simplista feio por uma grande corporação norte-americana.
Eu, Daniel Blake
4.3 532 Assista AgoraAborda a destruição do Estado de bem-estar social inglês, o grande legado (macabro) de Margaret Thatcher, e seus impactos na vida da classe trabalhadora, os "perdedores" da globalização neoliberal.
A Revolução Não Será Televisionada
4.2 97Hugo Chávez foi um grande líder. Um dos maiores líderes da história da América Latina. É incrível o grau de politização da massa que a revolução boliviariana empreendeu. Politização que ainda reverbera na luta anti-imperialista do povo venezuelano nos dias atuais. Considero a politização da massa como um dos grandes êxitos do chavismo, ao lado da criação de uma mídia popular alternativa aos barões da imprensa corporativa, que é sempre capacho dos interesses dos EUA. Em que pese a manutenção do modelo rentista dependente do petróleo, a revolução bolivariana transformou a Venezuela, erradicando o analfabetismo (através do método cubano de alfabetização), a mortalidade infantil e melhorou uma série de outros indicadores sociais.
Jango
4.0 41 Assista AgoraJango foi, inegavelmente, um grande brasileiro. Um dos poucos – senão o único – presidentes do país a convocar as massas populares para defender um projeto nacional de desenvolvimento, as reformas de base, através do plano trienal – feito pelo grandioso Celso Furtado, que mostrava os desafios para o capitalismo nacional e as formas de combater o endividamento, a inflação e os problemas do subdesenvolvimento --, cujo eixo central das reformas, ironicamente, foi adotado pelos governos militares posteriormente no ciclo nacional-desenvolvimentista da ditadura militar brasileira.
A economista Maria Conceição Tavares define o processo de modernização brasileira – até os governos militares – como uma “modernização conservadora”, visto que estruturas atrasadas da sociedade foram mantidas, ao lado da mais brutal desigualdade social do planeta e de um contingente de milhões de pessoas marginalizadas e sem qualquer acesso aos mais básicos canais de cidadania de uma sociedade civilizada. Jango entendia que tais contradições da modernização brasileira impediam um crescimento sustentável do país, assim como uma maior democratização social, propondo reformas cabais para o desenvolvimento capitalista de qualquer país do mundo, a dizer, a reforma agrária, tributária, urbana e extensão dos direitos trabalhistas ao campo, condições mínimas para a acumulação capitalista. À época, grande parte da intelectualidade nacional sonhava com a “revolução brasileira” e pensava o papel da burguesia local em tal processo.
Na história não há “se”, mas o maior erro de João Goulart foi ter abandonado a perspectiva de resistir ao golpe por temer uma possível guerra civil. Em 64, amplos setores das forças armadas eram legalistas, defendiam a constituição e a continuidade de Jango, e estavam prontos para defender o presidente e combater os setores golpistas nas forças armadas – algo dito por Darcy Ribeiro em suas memórias sobre o golpe de 1964. Brizola era ciente da situação. Se a esquerda e os setores nacionais-populares tivessem resistido ao golpe, certamente o Brasil de hoje seria muito diferente. Para o bem e, talvez, para o mal.
Quando não acertamos as contas com o passado ele nos cobra com juros. Em tempos que até a esquerda perdeu a consciência histórica em virtude do lacre, do irracionalismo e das respostas fáceis, o documentário de Tendler é precioso.
Ao Sul da Fronteira
4.0 73Um documentário precioso para a compreensão de um momento ímpar da história da América do Sul: a ascensão de vários governos progressistas e de esquerda no continente e suas relações com a potência hegemônica da região, os EUA.
A América do Sul – e também a América Latina de uma forma geral – foi, talvez, o principal laboratório de teste das políticas neoliberais, nos anos 80 e 90, com resultados catastróficos: aumento da pobreza e da desigualdade, desindustrialização, desemprego e subordinação aos países centrais e suas políticas do Consenso de Washington. Diante de tal quadro de crise, governos de esquerda são eleitos no Brasil – que quebrou em 1999 –, Argentina – o país mais atingido por políticas neoliberais, e que quebrou duas vezes entre 1990 e 2001 –, Uruguai, Venezuela, Equador e Bolívia. Tais governos reduziram a pobreza na região, aumentaram a integração dos 12 países através da União das Nações Sul-americanas (UNASUL, que está sendo destruída) e construíram políticas externas mais autônomas e soberanas.
Oliver Stone mostra como um discurso abertamente hostil aos regimes de esquerda da América do Sul foi construído a partir do fracasso da ALCA, mostra a articulação norte-americana do golpe em 2002 na Venezuela e o incômodo de Washington com governos sul-americanos mais altivos e independentes, já que boa parte da história da região é marcada por cooperação e submissão de suas elites políticas aos desígnios da potência hegemônica.
Olhando a América do Sul hoje, em que houve uma guinada de orientação ideológica dos governos de vários países, com intervenção direta dos Estados Unidos – fatos divulgados por documentos oficiais publicados no Wikileaks e por Edward Snowden –, fica claro o retrocesso em vários níveis sociais e na política externa. Novamente estamos sob a orientação direta de Washington, servindo de exportadores de commodities e adotando o fracassado neoliberalismo, com resultados já desastrosos.
A América do Sul, com a entrada pesada dos chineses na região e sua parceria com diversos países sul-americanos, será alvo de uma grande disputa geopolítica futuramente. Seremos construtores de nossa própria história ou ficaremos à mercê dos donos do mundo?
Stone é genial.
O Sétimo Selo
4.4 1,0KGosto da alegoria que a obra faz para criticar a vacuidade existencial do homem contemporâneo, utilizando de um contexto histórico diferente, mas totalmente intimista e inquietante.
Em realidade, Ingmar Berman, ao abordar a perda de fé e o questionamento existencial do cavaleiro medieval, não está fazendo uma crítica à Idade Média, mas sim à sociedade contemporânea. Em o "Sétimo Selo" é possível captar toda a essência humana e social do período histórico em que "Deus está morto". O incômodo do homem moderno, perdido e tomado por incertezas, sem referências estáveis e vendo o progresso científico e tecnológico como o possível promotor do apocalipse – o ápice da produção – no âmbito do auge da Guerra Fria, em que a humanidade temia sua real destruição.
Um cavaleiro medieval jamais teria o suporte racional e emocional para questionar Deus, visto que sua era é marcada por valores absolutos e imutáveis. Aí a obra mostra-se genial, pois consegue alegorizar a inquietação humana e o medo da total destruição – o que é muito comum nos filmes de Berman dessa época, como “Luz de Inverno”, em que um pastor protestante questiona a existência do supremo devido ao seu medo do apocalipse nuclear – contemporânea por meio de recursos históricos.
Ao sermos expulsos do paraíso pela racionalidade, o homem moderno inaugura novos palcos na infindável batalha da vida e, ciente das contradições que dilaceram a sociedade humana, questiona o progresso, a própria racionalidade e intima Deus. O progresso não é só emancipador, mas também é promotor da barbárie.
Como lidar com a finitude da vida e do mundo quando deus está morto? Como lidar com a impotência humana perante forças despertadas pela própria humanidade?
O Corte
3.9 128 Assista AgoraBom filme. O humor negro traz bons e reflexivos diálogos e uma ácida crítica ao neoliberalismo. Gostei da crítica ao protagonista no filme, um pequeno burguês, que é incapaz de enxergar as relações de poder e de desigualdade que permeiam o capitalismo. Julgando o desemprego, um fenômeno social, como um problema particular, Bruno Davert acha que a solução para tal situação é a competição voraz e sem escrúpulos da lei do mais forte. Tal condição é bem comum na pequena burguesia que assimila a concepção de mundo burguesa e uma das formas de alienação. O capitalismo não é apenas um sistema econômico, mas um sistema ideológico potente e voraz que dilacera toda a solidariedade humana e transforma todas as relações interpessoais em mera competição.
Sem a consciência das relações desiguais que regem este sistema fica difícil de combatê-lo e o neoliberalismo traz para as relações sociais o individualismo cego e a indiferença. No fim, Davert foi apenas mais uma vítima da máquina de egoísmo e competição neoliberal, do famoso "cada um por si".
Privatizações: A Distopia do Capital
4.2 16Acho importante ilustrar as análises/discussões do doc com um trecho de um dos livros do filósofo Noam Chomsky que estou lendo:
“Analisando um quarto de século de experiências neoliberais, um estudo do Center For Economic and Policy Research mostra que elas se fizeram acompanhar de taxas muito mais baixas de crescimento e reduzido progresso dos indicadores sociais para países de todos os quintis, ricos e pobres. Essa tendência geral tem exceções: registraram-se altas taxas de crescimento em países que ignoraram as regras (com tremendas desigualdades e outros severos efeitos colaterais na China e índia). ‘O padrão global de crescimento é inequívoco’, conclui de sua detalhada análise o economista Robert Pollin: ‘A era neoliberal foi marcada por um nítido declínio do crescimento – a quase metade – relativamente ao período do Estado desenvolvimentista’ que a precedeu, tendência ‘ainda mais dramática’ quando considerada em termos per capita, com aumento da desigualdade ou pequena, ou nenhuma, redução da pobreza (quando se exclui a China) e devastadores efeitos colaterais entre os mais vulneráveis. [...] Esses fatos são às vezes obscurecidos pela observação de que as condições melhoraram em geral sob o regime neoliberal, como ocorre quase que invariavelmente ao longo do tempo em qualquer regime econômico ou quase se recorre a um conceito de ‘globalização’ que confunde orientação exportadora com neoliberalismo, de um modo tal que, se um bilhão de chineses experimenta um elevado crescimento sob políticas orientadas para a exportação que violam radicalmente os princípios neoliberais, o aumento das taxas de crescimento médio global é saudado como triunfo dos princípios violados.
[...] as reformas neoliberais são a antítese da promoção da democracia. Elas não são projetadas para reduzir o Estado, como se diz com frequência, mas para reforçar as instituições estatais, de tal maneira que sirvam ainda mais do que antes às necessidades das pessoas substantivas. Um tema dominante é a limitação da arena pública e a transferência das decisões para as mãos de tiranias privadas que não prestam contas a ninguém. Um dos métodos utilizados para isso é a privatização, que elimina o público da influência potencial na política. Uma de suas formas extremas é a privatização dos ‘serviços’, categoria que abrange praticamente tudo que diz respeito ao interesse público imediato: saúde, educação, abastecimento d’água, e assim por diante. Uma vez que estes sejam eliminados do âmbito público pela ‘comercialização dos serviços’, as práticas democráticas formais são amplamente reduzidas a um dispositivo de mobilização periódica do público em favor dos interesses da elite e da ‘crise da democracia’ substancialmente superada.”.
CHOMSKY, Noam. Estados Fracassados, p.242-243.
O Ódio
4.2 314 Assista AgoraEsqueça a Paris dos sonhos de "Casablanca", do "O Ultimo Tango em Paris" e de todos os filmes que mitificam a capital francesa. A Paris de "La Haine" é racista, xenófoba, suja e indesejável para todos aqueles que não são franceses.
É sempre um filme atual para discutir o atual momento da França e da Europa como um todo. As periferias das grandes cidades do país -- como Marseille e Paris -- são caldeirões prestes a explodir. O grande levante da periferia francesa em 2005 e os atos neste ano para combater a discriminação e a violência policial são prelúdios de uma situação que a França terá de se deparar futuramente: o enorme contingente de franceses marginalizados. Em uma sociedade que historicamente sempre teve problemas com a imigração e sempre prezou por valores próprios a questão da identidade é vital. Muito do que "La Haine" trata está dentro das discussões das eleições francesas que estão ocorrendo neste exato momento que escrevo. Um resgate da França branca e de valores históricos ou um país para todos?
Os Sonhadores
4.1 1,9K Assista AgoraCada vez mais convencido de que o maio de 68 foi apenas um surto pequeno-burguês, que valia mais a pena chocar a "velha sociedade" do que uma mudança do sistema econômico-político de fato:
"Quando os franceses entraram em greve geral em maio de 1968, os acontecimentos no Teatro Odeon e aquelas maravilhosas inscrições ('É proibido proibir', 'Quando faço revolução, sinto-me como se fizesse amor', etc.) poderiam ser vistos como formas menores de literatura e teatro, marginais aos eventos principais. Quanto mais visíveis estes fenômenos, mais certeza podemos ter de que os acontecimentos realmente decisivos não estão ocorrendo. Chocar a burguesia é, infelizmente, mais fácil do que derrubá-la".
(Eric Hobsbawn - Revolucionários, artigo "Revolução e Sexo", p. 281.)
Esse filme, aliás, encerra a "trilogia" de Bernardo Bertolucci sobre o maio de 68 (cujos filmes anteriores são: "Antes da Revolução" e "Partner". Em todos os três filmes é perceptível uma crítica à geração de 68 -- pequeno-burguesa --, que queria de fato mais chocar os costumes do que uma mudança radical. Também percebo um quê de decepção e lamento na obra de Bertolucci do tipo: "estouramos a 'revolução'... e agora?"; como participante do evento ele sempre, penso eu, colocou esses dilemas pequeno-burgueses em evidência. Abandonar o conforto dos pais ou lutar pelo socialismo?
Os três jovens nada possuem de anarquistas. Anarquismo não é estilo de vida ou "chocar" a velha sociedade destruindo os valores antigos. Os velhos comunistas e anarquistas do maio francês, em sua maioria, hoje em dia, viraram políticos conservadores ou respeitáveis social-democratas. O anarquismo é um elemento classista, surgido no século XIX, da luta de classes e da crítica à sociedade capitalista, para a libertação da classe trabalhadora. Outro ponto importante é os tais "revolucionários" de 68 terem rompido com o Partido Comunista da França em plena guerra fria, freando a revolução socialista em solo ocidental europeu.
O filme é muito bem feito e competente em diversos aspectos. Uma verdadeira aula de cinema do Bernardo.
A História Sionista
4.5 6A criação do Estado sionista constitui um dos episódios mais lamentáveis da história do século XX e um dos grandes crimes contra a humanidade. Um Estado sustentado por uma concepção racista de mundo, o sionismo -- condenado pela ONU como racismo em diversas resoluções --, e fundamentado por um pseudo direito do povo judeu à “terra santa” (que historicamente não se sustenta), além de braço do imperialismo no Oriente Médio. É interessante notar que desde o surgimento do sionismo no fim do século XIX até a criação do Estado de Israel, todos os planos de expansão e de tomar os territórios palestinos já estavam bem claros para qualquer observador crítico, planos estes que são apoiados pelo poderoso lobby sionista e que tiveram o Brasil como um dos principais responsáveis pela resolução da ONU que consistia na famigerada partilha da Palestina histórica.
Um estado fundado com base em uma tragédia humanitária, no terrorismo, na guerra, na violência, no racismo e na mentira. Ao olharmos os mapas da Palestina de 1948 até os dias de hoje, fica claro que a intenção do estado sionista é dominar todos os territórios através de assentamentos judaicos e da limpeza étnica contra a população local. Desde a vitória sionista na Guerra dos Seis Dias a postura de Israel é de desrespeito para com todas as medidas da ONU e a ocupação sistemática de territórios estrangeiros (Colinas de Golã, Monte do Sinai (devolvido ao Egito), Faixa de Gaza e Cisjordânia).
Achei importante o doc discutir o poder da retórica sionista no Ocidente, divulgada e aclamada pela mídia sionista e pelos poderosíssimos lobbies que blindam Israel de qualquer crítica. Israel é o único país do mundo incriticável e quem ousa quebrar esse consenso em torno do regime sionista logo é caluniado de forma cretina como antissemita e revisionista do Holocausto, o fato histórico que virou trunfo para justificar qualquer crime cometido pelo sionismo. Ainda há muito a se revelar sobre o Holocausto e também sobre como tal episódio lamentável é explorado para fins econômicos e políticos pela elite sionista. Neste sentido, Norman Finkelstein e Noam Chomsky, ambos judeus, nos dão bons argumentos para entender tais questões.
70 anos após a partilha da Palestina, um povo tem sido exterminado com a conivência/participação de todos os governos “democráticos” e da elite ocidental. Como o documentário mostra, não há mais espaços para uma mediação do conflito ou uma pressão para que os sionistas respeitem os acordos históricos da ONU. Israel só pode ser derrubado/destruído através do poderio militar. Por fim, qualquer pessoa que apoie a causa Palestina tem de apoiar a RESISTÊNCIA ARMADA palestina, hoje capitaneada pelo Hamas.
O problema da questão Palestina não é religioso ou étnico: é político.
Heleno
3.6 431 Assista AgoraQuanto maior a ascensão, maior a queda. Heleno, o primeiro "jogador problema" do futebol mundial... Sensibilizante todo o drama humano que cerca a vida de um gênio. Intenso, genial, egocêntrico, repugnante e admirável, Heleno, essa convulsão dos mais variados aspectos do caráter humano foi refém de suas escolhas. Viveu e morreu de acordo com suas escolhas. Nada mais justo e digno para um homem que isso.
Esportivamente, como o filme deixa bem claro, o atacante jogou em um momento conturbado do Botafogo. Depois do tetracampeonato carioca nos anos 30, o clube alvinegro entra em um jejum de títulos, uma grave crise financeira, perda de status e Heleno é realmente a "estrela solitária" de um elenco medíocre. Como botafoguense, fiquei sensibilizado em ver o amor do atleta ao clube ("Não sou jogador de futebol, sou jogador do Botafogo"). Poderia ter sido maior, ter tido uma carreira maior, mas suas escolhas impediram tal acontecimento. Acho que, se tivesse optado por outro caminho, Heleno não seria tão fascinante e tão marcante até os dias de hoje.
Magnífica atuação do Rodrigo Santoro. Um filme que faz jus à grandeza de Heleno de Freitas.
Botafogo, por que és tão apaixonante até nos momentos de sofrimento?
Pra Frente, Brasil
3.7 75Enquanto a campanha do tricampeonato era usada pelo regime militar como uma campanha ufanista para manter a população tranquila, nas ruas, a convulsão social contrasta com a ideia ufanista do "Brasil, ame ou deixe-o". Um ano e meio após o famigerado AI-5, assassinatos, torturas, prisões, censura e violações de direitos são as marcas do regime nos chamados "anos de chumbo", com grupos das forças populares democráticas enfrentando o regime através da luta armada.
O filme foi feito em 82 -- época em que o regime militar já estava bastante enfraquecido e o clamor popular pela "redemocratização" já era bem grande -- e me parece uma tentativa de evidenciar para aquela sociedade que vivia sob o fim da ditadura militar as atrocidades cometidas pelo regime no que tange aos direitos humanos. Importantíssimo o fato do filme frisar que a ditadura foi civil-militar, ou seja, os militares calcaram seu poder baseado em forças da sociedade civil (no filme, por exemplo, um empresário, um empreiteiro, é um dos favorecedores e contribui financeiramente com o regime em troca de contratos em obras públicas de expansão da infraestrutura nacional durante o "milagre econômico"). A participação da burguesia nacional -- e também a internacional -- como mantenedora da ditadura e sua relação corrupta e criminosa com o governo foi muito bem evidenciada.
Para aqueles imbecis que acham que no regime militar não houve corrupção, que a ditadura só matou "terroristas" e que o "cidadão de bem" foi respeitado, esse filme desmente todos os mitos difundidos pela histérica e deplorável direita brasileira.
Clube da Luta
4.5 4,9K Assista AgoraUma aguda e feroz crítica à sociedade capitalista pós-moderna, demonstrando a decadência e iminente falência da mesma. Uma sociedade moribunda, escandalosamente desigual, fetichista e voyeurista (sociedade do espetáculo) e mercantilizadora de todas as emoções e subjetividades humanas. O "narrador", Jack, um pequeno-burguês yuppie, é o típico produto desta sociedade moribunda: alienado, fragmentado, solitário e perdido em meio à decadência contemporânea, onde nada parece fazer sentido e não há referências estáveis para lidar com as constantes transformações (inúteis, porque não há como renovar algo que está putrefato) e o esfriamento das relações humanas na "Era do Vazio", um livro do sociólogo francês Gilles Lipovetsky que contempla todas as questões abordadas no filme.
A obra é genial, permitindo tirar questões para grandes debates na sociologia, na filosofia, na ciência política e na psicologia. Eu enxerguei referências diretas à Karl Marx (trabalho alienado, alienação capitalista...), Nietzsche, à autores anarquistas e até mesmo à Lenin (ação revolucionária através da violência militarizada) e uma série de outras referências importantes. A obra é tão genialmente complexa que discorrer sobre a mesma sempre será uma tarefa complicada pois as questões são inúmeras.
Das dezenas de livro que eu li, "Fight Club", sem dúvidas, foi o que mais me influenciou. Para quem apenas viu o filme -- que é fantástico -- e ainda não leu o livro, eu recomendo a leitura.
Navegamos todos em uma nau fadada ao fracasso. Só através da ação revolucionária é possível evitar este naufrágio anunciado.
A Praça Tahrir
4.4 905 anos depois e a Primavera Árabe no Egito está morta. Impressionante é que, tirando a Tunísia, todos os países que sofreram protestos na chamada "primavera árabe" deram uma guinada para regimes militares ou para governos ultraconservadoradores. As grandes transformações sociais não são feitas de um dia para o outro, e o nascimento de uma nova sociedade é sempre um parto dolorido. A luta é contínua.
Achei interessante o doc frisar a diferença ideológica e os movimentos políticos que compunham a massa que foi às ruas. Nem sempre manifestação de massa significa uma luta progressista ou revolucionária. É necessário organização para dar um viés revolucionário aos processos políticos. O êxito da Irmandade Muçulmana se deu justamente por ser a força politicamente mais organizada em um momento de crise.
Katyn
3.8 103Pura propaganda nacionalista contra a URSS. Não se propõe a discutir o fato ocorrido, mas apenas acusa o Exército Vermelho de tal crime sem apresentar provas consistentes. Sem valor histórico algum. Engraçado -- politicagem -- é que um filmeco desse chegou a ser indicado ao Oscar.
O Homem que Virou Suco
4.1 183 Assista Agora"Se eu soubesse quem inventou o emprego, eu mandaria fuzilar."
A saga nordestina em meio à selva de pedra do sonho capitalista em São Paulo. Bastante atual e com críticas geniais ao capitalismo, que geram inúmeros debates marxistas (trabalho alienado, lumpenproletariado, exploração da força de trabalho, desemprego, mais-valia, proletarização e uma série de questões importantes). Digníssimo!
A História do ISIS
3.9 1“O certo é que nossas intervenções no Oriente Médio fracassaram”.
Muito bom! Faz um apanhado desde a invasão norte-americana ao Iraque, até o vácuo de poder deixado após a saída dos EUA e a guerra civil que foi o germe do Estado Islâmico (Isis). De um realismo político incrível para uma produção da tv americana.
A desastrosa invasão do Iraque na famigerada “guerra ao terror” destruiu um país que se mantinha estável – apesar de Saddam – e a saída do exército americano em 2011 deixou um vácuo de poder, cujo regime xiita que assumiu o governo não teve capacidade de centralizar de forma democrática e, pior, usou a máquina governamental para oprimir a minoria sunita gerando uma guerra civil entre os dois grupos religiosos e a origem do ISIS na Al-Qaeda, se expandido para a Síria e se aproveitando dos efeitos da Primavera Árabe e da guerra contra o Bashar al-Assad em Damasco para fundar um “califado”. Importante frisar a enorme dimensão política desse fato e o apoio de aliados ocidentais no Oriente Médio a ascensão do ISIS (Arábia Saudita, Qatar e as monarquias sunitas fundamentalistas do Oriente Médio) e o envolvimento de potências estrangeiras na Guerra da Síria e do Iraque, além da complicada questão curda em meio ao assombroso terror do Estado Islâmico. Enfim, é um doc que dá um bom norte para compreender como surgiu o ISIS e qual a dimensão da complexa guerra naquela região atualmente, mas peca um pouco por não mostrar os interesses econômicos dos agentes do imperialismo na região.
Antes de morrer, Saddam Hussein havia avisado aos EUA que caso fosse derrubado seria necessário colocar três líderes no Iraque para conter a guerra entre xiitas, sunitas e os curdos: não deu outra.
Requiem for the American Dream
4.4 64 Assista AgoraAcho que o principal ponto do documentário é o que eu chamo de "privatização da política". Um processo político cada vez mais excludente, elitista e totalmente moldado pelos detentores do dinheiro numa economia altamente financeirizada e monopolizada. Partidos políticos que não são mais capazes de atender aos anseios populares virando meros favorecedores de benesses para a elite econômica, governos privatizando lucros e socializando os custos e catástrofes da produção, processo político cada vez mais desacreditado, ausência de uma arena pública de debate, enfim, as variáveis são muitas para mostrar a falência da famigerada política que temos. Chomsky deixa bem claro que a mudança e resistência a esse sistema não está dentro dele, mas sim em movimentos fora da estrutura estatal, movimentos de massa organizados para atacar o status quo e derrubar esse sistema através de uma revolução.
.
Outro ponto que eu considero importante no doc é a discussão sobre o poder da ideologia e dos meios de comunicação para a criação de uma concepção única sobre a realidade, despolitizando a sociedade e criando um consenso em torno de um tipo de projeto político. Chomsky discute o papel do consenso em livros como “O Lucro ou as Pessoas e “O Que o Tio Sam Realmente Quer”. Um trecho de um de seus livros encaixa perfeitamente nas análises do documentário:
“A mídia é apenas uma parte de um sistema doutrinário maior: as outras partes são os jornais de opinião, as escolas e as universidades, as pesquisas acadêmicas, e assim por diante. Estamos mais cônscios da mídia, particularmente a mídia de maior prestígio, porque é nela que estão concentrados aqueles que analisam criticamente a ideologia. O sistema maior tal como é não tem sido estudado, porque é muito difícil investigá-lo sistematicamente. Mas há bons motivos para acreditar que ele representa os mesmos interesses que os da mídia, como qualquer um pode imaginar. “
Enfim, Chomsky é imprescindível.
Stalingrado: A Batalha mais Dramática da Segunda Guerra Mundial
4.2 8Impressionante os relatos dos sobreviventes. Sem dúvida Stalingrado foi a mais brutal batalha da história. A poderosa máquina de guerra nazista foi dilacerada pela voracidade do gigante oriental. Um banho de mortes dos dois lados.
Labirinto de Mentiras
3.8 51 Assista AgoraO nazismo ainda é uma ferida em aberto na sociedade alemã -- e não poderia deixar de ser. Até meados da década de 70 a política oficial da sociedade alemã era não falar sobre o nazismo para não abrir "velhas" feridas. O filme deixa isso bem claro quando evidencia a ignorância da juventude no tocante ao passado nazista. A "desnazificação" da Alemanha após a Segunda Guerra foi um mito. A burocracia nazista foi muito útil na reconstrução do país, ocupando altos postos no Estado alemão. De fato, por questões políticas -- a Guerra Fria --, não houve interesse dos aliados em acertar as contas com os nazistas e a impunidade marcou o pós-guerra no Ocidente. O cinema alemão é muito crítico e frequentemente vasculha o passado do país para entendimento histórico sobre determinados períodos.
Um outro filme que discute de forma inteligente a dimensão política do processo de desnazificação na Alemanha é o estupendo clássico "O Julgamento de Nuremberg (1961)".
Germinal
3.9 122"Primeiro, a utopia é, provavelmente, um dispositivo social necessário para gerar os esforços sobre-humanos sem a qual nenhuma grande revolução é alcançada."
Eric Hobsbawn
Gattaca, uma Experiência Genética
3.9 650 Assista AgoraO sistema de castas de "Gattaca" é bem parecido com o sistema de castas e de reprodução humana descrito por Aldous Huxley no genial "Admirável Mundo Novo". A discussão do filme sobre o totalitarismo político com base na ciência lembra bastante o livro de Huxley. Apesar do desenvolvimento do filme ser mediano -- poderia ser muito melhor --, a discussão sobre os limites da ciência, eugenia e totalitarismo é interessantíssima.
Arquitetura da Destruição
4.2 136 Assista AgoraA concepção de mundo nazista ia muito além do plano político. O nazismo era muito mais que uma ideologia, era uma filosofia de vida, uma visão abrangente de mundo. Hitler pretendia criar um novo homem - moldado à imagem e semelhança da visão de mundo nazista. Arte e literatura eram fundamentais na criação do novo homem ariano.
Winter on Fire: Ukraine's Fight for Freedom
4.3 184 Assista AgoraJá disse em um comentário mais abaixo e repito: um doc totalmente simplista e maniqueísta feito para iludir os leigos sobre política internacional. Embora tenha seu valor por mostrar a repressão brutal dos aparelhos estatais de segurança, a produção ignora o controle neonazista nas manifestações, os militantes antifascistas mortos em Kiev e Lyiv (30 foram queimados vivos por grupelhos neonazistas), o antissemitismo (a organização judaica europeia recomendou que judeus fugissem da Ucrânia após a revirada e domínio neofascista no país) e o financiamento ocidental aos grupos de extrema-direita. Esse documentário tem pouco valor político-histórico e não passa de uma propaganda barata pró-Ocidente, que a mídia ocidental fez incessantemente durante vários meses. Por que o documentário "escondeu" a violência neonazista e omitiu as bandeiras nazistas que eram exibidas livremente em qualquer protesto do povo ucraniano? Enfim, a indicação desse documentário ao Oscar mostra como o Oscar envolve muito mais que questões cinematográficas e num momento onde as tensões entre a Rússia e o Ocidente chegam a níveis próximos da Guerra Fria, a indicação de um documentário explicitamente contra o governo russo é muito estranho e soa totalmente político, não?
Sou neutro em relação ao ocorrido na Ucrânia, mas sei que não há lado bonzinho ou malvado como o documentário mostrou. As milícias neonazistas cometeram uma verdadeira carnificina em cidades como Kiev, Lyiv e Odessa e assumiram o total controle da guerra. Rússia e Ucrânia, dois grandes parceiros comerciais, atravessam grande crise econômica por causa da guerra civil na Crimeia e a Ucrânia tem muito pouco a ganhar se aliando ao Ocidente. Estudem mais sobre o ocorrido na Ucrânia e não se baseiem em um doc simplista feio por uma grande corporação norte-americana.