Contextualiza bem a situação da França pré-revolucionária e fala de todas as fases da revolução, mas peca por exaltar em demasia a violência do "terror" e por ignorar as grandes conquistas sociais oriundas da revolução (igualdade jurídica, fim da escravidão nas colônias da França, sufrágio universal, governo laico, educação laica e uma série de outras conquistas importantes...). Para o leigo sobre a Revolução Francesa, o doc pode ser meio assustador por focar muito na violência do Terror e por ignorar outros aspectos importantes. É um doc mediano e poderia ser muito melhor.
E ainda há aqueles, de forma intencional ou por ignorância, que associam capitalismo à democracia. Capitalismo e neoliberalismo são sistemas que funcionam plenamente em regimes autoritários e as ditaduras sempre desempenharam um papel fundamental para se manter a ordem capitalista diante de uma conjuntura de polarização e iminência revolucionária. O livre mercado funciona plenamente com repressão, genocídios e autocracia. Interessante o doc discutir o funcionalismo do capitalismo em regimes autoritários, como o nazismo, e depois, na Grécia, durante a ditadura militar, já sob sua forma neoliberal. Mais um bom documentário independente grego para denunciar a tragédia capitalista que assola o país.
Um dos grandes filmes políticos de Hollywood. Contemporâneo e trata dos acontecimentos explosivos de 1968 nos EUA, e como a sociedade norte-americana encarava a Guerra do Vietnã, a luta dos negros pelos direitos civis, o feminismo e toda a contracultura hippie e libertária da década de 60; além disso o filme também levanta questões sobre o papel da mídia nos problemas sociais e propõe um grande debate ético e moral sobre a profissão e atuação dos jornalistas/imprensa. Uma pena ser um filme praticamente desconhecido no Brasil.
Uma magistral produção do cinema cubano. Traz inúmeras reflexões sobre a educação e como o contexto social influi dentro da sala de aula, na vida de alunos, professores e da escola em si. O papel de um educador vai muito além de ensinar em sala de aula e, em situações de vulnerabilidade social dos alunos, o educador tem grande responsabilidade. A história do menino Chala poderia ser transportada para a realidade de qualquer criança brasileira ou de qualquer outro país pobre do mundo, guardada as devidas diferenças socioculturais entre os países.
Gostei muito de como o filme mostrou a sociedade cubana - sem paixões ou maniqueísmo -, mostrando a estrutura autoritária do sistema educacional, onde crianças e jovens são obrigados a jurarem os “mitos” nacionais da revolução, a pobreza, o ateísmo oficial como doutrina de Estado, que contrasta com a religiosidade do povo, as perseguições políticas aos que ousam enfrentar a censura do regime e muitos outros aspectos do cotidiano de lá, que nos dão uma visão crítica sobre o regime dos Castro. Apesar de muitos grandes avanços em questões sociais, é evidente que Cuba é um regime lamentável em muitos aspectos.
Uma história muito bonita sobre a vida e a paixão em educar. Lidar com seres humanos nunca é fácil, mas boas ações podem fazer diferença. Ao assistir "Numa Escola de Havana" fui imediatamente remetido à produção francesa "Os Incompreendidos" em diversos momentos. Recomendadíssimo!
Interessante notar como o Estado foi o grande agente desenvolvedor do capitalismo brasileiro e principal motor da economia nacional.Todos os períodos de grande expansão econômica do Brasil contaram com a efetiva participação do Estado. Seja na Era Vargas, na industrialização do governo JK, no "milagre econômico" da ditadura militar ou no governo Lula, períodos de grande crescimento, o nacional-desenvolvimentismo foi o projeto econômico adotado. O documentário deixa isso bem claro e também toca em um ponto vital da sociedade brasileira: a ausência de uma sociedade civil organizada e um povo que participe das decisões políticas, isto é, um povo cidadão. O doc também desmente alguns mitos sobre a economia nacional e denuncia o roubo descarado do patrimônio público brasileiro empreendido pelos neoliberais da década de 90. Enfim, "Um Sonho Intenso" deveria ser mais divulgado para o grande público porque é o melhor documentário nacional que eu já vi e bastante rico em informações vitais para compreender a sociedade brasileira, não só focando nos aspectos econômicos mas também nos aspectos socioculturais.
Totalmente simplista e maniqueísta! Típica visão da mídia ocidental sobre o caso da Ucrânia, em que "liberdade" significa se aliar aos EUA e União Europeia e os russos aparecem como os malvadões imperialistas. O doc não se propõe a discutir as causas dos conflito, os interesses das partes envolvidas e só propaga uma mensagem contra a Rússia e tudo aquilo que não é pró-Ocidente.
Por que não foi mostrada a violência das milicias neonazistas, que chegaram a queimar vivos 30 manifestantes antifascistas - que lutavam contra os neonazistas e o imperialismo russo? Por que não foi mostrado a recomendação das organizações judaicas de toda a Europa que incentivava os judeus de Kiev e do restante da Ucrânia a imigrarem para outros países depois que os neonazistas assumiram o controle da guerra? Por que ocultaram símbolos nazistas que eram exibidos livremente nos protestos e por que esconderam os símbolos e armamentos das milícias neofascistas que deram um golpe de Estado em Kiev? Cadê os vários assassinatos cometidos pelos nazistas de Kiev e Lyiv, que eram apoiados pelos EUA?
Enfim, esse documentário tem pouco valor político-histórico e não passa de uma grande propaganda pró-Ocidente. Sou neutro em relação ao ocorrido na Ucrânia, mas sei que não há lado bonzinho e malvado como o doc demonstrou. Mesmo com essa guerra, a economia ucraniana é altamente dependente da economia russa e os dois países sofrem grave crise econômica. Ao renunciar - corretamente - ao imperialismo e influência russa, o povo ucraniano acabou aderindo ao ultranacionalismo da extrema-direita e ao neofascismo. Um doc feito para iludir os leigos sobre política internacional e não podemos esperar muito de uma produção feita por uma grande empresa norte-americana.
Um filme bastante atual. Já no começo nos deparamos com a repressão e violência estatal contra os aposentados, que reivindicavam melhores aposentadorias e condições de vida na Itália do pós-guerra, além do desenrolar da história que evidencia a desvalorização social e abandono dos idosos. Uma história de rara sensibilidade diante de um quadro social de crise.
Triste saber que, estruturalmente, a violência na cidade (mas também em todo o estado) do Rio de Janeiro pouco mudou nesses 16 anos e hoje ainda temos o agravante do crime organizado estatal, sintetizando nas milícias que dominam diversas comunidades em todo o estado. É um documentário que mostra a falência das políticas públicas de segurança e como a guerra do tráfico age sobre as pessoas que estão dos dois lados envolvidos (os bandidos, os moradores das favelas e os policiais) no conflito. Mostra a dura realidade do cotidiano das favelas cariocas, além de como a violência urbana vai muito além do que conseguimos enxergar com os olhos da mídia e das verdades estabelecidas.
Uma verdadeira obra-prima! Um excelente retrato histórico da Itália nos primeiros 45 anos do século XX e que também retrata, de certa forma, o painel político do mundo ocidental após a primeira guerra e a ascensão do nazi-fascismo. Incrivelmente encantadora a narrativa da obra, e, apesar das mais de 5 horas, o filme não cansa e não consigo enxergar como contar um contexto histórico tão rico em menos tempo do que isso. Além de mostrar o contexto político da Itália, Bernardo Bertolucci também mostra as relações humanas no período (partidos, perseguição política, relacionamentos amorosos, relações de dominação e uma série de outros aspectos relevantes) e de como o contexto histórico influenciou tais relações exemplificado na amizade de Olmo e Alfredo, dois jovens de classes sociais diferentes que estão diretamente envolvidos com o contexto sócio-político italiano, dividido entre fascistas e comunistas.
Achei interessante o desenvolvimento do personagem Alfredo. Num primeiro momento ele é o típico jovem burguês alienado da realidade que o rodeia, mas que ao longo do filme torna-se o típico burguês que beneficiou a ascensão do fascismo (o fascismo italiano só cresceu por conta do apoio da burguesia industrial e agrária), mesmo que no caso dele seja de forma não intencional ou por omissão diante da ausência de consciência sobre a realidade. Creio que a consciência dele como burguês apareça apenas no fim do filme, que é bastante desolador embora extremamente real diante da luta de classes que move o mundo até os dias de hoje.
“1900” é uma obra extremamente rica, com uma fotografia fantástica, ótimas atuações e uma excelente aula de história sobre o século XX. Um trabalho magistral do cinema italiano.
Apesar de não mostrar os 6 segmentos de forma cronológica e interligada, "Paisà" é extremamente rico e mostra como a invasão das tropas americanas e aliadas em geral no território italiano modificou a vida do cidadão comum italiano, além do panorama social de pobreza e da destruição física causada pela guerra, que contrasta com a esperança e expectativa de um povo que aguardava a libertação do país e o fim do conflito armado. 6 histórias paralelas que mostram as relações de soldados aliados e cidadãos italianos, onde as diferenças culturais (língua, valores e religião) são dissolvidas em torno de um objetivo em comum. O 2º e 5º segmentos são de uma sensibilidade indescritível e os aspectos técnicos do filme são excelentes para a época.
O filme não tem nada de muito interessante além das cenas de parafilias e de comportamentos antissociais. Acho que a única discussão inteligente que podemos tirar do filme é sobre a "indústria das doenças" e de como há uma enorme demanda para o consumo de comportamento antissociais e repugnantes, que é alimentando pelo próprio capitalismo pois, se há gente para consumir, logo há gente que pode lucrar com tais comportamentos. Um bom questionamento ético e moral sobre até qual ponto podemos ir em busca pelo dinheiro e uma grande problematização sobre a indústria pornográfica em si. Acho que fora dessa órbita o filme não tem mais nada de interessante e as cenas não assustam e nem convencem. Ainda não sei se o filme é de terror ou de qualquer outro gênero porque o mesmo é muito confuso.
Para os que se assustaram vendo as fictícias cenas, sugiro que olhem ao redor do mundo e verão que os comportamentos mostrados na película são mais comuns do que possamos imaginar. Pior do que a prática é consumir coisas tão baixas e sujas.
O Estado moderno é uma máquina de matar. O "roteiro" da violência estatal é quase sempre igual no mundo inteiro. Achamos que guerras religiosas só acontecem em países do Oriente Médio e da África, mas a história da Irlanda vem sendo marcada por essa disputa entre católicos x protestantes há mais de 300 anos e o governo britânico tem mantido uma postura criminosa desde então.
Filme muito cru e real mostrando um outro lado da França que não vemos nos grandes veículos de comunicação. Um filme mostrando uma periferia francesa violenta, multicultural e heterogênea numa França racista e xenófoba, que lembra muito o atual momento social da França, apesar do filme ter sido produzido em 1995.
Hoje em dia a sociedade francesa (mas também Europa de uma forma geral) passa por uma crise de valores pois a imigração aumentou bastante nos últimos 20 anos e os franceses já não se "enxergam" como "únicos" franceses (culturalmente falando) e sentem-se ameaçados pelos imigrantes do Norte da África, das ex-colônias de outras regiões da África e do mundo islâmico em geral. Nesse sentido, o atentado de Charlie Hebdo pode ser entendido como o efeito de uma situação social complicada que se arrasta desde o século XX, já que os franceses nunca viram a imigração e os imigrantes com bons olhos. Tal situação é agravada pela crise econômica capitalista e permite que um partido fascista como a Frente Nacional seja uma alternativa viável para a sociedade francesa.
Seria interessante a sociedade francesa voltar a discutir o assunto da imigração e dos imigrantes tendo "La Haine" como norte, porque o filme evidencia a segregação cultural dos franceses descendentes de estrangeiros, a falência do multiculturalismo e uma política estatal repressiva e discriminatória sobre tais assuntos.
É um dos meus filmes favoritos. É um prazer tecer comentários sobre o mesmo. O que eu destacaria de mais importante na produção:
- O filme mostra a falência do sistema educacional contemporâneo, onde os professores têm total controle sobre os alunos, que perdem sua livre capacidade de pensar e racionalidade;
- O perigo das ideologias sobretudo para os mais jovens. Os movimentos de massas operam com mecanismos identitários e de acolhimento, onde todos se padronizam e por isso atraem - sobretudo - jovens excluídos e solitários como o Tim, o mais seduzido pelo "movimento" pois o mesmo lhe deu algo que nunca teve: reconhecimento e certeza de pertencimento à um grupo onde ele não fosse julgado ou excluído;
- As mudanças psicológicas macabras de todos os personagens envolvidos na "onda", que mostra como os movimentos de massas e as ditaduras agem sobre a psique humana;
- O fascismo pode nascer de qualquer sociedade ou grupo social. Basta apenas que as condições permitam e o mesmo é naturalizado;
- Baixo nível de consciência permite que uma mente mais forte domine a mente mais vulnerável. Isso vale em todos os campos: relacionamentos, política e sociedade de massas. Por isso, seja consciente;
Em resumo, o filme é chocante por ter sido uma experiência real e em um ambiente escolar, mas a história do mesmo pode ser transportada para qualquer contexto social ou grupo humano, e eu considero "A Onda" um dos filmes primordiais para a compreensão do fascismo e o modus operandis dos regimes totalitários, explicados na produção de forma direta, simples e didática. Uma produção muito rica e carregada de aspectos psicológicos e sociológicos.
O filme é bom e interessante, mas inferior ao primeiro, que foi produzido em 1987. O ponto alto desta continuação é a atualização da história no contexto da crise econômica de 2008, as novas tecnologias e um mercado muito mais globalizado, que permite novos meios de ação para os chamados "tubarões" do mercado financeiro. Para quem gosta de assuntos sobre o capitalismo, mercado financeiro e crise mundial de 2008, esse filme é uma ótima pedida.
Outra excelente atuação do Michael Douglas, mas o final de seu personagem na história decepciona bastante para quem acompanhou o cínico e predatório Gordon Gekko nos dois filmes. A história paralela da trama é um dramalhão familiar muito ruim.
Filme subestimado. Uma história muito bonita, baseada em fatos reais e tendo um contexto político-histórico muito delicado do século XX como pano de fundo. Merecia uma média geral maior.
Um documentário propagandista que procura justificar e exaltar o poder do novo regime político estabelecido na Alemanha. É interessante notar como o documentário foca nas multidões hipnotizadas e histéricas que Hitler carregava em várias partes da Alemanha, o que dá um enorme caráter didático e doutrinário para a produção. Um documentário cativante para um povo que ainda carregava a humilhação e vergonha de 1914, que sofria com uma alta taxa de desemprego, inflação e desesperança social. Foi incrivelmente bem produzido e com muitas cenas externas.
Apesar de ter tido uma participação pequena, Goebbels, com seu breve discurso que diz que um povo e um regime não podem ser mantidos e conquistados apenas pelas armas mas também pelo "coração" e ideias, resume bem o espírito propagandista e os fins almejados pela obra.
Se fosse possível definir a atuação - ou omissão - da Igreja Católica, no Holocausto, como instituição política, eu definiria como criminosa. Não só da Igreja Católica, mas de boa parte das instituições, governos e empresas ocidentais. A história oficial sobre o nazismo e o Holocausto passa um pouco longe da realidade.
"No Brasil qualquer um é trambiqueiro. Todo mundo é trambiqueiro. Quem não é trambiqueiro morre de fome."
Esse filme evidencia - de forma cômica e estereotipada mas bem fiel - a hipocrisia reinante no país e a dificuldade de se manter mentalmente saudável em meio ao peculiar caos que temos aqui. O racismo, a injustiça social, o bairrismo, a pobreza, a dominação, a ignorância e o autoritarismo de nossa sociedade demonstrados em situações corriqueiras do cotidiano, que qualquer pessoa mais atenta consegue perceber ao andar pelas ruas Brasil afora. Uma crítica social extremamente afiada, mostrando as incongruências de todas as classes sociais e ideologias políticas, que se tornam mais incompreensíveis ainda em meio à selva de pedra nacional.
O mais duro é perceber que nós também fazemos parte dessa hipocrisia e desse pandemônio chamado Brasil, e, de uma forma ou de outra, alimentamos esse caos organizado.
Um dos melhores documentários sobre nazismo e Holocausto. Relata um experimento nazista durante a ocupação alemã na França, onde 86 cadáveres judeus seriam preservados para estudos anatômicos e utilizados como registro histórico da existência do povo judeu, que seria totalmente eliminado após o sucesso da "solução final".
Bom documentário mostrando a primeira guerrilha surgida no Brasil após o golpe militar de 64, inspirada nas táticas de Sierra Maestra, a guerrilha que deu início à Revolução Cubana.
"Pequena histórias e grandes personagens; pequenos personagens grandes histórias."
Bom documentário expondo de forma poética e subjetiva a história do século XX. É interessante como ele expõe o "breve século XX" (definição do historiador inglês E. Hobsbawm) em cenas descontinuadas e contraditórias, que captam bem o espírito e as contradições do século passado. Para que tem uma mínima consciência da história e do século XX, isso é muito impactante, angustiante e questionador. Sem dúvidas é um dos melhores documentários nacionais.
Os professores são humanos, possuem histórias pessoais, valores, trajetórias, questionamentos e problemas como qualquer outro ser humano. Pouca gente pensa nisso ao julgar os professores. Acho que esse é o ponto principal levantado pelo belíssimo filme, que também mostra a falência da escola e do sistema educacional contemporâneo e como a tarefa de ser educador se torna cada vez mais árdua - embora gratificante para quem a exerce com paixão! - porque a sociedade delega toda a formação humana e social dos jovens nas mãos dos professores. Poderia citar outras inúmeras questões relevantes abordadas no filme, mas para um educador como eu, essas foram as questões primordiais.
Revolução Francesa
4.2 25Contextualiza bem a situação da França pré-revolucionária e fala de todas as fases da revolução, mas peca por exaltar em demasia a violência do "terror" e por ignorar as grandes conquistas sociais oriundas da revolução (igualdade jurídica, fim da escravidão nas colônias da França, sufrágio universal, governo laico, educação laica e uma série de outras conquistas importantes...). Para o leigo sobre a Revolução Francesa, o doc pode ser meio assustador por focar muito na violência do Terror e por ignorar outros aspectos importantes. É um doc mediano e poderia ser muito melhor.
Johnny Vai à Guerra
4.3 189Ao lado de "Glória Feita de Sangue", "Johnny Vai à Guerra" é o grande manifesto antibelicista e pacifista da história do cinema.
Fascismo S/A
3.9 10E ainda há aqueles, de forma intencional ou por ignorância, que associam capitalismo à democracia. Capitalismo e neoliberalismo são sistemas que funcionam plenamente em regimes autoritários e as ditaduras sempre desempenharam um papel fundamental para se manter a ordem capitalista diante de uma conjuntura de polarização e iminência revolucionária. O livre mercado funciona plenamente com repressão, genocídios e autocracia. Interessante o doc discutir o funcionalismo do capitalismo em regimes autoritários, como o nazismo, e depois, na Grécia, durante a ditadura militar, já sob sua forma neoliberal. Mais um bom documentário independente grego para denunciar a tragédia capitalista que assola o país.
Dias de Fogo
3.6 4Um dos grandes filmes políticos de Hollywood. Contemporâneo e trata dos acontecimentos explosivos de 1968 nos EUA, e como a sociedade norte-americana encarava a Guerra do Vietnã, a luta dos negros pelos direitos civis, o feminismo e toda a contracultura hippie e libertária da década de 60; além disso o filme também levanta questões sobre o papel da mídia nos problemas sociais e propõe um grande debate ético e moral sobre a profissão e atuação dos jornalistas/imprensa. Uma pena ser um filme praticamente desconhecido no Brasil.
Numa Escola de Havana
4.2 71Uma magistral produção do cinema cubano. Traz inúmeras reflexões sobre a educação e como o contexto social influi dentro da sala de aula, na vida de alunos, professores e da escola em si. O papel de um educador vai muito além de ensinar em sala de aula e, em situações de vulnerabilidade social dos alunos, o educador tem grande responsabilidade. A história do menino Chala poderia ser transportada para a realidade de qualquer criança brasileira ou de qualquer outro país pobre do mundo, guardada as devidas diferenças socioculturais entre os países.
Gostei muito de como o filme mostrou a sociedade cubana - sem paixões ou maniqueísmo -, mostrando a estrutura autoritária do sistema educacional, onde crianças e jovens são obrigados a jurarem os “mitos” nacionais da revolução, a pobreza, o ateísmo oficial como doutrina de Estado, que contrasta com a religiosidade do povo, as perseguições políticas aos que ousam enfrentar a censura do regime e muitos outros aspectos do cotidiano de lá, que nos dão uma visão crítica sobre o regime dos Castro. Apesar de muitos grandes avanços em questões sociais, é evidente que Cuba é um regime lamentável em muitos aspectos.
Uma história muito bonita sobre a vida e a paixão em educar. Lidar com seres humanos nunca é fácil, mas boas ações podem fazer diferença. Ao assistir "Numa Escola de Havana" fui imediatamente remetido à produção francesa "Os Incompreendidos" em diversos momentos. Recomendadíssimo!
Um Sonho Intenso
4.2 14Interessante notar como o Estado foi o grande agente desenvolvedor do capitalismo brasileiro e principal motor da economia nacional.Todos os períodos de grande expansão econômica do Brasil contaram com a efetiva participação do Estado. Seja na Era Vargas, na industrialização do governo JK, no "milagre econômico" da ditadura militar ou no governo Lula, períodos de grande crescimento, o nacional-desenvolvimentismo foi o projeto econômico adotado. O documentário deixa isso bem claro e também toca em um ponto vital da sociedade brasileira: a ausência de uma sociedade civil organizada e um povo que participe das decisões políticas, isto é, um povo cidadão. O doc também desmente alguns mitos sobre a economia nacional e denuncia o roubo descarado do patrimônio público brasileiro empreendido pelos neoliberais da década de 90. Enfim, "Um Sonho Intenso" deveria ser mais divulgado para o grande público porque é o melhor documentário nacional que eu já vi e bastante rico em informações vitais para compreender a sociedade brasileira, não só focando nos aspectos econômicos mas também nos aspectos socioculturais.
Winter on Fire: Ukraine's Fight for Freedom
4.3 184 Assista AgoraTotalmente simplista e maniqueísta! Típica visão da mídia ocidental sobre o caso da Ucrânia, em que "liberdade" significa se aliar aos EUA e União Europeia e os russos aparecem como os malvadões imperialistas. O doc não se propõe a discutir as causas dos conflito, os interesses das partes envolvidas e só propaga uma mensagem contra a Rússia e tudo aquilo que não é pró-Ocidente.
Por que não foi mostrada a violência das milicias neonazistas, que chegaram a queimar vivos 30 manifestantes antifascistas - que lutavam contra os neonazistas e o imperialismo russo? Por que não foi mostrado a recomendação das organizações judaicas de toda a Europa que incentivava os judeus de Kiev e do restante da Ucrânia a imigrarem para outros países depois que os neonazistas assumiram o controle da guerra? Por que ocultaram símbolos nazistas que eram exibidos livremente nos protestos e por que esconderam os símbolos e armamentos das milícias neofascistas que deram um golpe de Estado em Kiev? Cadê os vários assassinatos cometidos pelos nazistas de Kiev e Lyiv, que eram apoiados pelos EUA?
Enfim, esse documentário tem pouco valor político-histórico e não passa de uma grande propaganda pró-Ocidente. Sou neutro em relação ao ocorrido na Ucrânia, mas sei que não há lado bonzinho e malvado como o doc demonstrou. Mesmo com essa guerra, a economia ucraniana é altamente dependente da economia russa e os dois países sofrem grave crise econômica. Ao renunciar - corretamente - ao imperialismo e influência russa, o povo ucraniano acabou aderindo ao ultranacionalismo da extrema-direita e ao neofascismo. Um doc feito para iludir os leigos sobre política internacional e não podemos esperar muito de uma produção feita por uma grande empresa norte-americana.
Umberto D.
4.4 124 Assista AgoraUm filme bastante atual. Já no começo nos deparamos com a repressão e violência estatal contra os aposentados, que reivindicavam melhores aposentadorias e condições de vida na Itália do pós-guerra, além do desenrolar da história que evidencia a desvalorização social e abandono dos idosos. Uma história de rara sensibilidade diante de um quadro social de crise.
Notícias de uma Guerra Particular
4.4 118Triste saber que, estruturalmente, a violência na cidade (mas também em todo o estado) do Rio de Janeiro pouco mudou nesses 16 anos e hoje ainda temos o agravante do crime organizado estatal, sintetizando nas milícias que dominam diversas comunidades em todo o estado. É um documentário que mostra a falência das políticas públicas de segurança e como a guerra do tráfico age sobre as pessoas que estão dos dois lados envolvidos (os bandidos, os moradores das favelas e os policiais) no conflito. Mostra a dura realidade do cotidiano das favelas cariocas, além de como a violência urbana vai muito além do que conseguimos enxergar com os olhos da mídia e das verdades estabelecidas.
1900
4.3 101 Assista AgoraUma verdadeira obra-prima! Um excelente retrato histórico da Itália nos primeiros 45 anos do século XX e que também retrata, de certa forma, o painel político do mundo ocidental após a primeira guerra e a ascensão do nazi-fascismo. Incrivelmente encantadora a narrativa da obra, e, apesar das mais de 5 horas, o filme não cansa e não consigo enxergar como contar um contexto histórico tão rico em menos tempo do que isso. Além de mostrar o contexto político da Itália, Bernardo Bertolucci também mostra as relações humanas no período (partidos, perseguição política, relacionamentos amorosos, relações de dominação e uma série de outros aspectos relevantes) e de como o contexto histórico influenciou tais relações exemplificado na amizade de Olmo e Alfredo, dois jovens de classes sociais diferentes que estão diretamente envolvidos com o contexto sócio-político italiano, dividido entre fascistas e comunistas.
Achei interessante o desenvolvimento do personagem Alfredo. Num primeiro momento ele é o típico jovem burguês alienado da realidade que o rodeia, mas que ao longo do filme torna-se o típico burguês que beneficiou a ascensão do fascismo (o fascismo italiano só cresceu por conta do apoio da burguesia industrial e agrária), mesmo que no caso dele seja de forma não intencional ou por omissão diante da ausência de consciência sobre a realidade. Creio que a consciência dele como burguês apareça apenas no fim do filme, que é bastante desolador embora extremamente real diante da luta de classes que move o mundo até os dias de hoje.
“1900” é uma obra extremamente rica, com uma fotografia fantástica, ótimas atuações e uma excelente aula de história sobre o século XX. Um trabalho magistral do cinema italiano.
Paisà
4.0 41 Assista AgoraApesar de não mostrar os 6 segmentos de forma cronológica e interligada, "Paisà" é extremamente rico e mostra como a invasão das tropas americanas e aliadas em geral no território italiano modificou a vida do cidadão comum italiano, além do panorama social de pobreza e da destruição física causada pela guerra, que contrasta com a esperança e expectativa de um povo que aguardava a libertação do país e o fim do conflito armado. 6 histórias paralelas que mostram as relações de soldados aliados e cidadãos italianos, onde as diferenças culturais (língua, valores e religião) são dissolvidas em torno de um objetivo em comum. O 2º e 5º segmentos são de uma sensibilidade indescritível e os aspectos técnicos do filme são excelentes para a época.
A Serbian Film: Terror Sem Limites
2.5 2,0KO filme não tem nada de muito interessante além das cenas de parafilias e de comportamentos antissociais. Acho que a única discussão inteligente que podemos tirar do filme é sobre a "indústria das doenças" e de como há uma enorme demanda para o consumo de comportamento antissociais e repugnantes, que é alimentando pelo próprio capitalismo pois, se há gente para consumir, logo há gente que pode lucrar com tais comportamentos. Um bom questionamento ético e moral sobre até qual ponto podemos ir em busca pelo dinheiro e uma grande problematização sobre a indústria pornográfica em si. Acho que fora dessa órbita o filme não tem mais nada de interessante e as cenas não assustam e nem convencem. Ainda não sei se o filme é de terror ou de qualquer outro gênero porque o mesmo é muito confuso.
Para os que se assustaram vendo as fictícias cenas, sugiro que olhem ao redor do mundo e verão que os comportamentos mostrados na película são mais comuns do que possamos imaginar. Pior do que a prática é consumir coisas tão baixas e sujas.
Domingo Sangrento
3.9 71O Estado moderno é uma máquina de matar. O "roteiro" da violência estatal é quase sempre igual no mundo inteiro. Achamos que guerras religiosas só acontecem em países do Oriente Médio e da África, mas a história da Irlanda vem sendo marcada por essa disputa entre católicos x protestantes há mais de 300 anos e o governo britânico tem mantido uma postura criminosa desde então.
O Ódio
4.2 316Filme muito cru e real mostrando um outro lado da França que não vemos nos grandes veículos de comunicação. Um filme mostrando uma periferia francesa violenta, multicultural e heterogênea numa França racista e xenófoba, que lembra muito o atual momento social da França, apesar do filme ter sido produzido em 1995.
Hoje em dia a sociedade francesa (mas também Europa de uma forma geral) passa por uma crise de valores pois a imigração aumentou bastante nos últimos 20 anos e os franceses já não se "enxergam" como "únicos" franceses (culturalmente falando) e sentem-se ameaçados pelos imigrantes do Norte da África, das ex-colônias de outras regiões da África e do mundo islâmico em geral. Nesse sentido, o atentado de Charlie Hebdo pode ser entendido como o efeito de uma situação social complicada que se arrasta desde o século XX, já que os franceses nunca viram a imigração e os imigrantes com bons olhos. Tal situação é agravada pela crise econômica capitalista e permite que um partido fascista como a Frente Nacional seja uma alternativa viável para a sociedade francesa.
Seria interessante a sociedade francesa voltar a discutir o assunto da imigração e dos imigrantes tendo "La Haine" como norte, porque o filme evidencia a segregação cultural dos franceses descendentes de estrangeiros, a falência do multiculturalismo e uma política estatal repressiva e discriminatória sobre tais assuntos.
A Onda
4.2 1,9KÉ um dos meus filmes favoritos. É um prazer tecer comentários sobre o mesmo. O que eu destacaria de mais importante na produção:
- O filme mostra a falência do sistema educacional contemporâneo, onde os professores têm total controle sobre os alunos, que perdem sua livre capacidade de pensar e racionalidade;
- O perigo das ideologias sobretudo para os mais jovens. Os movimentos de massas operam com mecanismos identitários e de acolhimento, onde todos se padronizam e por isso atraem - sobretudo - jovens excluídos e solitários como o Tim, o mais seduzido pelo "movimento" pois o mesmo lhe deu algo que nunca teve: reconhecimento e certeza de pertencimento à um grupo onde ele não fosse julgado ou excluído;
- As mudanças psicológicas macabras de todos os personagens envolvidos na "onda", que mostra como os movimentos de massas e as ditaduras agem sobre a psique humana;
- O fascismo pode nascer de qualquer sociedade ou grupo social. Basta apenas que as condições permitam e o mesmo é naturalizado;
- Baixo nível de consciência permite que uma mente mais forte domine a mente mais vulnerável. Isso vale em todos os campos: relacionamentos, política e sociedade de massas. Por isso, seja consciente;
Em resumo, o filme é chocante por ter sido uma experiência real e em um ambiente escolar, mas a história do mesmo pode ser transportada para qualquer contexto social ou grupo humano, e eu considero "A Onda" um dos filmes primordiais para a compreensão do fascismo e o modus operandis dos regimes totalitários, explicados na produção de forma direta, simples e didática. Uma produção muito rica e carregada de aspectos psicológicos e sociológicos.
Wall Street: O Dinheiro Nunca Dorme
3.3 404 Assista AgoraO filme é bom e interessante, mas inferior ao primeiro, que foi produzido em 1987. O ponto alto desta continuação é a atualização da história no contexto da crise econômica de 2008, as novas tecnologias e um mercado muito mais globalizado, que permite novos meios de ação para os chamados "tubarões" do mercado financeiro. Para quem gosta de assuntos sobre o capitalismo, mercado financeiro e crise mundial de 2008, esse filme é uma ótima pedida.
Outra excelente atuação do Michael Douglas, mas o final de seu personagem na história decepciona bastante para quem acompanhou o cínico e predatório Gordon Gekko nos dois filmes. A história paralela da trama é um dramalhão familiar muito ruim.
Sete Anos no Tibet
3.8 397 Assista AgoraFilme subestimado. Uma história muito bonita, baseada em fatos reais e tendo um contexto político-histórico muito delicado do século XX como pano de fundo. Merecia uma média geral maior.
O Triunfo da Vontade
3.8 95 Assista AgoraUm documentário propagandista que procura justificar e exaltar o poder do novo regime político estabelecido na Alemanha. É interessante notar como o documentário foca nas multidões hipnotizadas e histéricas que Hitler carregava em várias partes da Alemanha, o que dá um enorme caráter didático e doutrinário para a produção. Um documentário cativante para um povo que ainda carregava a humilhação e vergonha de 1914, que sofria com uma alta taxa de desemprego, inflação e desesperança social. Foi incrivelmente bem produzido e com muitas cenas externas.
Apesar de ter tido uma participação pequena, Goebbels, com seu breve discurso que diz que um povo e um regime não podem ser mantidos e conquistados apenas pelas armas mas também pelo "coração" e ideias, resume bem o espírito propagandista e os fins almejados pela obra.
Amém
4.0 95 Assista AgoraSe fosse possível definir a atuação - ou omissão - da Igreja Católica, no Holocausto, como instituição política, eu definiria como criminosa. Não só da Igreja Católica, mas de boa parte das instituições, governos e empresas ocidentais. A história oficial sobre o nazismo e o Holocausto passa um pouco longe da realidade.
Cronicamente Inviável
4.0 140"No Brasil qualquer um é trambiqueiro. Todo mundo é trambiqueiro. Quem não é trambiqueiro morre de fome."
Esse filme evidencia - de forma cômica e estereotipada mas bem fiel - a hipocrisia reinante no país e a dificuldade de se manter mentalmente saudável em meio ao peculiar caos que temos aqui. O racismo, a injustiça social, o bairrismo, a pobreza, a dominação, a ignorância e o autoritarismo de nossa sociedade demonstrados em situações corriqueiras do cotidiano, que qualquer pessoa mais atenta consegue perceber ao andar pelas ruas Brasil afora. Uma crítica social extremamente afiada, mostrando as incongruências de todas as classes sociais e ideologias políticas, que se tornam mais incompreensíveis ainda em meio à selva de pedra nacional.
O mais duro é perceber que nós também fazemos parte dessa hipocrisia e desse pandemônio chamado Brasil, e, de uma forma ou de outra, alimentamos esse caos organizado.
Em Nome da Raça e da Ciência
4.2 1Um dos melhores documentários sobre nazismo e Holocausto. Relata um experimento nazista durante a ocupação alemã na França, onde 86 cadáveres judeus seriam preservados para estudos anatômicos e utilizados como registro histórico da existência do povo judeu, que seria totalmente eliminado após o sucesso da "solução final".
Caparaó
3.5 2Bom documentário mostrando a primeira guerrilha surgida no Brasil após o golpe militar de 64, inspirada nas táticas de Sierra Maestra, a guerrilha que deu início à Revolução Cubana.
Nós que Aqui Estamos Por Vós Esperamos
4.3 416"Pequena histórias e grandes personagens; pequenos personagens grandes histórias."
Bom documentário expondo de forma poética e subjetiva a história do século XX. É interessante como ele expõe o "breve século XX" (definição do historiador inglês E. Hobsbawm) em cenas descontinuadas e contraditórias, que captam bem o espírito e as contradições do século passado. Para que tem uma mínima consciência da história e do século XX, isso é muito impactante, angustiante e questionador. Sem dúvidas é um dos melhores documentários nacionais.
O Substituto
4.4 1,7K Assista AgoraOs professores são humanos, possuem histórias pessoais, valores, trajetórias, questionamentos e problemas como qualquer outro ser humano. Pouca gente pensa nisso ao julgar os professores. Acho que esse é o ponto principal levantado pelo belíssimo filme, que também mostra a falência da escola e do sistema educacional contemporâneo e como a tarefa de ser educador se torna cada vez mais árdua - embora gratificante para quem a exerce com paixão! - porque a sociedade delega toda a formação humana e social dos jovens nas mãos dos professores. Poderia citar outras inúmeras questões relevantes abordadas no filme, mas para um educador como eu, essas foram as questões primordiais.
Um belo ensaio sobre a vida.