O cinema do Andrzej Zulawski é intenso e caótico por natureza. Inicialmente causa uma estranheza, mas quando você se acostuma passa a ser uma característica bem natural do diretor. O problema aqui é que a histeria coletiva que permeia a obra passa do ponto e o filme como um todo não soa nada natural. Chega a irritar. A cada linha de diálogo parece que o(a) respectivo(a) ator/atriz terá um infarto. Fora o fato de que a trama é muito confusa e não se preocupa em desenvolver os personagens. Eles agem que nem loucos, cometendo inúmeras atrocidades e você nem sabe o porquê. Eu até agora não entendi aonde o filme quis chegar. O que eu vi foi uma sucessão de cenas chocantes e apelativas sem muito contexto. Falta um propósito, um norte. Eu admiro o diretor e filmes como A Terça Parte da Noite e O Globo de Prata são verdadeiras obras-primas, mas o que eu senti aqui foi que eu apenas perdi meu tempo.
A Canção da Estrada é o meu primeiro contato com o cinema do Satyajit Ray e a impressão não poderia ter sido melhor. É um drama familiar humanista poderoso em que o cenário repleto de precariedade serve como pano de fundo para o desenvolvimento das relações humanas. Temas como paternidade/maternidade, infância e velhice são desenvolvidos de forma sublime. E apesar de todas as dificuldades, o cenário decadente passa uma certa melancolia e é ilustrado de maneira muito bela, sensível e poética. Não sei explicar, mas em certos aspectos eu o achei parecido com Como Era Verde o Meu Vale, obra-prima de John Ford. Tecnicamente é um filme perfeito. Uma obra-prima. Pretendo ver outros filmes do diretor e do cinema indiano em geral.
O Homem Errado é um filme fantástico do mestre Alfred Hitchcock. É uma obra crua e realista sobre as consequências de uma falsa acusação na vida de um homem. Henry Fonda está espetacular, como de costume. Ele interpreta um homem pacato, repleto de passividade, que exala confusão e insegurança o tempo todo. Por ser um filme muito imersivo, você sente toda a impotência do protagonista perante a situação. O suspense é muitíssimo bem construído e é difícil adivinhar qual rumo a trama irá tomar. E para finalizar, a trilha sonora do Bernard Herrmann é perfeita, como sempre. O Homem Errado não é tão comentado, mas é o Hitchcock em sua melhor forma.
Rapaz, eu nunca fiquei tão indeciso sobre o que eu senti ao assistir um filme. Eu adorei e odiei na mesma medida e ao mesmo tempo. O Império dos Sentidos com certeza tem uma qualidade artística muito ampla e refinada, mas ao mesmo tempo eu senti que a obra passa um pouco dos limites e se torna gratuita e sensacionalista em muitos momentos. Na minha opinião foi desnecessário colocar cenas reais de sexo. E convenhamos: Tem muita cena ali do mais puro mau gosto. A trama, por incrível que pareça, é muito interessante. Aborda temas como carência afetiva, ciúme, obsessão, perversões sexuais, fetiches, etc. Mostra que o amor em si nem sempre é belo ou saudável e pode trazer consequências bem graves. Algo que posteriormente foi abordado em filmes como o também polêmico Último Tango em Paris, por exemplo. Não posso reclamar... Em termos de enredo há bastante complexidade. Os personagens principais são bem desenvolvidos e os atores se portam muitíssimo bem. Só que em diversos momentos eu me senti vendo um pornô com grife. Vou deixar sem nota. Porém eu considero uma experiência muito válida pois os filmes do Nagisa Oshima sempre são 100% corajosos e autorais.
Furyo - Em Nome da Honra é um filme fantástico. É um drama que ilustra maravilhosamente bem o estranhamento causado pelo choque cultural entre britânicos e japoneses e mostra como a guerra pode trazer consequências psicológicas e físicas bem trágicas para todos os envolvidos. É um filme muito intenso, diria até que é um dos mais intensos que já tive o prazer de assistir, e também conta com atuações muito vigorosas. Dá para notar que todo o elenco se esforçou 100%. É muito interessante ver o David Bowie atuando, maravilhosamente bem, diga-se de passagem. Eu também destaco uma participação excelente do grande ator/diretor Takeshi Kitano. Em certos aspectos me lembra A Ponte do Rio Kwai do David Lean, mas como o Nagisa Oshima é um diretor provocador e ousado por natureza, o filme conta com uns temas mais delicados/espinhosos, mas inseridos (acertadamente) de forma sutil. A trilha sonora é inesquecível e dá o tom certo em todos os momentos. Enfim, é um dos melhores filmes que vi recentemente. Vale muito a pena.
É sempre muito interessante ver diretores fugindo da zona de conforto e realizando projetos inusitados. O John Carpenter, que é mais conhecido por ser um diretor focado no terror e na ficção científica, realiza uma cinebiografia de primeira sobre esta figura tão importante para o mundo da música que é o Elvis Presley. O filme realmente é bem intimista e foca muito no lado psicológico do Elvis. Suas ambições, seus traumas, suas frustrações, etc. O relacionamento dele com a família é muito bem desenvolvido. O lado musical também é muito bem explorado mostrando os bastidores da indústria fonográfica na época e como o Elvis superou percalços e alcançou o estrelato. A forma como as músicas são encaixadas funcionou muito bem. Vale ressaltar que o Kurt Russell está incrível. Com certeza é uma das ou talvez até a melhor atuação de sua carreira. Enfim, é um filme muito interessante que pode passar batido por fãs do diretor que estão mais acostumados com filmes como Halloween, O Enigma de Outro Mundo e Christine.
O Homem que Ri é um drama extremamente tocante e repleto de personagens marcantes tanto para o lado do bem quanto para o lado do mal. Tecnicamente é impecável e possui muitas características do expressionismo alemão. As atuações do Conrad Veidt e da Mary Philbin são um espetáculo a parte. Não considero necessariamente terror, apesar da face do personagem Gwynplaine ser horripilante e o filme em si ter cenas bem macabras e um tom sombrio. Eu diria que é um drama/romance. Em certos aspectos me lembra O Corcunda de Notre Dame por ter um protagonista considerado uma aberração e ridicularizado por muitos, mas que no fundo tem um coração de ouro. Aproveitem que esta obra-prima está disponível no canal Cine Antiqua no YouTube.
O Exército das Sombras é mais uma obra-prima do grande Jean-Pierre Melville. O apuro técnico é embasbacante e o filme é praticamente impecável em todos os quesitos, como direção, fotografia, atuações e trilha sonora. É um filme que retrata uma realidade extremamente difícil em que os personagens sempre se deparam com dilemas. A lealdade, a persistência, a coragem são realçados, mas também o medo, a frieza e a insegurança são retratados de forma bem realista. É um filme que enaltece a coragem daquelas pessoas, mas ao mesmo tempo não romantiza em nada e humaniza muito cada personagem. O Exército das Sombras possui toda a maestria sutil do Melville em inúmeras cenas que certamente ficarão em sua memória e com certeza vale muito a pena ser visto.
Alguém Me Vigia é um suspense de qualidade, mas que tem pouco de John Carpenter. Me pareceu muito mais um típico suspense do De Palma referenciando/homenageando o cinema de Hitchcock. A trama não traz nada de muito inovador, mas é bem conduzida e o filme em si possui uma boa atmosfera. Eu gostei, é um bom filme.
Dark Star é o longa-metragem de estreia do John Carpenter e se trata de um filme bem interessante. A falta de recursos é nítida, mas eu posso dizer o mesmo sobre a criatividade exercida pelo diretor. Dark Star a princípio é uma sátira de 2001, mas não se resume apenas a isso. É um filme de ficção científica, mas também tem elementos de comédia, drama existencialista e suspense. Eu gosto como a atmosfera do filme muda constantemente. Em determinado momento estamos vendo uma "comédia de erros" no espaço, mas em outro momento a obra adquire um tom mais sombrio, melancólico e contemplativo. Como eu disse anteriormente, a produção é bem precária, porém os efeitos especiais não são ruins. Realmente dá para perceber que todos se empenharam muito em realizar o filme. Enfim, pela qualidade, pelo empenho e pela criatividade Dark Star merece 4 estrelas.
King Kong é uma obra-prima. Possui uma importância e uma influência imensuráveis. A trama é simples, mas muito bem executada. Tem uma crítica muito interessante sobre ambição e a interferência do homem na natureza. O elenco é muito bom e os personagens até que são bem desenvolvidos, considerando que o filme não tem uma longa duração. Os efeitos especiais são muito bem feitos. É nítido que King Kong foi uma super produção em sua época. Além dos excelentes efeitos especiais também temos sets de filmagens gigantes e muitos figurantes. E devo dizer que as cenas de ação são muito mais intensas e brutais do que eu esperava. Certas partes até me chocaram. Imagino como deve ter sido a reação do público no cinema no longínquo ano de 1933. King Kong é um filme bem direto ao ponto, sem enrolações e que cumpre perfeitamente o seu papel. Um dos grandes clássicos imortais do cinema, sem dúvidas.
É quase um repeteco do primeiro, mas bem menos inspirado. Algumas piadas funcionam muito bem e me fizeram rir muito e outras são bem dispensáveis. Por mais que seja um filme de comédia nonsense, o enredo não tem nem pé e nem cabeça. No primeiro havia uma trama mais consistente por mais absurda que fosse. Dou 3 estrelas pelos atores que reprisaram os seus papéis e pela participação especial do William Shatner.
Dog Soldiers é um ótimo filme. Um dos melhores sobre lobisomens que já assisti. É tenso do começo ao final, conta com bastante ação e sanguinolência, os lobisomens são brutais, muito bem feitos e tudo mais, mas o grande diferencial aqui é a forma como os soldados são desenvolvidos. Eles possuem uma relação de irmandade e sempre lutam uns pelos outros. Adorei esse senso de companheirismo e lealdade. E o filme consegue balancear bem o drama com umas pitadas de comédia e no final o resultado é bem divertido. Notei ótimas influências de filmes como A Noite dos Mortos-Vivos, Evil Dead e Predador. É um grande filme. Aproveitem que está disponível no YouTube.
Bom, é o primeiro filme do Michelangelo Antonioni que assisto e me decepcionei bastante. Respeito quem gostou do filme, mas para mim não funcionou. É totalmente vazio, com personagens insossos e tem uma das narrativas mais desinteressantes que eu já vi. A primeira metade até que é mais aceitável e tem um ar misterioso e belas paisagens, mas como um todo o filme infelizmente não funcionou comigo. Alguém tem alguma indicação de um filme do diretor que eu deva assistir em seguida para ver se vale a pena conferir a sua filmografia?
Correspondente Estrangeiro é um ótimo filme do mestre Hitchcock. É uma obra que representa muito bem as características do diretor tanto em termos de roteiro quanto em termos de técnicas de filmagem. Como em muitos outros filmes do Hitchcock, nós temos um "homem comum" que se envolve sem querer em uma trama complexa de espiões repleta de conspirações e reviravoltas. A narrativa é muito envolvente e o suspense é muito bem construído. A tensão é pulsante tanto em momentos mais sutis quanto em cenas de ação frenéticas e extremamente bem executadas. De ponto negativo eu posso dizer que senti que o romance entre o casal principal é muito repentino e até certo ponto artificial e os vilões poderiam ter sido melhor desenvolvidos, mas no geral o resultado é bem satisfatório. Vale muito a pena.
Godzilla é uma obra-prima. Trata-se de uma obra extremamente importante e influente que aborda muitos temas que são universais e relevantes até os dias de hoje. Podermos notar temas como o trauma que a bomba atômica causou no povo japonês, o medo das armas nucleares e de todo aquele clima sufocante da Guerra Fria e também é um filme que fala muito sobre a ação negativa do ser humano sobre o meio ambiente. Todos os gêneros presentes no filme como drama, suspense, ação, ficção científica e até terror são executados de forma primorosa. O diferencial de Godzilla para outros filmes de monstros é que por mais que a criatura realmente seja imponente e poderosa e os efeitos especiais sejam muito bem feitos, a devastação aqui não é tratada como um mero "espetáculo" e gera consequências muito trágicas e dolorosas para todas as vítimas. As pessoas ficam traumatizadas, sem seus lares e muitas vezes sem muitos dos seus entes queridos. Essa carga dramática faz muita diferença no resultado final. É um filme extremamente bem dirigido, com uma trama coesa, inteligente e repleta de críticas sociais, uma linda fotografia, uma trilha sonora inesquecível, ótimas atuações e que cumpre muito bem o seu papel. Pode assistir que não vai se arrepender. Disponível no NetMovies.
O Leopardo é um dos filmes mais perfeccionistas de todos os tempos. O nível artístico aqui é do patamar mais alto possível. A trama é bem cerebral e complexa e na minha opinião exige um certo conhecimento prévio do contexto histórico retratado na obra, então como eu não tenho esse conhecimento não posso afirmar que o compreendi totalmente, mas eu acredito que eu entendi quais são os pontos mais importantes. Em sua essência, eu diria que é sobre se sentir deslocado e impotente perante a mudança dos tempos. Ali a Itália é retratada como uma nação extremamente diversificada e dividida que aos poucos se tornará uma coisa só. O que eu senti é que por mais que o protagonista queira manter tudo como está, a chegada dos novos tempos é implacável e ele não tem o poder necessário para impedir essa tal mudança. Por mais prestígio e status que ele possui e que sempre possuiu, ele apenas cumpre um papel de um observador da chegada dos novos tempos tentando sobreviver. Outro aspecto interessante é o teor político, mostrando que em um contexto geral nesse universo da política há todo um jogo de poder e que os ideais se perdem e dão lugar aos interesses pessoais e a necessidade de sobrevivência de classes de pessoas que estão acostumadas a um estilo de vida e que se sentem ameaçadas. O Leopardo é um filme impecável tecnicamente. A direção do Luchino Visconti é primorosa, com um dos trabalhos de reconstituição de época mais impressionantes que eu já vi, repleta de elegância e sutileza do primeiro ao último segundo, conta com um elenco de primeira com nomes de peso como Burt Lancaster, Alain Delon e Claudia Cardinale, tem uma fotografia que está entre as mais exuberantes da história do cinema e a trilha sonora do Nino Rota é perfeita. Entendo quem classifique esse filme como "enfadonho" (já que é bem introspectivo e com apenas alguns momentos de clímax) ou se assuste com as 3 horas de duração, mas sinceramente eu nem senti o tempo passar. Uma palavra que resume O Leopardo para mim é "encantamento". Foi o que eu senti. Disponível no NetMovies.
Meu Nome é Ninguém é um ótimo faroeste. Apesar de ter uma certa profundidade e em partes um tom mais reflexivo, eu diria que é um filme leve e bem divertido. Soa como uma espécie de sátira e ao mesmo tempo uma homenagem ao gênero de faroeste. Adorei as várias referências ao mestre Sam Peckinpah. Tecnicamente é muito bem feito, com ótimas cenas de ação, uma reconstituição de época impecável e uma belíssima fotografia. Os personagens principais são bem carismáticos. Henry Fonda e Terence Hill interpretam personagens totalmente diferentes, mas que se complementam muito bem. Eu gosto muito do tom cômico do filme, apesar de concordar que algumas piadas não são tão engraçadas, mas como um todo eu creio que o humor funciona muito bem. A trilha sonora do mestre Ennio Morricone é primorosa como sempre. Vale muito a pena uma conferida. Disponível no aplicativo NetMovies.
A Fonte da Donzela é um filme que a princípio parece simples, mas que aborda muitos temas de maneira sutil, e ao mesmo tempo contundente, como fé, revolta, justiça, vingança e moralidade. Há todo um clima sufocante de tensão durante todo o filme que causa uma sensação muito forte de mal-estar. Você sente que algo de muito ruim irá acontecer a qualquer momento. Além de todo o primor técnico em termos de direção, edição, fotografia, trilha sonora e atuações, é incrível o domínio que o Ingmar Bergman tem sobre a estrutura narrativa. É impressionante como ele consegue expressar tanto em um filme relativamente curto. Todos os personagens são muito bem aproveitados e cumprem as suas funções de maneira impecável. A mise-en-scène aqui é absurda. A ambientação é totalmente imersiva e você consegue sentir totalmente as intenções e os sentimentos dos personagens apenas pelas suas expressões faciais. Enfim, na minha opinião é uma obra-prima. Virou um dos meus favoritos. Preciso me aprofundar na filmografia do Ingmar Bergmar. Para quem se interessar o filme está disponível no aplicativo NetMovies.
O Barba Ruiva, ao lado de Um Domingo Maravilhoso, Viver, Dersu Uzala e Sonhos, é o filme mais sensível e humano do mestre Akira Kurosawa. Confesso que o ritmo é realmente cansativo. Porém é um caso em que a paciência é plenamente recompensada, pois se trata de uma obra-prima. Sim, mais uma! Kurosawa, na minha opinião, tem 11 obras-primas e vários outros excelentes filmes. É uma filmografia avassaladora. Bom, a estrutura do filme é muito interessante. São dois médicos de personalidades muito diferentes e até certo ponto conflitantes: Um é experiente e extremamente rígido, porém bondoso em sua essência, e o outro é um novato com ideais bem questionáveis. Com o decorrer do tempo, vários casos delicados (tanto do ponto de vista físico quanto psicológico) aparecem no hospital e os médicos evoluem aos poucos e mostram a sua verdadeira natureza. Cada caso é único, tocante e inesquecível. São várias pessoas com problemas diversos, mas que sempre são retratadas de uma forma muito verdadeira. A dor, o sofrimento e a miséria dos pacientes afloram o lado bondoso dos médicos. É muito bonito. Tecnicamente é impecável e minucioso como toda a filmografia de Kurosawa contando com direção, edição, montagem, fotografia, trilha sonora e atuações espetaculares. Se não me engano foi o último filme a contar com a lendária parceria entre Kurosawa e Mifune, mas posso dizer que se encerrou com chave de ouro. Vale totalmente a pena.
The Bird People In China, artisticamente falando, talvez seja o melhor filme do Takashi Miike que eu vi até agora. É impressionante a versatilidade do diretor. É incrível que o mesmo diretor de bizarrices maravilhosas repletas de violência, escatologia e perversão como Ichi the Killer, Visitor Q e Gozu consiga dirigir um filme tão belo, sensível e sutil. O tom aqui é mais contemplativo e filosófico, com um foco maior no existencialismo, porém sem deixar de ter a identidade do Miike como artista. A jornada dos personagens é muito interessante e prazerosa de acompanhar. Apesar de apostar mais no drama, também há momentos de comédia que deixam o filme bem leve em diversas situações. Os protagonistas Wada, Ujiie e Shen possuem personalidades totalmente distintas, mas se complementam muito bem. Durante a jornada existe todo um clima de "homem versus natureza" (nesse aspecto eu senti uma influência de filmes do Werner Herzog como Aguirre e Fitzcarraldo), mas o filme também traz a discussão sobre a pureza e inocência daquele lugar e daquelas pessoas longe da civilização. Eles foram atrás de riquezas materiais, mas se encantaram com o local e acabaram encontrando um conforto espiritual, um sentido de vida. A direção aqui é muito precisa e elegante, a narrativa é muito bem trabalhada e a fotografia é sublime. Eu terminei o filme com a sensação de que todos os personagens cumpriram as suas funções. Isso demonstra a qualidade do Miike como diretor. Ele é, na minha opinião, um dos melhores de todos os tempos. Para quem quiser ver um lado mais sério e complexo do Miike em filmes não tão comentados eu também recomendo Blues Harp, Izo e Sun Scarred.
A Fortaleza Escondida é um ótimo filme, mas com algumas falhas que o impedem de ser uma obra-prima. Antes de qualquer coisa devo dizer que ver um filme do Akira Kurosawa é sempre uma experiência fantástica. Ele é inegavelmente um mestre e um dos maiores cineastas que o mundo já viu. Então eu posso dizer que a A Fortaleza Escondida possui a mesma técnica magistral característica do diretor. O domínio que o Kurosawa tem sobre todos os elementos em cena beira ao inacreditável. A direção é fantástica, a reconstituição de época é perfeita, as cenas de ação são extremamente bem coreografadas, a edição é inteligente, a fotografia é deslumbrante e o elenco é excelente. Só que o filme não carrega a mesma complexidade e profundidade de obras-primas do diretor como Rashomon, Viver, Os Sete Samurais, Trono Manchado de Sangue, Homem Mau Dorme Bem, Céu e Inferno, Dersu Uzala, Kagemusha, Ran e Sonhos. Eu entendi que a proposta aqui é fazer um filme mais simples, divertido e focado na aventura e na comédia, e em termos ele é bem-sucedido, mas eu senti que os personagens foram desenvolvidos de maneira muito superficial. A aventura e a ação seriam melhores se o personagem do Toshiro Mifune (Rokurota Makabe) fosse melhor aproveitado e a parte cômica funcionaria melhor se os dois camponeses atrapalhados (Matakishi e Tahei) tivessem o destaque merecido. Eles são de longe os personagens mais carismáticos e que mais esbanjam naturalidade e humanidade na obra. Dito isso, eu detestei a princesa. A atriz teve um bom desempenho, mas a personagem é irritante, mimada e arrogante. Não percebe e nem valoriza o sacrifício que todos estão fazendo por ela (incluindo os dois atrapalhados que são tratados como lixo por todos, principalmente pela tal "majestade") e mais atrapalha do que ajuda. Sem essa personagem e com mais tempo para o trio Rokurota, Matakishi e Tahei brilhar, esse filme teria sido uma obra-prima. Bom, pode não ser um dos meus favoritos, mas mesmo assim valeu cada segundo. O ritmo, na minha opinião, é muito bom e o filme sem dúvida tem cenas inesquecíveis. Com certeza vale a pena ver TODA a filmografia do Kurosawa, sem exceções.
É o ápice da loucura no cinema. Gozu é um filme lento, e até certo ponto monótono em algumas partes, mas ao mesmo tempo é intrigante e envolvente. Possui uma atmosfera única, estranha e inquietante e cenas totalmente pitorescas. É difícil classificar esse filme já que tem tantos elementos diferentes inserindo o universo criminoso da Yakuza (a máfia japonesa) dentro de um cenário repleto de drama, comédia, suspense, terror, fantasia e surrealismo em uma jornada com muitos personagens bizarros e enigmáticos. Com certeza é uma obra única e que só poderia sair da mente do Takashi Miike. É uma experiência de difícil assimilação (é necessário um conhecimento profundo sobre temas como Yakuza e folclore japonês), mas muito recompensadora. Te garanto que você nunca assistiu algo assim antes e quando falamos sobre cinema é sempre saudável abrir os seus horizontes. Muito provavelmente tem o final mais bizarro da história do cinema. Só vendo para crer.
O Diabo
3.7 28O cinema do Andrzej Zulawski é intenso e caótico por natureza. Inicialmente causa uma estranheza, mas quando você se acostuma passa a ser uma característica bem natural do diretor. O problema aqui é que a histeria coletiva que permeia a obra passa do ponto e o filme como um todo não soa nada natural. Chega a irritar. A cada linha de diálogo parece que o(a) respectivo(a) ator/atriz terá um infarto. Fora o fato de que a trama é muito confusa e não se preocupa em desenvolver os personagens. Eles agem que nem loucos, cometendo inúmeras atrocidades e você nem sabe o porquê. Eu até agora não entendi aonde o filme quis chegar. O que eu vi foi uma sucessão de cenas chocantes e apelativas sem muito contexto. Falta um propósito, um norte. Eu admiro o diretor e filmes como A Terça Parte da Noite e O Globo de Prata são verdadeiras obras-primas, mas o que eu senti aqui foi que eu apenas perdi meu tempo.
A Canção da Estrada
4.4 71 Assista AgoraA Canção da Estrada é o meu primeiro contato com o cinema do Satyajit Ray e a impressão não poderia ter sido melhor. É um drama familiar humanista poderoso em que o cenário repleto de precariedade serve como pano de fundo para o desenvolvimento das relações humanas. Temas como paternidade/maternidade, infância e velhice são desenvolvidos de forma sublime. E apesar de todas as dificuldades, o cenário decadente passa uma certa melancolia e é ilustrado de maneira muito bela, sensível e poética. Não sei explicar, mas em certos aspectos eu o achei parecido com Como Era Verde o Meu Vale, obra-prima de John Ford. Tecnicamente é um filme perfeito. Uma obra-prima. Pretendo ver outros filmes do diretor e do cinema indiano em geral.
O Homem Errado
3.9 97 Assista AgoraO Homem Errado é um filme fantástico do mestre Alfred Hitchcock. É uma obra crua e realista sobre as consequências de uma falsa acusação na vida de um homem. Henry Fonda está espetacular, como de costume. Ele interpreta um homem pacato, repleto de passividade, que exala confusão e insegurança o tempo todo. Por ser um filme muito imersivo, você sente toda a impotência do protagonista perante a situação. O suspense é muitíssimo bem construído e é difícil adivinhar qual rumo a trama irá tomar. E para finalizar, a trilha sonora do Bernard Herrmann é perfeita, como sempre. O Homem Errado não é tão comentado, mas é o Hitchcock em sua melhor forma.
O Império dos Sentidos
3.3 307 Assista AgoraRapaz, eu nunca fiquei tão indeciso sobre o que eu senti ao assistir um filme. Eu adorei e odiei na mesma medida e ao mesmo tempo. O Império dos Sentidos com certeza tem uma qualidade artística muito ampla e refinada, mas ao mesmo tempo eu senti que a obra passa um pouco dos limites e se torna gratuita e sensacionalista em muitos momentos. Na minha opinião foi desnecessário colocar cenas reais de sexo. E convenhamos: Tem muita cena ali do mais puro mau gosto. A trama, por incrível que pareça, é muito interessante. Aborda temas como carência afetiva, ciúme, obsessão, perversões sexuais, fetiches, etc. Mostra que o amor em si nem sempre é belo ou saudável e pode trazer consequências bem graves. Algo que posteriormente foi abordado em filmes como o também polêmico Último Tango em Paris, por exemplo. Não posso reclamar... Em termos de enredo há bastante complexidade. Os personagens principais são bem desenvolvidos e os atores se portam muitíssimo bem. Só que em diversos momentos eu me senti vendo um pornô com grife. Vou deixar sem nota. Porém eu considero uma experiência muito válida pois os filmes do Nagisa Oshima sempre são 100% corajosos e autorais.
Furyo - Em Nome da Honra
3.7 66 Assista AgoraFuryo - Em Nome da Honra é um filme fantástico. É um drama que ilustra maravilhosamente bem o estranhamento causado pelo choque cultural entre britânicos e japoneses e mostra como a guerra pode trazer consequências psicológicas e físicas bem trágicas para todos os envolvidos. É um filme muito intenso, diria até que é um dos mais intensos que já tive o prazer de assistir, e também conta com atuações muito vigorosas. Dá para notar que todo o elenco se esforçou 100%. É muito interessante ver o David Bowie atuando, maravilhosamente bem, diga-se de passagem. Eu também destaco uma participação excelente do grande ator/diretor Takeshi Kitano. Em certos aspectos me lembra A Ponte do Rio Kwai do David Lean, mas como o Nagisa Oshima é um diretor provocador e ousado por natureza, o filme conta com uns temas mais delicados/espinhosos, mas inseridos (acertadamente) de forma sutil. A trilha sonora é inesquecível e dá o tom certo em todos os momentos. Enfim, é um dos melhores filmes que vi recentemente. Vale muito a pena.
Elvis Não Morreu
3.5 35É sempre muito interessante ver diretores fugindo da zona de conforto e realizando projetos inusitados. O John Carpenter, que é mais conhecido por ser um diretor focado no terror e na ficção científica, realiza uma cinebiografia de primeira sobre esta figura tão importante para o mundo da música que é o Elvis Presley. O filme realmente é bem intimista e foca muito no lado psicológico do Elvis. Suas ambições, seus traumas, suas frustrações, etc. O relacionamento dele com a família é muito bem desenvolvido. O lado musical também é muito bem explorado mostrando os bastidores da indústria fonográfica na época e como o Elvis superou percalços e alcançou o estrelato. A forma como as músicas são encaixadas funcionou muito bem. Vale ressaltar que o Kurt Russell está incrível. Com certeza é uma das ou talvez até a melhor atuação de sua carreira. Enfim, é um filme muito interessante que pode passar batido por fãs do diretor que estão mais acostumados com filmes como Halloween, O Enigma de Outro Mundo e Christine.
O Homem que Ri
4.3 154O Homem que Ri é um drama extremamente tocante e repleto de personagens marcantes tanto para o lado do bem quanto para o lado do mal. Tecnicamente é impecável e possui muitas características do expressionismo alemão. As atuações do Conrad Veidt e da Mary Philbin são um espetáculo a parte. Não considero necessariamente terror, apesar da face do personagem Gwynplaine ser horripilante e o filme em si ter cenas bem macabras e um tom sombrio. Eu diria que é um drama/romance. Em certos aspectos me lembra O Corcunda de Notre Dame por ter um protagonista considerado uma aberração e ridicularizado por muitos, mas que no fundo tem um coração de ouro. Aproveitem que esta obra-prima está disponível no canal Cine Antiqua no YouTube.
O Exército das Sombras
4.2 26O Exército das Sombras é mais uma obra-prima do grande Jean-Pierre Melville. O apuro técnico é embasbacante e o filme é praticamente impecável em todos os quesitos, como direção, fotografia, atuações e trilha sonora. É um filme que retrata uma realidade extremamente difícil em que os personagens sempre se deparam com dilemas. A lealdade, a persistência, a coragem são realçados, mas também o medo, a frieza e a insegurança são retratados de forma bem realista. É um filme que enaltece a coragem daquelas pessoas, mas ao mesmo tempo não romantiza em nada e humaniza muito cada personagem. O Exército das Sombras possui toda a maestria sutil do Melville em inúmeras cenas que certamente ficarão em sua memória e com certeza vale muito a pena ser visto.
Alguém Me Vigia
3.5 55Alguém Me Vigia é um suspense de qualidade, mas que tem pouco de John Carpenter. Me pareceu muito mais um típico suspense do De Palma referenciando/homenageando o cinema de Hitchcock. A trama não traz nada de muito inovador, mas é bem conduzida e o filme em si possui uma boa atmosfera. Eu gostei, é um bom filme.
Dark Star
3.3 64 Assista AgoraDark Star é o longa-metragem de estreia do John Carpenter e se trata de um filme bem interessante. A falta de recursos é nítida, mas eu posso dizer o mesmo sobre a criatividade exercida pelo diretor. Dark Star a princípio é uma sátira de 2001, mas não se resume apenas a isso. É um filme de ficção científica, mas também tem elementos de comédia, drama existencialista e suspense. Eu gosto como a atmosfera do filme muda constantemente. Em determinado momento estamos vendo uma "comédia de erros" no espaço, mas em outro momento a obra adquire um tom mais sombrio, melancólico e contemplativo. Como eu disse anteriormente, a produção é bem precária, porém os efeitos especiais não são ruins. Realmente dá para perceber que todos se empenharam muito em realizar o filme. Enfim, pela qualidade, pelo empenho e pela criatividade Dark Star merece 4 estrelas.
Fantasmas de Marte
2.3 164 Assista AgoraRapaz, adoro os filmes do John Carpenter, mas aqui não tem como. É de longe o pior que eu vi do diretor até o momento.
King Kong
3.8 194 Assista AgoraKing Kong é uma obra-prima. Possui uma importância e uma influência imensuráveis. A trama é simples, mas muito bem executada. Tem uma crítica muito interessante sobre ambição e a interferência do homem na natureza. O elenco é muito bom e os personagens até que são bem desenvolvidos, considerando que o filme não tem uma longa duração. Os efeitos especiais são muito bem feitos. É nítido que King Kong foi uma super produção em sua época. Além dos excelentes efeitos especiais também temos sets de filmagens gigantes e muitos figurantes. E devo dizer que as cenas de ação são muito mais intensas e brutais do que eu esperava. Certas partes até me chocaram. Imagino como deve ter sido a reação do público no cinema no longínquo ano de 1933. King Kong é um filme bem direto ao ponto, sem enrolações e que cumpre perfeitamente o seu papel. Um dos grandes clássicos imortais do cinema, sem dúvidas.
Apertem os Cintos, o Piloto Sumiu! II
3.2 104 Assista AgoraÉ quase um repeteco do primeiro, mas bem menos inspirado. Algumas piadas funcionam muito bem e me fizeram rir muito e outras são bem dispensáveis. Por mais que seja um filme de comédia nonsense, o enredo não tem nem pé e nem cabeça. No primeiro havia uma trama mais consistente por mais absurda que fosse. Dou 3 estrelas pelos atores que reprisaram os seus papéis e pela participação especial do William Shatner.
Dog Soldiers: Cães de Caça
3.5 209 Assista AgoraDog Soldiers é um ótimo filme. Um dos melhores sobre lobisomens que já assisti. É tenso do começo ao final, conta com bastante ação e sanguinolência, os lobisomens são brutais, muito bem feitos e tudo mais, mas o grande diferencial aqui é a forma como os soldados são desenvolvidos. Eles possuem uma relação de irmandade e sempre lutam uns pelos outros. Adorei esse senso de companheirismo e lealdade. E o filme consegue balancear bem o drama com umas pitadas de comédia e no final o resultado é bem divertido. Notei ótimas influências de filmes como A Noite dos Mortos-Vivos, Evil Dead e Predador. É um grande filme. Aproveitem que está disponível no YouTube.
A Aventura
4.1 113 Assista AgoraBom, é o primeiro filme do Michelangelo Antonioni que assisto e me decepcionei bastante. Respeito quem gostou do filme, mas para mim não funcionou. É totalmente vazio, com personagens insossos e tem uma das narrativas mais desinteressantes que eu já vi. A primeira metade até que é mais aceitável e tem um ar misterioso e belas paisagens, mas como um todo o filme infelizmente não funcionou comigo. Alguém tem alguma indicação de um filme do diretor que eu deva assistir em seguida para ver se vale a pena conferir a sua filmografia?
Correspondente Estrangeiro
3.7 54 Assista AgoraCorrespondente Estrangeiro é um ótimo filme do mestre Hitchcock. É uma obra que representa muito bem as características do diretor tanto em termos de roteiro quanto em termos de técnicas de filmagem. Como em muitos outros filmes do Hitchcock, nós temos um "homem comum" que se envolve sem querer em uma trama complexa de espiões repleta de conspirações e reviravoltas. A narrativa é muito envolvente e o suspense é muito bem construído. A tensão é pulsante tanto em momentos mais sutis quanto em cenas de ação frenéticas e extremamente bem executadas. De ponto negativo eu posso dizer que senti que o romance entre o casal principal é muito repentino e até certo ponto artificial e os vilões poderiam ter sido melhor desenvolvidos, mas no geral o resultado é bem satisfatório. Vale muito a pena.
Godzilla
3.8 125 Assista AgoraGodzilla é uma obra-prima. Trata-se de uma obra extremamente importante e influente que aborda muitos temas que são universais e relevantes até os dias de hoje. Podermos notar temas como o trauma que a bomba atômica causou no povo japonês, o medo das armas nucleares e de todo aquele clima sufocante da Guerra Fria e também é um filme que fala muito sobre a ação negativa do ser humano sobre o meio ambiente. Todos os gêneros presentes no filme como drama, suspense, ação, ficção científica e até terror são executados de forma primorosa. O diferencial de Godzilla para outros filmes de monstros é que por mais que a criatura realmente seja imponente e poderosa e os efeitos especiais sejam muito bem feitos, a devastação aqui não é tratada como um mero "espetáculo" e gera consequências muito trágicas e dolorosas para todas as vítimas. As pessoas ficam traumatizadas, sem seus lares e muitas vezes sem muitos dos seus entes queridos. Essa carga dramática faz muita diferença no resultado final. É um filme extremamente bem dirigido, com uma trama coesa, inteligente e repleta de críticas sociais, uma linda fotografia, uma trilha sonora inesquecível, ótimas atuações e que cumpre muito bem o seu papel. Pode assistir que não vai se arrepender. Disponível no NetMovies.
O Leopardo
4.2 105 Assista AgoraO Leopardo é um dos filmes mais perfeccionistas de todos os tempos. O nível artístico aqui é do patamar mais alto possível. A trama é bem cerebral e complexa e na minha opinião exige um certo conhecimento prévio do contexto histórico retratado na obra, então como eu não tenho esse conhecimento não posso afirmar que o compreendi totalmente, mas eu acredito que eu entendi quais são os pontos mais importantes. Em sua essência, eu diria que é sobre se sentir deslocado e impotente perante a mudança dos tempos. Ali a Itália é retratada como uma nação extremamente diversificada e dividida que aos poucos se tornará uma coisa só. O que eu senti é que por mais que o protagonista queira manter tudo como está, a chegada dos novos tempos é implacável e ele não tem o poder necessário para impedir essa tal mudança. Por mais prestígio e status que ele possui e que sempre possuiu, ele apenas cumpre um papel de um observador da chegada dos novos tempos tentando sobreviver. Outro aspecto interessante é o teor político, mostrando que em um contexto geral nesse universo da política há todo um jogo de poder e que os ideais se perdem e dão lugar aos interesses pessoais e a necessidade de sobrevivência de classes de pessoas que estão acostumadas a um estilo de vida e que se sentem ameaçadas. O Leopardo é um filme impecável tecnicamente. A direção do Luchino Visconti é primorosa, com um dos trabalhos de reconstituição de época mais impressionantes que eu já vi, repleta de elegância e sutileza do primeiro ao último segundo, conta com um elenco de primeira com nomes de peso como Burt Lancaster, Alain Delon e Claudia Cardinale, tem uma fotografia que está entre as mais exuberantes da história do cinema e a trilha sonora do Nino Rota é perfeita. Entendo quem classifique esse filme como "enfadonho" (já que é bem introspectivo e com apenas alguns momentos de clímax) ou se assuste com as 3 horas de duração, mas sinceramente eu nem senti o tempo passar. Uma palavra que resume O Leopardo para mim é "encantamento". Foi o que eu senti. Disponível no NetMovies.
Meu Nome é Ninguém
3.9 81 Assista AgoraMeu Nome é Ninguém é um ótimo faroeste. Apesar de ter uma certa profundidade e em partes um tom mais reflexivo, eu diria que é um filme leve e bem divertido. Soa como uma espécie de sátira e ao mesmo tempo uma homenagem ao gênero de faroeste. Adorei as várias referências ao mestre Sam Peckinpah. Tecnicamente é muito bem feito, com ótimas cenas de ação, uma reconstituição de época impecável e uma belíssima fotografia. Os personagens principais são bem carismáticos. Henry Fonda e Terence Hill interpretam personagens totalmente diferentes, mas que se complementam muito bem. Eu gosto muito do tom cômico do filme, apesar de concordar que algumas piadas não são tão engraçadas, mas como um todo eu creio que o humor funciona muito bem. A trilha sonora do mestre Ennio Morricone é primorosa como sempre. Vale muito a pena uma conferida. Disponível no aplicativo NetMovies.
A Fonte da Donzela
4.3 219 Assista AgoraA Fonte da Donzela é um filme que a princípio parece simples, mas que aborda muitos temas de maneira sutil, e ao mesmo tempo contundente, como fé, revolta, justiça, vingança e moralidade. Há todo um clima sufocante de tensão durante todo o filme que causa uma sensação muito forte de mal-estar. Você sente que algo de muito ruim irá acontecer a qualquer momento. Além de todo o primor técnico em termos de direção, edição, fotografia, trilha sonora e atuações, é incrível o domínio que o Ingmar Bergman tem sobre a estrutura narrativa. É impressionante como ele consegue expressar tanto em um filme relativamente curto. Todos os personagens são muito bem aproveitados e cumprem as suas funções de maneira impecável. A mise-en-scène aqui é absurda. A ambientação é totalmente imersiva e você consegue sentir totalmente as intenções e os sentimentos dos personagens apenas pelas suas expressões faciais. Enfim, na minha opinião é uma obra-prima. Virou um dos meus favoritos. Preciso me aprofundar na filmografia do Ingmar Bergmar. Para quem se interessar o filme está disponível no aplicativo NetMovies.
O Barba Ruiva
4.4 26O Barba Ruiva, ao lado de Um Domingo Maravilhoso, Viver, Dersu Uzala e Sonhos, é o filme mais sensível e humano do mestre Akira Kurosawa. Confesso que o ritmo é realmente cansativo. Porém é um caso em que a paciência é plenamente recompensada, pois se trata de uma obra-prima. Sim, mais uma! Kurosawa, na minha opinião, tem 11 obras-primas e vários outros excelentes filmes. É uma filmografia avassaladora. Bom, a estrutura do filme é muito interessante. São dois médicos de personalidades muito diferentes e até certo ponto conflitantes: Um é experiente e extremamente rígido, porém bondoso em sua essência, e o outro é um novato com ideais bem questionáveis. Com o decorrer do tempo, vários casos delicados (tanto do ponto de vista físico quanto psicológico) aparecem no hospital e os médicos evoluem aos poucos e mostram a sua verdadeira natureza. Cada caso é único, tocante e inesquecível. São várias pessoas com problemas diversos, mas que sempre são retratadas de uma forma muito verdadeira. A dor, o sofrimento e a miséria dos pacientes afloram o lado bondoso dos médicos. É muito bonito. Tecnicamente é impecável e minucioso como toda a filmografia de Kurosawa contando com direção, edição, montagem, fotografia, trilha sonora e atuações espetaculares. Se não me engano foi o último filme a contar com a lendária parceria entre Kurosawa e Mifune, mas posso dizer que se encerrou com chave de ouro. Vale totalmente a pena.
The Bird People In China
4.1 16The Bird People In China, artisticamente falando, talvez seja o melhor filme do Takashi Miike que eu vi até agora. É impressionante a versatilidade do diretor. É incrível que o mesmo diretor de bizarrices maravilhosas repletas de violência, escatologia e perversão como Ichi the Killer, Visitor Q e Gozu consiga dirigir um filme tão belo, sensível e sutil. O tom aqui é mais contemplativo e filosófico, com um foco maior no existencialismo, porém sem deixar de ter a identidade do Miike como artista. A jornada dos personagens é muito interessante e prazerosa de acompanhar. Apesar de apostar mais no drama, também há momentos de comédia que deixam o filme bem leve em diversas situações. Os protagonistas Wada, Ujiie e Shen possuem personalidades totalmente distintas, mas se complementam muito bem. Durante a jornada existe todo um clima de "homem versus natureza" (nesse aspecto eu senti uma influência de filmes do Werner Herzog como Aguirre e Fitzcarraldo), mas o filme também traz a discussão sobre a pureza e inocência daquele lugar e daquelas pessoas longe da civilização. Eles foram atrás de riquezas materiais, mas se encantaram com o local e acabaram encontrando um conforto espiritual, um sentido de vida. A direção aqui é muito precisa e elegante, a narrativa é muito bem trabalhada e a fotografia é sublime. Eu terminei o filme com a sensação de que todos os personagens cumpriram as suas funções. Isso demonstra a qualidade do Miike como diretor. Ele é, na minha opinião, um dos melhores de todos os tempos. Para quem quiser ver um lado mais sério e complexo do Miike em filmes não tão comentados eu também recomendo Blues Harp, Izo e Sun Scarred.
A Fortaleza Escondida
4.2 54A Fortaleza Escondida é um ótimo filme, mas com algumas falhas que o impedem de ser uma obra-prima. Antes de qualquer coisa devo dizer que ver um filme do Akira Kurosawa é sempre uma experiência fantástica. Ele é inegavelmente um mestre e um dos maiores cineastas que o mundo já viu. Então eu posso dizer que a A Fortaleza Escondida possui a mesma técnica magistral característica do diretor. O domínio que o Kurosawa tem sobre todos os elementos em cena beira ao inacreditável. A direção é fantástica, a reconstituição de época é perfeita, as cenas de ação são extremamente bem coreografadas, a edição é inteligente, a fotografia é deslumbrante e o elenco é excelente. Só que o filme não carrega a mesma complexidade e profundidade de obras-primas do diretor como Rashomon, Viver, Os Sete Samurais, Trono Manchado de Sangue, Homem Mau Dorme Bem, Céu e Inferno, Dersu Uzala, Kagemusha, Ran e Sonhos. Eu entendi que a proposta aqui é fazer um filme mais simples, divertido e focado na aventura e na comédia, e em termos ele é bem-sucedido, mas eu senti que os personagens foram desenvolvidos de maneira muito superficial. A aventura e a ação seriam melhores se o personagem do Toshiro Mifune (Rokurota Makabe) fosse melhor aproveitado e a parte cômica funcionaria melhor se os dois camponeses atrapalhados (Matakishi e Tahei) tivessem o destaque merecido. Eles são de longe os personagens mais carismáticos e que mais esbanjam naturalidade e humanidade na obra. Dito isso, eu detestei a princesa. A atriz teve um bom desempenho, mas a personagem é irritante, mimada e arrogante. Não percebe e nem valoriza o sacrifício que todos estão fazendo por ela (incluindo os dois atrapalhados que são tratados como lixo por todos, principalmente pela tal "majestade") e mais atrapalha do que ajuda. Sem essa personagem e com mais tempo para o trio Rokurota, Matakishi e Tahei brilhar, esse filme teria sido uma obra-prima. Bom, pode não ser um dos meus favoritos, mas mesmo assim valeu cada segundo. O ritmo, na minha opinião, é muito bom e o filme sem dúvida tem cenas inesquecíveis. Com certeza vale a pena ver TODA a filmografia do Kurosawa, sem exceções.
Gozu
3.7 56É o ápice da loucura no cinema. Gozu é um filme lento, e até certo ponto monótono em algumas partes, mas ao mesmo tempo é intrigante e envolvente. Possui uma atmosfera única, estranha e inquietante e cenas totalmente pitorescas. É difícil classificar esse filme já que tem tantos elementos diferentes inserindo o universo criminoso da Yakuza (a máfia japonesa) dentro de um cenário repleto de drama, comédia, suspense, terror, fantasia e surrealismo em uma jornada com muitos personagens bizarros e enigmáticos. Com certeza é uma obra única e que só poderia sair da mente do Takashi Miike. É uma experiência de difícil assimilação (é necessário um conhecimento profundo sobre temas como Yakuza e folclore japonês), mas muito recompensadora. Te garanto que você nunca assistiu algo assim antes e quando falamos sobre cinema é sempre saudável abrir os seus horizontes. Muito provavelmente tem o final mais bizarro da história do cinema. Só vendo para crer.