Um exercício meio autobiográfico meio surrealista abordando o conflito entre pontos de vista do artista que saiu de seu país e alcançou sucesso no exterior, nunca pertencendo totalmente à nenhum dos dois. O filme tem sequências geniais, como a memorável festa onde o protagonista dança com sua família e amigos, celebrando suas origens até que Bowie começa a tocar e ele é isolado como um estrangeiro em sua própria terra. O grande problema para mim foi a falta de um eixo narrativo mais envolvente, a falta de conexão entre várias passagens e a repetição excessiva de alguns temas acabaram dispersando minha atenção durante mais de duas horas de duração.
O filme representa bem as dificuldades de se reinserir na sociedade ou fazer novos amigos quando você passa por experiências que mudaram suas perspectivas e prioridades. Tanto Lynsey quanto James, interpretado pelo incrível Brian Tyree Henry, conhecem seus traumas e maior parte das vezes não sabem como prosseguir, ou até se é isso que realmente desejam. Isso acaba criando um vínculo natural entre os dois. Os diálogos entre eles são o ponto alto da história. A recusa de ceder à resoluções fáceis, como um romance artificial, a redenção milagrosa de toda a família ou a recuperação da carreira de Lynsey é o que torna o drama interessante.
Um impressionante blockbuster com cenas de ação incríveis capazes de envolver quem não entende nada do que está acontecendo e até mesmo quem não está familiarizado com o longa anterior. Porém não consigo achar na história algo além do mesmo de sempre: fetichismo bélico e a concretização do sonho americano na figura de Tom Cruise, levando a garota na garupa da moto enquanto mostra seus 245 dentes branquíssimos e cujo único defeito é ser bom demais no que faz. Interessante notar que há uma preocupação no roteiro em tornar a missão "nobre" e os inimigos figuras misteriosas de uma nação secreta, para evitar controvérsia. O fator nostalgia conta muito e ainda que a história não se encaixe bem nos tempos atuais, o filme é um espetáculo.
O filme tem inúmeras situações representando a complexidade do equilíbrio entre o ego e as relações humanas, seja amizade, família e até mesmo entretenimento e religião. A todo tempo sentimos a urgência que cada personagem tem em ser ouvido e se sentir realizado de alguma maneira, causando conflitos cada vez maiores. A forma como a história foi construída é culturalmente rica e divertida. A fictícia Inisherin tem personagens bem desenvolvidos que dão vida à um sentimento compartilhado de comunidade. Seria uma ótima comédia, porém a trama surpreende e conduz para desfechos melancólicos que tornam o filme ainda melhor.
Criando um grupo de personagens que incluem uma governadora demagoga, uma personalidade extremista da internet e até uma influenciadora sem nenhum contato com a realidade Rian Johnson cria uma paródia da vida real divertidíssima que se fecha com chave de ouro na figura de Benoit Blanc, personagem cuja interpretação por Daniel Craig cria uma eterna quebra de expectativas.
Guadagnino é um mestre em criar cenas belíssimas, nesse caso ele encontra formas de mostrar a beleza no grotesco, na amoralidade do consumo primal de carne humana, criando um misto de sentimentos que vão do choque inicial ao afeto e identificação do espectador com os laços formados entre indivíduos que compartilham dos mesmos traumas. A trilha sonora de Trent Reznor e Atticus Ross ajudam a nos conectar com a história, nos seduzindo até as fascinantes margens da sociedade, quase sempre irresistíveis. A atuação de Mark Rylance é minimalista e fascinante, assim como a perturbadora aparição de Chloë Sevigny.
Uma sátira divertida e escatológica não somente dos bilionários, mas também do sistema que possibilita sua existência e da sede pelo poder. A introdução é envolvente e nos coloca em um relacionamento de conveniência, que mais tarde será testado por diversas situações absurdas. Quando a música da banda punk Refused toca e o caos toma conta nós finalmente vemos o poder nas mãos dos oprimidos, que se tornam excepcionais opressores. Os mais sensíveis podem alegar que temos filmes mais complexos, bem estruturados em sua crítica ao capitalismo e que nos colocam naquela posição de "intelectual em controle da bússola moral", porém Östlund nos lembra que somos apenas animais grotescos e nosso fim é a decomposição.
Esse documentário é uma obra prima considerando o trabalho de retratar uma carreira tão rica e multifacetada como a de David Bowie. A escolha de abandonar a estrutura tradicional informativa de um documentário e nos presentear com incríveis imagens de arquivo e trechos de entrevistas é o mais próximo que um filme é capaz de emular o sentimento de conhecer Bowie e ser um fã dele desde o início, algo que poucos hoje em dia podem se vangloriar. Indispensável para todos os fãs.
O filme consegue se estabelecer no início trazendo situações exageradas para explicar Al Yankovic e grande parte do charme inicial da história se deve à entrega sem pudores de Daniel Radcliffe ao papel. Cheio de referências musicais, ele segue divertido até a metade, quando o exagero se torna repetitivo e não tão engraçado. O uso de Madonna como personagem, embora ousado, não surpreendeu pois ao lado do alucinado Yankovic ela poderia ser melhor aproveitada.
Cate Blanchett nos hipnotiza dando vida à uma personagem absolutamente competente no que faz, cuja genialidade só se equipara à sua arrogância. A história traz uma reflexão sobre uma hipotética superioridade moral capaz de decidir se a arte é válida baseada na vida do artista. Estamos lutando contra a raiz do problema ou simplesmente podando os galhos e tornando o problema esteticamente aceitável? Um dos melhores filmes do ano e com certeza a melhor atuação de Blanchett.
Baseado no livro que foi queimado por nazistas por ser a maior história antiguerra de todos os tempos, o filme acompanha um jovem que se alista para servir na linha de frente durante a Primeira Guerra Mundial. O que torna a história importantíssima e atemporal é a competência com que o conflito é retratado, não há heróis, somente a futilidade da guerra, o desprezo pela dignidade humana e a violência crua e caótica, contrastando com a calma e beleza da natureza. Pesado, o filme serve como um alerta sobre como falsas ideologias levam até os mais inocentes a cometer atos extremos.
O filme traz uma ótima e sarcástica reflexão sobre a violência cotidiana e considerada "aceitável" por seus perpetradores e a violência praticada por outros, considerados bárbaros e maus em sua essência. Porém além dessa camada subjetiva o diretor consegue manter o suspense angustiante a cada passo dos personagens no escuro, brincando com nossas expectativas nos levando à lugares "seguros" logo após nos deixar sem fôlego. Obviamente os personagens tomam todas as más decisões características do terror, mas elas adicionam tensão e nos vemos inquietos tentando fugir com eles. Poderia ter explorado mais a história de alguns personagens, mas as vezes o terror não mostrado é o que fica em nossas cabeças por mais tempo.
Herzog é um mestre na arte de conduzir um documentário. Ele consegue imagens incríveis, seja mostrando um iceberg maior do que os EUA ou organismos microscópicos igualmente impressionantes. Apesar de sempre mostrar a raça humana em sua devida proporção diante de um cenário tão grandioso, ele dá palco a vários personagens e suas histórias de exploração e busca pelo pioneirismo em seus respectivos campos. Por fim ele insere pontualmente suas reflexões, as vezes poéticas e as vezes como parte de uma autoanálise, que ajudam a tecer a narrativa. Apesar de perder o foco algumas vezes, é uma amostra do que viria pela frente com o inigualável documentário "Visita ao Inferno" de 2016.
Supostamente os dinossauros dominam o mundo e a humanidade tem que lidar com essa mudança de paradigma. Ao contrário do que sugere o título, pouco é explorado sobre os efeitos da inserção dos dinossauros nos diversos ecossistemas. Ideias são jogadas na tela por poucos minutos de maneira clichê e sem qualquer implicação real para a história, seja a manipulação genética que convenhamos já foi explorada em excesso pela franquia, ou então o patético e surreal cenário de contrabandistas de dinossauros que contraria qualquer lógica e serve apenas às cenas de ação mirabolantes. Rapidamente tudo é deixado de lado para desenvolver a trama genérica de sempre, "salve a garota, salve o mundo", "corra para o helicóptero" ou a ridícula mensagem de encerramento: "coexista" como se tal equilíbrio fosse algo natural. Desperdiçou o elenco do original, transformou os dinossauros em plano de fundo e se transformou a franquia em um filme b de ação repetitivo (se eu ver Chris Pratt erguer as mãos como se fosse usar telecinese nos dinos novamente eu infarto).
Guadagnino nos conquista com a beleza da composição de cada cena, que consegue transmitir os sentimentos dos personagens mesmo com diálogos minimalistas. A frieza e arrogância da família no jantar do patriarca Recchi, a cena do restaurante onde Emma, encantada pelo prato preparado por Antônio, reflete sobre sua vida e seus desejos são exemplos de cenas que nos conduzem por detalhes sem precisar nos explicar nada. Tilda Swinton é minha atriz favorita e sua atuação como Emma é incrível, e nos faz pensar sobre o significado de ser o pilar que sustenta e une a família e sobre o preço a se pagar por isso. A fotografia de Yorick Le Saux é belíssima e define o contraste entre a suntuosa residência dos Recchi e o campo onde Antônio planeja estabelecer um restaurante, contraste esse que é a chave dos conflitos internos de Emma.
O filme vai além de uma simples prequela, é uma viagem no tempo onde mergulhamos na mente da intrigante assassina Pearl. Ao mesmo tempo que complementa a história de X, Pearl muda completamente o gênero, aqui temos um horror mais psicológico e que queima lentamente até a explosão final, porém o diretor ainda mantém o bom humor que contrária nossas expectativas e satiriza algumas convenções do gênero. O amor de Pearl por uma vida idealizada na figura das atrizes que ela vê no cinema é cativante, Mia Goth impressiona ao ir da inocência de uma jovem sorridente que apelida um crocodilo em homenagem a atriz pioneira do cinema Theda Bara, ao extremo do descontrole em seu incrível monólogo próximo ao final. A maneira como o diretor consegue estabelecer uma conexão entre Pearl e Maxine que fica gravada na nossa mente após assistir aos dois filmes só me deixou mais ansioso para ver Maxxxine, última parte da franquia.
Assisti todas as temporadas da série e só agora vi o filme, ao qual a série se mantém relativamente fiel. Centrado em personagens peculiares e no desenrolar turbulento de acontecimentos tanto trágicos quanto cômicos, o enredo é um dos melhores se tratando de filmes sobre crime. O caos reina do começo ao fim e como alguns pontos da história são confidenciados apenas ao espectador, acabamos nos tornando cúmplices dos personagens. Frances McDormand desde sempre impressiona nos pequenos detalhes que incorpora em suas atuações.
Além de trazer críticas pontuais à crise dos empréstimos estudantis, que levaram 40 milhões de americanos a se endividar, o filme é um thriller de tirar o fôlego (algumas cenas me deixaram literalmente tremendo). Aubrey Plaza está incrível em uma atuação minuciosamente controlada e nos conquistando como uma jovem cansada e encurralada em uma situação fora de seu controle.
Klaus Kinski encarna um personagem arrogante e magalomaníaco que embarca em uma viagem onde ignora sua insignificância diante do poder da natureza. A natureza se torna protagonista ao ser retratada por Herzog como uma força impossível de ser superada e que é indiferente aos delírios de Aguirre. A atuação de Kinski seria impressionante não fossem as revelações feitas após sua morte, que a tornam angustiante. Um épico com belas cenas contemplativas e um retrato resumido da natureza humana.
Como toda sátira, temos uma visão estereotipada da geração Z, o que não é surpresa pois a criadora da história Kristen Roupenian, a roteirista Sarah DeLappe e a diretora Halina Reijn não pertencem à essa geração e trazem críticas válidas mas que são mais reflexos do conflito entre as gerações do que realmente problemas reais. No entanto o filme é divertido e caótico e ainda que traga mais comédia do que terror, nos vemos envolvidos na exagerada auto-indulgência dos personagens e em suas críticas minuciosas ao caráter uns dos outros. A trilha sonora de Disasterpeace é um dos melhores pontos do filme e ajudam a situar o público nessa festa que virou um enterro.
Minhas expectativas depois de Halloween Kills eram extremamente baixas, consigo entender que esse filme não funciona muito como um filme da franquia Halloween pois deixa Myers de lado e com ele toda a tensão característica do mal estar sempre à espreita. No entanto ele traz ótimas ideias sobre explorar a maldade humana como elemento de identificação entre Myers e um novo assassino e também sobre o círculo vicioso de violência que os crimes causaram na cidade. Se analisarmos como trilogia temos conceitos conflitantes e ideias desperdiçadas, mas ainda que esse encerramento descaracterize a franquia, achei ele muito melhor que Halloween Kills.
Quase trinta anos após o lançamento do primeiro filme, essa sequência é a prova que nem sempre é preciso revolucionar a história original para entregar um bom filme. O carisma absurdo das três irmãs (felizmente interpretada pelas atrizes originais), as cenas musicais icônicas e o humor que flerta levemente com o terror nos apresentam um nostálgico clima de Halloween, que faz você torcer pelas vilãs até o final. Me senti velho, porém feliz.
Mike Mills continua seu trabalho como diretor trazendo crises existenciais disfarçadas em uma história leve e temas pesados tratados com uma inocência cativante. O filme tem ótimas entrevistas que não foram roteirizadas, são totalmente improvisadas por Joaquin Phoenix, que também pontua passagens da história com trechos de livros, que ajudam a entender as complexas relações familiares. Um trecho citado e que ressoa durante todo o longa é de “Mães: um ensaio sobre amor e crueldade”, de Jacqueline Rose, que diz: “A maternidade é o lugar em nossa cultura onde alojamos, ou melhor, enterramos a realidade de nossos próprios conflitos. Fazendo das mães objetos de idealização e crueldade licenciadas, nos cegamos para as iniquidades do mundo e fechamos os portais do coração. As mães são o bode expiatório definitivo para nossas falhas pessoais e políticas, para tudo o que há de errado com o mundo, que se torna sua tarefa (irrealizável, é claro) reparar.”
Eu entendo e apoio a decisão de expandir a realidade tomando liberdades criativas ilimitadas, contanto que isso fique claro para o público e que funcione para a narrativa. Em Blonde há a preocupação em alertar o público sobre a origem ficcional da obra, mas o roteiro falha na construção de uma obra coesa. Não há uma condução da narrativa para que criemos um vínculo com a mulher por trás do mito, mas sim uma sucessão de abusos que ao longo do filme nos dessensibilizam, como se fosse um compilado dos piores momentos da vida dela. Algumas decisões apelam para um sentimentalismo barato que beira o ridículo. Sinto por Ana de Armas, que tem uma ótima atuação e por todo o trabalho de fotografia, design de produção que nos transportam para os anos 50, mas para uma jornada desagradável. Quem não tem uma base sobre a carreira de Marilyn Monroe e não leu o livro que deu origem ao filme, que é o meu caso e o da maioria do público, é recomendável buscar fontes sobre o que realmente se sabe sobre a vida dela e ler o livro para entender se algo se perdeu nessa adaptação para o cinema.
Bardo, Falsa Crônica de Algumas Verdades
3.3 83Um exercício meio autobiográfico meio surrealista abordando o conflito entre pontos de vista do artista que saiu de seu país e alcançou sucesso no exterior, nunca pertencendo totalmente à nenhum dos dois.
O filme tem sequências geniais, como a memorável festa onde o protagonista dança com sua família e amigos, celebrando suas origens até que Bowie começa a tocar e ele é isolado como um estrangeiro em sua própria terra.
O grande problema para mim foi a falta de um eixo narrativo mais envolvente, a falta de conexão entre várias passagens e a repetição excessiva de alguns temas acabaram dispersando minha atenção durante mais de duas horas de duração.
Passagem
3.3 113 Assista AgoraO filme representa bem as dificuldades de se reinserir na sociedade ou fazer novos amigos quando você passa por experiências que mudaram suas perspectivas e prioridades. Tanto Lynsey quanto James, interpretado pelo incrível Brian Tyree Henry, conhecem seus traumas e maior parte das vezes não sabem como prosseguir, ou até se é isso que realmente desejam. Isso acaba criando um vínculo natural entre os dois. Os diálogos entre eles são o ponto alto da história.
A recusa de ceder à resoluções fáceis, como um romance artificial, a redenção milagrosa de toda a família ou a recuperação da carreira de Lynsey é o que torna o drama interessante.
Top Gun: Maverick
4.1 1,1K Assista AgoraUm impressionante blockbuster com cenas de ação incríveis capazes de envolver quem não entende nada do que está acontecendo e até mesmo quem não está familiarizado com o longa anterior.
Porém não consigo achar na história algo além do mesmo de sempre: fetichismo bélico e a concretização do sonho americano na figura de Tom Cruise, levando a garota na garupa da moto enquanto mostra seus 245 dentes branquíssimos e cujo único defeito é ser bom demais no que faz.
Interessante notar que há uma preocupação no roteiro em tornar a missão "nobre" e os inimigos figuras misteriosas de uma nação secreta, para evitar controvérsia.
O fator nostalgia conta muito e ainda que a história não se encaixe bem nos tempos atuais, o filme é um espetáculo.
Os Banshees de Inisherin
3.9 570 Assista AgoraO filme tem inúmeras situações representando a complexidade do equilíbrio entre o ego e as relações humanas, seja amizade, família e até mesmo entretenimento e religião.
A todo tempo sentimos a urgência que cada personagem tem em ser ouvido e se sentir realizado de alguma maneira, causando conflitos cada vez maiores.
A forma como a história foi construída é culturalmente rica e divertida. A fictícia Inisherin tem personagens bem desenvolvidos que dão vida à um sentimento compartilhado de comunidade.
Seria uma ótima comédia, porém a trama surpreende e conduz para desfechos melancólicos que tornam o filme ainda melhor.
Glass Onion: Um Mistério Knives Out
3.5 651 Assista AgoraCriando um grupo de personagens que incluem uma governadora demagoga, uma personalidade extremista da internet e até uma influenciadora sem nenhum contato com a realidade Rian Johnson cria uma paródia da vida real divertidíssima que se fecha com chave de ouro na figura de Benoit Blanc, personagem cuja interpretação por Daniel Craig cria uma eterna quebra de expectativas.
Até os Ossos
3.3 264 Assista AgoraGuadagnino é um mestre em criar cenas belíssimas, nesse caso ele encontra formas de mostrar a beleza no grotesco, na amoralidade do consumo primal de carne humana, criando um misto de sentimentos que vão do choque inicial ao afeto e identificação do espectador com os laços formados entre indivíduos que compartilham dos mesmos traumas.
A trilha sonora de Trent Reznor e Atticus Ross ajudam a nos conectar com a história, nos seduzindo até as fascinantes margens da sociedade, quase sempre irresistíveis.
A atuação de Mark Rylance é minimalista e fascinante, assim como a perturbadora aparição de Chloë Sevigny.
Triângulo da Tristeza
3.6 730 Assista AgoraUma sátira divertida e escatológica não somente dos bilionários, mas também do sistema que possibilita sua existência e da sede pelo poder.
A introdução é envolvente e nos coloca em um relacionamento de conveniência, que mais tarde será testado por diversas situações absurdas.
Quando a música da banda punk Refused toca e o caos toma conta nós finalmente vemos o poder nas mãos dos oprimidos, que se tornam excepcionais opressores.
Os mais sensíveis podem alegar que temos filmes mais complexos, bem estruturados em sua crítica ao capitalismo e que nos colocam naquela posição de "intelectual em controle da bússola moral", porém Östlund nos lembra que somos apenas animais grotescos e nosso fim é a decomposição.
Moonage Daydream
4.2 69 Assista AgoraEsse documentário é uma obra prima considerando o trabalho de retratar uma carreira tão rica e multifacetada como a de David Bowie.
A escolha de abandonar a estrutura tradicional informativa de um documentário e nos presentear com incríveis imagens de arquivo e trechos de entrevistas é o mais próximo que um filme é capaz de emular o sentimento de conhecer Bowie e ser um fã dele desde o início, algo que poucos hoje em dia podem se vangloriar.
Indispensável para todos os fãs.
Weird: The Al Yankovic Story
3.4 41O filme consegue se estabelecer no início trazendo situações exageradas para explicar Al Yankovic e grande parte do charme inicial da história se deve à entrega sem pudores de Daniel Radcliffe ao papel.
Cheio de referências musicais, ele segue divertido até a metade, quando o exagero se torna repetitivo e não tão engraçado.
O uso de Madonna como personagem, embora ousado, não surpreendeu pois ao lado do alucinado Yankovic ela poderia ser melhor aproveitada.
Tár
3.7 395 Assista AgoraCate Blanchett nos hipnotiza dando vida à uma personagem absolutamente competente no que faz, cuja genialidade só se equipara à sua arrogância.
A história traz uma reflexão sobre uma hipotética superioridade moral capaz de decidir se a arte é válida baseada na vida do artista. Estamos lutando contra a raiz do problema ou simplesmente podando os galhos e tornando o problema esteticamente aceitável?
Um dos melhores filmes do ano e com certeza a melhor atuação de Blanchett.
Nada de Novo no Front
4.0 611 Assista AgoraBaseado no livro que foi queimado por nazistas por ser a maior história antiguerra de todos os tempos, o filme acompanha um jovem que se alista para servir na linha de frente durante a Primeira Guerra Mundial.
O que torna a história importantíssima e atemporal é a competência com que o conflito é retratado, não há heróis, somente a futilidade da guerra, o desprezo pela dignidade humana e a violência crua e caótica, contrastando com a calma e beleza da natureza.
Pesado, o filme serve como um alerta sobre como falsas ideologias levam até os mais inocentes a cometer atos extremos.
Noites Brutais
3.4 1,0K Assista AgoraO filme traz uma ótima e sarcástica reflexão sobre a violência cotidiana e considerada "aceitável" por seus perpetradores e a violência praticada por outros, considerados bárbaros e maus em sua essência.
Porém além dessa camada subjetiva o diretor consegue manter o suspense angustiante a cada passo dos personagens no escuro, brincando com nossas expectativas nos levando à lugares "seguros" logo após nos deixar sem fôlego.
Obviamente os personagens tomam todas as más decisões características do terror, mas elas adicionam tensão e nos vemos inquietos tentando fugir com eles.
Poderia ter explorado mais a história de alguns personagens, mas as vezes o terror não mostrado é o que fica em nossas cabeças por mais tempo.
Encontros no Fim do Mundo
4.3 22Herzog é um mestre na arte de conduzir um documentário.
Ele consegue imagens incríveis, seja mostrando um iceberg maior do que os EUA ou organismos microscópicos igualmente impressionantes.
Apesar de sempre mostrar a raça humana em sua devida proporção diante de um cenário tão grandioso, ele dá palco a vários personagens e suas histórias de exploração e busca pelo pioneirismo em seus respectivos campos.
Por fim ele insere pontualmente suas reflexões, as vezes poéticas e as vezes como parte de uma autoanálise, que ajudam a tecer a narrativa. Apesar de perder o foco algumas vezes, é uma amostra do que viria pela frente com o inigualável documentário "Visita ao Inferno" de 2016.
Jurassic World: Domínio
2.8 548 Assista AgoraSupostamente os dinossauros dominam o mundo e a humanidade tem que lidar com essa mudança de paradigma.
Ao contrário do que sugere o título, pouco é explorado sobre os efeitos da inserção dos dinossauros nos diversos ecossistemas. Ideias são jogadas na tela por poucos minutos de maneira clichê e sem qualquer implicação real para a história, seja a manipulação genética que convenhamos já foi explorada em excesso pela franquia, ou então o patético e surreal cenário de contrabandistas de dinossauros que contraria qualquer lógica e serve apenas às cenas de ação mirabolantes.
Rapidamente tudo é deixado de lado para desenvolver a trama genérica de sempre, "salve a garota, salve o mundo", "corra para o helicóptero" ou a ridícula mensagem de encerramento: "coexista" como se tal equilíbrio fosse algo natural.
Desperdiçou o elenco do original, transformou os dinossauros em plano de fundo e se transformou a franquia em um filme b de ação repetitivo (se eu ver Chris Pratt erguer as mãos como se fosse usar telecinese nos dinos novamente eu infarto).
Um Sonho de Amor
3.5 180Guadagnino nos conquista com a beleza da composição de cada cena, que consegue transmitir os sentimentos dos personagens mesmo com diálogos minimalistas.
A frieza e arrogância da família no jantar do patriarca Recchi, a cena do restaurante onde Emma, encantada pelo prato preparado por Antônio, reflete sobre sua vida e seus desejos são exemplos de cenas que nos conduzem por detalhes sem precisar nos explicar nada.
Tilda Swinton é minha atriz favorita e sua atuação como Emma é incrível, e nos faz pensar sobre o significado de ser o pilar que sustenta e une a família e sobre o preço a se pagar por isso.
A fotografia de Yorick Le Saux é belíssima e define o contraste entre a suntuosa residência dos Recchi e o campo onde Antônio planeja estabelecer um restaurante, contraste esse que é a chave dos conflitos internos de Emma.
Pearl
3.9 992O filme vai além de uma simples prequela, é uma viagem no tempo onde mergulhamos na mente da intrigante assassina Pearl.
Ao mesmo tempo que complementa a história de X, Pearl muda completamente o gênero, aqui temos um horror mais psicológico e que queima lentamente até a explosão final, porém o diretor ainda mantém o bom humor que contrária nossas expectativas e satiriza algumas convenções do gênero.
O amor de Pearl por uma vida idealizada na figura das atrizes que ela vê no cinema é cativante, Mia Goth impressiona ao ir da inocência de uma jovem sorridente que apelida um crocodilo em homenagem a atriz pioneira do cinema Theda Bara, ao extremo do descontrole em seu incrível monólogo próximo ao final.
A maneira como o diretor consegue estabelecer uma conexão entre Pearl e Maxine que fica gravada na nossa mente após assistir aos dois filmes só me deixou mais ansioso para ver Maxxxine, última parte da franquia.
Fargo: Uma Comédia de Erros
3.9 920 Assista AgoraAssisti todas as temporadas da série e só agora vi o filme, ao qual a série se mantém relativamente fiel.
Centrado em personagens peculiares e no desenrolar turbulento de acontecimentos tanto trágicos quanto cômicos, o enredo é um dos melhores se tratando de filmes sobre crime.
O caos reina do começo ao fim e como alguns pontos da história são confidenciados apenas ao espectador, acabamos nos tornando cúmplices dos personagens.
Frances McDormand desde sempre impressiona nos pequenos detalhes que incorpora em suas atuações.
Emily, A Criminosa
3.5 86 Assista AgoraAlém de trazer críticas pontuais à crise dos empréstimos estudantis, que levaram 40 milhões de americanos a se endividar, o filme é um thriller de tirar o fôlego (algumas cenas me deixaram literalmente tremendo).
Aubrey Plaza está incrível em uma atuação minuciosamente controlada e nos conquistando como uma jovem cansada e encurralada em uma situação fora de seu controle.
Aguirre, a Cólera dos Deuses
4.1 159Klaus Kinski encarna um personagem arrogante e magalomaníaco que embarca em uma viagem onde ignora sua insignificância diante do poder da natureza.
A natureza se torna protagonista ao ser retratada por Herzog como uma força impossível de ser superada e que é indiferente aos delírios de Aguirre.
A atuação de Kinski seria impressionante não fossem as revelações feitas após sua morte, que a tornam angustiante.
Um épico com belas cenas contemplativas e um retrato resumido da natureza humana.
Morte Morte Morte
3.1 638 Assista AgoraComo toda sátira, temos uma visão estereotipada da geração Z, o que não é surpresa pois a criadora da história Kristen Roupenian, a roteirista Sarah DeLappe e a diretora Halina Reijn não pertencem à essa geração e trazem críticas válidas mas que são mais reflexos do conflito entre as gerações do que realmente problemas reais.
No entanto o filme é divertido e caótico e ainda que traga mais comédia do que terror, nos vemos envolvidos na exagerada auto-indulgência dos personagens e em suas críticas minuciosas ao caráter uns dos outros.
A trilha sonora de Disasterpeace é um dos melhores pontos do filme e ajudam a situar o público nessa festa que virou um enterro.
Halloween Ends
2.3 537 Assista AgoraMinhas expectativas depois de Halloween Kills eram extremamente baixas, consigo entender que esse filme não funciona muito como um filme da franquia Halloween pois deixa Myers de lado e com ele toda a tensão característica do mal estar sempre à espreita.
No entanto ele traz ótimas ideias sobre explorar a maldade humana como elemento de identificação entre Myers e um novo assassino e também sobre o círculo vicioso de violência que os crimes causaram na cidade.
Se analisarmos como trilogia temos conceitos conflitantes e ideias desperdiçadas, mas ainda que esse encerramento descaracterize a franquia, achei ele muito melhor que Halloween Kills.
Abracadabra 2
3.3 349 Assista AgoraQuase trinta anos após o lançamento do primeiro filme, essa sequência é a prova que nem sempre é preciso revolucionar a história original para entregar um bom filme.
O carisma absurdo das três irmãs (felizmente interpretada pelas atrizes originais), as cenas musicais icônicas e o humor que flerta levemente com o terror nos apresentam um nostálgico clima de Halloween, que faz você torcer pelas vilãs até o final.
Me senti velho, porém feliz.
Sempre em Frente
3.9 160Mike Mills continua seu trabalho como diretor trazendo crises existenciais disfarçadas em uma história leve e temas pesados tratados com uma inocência cativante.
O filme tem ótimas entrevistas que não foram roteirizadas, são totalmente improvisadas por Joaquin Phoenix, que também pontua passagens da história com trechos de livros, que ajudam a entender as complexas relações familiares.
Um trecho citado e que ressoa durante todo o longa é de “Mães: um ensaio sobre amor e crueldade”, de Jacqueline Rose, que diz:
“A maternidade é o lugar em nossa cultura onde alojamos, ou melhor, enterramos a realidade de nossos próprios conflitos. Fazendo das mães objetos de idealização e crueldade licenciadas, nos cegamos para as iniquidades do mundo e fechamos os portais do coração. As mães são o bode expiatório definitivo para nossas falhas pessoais e políticas, para tudo o que há de errado com o mundo, que se torna sua tarefa (irrealizável, é claro) reparar.”
Blonde
2.6 443 Assista AgoraEu entendo e apoio a decisão de expandir a realidade tomando liberdades criativas ilimitadas, contanto que isso fique claro para o público e que funcione para a narrativa. Em Blonde há a preocupação em alertar o público sobre a origem ficcional da obra, mas o roteiro falha na construção de uma obra coesa.
Não há uma condução da narrativa para que criemos um vínculo com a mulher por trás do mito, mas sim uma sucessão de abusos que ao longo do filme nos dessensibilizam, como se fosse um compilado dos piores momentos da vida dela.
Algumas decisões apelam para um sentimentalismo barato que beira o ridículo. Sinto por Ana de Armas, que tem uma ótima atuação e por todo o trabalho de fotografia, design de produção que nos transportam para os anos 50, mas para uma jornada desagradável.
Quem não tem uma base sobre a carreira de Marilyn Monroe e não leu o livro que deu origem ao filme, que é o meu caso e o da maioria do público, é recomendável buscar fontes sobre o que realmente se sabe sobre a vida dela e ler o livro para entender se algo se perdeu nessa adaptação para o cinema.