A tensão se forma principalmente na cabeça do espectador, pois o filme expõe situações desconfortáveis com uma trilha sonora enervante que nos faz querer fugir e deixar até os protagonistas para trás. Como todo terror ele segue sua lógica particular e após o clímax do filme assistimos uma coreografia em câmera lenta criada especificamente para nos chocar. Podemos fazer reflexões sobre misantropia, motivações por trás de atos de violência gratuita ou se ousarmos o suficiente relacionar o conteúdo à passagens bíblicas. Porém independente da análise posterior, o filme entretém e pode facilmente traumatizar quem não estiver preparado.
A narrativa do filme é um labirinto cheio de sinais conflitantes e frequentemente ficamos perdidos enquanto somos seduzidos por uma história de amor improvável e assistimos à oscilação de Seo-rae entre o status de culpada/inocente e as consequências que isso traz ao tortuoso relacionamento entre o investigador e a suspeita. Embora pareça ser mais contido do que os filmes anteriores do diretor, os personagens são levados à extremos ao sondar as origens da atração sentida por ambos. Não que Park precise, mas ele se prova como um dos maiores diretores da atualidade ao criar uma obra que mistura perfeitamente gêneros conflitantes e que nos desafia a conectar-se com os personagens e suas imperfeições.
Reboots de franquias de terror são inevitáveis por sua rentabilidade mas também são arriscados pois mexem com um legado que se estabeleceu na mente dos fãs e que dificilmente pode ser igualado, principalmente em casos como Hellraiser, que possui várias sequências péssimas. Essa nova entrada da franquia é um ótimo filme de terror e uma boa reinvenção, pois tem o cuidado de manter os pilares que consagraram o original. A violência extrema aplicada de forma ritualística pelos Cenobitas, seu visual ao mesmo tempo horrendo e fascinante, além do excelente uso de efeitos para alterar cenários indicando a mudança de dimensão que juntamente com a fotografia e trilha sonora criam uma névoa de maldade e indiferença que beira o terror cósmico. O único ponto que não me agradou muito foi a construção da protagonista, que se apoia em alguns clichês na tentativa de cativar o espectador, creio que um personagem mais cínico e malicioso se encaixaria melhor na história. O filme tem sucesso em criar uma boa história e estabelecer as bases para possíveis sequências.
Tarkovsky dirige com maestria e cria um sonho sufocante, os cenários são paisagens oníricas onde os personagens expressam seus anseios e frustrações em busca da lendária sala. A abundância de elementos simbólicos e ausência de diálogos explicativos são um convite ao espectador para interpretar o filme conforme sua bagagem cultural/social, se expandindo muito além da suposta ficção científica do roteiro. Confesso que toda a temática de fé e natureza humana não me trouxe boas reflexões e tornaram a experiência de assistir bem deprimente. Porém, mesmo não sendo um "passeio no parque", "Stalker" é o tipo de filme que cresce quanto mais você pensa nele e isso é inevitável.
O filme foca nos personagens e nas relações entre eles, com diálogos envolventes e que soam sinceros, algo raro em um drama escrito, dirigido e estrelado pela mesma pessoa. Toda a história nos leva a refletir sobre as origens da complexidade de nossas relações e como tudo seria mais simples se fôssemos sinceros e empáticos. A forma como cada personagem tem seus próprios conflitos torna impossível você não se identificar com algum deles. Difícil também resistir à complicada atração entre Andrew e Domino. O diretor consegue manipular as emoções do espectador do começo ao fim, talvez ocultando as falhas de seu próprio personagem, mas não é isso que todos fazemos na vida real, criando versões idealizadas de nós mesmos?
Todo o roteiro do primeiro filme gira em torno do plot twist, até hoje um dos mais criativos e eficientes para construir o terror no final. Considerando esse aspecto, essa prequela consegue surpreender trazendo algumas surpresas que subvertem a trama do original. Porém após essas surpresas o roteiro não consegue aproveitar a mudança de paradigma para elevar o horror, provavelmente para não ter que lidar com violência infantil, tabu na indústria cinematográfica, mas que tornaria a história muito mais macabra. O filme entretém porém não consegue sair da sombra do suspense criado pelo longa de 2009.
Como de costume o diretor utiliza uma boa dose de humor para brincar com os dogmas dos gêneros de filmes, seja terror ou ficção científica. Em NOPE ele quebra nossas expectativas quanto à necessidade humana de atribuir significados a natureza e o enigma da violência aparentemente gratuita. Impossível não gostar da metalinguagem que o diretor usa para falar sobre cinema em si e a ótima relação entre o microcosmo criado pela genial e aterrorizante cena de introdução com o macrocosmo do grandioso final do filme. O melhor não é o terror ou a ficção científica mas a conexão que criamos com os Haywood em sua bizarra aventura.
O filme é colorido, vibrante e caótico, assim como toda a carreira do cantor foi. A escolha de Parker como narrador, algo questionável pois ele é o mais próximo de um vilão que há na história, é efetiva pois não estamos vendo um filme sobre a vida pessoal de Elvis, mas sim sua estrondosa carreira e todos os episódios que ajudaram a criar a mitologia que cercam sua figura. Essa abordagem moderna inclusive com versões de suas canções atualizadas dá mais dinamismo a uma cinebiografia que com quase três horas de duração poderia ser monótona. A atuação de Austin Butler é impressionante, assim como o trabalho de maquiagem e figurino que ajudam o ator a personificar uma personalidade tão única como foi Elvis.
Essa nova aventura traz uma merecida renovação à franquia do Predador. A escolha de ambientar a história no século XVIII faz a presença do Predador com suas armas complexas ainda mais ameaçadora, além disso temos uma infinidade de predadores naturais e até mesmo colonizadores, estabelecendo toda uma hierarquia de poder onde a força física não significa nada diante da tecnologia e inteligência, a jornada da protagonista é superar essa hierarquia. A fotografia e as caracterizações mostram o cuidado com os detalhes que fazem desse filme o melhor desde o original de 1987.
Uma leitura superficial do filme nos permite analisar relacionamentos abusivos e estresse pós traumático. Mas a história é recheada de pequenos detalhes que aumentam o escopo dessa análise. O diretor usa dois elementos culturais geralmente retratados em esculturas: o homem verde (criatura humanoide com a face coberta de folhas e galhos) e a "sheela na gig" (uma mulher mostrando a vulva) esses elementos nos fazem pensar sobre a origem primitiva da misoginia e como são símbolos ambíguos e misteriosos conseguem fazer com que a mensagem seja única para cada espectador. A atmosfera inicialmente calma do filme e a trilha sonora inquietante tornam o horror final muito semelhante a um lento pesadelo, com cenas chocantes e surreais em câmera lenta que me deixaram boquiaberto.
James Wan usa diversos estilos de terror, seja no design inicial da assombração, que nos remete ao J-horror, ou o hospital que parece ter saído de um filme do Drácula, para criar um slasher/casa assombrada/ficção científica. O filme é tenso e envolvente, mas exige que o espectador considere que a lógica da nossa realidade não se aplica ao roteiro. Algumas passagens são tão absurdas que se tornam cômicas e obviamente essa era a intenção do diretor. Maligno é um ótimo exemplo de como manter-se fiel ao gênero terror sem deixar que suas regras limitem a criatividade.
Na contramão de filmes futuristas cheios de neon e efeitos visuais deslumbrantes, Cronenberg apresenta um futuro sombrio, personagens intrigantes, uma reflexão sobre o significado de ser humano, como nossas características biológicas norteiam nossa moral e qual seriam as implicações se elas fossem alteradas. O diretor mistura tão bem o horror com o desejo sexual impróprio dos personagens que achei que o filme mais instiga do que choca, porém talvez eu não seja o melhor exemplo para julgar o impacto do gore na audiência. Algumas pontas são deixadas soltas mas dão margem para nossa imaginação mergulhar nesse tenebroso futuro. Criativo e com ótimas atuações, Crimes do Futuro marca com sucesso o retorno de Cronenberg à sua obsessão: o terror corporal.
O único herói sobre o qual eu ainda tinha algum interesse, principalmente porque poderia render histórias criativas, esse filme traz mais do mesmo, uma prova de que a grande máquina de filmes da Marvel deixa pouco espaço para seus diretores de expressarem. Claro que temos elementos de terror e cenas que demonstram bem o estilo de Sam Raimi, que são as únicas coisas boas do filme, porém esses toques autorais só se limitam à forma e não ao conteúdo. Sempre temos os mesmos roteiros, chegamos a um ponto onde os novos filmes funcionam como uma extensão dos outros filmes e séries, se justificando somente pelo seu lugar como mais uma obra a ser obrigatoriamente consumida e não uma nova história que mereça ser contada.
Um filme cujo único propósito é se encaixar entre Halloween (2018) e Halloween Ends (2022), montando uma trilogia rentável. A história é péssima, os personagens principais são deixados de lado para o andamento de uma trama sobre o impacto que os crimes de Myers causaram aos moradores de Haddonfield. Essa trama poderia ser interessante se não fosse tão mal conduzida. Os diálogos são ridículos e os acontecimentos desconexos. Triste ver essa péssima sequência do excelente Halloween de 2018, parece que estamos diante de uma comédia de baixo orçamento com ocasionais cenas de assassinato brutais. Só nos resta ter a esperança de que esse filme seja somente o resultado da ganância do estúdio e que Halloween Ends seja um bom filme.
Uma reinvenção do desenho de 1989, essa nova aventura de Tico e Teco é surpreendentemente boa. Um simples remake em forma de aventura dificilmente agradaria aos fãs que assistiram durante a infância, pois o fator nostalgia não seria o suficiente. O roteiro utiliza a própria fama e o show antigo como parte da história, misturando personagens de todo o universo de animações de diversos autores e entregando uma aventura satisfatória ao mesmo tempo em que faz piada com a própria indústria da animação. O humor ousado e a inteligente mistura de animação e live-action são inspirados por "Uma Cilada para Roger Rabbit" isso traz personagens mais realistas e cativantes ao público adulto.
Nenhuma sinopse faz jus à obra de Daniel Kwan e Daniel Scheinert, a dupla que anos atrás dirigiu o clipe bizarro da música "Turn Down for What" e em 2016 estreou com o incômodo e cativante longa "Um Cadáver para Sobreviver". Nesse filme o título se aproxima mais de uma descrição perfeita do conteúdo, que traz um pouco de comédia, ação, drama e ficção científica em um raro caso onde tudo se encaixa perfeitamente. Michelle Yeoh mostra todo seu talento ao se destacar em todos os segmentos do filme, dando vida a uma personagem com a qual é impossível não se identificar. Os diretores aproveitam o tema multiverso para entregar-se aos excessos, recheando o filme com cenas surreais e absolutamente satisfatórias. Todo o exagero é bem justificado pois dá a amplitude necessária ao desenvolvimento da história. Talvez o mais genial do filme seja a forma como o conceito da infinitude do universo é usado para refletir sobre a importância da existência de um significado para a vida. Transformando uma gigantesca aventura interdimensional em uma experiência íntima e subjetiva.
Um documentário sobre cinema, a gênese do pensamento criativo e uma provocação aos realizadores de filmes, em forma do convite à desconstrução e transmutação de "The Perfect Human", um trabalho consagrado e querido pelo diretor. Se dirigir um filme é brincar de deus, Lars desempenha o papel do diabo, tentando a todo custo fazer que Jørgen desista, submetendo-o cada vez mais a perda do controle criativo. Essa dinâmica entre os diretores é divertida e sustenta o documentário.
Verhoeven encontrou aqui uma história perfeita para sua abordagem, usando a combinação de violência e sexo, ele cria um perfeito retrato do passado primitivo da igreja. O jeito como o roteiro evita mostrar Benedetta completamente como santa ou como uma fraude torna a história mais instigante, principalmente para religiosos que serão confrontados com todos os absurdos da igreja, seja tortura, os flagelantes da peste negra e a óbvia ignorância e ingenuidade dos personagens. A história tem um desfecho épico que é liberdade criativa de Verhoeven com a realidade, mas que funciona muito bem para criar um clímax. Uma história interessante que lança luz sobre uma instituição que ainda hoje tem infame influência sobre seus membros.
O filme se aventura por vários territórios. O terror é apresentado nas alucinações de Jacob e são menos efetivas quando se tornam mais explícitas e menos relevantes para a história. O drama psicológico é mostrado na guerra do Vietnã e no possível estresse pós traumático que daria sentido aos pesadelos que ameaçam a sanidade de Jacob. Temos ainda uma conspiração militar que seria melhor aproveitada em um filme de ação, que destoa do resto do filme. Apesar de considerar o choque que o público pode ter sentido no lançamento em 1990, o diretor não consegue desenvolver bem a história em nenhum dos rumos que citei anteriormente. Os diálogos são ridículos, a edição é péssima e sacrifica a lógica do roteiro para apresentar frequentes momentos de clímax de terror. O que poderia ser uma ótima história se torna um melodrama com lições ridículas sobre divórcio e relações familiares.
É empolgante ver uma adaptação de Agatha Christie com um grande orçamento e elenco, porém o filme não me agradou, apesar de ser divertido, perde muito quando comparado ao livro em que foi baseado, escrito em 1937. O livro transmite a experiência surreal de ir ao Egito, que nos anos 30 era algo como viajar para outro mundo, no filme o CGI é bem artificial, não convence em nenhum minuto, assim como várias cenas musicais coreografadas onde a intenção deve ser nos situar no passado, porém fica parecendo um musical exibido em um palco. Branagh tenta expandir a história mostrando o passado de Poirot e criando pequenos detalhes para atrair a atenção de um novo público mas acaba perdendo o mistério como protagonista da história.
Lanthimos cria situações absurdas para fazer o público refletir sobre questões existenciais. Em Alpes, além da dificuldade de lidar com o luto, onde os personagens buscam uma falsa normalidade emulando situações com os "imitadores", ele também mostra o vazio que a falta de interações autênticas causa nos personagens, principalmente na enfermeira. A maior dificuldade no entanto é estabelecer bem seus personagens, deixando o espectador perdido em meio a fragmentos da vida dos coadjuvantes falecidos. Ainda que intencional, devido ao estilo surreal do filme, essa falta de história prévia dos personagens prejudica o entendimento de motivações e do final. Porém não deixa de ser uma ótima premissa de Lanthimos, nos questionando se é possível simular relações humanas ou se o desespero pela falta delas nos fariam aceitar meras sombras da realidade.
O filme possui todos os elementos de um épico de ação competente e bem construído. Paisagens impressionantes, batalhas sangrentas, atenção aos detalhes nos cenários e figurinos, além de um elenco impressionante. O que diferencia "O Homem do Norte" é uma narrativa onde o protagonista não é glorificado, seu povo é representado como assassinos cruéis que acumulam riquezas pilhadas. O medalhão que Amleth ganha de seu pai e que se torna símbolo da lembrança do mesmo, tem origem no assassinato de uma criança. O monólogo da mãe de Amleth também mostra essa negação de nortear a história pela moral atual, vemos uma mulher disposta a qualquer coisa para sobreviver. Não há heróis ou vilões bem definidos, buscando apelar ao nosso senso de justiça, apenas o desejo de vingança que consome o protagonista. O uso do sobrenatural também busca construir a experiência de viver naquele determinado cenário, onde os rituais, deuses e feiticeiros eram parte do cotidiano. A linha entre o que é real e sobrenatural é tênue porém existe e apresentar a fé como produto da experiência humana mostra um povo mais real, supersticioso, focados na suposta glória da batalha e obcecados pela predestinação. Essa predestinação nos conduz, imersos na atmosfera criada por Eggers, ao final épico em todos os sentidos, com sangue, aço e fogo.
Apesar de ser considerado uma distopia futurista o filme apresenta temas que eram atuais em 2006 no seu lançamento e que só se intensificaram nos últimos anos. A criminalização dos imigrantes, o conflito entre governo e grupos terroristas, tudo é mostrado com muito realismo e toda a história do que aconteceu é apresentada por diálogos entre os personagens, sem quebrar o clima tenso da trama. A fotografia e a trilha sonora contribuem para o realismo desesperançoso do filme, onde nem o acontecimento mais fantástico é capaz de frear a guerra e um final nebuloso onde a esperança depende do espectador.
Um olhar surpreendente sobre a "Joint Security Area", o único local da fronteira entre Coréia do Sul e do Norte onde as forças militares estão frente a frente, em constante vigilância. O design de produção é incrível e recriou com detalhes as instalações e até mesmo a "Ponte sem Retorno" como ficou conhecida a ponte por onde os prisioneiros de guerra voltaram à Coréia do Norte sob a condição de nunca retornar. O roteiro tenta focar nos desdobramentos da investigação de Sophie, porém seus melhores momentos são os flashbacks que acompanham uma improvável amizade proibida entre soldados de lados opostos da fronteira que desencadeiam uma sequência trágica onde o espectador sofre por saber antecipadamente o desfecho. Park ainda estava no início de sua carreira, mas já podemos ver seu interesse em mostrar a violência como algo extrínseco ao ser humano, produto de uma reação desencadeada por fatores externos. Ao exibir sem filtros as consequências da violência ele nos leva a questionar se os motivos que levaram a ela são justificáveis. "Zona de Risco" é como uma jóia bruta de Park e a técnica do diretor só melhorou com o tempo, como podemos ver no absolutamente impecável "A Criada" de 2016.
Não Fale o Mal
3.6 678A tensão se forma principalmente na cabeça do espectador, pois o filme expõe situações desconfortáveis com uma trilha sonora enervante que nos faz querer fugir e deixar até os protagonistas para trás.
Como todo terror ele segue sua lógica particular e após o clímax do filme assistimos uma coreografia em câmera lenta criada especificamente para nos chocar.
Podemos fazer reflexões sobre misantropia, motivações por trás de atos de violência gratuita ou se ousarmos o suficiente relacionar o conteúdo à passagens bíblicas. Porém independente da análise posterior, o filme entretém e pode facilmente traumatizar quem não estiver preparado.
Decisão de Partir
3.6 143A narrativa do filme é um labirinto cheio de sinais conflitantes e frequentemente ficamos perdidos enquanto somos seduzidos por uma história de amor improvável e assistimos à oscilação de Seo-rae entre o status de culpada/inocente e as consequências que isso traz ao tortuoso relacionamento entre o investigador e a suspeita.
Embora pareça ser mais contido do que os filmes anteriores do diretor, os personagens são levados à extremos ao sondar as origens da atração sentida por ambos.
Não que Park precise, mas ele se prova como um dos maiores diretores da atualidade ao criar uma obra que mistura perfeitamente gêneros conflitantes e que nos desafia a conectar-se com os personagens e suas imperfeições.
Hellraiser
3.2 406 Assista AgoraReboots de franquias de terror são inevitáveis por sua rentabilidade mas também são arriscados pois mexem com um legado que se estabeleceu na mente dos fãs e que dificilmente pode ser igualado, principalmente em casos como Hellraiser, que possui várias sequências péssimas.
Essa nova entrada da franquia é um ótimo filme de terror e uma boa reinvenção, pois tem o cuidado de manter os pilares que consagraram o original.
A violência extrema aplicada de forma ritualística pelos Cenobitas, seu visual ao mesmo tempo horrendo e fascinante, além do excelente uso de efeitos para alterar cenários indicando a mudança de dimensão que juntamente com a fotografia e trilha sonora criam uma névoa de maldade e indiferença que beira o terror cósmico.
O único ponto que não me agradou muito foi a construção da protagonista, que se apoia em alguns clichês na tentativa de cativar o espectador, creio que um personagem mais cínico e malicioso se encaixaria melhor na história.
O filme tem sucesso em criar uma boa história e estabelecer as bases para possíveis sequências.
Stalker
4.3 504 Assista AgoraTarkovsky dirige com maestria e cria um sonho sufocante, os cenários são paisagens oníricas onde os personagens expressam seus anseios e frustrações em busca da lendária sala.
A abundância de elementos simbólicos e ausência de diálogos explicativos são um convite ao espectador para interpretar o filme conforme sua bagagem cultural/social, se expandindo muito além da suposta ficção científica do roteiro.
Confesso que toda a temática de fé e natureza humana não me trouxe boas reflexões e tornaram a experiência de assistir bem deprimente.
Porém, mesmo não sendo um "passeio no parque", "Stalker" é o tipo de filme que cresce quanto mais você pensa nele e isso é inevitável.
Cha Cha Real Smooth - O Próximo Passo
3.8 75 Assista AgoraO filme foca nos personagens e nas relações entre eles, com diálogos envolventes e que soam sinceros, algo raro em um drama escrito, dirigido e estrelado pela mesma pessoa.
Toda a história nos leva a refletir sobre as origens da complexidade de nossas relações e como tudo seria mais simples se fôssemos sinceros e empáticos.
A forma como cada personagem tem seus próprios conflitos torna impossível você não se identificar com algum deles.
Difícil também resistir à complicada atração entre Andrew e Domino.
O diretor consegue manipular as emoções do espectador do começo ao fim, talvez ocultando as falhas de seu próprio personagem, mas não é isso que todos fazemos na vida real, criando versões idealizadas de nós mesmos?
Órfã 2: A Origem
2.7 773 Assista AgoraTodo o roteiro do primeiro filme gira em torno do plot twist, até hoje um dos mais criativos e eficientes para construir o terror no final. Considerando esse aspecto, essa prequela consegue surpreender trazendo algumas surpresas que subvertem a trama do original.
Porém após essas surpresas o roteiro não consegue aproveitar a mudança de paradigma para elevar o horror, provavelmente para não ter que lidar com violência infantil, tabu na indústria cinematográfica, mas que tornaria a história muito mais macabra.
O filme entretém porém não consegue sair da sombra do suspense criado pelo longa de 2009.
Não! Não Olhe!
3.5 1,3K Assista AgoraComo de costume o diretor utiliza uma boa dose de humor para brincar com os dogmas dos gêneros de filmes, seja terror ou ficção científica.
Em NOPE ele quebra nossas expectativas quanto à necessidade humana de atribuir significados a natureza e o enigma da violência aparentemente gratuita.
Impossível não gostar da metalinguagem que o diretor usa para falar sobre cinema em si e a ótima relação entre o microcosmo criado pela genial e aterrorizante cena de introdução com o macrocosmo do grandioso final do filme.
O melhor não é o terror ou a ficção científica mas a conexão que criamos com os Haywood em sua bizarra aventura.
Elvis
3.8 759O filme é colorido, vibrante e caótico, assim como toda a carreira do cantor foi.
A escolha de Parker como narrador, algo questionável pois ele é o mais próximo de um vilão que há na história, é efetiva pois não estamos vendo um filme sobre a vida pessoal de Elvis, mas sim sua estrondosa carreira e todos os episódios que ajudaram a criar a mitologia que cercam sua figura.
Essa abordagem moderna inclusive com versões de suas canções atualizadas dá mais dinamismo a uma cinebiografia que com quase três horas de duração poderia ser monótona.
A atuação de Austin Butler é impressionante, assim como o trabalho de maquiagem e figurino que ajudam o ator a personificar uma personalidade tão única como foi Elvis.
O Predador: A Caçada
3.6 663Essa nova aventura traz uma merecida renovação à franquia do Predador.
A escolha de ambientar a história no século XVIII faz a presença do Predador com suas armas complexas ainda mais ameaçadora, além disso temos uma infinidade de predadores naturais e até mesmo colonizadores, estabelecendo toda uma hierarquia de poder onde a força física não significa nada diante da tecnologia e inteligência, a jornada da protagonista é superar essa hierarquia.
A fotografia e as caracterizações mostram o cuidado com os detalhes que fazem desse filme o melhor desde o original de 1987.
Men: Faces do Medo
3.2 405 Assista AgoraUma leitura superficial do filme nos permite analisar relacionamentos abusivos e estresse pós traumático.
Mas a história é recheada de pequenos detalhes que aumentam o escopo dessa análise. O diretor usa dois elementos culturais geralmente retratados em esculturas: o homem verde (criatura humanoide com a face coberta de folhas e galhos) e a "sheela na gig" (uma mulher mostrando a vulva) esses elementos nos fazem pensar sobre a origem primitiva da misoginia e como são símbolos ambíguos e misteriosos conseguem fazer com que a mensagem seja única para cada espectador.
A atmosfera inicialmente calma do filme e a trilha sonora inquietante tornam o horror final muito semelhante a um lento pesadelo, com cenas chocantes e surreais em câmera lenta que me deixaram boquiaberto.
Maligno
3.3 1,2KJames Wan usa diversos estilos de terror, seja no design inicial da assombração, que nos remete ao J-horror, ou o hospital que parece ter saído de um filme do Drácula, para criar um slasher/casa assombrada/ficção científica.
O filme é tenso e envolvente, mas exige que o espectador considere que a lógica da nossa realidade não se aplica ao roteiro. Algumas passagens são tão absurdas que se tornam cômicas e obviamente essa era a intenção do diretor.
Maligno é um ótimo exemplo de como manter-se fiel ao gênero terror sem deixar que suas regras limitem a criatividade.
Crimes do Futuro
3.2 263 Assista AgoraNa contramão de filmes futuristas cheios de neon e efeitos visuais deslumbrantes, Cronenberg apresenta um futuro sombrio, personagens intrigantes, uma reflexão sobre o significado de ser humano, como nossas características biológicas norteiam nossa moral e qual seriam as implicações se elas fossem alteradas.
O diretor mistura tão bem o horror com o desejo sexual impróprio dos personagens que achei que o filme mais instiga do que choca, porém talvez eu não seja o melhor exemplo para julgar o impacto do gore na audiência.
Algumas pontas são deixadas soltas mas dão margem para nossa imaginação mergulhar nesse tenebroso futuro.
Criativo e com ótimas atuações, Crimes do Futuro marca com sucesso o retorno de Cronenberg à sua obsessão: o terror corporal.
Doutor Estranho no Multiverso da Loucura
3.5 1,2K Assista AgoraO único herói sobre o qual eu ainda tinha algum interesse, principalmente porque poderia render histórias criativas, esse filme traz mais do mesmo, uma prova de que a grande máquina de filmes da Marvel deixa pouco espaço para seus diretores de expressarem.
Claro que temos elementos de terror e cenas que demonstram bem o estilo de Sam Raimi, que são as únicas coisas boas do filme, porém esses toques autorais só se limitam à forma e não ao conteúdo. Sempre temos os mesmos roteiros, chegamos a um ponto onde os novos filmes funcionam como uma extensão dos outros filmes e séries, se justificando somente pelo seu lugar como mais uma obra a ser obrigatoriamente consumida e não uma nova história que mereça ser contada.
Halloween Kills: O Terror Continua
3.0 683 Assista AgoraUm filme cujo único propósito é se encaixar entre Halloween (2018) e Halloween Ends (2022), montando uma trilogia rentável.
A história é péssima, os personagens principais são deixados de lado para o andamento de uma trama sobre o impacto que os crimes de Myers causaram aos moradores de Haddonfield. Essa trama poderia ser interessante se não fosse tão mal conduzida. Os diálogos são ridículos e os acontecimentos desconexos.
Triste ver essa péssima sequência do excelente Halloween de 2018, parece que estamos diante de uma comédia de baixo orçamento com ocasionais cenas de assassinato brutais.
Só nos resta ter a esperança de que esse filme seja somente o resultado da ganância do estúdio e que Halloween Ends seja um bom filme.
Tico e Teco: Defensores da Lei
3.7 258 Assista AgoraUma reinvenção do desenho de 1989, essa nova aventura de Tico e Teco é surpreendentemente boa.
Um simples remake em forma de aventura dificilmente agradaria aos fãs que assistiram durante a infância, pois o fator nostalgia não seria o suficiente.
O roteiro utiliza a própria fama e o show antigo como parte da história, misturando personagens de todo o universo de animações de diversos autores e entregando uma aventura satisfatória ao mesmo tempo em que faz piada com a própria indústria da animação.
O humor ousado e a inteligente mistura de animação e live-action são inspirados por "Uma Cilada para Roger Rabbit" isso traz personagens mais realistas e cativantes ao público adulto.
Tudo em Todo O Lugar ao Mesmo Tempo
4.0 2,1K Assista AgoraNenhuma sinopse faz jus à obra de Daniel Kwan e Daniel Scheinert, a dupla que anos atrás dirigiu o clipe bizarro da música "Turn Down for What" e em 2016 estreou com o incômodo e cativante longa "Um Cadáver para Sobreviver".
Nesse filme o título se aproxima mais de uma descrição perfeita do conteúdo, que traz um pouco de comédia, ação, drama e ficção científica em um raro caso onde tudo se encaixa perfeitamente.
Michelle Yeoh mostra todo seu talento ao se destacar em todos os segmentos do filme, dando vida a uma personagem com a qual é impossível não se identificar.
Os diretores aproveitam o tema multiverso para entregar-se aos excessos, recheando o filme com cenas surreais e absolutamente satisfatórias. Todo o exagero é bem justificado pois dá a amplitude necessária ao desenvolvimento da história.
Talvez o mais genial do filme seja a forma como o conceito da infinitude do universo é usado para refletir sobre a importância da existência de um significado para a vida. Transformando uma gigantesca aventura interdimensional em uma experiência íntima e subjetiva.
As Cinco Obstruções
3.8 40 Assista AgoraUm documentário sobre cinema, a gênese do pensamento criativo e uma provocação aos realizadores de filmes, em forma do convite à desconstrução e transmutação de "The Perfect Human", um trabalho consagrado e querido pelo diretor.
Se dirigir um filme é brincar de deus, Lars desempenha o papel do diabo, tentando a todo custo fazer que Jørgen desista, submetendo-o cada vez mais a perda do controle criativo. Essa dinâmica entre os diretores é divertida e sustenta o documentário.
Benedetta
3.5 198 Assista AgoraVerhoeven encontrou aqui uma história perfeita para sua abordagem, usando a combinação de violência e sexo, ele cria um perfeito retrato do passado primitivo da igreja.
O jeito como o roteiro evita mostrar Benedetta completamente como santa ou como uma fraude torna a história mais instigante, principalmente para religiosos que serão confrontados com todos os absurdos da igreja, seja tortura, os flagelantes da peste negra e a óbvia ignorância e ingenuidade dos personagens.
A história tem um desfecho épico que é liberdade criativa de Verhoeven com a realidade, mas que funciona muito bem para criar um clímax.
Uma história interessante que lança luz sobre uma instituição que ainda hoje tem infame influência sobre seus membros.
Alucinações do Passado
3.9 257O filme se aventura por vários territórios.
O terror é apresentado nas alucinações de Jacob e são menos efetivas quando se tornam mais explícitas e menos relevantes para a história.
O drama psicológico é mostrado na guerra do Vietnã e no possível estresse pós traumático que daria sentido aos pesadelos que ameaçam a sanidade de Jacob.
Temos ainda uma conspiração militar que seria melhor aproveitada em um filme de ação, que destoa do resto do filme.
Apesar de considerar o choque que o público pode ter sentido no lançamento em 1990, o diretor não consegue desenvolver bem a história em nenhum dos rumos que citei anteriormente. Os diálogos são ridículos, a edição é péssima e sacrifica a lógica do roteiro para apresentar frequentes momentos de clímax de terror.
O que poderia ser uma ótima história se torna um melodrama com lições ridículas sobre divórcio e relações familiares.
Morte no Nilo
3.1 353 Assista AgoraÉ empolgante ver uma adaptação de Agatha Christie com um grande orçamento e elenco, porém o filme não me agradou, apesar de ser divertido, perde muito quando comparado ao livro em que foi baseado, escrito em 1937.
O livro transmite a experiência surreal de ir ao Egito, que nos anos 30 era algo como viajar para outro mundo, no filme o CGI é bem artificial, não convence em nenhum minuto, assim como várias cenas musicais coreografadas onde a intenção deve ser nos situar no passado, porém fica parecendo um musical exibido em um palco.
Branagh tenta expandir a história mostrando o passado de Poirot e criando pequenos detalhes para atrair a atenção de um novo público mas acaba perdendo o mistério como protagonista da história.
Alpes
3.5 89 Assista AgoraLanthimos cria situações absurdas para fazer o público refletir sobre questões existenciais. Em Alpes, além da dificuldade de lidar com o luto, onde os personagens buscam uma falsa normalidade emulando situações com os "imitadores", ele também mostra o vazio que a falta de interações autênticas causa nos personagens, principalmente na enfermeira.
A maior dificuldade no entanto é estabelecer bem seus personagens, deixando o espectador perdido em meio a fragmentos da vida dos coadjuvantes falecidos. Ainda que intencional, devido ao estilo surreal do filme, essa falta de história prévia dos personagens prejudica o entendimento de motivações e do final.
Porém não deixa de ser uma ótima premissa de Lanthimos, nos questionando se é possível simular relações humanas ou se o desespero pela falta delas nos fariam aceitar meras sombras da realidade.
O Homem do Norte
3.7 945 Assista AgoraO filme possui todos os elementos de um épico de ação competente e bem construído. Paisagens impressionantes, batalhas sangrentas, atenção aos detalhes nos cenários e figurinos, além de um elenco impressionante.
O que diferencia "O Homem do Norte" é uma narrativa onde o protagonista não é glorificado, seu povo é representado como assassinos cruéis que acumulam riquezas pilhadas. O medalhão que Amleth ganha de seu pai e que se torna símbolo da lembrança do mesmo, tem origem no assassinato de uma criança. O monólogo da mãe de Amleth também mostra essa negação de nortear a história pela moral atual, vemos uma mulher disposta a qualquer coisa para sobreviver. Não há heróis ou vilões bem definidos, buscando apelar ao nosso senso de justiça, apenas o desejo de vingança que consome o protagonista.
O uso do sobrenatural também busca construir a experiência de viver naquele determinado cenário, onde os rituais, deuses e feiticeiros eram parte do cotidiano. A linha entre o que é real e sobrenatural é tênue porém existe e apresentar a fé como produto da experiência humana mostra um povo mais real, supersticioso, focados na suposta glória da batalha e obcecados pela predestinação.
Essa predestinação nos conduz, imersos na atmosfera criada por Eggers, ao final épico em todos os sentidos, com sangue, aço e fogo.
Filhos da Esperança
3.9 940 Assista AgoraApesar de ser considerado uma distopia futurista o filme apresenta temas que eram atuais em 2006 no seu lançamento e que só se intensificaram nos últimos anos.
A criminalização dos imigrantes, o conflito entre governo e grupos terroristas, tudo é mostrado com muito realismo e toda a história do que aconteceu é apresentada por diálogos entre os personagens, sem quebrar o clima tenso da trama.
A fotografia e a trilha sonora contribuem para o realismo desesperançoso do filme, onde nem o acontecimento mais fantástico é capaz de frear a guerra e um final nebuloso onde a esperança depende do espectador.
Zona de Risco
4.1 82 Assista AgoraUm olhar surpreendente sobre a "Joint Security Area", o único local da fronteira entre Coréia do Sul e do Norte onde as forças militares estão frente a frente, em constante vigilância.
O design de produção é incrível e recriou com detalhes as instalações e até mesmo a "Ponte sem Retorno" como ficou conhecida a ponte por onde os prisioneiros de guerra voltaram à Coréia do Norte sob a condição de nunca retornar.
O roteiro tenta focar nos desdobramentos da investigação de Sophie, porém seus melhores momentos são os flashbacks que acompanham uma improvável amizade proibida entre soldados de lados opostos da fronteira que desencadeiam uma sequência trágica onde o espectador sofre por saber antecipadamente o desfecho.
Park ainda estava no início de sua carreira, mas já podemos ver seu interesse em mostrar a violência como algo extrínseco ao ser humano, produto de uma reação desencadeada por fatores externos. Ao exibir sem filtros as consequências da violência ele nos leva a questionar se os motivos que levaram a ela são justificáveis.
"Zona de Risco" é como uma jóia bruta de Park e a técnica do diretor só melhorou com o tempo, como podemos ver no absolutamente impecável "A Criada" de 2016.