Não entendi nada disso aí, não entendo essa nota alta pra tanta indulgência que não consegue trabalhar a favor de uma história interessantíssima - que na verdade faz tudo ao contrário.
Não precisava reinventar a roda do jeito que O Talentoso Mr Ripley fez contrapondo a psicopatia clínica do Plein Soleil (e claro que a atuação legendária do Alain Delon) mas com um material tão cheio e com tanta complexidade, porque que escolheu ser tão medíocre? Gente, o quê que foi a falta de cor que em 95% dos frames não fazia o menor sentido! Eu não conseguia ignorar o quanto os planos e a produção se beneficiaria se fosse em cor, no fim deixou tudo plano demais... E pra quê? Aonde que adicionou na história? Só foi tirando, tudo sempre menos... Faltou profundidade em absolutamente todos os personagens, faltou carisma em todo mundo ali (salvo talvez o inspetor e a dona do prédio) e tanto material que ficou fora de 8 horas de história que eu não consigo fazer sentido das escolhas técnicas quando há tanto dinheiro envolvido e tanta liberdade criativa. Vai falar que não seria uma série melhor se não mostrasse o privilégio de uma forma sedutora ao invés de blasé? Trazer o espectador assim como o Tom para dentro daquele mundinho seleto de um jeito tão atraente que depois de você ter um gosto você não quer perder mais, mosquinha na teia/mariposa na chama mesmo. Faltou o aspecto negativo dos crimes do Tom, a paranóia que sempre vai existir ali nas costas e aquele lado solitário de que ele nunca vai poder se conectar com ninguém... Mas no fim quem que se importa se o Tom da série vai se sentir feliz ou se sentir finalmente valorizado, nada ali tem valor. Um casting extremamente duvidoso do Freddie Miles que pelo amor de Deus, um segundo e não tive dúvidas de que era nepo-baby (claro que fui olhar e dito e feito). As diferenças de idade gritante entre o triângulo principal Tom-Dickie-Marge, a falta de paixão e de vontade de quase todos ali, todo mundo sempre tão apático que fica difícil a gente ter que se importar mais do que os próprios personagens envolvidos na trama. Foi criminoso ter essas locações maravilhosas na Itália assim como a quantidade de arte resumida aos tons de cinza que até o pobre Caravaggio teve sua obra empobrecida. Tanta coisa que quanto mais eu penso mais me irrita. Nem preciso falar dos furos de roteiro, pessoal aqui embaixo já apontou vários... Não gosto de falar só mal, então vai o mérito de que nada ali é péssimo que você não quer assistir mais, tudo no limite entre passável e ligeiramente irritante. Nada maravilhoso e nada horrível. Gostei das duas cenas pós-assassinato, acho que foi o único diferencial que trouxeram do material da Patricia Highsmith. Se pelo menos tivessem trazido o mesmo humor pro restante dos episódios...
Falam que você nunca pode julgar uma obra pelo o que ela poderia ter sido e sim pelo o que ela é, mas fica bem difícil quando além do seu potencial jogado fora você ainda tem dois filmes de peso antecedendo-a... Tudo abaixo do esperado, e pior – por escolha própria.
Esse último episódio não poderia ter fechado melhor! Bem difícil encontrar uma série de TV que chega na sexta temporada mantendo seu nível de qualidade intacto - sempre lá em cima! 37 episódios e quando você acha que eles não podem te surpreender mais eles ainda dão um jeito. A criatividade enorme e a escrita constantemente boa é mais que o suficiente para que até o seu pior episódio seja melhor que qualquer coisa na TV!
Super animado com a série e a equipe técnica, mas que o NPH foi uma decepção, isso foi. Às vezes em penso se não seria melhor fazerem a série em animação, acho que combinaria mais. Especialmente se pegassem o traço do Sylvain Chomet com uma paleta de cores que mudassem de desventura pra desventura. Sem contar que muitas das ações e lugares dos livros tem um descuidado em ser realista (é o charme absurdo e surreal dele), especialmente quando envolve Sunny e seus dentes.
Decepcionante, foi um sacrifício acabar a série. Não sei porquê não deixaram Heroes quieto, de verdade. Efeitos toscos, roteiro ruim, mal atuado, inconsistente, não entretém... Não consigo pensar em nenhum ponto positivo nessa vergonha alheia de 13 episódios, só assisti até o fim pelo meu carinho com a 1a temporada de Heroes e meu comprometimento de ir até o final quando eu começo uma série. Se você não começou Heroes Reborn, fuja enquanto dá tempo.
Empatia e Natureza Humana na sua forma mais crua. Enquanto eu assistia Dekalog eu ficava pensando: "Eu deveria ter visto isso há anos, porque eu não fiz isso..?" Vejam pra ontem. De qualquer forma... Apenas recomendar essa série (Série? Obra devastadora e apaixonante que não vai te largar tão cedo é mais apropriado...) não é o suficiente para que todo mundo veja. Eu honestamente não sei porque ela não é tão falada e discutida da maneira que ela merece. Tem uns gatos pingados como Kubrick e Roger Ebert que falaram abertamente do carinho pelo Dekalog, mas parece que nem isso foi suficiente. Talvez um lançamento em DVD? Já tendo visto a Trilogia das Cores diversas vezes e A Dupla Vida De Véronique eu achava, na minha ignorância, que não ia me impressionar tanto com o que Kieslówski faz por essas 10 horas. Maravilhoso erro meu, pois é sempre um tesão quando vemos um filme e nos sentimos cativados e surpreendidos num nível primário. Minha dificuldade de falar sobre ela num todo talvez mostre como Dekalog é especial. A questão é que é tão grande nossa identificação com aqueles personagens que não é fácil julgá-los. Os dilemas morais são universais, a religião fica em segundo plano (até porque os 10 mandamentos de Deus não são mais do que leis básicas da vida social) e pelo roteiro ser tão extraordinário não sabemos - junto com quem vemos - o que virá a seguir. Nada nos episódios é convencional, a releitura e quebra das leis de Deus são postas em situações reais com personagens que transcendem o imaginário e se transformam em você mesmo (ou seria o contrário?). Dificilmente um diretor consegue transpor na tela algo que diz tanto a tantas pessoas. Só por isso Dekalog se torna praticamente obrigatório a qualquer ser humano pensante. Tendo em vista que são 10 episódios independentes segue minha opinião pessoal para cada um:
I - Talvez meu favorito. É o que possui as cenas mais marcantes e o final mais triste. Chorei como um bebê, fiquei completamente arrasado e me senti tão esgotado que não consegui ver o segundo episódio em seguida. Você sabe de certa forma o que vai acontecer, mas não sabemos como o Pai vai lidar com isso. Não é um nenhum momento um ataque na ciência como pode parecer. É apenas uma consequência da prepotência humana. II - Fins que justificam os meios; um juramento falso visando o melhor ao próximo. Literalmente o próximo, pensando que ambos personagens são vizinhos, a gentileza do médico e a forma como alguém que perdeu a família inteira salva outra me trouxe um sorriso no rosto. III - Noite de natal. Com Ewa eu fiquei pensando na quantidade de solitários no mundo buscando uma companhia até as 7 da manhã. O tom melancólico e as descobertas durante o episódio me deixou instigado, especialmente por serem dois ex-amantes na procura. IV - Ok, esse pode ser extremamente desconfortável de se ver. Não devo ser o único que não se importava com a veracidade da carta, e toda a discussão do Pai e da Filha foi tão inortodoxo e de uma honestidade tão grande que eu tive que reavaliar certos receios e julgamentos da minha parte. Freud teria aprovado, hahaha... V - O único com claramente uma posição moral, talvez seja o mais diferente do resto (até mais que o último). A longa cena do crime foi extremamente bem realizada, e achei bem fora do comum, corajoso na verdade, não terem colocado um motivo por trás do assassinato. Dos assassinatos na verdade, violento e ilógico, eu como o Advogado também abomino. VI - A naturalidade com que os papéis se revertem entre o Jovem e a Mulher e a proximidade entre amor e obsessão é interessantíssimo. Alguém que acreditava que amor era sexo se encontra buscando algo puro como o ato de reconfortar alguém. A cena do corredor em que o Jovem diz não saber o que quer merece especial atenção. Um olhar simpatizante aos platônicos de plantão. VII - Ainda não sei o que pensar sobre quem roubou quem ali. Apesar da Mãe/Avó ser horrível com sua filha, achei que ela deveria ficar com a menina. A Mãe/Irmã estava num estado de desespero e falta de carinho de tal forma que não a julgo por tentar encontrar amor raptando a menina. No fim eu só queria que aquela situação trouxesse o melhor de todos e que a Mãe/Avó fosse melhor com sua filha. Infelizmente... VIII - Nada, nenhum ideal seja ele religioso como acreditava ou político como se revela, vale a vida de uma criança. Achei esse episódio o mais sutil de todos, o que não o torna menos válido. A dilema no caso não é presente por ações, e sim está feito no passado - talvez por isso seja o mais calmo de todos. A cena do Homem Borracha e da Professora foi de uma beleza que me deixou com aquele amor e positividade pela vida. IX - A frustração e amor que o casal sente é palpável. Ele a ama para querer vê-la feliz e a ama para não querer vê-la com outro. Esse paradoxo do sentimento os obriga a tomar uma posição do que fazer, e eu fiquei genuinamente torcendo para que qualquer decisão que fosse feita os deixassem juntos. Talvez a inspiração de Ondas do Destino de Lars Von Trier assim como o quinto episódio foi de Dançando no Escuro. X - O único que possui uma bem vinda comicidade, esse episódio mostra bem o quanto o valor de algo é mutável pra cada um. O sentimento infantil que ambos irmãos sentem ao colecionar os selos e a buscar a coleção completa começa a valer mais do que o dinheiro que era primeiramente sua motivação. Chegando a tomar proporções risíveis como um rim por um selo, o roubo não me deixou frustrado pelos irmãos, mas porque eu também queria ver a coleção completa.
Pontos especiais na questão da fotografia que mudava a cada episódio, o leite que tem uma participação em quase todos os episódios de um jeito diferente e, acima de tudo, ao "Vigilante" que está presente durante a série e que me arrepiava toda vez que ele encarava a câmera olhando diretamente para nós. De verdade, eu ficava arrepiado toda a vez que ele aparecia e eu nem sei dizer o porquê.
Foi um prazer imenso ter visto. Certeza que Dekalog inspirou muitos cineastas e outros filmes depois; cenas e ideias que só quem viu vai notar. Ficou grande o comentário mas é que, depois de dias tendo visto e pensando a respeito, eu precisava botar pra fora.
Uma série fantástica do começo ao fim que teve a habilidade de captar nos seus últimos minutos a essência de toda sua trama, sua discussão existencial e a eterna busca de seus personagens durante 92 episódios. O que dizer sobre Mad Men quando cada cena, seja em qualquer episódio, revela seu propósito por sutilezas que não são tão fáceis de exemplificar como em um pitching de um anúncio publicitário. Quem somos, o que queremos, aonde estamos..? Pela jornada de Don Draper, Matthew Weiner (extremamente detalhista na verossimilhança da arte e trilha de MM) cria uma década inteira de constantes mudanças com personagens de gerações diferentes, costumes e pensamentos que conflitam e uma ambientação palpável com tanta perfeição que só tal construção já é um motivo para se ver com prazer. Mas isso não é o coração da obra. Um dos motivos de eu não recomendar para tanta pessoas é que o realismo das ações de seus personagens pode trazer um afastamento ou a impressão de frieza em quem assiste sem um olhar atento. Ambiente profissional. Pensamento machista. Preconceito e ignorância sem consequências morais. Mad Men nunca perdeu sua personalidade e charme para agradar o público do século XXI. Se pensarmos a respeito, eles fizeram tudo ao contrário do que uma produção hoje em dia busca: O politicamente correto com ritmo acelerado e personagens que se identifiquem com tudo mundo (ou seja, ninguém).
Don Draper busca encontrar a si mesmo pela fuga. Ignorando seu passado, escapando por cidades e mulheres, mentindo para os outros e para si, ele passa anos fugindo de sua pessoa para poder encontrar - e se tornar - o Homem Feliz. O que é felicidade para ele? Seu trabalho é vender felicidade e, no entanto, Don Draper não a alcança por qual motivo? Esse finale me deixou extasiado exatamente por que eu não esperava encontrar uma resposta para isso... Quem diria que a vida de um estranho seria tão reveladora para Don? Quem diria que, depois de anos fugindo, Don encontraria a felicidade na companhia dos outros? Sua catarse é tão poderosa que o final da série pode deixar dúvidas sobre o comercial da Coca-Cola. No entanto, minha opinião não deixa dúvidas que Don Draper passou seu novo ensinamento iluminador para um dos comerciais mais inovadores, queridos e reconhecíveis que temos no mundo. Don Draper finalmente abraça quem ele é. O que antes era uma grande mentira para Dick, agora se torna verdade para Don. Ele sabe o que ele quer e se sente feliz fazendo isso. Se no meio dessa última temporada Don se sentiu substituível (até invisível, eu diria), ao voltar para NY ele possui a confiança e companhia que faz de Don um homem feliz. Seu sonho californiano agora é compartilhado por milhões de pessoas.
Finalizando, o coração de Mad Men é exatamente o trabalho dos caras de Madison Avenue. Nos vender a ilusão de felicidade com personagens que a buscam de qualquer forma. Sabemos aonde estamos hoje em 2015, mas quem somos e o que queremos é algo para cada um de nós procurar. E, se tivermos sorte...
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Ripley
4.2 73 Assista AgoraNão entendi nada disso aí, não entendo essa nota alta pra tanta indulgência que não consegue trabalhar a favor de uma história interessantíssima - que na verdade faz tudo ao contrário.
Não precisava reinventar a roda do jeito que O Talentoso Mr Ripley fez contrapondo a psicopatia clínica do Plein Soleil (e claro que a atuação legendária do Alain Delon) mas com um material tão cheio e com tanta complexidade, porque que escolheu ser tão medíocre? Gente, o quê que foi a falta de cor que em 95% dos frames não fazia o menor sentido! Eu não conseguia ignorar o quanto os planos e a produção se beneficiaria se fosse em cor, no fim deixou tudo plano demais... E pra quê? Aonde que adicionou na história? Só foi tirando, tudo sempre menos... Faltou profundidade em absolutamente todos os personagens, faltou carisma em todo mundo ali (salvo talvez o inspetor e a dona do prédio) e tanto material que ficou fora de 8 horas de história que eu não consigo fazer sentido das escolhas técnicas quando há tanto dinheiro envolvido e tanta liberdade criativa.
Vai falar que não seria uma série melhor se não mostrasse o privilégio de uma forma sedutora ao invés de blasé? Trazer o espectador assim como o Tom para dentro daquele mundinho seleto de um jeito tão atraente que depois de você ter um gosto você não quer perder mais, mosquinha na teia/mariposa na chama mesmo. Faltou o aspecto negativo dos crimes do Tom, a paranóia que sempre vai existir ali nas costas e aquele lado solitário de que ele nunca vai poder se conectar com ninguém... Mas no fim quem que se importa se o Tom da série vai se sentir feliz ou se sentir finalmente valorizado, nada ali tem valor. Um casting extremamente duvidoso do Freddie Miles que pelo amor de Deus, um segundo e não tive dúvidas de que era nepo-baby (claro que fui olhar e dito e feito). As diferenças de idade gritante entre o triângulo principal Tom-Dickie-Marge, a falta de paixão e de vontade de quase todos ali, todo mundo sempre tão apático que fica difícil a gente ter que se importar mais do que os próprios personagens envolvidos na trama. Foi criminoso ter essas locações maravilhosas na Itália assim como a quantidade de arte resumida aos tons de cinza que até o pobre Caravaggio teve sua obra empobrecida. Tanta coisa que quanto mais eu penso mais me irrita. Nem preciso falar dos furos de roteiro, pessoal aqui embaixo já apontou vários...
Não gosto de falar só mal, então vai o mérito de que nada ali é péssimo que você não quer assistir mais, tudo no limite entre passável e ligeiramente irritante. Nada maravilhoso e nada horrível. Gostei das duas cenas pós-assassinato, acho que foi o único diferencial que trouxeram do material da Patricia Highsmith. Se pelo menos tivessem trazido o mesmo humor pro restante dos episódios...
Falam que você nunca pode julgar uma obra pelo o que ela poderia ter sido e sim pelo o que ela é, mas fica bem difícil quando além do seu potencial jogado fora você ainda tem dois filmes de peso antecedendo-a... Tudo abaixo do esperado, e pior – por escolha própria.
Inside No. 9 (6ª Temporada)
3.8 3Esse último episódio não poderia ter fechado melhor! Bem difícil encontrar uma série de TV que chega na sexta temporada mantendo seu nível de qualidade intacto - sempre lá em cima! 37 episódios e quando você acha que eles não podem te surpreender mais eles ainda dão um jeito. A criatividade enorme e a escrita constantemente boa é mais que o suficiente para que até o seu pior episódio seja melhor que qualquer coisa na TV!
Archer (9ª Temporada)
3.7 10Muito estranho nenhum comentário! Pam, Archer e Bird fizeram um trio sensacional nessa temporada!
The Walking Dead (6ª Temporada)
4.1 1,3K Assista AgoraQue falta de cojones. Uma cena genuinamente tensa que se perde num artifício barato digno de novela mexicana. Frustrante.
Desventuras em Série (1ª Temporada)
3.9 600 Assista AgoraSuper animado com a série e a equipe técnica, mas que o NPH foi uma decepção, isso foi.
Às vezes em penso se não seria melhor fazerem a série em animação, acho que combinaria mais. Especialmente se pegassem o traço do Sylvain Chomet com uma paleta de cores que mudassem de desventura pra desventura. Sem contar que muitas das ações e lugares dos livros tem um descuidado em ser realista (é o charme absurdo e surreal dele), especialmente quando envolve Sunny e seus dentes.
Heroes Reborn
3.1 88Decepcionante, foi um sacrifício acabar a série. Não sei porquê não deixaram Heroes quieto, de verdade. Efeitos toscos, roteiro ruim, mal atuado, inconsistente, não entretém... Não consigo pensar em nenhum ponto positivo nessa vergonha alheia de 13 episódios, só assisti até o fim pelo meu carinho com a 1a temporada de Heroes e meu comprometimento de ir até o final quando eu começo uma série.
Se você não começou Heroes Reborn, fuja enquanto dá tempo.
O Decálogo
4.7 108Empatia e Natureza Humana na sua forma mais crua. Enquanto eu assistia Dekalog eu ficava pensando: "Eu deveria ter visto isso há anos, porque eu não fiz isso..?" Vejam pra ontem. De qualquer forma...
Apenas recomendar essa série (Série? Obra devastadora e apaixonante que não vai te largar tão cedo é mais apropriado...) não é o suficiente para que todo mundo veja. Eu honestamente não sei porque ela não é tão falada e discutida da maneira que ela merece. Tem uns gatos pingados como Kubrick e Roger Ebert que falaram abertamente do carinho pelo Dekalog, mas parece que nem isso foi suficiente. Talvez um lançamento em DVD?
Já tendo visto a Trilogia das Cores diversas vezes e A Dupla Vida De Véronique eu achava, na minha ignorância, que não ia me impressionar tanto com o que Kieslówski faz por essas 10 horas. Maravilhoso erro meu, pois é sempre um tesão quando vemos um filme e nos sentimos cativados e surpreendidos num nível primário. Minha dificuldade de falar sobre ela num todo talvez mostre como Dekalog é especial.
A questão é que é tão grande nossa identificação com aqueles personagens que não é fácil julgá-los. Os dilemas morais são universais, a religião fica em segundo plano (até porque os 10 mandamentos de Deus não são mais do que leis básicas da vida social) e pelo roteiro ser tão extraordinário não sabemos - junto com quem vemos - o que virá a seguir. Nada nos episódios é convencional, a releitura e quebra das leis de Deus são postas em situações reais com personagens que transcendem o imaginário e se transformam em você mesmo (ou seria o contrário?). Dificilmente um diretor consegue transpor na tela algo que diz tanto a tantas pessoas. Só por isso Dekalog se torna praticamente obrigatório a qualquer ser humano pensante. Tendo em vista que são 10 episódios independentes segue minha opinião pessoal para cada um:
I - Talvez meu favorito. É o que possui as cenas mais marcantes e o final mais triste. Chorei como um bebê, fiquei completamente arrasado e me senti tão esgotado que não consegui ver o segundo episódio em seguida. Você sabe de certa forma o que vai acontecer, mas não sabemos como o Pai vai lidar com isso. Não é um nenhum momento um ataque na ciência como pode parecer. É apenas uma consequência da prepotência humana.
II - Fins que justificam os meios; um juramento falso visando o melhor ao próximo. Literalmente o próximo, pensando que ambos personagens são vizinhos, a gentileza do médico e a forma como alguém que perdeu a família inteira salva outra me trouxe um sorriso no rosto.
III - Noite de natal. Com Ewa eu fiquei pensando na quantidade de solitários no mundo buscando uma companhia até as 7 da manhã. O tom melancólico e as descobertas durante o episódio me deixou instigado, especialmente por serem dois ex-amantes na procura.
IV - Ok, esse pode ser extremamente desconfortável de se ver. Não devo ser o único que não se importava com a veracidade da carta, e toda a discussão do Pai e da Filha foi tão inortodoxo e de uma honestidade tão grande que eu tive que reavaliar certos receios e julgamentos da minha parte. Freud teria aprovado, hahaha...
V - O único com claramente uma posição moral, talvez seja o mais diferente do resto (até mais que o último). A longa cena do crime foi extremamente bem realizada, e achei bem fora do comum, corajoso na verdade, não terem colocado um motivo por trás do assassinato. Dos assassinatos na verdade, violento e ilógico, eu como o Advogado também abomino.
VI - A naturalidade com que os papéis se revertem entre o Jovem e a Mulher e a proximidade entre amor e obsessão é interessantíssimo. Alguém que acreditava que amor era sexo se encontra buscando algo puro como o ato de reconfortar alguém. A cena do corredor em que o Jovem diz não saber o que quer merece especial atenção. Um olhar simpatizante aos platônicos de plantão.
VII - Ainda não sei o que pensar sobre quem roubou quem ali. Apesar da Mãe/Avó ser horrível com sua filha, achei que ela deveria ficar com a menina. A Mãe/Irmã estava num estado de desespero e falta de carinho de tal forma que não a julgo por tentar encontrar amor raptando a menina. No fim eu só queria que aquela situação trouxesse o melhor de todos e que a Mãe/Avó fosse melhor com sua filha. Infelizmente...
VIII - Nada, nenhum ideal seja ele religioso como acreditava ou político como se revela, vale a vida de uma criança. Achei esse episódio o mais sutil de todos, o que não o torna menos válido. A dilema no caso não é presente por ações, e sim está feito no passado - talvez por isso seja o mais calmo de todos. A cena do Homem Borracha e da Professora foi de uma beleza que me deixou com aquele amor e positividade pela vida.
IX - A frustração e amor que o casal sente é palpável. Ele a ama para querer vê-la feliz e a ama para não querer vê-la com outro. Esse paradoxo do sentimento os obriga a tomar uma posição do que fazer, e eu fiquei genuinamente torcendo para que qualquer decisão que fosse feita os deixassem juntos. Talvez a inspiração de Ondas do Destino de Lars Von Trier assim como o quinto episódio foi de Dançando no Escuro.
X - O único que possui uma bem vinda comicidade, esse episódio mostra bem o quanto o valor de algo é mutável pra cada um. O sentimento infantil que ambos irmãos sentem ao colecionar os selos e a buscar a coleção completa começa a valer mais do que o dinheiro que era primeiramente sua motivação. Chegando a tomar proporções risíveis como um rim por um selo, o roubo não me deixou frustrado pelos irmãos, mas porque eu também queria ver a coleção completa.
Pontos especiais na questão da fotografia que mudava a cada episódio, o leite que tem uma participação em quase todos os episódios de um jeito diferente e, acima de tudo, ao "Vigilante" que está presente durante a série e que me arrepiava toda vez que ele encarava a câmera olhando diretamente para nós. De verdade, eu ficava arrepiado toda a vez que ele aparecia e eu nem sei dizer o porquê.
Foi um prazer imenso ter visto. Certeza que Dekalog inspirou muitos cineastas e outros filmes depois; cenas e ideias que só quem viu vai notar. Ficou grande o comentário mas é que, depois de dias tendo visto e pensando a respeito, eu precisava botar pra fora.
Mad Men (7ª Temporada)
4.6 387 Assista AgoraUma série fantástica do começo ao fim que teve a habilidade de captar nos seus últimos minutos a essência de toda sua trama, sua discussão existencial e a eterna busca de seus personagens durante 92 episódios. O que dizer sobre Mad Men quando cada cena, seja em qualquer episódio, revela seu propósito por sutilezas que não são tão fáceis de exemplificar como em um pitching de um anúncio publicitário. Quem somos, o que queremos, aonde estamos..?
Pela jornada de Don Draper, Matthew Weiner (extremamente detalhista na verossimilhança da arte e trilha de MM) cria uma década inteira de constantes mudanças com personagens de gerações diferentes, costumes e pensamentos que conflitam e uma ambientação palpável com tanta perfeição que só tal construção já é um motivo para se ver com prazer. Mas isso não é o coração da obra.
Um dos motivos de eu não recomendar para tanta pessoas é que o realismo das ações de seus personagens pode trazer um afastamento ou a impressão de frieza em quem assiste sem um olhar atento. Ambiente profissional. Pensamento machista. Preconceito e ignorância sem consequências morais. Mad Men nunca perdeu sua personalidade e charme para agradar o público do século XXI. Se pensarmos a respeito, eles fizeram tudo ao contrário do que uma produção hoje em dia busca: O politicamente correto com ritmo acelerado e personagens que se identifiquem com tudo mundo (ou seja, ninguém).
Don Draper busca encontrar a si mesmo pela fuga. Ignorando seu passado, escapando por cidades e mulheres, mentindo para os outros e para si, ele passa anos fugindo de sua pessoa para poder encontrar - e se tornar - o Homem Feliz. O que é felicidade para ele? Seu trabalho é vender felicidade e, no entanto, Don Draper não a alcança por qual motivo? Esse finale me deixou extasiado exatamente por que eu não esperava encontrar uma resposta para isso... Quem diria que a vida de um estranho seria tão reveladora para Don? Quem diria que, depois de anos fugindo, Don encontraria a felicidade na companhia dos outros? Sua catarse é tão poderosa que o final da série pode deixar dúvidas sobre o comercial da Coca-Cola. No entanto, minha opinião não deixa dúvidas que Don Draper passou seu novo ensinamento iluminador para um dos comerciais mais inovadores, queridos e reconhecíveis que temos no mundo. Don Draper finalmente abraça quem ele é. O que antes era uma grande mentira para Dick, agora se torna verdade para Don. Ele sabe o que ele quer e se sente feliz fazendo isso. Se no meio dessa última temporada Don se sentiu substituível (até invisível, eu diria), ao voltar para NY ele possui a confiança e companhia que faz de Don um homem feliz. Seu sonho californiano agora é compartilhado por milhões de pessoas.
Finalizando, o coração de Mad Men é exatamente o trabalho dos caras de Madison Avenue. Nos vender a ilusão de felicidade com personagens que a buscam de qualquer forma. Sabemos aonde estamos hoje em 2015, mas quem somos e o que queremos é algo para cada um de nós procurar. E, se tivermos sorte...