Comédia romântica que preza pela leveza, mas no caminho sacrifica boas oportunidades e um bom tanto de coerência.
Então o drama do protagonista, que não pode ser feliz sem desmaiar, é um enredo interessante e cômico o suficiente para nos deixar interessados. E quando surge uma paixão em sua vida, é claro que ficamos curiosos para ver como as coisas se desdobrarão.
Porém, tudo vai se afunilando para um desfecho cheio de conveniências e simplicidades que podem frustrar, tipo os desmaios acontecerem com coisas pequenas (ver um cachorrinho fofo), mas não quando está no flerte velado com seu par romântico.
E o filme até tinha abertura para desenvolver um drama suave do tipo 'não posso ser feliz' ou ainda provocar uma reflexão sobre o medo de ser feliz... só que não. Em vez disso, fica no mais do mesmo das trocentas comédias românticas existentes por aí. Chega a tal ponto que ao final a doença do protagonista é quase um elemento secundário, que poderia muito bem sumir e a história continuaria a mesma.
Não que seja um filme chato ou ruim (para quem busca comédias românticas, claro), é só que deixou de dar um ou dois passos para ser um pouco mais do que o básico.
Enfim, vale assistir como digestivo emocional, mas nada muito meritório.
Apesar da temática, e apesar de ser sim um filme pesado, não chega a ser propriamente apelativo, daí se situar bem entre uma peça de entretenimento e uma obra de reflexão.
Então, não, não é um daqueles filmes cujo único propósito é chocar. Consegue desenvolver bem o drama adolescente (necessidade de aceitação, paixão, dúvida) dentro de uma trama que é progressiva (a Christiane cercando o mundo das drogas até se perder dentro dele). O lance das drogas é o ponto central, porém é o meio, não necessariamente o fim.
E tem até umas tiradas poéticas que são surpreendentemente sutis, além de recursos de direção e fotografia que contribuem para essa atmosfera meio onírica - no caso, um pesadelo, né.
Assim, o ponto é: é um filme duro, cruel, pesado, mas não é o choque pelo choque, o impacto pelo impacto.
Você vai sim terminar o filme com um gosto amargo na boca, contudo, em decorrência de um filme que é honesto diante da história que quer contar.
Só não ganha mais estrelas porque, na minha opinião, sacrificou muito a parte contextual da história (nada da vida de Christiane na escola, muito pouco de sua vida familiar) e também no início e no fim (ambos super abruptos, desencaixados da história, quase que dispensáveis, especialmente o final,
Filme de terror/suspense simples e rápido, que explora elementos sobrenaturais sem fazer muita firula, mas que ganha em densidade ao inserir aí elementos dramáticos - e ao sacanear, de modo corajoso, a nossa expectativa quanto à 'moral da história', digamos assim.
Então o filme funciona como um relógio. Já na primeira cena temos a construção da protagonista e do que ela vai ter de 'superar' durante a trama. Os personagens vão sendo introduzidos de modo unidimensionais, sim, mas muito bem encaixados, engrenagens bem azeitadas dentro do mecanismo que é o enredo e seu desfecho. Enquanto que o enredo logo se lança de modo completo, deixando claro pro espectador qual será o clímax - e que clímax!
Porém, por trás disso tudo, vão surgindo pontos dramáticos que ameaçam roubar a classificação 'terror/suspense'. Adolescência, religião, autoaceitação, e, claro, bullying. Tanto é, que a sensação maior do filme é menos de medo/espanto, e mais de revolta/indignação
, seja pelo que fazem com a Carrie, seja pelo que ela acaba fazendo, né, matando mesmo quem não tinha culpa de nada
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Enfim, uma mistura que dá super certo e que mesmo hoje, nos idos de 2023, não é comum encontrar.
Detalhe curioso é que parece estar aqui a origem dos trocentos filmes de comédia romântica que rodam sob o plot 'apostas que fazem o cara popular sair com a garota esquisita'.
E outro detalhe (para a galera dos animes) é que parece estar aqui, também, muita da inspiração para o ótimo Elfen Lied.
Para quem assistiu lá atrás, nos tempos áureos do SBT, avaliar o filme hoje em dia é uma tarefa que exige separar a nostalgia da objetividade - mas pode ser que a objetividade também seja nostálgica, né.
Então o filme é simplesmente muito bom, e envelhece como vinho. E isso por dois motivos entranhados na história.
O primeiro é a transformação do Arnie. Existe algo mais interessante, engajador, e envolvente do que um vilão com quem a gente simpatiza (pelo menos até certa parte do rolê)? A trajetória do 'coitado' que alcança algum tipo de 'poder' e com isso se corrompe, como vitimado por sua própria frustração anterior, é muito boa, e aqui, apesar de não atingir nenhum ponto dramático - tem quase nada de um conflito pessoal do Arnie ao se dar conta do que se transformou -, ainda assim dá muito caldo e, por que não?, certa profundidade pra trama.
O segundo é a natureza do carro assassino. O lance não é explicar o porquê, o como, a razão de sua maldade; ela está lá e pronto, caba ao espectador aceitar e aos personagens lidarem com isso. Acho esse recurso muito bom quando bem usado - não esmiuçar a origem das coisas -, e aqui ficou sim bem usado. A gente nem sente falta de saber sobre a 'natureza' da Christine, e as cenas iniciais, do cara perdendo os dedos e depois o outro morrendo por ter jogado as cinzas do charuto no banco, já mostram o que é preciso mostrar: o carro é do mal, ponto.
Claro, não é um filme perfeito, tem pontinhas soltas, coisas convenientes pra fazer a trama andar. Porém, tudo dentro do espírito da época em que foi feito, e nada que ofenda o espectador atual.
E bônus para a trilha sonora, escolhida a dedo, fazendo com que cada música fosse uma reação da Christine, uma tradução do que 'sentia'.
Enfim, que seja nostalgia, mas ô filme bom de assistir e reassistir.
Estrutura super batida, começo bem apelativo (quase non sense, de tão exagerado), e desfecho previsível. Ainda assim, arranca algumas risadas e dá lá um calorzinho no coração.
Então o começo já meio que entrega tudo o que vai acontecer, restando pouco de inusitado ou inédito. E até aí tudo bem, já que é comédia romântica e é difícil inovar no gênero. Me incomodou, porém, o tom bem exagerado no início, que se cristaliza na Maddie, completamente sem noção naquela forçação de barra para as coisas acontecerem. Só quando esse tom para (lá pela metade do filme) é que o filme começa a ser mais simpático.
As tiradas de humor não são todas certeiras, mas ficam compensadas por uns breves picos de originalidade e atualidade (especialmente o momento da festa).
Já quanto ao desfecho, bem, como dito, previsível. O que mantém o interesse é mesmo o carisma da Maddie. E o final, se se salva por não
entregar alguma mirabolante forma dos dois ficarem juntos, peca por terminar tudo em flores... mas aí para ser diferente só mesmo se fosse uma comédia dramática, né.
De todo modo, a jornada dos personagens é lá um tanto edificante, daí aquele calorzinho no coração. Mas não é uma comédia romântica de destaque, valendo mesmo só para passar o tempo (e para os taradões e taradonas de plantão, graças à cena na praia).
Tipo de filme em que o desagrado é diretamente proporcional às expectativas de quem assiste - sejam expectativas por ser um filme de um diretor com bons trabalhos anteriores, sejam expectativas vindas simplesmente da sinopse e da classificação como 'terror'.
Diria então que as chances de rolar alguma frustração aqui são bem grandes.
Fato é que o filme usa de uma lentidão estranha, aposta num esquema narrativo que não parece se encaixar (tipo usar os títulos para cada seção e a algo estranha inda e vinda temporal), traz elementos e personagens que inspiram um sentido maior (só que não), e a história parece ser do tipo que se sustenta enquanto não se revela (ou seja, quando acaba parte do mistério, parte do envolvimento some junto).
Porém, o lance é que mesmo assim não é um filme ruim, chato ou sem pé nem cabeça.
Tirando aquelas expectativas prévias - e talvez descontando um ou outro abuso estilístico do diretor -, o filme é sim convincente em sua proposta e faz alguns paralelos leves, mas interessantes, com a realidade fora da telinha.
O único ponto que me desgostou mesmo foi o final, já que
uma vez que o filme perde a graça ao explicar as aparições, me pareceu necessário explicar um pouco mais, dar mais sentido; em vez disso, ficaram lá só aqueles lençóis pulsantes estilo inimigo do Godzilla e uma correria puramente física para destruí-lo.
Vale assistir. Se não como um filme do Jordan Peele, se não como terror (definitivamente não!), pelo menos, então, como uma peça interessante de ficção científica.
Um daqueles filmes que se sustenta em plot twists categóricos, mas sem forçar a barra e respeitando a história - e o próprio espectador.
Assim, desde o início, o filme já deixa claro que se trata de uma trama baseada em 'verdades' que só serão reveladas no decorrer da narrativa. E a própria cena inicial já é um gatilho e tanto, seguida da apresentação do formato narrativo - um outro personagem narrando os acontecimentos, e portanto sujeito a suspeitas quanto a suas intenções e mesmo quanto ao que ele de fato sabe.
E nesse revelar das 'verdades' temos personagens ótimos (todos, absolutamente todos, os personagens são interessantes, mérito portanto dos atores), um encadeamento de fatos progressivo até o clímax (muito bem feito, aliás, com pouquíssimas chances do espectador se entediar), e, claro, toda aquela ambientação gangster dos dias atuais numa Inglaterra que mistura luxo, nobreza e criminalidade.
Ah, e bônus para as brincadeiras feitas com a quebra da quarta parede, que conferem um tom de humor mas também de agradável confusão (uma narrativa dentro de outra narrativa, que a qualquer momento pode ter sua natureza falsa revelada).
Enfim... do que já assisti do Ritchie, esse é o primeiro filme que realmente me pareceu explicar o por quê do cara ser badalado. Uma mistura eficiente e bem calibrada de de ação, humor e plot twists, logo, uma peça de entretenimento com grande potencial de satisfação.
Feijão com arroz das ficções científicas 'de conteúdo', portanto agrada quem quer o básico do gênero, mas daí desagrada quem espera novidades mirabolantes.
Então a proposta do filme é simples e evidentemente feita para se encaixar num baixo orçamento.
Entrega o que um filme de FC precisa entregar: um contexto futurista, com tecnologia avançada, dentro do qual, como efeito desse mesmo contexto, um grupo de personagens precisa se virar para achar uma saída ou uma solução.
Tem também uma mensagem política/moral de fundo, que ressoa na nossa consciência de mundo e até mesmo de espécie (humana). Aliás, é super atual e importante essa mensagem, mas que de tão explorada (e explorada em filmes de bem menos qualidade, diga-se de passagem) tendemos a menosprezar como se fosse 'clichê'.
Quanto ao desenvolvimento, é uma FC 'de conteúdo'; ou seja, não espere tiros ou ETs, nem uma viagem brisada com confusos conceitos filosóficos.
O foco é um 'conteúdo' que envolve drama e decisões morais, só. Daí que, sim, alguns podem achar a coisa lenta ou desinteressante... Eu, particularmente, curti bastante o dilema que os personagens precisaram enfrentar, e acredito que as reviravoltas e o clímax não deixaram a peteca do entretenimento cair (e pena que faltou coragem para no final
pintar a galera do bunker não como uns acionistas sacanas e egoístas, mas como gente normal, pois daí sim a decisão de ficar na estação teria sido bem mais difícil).
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Quanto a personagens e diálogos, bem, de fato, é um ponto bem fraquinho. Porém nada assim tão catastrófico.
E quanto à profundidade do filme... poderia ser mais profundo? Poderia. A falta de profundidade comprete o sentido, a mensagem e o 'tchan' propostos pelo filme? Não. Então tá valendo.
Resumindo, não é uma pérola, mas também não é lixo. Me surpreender o conceito tão baixo dado ao filme. Vale para fãs de FC, e mesmo para um espectador mais casual.
Premissa interessante, mas que derrapa na execução.
Então é claro que chama a atenção o tormento do assistente (aka, escravo) do Drácula quando se cansa de sua condição. E chama a atenção também trazer isso para os dias atuais com todos os empecilhos que podem existir para quem vive do sangue alheio.
Contudo, a trama, após ser apresentada, fica numa planície meio insossa. Tem ali tiradas de comédia, tem ali um gore (nada demais, então não se preocupe), tem ali um rolêzinho romântico, e tem ali uma pegada de ação temperada com terror. Mas o conjunto da obra acaba sendo só isso: uma porção de tiradas sem muita, digamos, harmonia.
Daí uma sensação de filme sem personalidade, que acaba sem grande clímax.
O que salva mesmo é, como dito, a premissa interessante, com o bônus do Nicolas Cage num papel de vampiro, podendo extravasar toda a sua excentricidade em gargalhas e caretas.
Contudo, me pareceu uma experiência aquém do que poderia ter sido. Aluguei por R$ 30,00 na Amazon Prime, mas certamente é o tipo de filme que valia a pena esperar chegar no catálogo geral embutido no preço da assinatura mensal.
Daqueles filmes antigos que não parecem tão antigos assim e que revelam as bases de todo um gênero hoje em dia super batido (no caso, o gênero policial com pegadas de mistério e suspense).
Então, sim, se você curte o gênero, não há como não gostar.
E além do quadro geral (ambientação, progressão da trama, contexto político-social), há detalhes bem bacanas. Tem toda essa construção da trama em torno da relação entre os protagonistas, dois personagens característicos e super bem representados pelos seus atores (méritos para a exemplar mascada de chiclete do Rod Steiger, um cacoete muito bem utilizado). E ainda o clima de suspense em torno da questão racial, digna de em alguns momentos puxar o filme quase para um terror mesmo.
De negativo, talvez, só mesmo o fato de hoje em dia estarmos um pouco insensíveis às tramas mais simples, como se os filmes precisassem de muitas firulas (idas e vindas com muita correria) para serem interessantes; daí que uma história mais linear, redondinha, pode soar previsível (mas, repita-se, apenas por esse olhar de quem assiste nos idos de 2023 um filme lá de 1967).
Para quem curte histórias de garotos adolescentes desajeitados se batendo com uma paixão por uma garota ideal, vai encontrar aqui um bom filme, e com Cera fazendo o que parece fazer de melhor (o papel daquele garoto adolescente desajeitado, claro).
Porém, o filme no geral é um tanto desorientado, em especial no humor (pode ser a idade falando, meus jovens, então relevem esse ponto...). Quer dizer, são ótimas as situações cômicas que exploram a timidez e falta de tato do protagonista, em especial quando ao lado da mocinha; e melhores ainda são as cenas com o François. Porém, no meio disso, rolam piadinhas de sexo que lembram as piadas de quinta série, algo que me parece bobo até mesmo para o público 'ideal' do filme (ou seja, adolescentes).
Outra desorientação do filme é com duas aleatórias animações inseridas no meio da história (para que aquilo?), que sugeriam uma pegada mais descontraída sem que a promessa fosse cumprida; e também alguns lancezinhos de roteiro, ora apressados, ora simplesmente suprimidos (tipo a gótica da escola francesa
, que recebe um detalhamento desnecessário em razão do que viria a ser a sua função efetiva na trama
.)
Entretanto, contudo e todavia, claro, é um filme de comédia para o público adolescente, então é preciso relevar essas coisas todas (a idade meus jovens, a idade...).
Ficam aí as três estrelas de um trintão; senão pela qualidade intrínseca do filme, então pela nostalgia despertada na galera que também quis ser/ter um François pra tocar o terror.
Não assisto a muitas comédias românticas, então pode ser só minha desatualização falando, mas essa aqui me pareceu um pouco mais convincente do que as habituais.
Isto é, apesar de sua estrutura trazer os elementos clássicos e manjadíssimos, o faz com certa sutileza e consegue tapear o espectador que se entregou mais à narrativa, resultando em mais surpresas, expectativas e, claro, mais receio sobre o destino do casal em tela.
Em particular, achei muito boa toda a seção do filme em que
estando a Emily no hospital, dá-se de barato que bastará ela acordar e tudo ficará bem, os dois voltarão juntos, e agora com as bençãos do simpático casal de meia idade que são os pais da moça. Mas aí, quando ela acorda e está lá chapadaça na sinceridade, detona o protagonista e quebra todas as expectativas quanto ao futuro dos dois.
Bônus também para o humor do filme, que se aventura não apenas pelo politicamente incorreto em alguns momentos, mas também pelo humor feito em momentos de drama, causando na gente um certo deslocamento; já o humor 'tradicional' também funciona bem, mesmo que nada excepcional.
Enfim, uma comédia romântica leve, porém ainda assim não de todo gratuita. Vale assistir para quem gosta do gênero, e talvez tenha aí certa probabilidade maior do que a média de agradar também aqueles não muito chegados.
Filme que derrapa em certas conveniências e forçações de barra, e peca demais por não ter uma mensagem coesa, mas que compensa no seu efeito plenamente angustiante. E, mano, que angústia!
Então é claro que temos aqui o mal dos filmes 'baratos', como um enredo duvidoso - claro, você pega alguém com estresse pós-traumático e coloca essa pessoa para enfrentar esse estresse do jeito mais arriscado possível... - e uns momentos bem do tipo 'é tão óbvio, mas o personagem só pensou nisso uma década depois'.
E incomoda sim o fato de que a história toda se desenrola meio que sem entregar uma mensagem final, coesa, algo que dê ares de 'e a moral da história é...'. Até tem um lance meio autoajuda (como não poderia deixar de ter em filmes do tipo sobrevivência), mas super sutil e pouco memorável.
Apesar disso tudo, o filme se garante pacas no quesito reação do público.
Não é suspense, não é terror, não é medo: é angústia. Desconforto mesmo. Especialmente se você tiver uma relação não muito amistosa com alturas. E é preciso reconhecer que o filme constrói muito bem o palco isso-vai-dar-muito-errado ao focar em parafusos e metal enferrujado, estimulando de modo bem eficiente nossa expectativa pelo clímax.
Juntando isso aí, acaba sendo uma experiência bem visceral, com direito até a frios na barriga.
Enfim, um filme bem entretenimento mesmo, que não atinge nenhum lugar especial de filosofias ou sacadas, mas que acerta em cheio o espectador - realmente difícil ficar indiferente.
Filmes que misturam muitas gêneros têm lá seus percalços; com esse aqui, não é diferente, mas ainda assim se salva pela originalidade e pela ideia científica que desenvolve.
Então, sim, incomoda um pouco o fato de enredo e direção atirarem para várias direções. Ação, aventura, drama (existencial e 'de relacionamentos), ficção científica, comédia. Essa última, aliás, bem peculiar, já que algumas piadas são bastante bobinhas, descolando do contexto mais sério e até mesmo intelectual da história.
São tantas pontinhas que vão se soltando que pode sim ser um pouco difícil simpatizar com os protagonistas e embarcar na mensagem principal do filme - ou seja, pode ser difícil chegar até o final envolvido a ponto de se emocionar ou mudar sua visão sobre o universo (ou, no caso, sobre o multiverso).
Mas o que salva o filme, e que acho sim que o faz entrar num grupo seleto de narrativas, é a sua originalidade ao desenvolver a ideia do multiverso. Por ignorância, desconheço a fidedignidade cósmica no modo como exploram a coisa dos universos paralelos, mas ficou bastante didático, simples e, repito, original (esqueça aquele intelectualismo, às vezes forçado, de quebrar a cabeça mais no estilo Nolan).
Então temos diálogos, fotografia e música bastante 'soltos' ao sabor dos diretores, que ousaram construir algo fora da caixinha - não tem, por exemplo, aquela linearidade pesadona. Na verdade, em diversos trechos o filme parece não se levar muito a sério, o que não deixa de ser original ao se tratar de uma narrativa sobre um conceito científico super sério.
E quanto a esse conceito, creio que ficou na medida: leve o suficiente para engendrar a história, mas profundo o bastante para nos deixar matutando algumas coisas quando os créditos sobem.
É assim uma obra prima imperdível que merece todos os louros? Creio que não. Mas, insisto, é certamente um filme que entrou num grupo seleto de narrativas - talvez vire aí um novo clássico.
Filme com uma carga artística e sentimental muito bem acertada, que certamente agrada ao público cuja adolescência ainda é um assunto mal resolvido - leia-se, um público que ainda se identifica com os dramas e dores dessa fase da vida.
Da parte 'artística', temos o fato do filme ser em preto e branco e também a composição das cenas e suas sequências - a fotografia meio que 'casual', o corte entre diálogos e situações, o cenário doméstico ao mesmo tempo claustrofóbico (um domingo num apartamento e sem energia elétrica) e aconchegante (novas amizades que conduzem a sentimentos e reflexões).
Já pela carga 'sentimental', destaca-se o constante destilar daquele gostinho amargo e doce de quando se é adolescente e navega-se pelos mares revoltos da inexperiência, da dúvida e da descoberta. Essa carga não é apelativa, do tipo que tenta arrancar lágrimas, e por isso mesmo consegue atingir fundo - ao menos se você, frise-se, tem aquela adolescência não muito bem resolvida.
E vale ressaltar o clima absolutamente convincente de 'os pais saíram de casa então podemos fazer o que bem entender', que só ganha com as constantes referências a ícones da juventude - coca-cola, videogame, pizza e, claro, os acasos super casuais que induzem a experiências únicas.
Ao fim, a sensação que fica do filme é a de uma alegria triste, ou uma tristeza alegre: viver um domingo desses é uma experiência memorável (e que apertinho que dá no coração quando os meninos trocam de camiseta!). E que viagem tentar projetar aquelas pessoas em seus futuros!
Premissa e pegada sentimental interessante, mas o tipo de filme que atola no 'quase' e não consegue sair disso.
Então é sim interessante o suspense que envolve a relação do garoto e do velho, assim como o suspense em torno da personalidade misteriosa deste último.
Porém, começa a dar uma sensação de marasmo o fato de que as coisas não acontecem de fato se não lá pela metade do filme, que é quando surge o primeiro dos 'quase' do filme: a trama quase engrena.
E aquele suspense inicial também naufraga consideravelmente, já que o tchan da história - isto é, seu fator de mistério/magia - acontece meio que sem profundidade ou impacto, confiando num clima mal desenvolvido - outro 'quase' - de nostalgia pela adolescência - aquela imersão um tanto difusa na vida escolar do protagonista, com direto a bullying, paixonite e crise de identidade.
E o clímax do filme oscila entre desenvolver de vez o fato de mistério/magia e o desenvolvimento da escola moral do moleque, portanto não conseguindo agradar nem o público mais afeito a tramas fantasiosas nem o público que esperava maior drama.
Enfim, o tipo de filme que vale por ter nascido da cabeça do Stephen King, mas que decepciona no desenvolvimento.
Assista, mas mais como um passatempo descompromissado, ciente de que está longe de ser uma obra memorável.
Filmes da segunda guerra mundial não faltam, então a temática causa certo cansaço antes mesmo de película começar; contudo, para fãs do gênero e do assunto, certamente uma boa pedida.
O diferencial do filme é que mostra um Chamberlain para além da simples ingenuidade a qual a História o relegou (menções geralmente breves atribuindo seus esforços a um infantilismo político). Por mais que o elemento da ingenuidade esteja lá, o filme coloca ali algumas ambiguidades, construindo essa figura como alguém com certa astúcia política e, sobretudo, com uma forte convicção pacifista.
Quanto ao restante da trama, chama a atenção também a certamente intencional forçada de traço no aspecto traiçoeiro do nazismo e dos nazistas. Isto é, o filme se esforça para trazer à tona os riscos dos líderes populistas e seus fanáticos seguidores - aquela conversa deles jovens na mesa do bar na Alemanha semi-nazista é basicamente a conversa de muitas mesas de bar nos dias de hoje nesse mundão louco da terceira década do século 21.
Por fim, enquanto narrativa em si, o filme também funciona bem com um protagonista transitando no grande palco da História enquanto tenta resolver seus dilemas pessoais - inclusive sua vacilante admiração pelo Chamberlain.
Vale assistir, mas pode cansar a galera que não tem uma simpatia particular com a temática.
Um filme certamente a frente de sua época, com aquele toquezinho ingênuo dos anos 90, mas com a mensagem politizada que cada vez mais ganha espaço no cinema atual - e dessa combinação surge um filme com uma 'moral' rica e ainda assim uma bela peça de entretenimento.
Então, quando a gente entende do que se trata o filme - duas amigas numa jornada pessoal de um certo amadurecimento -, e somos conduzidos pela sua atmosfera de road movie - com direito a um Brad Pitt novinho e com -1% de gordura corporal -, fica difícil não se deixar levar.
Confesso, porém, que me incomodou um pouco a forma como o grande conflito da trama é iniciado (meio abrupto), e o modo como a Thelma subitamente embarca naquela vibe de fugitivas. Contudo, nada que atrapalhe a história.
E de compensação, a posterior jornada de crescimento da personagem Thelma acaba sendo ótima, flertando entre a comédia e um certo toque filosófico.
Bastante louvável também o modo como o filme mistura drama e comédia com pitadas de policial, entregando um ritmo consistente e divertido.
E quanto à moral do filme, bem, os mais conservas de plantão podem se ofendem com uma história que não esconde seu viés feminista (ou ao menos de crítica ao comportamento masculino 'tóxico', digamos assim), mas é uma moral certamente válida e perturbadoramente atual.
E a icônica cena final, que é uma daquelas super parodiadas / referenciadas cinema a fora, merece todo o impacto que causou e continua causando.
Com muita boa vontade a gente consegue achar algum mérito nesse 'documentário', daí minhas duas estrelas.
E digo muita boa vontade porque não é um documentário, e sim uma propaganda que tenta se vender como documentário - daí que usa dos recursos de uma 'narradora-investigadora' e de uma ou outra informação curiosa sobre a técnica dos animes.
Então acaba sendo uma oportunidade de conhecer um pouco melhor o acervo de animes da Netflix, mas não muito além disso.
Ou seja, você não vai ter um apanhado histórico desse tipo de narrativa, um panorama da sua evolução, seus aspectos mercadológicos e culturais, seus principais produtos, nem nada disso: é basicamente um chamariz para os produtos da Netflix - e com direito aos produtores desses animes participando com evidente má vontade (na certa alguma obrigação contratual contida na estrelinhas não lidas do contrato que assinaram).
Enfim, é um grande clickbait que cumpre, se muito, a função de dar algumas sugestões de anime (sempre da Netflix) para o espectador assistir.
Filme um tanto estranho na estrutura, algo ingênuo na mensagem, e certamente com um ritmo de desenvolvimento mais lento do que dinâmico, mas que ainda assim vale assistir.
Filme um tanto estranho na estrutura porque ao mesmo tempo em que foca na protagonista e sua jornada pessoal (e seu inevitável encontro com o vazio quando 'completar' sua missão), vai inserindo novos grupos de co-protagonistas conforme a trama progride, deixando a gente meio perdido, do tipo 'o filme ainda é sobre a ruiva?'. E nessas inserções o próprio gênero do filme oscila, indo do extremo mais documental até chegar no patamar da ação. Isso tudo é ruim? Não sei... mas achei estranho e custei a me acostumar.
Filme algo ingênuo na medida em que deixa de lado seu potencial crítico e cético sobre a guerra ao terrorismo. Como comparação, poderia ter um pouco mais da crítica de filmes como 'Vice', 'O Relatório' e 'Segredos Oficiais'. Senão crítica, ao menos um tom mais sombrio e desencantado. Só não foi desastre total porque o filme não caiu na armadilha do heroísmo/virtuosismo típico de filmes norte-americanos de guerra; contudo, ainda assim, é gritante a suavidade com que trata o episódio histórico retratado.
E ritmo lento... bem, todo filme que passa das 2h tem como missão combater com unhas e dentes a potencial sensação de lentidão. Não sei se 'A Hora Mais Escura' foi feliz nesse combate. Aquela inserção contínua de novos co-protagonistas meio que dificulta manter a imersão contínua na história, bem como a sua alternância entre os gêneros. E como o filme necessita transitar pelos anos dos acontecimentos narrados, aumenta a sensação de desconexão (leia-se, uma narrativa que não consegue manter um ritmo cadenciado). Então, sim, pode chatear um pouco o espectador, especialmente se ele estiver ali buscando meramente um filme típico de guerra com muitas explosões e tiroteios.
Mas, tirando todos esses lados negativos, o filme merece nosso tempo. O arco da protagonista é sim interessante em termos dramáticos, e o contexto todo é rico para quem curte História e Política.
Biografias, quando bem feitas, merecem nosso respeito, e aqui temos sim uma ótima biografia.
A figura em si talvez não seja de muito interesse para não-norte-americanos, mas o filme é tão competente que torna Cheney instigante o suficiente para nos envolvermos com sua trajetória e personalidade. E o filme tem bem marcada a ascensão do personagem, o que torna tudo mais envolvente e interessante - ao menos se você curtir histórias de ascensão.
É bacana também que mostra muito dos bastidores do poder, porém sem perder certa leveza. Daí que temos um sutil humor ácido aqui e ali enriquecendo a narrativa.
E há, é claro, a mensagem em si do filme, que mostra grande parte dos interesses escusos por trás da guerra ao terrorismo. Senti que o filme deu uma aliviada nas motivações do Cheney (apenas sugerindo seu interesse econômico) e passou o pano legal para o Bush (vendido como um bobão manipulável), mas, ainda assim, consegue problematizar bastante as verdades sobre a invasão ao Iraque e tudo o mais.
Aliás, o filme tem essa pequena proximidade com documentários, mas, não se engane, seu foco é narrativo, daí, inclusive, alguns recursos mais ousados, tipo aquela ótima cena irônica subindo os créditos na metade do filme.
Contudo, fica a ressalva: apesar de bom e interessante, ainda é um filme biográfico, portanto rendido aos 'fatos reais' (ou ao tanto que se sabe sobre eles), e por isso exige algum grau de paciência caso o espectador não curta muito esse estilo.
E méritos para o Bale, numa transformação incrível que foi do físico aos trejeitos de falar.
Apesar de ser 'filme', tem toda uma vocação para documentário, e aí pode estar seu grande ponto fraco: não é propriamente divertido de se assistir.
Então a narrativa entrega muito mais fatos do que desenvolvimentos conflituosos de dramas dos personagens ou de situações de tensão. E daí que pode sim dar a sensação de um filme lento, arrastado, que patina bastante para sair do lugar.
Mas é ruim?
Não se você assistir na vibe de quem está aberto a documentários. Afinal, a história em si é muito boa, com diversas polêmicas, além de um retrato de algo ainda muito próximo de nós - meio que um aula suave sobre a guerra ao terrorismo que até muito recentemente vivia nos telejornais.
Eu diria que vale assistir para quem busca se informar sobre a guerra ao terrorismo, mas não é simples recomendar para quem apenas busca um filme para abstrair - até porque a temática aqui é no mínimo revoltante, caso você ainda tenha qualquer resquício de humanidade.
Filme numa leve pegada documental, mas sem perder a essência de uma obra de entretenimento: imersão e curiosidade pelo desfecho.
Então o filme é sim um pouco 'chato' na medida em que fica preso aos fatos e a uma narrativa sóbria. A protagonista não é propriamente aprofundada, e seu potencial na trama é mesmo como agente histórico e não tanto como agente dramático.
Contudo, as coisas vão acontecendo e sendo apresentadas numa cadeia envolvente, o que garante o engajamento do espectador. E mesmo a protagonista pouco dramática consegue nos despertar aquela sensação de torcida, algo do tipo esperar que ela acabe ficando bem no rolê todo.
Quanto à mensagem em si do filme, é bacana por registrar a parte inglesa da grande farsa que foi a guerra contra o terrorismo, revelando que pouco ali foi genuíno ou espontâneo.
Enfim, o filme certamente vale como registro histórico de um episódio decisivo em nossa história contemporânea, mas pode desagradar um pouco quem busca narrativas mais dinâmicas.
Filme de espionagem que entrega o lado oriental da Segunda Guerra Mundial, e por isso é interessante, mas que de bônus desenvolve um drama bacana sobre desejo e paixão, e por isso é emocionalmente envolvente.
Então temos uma trama clássica de 'dormindo com o inimigo' e carregada de um suspense sutil mas competente. O filme escapa de situações fáceis e clichês do tipo colocar a protagonista na iminência de ser descoberta em sua espionagem, e aposta muito mais numa atmosfera de perigo e suspeitas que nos mantêm até o final inseguros sobre o quanto cada personagem sabe (e o que exatamente cada personagem está sentindo).
Essa atmosfera é construída aos poucos e um tanto lentamente, então, sim, o filme pode parecer um pouco chato ou lento ao espectador mais acostumado ao ritmo hollywoodiano de contar histórias desse tipo. Contudo, essa lentidão faz parte da trama e não estraga em nada a experiência.
No quesito dramático, é bacana tentar mergulhar na cabeça do casal principal e se questionar sobre suas motivações, virtudes e vícios. E isso dá bastante pano pra manga, especialmente no final, quando
a mocinha resolve não 'trair' o vilão, e o vilão mostra que, de fato, estava apaixonado. Outro detalhe que dá bastante o que pensar é a escolha dela em não cometer o suicídio, talvez assumindo a culpa pelos seus atos e desejando ser punida de algum modo.
O filme é carregado de um erotismo até pesado, com cenas de sécho bem detalhadas e expositivas. Contudo, nota-se que esse recurso não é meramente apelativo (do tipo que quer chocar os puritanos ou atrair os taradões de plantão), e sim se encaixa na história e nos personagens.
No mais, bacana também conhecer essa face oriental da Segunda Guerra Mundial, mostrando que nessa parte da História tivemos muito mais do que europeus se digladiando.
Vale assistir, mesmo em suas quase três horas de duração.
É Culpa da Alegria
3.2 11 Assista AgoraComédia romântica que preza pela leveza, mas no caminho sacrifica boas oportunidades e um bom tanto de coerência.
Então o drama do protagonista, que não pode ser feliz sem desmaiar, é um enredo interessante e cômico o suficiente para nos deixar interessados. E quando surge uma paixão em sua vida, é claro que ficamos curiosos para ver como as coisas se desdobrarão.
Porém, tudo vai se afunilando para um desfecho cheio de conveniências e simplicidades que podem frustrar, tipo os desmaios acontecerem com coisas pequenas (ver um cachorrinho fofo), mas não quando está no flerte velado com seu par romântico.
E o filme até tinha abertura para desenvolver um drama suave do tipo 'não posso ser feliz' ou ainda provocar uma reflexão sobre o medo de ser feliz... só que não. Em vez disso, fica no mais do mesmo das trocentas comédias românticas existentes por aí. Chega a tal ponto que ao final a doença do protagonista é quase um elemento secundário, que poderia muito bem sumir e a história continuaria a mesma.
Não que seja um filme chato ou ruim (para quem busca comédias românticas, claro), é só que deixou de dar um ou dois passos para ser um pouco mais do que o básico.
Enfim, vale assistir como digestivo emocional, mas nada muito meritório.
Eu, Christiane F.,13 Anos, Drogada e Prostituída
3.6 1,2K Assista AgoraApesar da temática, e apesar de ser sim um filme pesado, não chega a ser propriamente apelativo, daí se situar bem entre uma peça de entretenimento e uma obra de reflexão.
Então, não, não é um daqueles filmes cujo único propósito é chocar. Consegue desenvolver bem o drama adolescente (necessidade de aceitação, paixão, dúvida) dentro de uma trama que é progressiva (a Christiane cercando o mundo das drogas até se perder dentro dele). O lance das drogas é o ponto central, porém é o meio, não necessariamente o fim.
E tem até umas tiradas poéticas que são surpreendentemente sutis, além de recursos de direção e fotografia que contribuem para essa atmosfera meio onírica - no caso, um pesadelo, né.
Assim, o ponto é: é um filme duro, cruel, pesado, mas não é o choque pelo choque, o impacto pelo impacto.
Você vai sim terminar o filme com um gosto amargo na boca, contudo, em decorrência de um filme que é honesto diante da história que quer contar.
Só não ganha mais estrelas porque, na minha opinião, sacrificou muito a parte contextual da história (nada da vida de Christiane na escola, muito pouco de sua vida familiar) e também no início e no fim (ambos super abruptos, desencaixados da história, quase que dispensáveis, especialmente o final,
que só serve mesmo para sabermos que ela sobreviveu e conseguiu se livrar do vício
E como zoeira... que mãe pra frentex a dela, hein?
Carrie, a Estranha
3.7 1,4K Assista AgoraFilme de terror/suspense simples e rápido, que explora elementos sobrenaturais sem fazer muita firula, mas que ganha em densidade ao inserir aí elementos dramáticos - e ao sacanear, de modo corajoso, a nossa expectativa quanto à 'moral da história', digamos assim.
Então o filme funciona como um relógio. Já na primeira cena temos a construção da protagonista e do que ela vai ter de 'superar' durante a trama. Os personagens vão sendo introduzidos de modo unidimensionais, sim, mas muito bem encaixados, engrenagens bem azeitadas dentro do mecanismo que é o enredo e seu desfecho. Enquanto que o enredo logo se lança de modo completo, deixando claro pro espectador qual será o clímax - e que clímax!
Porém, por trás disso tudo, vão surgindo pontos dramáticos que ameaçam roubar a classificação 'terror/suspense'. Adolescência, religião, autoaceitação, e, claro, bullying. Tanto é, que a sensação maior do filme é menos de medo/espanto, e mais de revolta/indignação
, seja pelo que fazem com a Carrie, seja pelo que ela acaba fazendo, né, matando mesmo quem não tinha culpa de nada
Enfim, uma mistura que dá super certo e que mesmo hoje, nos idos de 2023, não é comum encontrar.
Detalhe curioso é que parece estar aqui a origem dos trocentos filmes de comédia romântica que rodam sob o plot 'apostas que fazem o cara popular sair com a garota esquisita'.
E outro detalhe (para a galera dos animes) é que parece estar aqui, também, muita da inspiração para o ótimo Elfen Lied.
Christine, O Carro Assassino
3.3 670 Assista AgoraPara quem assistiu lá atrás, nos tempos áureos do SBT, avaliar o filme hoje em dia é uma tarefa que exige separar a nostalgia da objetividade - mas pode ser que a objetividade também seja nostálgica, né.
Então o filme é simplesmente muito bom, e envelhece como vinho. E isso por dois motivos entranhados na história.
O primeiro é a transformação do Arnie. Existe algo mais interessante, engajador, e envolvente do que um vilão com quem a gente simpatiza (pelo menos até certa parte do rolê)? A trajetória do 'coitado' que alcança algum tipo de 'poder' e com isso se corrompe, como vitimado por sua própria frustração anterior, é muito boa, e aqui, apesar de não atingir nenhum ponto dramático - tem quase nada de um conflito pessoal do Arnie ao se dar conta do que se transformou -, ainda assim dá muito caldo e, por que não?, certa profundidade pra trama.
O segundo é a natureza do carro assassino. O lance não é explicar o porquê, o como, a razão de sua maldade; ela está lá e pronto, caba ao espectador aceitar e aos personagens lidarem com isso. Acho esse recurso muito bom quando bem usado - não esmiuçar a origem das coisas -, e aqui ficou sim bem usado. A gente nem sente falta de saber sobre a 'natureza' da Christine, e as cenas iniciais, do cara perdendo os dedos e depois o outro morrendo por ter jogado as cinzas do charuto no banco, já mostram o que é preciso mostrar: o carro é do mal, ponto.
Claro, não é um filme perfeito, tem pontinhas soltas, coisas convenientes pra fazer a trama andar. Porém, tudo dentro do espírito da época em que foi feito, e nada que ofenda o espectador atual.
E bônus para a trilha sonora, escolhida a dedo, fazendo com que cada música fosse uma reação da Christine, uma tradução do que 'sentia'.
Enfim, que seja nostalgia, mas ô filme bom de assistir e reassistir.
Que Horas Eu Te Pego?
3.3 491Estrutura super batida, começo bem apelativo (quase non sense, de tão exagerado), e desfecho previsível. Ainda assim, arranca algumas risadas e dá lá um calorzinho no coração.
Então o começo já meio que entrega tudo o que vai acontecer, restando pouco de inusitado ou inédito. E até aí tudo bem, já que é comédia romântica e é difícil inovar no gênero. Me incomodou, porém, o tom bem exagerado no início, que se cristaliza na Maddie, completamente sem noção naquela forçação de barra para as coisas acontecerem. Só quando esse tom para (lá pela metade do filme) é que o filme começa a ser mais simpático.
As tiradas de humor não são todas certeiras, mas ficam compensadas por uns breves picos de originalidade e atualidade (especialmente o momento da festa).
Já quanto ao desfecho, bem, como dito, previsível. O que mantém o interesse é mesmo o carisma da Maddie. E o final, se se salva por não
entregar alguma mirabolante forma dos dois ficarem juntos, peca por terminar tudo em flores... mas aí para ser diferente só mesmo se fosse uma comédia dramática, né.
De todo modo, a jornada dos personagens é lá um tanto edificante, daí aquele calorzinho no coração. Mas não é uma comédia romântica de destaque, valendo mesmo só para passar o tempo (e para os taradões e taradonas de plantão, graças à cena na praia).
Não! Não Olhe!
3.5 1,3K Assista AgoraTipo de filme em que o desagrado é diretamente proporcional às expectativas de quem assiste - sejam expectativas por ser um filme de um diretor com bons trabalhos anteriores, sejam expectativas vindas simplesmente da sinopse e da classificação como 'terror'.
Diria então que as chances de rolar alguma frustração aqui são bem grandes.
Fato é que o filme usa de uma lentidão estranha, aposta num esquema narrativo que não parece se encaixar (tipo usar os títulos para cada seção e a algo estranha inda e vinda temporal), traz elementos e personagens que inspiram um sentido maior (só que não), e a história parece ser do tipo que se sustenta enquanto não se revela (ou seja, quando acaba parte do mistério, parte do envolvimento some junto).
Porém, o lance é que mesmo assim não é um filme ruim, chato ou sem pé nem cabeça.
Tirando aquelas expectativas prévias - e talvez descontando um ou outro abuso estilístico do diretor -, o filme é sim convincente em sua proposta e faz alguns paralelos leves, mas interessantes, com a realidade fora da telinha.
O único ponto que me desgostou mesmo foi o final, já que
uma vez que o filme perde a graça ao explicar as aparições, me pareceu necessário explicar um pouco mais, dar mais sentido; em vez disso, ficaram lá só aqueles lençóis pulsantes estilo inimigo do Godzilla e uma correria puramente física para destruí-lo.
Vale assistir. Se não como um filme do Jordan Peele, se não como terror (definitivamente não!), pelo menos, então, como uma peça interessante de ficção científica.
Magnatas do Crime
3.8 299 Assista AgoraUm daqueles filmes que se sustenta em plot twists categóricos, mas sem forçar a barra e respeitando a história - e o próprio espectador.
Assim, desde o início, o filme já deixa claro que se trata de uma trama baseada em 'verdades' que só serão reveladas no decorrer da narrativa. E a própria cena inicial já é um gatilho e tanto, seguida da apresentação do formato narrativo - um outro personagem narrando os acontecimentos, e portanto sujeito a suspeitas quanto a suas intenções e mesmo quanto ao que ele de fato sabe.
E nesse revelar das 'verdades' temos personagens ótimos (todos, absolutamente todos, os personagens são interessantes, mérito portanto dos atores), um encadeamento de fatos progressivo até o clímax (muito bem feito, aliás, com pouquíssimas chances do espectador se entediar), e, claro, toda aquela ambientação gangster dos dias atuais numa Inglaterra que mistura luxo, nobreza e criminalidade.
Ah, e bônus para as brincadeiras feitas com a quebra da quarta parede, que conferem um tom de humor mas também de agradável confusão (uma narrativa dentro de outra narrativa, que a qualquer momento pode ter sua natureza falsa revelada).
Enfim... do que já assisti do Ritchie, esse é o primeiro filme que realmente me pareceu explicar o por quê do cara ser badalado. Uma mistura eficiente e bem calibrada de de ação, humor e plot twists, logo, uma peça de entretenimento com grande potencial de satisfação.
Rubikon: Ponto Sem Retorno
2.2 26 Assista AgoraFeijão com arroz das ficções científicas 'de conteúdo', portanto agrada quem quer o básico do gênero, mas daí desagrada quem espera novidades mirabolantes.
Então a proposta do filme é simples e evidentemente feita para se encaixar num baixo orçamento.
Entrega o que um filme de FC precisa entregar: um contexto futurista, com tecnologia avançada, dentro do qual, como efeito desse mesmo contexto, um grupo de personagens precisa se virar para achar uma saída ou uma solução.
Tem também uma mensagem política/moral de fundo, que ressoa na nossa consciência de mundo e até mesmo de espécie (humana). Aliás, é super atual e importante essa mensagem, mas que de tão explorada (e explorada em filmes de bem menos qualidade, diga-se de passagem) tendemos a menosprezar como se fosse 'clichê'.
Quanto ao desenvolvimento, é uma FC 'de conteúdo'; ou seja, não espere tiros ou ETs, nem uma viagem brisada com confusos conceitos filosóficos.
O foco é um 'conteúdo' que envolve drama e decisões morais, só. Daí que, sim, alguns podem achar a coisa lenta ou desinteressante... Eu, particularmente, curti bastante o dilema que os personagens precisaram enfrentar, e acredito que as reviravoltas e o clímax não deixaram a peteca do entretenimento cair (e pena que faltou coragem para no final
pintar a galera do bunker não como uns acionistas sacanas e egoístas, mas como gente normal, pois daí sim a decisão de ficar na estação teria sido bem mais difícil).
Quanto a personagens e diálogos, bem, de fato, é um ponto bem fraquinho. Porém nada assim tão catastrófico.
E quanto à profundidade do filme... poderia ser mais profundo? Poderia. A falta de profundidade comprete o sentido, a mensagem e o 'tchan' propostos pelo filme? Não. Então tá valendo.
Resumindo, não é uma pérola, mas também não é lixo. Me surpreender o conceito tão baixo dado ao filme. Vale para fãs de FC, e mesmo para um espectador mais casual.
Renfield - Dando o Sangue Pelo Chefe
3.2 247 Assista AgoraPremissa interessante, mas que derrapa na execução.
Então é claro que chama a atenção o tormento do assistente (aka, escravo) do Drácula quando se cansa de sua condição. E chama a atenção também trazer isso para os dias atuais com todos os empecilhos que podem existir para quem vive do sangue alheio.
Contudo, a trama, após ser apresentada, fica numa planície meio insossa. Tem ali tiradas de comédia, tem ali um gore (nada demais, então não se preocupe), tem ali um rolêzinho romântico, e tem ali uma pegada de ação temperada com terror. Mas o conjunto da obra acaba sendo só isso: uma porção de tiradas sem muita, digamos, harmonia.
Daí uma sensação de filme sem personalidade, que acaba sem grande clímax.
O que salva mesmo é, como dito, a premissa interessante, com o bônus do Nicolas Cage num papel de vampiro, podendo extravasar toda a sua excentricidade em gargalhas e caretas.
Contudo, me pareceu uma experiência aquém do que poderia ter sido. Aluguei por R$ 30,00 na Amazon Prime, mas certamente é o tipo de filme que valia a pena esperar chegar no catálogo geral embutido no preço da assinatura mensal.
No Calor da Noite
4.0 139 Assista AgoraDaqueles filmes antigos que não parecem tão antigos assim e que revelam as bases de todo um gênero hoje em dia super batido (no caso, o gênero policial com pegadas de mistério e suspense).
Então, sim, se você curte o gênero, não há como não gostar.
E além do quadro geral (ambientação, progressão da trama, contexto político-social), há detalhes bem bacanas. Tem toda essa construção da trama em torno da relação entre os protagonistas, dois personagens característicos e super bem representados pelos seus atores (méritos para a exemplar mascada de chiclete do Rod Steiger, um cacoete muito bem utilizado). E ainda o clima de suspense em torno da questão racial, digna de em alguns momentos puxar o filme quase para um terror mesmo.
De negativo, talvez, só mesmo o fato de hoje em dia estarmos um pouco insensíveis às tramas mais simples, como se os filmes precisassem de muitas firulas (idas e vindas com muita correria) para serem interessantes; daí que uma história mais linear, redondinha, pode soar previsível (mas, repita-se, apenas por esse olhar de quem assiste nos idos de 2023 um filme lá de 1967).
No mais, vale assistir, sem sombra de dúvida.
Rebelde com Causa
3.1 625 Assista AgoraPara quem curte histórias de garotos adolescentes desajeitados se batendo com uma paixão por uma garota ideal, vai encontrar aqui um bom filme, e com Cera fazendo o que parece fazer de melhor (o papel daquele garoto adolescente desajeitado, claro).
Porém, o filme no geral é um tanto desorientado, em especial no humor (pode ser a idade falando, meus jovens, então relevem esse ponto...). Quer dizer, são ótimas as situações cômicas que exploram a timidez e falta de tato do protagonista, em especial quando ao lado da mocinha; e melhores ainda são as cenas com o François. Porém, no meio disso, rolam piadinhas de sexo que lembram as piadas de quinta série, algo que me parece bobo até mesmo para o público 'ideal' do filme (ou seja, adolescentes).
Outra desorientação do filme é com duas aleatórias animações inseridas no meio da história (para que aquilo?), que sugeriam uma pegada mais descontraída sem que a promessa fosse cumprida; e também alguns lancezinhos de roteiro, ora apressados, ora simplesmente suprimidos (tipo a gótica da escola francesa
, que recebe um detalhamento desnecessário em razão do que viria a ser a sua função efetiva na trama
Entretanto, contudo e todavia, claro, é um filme de comédia para o público adolescente, então é preciso relevar essas coisas todas (a idade meus jovens, a idade...).
Ficam aí as três estrelas de um trintão; senão pela qualidade intrínseca do filme, então pela nostalgia despertada na galera que também quis ser/ter um François pra tocar o terror.
Doentes de Amor
3.7 379 Assista AgoraNão assisto a muitas comédias românticas, então pode ser só minha desatualização falando, mas essa aqui me pareceu um pouco mais convincente do que as habituais.
Isto é, apesar de sua estrutura trazer os elementos clássicos e manjadíssimos, o faz com certa sutileza e consegue tapear o espectador que se entregou mais à narrativa, resultando em mais surpresas, expectativas e, claro, mais receio sobre o destino do casal em tela.
Em particular, achei muito boa toda a seção do filme em que
estando a Emily no hospital, dá-se de barato que bastará ela acordar e tudo ficará bem, os dois voltarão juntos, e agora com as bençãos do simpático casal de meia idade que são os pais da moça. Mas aí, quando ela acorda e está lá chapadaça na sinceridade, detona o protagonista e quebra todas as expectativas quanto ao futuro dos dois.
Bônus também para o humor do filme, que se aventura não apenas pelo politicamente incorreto em alguns momentos, mas também pelo humor feito em momentos de drama, causando na gente um certo deslocamento; já o humor 'tradicional' também funciona bem, mesmo que nada excepcional.
Enfim, uma comédia romântica leve, porém ainda assim não de todo gratuita. Vale assistir para quem gosta do gênero, e talvez tenha aí certa probabilidade maior do que a média de agradar também aqueles não muito chegados.
A Queda
3.2 739 Assista AgoraFilme que derrapa em certas conveniências e forçações de barra, e peca demais por não ter uma mensagem coesa, mas que compensa no seu efeito plenamente angustiante. E, mano, que angústia!
Então é claro que temos aqui o mal dos filmes 'baratos', como um enredo duvidoso - claro, você pega alguém com estresse pós-traumático e coloca essa pessoa para enfrentar esse estresse do jeito mais arriscado possível... - e uns momentos bem do tipo 'é tão óbvio, mas o personagem só pensou nisso uma década depois'.
E incomoda sim o fato de que a história toda se desenrola meio que sem entregar uma mensagem final, coesa, algo que dê ares de 'e a moral da história é...'. Até tem um lance meio autoajuda (como não poderia deixar de ter em filmes do tipo sobrevivência), mas super sutil e pouco memorável.
Apesar disso tudo, o filme se garante pacas no quesito reação do público.
Não é suspense, não é terror, não é medo: é angústia. Desconforto mesmo. Especialmente se você tiver uma relação não muito amistosa com alturas. E é preciso reconhecer que o filme constrói muito bem o palco isso-vai-dar-muito-errado ao focar em parafusos e metal enferrujado, estimulando de modo bem eficiente nossa expectativa pelo clímax.
Juntando isso aí, acaba sendo uma experiência bem visceral, com direito até a frios na barriga.
Enfim, um filme bem entretenimento mesmo, que não atinge nenhum lugar especial de filosofias ou sacadas, mas que acerta em cheio o espectador - realmente difícil ficar indiferente.
Vale assistir, sem sombra de dúvidas.
Tudo em Todo O Lugar ao Mesmo Tempo
4.0 2,1K Assista AgoraFilmes que misturam muitas gêneros têm lá seus percalços; com esse aqui, não é diferente, mas ainda assim se salva pela originalidade e pela ideia científica que desenvolve.
Então, sim, incomoda um pouco o fato de enredo e direção atirarem para várias direções. Ação, aventura, drama (existencial e 'de relacionamentos), ficção científica, comédia. Essa última, aliás, bem peculiar, já que algumas piadas são bastante bobinhas, descolando do contexto mais sério e até mesmo intelectual da história.
São tantas pontinhas que vão se soltando que pode sim ser um pouco difícil simpatizar com os protagonistas e embarcar na mensagem principal do filme - ou seja, pode ser difícil chegar até o final envolvido a ponto de se emocionar ou mudar sua visão sobre o universo (ou, no caso, sobre o multiverso).
Mas o que salva o filme, e que acho sim que o faz entrar num grupo seleto de narrativas, é a sua originalidade ao desenvolver a ideia do multiverso. Por ignorância, desconheço a fidedignidade cósmica no modo como exploram a coisa dos universos paralelos, mas ficou bastante didático, simples e, repito, original (esqueça aquele intelectualismo, às vezes forçado, de quebrar a cabeça mais no estilo Nolan).
Então temos diálogos, fotografia e música bastante 'soltos' ao sabor dos diretores, que ousaram construir algo fora da caixinha - não tem, por exemplo, aquela linearidade pesadona. Na verdade, em diversos trechos o filme parece não se levar muito a sério, o que não deixa de ser original ao se tratar de uma narrativa sobre um conceito científico super sério.
E quanto a esse conceito, creio que ficou na medida: leve o suficiente para engendrar a história, mas profundo o bastante para nos deixar matutando algumas coisas quando os créditos sobem.
É assim uma obra prima imperdível que merece todos os louros? Creio que não. Mas, insisto, é certamente um filme que entrou num grupo seleto de narrativas - talvez vire aí um novo clássico.
Vale a pena assistir, sem dúvida alguma.
Temporada de Patos
3.9 29Filme com uma carga artística e sentimental muito bem acertada, que certamente agrada ao público cuja adolescência ainda é um assunto mal resolvido - leia-se, um público que ainda se identifica com os dramas e dores dessa fase da vida.
Da parte 'artística', temos o fato do filme ser em preto e branco e também a composição das cenas e suas sequências - a fotografia meio que 'casual', o corte entre diálogos e situações, o cenário doméstico ao mesmo tempo claustrofóbico (um domingo num apartamento e sem energia elétrica) e aconchegante (novas amizades que conduzem a sentimentos e reflexões).
Já pela carga 'sentimental', destaca-se o constante destilar daquele gostinho amargo e doce de quando se é adolescente e navega-se pelos mares revoltos da inexperiência, da dúvida e da descoberta. Essa carga não é apelativa, do tipo que tenta arrancar lágrimas, e por isso mesmo consegue atingir fundo - ao menos se você, frise-se, tem aquela adolescência não muito bem resolvida.
E vale ressaltar o clima absolutamente convincente de 'os pais saíram de casa então podemos fazer o que bem entender', que só ganha com as constantes referências a ícones da juventude - coca-cola, videogame, pizza e, claro, os acasos super casuais que induzem a experiências únicas.
Ao fim, a sensação que fica do filme é a de uma alegria triste, ou uma tristeza alegre: viver um domingo desses é uma experiência memorável (e que apertinho que dá no coração quando os meninos trocam de camiseta!). E que viagem tentar projetar aquelas pessoas em seus futuros!
Enfim, uma pequena pérola escondida na Netflix.
O Telefone do Sr. Harrigan
2.8 216 Assista AgoraPremissa e pegada sentimental interessante, mas o tipo de filme que atola no 'quase' e não consegue sair disso.
Então é sim interessante o suspense que envolve a relação do garoto e do velho, assim como o suspense em torno da personalidade misteriosa deste último.
Porém, começa a dar uma sensação de marasmo o fato de que as coisas não acontecem de fato se não lá pela metade do filme, que é quando surge o primeiro dos 'quase' do filme: a trama quase engrena.
E aquele suspense inicial também naufraga consideravelmente, já que o tchan da história - isto é, seu fator de mistério/magia - acontece meio que sem profundidade ou impacto, confiando num clima mal desenvolvido - outro 'quase' - de nostalgia pela adolescência - aquela imersão um tanto difusa na vida escolar do protagonista, com direto a bullying, paixonite e crise de identidade.
E o clímax do filme oscila entre desenvolver de vez o fato de mistério/magia e o desenvolvimento da escola moral do moleque, portanto não conseguindo agradar nem o público mais afeito a tramas fantasiosas nem o público que esperava maior drama.
Enfim, o tipo de filme que vale por ter nascido da cabeça do Stephen King, mas que decepciona no desenvolvimento.
Assista, mas mais como um passatempo descompromissado, ciente de que está longe de ser uma obra memorável.
Munique: No Limite da Guerra
3.5 61 Assista AgoraFilmes da segunda guerra mundial não faltam, então a temática causa certo cansaço antes mesmo de película começar; contudo, para fãs do gênero e do assunto, certamente uma boa pedida.
O diferencial do filme é que mostra um Chamberlain para além da simples ingenuidade a qual a História o relegou (menções geralmente breves atribuindo seus esforços a um infantilismo político). Por mais que o elemento da ingenuidade esteja lá, o filme coloca ali algumas ambiguidades, construindo essa figura como alguém com certa astúcia política e, sobretudo, com uma forte convicção pacifista.
Quanto ao restante da trama, chama a atenção também a certamente intencional forçada de traço no aspecto traiçoeiro do nazismo e dos nazistas. Isto é, o filme se esforça para trazer à tona os riscos dos líderes populistas e seus fanáticos seguidores - aquela conversa deles jovens na mesa do bar na Alemanha semi-nazista é basicamente a conversa de muitas mesas de bar nos dias de hoje nesse mundão louco da terceira década do século 21.
Por fim, enquanto narrativa em si, o filme também funciona bem com um protagonista transitando no grande palco da História enquanto tenta resolver seus dilemas pessoais - inclusive sua vacilante admiração pelo Chamberlain.
Vale assistir, mas pode cansar a galera que não tem uma simpatia particular com a temática.
Thelma & Louise
4.2 967 Assista AgoraUm filme certamente a frente de sua época, com aquele toquezinho ingênuo dos anos 90, mas com a mensagem politizada que cada vez mais ganha espaço no cinema atual - e dessa combinação surge um filme com uma 'moral' rica e ainda assim uma bela peça de entretenimento.
Então, quando a gente entende do que se trata o filme - duas amigas numa jornada pessoal de um certo amadurecimento -, e somos conduzidos pela sua atmosfera de road movie - com direito a um Brad Pitt novinho e com -1% de gordura corporal -, fica difícil não se deixar levar.
Confesso, porém, que me incomodou um pouco a forma como o grande conflito da trama é iniciado (meio abrupto), e o modo como a Thelma subitamente embarca naquela vibe de fugitivas. Contudo, nada que atrapalhe a história.
E de compensação, a posterior jornada de crescimento da personagem Thelma acaba sendo ótima, flertando entre a comédia e um certo toque filosófico.
Bastante louvável também o modo como o filme mistura drama e comédia com pitadas de policial, entregando um ritmo consistente e divertido.
E quanto à moral do filme, bem, os mais conservas de plantão podem se ofendem com uma história que não esconde seu viés feminista (ou ao menos de crítica ao comportamento masculino 'tóxico', digamos assim), mas é uma moral certamente válida e perturbadoramente atual.
E a icônica cena final, que é uma daquelas super parodiadas / referenciadas cinema a fora, merece todo o impacto que causou e continua causando.
Filmão e que vale assistir.
Universo Anime
1.8 35Com muita boa vontade a gente consegue achar algum mérito nesse 'documentário', daí minhas duas estrelas.
E digo muita boa vontade porque não é um documentário, e sim uma propaganda que tenta se vender como documentário - daí que usa dos recursos de uma 'narradora-investigadora' e de uma ou outra informação curiosa sobre a técnica dos animes.
Então acaba sendo uma oportunidade de conhecer um pouco melhor o acervo de animes da Netflix, mas não muito além disso.
Ou seja, você não vai ter um apanhado histórico desse tipo de narrativa, um panorama da sua evolução, seus aspectos mercadológicos e culturais, seus principais produtos, nem nada disso: é basicamente um chamariz para os produtos da Netflix - e com direito aos produtores desses animes participando com evidente má vontade (na certa alguma obrigação contratual contida na estrelinhas não lidas do contrato que assinaram).
Enfim, é um grande clickbait que cumpre, se muito, a função de dar algumas sugestões de anime (sempre da Netflix) para o espectador assistir.
A Hora Mais Escura
3.6 1,1K Assista AgoraFilme um tanto estranho na estrutura, algo ingênuo na mensagem, e certamente com um ritmo de desenvolvimento mais lento do que dinâmico, mas que ainda assim vale assistir.
Filme um tanto estranho na estrutura porque ao mesmo tempo em que foca na protagonista e sua jornada pessoal (e seu inevitável encontro com o vazio quando 'completar' sua missão), vai inserindo novos grupos de co-protagonistas conforme a trama progride, deixando a gente meio perdido, do tipo 'o filme ainda é sobre a ruiva?'. E nessas inserções o próprio gênero do filme oscila, indo do extremo mais documental até chegar no patamar da ação. Isso tudo é ruim? Não sei... mas achei estranho e custei a me acostumar.
Filme algo ingênuo na medida em que deixa de lado seu potencial crítico e cético sobre a guerra ao terrorismo. Como comparação, poderia ter um pouco mais da crítica de filmes como 'Vice', 'O Relatório' e 'Segredos Oficiais'. Senão crítica, ao menos um tom mais sombrio e desencantado. Só não foi desastre total porque o filme não caiu na armadilha do heroísmo/virtuosismo típico de filmes norte-americanos de guerra; contudo, ainda assim, é gritante a suavidade com que trata o episódio histórico retratado.
E ritmo lento... bem, todo filme que passa das 2h tem como missão combater com unhas e dentes a potencial sensação de lentidão. Não sei se 'A Hora Mais Escura' foi feliz nesse combate. Aquela inserção contínua de novos co-protagonistas meio que dificulta manter a imersão contínua na história, bem como a sua alternância entre os gêneros. E como o filme necessita transitar pelos anos dos acontecimentos narrados, aumenta a sensação de desconexão (leia-se, uma narrativa que não consegue manter um ritmo cadenciado). Então, sim, pode chatear um pouco o espectador, especialmente se ele estiver ali buscando meramente um filme típico de guerra com muitas explosões e tiroteios.
Mas, tirando todos esses lados negativos, o filme merece nosso tempo. O arco da protagonista é sim interessante em termos dramáticos, e o contexto todo é rico para quem curte História e Política.
Vice
3.5 488 Assista AgoraBiografias, quando bem feitas, merecem nosso respeito, e aqui temos sim uma ótima biografia.
A figura em si talvez não seja de muito interesse para não-norte-americanos, mas o filme é tão competente que torna Cheney instigante o suficiente para nos envolvermos com sua trajetória e personalidade. E o filme tem bem marcada a ascensão do personagem, o que torna tudo mais envolvente e interessante - ao menos se você curtir histórias de ascensão.
É bacana também que mostra muito dos bastidores do poder, porém sem perder certa leveza. Daí que temos um sutil humor ácido aqui e ali enriquecendo a narrativa.
E há, é claro, a mensagem em si do filme, que mostra grande parte dos interesses escusos por trás da guerra ao terrorismo. Senti que o filme deu uma aliviada nas motivações do Cheney (apenas sugerindo seu interesse econômico) e passou o pano legal para o Bush (vendido como um bobão manipulável), mas, ainda assim, consegue problematizar bastante as verdades sobre a invasão ao Iraque e tudo o mais.
Aliás, o filme tem essa pequena proximidade com documentários, mas, não se engane, seu foco é narrativo, daí, inclusive, alguns recursos mais ousados, tipo aquela ótima cena irônica subindo os créditos na metade do filme.
Contudo, fica a ressalva: apesar de bom e interessante, ainda é um filme biográfico, portanto rendido aos 'fatos reais' (ou ao tanto que se sabe sobre eles), e por isso exige algum grau de paciência caso o espectador não curta muito esse estilo.
E méritos para o Bale, numa transformação incrível que foi do físico aos trejeitos de falar.
O Relatório
3.5 111 Assista AgoraApesar de ser 'filme', tem toda uma vocação para documentário, e aí pode estar seu grande ponto fraco: não é propriamente divertido de se assistir.
Então a narrativa entrega muito mais fatos do que desenvolvimentos conflituosos de dramas dos personagens ou de situações de tensão. E daí que pode sim dar a sensação de um filme lento, arrastado, que patina bastante para sair do lugar.
Mas é ruim?
Não se você assistir na vibe de quem está aberto a documentários. Afinal, a história em si é muito boa, com diversas polêmicas, além de um retrato de algo ainda muito próximo de nós - meio que um aula suave sobre a guerra ao terrorismo que até muito recentemente vivia nos telejornais.
Eu diria que vale assistir para quem busca se informar sobre a guerra ao terrorismo, mas não é simples recomendar para quem apenas busca um filme para abstrair - até porque a temática aqui é no mínimo revoltante, caso você ainda tenha qualquer resquício de humanidade.
Segredos Oficiais
3.7 89 Assista AgoraFilme numa leve pegada documental, mas sem perder a essência de uma obra de entretenimento: imersão e curiosidade pelo desfecho.
Então o filme é sim um pouco 'chato' na medida em que fica preso aos fatos e a uma narrativa sóbria. A protagonista não é propriamente aprofundada, e seu potencial na trama é mesmo como agente histórico e não tanto como agente dramático.
Contudo, as coisas vão acontecendo e sendo apresentadas numa cadeia envolvente, o que garante o engajamento do espectador. E mesmo a protagonista pouco dramática consegue nos despertar aquela sensação de torcida, algo do tipo esperar que ela acabe ficando bem no rolê todo.
Quanto à mensagem em si do filme, é bacana por registrar a parte inglesa da grande farsa que foi a guerra contra o terrorismo, revelando que pouco ali foi genuíno ou espontâneo.
Enfim, o filme certamente vale como registro histórico de um episódio decisivo em nossa história contemporânea, mas pode desagradar um pouco quem busca narrativas mais dinâmicas.
Desejo e Perigo
3.9 108 Assista AgoraFilme de espionagem que entrega o lado oriental da Segunda Guerra Mundial, e por isso é interessante, mas que de bônus desenvolve um drama bacana sobre desejo e paixão, e por isso é emocionalmente envolvente.
Então temos uma trama clássica de 'dormindo com o inimigo' e carregada de um suspense sutil mas competente. O filme escapa de situações fáceis e clichês do tipo colocar a protagonista na iminência de ser descoberta em sua espionagem, e aposta muito mais numa atmosfera de perigo e suspeitas que nos mantêm até o final inseguros sobre o quanto cada personagem sabe (e o que exatamente cada personagem está sentindo).
Essa atmosfera é construída aos poucos e um tanto lentamente, então, sim, o filme pode parecer um pouco chato ou lento ao espectador mais acostumado ao ritmo hollywoodiano de contar histórias desse tipo. Contudo, essa lentidão faz parte da trama e não estraga em nada a experiência.
No quesito dramático, é bacana tentar mergulhar na cabeça do casal principal e se questionar sobre suas motivações, virtudes e vícios. E isso dá bastante pano pra manga, especialmente no final, quando
a mocinha resolve não 'trair' o vilão, e o vilão mostra que, de fato, estava apaixonado. Outro detalhe que dá bastante o que pensar é a escolha dela em não cometer o suicídio, talvez assumindo a culpa pelos seus atos e desejando ser punida de algum modo.
O filme é carregado de um erotismo até pesado, com cenas de sécho bem detalhadas e expositivas. Contudo, nota-se que esse recurso não é meramente apelativo (do tipo que quer chocar os puritanos ou atrair os taradões de plantão), e sim se encaixa na história e nos personagens.
No mais, bacana também conhecer essa face oriental da Segunda Guerra Mundial, mostrando que nessa parte da História tivemos muito mais do que europeus se digladiando.
Vale assistir, mesmo em suas quase três horas de duração.