Filme que transita de modo agradável e suave entre a ficção científica e a comédia romântica, portanto com potencial para agradar aos fãs de ambos os gêneros.
Daí que sua parte de ficção científica é bem leve, sem muita profundidade sobre detalhes tecnológicos ou contextuais. Na verdade, a coisa do humanoide tá ali meio que apenas como um catalisador pro enredo.
A parte de comédia romântica é feita apostando bastante na estrutura clássica do gênero, sendo por isso um tanto previsível e até clichê - o que significa que teremos momentos de humor e de calorzinho no coração.
O ponto alto do filme, porém, é conseguir revestir a comédia romântica com uma pegada de ficção científica que eleva o filme a um patamar um pouco mais reflexivo e filosófico, tornando a experiência mais significativa. Mas, de novo, de modo leve e suave, sem muita pretensão, do tipo que lança uma ideia no ar e deixa o espectador brincar com ela como bem entender.
O provável ponto negativo do filme, a meu ver, é seu final, que ao apostar num desfecho em aberto abre a possibilidade de desagradar o público (ainda mais se o público estiver ali mais pela comédia romântica, um gênero que costuma entregar finais redondinhos).
Enfim, uma experiência bacana, agradável e sutilmente filosófica com potencial de agradar tanto o público mais casual quanto o mais apegado a filmes reflexivos.
E a título de referência, para quem curtiu esse aqui, vale a pena conferir 'Ruby Sparks - A Namorada Perfeita', que também transita entre ficção científica e comédia romântica e tem um enredo bastante semelhante.
Filme de guerra que abraça a proposta de mostrar como na guerra podemos encontrar heróis inusitados no meio de tanta crueldade humana. E nesse aspecto é competente, apesar de escorregar um pouco nas conveniências.
Então, sim, a situação construída pelo filme é no mínimo envolvente: um sujeito egoísta se fingindo de padre enquanto se refugia numa igreja com uma porção de garotinhas e um grupo de prostitutas.
E é bacana que a narrativa explore o lado oriental da Segunda Guerra Mundial, algo que Hollywood tende a menosprezar.
Porém, a súbita transformação do Bale, bem como as decisões que os personagens tomam, dão a impressão de forçação de barra - exemplo maior é a cena do gatinho. E rola um enfoque no tal major chinês que exagera no virtuosismo num nível quase panfletário.
O filme também força um pouco o drama de algumas cenas e situações, além de nos fazer engolir um previsível 'troféu romântico' do protagonista.
O conflito final que os personagens têm de encarar é bacana e recompensa o espectador, especialmente os mais suscetíveis aos grandes atos de sacrifício. Mas, de novo, é difícil de acreditar que o estratagema não seria percebido de pronto pelos soldados japoneses.
Enfim, a experiência cinematográfica se sustenta e faz o filme valer a pena, mas a sensação final é de um roteiro e situação não plenamente explorados ou convincentes.
Filme que, dado nosso contexto, entra num gênero pouco explorado no cinema: a comédia com tons de angústia. Então se você é da galera que topa olhar para cima (e entende a importância da revisão pelos pares), você vai sim rir um pouco, mas vai se angustiar bastante.
Daí que a pegada do filme é essa, misturar absurdos cômicos vividos por personagens em sua maioria estereotipados, enquanto destila uma mensagem perturbadora sobre a alienação do povo e o oportunismo dos poderosos.
A comédia absurda incomoda em alguns momentos dado seu exagero, e em alguns momentos o filme perde seu ritmo - não consegue encaixar bem as breves pegadas mais sérias, como as sequências de imagens contrapondo as pequenas belezas da Terra com o cometa do fim do mundo se aproximando, que iriam melhor num documentário.
E o filme se perde um pouco também no enredo quando dá espaço demais à trama paralela do doutor Mindy em seu deslumbramento com a fama (tá, vá lá, é uma trama que tem também um teor crítico, mas ficou um rolê com espaço demais inchando desnecessariamente o filme para além das duas horas de duração).
Quanto à mensagem do filme, sua 'moral' vamos dizer assim, é mais do que necessária nesses tempos loucos que estamos vivendo (e não só pela pandemia, mas também nesse Brasil insano às véspera do segundo turno das eleições que podem colocar por mais quatro anos no poder o nosso cometa do fim do mundo próprio). E nesse aspecto é um filme corajoso por botar o dedo numa ferida aberta e que, valha-nos Deus, esperamos fechar em algum futuro próximo e habitável.
E quanto ao final do filme, bem, acho que o filme perdeu uma oportunidade e tanto de ser ainda mais angustiante. Teria sido bem mais perturbador se
a nave dos sobreviventes tivesse de fato se dado bem, refletindo que, no caos, a nata da sociedade tende a se safar ilesa
.
Enfim, é um filme polêmico e provocador, que mira um público específico e já de antemão aberto à 'olhar para cima'. Portanto, um filme que vai conquistar de antemão a antipatia da galera que teima em olhar para baixo.
Vale assistir, vale refletir, e vale a perturbação.
Ah, como é bom assistir a um filme que brinca com os gêneros entregando algo inovador, reflexivo e ainda assim divertido (isto é, sem cair naquela pretensão intelectual de ser revolucionário em termos artísticos).
Então o filme tem essas duas camadas.
A primeira, no nível do entretenimento, é a de uma peça que entrega comédia com tons de terror (ou o contrário). Temos situações absurdas, caricatas até, extraindo humor, mas ritmadas por uma pegada de desconforto e tensão - algo muito bem feito com o uso suplementar da sonoridade composta por sons de cordas, e pela câmera colada na protagonista, com direito a algumas distorções de luz e enquadramento para reforçar o desconforto e perturbação das coisas. Daí que você até pode dar algumas risadas, mas entrecortadas por um roer das unhas.
A segunda camada, no nível da 'mensagem', é a de uma narrativa que explora a confusão da juventude feminina, a qual eu, como homem, só posso captar parte, mas essa parte já é boa e consistente o suficiente para tornar o filme provocador. Desde a cobrança sobre o que é ser uma 'boa garota' e chegando no empoderamento feminino (e canalhice masculina), o que temos aqui é um diálogo com a ordem das coisas no que diz respeito à feminilidade - e aí mesmo sendo homem o espectador pode tirar proveito.
E bônus especial para a protagonista, que com sua expressividade consegue dar um tom tragicômico perfeito às situações.
Ah, e menção honrosa também à construção em si do filme, que é localizado tanto no quesito local (todo ele roda numa casa) quanto temporal (num espaço de poucas horas), e ainda assim consegue ser dinâmico e fluido.
Enfim, uma grata surpresa para quem busca filmes que saem da caixinha sem se tornarem pesadões nesse movimento.
O filme causa um estranhamento forte no início (pelo menos para quem assim como eu é menos habituado ao diretor e mais acostumado aos filmes pasteurizados de Hollywood), mas, superado esse choque, a coisa cresce e torna-se apaixonante.
É fascinante o modo como filme promete a todo tempo um sentido maior e categórico, mas evita com a mesma força entregar algo linear e contundente. E isso tanto no modo como brinca com os gêneros (policial, romance, ação, drama e até comédia) como nas histórias e nos personagens.
Bacana também a ambientação, meio que suja e sombria, traduzindo bem o teor caótico da narrativa, mas sem esquecer de pequenos elementos poéticos (como uma flor nascida no meio de um pântano).
E tem a trilha sonora, que surge quase como um personagem à parte, dando ritmo e conteúdo aos diálogos e cenas.
Resumindo: vale superar o estranhamento inicial (e até um pouco da latente cinetose com a câmera sempre em movimentação) e aproveitar uma narrativa original e cheia de recompensadores detalhes.
Me fez entrar no período de teste gratuito da Mubi e sem arrependimento algum.
O filme tem uma atmosfera fria e limpa, talvez até minimalista, sendo perfeitamente encaixada no 'espírito' da história. Além da atmosfera, saltam aqui e ali pequenos elementos transitando entre a fantasia e o realismo mágico, tornando o filme profundo e reflexivo - mas sem cair num intelectualismo barato e pretensioso.
E quanto ao conteúdo em si, é, de fato, um filme de nossa época, e tão preciso na questão que aborda que é difícil não rolar algum tipo de identificação do espectador, seja esse espectador quem for (quem, afinal, não reproduz nada daquela apatia cotidiana capaz de nos tornar cegos e indiferentes aos absurdos do dia a dia?).
E méritos por conseguir abordar a coisa toda pincelando o aspecto social (leia-se, contexto cultural e econômico), sem esquecer dos seus desdobramentos psicológicos (o modo como nossa subjetividade reage à ordem das coisas concretas).
De negativo eu só apontaria o final. Particularmente, não gostei do
desfecho levemente otimista e resolutivo, dando à protagonista uma saída ao seu labirinto de desconexão.
No mais, uma ótima pedida para quem gosta do cinema oriental e busca filmes originais mas compreensíveis e modestos (isto é, sem estripulias tais que tornam a peça ofensiva a quem busca entretenimento de qualidade em vez de uma arte totalmente revolucionária).
Um filme para te lembrar que se você já concluiu os anos escolares, parabéns, você sobreviveu (com alguns traumas, com algumas marcas, com uma coleção de mágoas, mas, vá lá, sobreviveu).
Daí que apesar de o filme ter como protagonista um menino com problemas genéticos, ele fica muito longe de um dramalhão barato focado em doença, superação, discriminação, etc.
Em vez disso, usa da doença como uma porta de entrada para uma discussão (leve e algo divertida) sobre bullying e aceitação, duas questões particularmente sensíveis nos anos escolares. E nesse sentido foi muito bacana a abertura de espaço para o drama de outros personagens, cada qual sofrendo também a sua dose de bullying (mesmo que antecipatório, como no se preocupar excessivamente com o que os outros podem pensar de ti).
De pontos negativos, eu diria que existe uma certa oscilação no estilo da narrativa (insere uns elementos mais irreverentes, mas que não são sólidos o suficiente para formarem um estilo coeso) e também um certo fracasso no desfecho, que, pelo menos aqui, não conseguiu ser plenamente emotivo e catártico (e o filme tinha todo o potencial de ser, já que todos nós temos algum grau de experiência própria no que diz respeito a bullying e aceitação).
No mais, filme gostoso de assistir e que traz uma reflexão bacana, especialmente para um público mais jovem.
Reassisti só para ver se era tão bom quanto na lembrança, e, de fato, é.
O enredo pode não ser dos mais convincentes, mas é super eficiente ao apostar no lance do 'um sujeito normal no lugar errado, na hora errada'. Inclusive é bastante bacana ter deixado claro que quase, por pouco mesmo, o Max não deixou aquele cliente passar...
Mas a pérola do filme, me parece, é sua ambientação. Quase todo ele se passa à noite, sob os vultos dos prédios e os faróis dos carros, dando um ar bem característico ao filme - e turbinado pelo som de Audioslave.
Pode não ser lá a referência maior de filmes policiais que misturam ação com suspense, porém certamente merece o tempo de quem curte o gênero (ainda mais para quem busca algo que não investe na ação barata de 'tiro, porrada e bomba' e, no lugar, aposta na construção de uma situação progressivamente asfixiante).
O filme repete a fórmula clichê do gênero 'catástrofe', mas que à época talvez nem fosse tão clichê assim.
Então é preciso ter uma dose de paciência com a tara hollywoodiana por seus presidentes e astronautas, bem como com algumas coisas explicadas bem nas coxas - tipo a decisão de um astronauta praticamente idoso ir numa missão da qual depende a vida na Terra.
E paciência também com a mania de inserir dramas familiares para tentar juntar os trechos em que a história em si de fato se desenrola.
No mais, vale como passatempo, especialmente um passatempo nostálgico para quem assistiu lá atrás, nas repetidas exibições em canal aberto.
E menção honrosa para a ingenuidade catastrofista dos anos 90: o mundo acabaria não por bombas atômicas, nem pelas mãos de uma humanidade capitalista e irracional (claro que não, o mundo era perfeito!), e sim por um elemento completamente externo... Como era boa essa época, né?
Assisti no cinema na época do lançamento, e, como geral, saí zoando pacas o Peter na sua versão emo (com direito a dancinhas tosquíssimas). Reassisti pensando que não devia ser tão tosco assim... mas é.
Vamos ser sinceros: geral que gosta um pouco do Homem Aranha torce mesmo para ver o Venom surgir. E aqui simplesmente deturparam a coisa toda, transformando a vilania dele (e o dilema embutido, que é o simbionte despertar o lado podre das pessoas) num treco meio hedonista, zoeiro e tiozão que acha que abala com a mulheres mas na verdade tá pagando mico. E qual a necessidade daquela franja? E da cena dele desmanchando o topetinho para fazer a franja?
Enfim, ficou bem frustrante a inserção do Venom.
Frustrante também a relação com o Harry, que desde o primeiro prometia algo denso e dramático pacas, tipo um bromance tencionado por sentimentos de vingança e ressentimento, mas que descambou num treco simples e maniqueísta (precisaram colocar cenas só para que o Harry ficasse repetindo como detesta o Homem Aranha e etc).
E haja furo no roteiro, com forçações de barra e coisas mal explicadas (tipo o modo como ele descobre o jeito de se separar do simbionte).
Diferente dos antecessores, que tinham pontos positivos legítimos, esse aqui fica beeeem difícil defender. O terceiro filme merecia algo melhor.
Ah, as sequências... não que o primeiro fosse um filme perfeito, mas o segundo começa a escorregar legal nas cascas de banana dos blockbusters.
O primeiro elemento que incomoda é uma certa repetição da estrutura do primeiro filme: praticamente os mesmos dramas que existiam no primeiro (o lance amoroso com a MJ e a rivalidade oculta com o Harry) se repetem, enquanto que o vilão segue a mesma cartilha do Duende Verde (era bom, ficou mau, e oscila nessa coisa de ser alguém vítima das circunstâncias). Essas construções em si não são ruins, mas dá aquele gostinho de falta de originalidade.
O segundo elemento que incomoda é que começou a surgir aqui e ali algumas tiradinhas de humor tosco, bem como algumas incongruências (tipo o sentido de aranha funcionar só nos momentos convenientes ao roteiro, e simplesmente não existir em outros).
E o terceiro elemento chatinho é a MJ, que, na construção do filme, ficou parecendo uma pessoa que precisa urgentemente ir até um psicólogo para resolver a gestão de suas emoções, porque ô mulher que não sabe de quem gosta pra valer - ou isso, ou ela é simplesmente liberal (e tem todo o direito de ser, claro).
De positivo fica o dilema do Peter, que remete ao core central do drama humanizado dos super poderes: não é porque você tem um dom que todo o resto se resolverá num passe de mágica.
Ah, e destaque para a cena do trem, capaz de nos fazer de fato ficar apreensivos - e depois ligeiramente comovidos.
Diferente do primeiro (que acho que hoje em dia dá para assistir meio de boa, inclusive para os nascidos nos anos 2000), esse aqui já vale mais pelo lado nostálgico da época em que o barato era encher a pança no almoço de domingo e depois deitar no sofá para assistir o Homem Aranha passando na Globo.
Sem entrar na eterna polêmica de respeito / fidedignidade aos quadrinhos, é preciso reconhecer os méritos do filme.
Ele consegue construir um Peter Parker inseguro e atrapalhado que, ao ganhar os poderes, experimenta um verdadeiro deslumbre - a ótima sequência da briga na escola!
E há em pano de fundo a relação com a Mary Jane, bem como a amizade com o Harry, que nos deixa sim curiosos para ver como tudo vai se resolver (o lance amoroso com a primeira, e a relação de competividade / antagonismo crescente com o segundo).
E, claro, há um ótimo Willem Dafoe no papel de Duende Verde, que mesmo sem máscara é vilão pronto e acabado - e de bônus tem aquela adorável trajetória dos vilões que são maus não por natureza, e sim por um certo acaso e bagunça emocional.
Evidentemente o filme envelheceu com alguns aspectos se tornando bem fraquinhos, como os efeitos especiais no estilo joguinhos de Playstation 2 e a simplicidade do roteiro (meio que um filme de ação temperado fracamente com elementos de histórias em quadrinhos, uma fórmula que ainda engatinhava até chegar ao estado ótimo que são hoje os filmes de super herói). E incomoda um pouco a velocidade com que as coisas acontecem, sem dar muito espaço para que o Peter fique de fato surpreso com seus poderes e tal.
De todo modo, um filme que vale a pena reassistir caso você o tenha assistido, como eu, na época da adolescência, e vale sim assistir pela primeira vez caso você ache que os filmes de super herói sempre foram essa modinha de hoje em dia - modinha que não existiria não fossem predecessores, como esse filme aqui.
Filme que repete a fórmula clássica das tramas de superação, então temos o azarão problemático, o antagonista maldoso, as cenas de treino, e, claro, o embate final em que a superação de todas as dificuldades pode ou não acontecer (
mas você sabe lá no fundindo que o filme vai sim entregar a superação
).
Então acaba sendo um filme pouco criativo, e que aqui, nesse caso, se destaca mesmo pelo Adam Sandler, provando outra vez que quando quer pode entregar algo mais além de comédias pastelonas.
O filme tem ainda um outro probleminha além do clichê das tramas de superação, que é o fato de orbitar em torno do basquete. São várias referências que quem não é fã do esporte não vai pegar, e também fica evidente que rola um fan service constante, principalmente no uso de atletas reais interpretando a si mesmo - e, novamente, se você não é fã do esporte, só vai entender que os atores eram 'reais' lá na cena dos créditos.
Apesar de tudo isso, é um clichê bem feitinho e simpático, com direito a algumas tiradinhas de humor e um ou outro momento dramático consistente. Então dá para assistir de boas.
Nada esplendoroso, mas longe de ser perda de tempo. Vale assistir se não pela história, pelo menos pelo Adam Sandler nesse seu novo momento no cinema.
Filme com estilão clássico dos anos 90 para matar a saudade - e servir como digestivo mental para quando você quer assistir algo só para passar o tempo.
E por estilão clássico dos anos 90 entende-se, é claro, os típicos furos de roteiro e alguns absurdos difíceis de engolir - do tipo ter um personagem que leva um tiro na cabeça mas ainda consegue usar o telefone, e outro que morre com os estilhaços de uma janela de vidro explodindo (tudo super coerente).
Apesar disso, a coisa consegue entregar uma dose bacana de entretenimento, e muito em função do Bruce Willis, que repete a si mesmo e a tantos outros protagonistas do gênero policial/espionagem.
É bacana também o personagem autista do garotinho, que, à época, deve ter servido à intenção de trazer à tona um assunto pouco conhecido (e o filme é pouco sutil ao tentar explicar o que é autismo, confirmando que essa é uma das bengalas usadas para tentar ser um filme um pouco mais interessante do que os demais).
E menção honrosa, claro, para a vilania do Alec Baldwin, com sua invariável combinação de topete alto e ternos sofisticados.
Ah, e destaque para duas cenas involuntárias de humor tecnológico: uma, quando o Bruce Willis pede o telefone celular de outro policial, e o cara arremessa aquele tijolo enormemente dejajeitado; outra, o Willis na biblioteca tendo ajuda da bibliotecária para encontrar um endereço de e-mail numa lista de endereços (ah, o início da internet...).
Enfim, filme para quele fim de domingo preguiçoso quando tudo o que você quer é esquecer que no outro dia é segunda-feira.
Resumo: o filme brinca assumidamente a ideia do 'Super Homem', e nisso funciona muito bem (um interessante 'e se...'), mas peca por se contentar com aquela brincadeira, não se dedicando a aprofundar os meandros da coisa.
Argumento: é no mínimo interessante uma história que constrói o tipo de um Super Homem do Mal. E há ainda algumas referências aqui e ali fazendo tipo um fanservice para os fãs do homem de aço e de capa vermelha.
E é preciso dar o braço a torcer por evitar uns clichês que pareciam inevitáveis, quase que dados desde as primeiras cenas.
Porém, após construir esse cenário instigante - o tal do Super Homem do Mal -, o filme larga de lado qualquer pretensão de entregar alguma coisa digna de nota, e tudo se encaminha como qualquer filme genérico de uma entidade do mal tocando o terror numa cidadezinha interiorana.
O final, inclusive, parece tomar consciência da profundidade que o filme poderia ter alcançado, quando
o Brandon revela um espanto entristecido por levar um tiro do pai, e depois, quando diz querer ser bom
, mas fica só nessa aparência mesmo.
Para os fãs de histórias de super-heróis e afins até vale assistir, mas, tirando essa intertextualidade com o Super Homem, o que resta é um filme bem passável.
Resumo: o tipo de filme que prova duas coisas; a primeira, que ideias simples podem gerar ótimos suspenses; a segunda, que por melhor que seja a ideia, é sempre difícil resistir às forçações de barra do roteiro.
Argumento: então, sim, a premissa do filme é bacana e cumpre seu papel de nos entregar um filme de suspense. A tensão construída pela situação é competente, mesmo que a coisa de tubarões seja já meio batida e fique sempre à sombra do clássico imortal 'Tubarão', do tipo Spielberg.
E tem até um toque especial dado pelo lance da praia com as pessoas na praia sendo visíveis, mas incomunicáveis (tipo um pesadelo angustiante de estar falando, mas sem sair voz para ser ouvida).
E até os suaves elementos de gore, com sangue e queimaduras, ficam bem encaixadas na estratégia de nos gerar desconforto (não ficou o sangue pelo sangue, o ferimento pelo ferimento).
O problema do filme é a crescente forçação de barra do roteiro. Começa com o lance da protagonista ser médica (portanto, anunciando que quando ela se ferir ela terá competência para se cuidar) e termina no absurdo da cena final (e passando pelo lance com as águas vivas).
morte do tubarão, levando uma finta de corpo, enquanto a mulher consegue enxergar debaixo da água como se fosse peixe (e se mexer com mais agilidade do que o tubarão), é algo que destrói qualquer resquício de realidade.
Entretanto, contudo e todavia, é um filme capaz de entreter e cativar na sua módica 1h30 de duração.
Vale assistir naquele dia quando nosso cansaço dispensa qualquer complicação, mas não muito mais do que isso.
Resumo: pegue uma ideia simples, junte com uma porção de subtextos polêmicos, e tempere com fotografia e direção precisos... e cá está um daqueles clássicos que todo apaixonado por filmes (e narrativas no geral) deveria assistir.
Argumento: é fascinante o modo como uma trama básica e binária (um júri tentando decidir se o acusado é inocente ou culpado), sustentada somente com diálogos e praticamente toda ela rodada numa sala apenas, consegue ser envolvente.
E isso se dá não apenas pelo tom detetivesco da história (sua camada mais externa e de entretenimento), que nos lembra uma série do estilo CSI (pistas sendo debatidas, detalhes banais sendo esmiuçados), mas sobretudo pelo que vai sendo contado sem que a gente se dê conta.
O filme consegue meter o dedo na ferida do sistema de justiça, dá uma cutucada também na ideia de democracia, e, não feliz, incomoda também diferentes modos de preconceito e, a cutucada das cutucadas, o modo como é fácil fazemos julgamentos 'racionais' baseados em concepções bem irracionais.
E isso tudo se dá pela tensão entre os personagens, que é onde entra a direção e a fotografia. Não têm firulas nem maneirismos; é tudo seco, direto, mas, ainda assim, detalhado, como nos closes faciais, nas gotas de suor, em um outro trejeito que denuncia toda uma personalidade.
Tem quase um quê minimalista, aliás, que torna bonito as cenas em preto e branco.
E quanto à mensagem em si do filme... Bem, nesse 2022 louco, com as eleições se aproximando, e com tanta 'proposta de governo' vociferada entre salivas, caretas e ódios 'justificados', o filme é mais do que bem-vindo.
Resumo: se a história não é original (e nem tenta ser), ao menos a linguagem se salva (e bônus para a simpática Karen Gillan e para uma sutil provocação feminista).
Argumento: então não, isso aqui não é um filme criativo. Quem viu 'John Wick' já assistiu 'Coquetel Explosivo', que se baseia na mesma premissa e até copia alguns elementos de enredo.
E por mais que seja divertida a armação de uma situação casual que termina num auê infernal de balas, facadas e ossos quebrados, não gera a sensação de empolgação que as ideias inovadoras geram.
O barato do filme, mesmo, está em sua linguagem. Tem um quê retrô, colorido e com uma violência levemente acima do normal. Lembra algo entre jogos de videogame e histórias em quadrinho - e aqui sim bem diferente de 'John Wick' e assemelhados, que tendem a prezar pela sobriedade. 'Coquel Explosivo' não se leva a sério, e isso ajuda o filme a ser assistível.
E nesse aspecto a Karen Gillan veio bem a calhar, já que apesar de sua personagem ser fodona, ainda se mostra sem jeito, até meio desengonçada, fazendo bem as vezes de uma protagonista de um filme que não é sério nem pesado.
E por fim, claro, a sutil, mas nem por isso menos relevante, mensagem feminista. Não, não é um filme cabeça, político ou militante; mas é estimulante ver um universo que se constrói na base de 'homens mandando nas mulheres' para então estas conduzirem um ato de rebeldia (e com muitas cabeças barbadas explodindo no processo).
Enfim, é um filme divertido sim, pouco original na história, mas com uma linguagem que justifica assistir.
Como alguém que não é particularmente fã de filmes de ação, e menos ainda da franquia Bond, preciso admitir: este aqui é um bom filme e dá vontade assistir aos que vieram na sequência.
A começar pelo rebootado James Bond, menos requintado e fodesco, e muito mais estabanado e 'atingível', o que contribui para uma verdadeira sensação de perigo - quase podemos acreditar que as coisas podem dar realmente ruim pro lado dele.
A cena da tortura, nesse aspecto, é exemplar - e agoniante.
A parte feminina do enredo continua suscetível a críticas, já que está lá com o óbvio papel de manter a tradição da 'belas e perigosas', meio que uma corruptela apelativa do papel clássico da femme fatale. Mas, ainda assim, não tem como negar que cumprem um papel bacana dentro da trama, especialmente a Vesper (o primeiro diálogo dos dois tem um quê de afetação, contudo introduz bem a química do casal).
E quanto ao vilão... bem, se tem um Mads Mikkelsen caolho chorando lágrimas de sangue (que detalhe pequeno e distinto!), a coisa já fica no mínimo competente.
De negativo ficam, é claro, algumas conveniências de roteiro (impossível um filme de ação não usar delas) e a parte final do filme, que, a meu ver, quebrou um pouco o ritmo e custou a engrenar novamente no ritmo de suspense e ação.
Primeiro dos antigos 'Bond' que fui assistir, e sob a promessa de ser o mais thriller de todos... e me frustrei.
Claro, é preciso assistir hoje em dia considerando a época de lançamento e coisa e tal e tal e coisa. Mas tirando o mérito de que a ação é bem comedida e sem os exageros típicos da série, o resto é um filme de espionagem bem regular (senão para a época, pelo menos para os olhos de hoje em dia, e portanto longe de ainda ser uma referência absoluta em termos de 'thriller'). Particularmente, não me empolguei em momento algum... tirando, talvez, a cena no trem.
E de resto é Bond como tantos outros: se você é homem, vai invejar o garbo do James (se pá, vai até ficar tentado a usar um cabelo de noivo impecavelmente penteado como o dele), se você é mulher, vai se perturbar com a fetichização das mulheres.
No mais, vale assistir pela curiosidade e pela história do cinema, mas nada muito glorioso.
Resumo: uma pequena joia dos filmes de suspense, e daquele adorável tipo de quando o que conta (e causa agonia) é a situação, não os exageros (seja de violência ou sustinhos baratos).
Argumento: então a situação que o filme lança é simples, mas muito competente.
Ficar preso nas mãos de uma pessoa insana, numa casa de campo, no meio de um inverno rigoroso, fisicamente incapaz de fugir, é absolutamente perturbador e angustiante.
O personagem da Bates (incrivelmente representado, aliás) é um daqueles vilões que geram certa simpatia (a gente consegue ler a solidão e o vazio por trás da sua obsessão) enquanto traz uma mensagem crítica (a relação dos fãs com seus autores [ou artistas, de modo geral] favoritos).
Aliás, é bem rica essa camada crítica da história, tornando o filme bastante pertinente para quem curte literatura - sem correr o risco de viajar muito na maionese, o filme está falando, em termos literais, da situação simbólica dos autores que ficam 'presos' às expectativas que seus fãs têm sobre os livros que eles, autores, escrevem.
Mas isso, frise-se, sem que o filme perca nunca sua pegada de suspense legítimo, em que nosso desconforto é pela situação em si, e não por sustinhos toscos.
Vale assistir, e vale mesmo que você, assim como eu, já tenha ouvido falar tanto desse filme que pode parecer até desnecessário assisti-lo (acredite: vale muito a pena assistir).
E de bônus tem ainda uma surpresa e tanto, que é quando
o xerife, que acompanha todo o rolê e veio sendo apresentado como o cara que iria resolver tudo com sua obstinada e calma abordagem do caso, é assassinado abruptamente, sem rodeios, dando na gente a sensação de 'mano, como assim? ele não pode morrer!'.
Resumo: um bom filme de ação, que só não é melhor porque, pro final, descamba pra zoeira.
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Então seu início, com um protagonista emasculado pela vida suburbana mas que tem lá seu passado misterioso, é envolvente. E conforme o enredo progride pra algo tipo 'Um dia de fúria' encontra 'John Wick', fica ainda melhor (a cena do ônibus é uma das cenas mais perversamente prazerosas que podemos assistir).
E bacana também que o protagonista não é aquele fodelão pronto, e sim um cara marcado pela idade que bate e mata, mas apanhando e sofrendo bastante no processo.
E o filme progride bem conforme os fatos vão se encadeando, apesar de ser algo bastante simples, previsível e até clichê (mas bons filmes de ação são assim mesmo afinal).
O problema é que conforme o final se aproxima, e especialmente a sequência final, a coisa toda ganha ares muito farofeiros, tipo zoeira mesmo, quebrando a atmosfera mais séria e comedida de até então (se na cena do ônibus a gente sente um protagonista 'real' com dificuldades de sentar o pau em geral, na cena final é tudo tão fácil e exagerado que chega a parecer outro filme).
Entretanto, ainda assim, no conjunto geral da obra, compõe um filme bacana para passar o tempo descompromissadamente. E apesar do subgênero 'caras fodões que só queriam uma vida pacata mas são forçados por motivos banais a voltarem a sentar o pau num bando de bandidos' estar meio que às sombras do ótimo 'John Wick', 'Anônimo' tem lá seu charme e agrada quem curte esse tipo de filme.
Um dos desafios dos filmes baseados em fatos reais, ainda mais no universo da segunda guerra mundial, é contar o fato sem descambar num documentário; e é aí que 'O soldado que não existiu' escorrega, pois como arma 'anti-documentário' investiu num romance capenga e numa picuinha superficial entre os personagens.
Então, se você curte segunda guerra mundial, e é do tipo que gosta dos bastidores, a história aqui tem sim um potencial de entretenimento.
A armação do 'soldado que não existiu' é realmente interessante, e seu planejamento consegue nos dar a dimensão do risco envolvido e da dificuldade implicada.
Porém, o tal plano dura os minutos iniciais do filme, e depois só volta mesmo nos minutos finais, restando, no meio, aquele romance duvidoso e aqueles atritos bobinhos entre os personagens.
Dá para entender a intenção do filme - colocar mais drama para escapar de um teor friamente histórico -, porém fica evidente que se perderam no caminho. A coisa termina e a gente não consegue comprar a paixão de um, a reação do outro, nem o modo como todos absorveram seus desfechos.
Enfim, o filme vale pela história, e não pelo drama - e nesse sentido talvez fosse melhor ter feito mesmo um filme assumidamente puxado pro documentário.
Ah, e tem uma forçação de barra com a inclusão do Ian Fleming ali, tipo um fan service goela abaixo. Ele poderia muito bem nem ter aparecido na história, bastava ser mencionado - e muitíssimo menos aparecer na cena final, já que até então ele sequer participou das reuniões e das outras ações feitas ali na sala.
Vale assistir pelo conteúdo, e até rola como passatempo, mas fica bem aquém do que um bom filme de guerra pode fazer em termos de preencher a história real com comoventes dramas pessoais.
Filme gostosinho de assistir e que traz algumas reflexões, mas que parece tropeçar quanto ao tom (e profundidade) do enredo.
Então a jornada da protagonista, que é uma jornada de amadurecimento, é bem interessante. Sua insatisfação contra o clima machista e conformista daquela época (só daquela época, certo?) nos mantêm curiosos para assistir a seus próximos passos em busca da liberdade e autorrealização, curiosidade aumentada conforme a mocinha vai tomando um caminho duvidoso em alguns aspectos.
E os personagens secundários vêm bem a calhar, como a figura paterna (meio opressor, mas também meio iludido), as professoras da escola (meio caretas, mas também meio que 'eu já vi o mundo e sei como ele é ferrado para nós mulheres'), e, claro, o próprio David (meio oportunista, mas também meio que em crise).
O problema do filme é que ele fica oscilando entre uma comédia romântica e um drama, então ficamos ali sem saber de que modo devemos absorver a história. Nesse sentido o final é um tanto confuso ou mesmo insatisfatório, já que
todo o perrengue existencial e prático da protagonista, que poderia ser um baita dum drama filosófico e social, é resolvido facilmente no melhor estilo comédias românticas
.
Pessoalmente, senti falta de um pegada mais incisiva no aspecto dramático da história, uma aprofundamento mais nos problemas do que nas soluções (até porque a vida é mais problemas do que soluções, especialmente para as mulheres numa conservadora década de 1960).
Vale assistir, e é divertido assistir, mas deixa um gostinho de mensagem incompleta.
O Homem Ideal
3.6 71Filme que transita de modo agradável e suave entre a ficção científica e a comédia romântica, portanto com potencial para agradar aos fãs de ambos os gêneros.
Daí que sua parte de ficção científica é bem leve, sem muita profundidade sobre detalhes tecnológicos ou contextuais. Na verdade, a coisa do humanoide tá ali meio que apenas como um catalisador pro enredo.
A parte de comédia romântica é feita apostando bastante na estrutura clássica do gênero, sendo por isso um tanto previsível e até clichê - o que significa que teremos momentos de humor e de calorzinho no coração.
O ponto alto do filme, porém, é conseguir revestir a comédia romântica com uma pegada de ficção científica que eleva o filme a um patamar um pouco mais reflexivo e filosófico, tornando a experiência mais significativa. Mas, de novo, de modo leve e suave, sem muita pretensão, do tipo que lança uma ideia no ar e deixa o espectador brincar com ela como bem entender.
O provável ponto negativo do filme, a meu ver, é seu final, que ao apostar num desfecho em aberto abre a possibilidade de desagradar o público (ainda mais se o público estiver ali mais pela comédia romântica, um gênero que costuma entregar finais redondinhos).
Enfim, uma experiência bacana, agradável e sutilmente filosófica com potencial de agradar tanto o público mais casual quanto o mais apegado a filmes reflexivos.
E a título de referência, para quem curtiu esse aqui, vale a pena conferir 'Ruby Sparks - A Namorada Perfeita', que também transita entre ficção científica e comédia romântica e tem um enredo bastante semelhante.
Flores do Oriente
4.2 774 Assista AgoraFilme de guerra que abraça a proposta de mostrar como na guerra podemos encontrar heróis inusitados no meio de tanta crueldade humana. E nesse aspecto é competente, apesar de escorregar um pouco nas conveniências.
Então, sim, a situação construída pelo filme é no mínimo envolvente: um sujeito egoísta se fingindo de padre enquanto se refugia numa igreja com uma porção de garotinhas e um grupo de prostitutas.
E é bacana que a narrativa explore o lado oriental da Segunda Guerra Mundial, algo que Hollywood tende a menosprezar.
Porém, a súbita transformação do Bale, bem como as decisões que os personagens tomam, dão a impressão de forçação de barra - exemplo maior é a cena do gatinho. E rola um enfoque no tal major chinês que exagera no virtuosismo num nível quase panfletário.
O filme também força um pouco o drama de algumas cenas e situações, além de nos fazer engolir um previsível 'troféu romântico' do protagonista.
O conflito final que os personagens têm de encarar é bacana e recompensa o espectador, especialmente os mais suscetíveis aos grandes atos de sacrifício. Mas, de novo, é difícil de acreditar que o estratagema não seria percebido de pronto pelos soldados japoneses.
Enfim, a experiência cinematográfica se sustenta e faz o filme valer a pena, mas a sensação final é de um roteiro e situação não plenamente explorados ou convincentes.
Não Olhe para Cima
3.7 1,9K Assista AgoraFilme que, dado nosso contexto, entra num gênero pouco explorado no cinema: a comédia com tons de angústia. Então se você é da galera que topa olhar para cima (e entende a importância da revisão pelos pares), você vai sim rir um pouco, mas vai se angustiar bastante.
Daí que a pegada do filme é essa, misturar absurdos cômicos vividos por personagens em sua maioria estereotipados, enquanto destila uma mensagem perturbadora sobre a alienação do povo e o oportunismo dos poderosos.
A comédia absurda incomoda em alguns momentos dado seu exagero, e em alguns momentos o filme perde seu ritmo - não consegue encaixar bem as breves pegadas mais sérias, como as sequências de imagens contrapondo as pequenas belezas da Terra com o cometa do fim do mundo se aproximando, que iriam melhor num documentário.
E o filme se perde um pouco também no enredo quando dá espaço demais à trama paralela do doutor Mindy em seu deslumbramento com a fama (tá, vá lá, é uma trama que tem também um teor crítico, mas ficou um rolê com espaço demais inchando desnecessariamente o filme para além das duas horas de duração).
Quanto à mensagem do filme, sua 'moral' vamos dizer assim, é mais do que necessária nesses tempos loucos que estamos vivendo (e não só pela pandemia, mas também nesse Brasil insano às véspera do segundo turno das eleições que podem colocar por mais quatro anos no poder o nosso cometa do fim do mundo próprio). E nesse aspecto é um filme corajoso por botar o dedo numa ferida aberta e que, valha-nos Deus, esperamos fechar em algum futuro próximo e habitável.
E quanto ao final do filme, bem, acho que o filme perdeu uma oportunidade e tanto de ser ainda mais angustiante. Teria sido bem mais perturbador se
a nave dos sobreviventes tivesse de fato se dado bem, refletindo que, no caos, a nata da sociedade tende a se safar ilesa
Enfim, é um filme polêmico e provocador, que mira um público específico e já de antemão aberto à 'olhar para cima'. Portanto, um filme que vai conquistar de antemão a antipatia da galera que teima em olhar para baixo.
Vale assistir, vale refletir, e vale a perturbação.
Shiva Baby
3.8 259 Assista AgoraAh, como é bom assistir a um filme que brinca com os gêneros entregando algo inovador, reflexivo e ainda assim divertido (isto é, sem cair naquela pretensão intelectual de ser revolucionário em termos artísticos).
Então o filme tem essas duas camadas.
A primeira, no nível do entretenimento, é a de uma peça que entrega comédia com tons de terror (ou o contrário). Temos situações absurdas, caricatas até, extraindo humor, mas ritmadas por uma pegada de desconforto e tensão - algo muito bem feito com o uso suplementar da sonoridade composta por sons de cordas, e pela câmera colada na protagonista, com direito a algumas distorções de luz e enquadramento para reforçar o desconforto e perturbação das coisas. Daí que você até pode dar algumas risadas, mas entrecortadas por um roer das unhas.
A segunda camada, no nível da 'mensagem', é a de uma narrativa que explora a confusão da juventude feminina, a qual eu, como homem, só posso captar parte, mas essa parte já é boa e consistente o suficiente para tornar o filme provocador. Desde a cobrança sobre o que é ser uma 'boa garota' e chegando no empoderamento feminino (e canalhice masculina), o que temos aqui é um diálogo com a ordem das coisas no que diz respeito à feminilidade - e aí mesmo sendo homem o espectador pode tirar proveito.
E bônus especial para a protagonista, que com sua expressividade consegue dar um tom tragicômico perfeito às situações.
Ah, e menção honrosa também à construção em si do filme, que é localizado tanto no quesito local (todo ele roda numa casa) quanto temporal (num espaço de poucas horas), e ainda assim consegue ser dinâmico e fluido.
Enfim, uma grata surpresa para quem busca filmes que saem da caixinha sem se tornarem pesadões nesse movimento.
Anjos Caídos
4.0 261 Assista AgoraO filme causa um estranhamento forte no início (pelo menos para quem assim como eu é menos habituado ao diretor e mais acostumado aos filmes pasteurizados de Hollywood), mas, superado esse choque, a coisa cresce e torna-se apaixonante.
É fascinante o modo como filme promete a todo tempo um sentido maior e categórico, mas evita com a mesma força entregar algo linear e contundente. E isso tanto no modo como brinca com os gêneros (policial, romance, ação, drama e até comédia) como nas histórias e nos personagens.
Bacana também a ambientação, meio que suja e sombria, traduzindo bem o teor caótico da narrativa, mas sem esquecer de pequenos elementos poéticos (como uma flor nascida no meio de um pântano).
E tem a trilha sonora, que surge quase como um personagem à parte, dando ritmo e conteúdo aos diálogos e cenas.
Resumindo: vale superar o estranhamento inicial (e até um pouco da latente cinetose com a câmera sempre em movimentação) e aproveitar uma narrativa original e cheia de recompensadores detalhes.
Solitários
3.9 33 Assista AgoraMe fez entrar no período de teste gratuito da Mubi e sem arrependimento algum.
O filme tem uma atmosfera fria e limpa, talvez até minimalista, sendo perfeitamente encaixada no 'espírito' da história. Além da atmosfera, saltam aqui e ali pequenos elementos transitando entre a fantasia e o realismo mágico, tornando o filme profundo e reflexivo - mas sem cair num intelectualismo barato e pretensioso.
E quanto ao conteúdo em si, é, de fato, um filme de nossa época, e tão preciso na questão que aborda que é difícil não rolar algum tipo de identificação do espectador, seja esse espectador quem for (quem, afinal, não reproduz nada daquela apatia cotidiana capaz de nos tornar cegos e indiferentes aos absurdos do dia a dia?).
E méritos por conseguir abordar a coisa toda pincelando o aspecto social (leia-se, contexto cultural e econômico), sem esquecer dos seus desdobramentos psicológicos (o modo como nossa subjetividade reage à ordem das coisas concretas).
De negativo eu só apontaria o final. Particularmente, não gostei do
desfecho levemente otimista e resolutivo, dando à protagonista uma saída ao seu labirinto de desconexão.
No mais, uma ótima pedida para quem gosta do cinema oriental e busca filmes originais mas compreensíveis e modestos (isto é, sem estripulias tais que tornam a peça ofensiva a quem busca entretenimento de qualidade em vez de uma arte totalmente revolucionária).
Extraordinário
4.3 2,1K Assista AgoraUm filme para te lembrar que se você já concluiu os anos escolares, parabéns, você sobreviveu (com alguns traumas, com algumas marcas, com uma coleção de mágoas, mas, vá lá, sobreviveu).
Daí que apesar de o filme ter como protagonista um menino com problemas genéticos, ele fica muito longe de um dramalhão barato focado em doença, superação, discriminação, etc.
Em vez disso, usa da doença como uma porta de entrada para uma discussão (leve e algo divertida) sobre bullying e aceitação, duas questões particularmente sensíveis nos anos escolares. E nesse sentido foi muito bacana a abertura de espaço para o drama de outros personagens, cada qual sofrendo também a sua dose de bullying (mesmo que antecipatório, como no se preocupar excessivamente com o que os outros podem pensar de ti).
De pontos negativos, eu diria que existe uma certa oscilação no estilo da narrativa (insere uns elementos mais irreverentes, mas que não são sólidos o suficiente para formarem um estilo coeso) e também um certo fracasso no desfecho, que, pelo menos aqui, não conseguiu ser plenamente emotivo e catártico (e o filme tinha todo o potencial de ser, já que todos nós temos algum grau de experiência própria no que diz respeito a bullying e aceitação).
No mais, filme gostoso de assistir e que traz uma reflexão bacana, especialmente para um público mais jovem.
Colateral
3.6 613 Assista AgoraReassisti só para ver se era tão bom quanto na lembrança, e, de fato, é.
O enredo pode não ser dos mais convincentes, mas é super eficiente ao apostar no lance do 'um sujeito normal no lugar errado, na hora errada'. Inclusive é bastante bacana ter deixado claro que quase, por pouco mesmo, o Max não deixou aquele cliente passar...
Mas a pérola do filme, me parece, é sua ambientação. Quase todo ele se passa à noite, sob os vultos dos prédios e os faróis dos carros, dando um ar bem característico ao filme - e turbinado pelo som de Audioslave.
Pode não ser lá a referência maior de filmes policiais que misturam ação com suspense, porém certamente merece o tempo de quem curte o gênero (ainda mais para quem busca algo que não investe na ação barata de 'tiro, porrada e bomba' e, no lugar, aposta na construção de uma situação progressivamente asfixiante).
Ah, e bônus para a
morte do policial que poderia ter salvo o Max. Uma morte seca, sem floreios, do tipo perfeito para dar aquele baque no espectador.
Impacto Profundo
3.1 442 Assista AgoraO filme repete a fórmula clichê do gênero 'catástrofe', mas que à época talvez nem fosse tão clichê assim.
Então é preciso ter uma dose de paciência com a tara hollywoodiana por seus presidentes e astronautas, bem como com algumas coisas explicadas bem nas coxas - tipo a decisão de um astronauta praticamente idoso ir numa missão da qual depende a vida na Terra.
E paciência também com a mania de inserir dramas familiares para tentar juntar os trechos em que a história em si de fato se desenrola.
No mais, vale como passatempo, especialmente um passatempo nostálgico para quem assistiu lá atrás, nas repetidas exibições em canal aberto.
E menção honrosa para a ingenuidade catastrofista dos anos 90: o mundo acabaria não por bombas atômicas, nem pelas mãos de uma humanidade capitalista e irracional (claro que não, o mundo era perfeito!), e sim por um elemento completamente externo... Como era boa essa época, né?
Homem-Aranha 3
3.1 1,5K Assista AgoraAssisti no cinema na época do lançamento, e, como geral, saí zoando pacas o Peter na sua versão emo (com direito a dancinhas tosquíssimas). Reassisti pensando que não devia ser tão tosco assim... mas é.
Vamos ser sinceros: geral que gosta um pouco do Homem Aranha torce mesmo para ver o Venom surgir. E aqui simplesmente deturparam a coisa toda, transformando a vilania dele (e o dilema embutido, que é o simbionte despertar o lado podre das pessoas) num treco meio hedonista, zoeiro e tiozão que acha que abala com a mulheres mas na verdade tá pagando mico. E qual a necessidade daquela franja? E da cena dele desmanchando o topetinho para fazer a franja?
Enfim, ficou bem frustrante a inserção do Venom.
Frustrante também a relação com o Harry, que desde o primeiro prometia algo denso e dramático pacas, tipo um bromance tencionado por sentimentos de vingança e ressentimento, mas que descambou num treco simples e maniqueísta (precisaram colocar cenas só para que o Harry ficasse repetindo como detesta o Homem Aranha e etc).
E haja furo no roteiro, com forçações de barra e coisas mal explicadas (tipo o modo como ele descobre o jeito de se separar do simbionte).
Diferente dos antecessores, que tinham pontos positivos legítimos, esse aqui fica beeeem difícil defender. O terceiro filme merecia algo melhor.
Homem-Aranha 2
3.6 1,1K Assista AgoraAh, as sequências... não que o primeiro fosse um filme perfeito, mas o segundo começa a escorregar legal nas cascas de banana dos blockbusters.
O primeiro elemento que incomoda é uma certa repetição da estrutura do primeiro filme: praticamente os mesmos dramas que existiam no primeiro (o lance amoroso com a MJ e a rivalidade oculta com o Harry) se repetem, enquanto que o vilão segue a mesma cartilha do Duende Verde (era bom, ficou mau, e oscila nessa coisa de ser alguém vítima das circunstâncias). Essas construções em si não são ruins, mas dá aquele gostinho de falta de originalidade.
O segundo elemento que incomoda é que começou a surgir aqui e ali algumas tiradinhas de humor tosco, bem como algumas incongruências (tipo o sentido de aranha funcionar só nos momentos convenientes ao roteiro, e simplesmente não existir em outros).
E o terceiro elemento chatinho é a MJ, que, na construção do filme, ficou parecendo uma pessoa que precisa urgentemente ir até um psicólogo para resolver a gestão de suas emoções, porque ô mulher que não sabe de quem gosta pra valer - ou isso, ou ela é simplesmente liberal (e tem todo o direito de ser, claro).
De positivo fica o dilema do Peter, que remete ao core central do drama humanizado dos super poderes: não é porque você tem um dom que todo o resto se resolverá num passe de mágica.
Ah, e destaque para a cena do trem, capaz de nos fazer de fato ficar apreensivos - e depois ligeiramente comovidos.
Diferente do primeiro (que acho que hoje em dia dá para assistir meio de boa, inclusive para os nascidos nos anos 2000), esse aqui já vale mais pelo lado nostálgico da época em que o barato era encher a pança no almoço de domingo e depois deitar no sofá para assistir o Homem Aranha passando na Globo.
Homem-Aranha
3.7 1,3K Assista AgoraSem entrar na eterna polêmica de respeito / fidedignidade aos quadrinhos, é preciso reconhecer os méritos do filme.
Ele consegue construir um Peter Parker inseguro e atrapalhado que, ao ganhar os poderes, experimenta um verdadeiro deslumbre - a ótima sequência da briga na escola!
E há em pano de fundo a relação com a Mary Jane, bem como a amizade com o Harry, que nos deixa sim curiosos para ver como tudo vai se resolver (o lance amoroso com a primeira, e a relação de competividade / antagonismo crescente com o segundo).
E, claro, há um ótimo Willem Dafoe no papel de Duende Verde, que mesmo sem máscara é vilão pronto e acabado - e de bônus tem aquela adorável trajetória dos vilões que são maus não por natureza, e sim por um certo acaso e bagunça emocional.
Evidentemente o filme envelheceu com alguns aspectos se tornando bem fraquinhos, como os efeitos especiais no estilo joguinhos de Playstation 2 e a simplicidade do roteiro (meio que um filme de ação temperado fracamente com elementos de histórias em quadrinhos, uma fórmula que ainda engatinhava até chegar ao estado ótimo que são hoje os filmes de super herói). E incomoda um pouco a velocidade com que as coisas acontecem, sem dar muito espaço para que o Peter fique de fato surpreso com seus poderes e tal.
De todo modo, um filme que vale a pena reassistir caso você o tenha assistido, como eu, na época da adolescência, e vale sim assistir pela primeira vez caso você ache que os filmes de super herói sempre foram essa modinha de hoje em dia - modinha que não existiria não fossem predecessores, como esse filme aqui.
Arremessando Alto
3.7 284 Assista AgoraFilme que repete a fórmula clássica das tramas de superação, então temos o azarão problemático, o antagonista maldoso, as cenas de treino, e, claro, o embate final em que a superação de todas as dificuldades pode ou não acontecer (
mas você sabe lá no fundindo que o filme vai sim entregar a superação
Então acaba sendo um filme pouco criativo, e que aqui, nesse caso, se destaca mesmo pelo Adam Sandler, provando outra vez que quando quer pode entregar algo mais além de comédias pastelonas.
O filme tem ainda um outro probleminha além do clichê das tramas de superação, que é o fato de orbitar em torno do basquete. São várias referências que quem não é fã do esporte não vai pegar, e também fica evidente que rola um fan service constante, principalmente no uso de atletas reais interpretando a si mesmo - e, novamente, se você não é fã do esporte, só vai entender que os atores eram 'reais' lá na cena dos créditos.
Apesar de tudo isso, é um clichê bem feitinho e simpático, com direito a algumas tiradinhas de humor e um ou outro momento dramático consistente. Então dá para assistir de boas.
Nada esplendoroso, mas longe de ser perda de tempo. Vale assistir se não pela história, pelo menos pelo Adam Sandler nesse seu novo momento no cinema.
Código Para o Inferno
3.4 161 Assista AgoraFilme com estilão clássico dos anos 90 para matar a saudade - e servir como digestivo mental para quando você quer assistir algo só para passar o tempo.
E por estilão clássico dos anos 90 entende-se, é claro, os típicos furos de roteiro e alguns absurdos difíceis de engolir - do tipo ter um personagem que leva um tiro na cabeça mas ainda consegue usar o telefone, e outro que morre com os estilhaços de uma janela de vidro explodindo (tudo super coerente).
Apesar disso, a coisa consegue entregar uma dose bacana de entretenimento, e muito em função do Bruce Willis, que repete a si mesmo e a tantos outros protagonistas do gênero policial/espionagem.
É bacana também o personagem autista do garotinho, que, à época, deve ter servido à intenção de trazer à tona um assunto pouco conhecido (e o filme é pouco sutil ao tentar explicar o que é autismo, confirmando que essa é uma das bengalas usadas para tentar ser um filme um pouco mais interessante do que os demais).
E menção honrosa, claro, para a vilania do Alec Baldwin, com sua invariável combinação de topete alto e ternos sofisticados.
Ah, e destaque para duas cenas involuntárias de humor tecnológico: uma, quando o Bruce Willis pede o telefone celular de outro policial, e o cara arremessa aquele tijolo enormemente dejajeitado; outra, o Willis na biblioteca tendo ajuda da bibliotecária para encontrar um endereço de e-mail numa lista de endereços (ah, o início da internet...).
Enfim, filme para quele fim de domingo preguiçoso quando tudo o que você quer é esquecer que no outro dia é segunda-feira.
Brightburn: Filho das Trevas
2.7 607 Assista AgoraResumo: o filme brinca assumidamente a ideia do 'Super Homem', e nisso funciona muito bem (um interessante 'e se...'), mas peca por se contentar com aquela brincadeira, não se dedicando a aprofundar os meandros da coisa.
Argumento: é no mínimo interessante uma história que constrói o tipo de um Super Homem do Mal. E há ainda algumas referências aqui e ali fazendo tipo um fanservice para os fãs do homem de aço e de capa vermelha.
E é preciso dar o braço a torcer por evitar uns clichês que pareciam inevitáveis, quase que dados desde as primeiras cenas.
Porém, após construir esse cenário instigante - o tal do Super Homem do Mal -, o filme larga de lado qualquer pretensão de entregar alguma coisa digna de nota, e tudo se encaminha como qualquer filme genérico de uma entidade do mal tocando o terror numa cidadezinha interiorana.
O final, inclusive, parece tomar consciência da profundidade que o filme poderia ter alcançado, quando
o Brandon revela um espanto entristecido por levar um tiro do pai, e depois, quando diz querer ser bom
Para os fãs de histórias de super-heróis e afins até vale assistir, mas, tirando essa intertextualidade com o Super Homem, o que resta é um filme bem passável.
Águas Rasas
3.4 1,3K Assista AgoraResumo: o tipo de filme que prova duas coisas; a primeira, que ideias simples podem gerar ótimos suspenses; a segunda, que por melhor que seja a ideia, é sempre difícil resistir às forçações de barra do roteiro.
Argumento: então, sim, a premissa do filme é bacana e cumpre seu papel de nos entregar um filme de suspense. A tensão construída pela situação é competente, mesmo que a coisa de tubarões seja já meio batida e fique sempre à sombra do clássico imortal 'Tubarão', do tipo Spielberg.
E tem até um toque especial dado pelo lance da praia com as pessoas na praia sendo visíveis, mas incomunicáveis (tipo um pesadelo angustiante de estar falando, mas sem sair voz para ser ouvida).
E até os suaves elementos de gore, com sangue e queimaduras, ficam bem encaixadas na estratégia de nos gerar desconforto (não ficou o sangue pelo sangue, o ferimento pelo ferimento).
O problema do filme é a crescente forçação de barra do roteiro. Começa com o lance da protagonista ser médica (portanto, anunciando que quando ela se ferir ela terá competência para se cuidar) e termina no absurdo da cena final (e passando pelo lance com as águas vivas).
Aliás, a
morte do tubarão, levando uma finta de corpo, enquanto a mulher consegue enxergar debaixo da água como se fosse peixe (e se mexer com mais agilidade do que o tubarão), é algo que destrói qualquer resquício de realidade.
Entretanto, contudo e todavia, é um filme capaz de entreter e cativar na sua módica 1h30 de duração.
Vale assistir naquele dia quando nosso cansaço dispensa qualquer complicação, mas não muito mais do que isso.
12 Homens e Uma Sentença
4.6 1,2K Assista AgoraResumo: pegue uma ideia simples, junte com uma porção de subtextos polêmicos, e tempere com fotografia e direção precisos... e cá está um daqueles clássicos que todo apaixonado por filmes (e narrativas no geral) deveria assistir.
Argumento: é fascinante o modo como uma trama básica e binária (um júri tentando decidir se o acusado é inocente ou culpado), sustentada somente com diálogos e praticamente toda ela rodada numa sala apenas, consegue ser envolvente.
E isso se dá não apenas pelo tom detetivesco da história (sua camada mais externa e de entretenimento), que nos lembra uma série do estilo CSI (pistas sendo debatidas, detalhes banais sendo esmiuçados), mas sobretudo pelo que vai sendo contado sem que a gente se dê conta.
O filme consegue meter o dedo na ferida do sistema de justiça, dá uma cutucada também na ideia de democracia, e, não feliz, incomoda também diferentes modos de preconceito e, a cutucada das cutucadas, o modo como é fácil fazemos julgamentos 'racionais' baseados em concepções bem irracionais.
E isso tudo se dá pela tensão entre os personagens, que é onde entra a direção e a fotografia. Não têm firulas nem maneirismos; é tudo seco, direto, mas, ainda assim, detalhado, como nos closes faciais, nas gotas de suor, em um outro trejeito que denuncia toda uma personalidade.
Tem quase um quê minimalista, aliás, que torna bonito as cenas em preto e branco.
E quanto à mensagem em si do filme... Bem, nesse 2022 louco, com as eleições se aproximando, e com tanta 'proposta de governo' vociferada entre salivas, caretas e ódios 'justificados', o filme é mais do que bem-vindo.
Coquetel Explosivo
3.1 106 Assista AgoraResumo: se a história não é original (e nem tenta ser), ao menos a linguagem se salva (e bônus para a simpática Karen Gillan e para uma sutil provocação feminista).
Argumento: então não, isso aqui não é um filme criativo. Quem viu 'John Wick' já assistiu 'Coquetel Explosivo', que se baseia na mesma premissa e até copia alguns elementos de enredo.
E por mais que seja divertida a armação de uma situação casual que termina num auê infernal de balas, facadas e ossos quebrados, não gera a sensação de empolgação que as ideias inovadoras geram.
O barato do filme, mesmo, está em sua linguagem. Tem um quê retrô, colorido e com uma violência levemente acima do normal. Lembra algo entre jogos de videogame e histórias em quadrinho - e aqui sim bem diferente de 'John Wick' e assemelhados, que tendem a prezar pela sobriedade. 'Coquel Explosivo' não se leva a sério, e isso ajuda o filme a ser assistível.
E nesse aspecto a Karen Gillan veio bem a calhar, já que apesar de sua personagem ser fodona, ainda se mostra sem jeito, até meio desengonçada, fazendo bem as vezes de uma protagonista de um filme que não é sério nem pesado.
E por fim, claro, a sutil, mas nem por isso menos relevante, mensagem feminista. Não, não é um filme cabeça, político ou militante; mas é estimulante ver um universo que se constrói na base de 'homens mandando nas mulheres' para então estas conduzirem um ato de rebeldia (e com muitas cabeças barbadas explodindo no processo).
Enfim, é um filme divertido sim, pouco original na história, mas com uma linguagem que justifica assistir.
007: Cassino Royale
3.8 881 Assista AgoraComo alguém que não é particularmente fã de filmes de ação, e menos ainda da franquia Bond, preciso admitir: este aqui é um bom filme e dá vontade assistir aos que vieram na sequência.
A começar pelo rebootado James Bond, menos requintado e fodesco, e muito mais estabanado e 'atingível', o que contribui para uma verdadeira sensação de perigo - quase podemos acreditar que as coisas podem dar realmente ruim pro lado dele.
A cena da tortura, nesse aspecto, é exemplar - e agoniante.
A parte feminina do enredo continua suscetível a críticas, já que está lá com o óbvio papel de manter a tradição da 'belas e perigosas', meio que uma corruptela apelativa do papel clássico da femme fatale. Mas, ainda assim, não tem como negar que cumprem um papel bacana dentro da trama, especialmente a Vesper (o primeiro diálogo dos dois tem um quê de afetação, contudo introduz bem a química do casal).
E quanto ao vilão... bem, se tem um Mads Mikkelsen caolho chorando lágrimas de sangue (que detalhe pequeno e distinto!), a coisa já fica no mínimo competente.
De negativo ficam, é claro, algumas conveniências de roteiro (impossível um filme de ação não usar delas) e a parte final do filme, que, a meu ver, quebrou um pouco o ritmo e custou a engrenar novamente no ritmo de suspense e ação.
De todo modo, vale assistir e vale a pipoca.
Moscou Contra 007
3.7 198 Assista AgoraPrimeiro dos antigos 'Bond' que fui assistir, e sob a promessa de ser o mais thriller de todos... e me frustrei.
Claro, é preciso assistir hoje em dia considerando a época de lançamento e coisa e tal e tal e coisa. Mas tirando o mérito de que a ação é bem comedida e sem os exageros típicos da série, o resto é um filme de espionagem bem regular (senão para a época, pelo menos para os olhos de hoje em dia, e portanto longe de ainda ser uma referência absoluta em termos de 'thriller'). Particularmente, não me empolguei em momento algum... tirando, talvez, a cena no trem.
E de resto é Bond como tantos outros: se você é homem, vai invejar o garbo do James (se pá, vai até ficar tentado a usar um cabelo de noivo impecavelmente penteado como o dele), se você é mulher, vai se perturbar com a fetichização das mulheres.
No mais, vale assistir pela curiosidade e pela história do cinema, mas nada muito glorioso.
Louca Obsessão
4.1 1,3K Assista AgoraResumo: uma pequena joia dos filmes de suspense, e daquele adorável tipo de quando o que conta (e causa agonia) é a situação, não os exageros (seja de violência ou sustinhos baratos).
Argumento: então a situação que o filme lança é simples, mas muito competente.
Ficar preso nas mãos de uma pessoa insana, numa casa de campo, no meio de um inverno rigoroso, fisicamente incapaz de fugir, é absolutamente perturbador e angustiante.
O personagem da Bates (incrivelmente representado, aliás) é um daqueles vilões que geram certa simpatia (a gente consegue ler a solidão e o vazio por trás da sua obsessão) enquanto traz uma mensagem crítica (a relação dos fãs com seus autores [ou artistas, de modo geral] favoritos).
Aliás, é bem rica essa camada crítica da história, tornando o filme bastante pertinente para quem curte literatura - sem correr o risco de viajar muito na maionese, o filme está falando, em termos literais, da situação simbólica dos autores que ficam 'presos' às expectativas que seus fãs têm sobre os livros que eles, autores, escrevem.
Mas isso, frise-se, sem que o filme perca nunca sua pegada de suspense legítimo, em que nosso desconforto é pela situação em si, e não por sustinhos toscos.
Vale assistir, e vale mesmo que você, assim como eu, já tenha ouvido falar tanto desse filme que pode parecer até desnecessário assisti-lo (acredite: vale muito a pena assistir).
E de bônus tem ainda uma surpresa e tanto, que é quando
o xerife, que acompanha todo o rolê e veio sendo apresentado como o cara que iria resolver tudo com sua obstinada e calma abordagem do caso, é assassinado abruptamente, sem rodeios, dando na gente a sensação de 'mano, como assim? ele não pode morrer!'.
Anônimo
3.7 739Resumo: um bom filme de ação, que só não é melhor porque, pro final, descamba pra zoeira.
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Então seu início, com um protagonista emasculado pela vida suburbana mas que tem lá seu passado misterioso, é envolvente. E conforme o enredo progride pra algo tipo 'Um dia de fúria' encontra 'John Wick', fica ainda melhor (a cena do ônibus é uma das cenas mais perversamente prazerosas que podemos assistir).
E bacana também que o protagonista não é aquele fodelão pronto, e sim um cara marcado pela idade que bate e mata, mas apanhando e sofrendo bastante no processo.
E o filme progride bem conforme os fatos vão se encadeando, apesar de ser algo bastante simples, previsível e até clichê (mas bons filmes de ação são assim mesmo afinal).
O problema é que conforme o final se aproxima, e especialmente a sequência final, a coisa toda ganha ares muito farofeiros, tipo zoeira mesmo, quebrando a atmosfera mais séria e comedida de até então (se na cena do ônibus a gente sente um protagonista 'real' com dificuldades de sentar o pau em geral, na cena final é tudo tão fácil e exagerado que chega a parecer outro filme).
Entretanto, ainda assim, no conjunto geral da obra, compõe um filme bacana para passar o tempo descompromissadamente. E apesar do subgênero 'caras fodões que só queriam uma vida pacata mas são forçados por motivos banais a voltarem a sentar o pau num bando de bandidos' estar meio que às sombras do ótimo 'John Wick', 'Anônimo' tem lá seu charme e agrada quem curte esse tipo de filme.
O Soldado que Não Existiu
3.4 72 Assista AgoraUm dos desafios dos filmes baseados em fatos reais, ainda mais no universo da segunda guerra mundial, é contar o fato sem descambar num documentário; e é aí que 'O soldado que não existiu' escorrega, pois como arma 'anti-documentário' investiu num romance capenga e numa picuinha superficial entre os personagens.
Então, se você curte segunda guerra mundial, e é do tipo que gosta dos bastidores, a história aqui tem sim um potencial de entretenimento.
A armação do 'soldado que não existiu' é realmente interessante, e seu planejamento consegue nos dar a dimensão do risco envolvido e da dificuldade implicada.
Porém, o tal plano dura os minutos iniciais do filme, e depois só volta mesmo nos minutos finais, restando, no meio, aquele romance duvidoso e aqueles atritos bobinhos entre os personagens.
Dá para entender a intenção do filme - colocar mais drama para escapar de um teor friamente histórico -, porém fica evidente que se perderam no caminho. A coisa termina e a gente não consegue comprar a paixão de um, a reação do outro, nem o modo como todos absorveram seus desfechos.
Enfim, o filme vale pela história, e não pelo drama - e nesse sentido talvez fosse melhor ter feito mesmo um filme assumidamente puxado pro documentário.
Ah, e tem uma forçação de barra com a inclusão do Ian Fleming ali, tipo um fan service goela abaixo. Ele poderia muito bem nem ter aparecido na história, bastava ser mencionado - e muitíssimo menos aparecer na cena final, já que até então ele sequer participou das reuniões e das outras ações feitas ali na sala.
Vale assistir pelo conteúdo, e até rola como passatempo, mas fica bem aquém do que um bom filme de guerra pode fazer em termos de preencher a história real com comoventes dramas pessoais.
Educação
3.8 1,2K Assista AgoraFilme gostosinho de assistir e que traz algumas reflexões, mas que parece tropeçar quanto ao tom (e profundidade) do enredo.
Então a jornada da protagonista, que é uma jornada de amadurecimento, é bem interessante. Sua insatisfação contra o clima machista e conformista daquela época (só daquela época, certo?) nos mantêm curiosos para assistir a seus próximos passos em busca da liberdade e autorrealização, curiosidade aumentada conforme a mocinha vai tomando um caminho duvidoso em alguns aspectos.
E os personagens secundários vêm bem a calhar, como a figura paterna (meio opressor, mas também meio iludido), as professoras da escola (meio caretas, mas também meio que 'eu já vi o mundo e sei como ele é ferrado para nós mulheres'), e, claro, o próprio David (meio oportunista, mas também meio que em crise).
O problema do filme é que ele fica oscilando entre uma comédia romântica e um drama, então ficamos ali sem saber de que modo devemos absorver a história. Nesse sentido o final é um tanto confuso ou mesmo insatisfatório, já que
todo o perrengue existencial e prático da protagonista, que poderia ser um baita dum drama filosófico e social, é resolvido facilmente no melhor estilo comédias românticas
Pessoalmente, senti falta de um pegada mais incisiva no aspecto dramático da história, uma aprofundamento mais nos problemas do que nas soluções (até porque a vida é mais problemas do que soluções, especialmente para as mulheres numa conservadora década de 1960).
Vale assistir, e é divertido assistir, mas deixa um gostinho de mensagem incompleta.