Filme policial com muito corre-corre internacional e baseado no embate entre dois personagens de peso, mas que fracassa justamente em dar peso a esses personagens.
Então quem quer aquela pegada de perseguição pode até curtir. E deve também aprovar uma ou outra cena de ação (que não são muitas).
Contudo, num filme que aposta em dois figurões perfazendo um embate entre o bem (Richard Gere) e o mal (Bruce Willis), é bastante frustrante que esses figurões pouco se encontrem e que quando o fazem acaba sendo tudo muito rápido e sem profundidade.
E, para piorar, enquanto o Bruce soa levemente esvaziado de propósito (o que o filme tenta nos convencer como sendo uma personalidade fria), Gere não consegue atingir nenhuma distinção dramática (fosse um policial qualquer apenas cumprindo seu dever profissional daria praticamente na mesma em termos de enredo).
E bônus negativo para o sotaque do Gere, que aparece lá de vez em quando só para deixar claro que não deu certo.
Enfim, assistir hoje em dia é sentir um cheirinho de naftalina, mas é preciso admitir que o gênero tem lá seu charme e o filme, se não é o melhor representante da classe, entrega sim uma dose satisfatória de entretenimento.
E pior nem é a ideia em si por trás do lance da Lua (megalomaníaca, exagerada e rasa, mas ainda assim passável dentro do gênero de ficção científica), o problema mesmo é a execução.
Parece que os caras decidiram simplesmente copiar do jeito mais preguiçoso tudo quanto é clichê dos filmes de catástrofe planetária, mas com o bônus de intencionalmente (não foi por acidente, não pode ter sido por acidente!) piorar tudo uns 80%.
E cada situação forçada, cada furo de roteiro, cada 'solução' que vem por uma coincidência salvadora ou então do jeito mais absurdo possível... Difícil aceitar a realidade que o filme tenta construir.
E ainda tem as atuações (que elenco secundário bizonho), os diálogos (inúteis ou então autoexplicativos), as piadinhas (alguém riu pelo menos com uma delas?) e os efeitos especiais (tirando um ou outro bacana, o resto é bem duvidável, com maior jeito de tela verde comprada no Mercado Livre [tá, exagero, mas deu pra pegar o nível, né]).
Enfim... só chega-se ao fim disso aí ou por teimosia ou arrependimento pelos 20 minutos iniciais (tempo necessário para começar a desconfiar que a bomba tá pra explodir).
Assistir a um filme inspirado num livro, depois de ler o livro, é raramente algo satisfatório. Parece ser o caso também de 'Almas em Leilão', que, apesar de bastante fiel ao livro, perde algumas coisas nessa tradução livro-filme e toma algumas liberdades contestáveis.
Me incomodou um pouco a passagem do tempo, que entre cortes e cenas não ficou lá muito clara (passaram-se os meses sem deixar clara essa passagem). Incomodou também um pouco essa versão do Joe, que teve muito do seu conflito pessoal (ambição x paixão) meio que diluído. E me incomodou também um pouco a Alice, que sofre uma mudança muito abrupta (da mulher segura de si para uma mulher algo desequilibrada).
Porém, tudo isso é em comparação com o livro.
O filme em si é bom, envolve o espectador, e agrada com seu enredo e clímax (apesar de que, novamente, no livro a coisa é um pouco diferente e o filme tomou uma liberdade criativa bastante grande).
No mais, destaque também para Simone Signoret, que de tão charmosa dá vontade de vê-la num filme noir no papel de femme fatale.
Vale assistir, mas antes de ler o livro, que aí sim, nessa sequência (primeiro filme, depois livro) a sensação será de uma complementação agradável.
Saibam, jovens, que houve um tempo (simples e modesto) em que barato era esperar até sexta-feira, 22h, para colocar no SBT (sim, TV aberta), na 'Tela de Sucessos', e assistir 'O Ataque dos Vermes Malditos'. E saibam que éramos felizes - ou quase isso...
O filme em si é uma divertida mistura de aventura descompromissada com terror ingênuo. Tem uma dupla de protagonistas carismática, um cenário conveniente a histórias improváveis, e uma pegada de nojeira comedida mas eficiente (a meleca que o bichão solta, bem como seu sangue espesso, cumprem bem o papel de gerar estranheza e repulsa).
E sem contar que honra o terror anos 80 ao colocar personagens típicos do gênero (tipo o adolescente bobo e zoeiro, e a mocinha que, inevitavelmente, tem que aparecer de calcinha).
De bônus, tem ainda o Kevin Bacon, que nos idos de 1990 topava participar desses projetos meio que inusitados.
Vale assistir, e vale quatro estrelinhas pela nostalgia.
Algumas ficções científicas falham pela metade, outras, por completo; este parece ser o caso de 'Passagem para o futuro', que deve ser assistido, se muito, como drama ou romance (e mesmo assim com muita boa vontade do espectador).
Tipo... Trabalhar a viagem no tempo é legal. Trabalhar a criogenia é legal. Trabalhar o desenvolvimento de robôs humanoides, pô, é legal também. Só que quando você tenta juntar tudo isso num rolê só, algo vai ficar capenga...
Aí que, aqui, a viagem no tempo só serve como firula do roteiro (e com somente uma frase a título de explicação), a criogenia só serve como ápice dramático (ou tentativa de, né...), e os robôs humanoides só servem para vergonha alheia (muito tosco o modo caricato e pouco coerente com que os atores tentaram 'imitar' o comportamento robótico). Enfim, um pequeno desastre mesmo.
Quanto à carga emotiva, que faria do filme uma pedida para quem estivesse a fim de um drama ou romance... Bem, superando o lance um pouco esquisito 'irmão x irmã' (menos mal que era adotiva), o casal é até fofinho. Porém, é tanto corre-corre misturando viagem no tempo, criogenia e robôs, que não sobra tempo para desenvolver um arco emocional que justifique nossa expectativa pela união do casal. Na verdade, no final,
É sempre bacana quando uma narrativa consegue inserir uma 'mensagem' sem que isso signifique sacrificar o entretenimento, e esse é o caso de 'O Homem Invisível', que entrega um suspense bacana ao lado de uma reflexão sobre violência doméstica.
Então, todos os elementos do suspense estão lá, com direito até a um ou dois sustinhos de pular do sofá. E é um suspense bastante psicológico, já que, como o título revela, se baseia na neurose da protagonista quanto a estar sendo perseguida por um homem invisível.
Aliás, o filme foi bastante competente em lidar com esse autospoiler: mesmo a gente sabendo que será essa a tônica (a nóia sobre estar sendo perseguida ou não por um homem invisível), ainda assim somos envolvidos pela situação. E aí méritos para a atuação da Moss; e também para a direção, que optou por tomadas que favorecem a sensação de que havia alguém lá junto da mocinha o tempo todo.
E tudo isso embalado numa reflexão sutil e suave, mas perfeitamente precisa, sobre violência doméstica. É como se o filme com seu enredo tivesse levado ao extremo a típica situação de um agressor que faz sua vítima acreditar que é tudo 'coisa da sua cabeça', o que torna a vítima deslegitimada para pedir socorro e etc. Aliás, é particularmente angustiante a parte em que
Como fã do gênero de ficção científica, é sempre triste ver como filmes de potencial naufragam na armadilha de darem muito foco num aspecto e esquecendo de todos os outros. Neste caso, o foco parece ter sido mais na tecnologia de produção envolvida, como se isso fosse bastar para fazer um bom filme.
Aí que o enredo é super básico e pouco original. E perturba o fato de que a sinopse dá um spoiler que só vai aparecer na trama quase que na metade do filme, dando na gente a sensação de tempo perdido. E o desenvolvimento dos personagens é no melhor estilo filme de ação genérico - ou seja, raso, rápido e unidirecional.
Debates importantes poderiam ter sido feitos sobre a clonagem. Não algo chato e intelectual quanto ao aspecto tecnológico, mas ético, até mesmo dramático - que bacana seria se tivesse focado na
crise existencial do clone quando se descobre clone, por exemplo
. Porém, a proposta do filme é correria, propaganda da coca cola (as latinhas sempre perfeitamente viradas para a câmera), e um Will Smith digitalizado.
E até curti a digitalização. Em algumas cenas a versão 'Maluco no Pedaço' é perturbadoramente convincente e nos deixa minimamente desconfiados sobre o rumo das coisas caso essa tecnologia se aperfeiçoe (e não estou falando só do seu uso no cinema...).
Porém, tirando isso, o resto é bem passável.
Mas vale mencionar o prazer de assistir um Will Smith (o real dessa vez) que parece não envelhecer e uma Mary Elizabeth Winstead que é agradável aos olhos em tudo quanto é personagem que faz.
Filmes biográficos flertam com um perigo: focar demais no personagem e de menos na história (ou seja, não entregar um enredo envolvente / divertido / interessante). E parece ser esse o caso de 'Capote', que mergulha na pessoa, mas sem desenvolver uma trama forte em paralelo.
Claro, não é preciso falar da atuação do Hoffman, que está uma coisa ímpar (tudo o que ele faz tem um trejeito assustadoramente natural).
E isso, de início, nos cativa. Porém, conforme a história vai rolando, a sensação é de um certo marasmo, já que os acontecimentos são lentos e pouco interessantes. E aí, mesmo que tenhamos um protagonista chamativo, o desenvolvimento da história torna-se um pouco enfadonho já que tudo o que nos dá são sucessivas demonstrações da personalidade do protagonista.
Essa personalidade é sim marcante, algo revoltante, algo contraditória (no bom sentido das coisas complexas), mas não me pareceu uma base forte o suficiente para segurar legitimamente o interesse do espectador.
Me incomodou um pouco também o fato de o filme supor que todos conhecem o impacto que a obra dele teve (o livro 'A Sangue Frio'), e portanto não se importando em esmiuçar o quão revolucionária, diferente, paradigmática, etc, ela foi - uma consequência, de novo, do fato do filme ter pouco enredo. Claro, o filme não pode ser culpado pela ignorância de quem o assiste, mas fiquei o tempo todo esperando um desenvolvimento nesse sentido, o que não rolou.
Enfim, uma produção bacana sobre um personagem interessante e com um ator sensacional em destaque. Mas pode frustrar quem vai assistir esperando uma boa e envolvente história.
Seguindo a onda dos cinquentões violentos e fodões e em busca de vingança, temos Statham num papel que lhe cai bem e dentro de uma trama que consegue se manter interessante.
Parte desse interesse se constrói pelo mistério inicial ('quem é esse cara?', pergunta um dos personagens quando vê o grau de chucknorrismo do protagonista), aumenta conforme vêm outros mistérios (a pincelada sobre o passado do protagonista), e se consolida quando o filme, de modo ousado, muda o foco e traz outro grupo de personagens pro rolê.
Curiosamente, apesar de ser um filme de ação, as cenas de ação não me pareceram assim aqueeeeela coisa. A cena do combate final tem sim seu charme (
bacana o lance das armaduras e também todo o risco da missão
), mas de resto é tudo mais ou menos (nada perto daquele impacto que o John Wick causou, por exemplo). O tchã do filme tá mais no seu clima de 'filme de assalto' misturado com 'qual é a do protagonista?'.
O final, bem, aí sim honrou os velhos e clássicos filmes de ação. Afinal,
ter sobrevivido àqueles tiros todos até que tá ok, mas logo na sequência aparecer, quase que inteirão, pronto pra despachar o último dos caras maus, isso é super filme de ação dos anos 90
.
Vale assistir como um passatempo para quem curte filmes de ação / assalto, mas sem muita pretensão.
Pela premissa, parece um filme que flerta com o gênero documentário e, portanto, seria algo polêmico. Contudo, o que entrega mesmo é uma história bastante regular sem muito poder de impacto (ou talvez seja o filme que envelheceu mal).
Então, de início, é sim interessante conhecer os meandros do marketing tabagista, não obstante hoje em dia muita coisa tenha mudado e muito do ali discutido já seja de conhecimento notório (principalmente as propagandas 'naturais' presentes na indústria cultural).
O protagonista não é de todo detestável apesar de sua função moralmente condenável, mas parece menos por uma complexidade do filme (do tipo construir um protagonista cheio de ambivalências e tal) e mais por uma limitação da história (o protagonista não é posto a prova em nenhum momento, permanecendo em sua zona de conforto o tempo todo, então não sentimos que ele de fato fez escolhas terríveis quando poderia ter feito escolhas mais suaves. Ah, e é preciso considerar que o lado 'correto' da história, que são os antitabagistas, são retratados quase que comicamente, meio que apatetados, e portanto longe de serem inimigos a altura do protagonista).
O desenvolvimento da trama, ao menos, é bacana e garante nosso interesse até o fim.
Já quanto à mensagem do filme... Bem, é menos sobre o cigarro e mais sobre o capitalismo (venda, e venda tudo, mesmo que faça mal... e para isso estão aí os advogados e o marketing). E isso é o pouco do filme que se salva: seu final que deixa as portas em aberto para pensarmos quais outros 'cigarros' estão por aí se colocando em filmes e afins só para satisfazer uma indústria super lucrativa.
Assista, mas menos como documentário, e mais como um filme interessante à sua época.
Filme com uma ou duas doses de originalidade, mas que depois descamba prum mais do mesmo (e nem mesmo entregando um 'mais do mesmo' de qualidade).
Então, de cara, chama a atenção a localização do filme, que é na Suécia, assim como o clima de mundo devastado pela guerra (fome, destruição, violência). E a atenção é fisgada de novo com a tal missão feita em cima de patins para gelo, o que rende uma fotografia no mínimo interessante.
Porém, a partir daí, vamos vendo repetecos de tudo o que há de típico em filmes de guerra, mas sem conseguir entregar muito do drama almejado (mortes que acontecem meio 'tá, morreu, que pena, mas e aí, falta muito pro filme acabar?') e nem muita da tensão que esperamos nas situações de ação / perigo (as cenas de combate estão acima da tosquice, mas longe de serem louváveis pela técnica e qualidade).
E o final... bem, ficou um pouco forçado, meio teatral demais, e até um tanto confuso (afinal,
se era uma arma biológica que mataria milhões, fica meio estranho supor que a destruição dela através de uma explosão não teria ainda consequências bastante catastróficas...
.)
Talvez valha assistir como passatempo e pela curiosidade sempre saudável de assistir coisas fora do circuito norte-americano, contudo, não é exatamente um filme para ficar na memória.
Filme começa próximo de um 'besteirol americano' (apesar de ser britânico), mas logo se aprofunda (mesmo que não muito) num drama sobre a juventude, o que o faz valer a pena.
Então, de início, a gente tem aquele cenário clássico de homens jovens em busca de diversão e garotas dentro de uma juventude algo dissipada. Mas, em vez de se contentar com isso (e repetir as tiradas de humor um tanto duvidoso), começa a surgir uma crítica interessante sobre o que habitualmente consideramos uma 'vida adulta normal'.
É uma crítica meio que universal e atemporal baseada no dilema 'seguir a paixão x seguir a convenção', então é difícil não rolar algum grau de identificação em quem assiste.
E apesar de ser focado na juventude (aquele momento em que entendemos que cada passo dado está cada vez mais enrijecido na direção do 'é esse o adulto que serei até o fim da vida'), acaba sendo válido mesmo para quem já deu aqueles passos agora definitivamente rígidos.
Bacana também a mistura entre comédia, drama e até uma pegadinha de aventura, que resulta num filme leve e agradável de assistir.
De ponto positivo fica ainda a brevíssima crítica feminista e a escapatória de alguns clichês fáceis (não de todos, mas pelo menos de alguns...).
Enfim, vale assistir como um passatempo descontraído com direito a uma reflexão sobre o que fazemos ou queremos fazer de nossas vidas.
Apesar de sofrer de uma certa 'dunkirkzação' (logo, com aquele toque de imitação), e apesar de ser baseado em uma história real (logo, já sabemos do fim), é competente em prender o expectador na ânsia pelo desfecho.
Assim, o filme começa e já nos deixa com aquele gosto de tragédia por vir, o que nos motiva a continuar assistindo. E os diferentes personagens, com suas esferas de realidade, drama e perspectiva diferentes, cumprem bem o papel de desenvolver um arco dramático dentro do fato histórico.
Bacana também o contexto em si (a ocupação nazista da Dinamarca), que não é dos mais explorados pelo cinema, sempre às voltas com o heroísmo norte-americano quando se fala de Segunda Guerra Mundial.
Positivo também é a evidente intenção em construir uma sobrecarga emocional mostrando as crianças em toda a sua inocência e infantilidade enquanto aquela tragédia anunciada se aproxima (algo tipo mostrar o belo para garantir que quando a feiura aparecer ela seja realmente chocante [e é]).
De negativo, porém, fica a modéstia do filme, principalmente na sua duração: tivesse se aprofundado mais aqui e ali, e portanto tivesse duração maior, teria sido bem mais rico. Aí que personagens densos ficaram meio que rasos, deixando claro que tentou-se aquela pegada estilo Dunkirk mas sem atingir plenamente o objetivo (exemplo maior, talvez, seja a breve aparição e então súbito desaparecimento dos pilotos da RAF).
Então é um filme interessante de se assistir, contudo com uma simplicidade que não é de todo perdoável.
No mais, vale assistir, e vale a reflexão: numa guerra, os algozes podem estar também do lado 'certo' (todas as aspas possíveis) do conflito
Que enredo! Exemplo mais do que clássico, quase perfeito, de que narrativas devem entregar uma progressiva tensão mediante complicações vividas pelo protagonista.
Então acompanhamos nosso pobre (e ao mesmo tempo detestável) Harry ardendo na sua ambição por ser alguém na vida. E por mais que seus meios sejam questionáveis, sua motivação é super humana e compreensível. Aliás, essa 'contradição' dá uma tônica ótima à história, já que mesmo que a gente condene as escolhas ainda assim nos identificamos com o incômodo que o corrói por dentro.
Bacana também o contexto da história: uma Londres de personagens torpes, malandros, ilegais, que sobrevivem às custas de esperteza e à margem da lei.
Outro destaque são as ótimas tomadas da câmera focando o rosto dos personagens, especialmente, claro, do próprio Harry (o recurso do 'rosto suado de tensão' nunca foi tão bem usado como aqui).
Enfim, a imersão na história é tanta (a agonia de ver o Harry afundando até o pescoço no rolo que ele mesmo criou), que a gente até releva as diversas cenas em que é possível ver a sombra das câmeras e do pessoal dos bastidores.
Então, sim, hoje em dia talvez dê no espectador a sensação de filme antigo: a história demora a progredir enquanto tropeça num enredo bobinho do tipo 'homem conhece mulher e se apaixonam perdidamente'. Porém, quando finalmente o enredo deixa claro que há algo errado ali (que é afinal o conflito central da trama) aí o filme deslancha é um barato acompanhar os desdobramentos.
O destaque fica pela Gene Tierney e sua Ellen. Não só a atriz representou bem seu papel (sem exageros e rompantes novelescos), mas, sobretudo, o personagem mesmo é sensacional: sua vilania não é de alguém mau, perverso, ruim, que optou ser o que é, mas sim de alguém profundamente perturbado (aliás, muito bem construída a progressiva 'perturbação' de Ellen, dando na gente a sensação de evolução e perda de controle de sua neurose). Aí que ao final a gente nem consegue ficar com verdadeira raiva da moça porque, afinal, aquilo tudo meio que não era culpa dela.
A premissa da 'troca de assassinatos' é do tipo que te ganha na mais curta das sinopses, e, grata surpresa, é uma promessa feita e entregue pelo filme: ou seja, o enredo é tão bom quanto parece.
E grande mérito desse enredo é que ele se sustenta para além do absurdo da situação. Então mesmo que logo a estrutura do suspense já esteja armada, talvez até um pouco precocemente dentro da duração do filme, a agonia do protagonista sofrendo com a 'chantagem' ainda é bem eficaz em manter nosso interesse na trama.
Bacana também reparar nuns lances 'ousados' da filmagem, como nas cenas feitas em tomadas um pouco tortas, nas ótimas cenas em que Bruno, de longe, fica secando o mocinho desesperado (a cena da partida de tênis... que cena!), e na cena do carrossel, que tem uns ares (intencionais ou não) quase psicodélicos com a mistura de elementos simbólicos contrastantes.
Contudo, creio que o filme pecou um pouco na construção do Bruno. Fica um tanto confusa a motivação dele. Meio que é um lance psicológico contra o pai, meio que um lance interesseiro, meio que um lance aventureiro do tipo 'até onde a gente consegue ir?', e meio que um lance de loucura mesmo. No meu gosto e leitura (possivelmente limitada, claro), senti que faltou uma conexão ou progressão entre estas motivações, ou mesmo o foco em somente uma delas. O resultado foi um 'vilão' tendendo ao teatral, perdendo o peso de realismo.
Ah, e minha meta de vida é ter a presença de espírito do garotinho no carrossel. É tiro, é grito, é porrada, é o treco andando a mil por hora, e ele lá rindo e curtindo o rolê.
Filme antigo mas bom, mesmo que não seja o melhor do tio Alfred.
Filmes antigos às vezes pecam, diante do olhar 'moderno', pelo peso e artificialismo com que eram construídos; então nada mais estimulante do que assistir a 'Pacto de Sangue' e testemunhar um belo exemplar de filme antigo que envelheceu com leveza e mantendo a naturalidade.
A começar por sua estrutura em flashback, absolutamente eficiente. Isto é, não apenas serve de anzol para o espectador (a abertura misteriosa indicando que algo atípico e fascinante ocorreu com o protagonista), mas se encaixa na própria trama enquanto elemento do enredo (o impacto do final certamente seria menor não fosse o uso do flashback como motor narrativo).
Aí temos os personagens, que estão quase que divinamente bem colocados. O destaque fica por conta do gosto do freguês, mas deve ser impossível não mencionar a sinistramente sedutora Phyllis; ela consegue representar categoricamente o que é uma femme fatale, porém sem cair e maquiavelismos exagerados. Ah, e que desdobramento essa personagem vai tendo conforme a trama progride!
E, claro, o próprio visual, a construção das cenas, as luzes e sombras, as tomadas, até mesmo o posicionamento dos atores... tudo encaixadinho e coerente com o que se queria dizer / transmitir.
O final talvez, apenas talvez, seja um pouco over demais com isso de
Apesar de ser um entretenimento passável, perde-se na frouxidão com que os elementos do enredo são construídos.
Aí que temos um protagonista movido por uma paixão sem sustentação (as poucas cenas da infância do casal não servem para comprarmos a intensidade do sentimento ou aceitarmos esse sentimento como justificativa para tudo o que rola depois).
A vilania do vilão é bacana por ter um pano de fundo político e até mesmo mais psicológico, mas também vacila ao ser jogada de sopetão dentro do enredo - a sensação é de que é um cara mau porque é mau, e não porque tem uma motivação.
E a mocinha... bem, só está lá para fazer caras e bocas de surpresa e arrebatamento.
O que acaba salvando o filme de ser perdidão é o personagem do inspetor, esse sim conseguindo servir de guia para a única faceta do filme que se sustenta: a de mistério/investigação estilo filme policial.
Ainda assim, o desenlace - quando o mistério se resolve - está longe de ser propriamente original ou surpreendente, dando a sensação de que o filme poderia ter ganho maior consistência se tivesse investido mais em aprofundar as coisas do que na tentativa de construir um plot twist.
Vale como digestivo mental, não muito mais do que isso.
Considerando ser uma adaptação de livro, o julgamento mais gentil que pode ser feito é de que a história é boa, mas a migração para o cinema nem tanto.
Aí que o enredo é bacaninha. Isto é, superado o início atropelado (saltos temporais excessivos e aquele assassinato meio que do nada), a gente até que embarca nessa história de ambição e manipulação.
O problema é que o vilão é raso, então não rola criar antipatia ou simpatia profundas - e o pior que tinha pano pra manga, já que a motivação dele tem um fundo social que poderia revesti-lo de 'vítima' do sistema e etc.
A mocinha é de uma inocência menos do tipo 'coitada, não sabe com quem tá lidando' e mais do tipo 'meu, guria, acorda pra vida!', o que também não favorece que fiquemos com medo quanto ao desfecho dela dentro da trama.
Enfim... os elementos para uma boa narrativa estavam lá, mas a armação deles ficou bem ruim.
Lapsos de comédia tentando embalar dramas profundos, mas o resultado acaba sendo tudo muito leve e passável - outro caso de comédia dramática que não consegue entregar nem uma coisa nem outra.
Aí que, de cara, o enredo é sim atrativo. Jornadas de amadurecimento sempre cativam, ainda mais se apresentadas de um jeito indie, com toque retrô, e sustentadas num simpaticíssimo tio-sabe-tudo corporificado pelo bonachão Ben Affleck.
O problema começa quando o enredo tenta aprofundar as coisas e fazer valer sua veia dramática. Tem questão familiar, tem questão de saúde mental, tem romance, tem crise existencial, tem crise profissional, tem problemas com vício... E o filme tem nem 2 horas.
Tudo vai sendo mastigado com pressa e cuspido de volta pro espectador, que tem que se contentar com fragmentos - e com uma linha temporal espaçada e um pouco confusa.
E a comédia? Bem, sutil, quase sumindo.
Resultado é um filme que atira muito, mas acerta pouco. Tivesse assumido escancaradamente um ar mais de aventura e menos de comédia dramática, talvez tivesse tido mais sucesso.
De positivo, fica ali um resquício emocional por todo o rolê do filme, com isso de um protagonista em aprendizado indo de lá para cá. Mas poderia ter sido muito mais.
Vale assistir? Até vale. Mas não que seja aquele Sr. Filme Memorável.
Ficção científica simples, puxada para o suspense, e bastante competente.
Já de início sacamos o drama dos personagens e todo o contexto da história (se não todo, pelo menos o que dele importa). E apesar de ser uma situação absurda (daí a ficção científica), é ao mesmo tempo super agoniante, o que torna irresistível assistir para ver no que vai dar - sensação que nos acompanha mesmo quando o enredo entrega algumas coisinhas forçadas.
Já o desenrolar é rápido e enxuto, preciso também, sem excessos. Toda cena acumula algo em direção ao clímax, e tudo que é mostrado responde a alguma pergunta do roteiro. Então fica difícil dizer que o filme é chato ou que em algum momento enche linguiça.
O problema, talvez, seja justamente essa precisão toda. Parece que o filme se focou tanto em ser redondinho, que não quis ousar mais na história, que saiu super simples e basicona - um possível desalento à galera que curte reviravoltas alucinantes, complexidades teóricas e lacunas que dão pano a muitas teorias.
Outro possível desalento é a venda do filme como terror, o que não é - pelo menos não no sentido comum. Tem lá uns sustinhos (nada over) e um pouco de gore, mas o tchan da coisa é mesmo um suspense do tipo não-vejo-o-bicho-mas-sei-que-ele-tá-por-aqui.
Enfim, uma misturinha modesta de ficção científica e suspense, mas que entrega o que promete: uma história criativa capaz de te entreter por 90 minutos.
formato chama a atenção e a trama nos prende, e tem até o bônus de algumas discussões interessantes de fundo, mas escorrega um pouco no desfecho.
Então, sim, de início, a gente fica intrigado por uma história contada somente pelo que é exibido na tela do computador/celular. Rola um certo estranhamento, e em alguns trechos uma certa sobrecarga de informações / poluição visual (pelo menos para quem assistir com legenda), mas no geral o efeito desse formato é positivo.
Conforme a trama progride, nossa atenção continua sendo alimentada e recompensada. Nada muito além de um episódio de CSI, mas o gênero, mesmo batido, continua eficiente, então o filme não é nada chato.
E nisso algumas discussões legais surgem. Bullying, as aparências que mantemos nas mídias sociais, a facilidade com que falsas impressões são cultivadas, o sensacionalismo midiático, o oportunismo dos influencers, e, forçando um pouco a barra, os danos colaterais da tecnologia na relação pais x filhos.
Porém tudo isso é pincelado, pouco aprofundado, tá lá só mesmo para engrossar o caldo do corre-corre investigativo.
Já o desfecho estraga um pouco a experiência. O formato da contação de história deixa de fazer sentido e a saída encontrada pelo roteiro é forçar a barra e criar um momento bem falso em que tudo é explicado nos mínimos detalhes.
Ainda assim, vale assistir, pelo menos pela originalidade do formato.
Filme de terror com poucos jumpscares, um bom tanto de tensão, e uma pitada acertada de metáfora/simbolismo (ou até mesmo filosofia...) para os mais entusiasmados como enredo.
De cara, o que chama a atenção o jeito de filme de terror dos anos 80 e 90, o que é um deleite para a galera que já trintou. Alguns recursos de câmera e som favorecem pacas essa atmosfera nostálgica, mas, além da nostalgia, conferem também a tensão da trama.
E que tensão! O lance é menos pular no sofá de susto e mais ficar roendo as unhas - a cena do hospital achei particularmente genial em termos de suspense. E aí entra um outro recurso bacana, que de início a gente pensa 'será que é intencional?', mas que depois a gente percebe que é sim, que são as 'figuras' suspeitas nas cenas, deixando para o espectador a avaliação se seriam meros figurantes ou seria a 'Coisa' continuando a perseguição.
E apesar do enredo ser algo nonsense, até mesmo bobo em sua proposta e didatismo (com direito a cena explicando a premissa), ele acaba convencendo. E isso porque o filme constrói toda uma atmosfera que não é totalmente realista, e sim mensageira, como se quisesse trazer uma 'moral da história'. Não, o filme não é 'cabeça', mas é feito de modo que permite achar algumas metáforas e simbolismos ali, ou até mesmo uma discussão filosófica (talvez, sobretudo, da moral da tal 'corrente' do mal e do que precisamos fazer para tirar o nosso da reta).
E nesse quesito é bastante interessante reparar na presença (ou na não-presença, né) de adultos. Aparecem quase como os adultos de Snoopy, sem rostos ou falas, dando a entender que todo o rolê ali tem a ver com a juventude e seus percalços, e até mesmo com a sua solidão diante desses percalços.
Para não dizer que o filme é ótimo, fica aqui a menção desonrosa à cena que tenta fazer uma piada (aquela da
Um daqueles filmes que deixam evidente que muito mais importante do que a história a ser contada é o modo como você conta a história.
Isso porque o filme tinha tudo para ser só mais um daqueles filminhos para prender atenção. Sabe, do tipo que puxa para o policial, tempera com suspense, e deixa um grande mistério a ser revelado na última cena.
Mas aqui temos a direção (e muito ajudada pela trilha sonora) construindo um drama temperado com quase-terror psicológico pra lá de tenso - não tem jump scare, mas a gente fica naquela sensação de que pode vir a qualquer momento.
E quanto às acusações de ser lento ou parado, bem, é parte de um todo. O enredo é cheio de lacunas, sugestões, elipses (para usar um termo chique), e portanto as cenas transitam como que aos saltos, mas sempre saltos intencionais - leia-se, a intenção de deixar o espectador sacar e sentir o que está rolando. Não dá para culpar quem acha o filme chato, mas não, não é chato.
Bacana também são os personagens. São todos apresentados inicialmente quase num clichê, mas então revelados, conforme a trama progride, em suas contradições. Ao final, a gente fica até confuso sobre mocinhos e vilões, certos e errados, virtuosos e corrompidos.
Por fim, é preciso comentar também esse lance da galera apressadamente rotular o filme como 'gay'. É um rótulo que distorce o filme, como se se tratasse de uma mensagem/bandeira para/sobre o movimento gay. Pelo jeito ainda vai tempo até a homossexualidade, quando tangenciada num filme, ser tratada apenas como mais um elemento, e não como o definidor absoluto da narrativa (aliás, cumpre ressaltar aqui a discussão sobre masculinidades que rola de modo sutil e natural, bem longe de uma presunção acadêmica tentando ser intelectual).
No mais, é um filme para assistir quando se está disposto a passar por duas horas de uma carga pesada de tensão.
O Chacal
3.5 197 Assista AgoraFilme policial com muito corre-corre internacional e baseado no embate entre dois personagens de peso, mas que fracassa justamente em dar peso a esses personagens.
Então quem quer aquela pegada de perseguição pode até curtir. E deve também aprovar uma ou outra cena de ação (que não são muitas).
Contudo, num filme que aposta em dois figurões perfazendo um embate entre o bem (Richard Gere) e o mal (Bruce Willis), é bastante frustrante que esses figurões pouco se encontrem e que quando o fazem acaba sendo tudo muito rápido e sem profundidade.
E, para piorar, enquanto o Bruce soa levemente esvaziado de propósito (o que o filme tenta nos convencer como sendo uma personalidade fria), Gere não consegue atingir nenhuma distinção dramática (fosse um policial qualquer apenas cumprindo seu dever profissional daria praticamente na mesma em termos de enredo).
E bônus negativo para o sotaque do Gere, que aparece lá de vez em quando só para deixar claro que não deu certo.
Enfim, assistir hoje em dia é sentir um cheirinho de naftalina, mas é preciso admitir que o gênero tem lá seu charme e o filme, se não é o melhor representante da classe, entrega sim uma dose satisfatória de entretenimento.
Moonfall: Ameaça Lunar
2.4 550 Assista AgoraQue bomba, hein!
E pior nem é a ideia em si por trás do lance da Lua (megalomaníaca, exagerada e rasa, mas ainda assim passável dentro do gênero de ficção científica), o problema mesmo é a execução.
Parece que os caras decidiram simplesmente copiar do jeito mais preguiçoso tudo quanto é clichê dos filmes de catástrofe planetária, mas com o bônus de intencionalmente (não foi por acidente, não pode ter sido por acidente!) piorar tudo uns 80%.
E cada situação forçada, cada furo de roteiro, cada 'solução' que vem por uma coincidência salvadora ou então do jeito mais absurdo possível... Difícil aceitar a realidade que o filme tenta construir.
E ainda tem as atuações (que elenco secundário bizonho), os diálogos (inúteis ou então autoexplicativos), as piadinhas (alguém riu pelo menos com uma delas?) e os efeitos especiais (tirando um ou outro bacana, o resto é bem duvidável, com maior jeito de tela verde comprada no Mercado Livre [tá, exagero, mas deu pra pegar o nível, né]).
Enfim... só chega-se ao fim disso aí ou por teimosia ou arrependimento pelos 20 minutos iniciais (tempo necessário para começar a desconfiar que a bomba tá pra explodir).
Almas em Leilão
4.0 22Assistir a um filme inspirado num livro, depois de ler o livro, é raramente algo satisfatório. Parece ser o caso também de 'Almas em Leilão', que, apesar de bastante fiel ao livro, perde algumas coisas nessa tradução livro-filme e toma algumas liberdades contestáveis.
Me incomodou um pouco a passagem do tempo, que entre cortes e cenas não ficou lá muito clara (passaram-se os meses sem deixar clara essa passagem). Incomodou também um pouco essa versão do Joe, que teve muito do seu conflito pessoal (ambição x paixão) meio que diluído. E me incomodou também um pouco a Alice, que sofre uma mudança muito abrupta (da mulher segura de si para uma mulher algo desequilibrada).
Porém, tudo isso é em comparação com o livro.
O filme em si é bom, envolve o espectador, e agrada com seu enredo e clímax (apesar de que, novamente, no livro a coisa é um pouco diferente e o filme tomou uma liberdade criativa bastante grande).
No mais, destaque também para Simone Signoret, que de tão charmosa dá vontade de vê-la num filme noir no papel de femme fatale.
Vale assistir, mas antes de ler o livro, que aí sim, nessa sequência (primeiro filme, depois livro) a sensação será de uma complementação agradável.
O Ataque dos Vermes Malditos
3.3 676 Assista AgoraSaibam, jovens, que houve um tempo (simples e modesto) em que barato era esperar até sexta-feira, 22h, para colocar no SBT (sim, TV aberta), na 'Tela de Sucessos', e assistir 'O Ataque dos Vermes Malditos'. E saibam que éramos felizes - ou quase isso...
O filme em si é uma divertida mistura de aventura descompromissada com terror ingênuo. Tem uma dupla de protagonistas carismática, um cenário conveniente a histórias improváveis, e uma pegada de nojeira comedida mas eficiente (a meleca que o bichão solta, bem como seu sangue espesso, cumprem bem o papel de gerar estranheza e repulsa).
E sem contar que honra o terror anos 80 ao colocar personagens típicos do gênero (tipo o adolescente bobo e zoeiro, e a mocinha que, inevitavelmente, tem que aparecer de calcinha).
De bônus, tem ainda o Kevin Bacon, que nos idos de 1990 topava participar desses projetos meio que inusitados.
Vale assistir, e vale quatro estrelinhas pela nostalgia.
Passagem Para O Futuro
3.1 12 Assista AgoraAlgumas ficções científicas falham pela metade, outras, por completo; este parece ser o caso de 'Passagem para o futuro', que deve ser assistido, se muito, como drama ou romance (e mesmo assim com muita boa vontade do espectador).
Tipo... Trabalhar a viagem no tempo é legal. Trabalhar a criogenia é legal. Trabalhar o desenvolvimento de robôs humanoides, pô, é legal também. Só que quando você tenta juntar tudo isso num rolê só, algo vai ficar capenga...
Aí que, aqui, a viagem no tempo só serve como firula do roteiro (e com somente uma frase a título de explicação), a criogenia só serve como ápice dramático (ou tentativa de, né...), e os robôs humanoides só servem para vergonha alheia (muito tosco o modo caricato e pouco coerente com que os atores tentaram 'imitar' o comportamento robótico). Enfim, um pequeno desastre mesmo.
Quanto à carga emotiva, que faria do filme uma pedida para quem estivesse a fim de um drama ou romance... Bem, superando o lance um pouco esquisito 'irmão x irmã' (menos mal que era adotiva), o casal é até fofinho. Porém, é tanto corre-corre misturando viagem no tempo, criogenia e robôs, que não sobra tempo para desenvolver um arco emocional que justifique nossa expectativa pela união do casal. Na verdade, no final,
ficou até estranha a súbita paixão dele por ela, uma vez que basicamente nada mudou desde que ele a tinha dispensado das duas primeiras vezes
Vale pela curiosidade de assistir um filme japonês e por estar disponível 'de graça' na Netflix, mas não muito além disso.
O Homem Invisível
3.8 2,0K Assista AgoraÉ sempre bacana quando uma narrativa consegue inserir uma 'mensagem' sem que isso signifique sacrificar o entretenimento, e esse é o caso de 'O Homem Invisível', que entrega um suspense bacana ao lado de uma reflexão sobre violência doméstica.
Então, todos os elementos do suspense estão lá, com direito até a um ou dois sustinhos de pular do sofá. E é um suspense bastante psicológico, já que, como o título revela, se baseia na neurose da protagonista quanto a estar sendo perseguida por um homem invisível.
Aliás, o filme foi bastante competente em lidar com esse autospoiler: mesmo a gente sabendo que será essa a tônica (a nóia sobre estar sendo perseguida ou não por um homem invisível), ainda assim somos envolvidos pela situação. E aí méritos para a atuação da Moss; e também para a direção, que optou por tomadas que favorecem a sensação de que havia alguém lá junto da mocinha o tempo todo.
E tudo isso embalado numa reflexão sutil e suave, mas perfeitamente precisa, sobre violência doméstica. É como se o filme com seu enredo tivesse levado ao extremo a típica situação de um agressor que faz sua vítima acreditar que é tudo 'coisa da sua cabeça', o que torna a vítima deslegitimada para pedir socorro e etc. Aliás, é particularmente angustiante a parte em que
ela é internada como se fosse louca
Enfim, uma bela peça de entretenimento (especialmente aos fãs de suspense puxado pro terror) e com uma necessária mensagem sobre violência doméstica.
Projeto Gemini
2.8 460 Assista AgoraComo fã do gênero de ficção científica, é sempre triste ver como filmes de potencial naufragam na armadilha de darem muito foco num aspecto e esquecendo de todos os outros. Neste caso, o foco parece ter sido mais na tecnologia de produção envolvida, como se isso fosse bastar para fazer um bom filme.
Aí que o enredo é super básico e pouco original. E perturba o fato de que a sinopse dá um spoiler que só vai aparecer na trama quase que na metade do filme, dando na gente a sensação de tempo perdido. E o desenvolvimento dos personagens é no melhor estilo filme de ação genérico - ou seja, raso, rápido e unidirecional.
Debates importantes poderiam ter sido feitos sobre a clonagem. Não algo chato e intelectual quanto ao aspecto tecnológico, mas ético, até mesmo dramático - que bacana seria se tivesse focado na
crise existencial do clone quando se descobre clone, por exemplo
E até curti a digitalização. Em algumas cenas a versão 'Maluco no Pedaço' é perturbadoramente convincente e nos deixa minimamente desconfiados sobre o rumo das coisas caso essa tecnologia se aperfeiçoe (e não estou falando só do seu uso no cinema...).
Porém, tirando isso, o resto é bem passável.
Mas vale mencionar o prazer de assistir um Will Smith (o real dessa vez) que parece não envelhecer e uma Mary Elizabeth Winstead que é agradável aos olhos em tudo quanto é personagem que faz.
Capote
3.8 372 Assista AgoraFilmes biográficos flertam com um perigo: focar demais no personagem e de menos na história (ou seja, não entregar um enredo envolvente / divertido / interessante). E parece ser esse o caso de 'Capote', que mergulha na pessoa, mas sem desenvolver uma trama forte em paralelo.
Claro, não é preciso falar da atuação do Hoffman, que está uma coisa ímpar (tudo o que ele faz tem um trejeito assustadoramente natural).
E isso, de início, nos cativa. Porém, conforme a história vai rolando, a sensação é de um certo marasmo, já que os acontecimentos são lentos e pouco interessantes. E aí, mesmo que tenhamos um protagonista chamativo, o desenvolvimento da história torna-se um pouco enfadonho já que tudo o que nos dá são sucessivas demonstrações da personalidade do protagonista.
Essa personalidade é sim marcante, algo revoltante, algo contraditória (no bom sentido das coisas complexas), mas não me pareceu uma base forte o suficiente para segurar legitimamente o interesse do espectador.
Me incomodou um pouco também o fato de o filme supor que todos conhecem o impacto que a obra dele teve (o livro 'A Sangue Frio'), e portanto não se importando em esmiuçar o quão revolucionária, diferente, paradigmática, etc, ela foi - uma consequência, de novo, do fato do filme ter pouco enredo. Claro, o filme não pode ser culpado pela ignorância de quem o assiste, mas fiquei o tempo todo esperando um desenvolvimento nesse sentido, o que não rolou.
Enfim, uma produção bacana sobre um personagem interessante e com um ator sensacional em destaque. Mas pode frustrar quem vai assistir esperando uma boa e envolvente história.
Infiltrado
3.6 319 Assista AgoraSeguindo a onda dos cinquentões violentos e fodões e em busca de vingança, temos Statham num papel que lhe cai bem e dentro de uma trama que consegue se manter interessante.
Parte desse interesse se constrói pelo mistério inicial ('quem é esse cara?', pergunta um dos personagens quando vê o grau de chucknorrismo do protagonista), aumenta conforme vêm outros mistérios (a pincelada sobre o passado do protagonista), e se consolida quando o filme, de modo ousado, muda o foco e traz outro grupo de personagens pro rolê.
Curiosamente, apesar de ser um filme de ação, as cenas de ação não me pareceram assim aqueeeeela coisa. A cena do combate final tem sim seu charme (
bacana o lance das armaduras e também todo o risco da missão
O final, bem, aí sim honrou os velhos e clássicos filmes de ação. Afinal,
ter sobrevivido àqueles tiros todos até que tá ok, mas logo na sequência aparecer, quase que inteirão, pronto pra despachar o último dos caras maus, isso é super filme de ação dos anos 90
Vale assistir como um passatempo para quem curte filmes de ação / assalto, mas sem muita pretensão.
Obrigado por Fumar
3.9 797 Assista AgoraPela premissa, parece um filme que flerta com o gênero documentário e, portanto, seria algo polêmico. Contudo, o que entrega mesmo é uma história bastante regular sem muito poder de impacto (ou talvez seja o filme que envelheceu mal).
Então, de início, é sim interessante conhecer os meandros do marketing tabagista, não obstante hoje em dia muita coisa tenha mudado e muito do ali discutido já seja de conhecimento notório (principalmente as propagandas 'naturais' presentes na indústria cultural).
O protagonista não é de todo detestável apesar de sua função moralmente condenável, mas parece menos por uma complexidade do filme (do tipo construir um protagonista cheio de ambivalências e tal) e mais por uma limitação da história (o protagonista não é posto a prova em nenhum momento, permanecendo em sua zona de conforto o tempo todo, então não sentimos que ele de fato fez escolhas terríveis quando poderia ter feito escolhas mais suaves. Ah, e é preciso considerar que o lado 'correto' da história, que são os antitabagistas, são retratados quase que comicamente, meio que apatetados, e portanto longe de serem inimigos a altura do protagonista).
O desenvolvimento da trama, ao menos, é bacana e garante nosso interesse até o fim.
Já quanto à mensagem do filme... Bem, é menos sobre o cigarro e mais sobre o capitalismo (venda, e venda tudo, mesmo que faça mal... e para isso estão aí os advogados e o marketing). E isso é o pouco do filme que se salva: seu final que deixa as portas em aberto para pensarmos quais outros 'cigarros' estão por aí se colocando em filmes e afins só para satisfazer uma indústria super lucrativa.
Assista, mas menos como documentário, e mais como um filme interessante à sua época.
Caranguejo Negro
2.7 123 Assista AgoraFilme com uma ou duas doses de originalidade, mas que depois descamba prum mais do mesmo (e nem mesmo entregando um 'mais do mesmo' de qualidade).
Então, de cara, chama a atenção a localização do filme, que é na Suécia, assim como o clima de mundo devastado pela guerra (fome, destruição, violência). E a atenção é fisgada de novo com a tal missão feita em cima de patins para gelo, o que rende uma fotografia no mínimo interessante.
Porém, a partir daí, vamos vendo repetecos de tudo o que há de típico em filmes de guerra, mas sem conseguir entregar muito do drama almejado (mortes que acontecem meio 'tá, morreu, que pena, mas e aí, falta muito pro filme acabar?') e nem muita da tensão que esperamos nas situações de ação / perigo (as cenas de combate estão acima da tosquice, mas longe de serem louváveis pela técnica e qualidade).
E o final... bem, ficou um pouco forçado, meio teatral demais, e até um tanto confuso (afinal,
se era uma arma biológica que mataria milhões, fica meio estranho supor que a destruição dela através de uma explosão não teria ainda consequências bastante catastróficas...
Talvez valha assistir como passatempo e pela curiosidade sempre saudável de assistir coisas fora do circuito norte-americano, contudo, não é exatamente um filme para ficar na memória.
Caindo no Mundo
3.6 96 Assista AgoraFilme começa próximo de um 'besteirol americano' (apesar de ser britânico), mas logo se aprofunda (mesmo que não muito) num drama sobre a juventude, o que o faz valer a pena.
Então, de início, a gente tem aquele cenário clássico de homens jovens em busca de diversão e garotas dentro de uma juventude algo dissipada. Mas, em vez de se contentar com isso (e repetir as tiradas de humor um tanto duvidoso), começa a surgir uma crítica interessante sobre o que habitualmente consideramos uma 'vida adulta normal'.
É uma crítica meio que universal e atemporal baseada no dilema 'seguir a paixão x seguir a convenção', então é difícil não rolar algum grau de identificação em quem assiste.
E apesar de ser focado na juventude (aquele momento em que entendemos que cada passo dado está cada vez mais enrijecido na direção do 'é esse o adulto que serei até o fim da vida'), acaba sendo válido mesmo para quem já deu aqueles passos agora definitivamente rígidos.
Bacana também a mistura entre comédia, drama e até uma pegadinha de aventura, que resulta num filme leve e agradável de assistir.
De ponto positivo fica ainda a brevíssima crítica feminista e a escapatória de alguns clichês fáceis (não de todos, mas pelo menos de alguns...).
Enfim, vale assistir como um passatempo descontraído com direito a uma reflexão sobre o que fazemos ou queremos fazer de nossas vidas.
O Bombardeio
3.8 157 Assista AgoraApesar de sofrer de uma certa 'dunkirkzação' (logo, com aquele toque de imitação), e apesar de ser baseado em uma história real (logo, já sabemos do fim), é competente em prender o expectador na ânsia pelo desfecho.
Assim, o filme começa e já nos deixa com aquele gosto de tragédia por vir, o que nos motiva a continuar assistindo. E os diferentes personagens, com suas esferas de realidade, drama e perspectiva diferentes, cumprem bem o papel de desenvolver um arco dramático dentro do fato histórico.
Bacana também o contexto em si (a ocupação nazista da Dinamarca), que não é dos mais explorados pelo cinema, sempre às voltas com o heroísmo norte-americano quando se fala de Segunda Guerra Mundial.
Positivo também é a evidente intenção em construir uma sobrecarga emocional mostrando as crianças em toda a sua inocência e infantilidade enquanto aquela tragédia anunciada se aproxima (algo tipo mostrar o belo para garantir que quando a feiura aparecer ela seja realmente chocante [e é]).
De negativo, porém, fica a modéstia do filme, principalmente na sua duração: tivesse se aprofundado mais aqui e ali, e portanto tivesse duração maior, teria sido bem mais rico. Aí que personagens densos ficaram meio que rasos, deixando claro que tentou-se aquela pegada estilo Dunkirk mas sem atingir plenamente o objetivo (exemplo maior, talvez, seja a breve aparição e então súbito desaparecimento dos pilotos da RAF).
Então é um filme interessante de se assistir, contudo com uma simplicidade que não é de todo perdoável.
No mais, vale assistir, e vale a reflexão: numa guerra, os algozes podem estar também do lado 'certo' (todas as aspas possíveis) do conflito
Sombras do Mal
4.2 37Que enredo! Exemplo mais do que clássico, quase perfeito, de que narrativas devem entregar uma progressiva tensão mediante complicações vividas pelo protagonista.
Então acompanhamos nosso pobre (e ao mesmo tempo detestável) Harry ardendo na sua ambição por ser alguém na vida. E por mais que seus meios sejam questionáveis, sua motivação é super humana e compreensível. Aliás, essa 'contradição' dá uma tônica ótima à história, já que mesmo que a gente condene as escolhas ainda assim nos identificamos com o incômodo que o corrói por dentro.
Bacana também o contexto da história: uma Londres de personagens torpes, malandros, ilegais, que sobrevivem às custas de esperteza e à margem da lei.
Outro destaque são as ótimas tomadas da câmera focando o rosto dos personagens, especialmente, claro, do próprio Harry (o recurso do 'rosto suado de tensão' nunca foi tão bem usado como aqui).
Enfim, a imersão na história é tanta (a agonia de ver o Harry afundando até o pescoço no rolo que ele mesmo criou), que a gente até releva as diversas cenas em que é possível ver a sombra das câmeras e do pessoal dos bastidores.
Um baita clássico noir.
Amar Foi Minha Ruína
4.1 122 Assista AgoraFilme um pouco lento, mas ainda assim competente.
Então, sim, hoje em dia talvez dê no espectador a sensação de filme antigo: a história demora a progredir enquanto tropeça num enredo bobinho do tipo 'homem conhece mulher e se apaixonam perdidamente'. Porém, quando finalmente o enredo deixa claro que há algo errado ali (que é afinal o conflito central da trama) aí o filme deslancha é um barato acompanhar os desdobramentos.
O destaque fica pela Gene Tierney e sua Ellen. Não só a atriz representou bem seu papel (sem exageros e rompantes novelescos), mas, sobretudo, o personagem mesmo é sensacional: sua vilania não é de alguém mau, perverso, ruim, que optou ser o que é, mas sim de alguém profundamente perturbado (aliás, muito bem construída a progressiva 'perturbação' de Ellen, dando na gente a sensação de evolução e perda de controle de sua neurose). Aí que ao final a gente nem consegue ficar com verdadeira raiva da moça porque, afinal, aquilo tudo meio que não era culpa dela.
Já a Ruth... que doçura! Impossível
não ficar satisfeito em vê-la se dar bem depois de tanto perrengue
Vale assistir, mesmo que de início a coisa demore um pouco para engrenar.
Pacto Sinistro
4.1 293 Assista AgoraA premissa da 'troca de assassinatos' é do tipo que te ganha na mais curta das sinopses, e, grata surpresa, é uma promessa feita e entregue pelo filme: ou seja, o enredo é tão bom quanto parece.
E grande mérito desse enredo é que ele se sustenta para além do absurdo da situação. Então mesmo que logo a estrutura do suspense já esteja armada, talvez até um pouco precocemente dentro da duração do filme, a agonia do protagonista sofrendo com a 'chantagem' ainda é bem eficaz em manter nosso interesse na trama.
Bacana também reparar nuns lances 'ousados' da filmagem, como nas cenas feitas em tomadas um pouco tortas, nas ótimas cenas em que Bruno, de longe, fica secando o mocinho desesperado (a cena da partida de tênis... que cena!), e na cena do carrossel, que tem uns ares (intencionais ou não) quase psicodélicos com a mistura de elementos simbólicos contrastantes.
Contudo, creio que o filme pecou um pouco na construção do Bruno. Fica um tanto confusa a motivação dele. Meio que é um lance psicológico contra o pai, meio que um lance interesseiro, meio que um lance aventureiro do tipo 'até onde a gente consegue ir?', e meio que um lance de loucura mesmo. No meu gosto e leitura (possivelmente limitada, claro), senti que faltou uma conexão ou progressão entre estas motivações, ou mesmo o foco em somente uma delas. O resultado foi um 'vilão' tendendo ao teatral, perdendo o peso de realismo.
Ah, e minha meta de vida é ter a presença de espírito do garotinho no carrossel. É tiro, é grito, é porrada, é o treco andando a mil por hora, e ele lá rindo e curtindo o rolê.
Filme antigo mas bom, mesmo que não seja o melhor do tio Alfred.
Pacto de Sangue
4.3 247 Assista AgoraFilmes antigos às vezes pecam, diante do olhar 'moderno', pelo peso e artificialismo com que eram construídos; então nada mais estimulante do que assistir a 'Pacto de Sangue' e testemunhar um belo exemplar de filme antigo que envelheceu com leveza e mantendo a naturalidade.
A começar por sua estrutura em flashback, absolutamente eficiente. Isto é, não apenas serve de anzol para o espectador (a abertura misteriosa indicando que algo atípico e fascinante ocorreu com o protagonista), mas se encaixa na própria trama enquanto elemento do enredo (o impacto do final certamente seria menor não fosse o uso do flashback como motor narrativo).
Aí temos os personagens, que estão quase que divinamente bem colocados. O destaque fica por conta do gosto do freguês, mas deve ser impossível não mencionar a sinistramente sedutora Phyllis; ela consegue representar categoricamente o que é uma femme fatale, porém sem cair e maquiavelismos exagerados. Ah, e que desdobramento essa personagem vai tendo conforme a trama progride!
E, claro, o próprio visual, a construção das cenas, as luzes e sombras, as tomadas, até mesmo o posicionamento dos atores... tudo encaixadinho e coerente com o que se queria dizer / transmitir.
O final talvez, apenas talvez, seja um pouco over demais com isso de
'estou aqui narrando minha história enquanto sangro até morrer '
desabafo algo desencantado do Keyes diante da descoberta de que seu amigo e pupilo estava por trás daquilo tudo
Enfim, uma daquelas peças do cinema que valem ser assistidas por todo fã de um bom filme.
O Ilusionista
3.8 1,4K Assista AgoraApesar de ser um entretenimento passável, perde-se na frouxidão com que os elementos do enredo são construídos.
Aí que temos um protagonista movido por uma paixão sem sustentação (as poucas cenas da infância do casal não servem para comprarmos a intensidade do sentimento ou aceitarmos esse sentimento como justificativa para tudo o que rola depois).
A vilania do vilão é bacana por ter um pano de fundo político e até mesmo mais psicológico, mas também vacila ao ser jogada de sopetão dentro do enredo - a sensação é de que é um cara mau porque é mau, e não porque tem uma motivação.
E a mocinha... bem, só está lá para fazer caras e bocas de surpresa e arrebatamento.
O que acaba salvando o filme de ser perdidão é o personagem do inspetor, esse sim conseguindo servir de guia para a única faceta do filme que se sustenta: a de mistério/investigação estilo filme policial.
Ainda assim, o desenlace - quando o mistério se resolve - está longe de ser propriamente original ou surpreendente, dando a sensação de que o filme poderia ter ganho maior consistência se tivesse investido mais em aprofundar as coisas do que na tentativa de construir um plot twist.
Vale como digestivo mental, não muito mais do que isso.
Um Beijo Antes de Morrer
3.1 62Considerando ser uma adaptação de livro, o julgamento mais gentil que pode ser feito é de que a história é boa, mas a migração para o cinema nem tanto.
Aí que o enredo é bacaninha. Isto é, superado o início atropelado (saltos temporais excessivos e aquele assassinato meio que do nada), a gente até que embarca nessa história de ambição e manipulação.
O problema é que o vilão é raso, então não rola criar antipatia ou simpatia profundas - e o pior que tinha pano pra manga, já que a motivação dele tem um fundo social que poderia revesti-lo de 'vítima' do sistema e etc.
A mocinha é de uma inocência menos do tipo 'coitada, não sabe com quem tá lidando' e mais do tipo 'meu, guria, acorda pra vida!', o que também não favorece que fiquemos com medo quanto ao desfecho dela dentro da trama.
Enfim... os elementos para uma boa narrativa estavam lá, mas a armação deles ficou bem ruim.
Não perde nada quem deixa de assistir.
Bar Doce Lar
3.5 132 Assista AgoraLapsos de comédia tentando embalar dramas profundos, mas o resultado acaba sendo tudo muito leve e passável - outro caso de comédia dramática que não consegue entregar nem uma coisa nem outra.
Aí que, de cara, o enredo é sim atrativo. Jornadas de amadurecimento sempre cativam, ainda mais se apresentadas de um jeito indie, com toque retrô, e sustentadas num simpaticíssimo tio-sabe-tudo corporificado pelo bonachão Ben Affleck.
O problema começa quando o enredo tenta aprofundar as coisas e fazer valer sua veia dramática. Tem questão familiar, tem questão de saúde mental, tem romance, tem crise existencial, tem crise profissional, tem problemas com vício... E o filme tem nem 2 horas.
Tudo vai sendo mastigado com pressa e cuspido de volta pro espectador, que tem que se contentar com fragmentos - e com uma linha temporal espaçada e um pouco confusa.
E a comédia? Bem, sutil, quase sumindo.
Resultado é um filme que atira muito, mas acerta pouco. Tivesse assumido escancaradamente um ar mais de aventura e menos de comédia dramática, talvez tivesse tido mais sucesso.
De positivo, fica ali um resquício emocional por todo o rolê do filme, com isso de um protagonista em aprendizado indo de lá para cá. Mas poderia ter sido muito mais.
Vale assistir? Até vale. Mas não que seja aquele Sr. Filme Memorável.
Um Lugar Silencioso
4.0 3,0K Assista AgoraFicção científica simples, puxada para o suspense, e bastante competente.
Já de início sacamos o drama dos personagens e todo o contexto da história (se não todo, pelo menos o que dele importa). E apesar de ser uma situação absurda (daí a ficção científica), é ao mesmo tempo super agoniante, o que torna irresistível assistir para ver no que vai dar - sensação que nos acompanha mesmo quando o enredo entrega algumas coisinhas forçadas.
Já o desenrolar é rápido e enxuto, preciso também, sem excessos. Toda cena acumula algo em direção ao clímax, e tudo que é mostrado responde a alguma pergunta do roteiro. Então fica difícil dizer que o filme é chato ou que em algum momento enche linguiça.
O problema, talvez, seja justamente essa precisão toda. Parece que o filme se focou tanto em ser redondinho, que não quis ousar mais na história, que saiu super simples e basicona - um possível desalento à galera que curte reviravoltas alucinantes, complexidades teóricas e lacunas que dão pano a muitas teorias.
Outro possível desalento é a venda do filme como terror, o que não é - pelo menos não no sentido comum. Tem lá uns sustinhos (nada over) e um pouco de gore, mas o tchan da coisa é mesmo um suspense do tipo não-vejo-o-bicho-mas-sei-que-ele-tá-por-aqui.
Enfim, uma misturinha modesta de ficção científica e suspense, mas que entrega o que promete: uma história criativa capaz de te entreter por 90 minutos.
Buscando...
4.0 1,3K Assista Agoraformato chama a atenção e a trama nos prende, e tem até o bônus de algumas discussões interessantes de fundo, mas escorrega um pouco no desfecho.
Então, sim, de início, a gente fica intrigado por uma história contada somente pelo que é exibido na tela do computador/celular. Rola um certo estranhamento, e em alguns trechos uma certa sobrecarga de informações / poluição visual (pelo menos para quem assistir com legenda), mas no geral o efeito desse formato é positivo.
Conforme a trama progride, nossa atenção continua sendo alimentada e recompensada. Nada muito além de um episódio de CSI, mas o gênero, mesmo batido, continua eficiente, então o filme não é nada chato.
E nisso algumas discussões legais surgem. Bullying, as aparências que mantemos nas mídias sociais, a facilidade com que falsas impressões são cultivadas, o sensacionalismo midiático, o oportunismo dos influencers, e, forçando um pouco a barra, os danos colaterais da tecnologia na relação pais x filhos.
Porém tudo isso é pincelado, pouco aprofundado, tá lá só mesmo para engrossar o caldo do corre-corre investigativo.
Já o desfecho estraga um pouco a experiência. O formato da contação de história deixa de fazer sentido e a saída encontrada pelo roteiro é forçar a barra e criar um momento bem falso em que tudo é explicado nos mínimos detalhes.
Ainda assim, vale assistir, pelo menos pela originalidade do formato.
Corrente do Mal
3.2 1,8K Assista AgoraFilme de terror com poucos jumpscares, um bom tanto de tensão, e uma pitada acertada de metáfora/simbolismo (ou até mesmo filosofia...) para os mais entusiasmados como enredo.
De cara, o que chama a atenção o jeito de filme de terror dos anos 80 e 90, o que é um deleite para a galera que já trintou. Alguns recursos de câmera e som favorecem pacas essa atmosfera nostálgica, mas, além da nostalgia, conferem também a tensão da trama.
E que tensão! O lance é menos pular no sofá de susto e mais ficar roendo as unhas - a cena do hospital achei particularmente genial em termos de suspense. E aí entra um outro recurso bacana, que de início a gente pensa 'será que é intencional?', mas que depois a gente percebe que é sim, que são as 'figuras' suspeitas nas cenas, deixando para o espectador a avaliação se seriam meros figurantes ou seria a 'Coisa' continuando a perseguição.
E apesar do enredo ser algo nonsense, até mesmo bobo em sua proposta e didatismo (com direito a cena explicando a premissa), ele acaba convencendo. E isso porque o filme constrói toda uma atmosfera que não é totalmente realista, e sim mensageira, como se quisesse trazer uma 'moral da história'. Não, o filme não é 'cabeça', mas é feito de modo que permite achar algumas metáforas e simbolismos ali, ou até mesmo uma discussão filosófica (talvez, sobretudo, da moral da tal 'corrente' do mal e do que precisamos fazer para tirar o nosso da reta).
E nesse quesito é bastante interessante reparar na presença (ou na não-presença, né) de adultos. Aparecem quase como os adultos de Snoopy, sem rostos ou falas, dando a entender que todo o rolê ali tem a ver com a juventude e seus percalços, e até mesmo com a sua solidão diante desses percalços.
Para não dizer que o filme é ótimo, fica aqui a menção desonrosa à cena que tenta fazer uma piada (aquela da
garota com fone de ouvido passando
Tirando isso, vale a assistir, mesmo se você, assim como eu, não for fã do gênero terror.
Ataque dos Cães
3.7 933Um daqueles filmes que deixam evidente que muito mais importante do que a história a ser contada é o modo como você conta a história.
Isso porque o filme tinha tudo para ser só mais um daqueles filminhos para prender atenção. Sabe, do tipo que puxa para o policial, tempera com suspense, e deixa um grande mistério a ser revelado na última cena.
Mas aqui temos a direção (e muito ajudada pela trilha sonora) construindo um drama temperado com quase-terror psicológico pra lá de tenso - não tem jump scare, mas a gente fica naquela sensação de que pode vir a qualquer momento.
E quanto às acusações de ser lento ou parado, bem, é parte de um todo. O enredo é cheio de lacunas, sugestões, elipses (para usar um termo chique), e portanto as cenas transitam como que aos saltos, mas sempre saltos intencionais - leia-se, a intenção de deixar o espectador sacar e sentir o que está rolando. Não dá para culpar quem acha o filme chato, mas não, não é chato.
Bacana também são os personagens. São todos apresentados inicialmente quase num clichê, mas então revelados, conforme a trama progride, em suas contradições. Ao final, a gente fica até confuso sobre mocinhos e vilões, certos e errados, virtuosos e corrompidos.
Por fim, é preciso comentar também esse lance da galera apressadamente rotular o filme como 'gay'. É um rótulo que distorce o filme, como se se tratasse de uma mensagem/bandeira para/sobre o movimento gay. Pelo jeito ainda vai tempo até a homossexualidade, quando tangenciada num filme, ser tratada apenas como mais um elemento, e não como o definidor absoluto da narrativa (aliás, cumpre ressaltar aqui a discussão sobre masculinidades que rola de modo sutil e natural, bem longe de uma presunção acadêmica tentando ser intelectual).
No mais, é um filme para assistir quando se está disposto a passar por duas horas de uma carga pesada de tensão.