Poderia-se dizer que se trata de uma versão tcheca, separada apenas por três anos, d'A Infância de Ivan. Afinal, são muitos elementos em comum: o perspicaz garoto protagonista, a figura da mãe como principal laço afetivo (sempre presente nas memórias - aliás, este outro ponto em comum: o rememorar entre desejo, sonho e lembrança) e a guerra vista pelos olhos de uma criança. Temos também a diferença de tom que, ao marcar um contraste na oposição de atitudes, também aproxima as duas obras: Tarkovski opta por uma abordagem mais soturna, enquanto Kachyna permite alguma descontração; ambos, no entanto, convergem na questão de trauma. Mesmo a própria lógica das "brincadeiras" presentes em Republika segue um padrão de violência e embrutecimento, desde as atitudes infantis até o incidente do pastor alemão que puxa a saia, por exemplo. A guerra está presente nos pormenores.
Apesar da comparação, reduzir At' žije Republika à sua provável inspiração tarkovskiana seria tirar todo o mérito do filme. Kachyna cria o seu próprio "arquétipo" infantil, baseado em sua própria percepção, e nos traz o envolvente Olda. O trabalho de montagem não apenas fragmenta o tempo do filme numa lógica não-linear, mas também insere elementos que não estão situados em nenhuma cronologia, porém são retratos dos desejos/temores do protagonista na forma de sonho ou alegoria. A fronteira não é explícita, mas o rico mosaico que nos é apresentado cria uma coesão bastante agradável tanto aos olhos, quanto à narrativa.
Enfim, sem se alongar mais: bom trabalho de montagem e direção. Vale assistir.
Infelizmente, a fotografia belíssima e a boa condução não conseguem sustentar uma história rasa pela qual passamos quase indiferentes. Não fosse certo deleite estético e musical, eu teria desistido do filme logo no começo. O clima excessivamente "indie movie" - com a tradicional love story boba, inclusive - também incomoda. Acho que a protagonista se desenvolveria melhor sem o Arash como acessório, exceto se ele também fosse muito melhor desenvolvido: aí, talvez, o par romântico funcionasse.
Amirpour precisa (muito!) de bons roteiristas. O resto ela já tem.
Gosto da despretensiosidade desse filme, assim como da sua estética encantadora (o fato de ser ambientado majoritariamente num lugar ermo, rural, decrépito - e, ainda assim, bonito). Záhrada é envolto por um clima onírico que não permite muitas explicações: impera a atmosfera do realismo fantástico.
O filme também traz personagens-peregrinos que vão e vem ilogicamente, mas que parecem ter como função aguçar as reflexões do protagonista, sempre com discursos-quase monólogos que chamam a atenção do espectador; ou, se pensarmos de uma forma ainda mais livre, são frutos da sua própria consciência nos momentos em que está sozinho. Gosto, ainda, como eventos surreais ou mágicos não-explicados. Apesar de algumas diferenças estilísticas, não-uso do stop motion e mesmo não sendo sombrio, me lembrou um pouco as obras do Svankmajer por motivos que sequer sei discernir.
Resta agora ver os outros filmes do diretor, já que a curiosidade foi definitivamente atiçada.
Gosto de como o Satie se encaixa e traduz o sentimento do personagem. Nesse ponto, trata-se de uma escolha muito acertada de trilha sonora, que trouxe uma melancolia própria à história que se pretende contar. Obra bonita na fotografia, nos detalhes no quarto de Leroy, no olhar vago do ator e numa angústia que se faz tanta ao acometer também o espectador. Não dou nota máxima por ter ficado só um pouco enfadonho próximo do final, embora o encerramento seja pertinente.
Decepção. Bela fotografia e bom potencial de temas a serem abordados, mas perde a chance de mergulhar mais profundamente nas questões. O Sétimo Selo se torna quase superficial ao invés de arrebatador (como o próprio Bergman, aliás, fez no ótimo Persona). Acho que a certa "comicidade" (involuntária?) não combina com as questões levantadas pelo protagonista e suas agruras "existenciais" que poderiam ter sido o foco do filme.
Esperava mais profundidade, um tom mais sombrio e menos caricatura. Falta densidade. No mais, gostei da cena do "cortejo macabro" durante a apresentação de teatro.
Insuportavelmente longo, tedioso e arrastado. Demorei dias para conseguir vê-lo de tanto que me faltava a paciência para aguentar tanta afetação e pobreza numa história.
Tem seus méritos apenas pela dificuldade de filmar na ilha e por alguns acertos na fotografia. No mais, me impressionei em relação sobre como conseguiu ser tão ruim.
Infelizmente, nem o jazz ou o tímido e isolado "prenúncio de nouvelle vague" salvam este filme da decepção que ele é; tanto que me falta vontade de discorrer sobre ele.
Mesmo a suposta inovação dos temas abordados (racismo, delinquência e autonomia feminina) é perdida: tudo é superficial e até mesmo a independência da mulher ainda é condicionada pelos homens da família que resolvem seus problemas. O clima inverossímil de afetação e as atuações péssimas, aliados à construção de personagens meramente irritantes... tudo isso só contribui para não trazer empatia alguma ao filme. Falta sutileza e verdade - mesmo se tratando de uma ficção.
Também tive agonia das citações pedantes, como a cena em que falam do Sartre. Me senti num indie movie retrô, que coleciona referências para ser "cult" e travestir-se de "genialidade".
Interessante pela estranheza, enredo atípico, boas atuações e pela distorção bonita das imagens. Gostei também das reflexões sobre a morte e do sentimento geral presente no enredo.
Peca um pouco por ser excessivamente contemplativo, tornando-se sonífero em alguns momentos, com cenas que são quase fotografias de tão estáticas. O problema não é exatamente a falta de diálogos (já que Béla Tarr é tão contemplativo quanto, mas apresenta algum movimento), mas a falta de ação - é um filme parado, no sentido literal da palavra. Também houve cerca pela perda da oportunidade de abordar as questões com maior profundidade.
No mais, uma boa película. Pretendo ver novamente, com mais paciência e familiaridade com o estilo sokuroviano.
Um deleite estético muito bem pensado e dirigido. Gosto muito de como a estrutura do filme remete ao movimento da própria memória, com seus retornos, idas-vindas e até mesmo as imprecisões.
O único defeito é a chatice da personagem principal (laissez moi! laissez moi!), que por vezes tira um pouco a paciência do espectador.
Tem alguns momentos isolados de boa fotografia e uso da câmera, mas estes são quase ínfimos em toda a duração do filme. As atuações fracas (com exceção da atriz principal) e o roteiro superficial dão a sensação de uma obra que é artificial demais, que não consegue transmitir a ilusão de verossimilhança necessária ao cinema.
Melodrama novelesco imensamente arrastado, mas ainda assim, superficial e repetitivo. Tão esquecível que nem vale a pena gastar muitas palavras com ele.
Dois pontos positivos: polonês e alguns (bem) raros momentos de boa fotografia.
Complicado amar Boy Meets Girl e... odiar Mauvais Sang. Preciso ver mais um do Carax pra decidir finalmente se gosto dele ou não.
Mauvais Sang é terrivelmente entediante e perde a oportunidade de desenvolver um enredo que tinha ótimas chances de originar um filme incrível. Movida pelo meu encantamento pelo primeiro filme do diretor, acreditei que fosse me deparar com mais um filme maravilhoso. Ao contrário do que esperava, nem os próprios diálogos ou o silêncio fluem aqui. Tanto Alex quanto Anna, personagens principais, não conseguem causar empatia; opostamente, me davam agonia: um pela prepotência, outra pela fraqueza. (Aliás, é incrível ver o mal aproveitamento da Binoche aqui, que se torna um fantoche apático. Estava acostumada a ver interpretações bem melhores dela e foi um choque).
Nem mesmo a estética salva o filme, visto que são raros os momentos de apreciação. Acho que só posso destacar duas cenas: o diálogo com o amigo (quase no final) e a famosa corrida ao som de "Modern Love", que foi replicada em Frances Ha. O resto é esquecível ou ruim.
Nem poético, nem boa ficção científica. Um filme que se perde no limbo.
Filme interessantíssimo, daqueles que merecem ser vistos mais de uma vez.
A primeira parte é a minha preferida: fotografia linda, cenas inusitadas, e uma série mais vasta de simbolismos. Gosto da crueldade e da frieza de algumas cenas, assim como das cores vivas que as permeiam. Um ponto que não me agrada muito foi a representação da mulher, já mencionada em algum comentário abaixo, mas foi um fato que consegui relevar no decorrer do filme. Em suma, achei bastante agradável observar El Topo pelo deserto - e gostaria que o longa tivesse seguido um raciocínio semelhante na sua outra hora de duração, sinceramente.
A partir da segunda metade do filme temos uma narrativa mais linear e comum, de certa forma, o que tira um pouco do encantamento do início. Esteticamente, não é mais um filme tão bonito. Particularmente, eu preferiria um final
mais anárquico, sem redenções, mas gostei da referência ao Thích Quảng Ðức - que cometeu suicídio ao queimar o próprio corpo, sete anos antes, e virou um símbolo de revolução. Não sou contra a redenção de El Topo, mas me soa conservador demais, de certa forma. Opinião pessoal, claro.
Enfim, também ainda não sei dizer se Jodorowsky é ateísta e religioso. Mas, sem dúvida, irei querer ver as outras obras dele.
Uma idéia que poderia render uma boa história, mas que foi pessimamente executada. Alguns momentos são tão vergonhosos que beiram o ridículo e a única coisa que tive a fazer foi rir, já que não dava mais pra ter o meu dinheiro de volta.
Fazia bastante tempo que eu não via um filme tão.. ruim.
Perde um pouco da poesia e do encantamento um pouco depois da metade - quando se torna mais político - mas ainda assim, é um bom filme e mantém certa fluidez. Gosto especialmente da narrativa em primeira pessoa e das referências literárias/artísticas em geral.
Engraçado o personagem de Bruno citar que não gosta de Albert Camus quando ele mesmo lembra tanto o Mersault e o "absurdismo".
Me surpreendi. O filme cumpre o seu objetivo, apresentando três histórias bem amarradas, transitando entre cada uma de maneira dosada. Direção segura, com o nível certo de tensão, inclusive em seus picos. Os últimos minutos são realmente intensos, quase sufocantes, repletos de uma angústia que termina por envolver completamente o espectador. Interessante a força das narrativas colapsantes!
Não costumo assistir ação/suspense/thriller, mas este é realmente um bom - e atual, devido à temática tecnológica - representante do gênero. E achei especialmente bonita a sequência
Maravilhoso! De encher os olhos de lágrimas pela beleza de cenas que constituem uma verdadeira obra de arte audiovisual, numa experiência contemplativa belíssima. Meu primeiro Paradjanov, e fiquei encantada pelo movimento e posição da câmera [muitas vezes por trás de galhos ou em ângulos inusitados; outras, numa dança alucinada que chega a entontecer]; pelas cores; e pela trilha sonora belíssima que mescla canções folclóricas com composições orquestradas. Arte pura.
Me incomoda um pouco essa abordagem lugar-comum de adolescentes, com os mesmos clichês, certa forçação de barra e tantas outras previsibilidades. É óbvio que existem características e conflitos comuns a esta fase da vida - eu mesma passei por alguns, claro - mas acredito que a abordagem não foi a mais feliz. Para mim, soou "padrão" demais (mesmo com componentes mais incomuns), superficial demais, "filme teen/novela" demais. E talvez eu tenha ficado velha demais pra aguentar isso, no alto dos meus quase vinte anos. Sem deixar de lembrar que é possível fazer bons filmes sobre histórias adolescentes.
Trilha sonora bonita, algumas cenas bem realizadas (geralmente, passagens sem diálogo), temática interessante, mas... é isso. Faltou maturidade, mesmo se tratando de um filme sobre uma idade não muito famosa por essa característica.
Mas meu coração amoleceu um pouco com a cena final (assim como outras sequências, como a que toca Cícero) e eu acabei o filme esquecida da minha parte ranzinza.
Acho que a "química" entre os atores é o que consegue, apesar de algumas falhas, segurar o filme. Nesse ponto, não tenho ressalvas: Daniel Auteuil e Vanessa Paradis se entrelaçaram incrivelmente, formando uma dupla que realmente convence. Gostei também das diferenças entre as personalidades dos personagens; acredito que houve um equilíbrio interessante, bem visível nos diálogos [que possuem alguns momentos memoráveis].
Entretanto, no mais, os bons momentos de "Le fille sur le pont" não são muito constantes. Existem alguns exageros e também falta de tato na condução (e construção!) do enredo.
Em suma, é um filme gostoso de assistir, que flui de forma leve na maioria das vezes. Mas permanece no patamar mediano: o tom excessivamente melodramático e afetado em algumas sequências, prejudicou o andamento da película. O desfecho, ao meu ver, beira o novelesco: não que isso seja de todo ruim (às vezes, como em "Boy Meets Girl", faz sentido), mas não funcionou neste contexto.
Filme de uma despretensiosidade muito agradável. Gosto da sutileza, não apenas dos próprios conflitos internos e externos do personagem, mas também da própria condução da câmera e da construção da fotografia. Cenas bonitas em sua simplicidade, aguçada pelo uso do preto e branco. Sutil também é o jazz, que permeia grande parte das cenas.
Difícil não comparar com Frances Ha pela proximidade de lançamento, temática e p/b. Entretanto, Niko e Frances tem diferenças acentuadas na própria forma de encararem sua ausência de rumo; o que não muda o fato de serem personagens catárticos e atraentes - cada um, à sua maneira. E eu, ainda longe dos trinta, me sinto um pouco de ambos.
É mais do que adaptação, mas sim uma quase-transposição cinematográfica.
Entretanto, temos aqui o mesmo problema que ocorreu com Noites Brancas, de Visconti, também originalmente um livro e com o protagonista igualmente interpretado por Mastroianni. Há, nessa tradução livro-filme, mais do que a perda natural que ocorre, mas sim certa mudança da essência dos personagens. Se, no primeiro, o Sonhador dostoievskiano transforma-se num sujeito um tanto galante, aqui temos o Mersault camusiano muito menos apático e beirando ao coitadismo/bom-mocismo em certas sequências. Acredito que esses desvios à margem da real essência do personagem não se tratem de algo proposital, mas sim de certa incapacidade do diretor ou ator (quiçá, ambos) de desvincular-se dos seus próprios traços de personalidade. Uma pena que tenha sido recorrente em duas adaptações de ótimos livros.
Em suma, é um bom filme... mas foi inevitável sentir falta do Mersault tipicamente blasé que encontrei ao ler a obra de Camus. Por vezes, me questionei se tratava-se do mesmo personagem.
Viva a República
4.1 3Poderia-se dizer que se trata de uma versão tcheca, separada apenas por três anos, d'A Infância de Ivan. Afinal, são muitos elementos em comum: o perspicaz garoto protagonista, a figura da mãe como principal laço afetivo (sempre presente nas memórias - aliás, este outro ponto em comum: o rememorar entre desejo, sonho e lembrança) e a guerra vista pelos olhos de uma criança. Temos também a diferença de tom que, ao marcar um contraste na oposição de atitudes, também aproxima as duas obras: Tarkovski opta por uma abordagem mais soturna, enquanto Kachyna permite alguma descontração; ambos, no entanto, convergem na questão de trauma. Mesmo a própria lógica das "brincadeiras" presentes em Republika segue um padrão de violência e embrutecimento, desde as atitudes infantis até o incidente do pastor alemão que puxa a saia, por exemplo. A guerra está presente nos pormenores.
Apesar da comparação, reduzir At' žije Republika à sua provável inspiração tarkovskiana seria tirar todo o mérito do filme. Kachyna cria o seu próprio "arquétipo" infantil, baseado em sua própria percepção, e nos traz o envolvente Olda. O trabalho de montagem não apenas fragmenta o tempo do filme numa lógica não-linear, mas também insere elementos que não estão situados em nenhuma cronologia, porém são retratos dos desejos/temores do protagonista na forma de sonho ou alegoria. A fronteira não é explícita, mas o rico mosaico que nos é apresentado cria uma coesão bastante agradável tanto aos olhos, quanto à narrativa.
Enfim, sem se alongar mais: bom trabalho de montagem e direção. Vale assistir.
Garota Sombria Caminha Pela Noite
3.7 343 Assista AgoraInfelizmente, a fotografia belíssima e a boa condução não conseguem sustentar uma história rasa pela qual passamos quase indiferentes. Não fosse certo deleite estético e musical, eu teria desistido do filme logo no começo. O clima excessivamente "indie movie" - com a tradicional love story boba, inclusive - também incomoda. Acho que a protagonista se desenvolveria melhor sem o Arash como acessório, exceto se ele também fosse muito melhor desenvolvido: aí, talvez, o par romântico funcionasse.
Amirpour precisa (muito!) de bons roteiristas. O resto ela já tem.
O Jardim
4.2 28Gosto da despretensiosidade desse filme, assim como da sua estética encantadora (o fato de ser ambientado majoritariamente num lugar ermo, rural, decrépito - e, ainda assim, bonito). Záhrada é envolto por um clima onírico que não permite muitas explicações: impera a atmosfera do realismo fantástico.
O filme também traz personagens-peregrinos que vão e vem ilogicamente, mas que parecem ter como função aguçar as reflexões do protagonista, sempre com discursos-quase monólogos que chamam a atenção do espectador; ou, se pensarmos de uma forma ainda mais livre, são frutos da sua própria consciência nos momentos em que está sozinho. Gosto, ainda, como eventos surreais ou mágicos não-explicados. Apesar de algumas diferenças estilísticas, não-uso do stop motion e mesmo não sendo sombrio, me lembrou um pouco as obras do Svankmajer por motivos que sequer sei discernir.
Resta agora ver os outros filmes do diretor, já que a curiosidade foi definitivamente atiçada.
O Serviço de Entregas da Kiki
4.3 774 Assista AgoraO amor por esse filme transborda pelos olhos.
Trinta Anos Esta Noite
4.3 142Gosto de como o Satie se encaixa e traduz o sentimento do personagem. Nesse ponto, trata-se de uma escolha muito acertada de trilha sonora, que trouxe uma melancolia própria à história que se pretende contar. Obra bonita na fotografia, nos detalhes no quarto de Leroy, no olhar vago do ator e numa angústia que se faz tanta ao acometer também o espectador. Não dou nota máxima por ter ficado só um pouco enfadonho próximo do final, embora o encerramento seja pertinente.
O Sétimo Selo
4.4 1,0KDecepção. Bela fotografia e bom potencial de temas a serem abordados, mas perde a chance de mergulhar mais profundamente nas questões. O Sétimo Selo se torna quase superficial ao invés de arrebatador (como o próprio Bergman, aliás, fez no ótimo Persona). Acho que a certa "comicidade" (involuntária?) não combina com as questões levantadas pelo protagonista e suas agruras "existenciais" que poderiam ter sido o foco do filme.
Esperava mais profundidade, um tom mais sombrio e menos caricatura. Falta densidade. No mais, gostei da cena do "cortejo macabro" durante a apresentação de teatro.
A Aventura
4.1 112 Assista AgoraInsuportavelmente longo, tedioso e arrastado. Demorei dias para conseguir vê-lo de tanto que me faltava a paciência para aguentar tanta afetação e pobreza numa história.
Tem seus méritos apenas pela dificuldade de filmar na ilha e por alguns acertos na fotografia. No mais, me impressionei em relação sobre como conseguiu ser tão ruim.
Sombras
3.8 50Infelizmente, nem o jazz ou o tímido e isolado "prenúncio de nouvelle vague" salvam este filme da decepção que ele é; tanto que me falta vontade de discorrer sobre ele.
Mesmo a suposta inovação dos temas abordados (racismo, delinquência e autonomia feminina) é perdida: tudo é superficial e até mesmo a independência da mulher ainda é condicionada pelos homens da família que resolvem seus problemas. O clima inverossímil de afetação e as atuações péssimas, aliados à construção de personagens meramente irritantes... tudo isso só contribui para não trazer empatia alguma ao filme. Falta sutileza e verdade - mesmo se tratando de uma ficção.
Também tive agonia das citações pedantes, como a cena em que falam do Sartre. Me senti num indie movie retrô, que coleciona referências para ser "cult" e travestir-se de "genialidade".
A Pedra
3.9 6Interessante pela estranheza, enredo atípico, boas atuações e pela distorção bonita das imagens. Gostei também das reflexões sobre a morte e do sentimento geral presente no enredo.
Peca um pouco por ser excessivamente contemplativo, tornando-se sonífero em alguns momentos, com cenas que são quase fotografias de tão estáticas. O problema não é exatamente a falta de diálogos (já que Béla Tarr é tão contemplativo quanto, mas apresenta algum movimento), mas a falta de ação - é um filme parado, no sentido literal da palavra. Também houve cerca pela perda da oportunidade de abordar as questões com maior profundidade.
No mais, uma boa película. Pretendo ver novamente, com mais paciência e familiaridade com o estilo sokuroviano.
O Ano Passado em Marienbad
4.2 156 Assista AgoraUm deleite estético muito bem pensado e dirigido. Gosto muito de como a estrutura do filme remete ao movimento da própria memória, com seus retornos, idas-vindas e até mesmo as imprecisões.
O único defeito é a chatice da personagem principal (laissez moi! laissez moi!), que por vezes tira um pouco a paciência do espectador.
No mais, é uma obra ímpar.
A Ascensão
4.3 61Uma das fotografias mais bonitas que já vi, sem dúvida. Incrível.
Quando Voam as Cegonhas
4.3 72Tem alguns momentos isolados de boa fotografia e uso da câmera, mas estes são quase ínfimos em toda a duração do filme. As atuações fracas (com exceção da atriz principal) e o roteiro superficial dão a sensação de uma obra que é artificial demais, que não consegue transmitir a ilusão de verossimilhança necessária ao cinema.
Era Uma Vez em Nova York
3.5 296 Assista AgoraMelodrama novelesco imensamente arrastado, mas ainda assim, superficial e repetitivo. Tão esquecível que nem vale a pena gastar muitas palavras com ele.
Dois pontos positivos: polonês e alguns (bem) raros momentos de boa fotografia.
Sangue Ruim
4.0 83 Assista AgoraComplicado amar Boy Meets Girl e... odiar Mauvais Sang. Preciso ver mais um do Carax pra decidir finalmente se gosto dele ou não.
Mauvais Sang é terrivelmente entediante e perde a oportunidade de desenvolver um enredo que tinha ótimas chances de originar um filme incrível. Movida pelo meu encantamento pelo primeiro filme do diretor, acreditei que fosse me deparar com mais um filme maravilhoso. Ao contrário do que esperava, nem os próprios diálogos ou o silêncio fluem aqui. Tanto Alex quanto Anna, personagens principais, não conseguem causar empatia; opostamente, me davam agonia: um pela prepotência, outra pela fraqueza. (Aliás, é incrível ver o mal aproveitamento da Binoche aqui, que se torna um fantoche apático. Estava acostumada a ver interpretações bem melhores dela e foi um choque).
Nem mesmo a estética salva o filme, visto que são raros os momentos de apreciação. Acho que só posso destacar duas cenas: o diálogo com o amigo (quase no final) e a famosa corrida ao som de "Modern Love", que foi replicada em Frances Ha. O resto é esquecível ou ruim.
Nem poético, nem boa ficção científica. Um filme que se perde no limbo.
El Topo
4.0 219Filme interessantíssimo, daqueles que merecem ser vistos mais de uma vez.
A primeira parte é a minha preferida: fotografia linda, cenas inusitadas, e uma série mais vasta de simbolismos. Gosto da crueldade e da frieza de algumas cenas, assim como das cores vivas que as permeiam. Um ponto que não me agrada muito foi a representação da mulher, já mencionada em algum comentário abaixo, mas foi um fato que consegui relevar no decorrer do filme. Em suma, achei bastante agradável observar El Topo pelo deserto - e gostaria que o longa tivesse seguido um raciocínio semelhante na sua outra hora de duração, sinceramente.
A partir da segunda metade do filme temos uma narrativa mais linear e comum, de certa forma, o que tira um pouco do encantamento do início. Esteticamente, não é mais um filme tão bonito. Particularmente, eu preferiria um final
mais anárquico, sem redenções, mas gostei da referência ao Thích Quảng Ðức - que cometeu suicídio ao queimar o próprio corpo, sete anos antes, e virou um símbolo de revolução. Não sou contra a redenção de El Topo, mas me soa conservador demais, de certa forma. Opinião pessoal, claro.
Enfim, também ainda não sei dizer se Jodorowsky é ateísta e religioso. Mas, sem dúvida, irei querer ver as outras obras dele.
Transcendence: A Revolução
3.2 1,1K Assista AgoraUma idéia que poderia render uma boa história, mas que foi pessimamente executada. Alguns momentos são tão vergonhosos que beiram o ridículo e a única coisa que tive a fazer foi rir, já que não dava mais pra ter o meu dinheiro de volta.
Fazia bastante tempo que eu não via um filme tão.. ruim.
O Pequeno Soldado
3.8 57Perde um pouco da poesia e do encantamento um pouco depois da metade - quando se torna mais político - mas ainda assim, é um bom filme e mantém certa fluidez. Gosto especialmente da narrativa em primeira pessoa e das referências literárias/artísticas em geral.
Engraçado o personagem de Bruno citar que não gosta de Albert Camus quando ele mesmo lembra tanto o Mersault e o "absurdismo".
Os Desconectados
3.9 442 Assista AgoraMe surpreendi. O filme cumpre o seu objetivo, apresentando três histórias bem amarradas, transitando entre cada uma de maneira dosada. Direção segura, com o nível certo de tensão, inclusive em seus picos. Os últimos minutos são realmente intensos, quase sufocantes, repletos de uma angústia que termina por envolver completamente o espectador. Interessante a força das narrativas colapsantes!
Não costumo assistir ação/suspense/thriller, mas este é realmente um bom - e atual, devido à temática tecnológica - representante do gênero. E achei especialmente bonita a sequência
dos desfechos em stop motion
Os Cavalos de Fogo
4.1 36 Assista AgoraMaravilhoso! De encher os olhos de lágrimas pela beleza de cenas que constituem uma verdadeira obra de arte audiovisual, numa experiência contemplativa belíssima. Meu primeiro Paradjanov, e fiquei encantada pelo movimento e posição da câmera [muitas vezes por trás de galhos ou em ângulos inusitados; outras, numa dança alucinada que chega a entontecer]; pelas cores; e pela trilha sonora belíssima que mescla canções folclóricas com composições orquestradas. Arte pura.
Lindíssimo e inesquecível.
Hoje Eu Quero Voltar Sozinho
4.1 3,2K Assista AgoraMe incomoda um pouco essa abordagem lugar-comum de adolescentes, com os mesmos clichês, certa forçação de barra e tantas outras previsibilidades. É óbvio que existem características e conflitos comuns a esta fase da vida - eu mesma passei por alguns, claro - mas acredito que a abordagem não foi a mais feliz. Para mim, soou "padrão" demais (mesmo com componentes mais incomuns), superficial demais, "filme teen/novela" demais. E talvez eu tenha ficado velha demais pra aguentar isso, no alto dos meus quase vinte anos. Sem deixar de lembrar que é possível fazer bons filmes sobre histórias adolescentes.
Trilha sonora bonita, algumas cenas bem realizadas (geralmente, passagens sem diálogo), temática interessante, mas... é isso. Faltou maturidade, mesmo se tratando de um filme sobre uma idade não muito famosa por essa característica.
Mas meu coração amoleceu um pouco com a cena final (assim como outras sequências, como a que toca Cícero) e eu acabei o filme esquecida da minha parte ranzinza.
A Mulher e o Atirador de Facas
4.1 57Acho que a "química" entre os atores é o que consegue, apesar de algumas falhas, segurar o filme. Nesse ponto, não tenho ressalvas: Daniel Auteuil e Vanessa Paradis se entrelaçaram incrivelmente, formando uma dupla que realmente convence. Gostei também das diferenças entre as personalidades dos personagens; acredito que houve um equilíbrio interessante, bem visível nos diálogos [que possuem alguns momentos memoráveis].
Entretanto, no mais, os bons momentos de "Le fille sur le pont" não são muito constantes. Existem alguns exageros e também falta de tato na condução (e construção!) do enredo.
Em suma, é um filme gostoso de assistir, que flui de forma leve na maioria das vezes. Mas permanece no patamar mediano: o tom excessivamente melodramático e afetado em algumas sequências, prejudicou o andamento da película. O desfecho, ao meu ver, beira o novelesco: não que isso seja de todo ruim (às vezes, como em "Boy Meets Girl", faz sentido), mas não funcionou neste contexto.
Oh Boy
3.7 92Filme de uma despretensiosidade muito agradável. Gosto da sutileza, não apenas dos próprios conflitos internos e externos do personagem, mas também da própria condução da câmera e da construção da fotografia. Cenas bonitas em sua simplicidade, aguçada pelo uso do preto e branco. Sutil também é o jazz, que permeia grande parte das cenas.
Difícil não comparar com Frances Ha pela proximidade de lançamento, temática e p/b. Entretanto, Niko e Frances tem diferenças acentuadas na própria forma de encararem sua ausência de rumo; o que não muda o fato de serem personagens catárticos e atraentes - cada um, à sua maneira. E eu, ainda longe dos trinta, me sinto um pouco de ambos.
O Estrangeiro
3.8 49É mais do que adaptação, mas sim uma quase-transposição cinematográfica.
Entretanto, temos aqui o mesmo problema que ocorreu com Noites Brancas, de Visconti, também originalmente um livro e com o protagonista igualmente interpretado por Mastroianni. Há, nessa tradução livro-filme, mais do que a perda natural que ocorre, mas sim certa mudança da essência dos personagens. Se, no primeiro, o Sonhador dostoievskiano transforma-se num sujeito um tanto galante, aqui temos o Mersault camusiano muito menos apático e beirando ao coitadismo/bom-mocismo em certas sequências. Acredito que esses desvios à margem da real essência do personagem não se tratem de algo proposital, mas sim de certa incapacidade do diretor ou ator (quiçá, ambos) de desvincular-se dos seus próprios traços de personalidade. Uma pena que tenha sido recorrente em duas adaptações de ótimos livros.
Em suma, é um bom filme... mas foi inevitável sentir falta do Mersault tipicamente blasé que encontrei ao ler a obra de Camus. Por vezes, me questionei se tratava-se do mesmo personagem.
A Era do Rádio
4.0 234 Assista AgoraInteressante a perspectiva afetiva atrelada ao meio de comunicação que suscita memórias, mas é o Woody Allen mais fraco que já vi.