Um raro exemplo de como um filme pode retratar tão bem as dores, loucuras e "inexplicações" de uma guerra. E o mais fantástico: com apenas dois atores. Os excelentes Lee Marvin (piloto estadunidense) e Toshirô Mifume (capitão japonês) entregam toda a trajetória da insanidade em conflitos que, no fundo, ambos querem a paz. Navegando entre o selvagem e o racional, esta fita explicita o simbolismo da eterna luta do homem contra o homem, seja em ações, pensamentos ou linguagens. Além de como a incomunicabilidade afeta o limite pela sobrevivência. Em suma, uma obra multifacetada que vigora conforme a dança da guerra, sem cor, sem perfume, sem rosa, sem nada.
Este é um filme que, literalmente, não tem meio termo. É 8 ou 80. E não se trata apenas do humor atemporal - poucas passagens ficaram datadas, mas, principalmente, da forma como homenageia e satiriza um gênero tão controverso: o western. Ao revisitar o povoamento do novo oeste dos Estados Unidos da América, o genial Mel Brooks salpica acidez num ritmo cadenciado de farsa sobre o racismo estrutural daquele país, que, infelizmente, perpetua até os dias atuais. Nem o exagero da estereotipação dos personagens retira as hilariantes boas risadas dos espectadores nesta obra que cresce a cada nova assistida. O faroeste nunca mais foi o mesmo depois desse banzé.
A partir de uma história estranha ouvida pelo Mestre Hawks, eis um filme sobre aviões e aviadores. Na verdade, um deleite de imagens e sons para os aficionados (ou não) pelo tema. A tradução literal do título original em inglês é 'apenas os anjos têm asas'. Porém, faltou o pronome condicional. Só que este é colocado, pelos espectadores, durante a sessão: 'se apenas os anjos têm asas, os homens não podem voar'. Certo? Errado, já que a aviação, além de ser o meio de transporte mais seguro do mundo, fascina e seduz desde os tempos de outrora. Ou, como disse em determinado momento da fita o personagem Kid, do amabilíssimo Thomas Mitchell, "eu tenho voado por 22 anos e até hoje não me faz nenhum sentido". Assim como o amor, a vida e a morte. Uma obra de diálogos deliciosos e subtramas apaixonantes nas várias esferas que produzem um prato cheio de emoções.
O exercício de futurologia é tão antigo quanto o tempo. E essa profecia idealizada sobre uma previsão qualquer possui, claramente, os mesmos desígnios do cinema, pois, a partir de uma ideia - original ou não, a imaginação torna-se imagem, por meio de carne, osso e tecnologia. Assim, considerada pela crítica especializada, esta fita é a primeira superprodução de ficção científica da cinematografia. Aos amantes do gênero, um manjar de apuro visual. Aos demais, um filme bagunçado e meio perdido na narrativa. O que não desabona a obra, onde, curiosamente, vê-se o ano 2000 idealizado na década de 30, além de uma fantasiosa corrida espacial que, atualmente, já faz parte de um passado distante. Alvíssaras para a ênfase na busca incessante do conhecimento pelo homem, cada vez mais minúsculo dentro do universo. Um filme deveras interessante.
Um verdadeiro estudo de personagem cheio de signos e significados. E, nisto, o cinema holandês é bem prolífico, beirando, inclusive, a esquisitice em muitas ocasiões. Este filme é um pouco assim. Situado em Rotterdam, nos anos 20 (ou seja, pós primeira guerra mundial quando as relações inter-humanas ficaram mais petrificadas em sua natureza), o silêncio ensurdecedor dos personagens principais em suas interações é tão importante quanto o desenvolvimento narrativo numa fria e escura delegacia - um noir literário sem a mortalmente loura femme fatale. O pai, a rudeza da lei, a mãe, a resignação carnal, e o filho, a renúncia social, formam os arquétipos morais de uma acalorada discussão: o que é caráter?
Talvez seja o melhor papel de Barbra Streisand no cinema. E os seus momentos são realmente magnânimos, embora a química com o maravilhoso Omar Sharif não funcione de maneira altamente satisfatória como par romântico. Pois, talvez, esse grande tempo tomado no romance ofusca o real tema do filme - a hilária e corajosa Fanny Brice, uma mulher muito além dos anos 30. E é nas sutilezas e improvisos de Fanny que o oculto feminismo daquela época ganha ares além de subliminares, pois a atriz não se sucumbe ao tradicionalismo familiar e dá o recados às outras mulheres (e aos homens também): antes de amar alguém, precisamos nos amar primeiro. Um exemplar musical de 151 minutos com cores e graças em seu estilo mais imponente.
Com jeitão documental e roteiro carente de fertilidade, esta fita afaga e apedreja, tanto na violência quanto na sutileza, os adoradores de briga de galos na mesma intensidade. Além de pincelar cinicamente a difícil arte de sobreviver dos emigrantes na França desde sempre. Acompanhando o beninense Dah (Isaach De Bankolé) e o caribenho Jocelyn (Alex Descas), a obra se desenvolve sem surpresas, porém, cheia de asteriscos e poesias nas entrelinhas. Como o personagem Jocelyn, que quase não fala mas, com seus olhos e corpo, denuncia desconfortavelmente um aprisionamento de abalar o espectador - sua deterioração mental é um estupendo estudo de caso. As cenas sombrias das rinhas sangrentas também são magistrais, aludindo-as ao período neolítico. Um esquecido filme com ares de alegoria através de uma câmera portátil.
Uma fita da China sobre a China que aborda, politicamente, a construção da identidade mordaz que esse país possui. À primeira vista, parece uma obra direitista (e deveras o é quando visto pelo ângulo mais cômodo), mas as manobras subliminares da câmera do diretor denunciam a intolerância cega e realçam uma parte da edificação que se transformou numa potência mundial. Ademais, é um afago especial às mães que impuseram moralidade, resistência e esperança na criação de seus filhos numa época efervescente e revolucionária. E, talvez, essa humanidade singela (ou o verdadeiro retrato da maternidade) seja o poder maior de uma obra já grande, apesar da edição lenta e, casualmente, cansativa. Aos realistas depressivos de plantão, eis uma obra sensivelmente triste. Mas especial.
Exagerado, frenético, intenso, vibrante, lascivo, carnavalesco, caótico, grotesco e histérico. Em resumo, babilônico - para o bem e para o mal. Um metalinguístico filme que rende lindas homenagens e abraça referências imprescindíveis à cinefilia, onde o cinéfilo mais antenado viaja, cinematograficamente, aos anos 20, quando o som das falas findava a era do cinema mudo. Porém, o longa pousa na soberba de já querer ser aquilo que se almeja. Principalmente por causa dos excessos, alguns totalmente descartáveis e nada sutis. A grandiosa tomada inicial, metaforizando a fama e o caos numa festa hollywoodiana, é de um sabor ímpar, que podia muito bem ser assinada por Federico Fellini. Só que tal potencial não se manteve, apesar do tema fascinante. Mas, para os amantes da história da sétima arte, obras como esta são sempre lágrimas para o cinema.
Um obra tão polissêmica que dificulta qualquer análise, ainda mais as rasas. Inquieta, questionadora, anárquica, cínica e marginal, suas várias pontas ultrapassam o tempo e satirizam uma sociedade benevolentemente corrupta, seja no final dos anos 60, seja hoje - inclusive na busca pelo famigerado herói nacional. Sem estética definida mas com ironia de sobra, o filme não estaciona, exalta o niilismo das instituições públicas, explicita a anomia social vigente e, consequentemente, incomoda aqueles que preferem narrativas "bonitinhas, limpinhas e cheirosas", sendo responsável por gerar novos rumos e moldes do cinema brasileiro (algo muito prolífico e libertário para a nossa cinematografia). Pois, como diria, no longa, o jogral noticiário intencionalmente sensacionalista da época, a bomba e a fome separam o terceiro mundo do resto do planeta. Ou seja, quase nada mudou.
É preciso se situar no tempo-espaço para melhor digestão deste longa - o cinema deixando de ser mudo, os Estados Unidos pós depressão e o mundo alimentando nacionalismos exacerbados. O que torna a obra ousada além do essencial em seus diálogos e cenas, como a tomada em que os pensamentos são reais e as falas falsas. Aqui, todos parecem ser espertos demais, inclusive o bêbado com suas peripécias hilariantes. E, mesmo com uma história simplória sob um roteiro diminuto, a presença de Spencer Tracy é irradiante e o senso sonoro do diretor é fenomenal. Uma envelhecida comédia do realismo e entretenimento.
Filho da mistura entre Ingmar Bergman e Federico Fellini, eis um metalinguístico woodyano filme duro, dorido, doloroso e obsceno, porém, extremamente engraçado e inteligente - é preciso ter um mínimo de conhecimento para saborear as nuances da engenhosa narrativa. As ácidas e nervosas críticas a tudo e a todos são tão letais quanto esperançosas, pois bota a arte como o refúgio consciente da felicidade nas nossas abrasivas relações pessoais. Autoral, vem com um sincero conselho: nossos demônios existem e persistem, logo, saibamos conviver com eles. Ou seja, um desafio à psicanálise em forma cinéfila e verborrágica. E um tapa na cara dos pseudolobos quarentões "imbrocháveis".
Um típico exemplo de arte que se equilibra na lâmina afiada de uma navalha, pois é 1969. A velha Hollywood soçobra, um grito vanguardista ecoava da França em maios passados, novas formas de fazer cinema eram impetradas e reis declinavam tais quais seus reinados. Foi o caso de Jerry Lewis, o comediante-mor das telonas da época. Como manter seu padrão de excelência? Mudar ou continuar tentando com seu humor já arcaico? O ator tentou as duas coisas, já que seu personagem tem um ar mais melodramático que os anteriores. Porém, as piadas não funcionaram. Ou envelheceram mal. Mas é mister destacar a abordagem ao sufocamento familiar sofrido pela classe média estadunidense, onde os filhos não respeitavam os espaços dos pais, o marido se valeria pelo dinheiro empregado em casa e a esposa servia sem carecer de atenção. Em suma, uma sessão que passa o tempo sem alardear. E que me chamou a atenção apenas pelo título estar contido numa canção ('Anos 80') de Raul Seixas, confesso.
Melhor que enxergar pelos olhos do estrangeiro, é assistir aos problemas de um país pelas câmeras do seu próprio povo. Isto que o diretor franco-marroquino Nabil Ayouch fez nas ruas de Casablanca, ora de modo real e cru, ora abordando oniricamente o abandono e, consequentemente, a delinquência infantil de inúmeras crianças da maior cidade e, também, do maior porto do Marrocos. E esta questão portuária sobrevoa toda a obra, sendo, inclusive, personagem principal juntamente com os amigos de vida e morte que dão uma aula de cumplicidade, carinho, zelo e amor. Pode-se estranhar a dualidade contos de fada e pobreza extrema, assim como um tema nada original, mas o problema ocorre de fato e necessita ser reverberado. Sem contar que o filme envolve e pulsa mesmo em meio de tanta miséria e ladroagem. Em suma, seja no Canadá, Brasil, Europa, Ásia ou Austrália, os sonhos nunca se envelhecem. Sobretudo na África.
O cineasta italiano Michelangelo Antonioni sempre foi um entusiasta da incomunicabilidade do ser humano e, consequentemente, da sua solidão acompanhada de dor, angústia e uma pitada de loucura. Este excelente longa, primeiro colorido do diretor, não foge à regra. Ainda utilizando sua musa Monica Vitti como protagonista, Mestre Antonioni mistura o cinza das fumaças industriais com o colorido triste de uma gélida Itália para circundar um caso de depressão na alta classe média, onde tudo parece perfeito naquela família aparentemente normal e feliz. Em suma, todos os personagens respiram frustrações. Desde a criança, sem outra criança por perto e obrigada a conviver com um robô, aos operários maus remunerados das fábricas. Um verdadeiro funeral de ilusões em que a felicidade imerge e a resignação segue imponente triunfando naquele microcosmo - magistralmente exemplificada na cena final. Uma obra propositalmente difícil e enclausurada que, de tão tediosa, mostra-se opressivamente bela.
O diário de Annelies Marie Frank é, definitivamente, um ouro valioso que vai além de manuscritos de uma jovem atormentada pelas sombras nazistas durante a segunda guerra mundial. Aqui, transportando para os tempos atuais e utilizando de flashbacks em alguns momentos, o filme centra em Kitty, a amiga imaginária para quem Anne escrevia suas vivências. Servindo-se das memórias a si confiadas por esta, Kitty percorre as ruas da cidade e, com amigos que vai fazendo pelo caminho, irá compreender a definição do holocausto e o que este significou para Anne. E o que, passados 75 anos, continua ainda a significar para sucessivas gerações. Em suma, a mensagem e a animação imaginativa funcionam, porém, deambula superficialmente em assuntos tão importantes e urgentes a serem discutidos. Apesar de bem intencionada, falta movimento ao arco dramático e se faz parecer uma obra ingênua - e até desajeitada com a subtrama dos refugiados. Mas vale a sessão, tanto pela desconexão mito/história quanto pela fantasia.
O que leva um ateu e comunista a fazer, na década de 60, o melhor filme sobre Cristo? Independente do credo professado, aqueles que detêm o mínimo de abertura espiritual perceberão a figura magnânima de Jesus. E este, de Pasolini, é um homem tanto de palavras diretas quanto de silêncios ensurdecedores que, certeiramente, atingem e impressionam, inclusive seus detratores. Ao retirar as falas e o desenvolvimento ipsis litteris do evangelho supracitado, o diretor italiano cria a poesia cinéfila e equipara o cinema às artes sacras, especialmente por se tratar de uma das mais importantes doutrinas de toda a humanidade, elevando e eternizando o homem/mito. Além de maximizar os planos detalhes, absurdamente vivos e cruciais! Sobre o questionamento inicial, não há resposta sobre a fé. Mas Jesus Cristo continua sendo um revolucionário social, que se irrita com a desigualdade e transforma seus apóstolos em operários de luta. Pois "não podeis servir a Deus e ao dinheiro".
Sobre um fato marcante da história mundial, quando os comunistas húngaros se juntaram aos bolcheviques para lutarem contra o czarismo na Rússia. Porém, esta interessante obra percorre a irracionalidade fomentada por uma guerra qualquer, como se o cachorro corresse atrás do próprio rabo - sem personagem principal, sem enredo definido, sem piedade, sem noção. Com um trabalho de câmera perfeito e um lindo cenário campal, pois situado num mosteiro próximo ao rio Volga, o filme, propositalmente forte, contundente e desordenado, é uma crítica à imbecilidade dos lados em questão e à desumanização do indivíduo em combate, sem panfletarismo barato. Será possível seguir novos e bons caminhos após embates que acarretam em terríveis traumas? Com a resposta, a história.
O cinema, mesmo baseado em fatos reais, oferece um quê de fantasia aos seus clientes. Inclusive em casos seriíssimos, como este suspense investigativo de alto nível, quando a história é tão verdadeira quanto os crimes não solucionados de um _serial killer_ do final dos anos 60 e início dos 70 na baía da Califórnia. Mantendo o ritmo alucinante do início ao fim, a caçada e a tentativa de decifrar elementos vão muito além das cenas dos crimes, pois chegam nas redações dos principais jornais de San Francisco em forma de cartas, como se rindo da cara dos policiais. E, assim, não há como não lembrar do clássico 'Todos Os Homens Do Presidente' (1976), de Alan J. Pakula, com seus repórteres investigativos mais eficientes que os detetives responsáveis pelo caso. Nesses encontros e desencontros, o recorte temporal perpassa décadas e colore sutilmente a comédia de erros que aguça e frustra o limiar da curiosidade do espectador. "Por que isso? Por que aquilo? Por que não?" Enfim, cada vidente parece ter uma solução para o caso que nunca fora desvendado. O que é um belo exemplo de exercício fílmico instigante e motivador para qualquer cinéfilo.
Baseado na história de vida do serial killer americano Henry Lee Lucas, eis um filme perturbador e desumano do início ao fim. Pois, sem pedir licença, insere o espectador na mente doentia do psicopata num tom documental bastante realista. Mas, nem assim, entende-se como um homem que nunca se apresenta como uma ameaça social comete assassinatos de forma aleatória e prazerosa, em total ausência de sentimentos ou afeições humanas. Bem produzido, além de desenhar um retrato cru de uma perigosa aberração, escancara a banalização da violência tanto quanto a violência em si. Ou sobre como traumas profundos liberam lixos psicológicos que, invariavelmente, comandam ações repudiadas pela sociedade. Enfim, um filme cult que é intenso e atordoante, pois Henry não é Jason nem Freddy Krueger. Ele é real.
O universo é tão grande que cabe, inclusive, em uma casa de uma família simples da periferia de Belo Horizonte. Pois cada lar é uma história e um microcosmo cheios de drama social. Neste caso, brasileiramente sólido e nada estereotipado. Porque os seres humanos retratados são aqueles que vivem ao nosso lado, lidando como podem com o balanço da vida - a miséria é substituída pela batalha diária, sem julgamentos ou panfletarismos. Um grandioso trabalho cinematográfico! Ah, o discurso político está bem explícito nas entrelinhas. Quem não percebeu provavelmente é um dos alfinetados.
"Na vida, a liberdade é tudo que conta, mas o homem inventou a prisão". Com esta música, o filme começa e acaba, denunciando os axiomas de valores (morais ou não) ditos como mais importantes na época da famigerada segunda revolução industrial europeia. Uma comédia mágica onde tudo muda mas continua sempre no mesmo lugar, só que com o dinheiro no meio. Pois os homens desta fita começam presidiários e depois migram às fábricas, operários ou patrões. Ou seja, continuam presos. Curiosamente, as críticas do diretor francês, além de estarem por todos os cantos, explicitam os valores antagônicos a esses criticados, como amizade e amor sem interesse. Uma obra inspiradora - Charles Chaplin que o diga com seu 'Tempos Modernos' (1936) - que machuca o ego de quem tem ganância, esperteza e coragem pra trapacear (pois pra estes o sistema é gentil), trazendo um final infeliz que, milagrosamente, torna-se um alívio. Pois, enfim, em completa liberdade. Está disponível legendado no YouTube.
Da gélida e contida Finlândia, eis um road movie sobre trilhos que aquece o coração apesar do cenário cheio de neve e temperatura negativa. Duas almas errantes e solitárias, uma estudante finlandesa e um mineiro russo, descobrem que atravessar fronteiras é algo além de metafórico, é primoroso. Ainda mais quando a verdadeira conexão ocorre. Talvez, por isso, o filme é mais pra ser sentido que demonstrado, pois dois recados claros e cristalinos abarrotam os olhos dos espectadores: não se deve julgar as pessoas rapidamente e há humanidade em todos, basta estar disposto a encontrá-la. Entre o frio do clima e o calor das relações humanas, os petróglifos do Ártico se tornam tão importantes e verdadeiros quanto um desenho sincero feito de afeição. Uma boa sessão presente no Prime Video.
Inferno no Pacífico
4.0 27 Assista AgoraUm raro exemplo de como um filme pode retratar tão bem as dores, loucuras e "inexplicações" de uma guerra. E o mais fantástico: com apenas dois atores. Os excelentes Lee Marvin (piloto estadunidense) e Toshirô Mifume (capitão japonês) entregam toda a trajetória da insanidade em conflitos que, no fundo, ambos querem a paz. Navegando entre o selvagem e o racional, esta fita explicita o simbolismo da eterna luta do homem contra o homem, seja em ações, pensamentos ou linguagens. Além de como a incomunicabilidade afeta o limite pela sobrevivência. Em suma, uma obra multifacetada que vigora conforme a dança da guerra, sem cor, sem perfume, sem rosa, sem nada.
Banzé no Oeste
3.7 117 Assista AgoraEste é um filme que, literalmente, não tem meio termo. É 8 ou 80. E não se trata apenas do humor atemporal - poucas passagens ficaram datadas, mas, principalmente, da forma como homenageia e satiriza um gênero tão controverso: o western. Ao revisitar o povoamento do novo oeste dos Estados Unidos da América, o genial Mel Brooks salpica acidez num ritmo cadenciado de farsa sobre o racismo estrutural daquele país, que, infelizmente, perpetua até os dias atuais. Nem o exagero da estereotipação dos personagens retira as hilariantes boas risadas dos espectadores nesta obra que cresce a cada nova assistida. O faroeste nunca mais foi o mesmo depois desse banzé.
O Paraíso Infernal
3.9 26A partir de uma história estranha ouvida pelo Mestre Hawks, eis um filme sobre aviões e aviadores. Na verdade, um deleite de imagens e sons para os aficionados (ou não) pelo tema. A tradução literal do título original em inglês é 'apenas os anjos têm asas'. Porém, faltou o pronome condicional. Só que este é colocado, pelos espectadores, durante a sessão: 'se apenas os anjos têm asas, os homens não podem voar'. Certo? Errado, já que a aviação, além de ser o meio de transporte mais seguro do mundo, fascina e seduz desde os tempos de outrora. Ou, como disse em determinado momento da fita o personagem Kid, do amabilíssimo Thomas Mitchell, "eu tenho voado por 22 anos e até hoje não me faz nenhum sentido". Assim como o amor, a vida e a morte. Uma obra de diálogos deliciosos e subtramas apaixonantes nas várias esferas que produzem um prato cheio de emoções.
Daqui a Cem Anos
3.5 37 Assista AgoraO exercício de futurologia é tão antigo quanto o tempo. E essa profecia idealizada sobre uma previsão qualquer possui, claramente, os mesmos desígnios do cinema, pois, a partir de uma ideia - original ou não, a imaginação torna-se imagem, por meio de carne, osso e tecnologia. Assim, considerada pela crítica especializada, esta fita é a primeira superprodução de ficção científica da cinematografia. Aos amantes do gênero, um manjar de apuro visual. Aos demais, um filme bagunçado e meio perdido na narrativa. O que não desabona a obra, onde, curiosamente, vê-se o ano 2000 idealizado na década de 30, além de uma fantasiosa corrida espacial que, atualmente, já faz parte de um passado distante. Alvíssaras para a ênfase na busca incessante do conhecimento pelo homem, cada vez mais minúsculo dentro do universo. Um filme deveras interessante.
Caráter
4.0 36Um verdadeiro estudo de personagem cheio de signos e significados. E, nisto, o cinema holandês é bem prolífico, beirando, inclusive, a esquisitice em muitas ocasiões. Este filme é um pouco assim. Situado em Rotterdam, nos anos 20 (ou seja, pós primeira guerra mundial quando as relações inter-humanas ficaram mais petrificadas em sua natureza), o silêncio ensurdecedor dos personagens principais em suas interações é tão importante quanto o desenvolvimento narrativo numa fria e escura delegacia - um noir literário sem a mortalmente loura femme fatale. O pai, a rudeza da lei, a mãe, a resignação carnal, e o filho, a renúncia social, formam os arquétipos morais de uma acalorada discussão: o que é caráter?
Funny Girl - A Garota Genial
4.3 214 Assista AgoraTalvez seja o melhor papel de Barbra Streisand no cinema. E os seus momentos são realmente magnânimos, embora a química com o maravilhoso Omar Sharif não funcione de maneira altamente satisfatória como par romântico. Pois, talvez, esse grande tempo tomado no romance ofusca o real tema do filme - a hilária e corajosa Fanny Brice, uma mulher muito além dos anos 30. E é nas sutilezas e improvisos de Fanny que o oculto feminismo daquela época ganha ares além de subliminares, pois a atriz não se sucumbe ao tradicionalismo familiar e dá o recados às outras mulheres (e aos homens também): antes de amar alguém, precisamos nos amar primeiro. Um exemplar musical de 151 minutos com cores e graças em seu estilo mais imponente.
Dane-se a Morte
3.4 10Com jeitão documental e roteiro carente de fertilidade, esta fita afaga e apedreja, tanto na violência quanto na sutileza, os adoradores de briga de galos na mesma intensidade. Além de pincelar cinicamente a difícil arte de sobreviver dos emigrantes na França desde sempre. Acompanhando o beninense Dah (Isaach De Bankolé) e o caribenho Jocelyn (Alex Descas), a obra se desenvolve sem surpresas, porém, cheia de asteriscos e poesias nas entrelinhas. Como o personagem Jocelyn, que quase não fala mas, com seus olhos e corpo, denuncia desconfortavelmente um aprisionamento de abalar o espectador - sua deterioração mental é um estupendo estudo de caso. As cenas sombrias das rinhas sangrentas também são magistrais, aludindo-as ao período neolítico. Um esquecido filme com ares de alegoria através de uma câmera portátil.
O Sonho Azul
3.7 17Uma fita da China sobre a China que aborda, politicamente, a construção da identidade mordaz que esse país possui. À primeira vista, parece uma obra direitista (e deveras o é quando visto pelo ângulo mais cômodo), mas as manobras subliminares da câmera do diretor denunciam a intolerância cega e realçam uma parte da edificação que se transformou numa potência mundial. Ademais, é um afago especial às mães que impuseram moralidade, resistência e esperança na criação de seus filhos numa época efervescente e revolucionária. E, talvez, essa humanidade singela (ou o verdadeiro retrato da maternidade) seja o poder maior de uma obra já grande, apesar da edição lenta e, casualmente, cansativa. Aos realistas depressivos de plantão, eis uma obra sensivelmente triste. Mas especial.
Babilônia
3.6 334 Assista AgoraExagerado, frenético, intenso, vibrante, lascivo, carnavalesco, caótico, grotesco e histérico. Em resumo, babilônico - para o bem e para o mal. Um metalinguístico filme que rende lindas homenagens e abraça referências imprescindíveis à cinefilia, onde o cinéfilo mais antenado viaja, cinematograficamente, aos anos 20, quando o som das falas findava a era do cinema mudo. Porém, o longa pousa na soberba de já querer ser aquilo que se almeja. Principalmente por causa dos excessos, alguns totalmente descartáveis e nada sutis. A grandiosa tomada inicial, metaforizando a fama e o caos numa festa hollywoodiana, é de um sabor ímpar, que podia muito bem ser assinada por Federico Fellini. Só que tal potencial não se manteve, apesar do tema fascinante. Mas, para os amantes da história da sétima arte, obras como esta são sempre lágrimas para o cinema.
Irmã Do Pecado
2.6 9Bem ruinzinho.
O Bandido da Luz Vermelha
3.9 268 Assista AgoraUm obra tão polissêmica que dificulta qualquer análise, ainda mais as rasas. Inquieta, questionadora, anárquica, cínica e marginal, suas várias pontas ultrapassam o tempo e satirizam uma sociedade benevolentemente corrupta, seja no final dos anos 60, seja hoje - inclusive na busca pelo famigerado herói nacional. Sem estética definida mas com ironia de sobra, o filme não estaciona, exalta o niilismo das instituições públicas, explicita a anomia social vigente e, consequentemente, incomoda aqueles que preferem narrativas "bonitinhas, limpinhas e cheirosas", sendo responsável por gerar novos rumos e moldes do cinema brasileiro (algo muito prolífico e libertário para a nossa cinematografia). Pois, como diria, no longa, o jogral noticiário intencionalmente sensacionalista da época, a bomba e a fome separam o terceiro mundo do resto do planeta. Ou seja, quase nada mudou.
Eu e Minha Pequena
3.3 11É preciso se situar no tempo-espaço para melhor digestão deste longa - o cinema deixando de ser mudo, os Estados Unidos pós depressão e o mundo alimentando nacionalismos exacerbados. O que torna a obra ousada além do essencial em seus diálogos e cenas, como a tomada em que os pensamentos são reais e as falas falsas. Aqui, todos parecem ser espertos demais, inclusive o bêbado com suas peripécias hilariantes. E, mesmo com uma história simplória sob um roteiro diminuto, a presença de Spencer Tracy é irradiante e o senso sonoro do diretor é fenomenal. Uma envelhecida comédia do realismo e entretenimento.
Desconstruindo Harry
4.0 335 Assista AgoraFilho da mistura entre Ingmar Bergman e Federico Fellini, eis um metalinguístico woodyano filme duro, dorido, doloroso e obsceno, porém, extremamente engraçado e inteligente - é preciso ter um mínimo de conhecimento para saborear as nuances da engenhosa narrativa. As ácidas e nervosas críticas a tudo e a todos são tão letais quanto esperançosas, pois bota a arte como o refúgio consciente da felicidade nas nossas abrasivas relações pessoais. Autoral, vem com um sincero conselho: nossos demônios existem e persistem, logo, saibamos conviver com eles. Ou seja, um desafio à psicanálise em forma cinéfila e verborrágica. E um tapa na cara dos pseudolobos quarentões "imbrocháveis".
De Caniço e Samburá
3.5 18 Assista AgoraUm típico exemplo de arte que se equilibra na lâmina afiada de uma navalha, pois é 1969. A velha Hollywood soçobra, um grito vanguardista ecoava da França em maios passados, novas formas de fazer cinema eram impetradas e reis declinavam tais quais seus reinados. Foi o caso de Jerry Lewis, o comediante-mor das telonas da época. Como manter seu padrão de excelência? Mudar ou continuar tentando com seu humor já arcaico? O ator tentou as duas coisas, já que seu personagem tem um ar mais melodramático que os anteriores. Porém, as piadas não funcionaram. Ou envelheceram mal. Mas é mister destacar a abordagem ao sufocamento familiar sofrido pela classe média estadunidense, onde os filhos não respeitavam os espaços dos pais, o marido se valeria pelo dinheiro empregado em casa e a esposa servia sem carecer de atenção. Em suma, uma sessão que passa o tempo sem alardear. E que me chamou a atenção apenas pelo título estar contido numa canção ('Anos 80') de Raul Seixas, confesso.
As Ruas de Casablanca
3.9 17Melhor que enxergar pelos olhos do estrangeiro, é assistir aos problemas de um país pelas câmeras do seu próprio povo. Isto que o diretor franco-marroquino Nabil Ayouch fez nas ruas de Casablanca, ora de modo real e cru, ora abordando oniricamente o abandono e, consequentemente, a delinquência infantil de inúmeras crianças da maior cidade e, também, do maior porto do Marrocos. E esta questão portuária sobrevoa toda a obra, sendo, inclusive, personagem principal juntamente com os amigos de vida e morte que dão uma aula de cumplicidade, carinho, zelo e amor. Pode-se estranhar a dualidade contos de fada e pobreza extrema, assim como um tema nada original, mas o problema ocorre de fato e necessita ser reverberado. Sem contar que o filme envolve e pulsa mesmo em meio de tanta miséria e ladroagem. Em suma, seja no Canadá, Brasil, Europa, Ásia ou Austrália, os sonhos nunca se envelhecem. Sobretudo na África.
O Deserto Vermelho
4.0 96O cineasta italiano Michelangelo Antonioni sempre foi um entusiasta da incomunicabilidade do ser humano e, consequentemente, da sua solidão acompanhada de dor, angústia e uma pitada de loucura. Este excelente longa, primeiro colorido do diretor, não foge à regra. Ainda utilizando sua musa Monica Vitti como protagonista, Mestre Antonioni mistura o cinza das fumaças industriais com o colorido triste de uma gélida Itália para circundar um caso de depressão na alta classe média, onde tudo parece perfeito naquela família aparentemente normal e feliz. Em suma, todos os personagens respiram frustrações. Desde a criança, sem outra criança por perto e obrigada a conviver com um robô, aos operários maus remunerados das fábricas. Um verdadeiro funeral de ilusões em que a felicidade imerge e a resignação segue imponente triunfando naquele microcosmo - magistralmente exemplificada na cena final. Uma obra propositalmente difícil e enclausurada que, de tão tediosa, mostra-se opressivamente bela.
Where Is Anne Frank
3.3 3O diário de Annelies Marie Frank é, definitivamente, um ouro valioso que vai além de manuscritos de uma jovem atormentada pelas sombras nazistas durante a segunda guerra mundial. Aqui, transportando para os tempos atuais e utilizando de flashbacks em alguns momentos, o filme centra em Kitty, a amiga imaginária para quem Anne escrevia suas vivências. Servindo-se das memórias a si confiadas por esta, Kitty percorre as ruas da cidade e, com amigos que vai fazendo pelo caminho, irá compreender a definição do holocausto e o que este significou para Anne. E o que, passados 75 anos, continua ainda a significar para sucessivas gerações. Em suma, a mensagem e a animação imaginativa funcionam, porém, deambula superficialmente em assuntos tão importantes e urgentes a serem discutidos. Apesar de bem intencionada, falta movimento ao arco dramático e se faz parecer uma obra ingênua - e até desajeitada com a subtrama dos refugiados. Mas vale a sessão, tanto pela desconexão mito/história quanto pela fantasia.
O Evangelho Segundo São Mateus
4.0 89O que leva um ateu e comunista a fazer, na década de 60, o melhor filme sobre Cristo? Independente do credo professado, aqueles que detêm o mínimo de abertura espiritual perceberão a figura magnânima de Jesus. E este, de Pasolini, é um homem tanto de palavras diretas quanto de silêncios ensurdecedores que, certeiramente, atingem e impressionam, inclusive seus detratores. Ao retirar as falas e o desenvolvimento ipsis litteris do evangelho supracitado, o diretor italiano cria a poesia cinéfila e equipara o cinema às artes sacras, especialmente por se tratar de uma das mais importantes doutrinas de toda a humanidade, elevando e eternizando o homem/mito. Além de maximizar os planos detalhes, absurdamente vivos e cruciais! Sobre o questionamento inicial, não há resposta sobre a fé. Mas Jesus Cristo continua sendo um revolucionário social, que se irrita com a desigualdade e transforma seus apóstolos em operários de luta. Pois "não podeis servir a Deus e ao dinheiro".
Vermelhos e Brancos
4.0 18Sobre um fato marcante da história mundial, quando os comunistas húngaros se juntaram aos bolcheviques para lutarem contra o czarismo na Rússia. Porém, esta interessante obra percorre a irracionalidade fomentada por uma guerra qualquer, como se o cachorro corresse atrás do próprio rabo - sem personagem principal, sem enredo definido, sem piedade, sem noção. Com um trabalho de câmera perfeito e um lindo cenário campal, pois situado num mosteiro próximo ao rio Volga, o filme, propositalmente forte, contundente e desordenado, é uma crítica à imbecilidade dos lados em questão e à desumanização do indivíduo em combate, sem panfletarismo barato. Será possível seguir novos e bons caminhos após embates que acarretam em terríveis traumas? Com a resposta, a história.
Zodíaco
3.7 1,3K Assista AgoraO cinema, mesmo baseado em fatos reais, oferece um quê de fantasia aos seus clientes. Inclusive em casos seriíssimos, como este suspense investigativo de alto nível, quando a história é tão verdadeira quanto os crimes não solucionados de um _serial killer_ do final dos anos 60 e início dos 70 na baía da Califórnia. Mantendo o ritmo alucinante do início ao fim, a caçada e a tentativa de decifrar elementos vão muito além das cenas dos crimes, pois chegam nas redações dos principais jornais de San Francisco em forma de cartas, como se rindo da cara dos policiais. E, assim, não há como não lembrar do clássico 'Todos Os Homens Do Presidente' (1976), de Alan J. Pakula, com seus repórteres investigativos mais eficientes que os detetives responsáveis pelo caso. Nesses encontros e desencontros, o recorte temporal perpassa décadas e colore sutilmente a comédia de erros que aguça e frustra o limiar da curiosidade do espectador. "Por que isso? Por que aquilo? Por que não?" Enfim, cada vidente parece ter uma solução para o caso que nunca fora desvendado. O que é um belo exemplo de exercício fílmico instigante e motivador para qualquer cinéfilo.
Retrato de um Assassino
3.5 187 Assista AgoraBaseado na história de vida do serial killer americano Henry Lee Lucas, eis um filme perturbador e desumano do início ao fim. Pois, sem pedir licença, insere o espectador na mente doentia do psicopata num tom documental bastante realista. Mas, nem assim, entende-se como um homem que nunca se apresenta como uma ameaça social comete assassinatos de forma aleatória e prazerosa, em total ausência de sentimentos ou afeições humanas. Bem produzido, além de desenhar um retrato cru de uma perigosa aberração, escancara a banalização da violência tanto quanto a violência em si. Ou sobre como traumas profundos liberam lixos psicológicos que, invariavelmente, comandam ações repudiadas pela sociedade. Enfim, um filme cult que é intenso e atordoante, pois Henry não é Jason nem Freddy Krueger. Ele é real.
Marte Um
4.1 303 Assista AgoraO universo é tão grande que cabe, inclusive, em uma casa de uma família simples da periferia de Belo Horizonte. Pois cada lar é uma história e um microcosmo cheios de drama social. Neste caso, brasileiramente sólido e nada estereotipado. Porque os seres humanos retratados são aqueles que vivem ao nosso lado, lidando como podem com o balanço da vida - a miséria é substituída pela batalha diária, sem julgamentos ou panfletarismos. Um grandioso trabalho cinematográfico! Ah, o discurso político está bem explícito nas entrelinhas. Quem não percebeu provavelmente é um dos alfinetados.
A Nós a Liberdade
4.1 39"Na vida, a liberdade é tudo que conta, mas o homem inventou a prisão". Com esta música, o filme começa e acaba, denunciando os axiomas de valores (morais ou não) ditos como mais importantes na época da famigerada segunda revolução industrial europeia. Uma comédia mágica onde tudo muda mas continua sempre no mesmo lugar, só que com o dinheiro no meio. Pois os homens desta fita começam presidiários e depois migram às fábricas, operários ou patrões. Ou seja, continuam presos. Curiosamente, as críticas do diretor francês, além de estarem por todos os cantos, explicitam os valores antagônicos a esses criticados, como amizade e amor sem interesse. Uma obra inspiradora - Charles Chaplin que o diga com seu 'Tempos Modernos' (1936) - que machuca o ego de quem tem ganância, esperteza e coragem pra trapacear (pois pra estes o sistema é gentil), trazendo um final infeliz que, milagrosamente, torna-se um alívio. Pois, enfim, em completa liberdade. Está disponível legendado no YouTube.
Compartimento Nº 6
3.8 38Da gélida e contida Finlândia, eis um road movie sobre trilhos que aquece o coração apesar do cenário cheio de neve e temperatura negativa. Duas almas errantes e solitárias, uma estudante finlandesa e um mineiro russo, descobrem que atravessar fronteiras é algo além de metafórico, é primoroso. Ainda mais quando a verdadeira conexão ocorre. Talvez, por isso, o filme é mais pra ser sentido que demonstrado, pois dois recados claros e cristalinos abarrotam os olhos dos espectadores: não se deve julgar as pessoas rapidamente e há humanidade em todos, basta estar disposto a encontrá-la. Entre o frio do clima e o calor das relações humanas, os petróglifos do Ártico se tornam tão importantes e verdadeiros quanto um desenho sincero feito de afeição. Uma boa sessão presente no Prime Video.