Jon Voight e Dustin Hoffman foram dois dos maiores atores que a Nova Hollywood (já velha) viu em cena. Fico aqui imaginando como deve ter sido para Schlesinger dirigi-los numa obra-denúncia B, de baixo orçamento e que tinha claros anseios de representar as ruínas decadentes de uma outrora tão sonhada América.
Ambos imortalizados nos papéis de Joe Buck (Voight), um cowboy texano meio ingênuo que chega em Nova York para se tornar garoto de programa, e Ratzo Rizzo (Hoffman), um rapaz cheio de problemas e que não vê tanta perspectiva de vida na "Grande Maçã".
Um momento sublime na carreira destes dois ícones das artes dramáticas (ok, Voight talvez nem tanto, mas quem se importa?) e que marcou uma geração desiludida e questionadora a respeito da idoneidade ideológica por detrás do "american way of life".
O que parecia improvável, acaba acontecendo: uma amizade nasce ali, entre Buck e Rizzo. Em meio ao caos (físico, espacial, temporal e psicológico de ambos), eles se entregam de tal forma, que a troca, ali conferida, transcende as limitações de suas personagens e de suas falas.
A habilidosa forma com que Schlesinger monta e remonta o arquétipo do herói em Buck é instintivamente perspicaz. A desconstrução é feita diante de nossos olhos e de uma forma comovente. A produção pecou um pouco na montagem e na edição (talvez pelas limitações da época, é verdade), mas nada que desmereça a grandeza da obra ou de sua intenção crítica.
O texto está ali, intacto, e é colocado diante do espectador como uma chaleira que apita e clama por sua atenção, com um sentido de urgência. O filme é de 1969, mas sua crítica não poderia ser mais atual. A esperança está em coma e respira com a ajuda de aparelhos.
Os Estados Unidos sangra o resto do mundo com suas máquinas de poder e guerra, mas também faz sangrar seus próprios filhos. Buck e Rizzo são dois deles. No meio de toda a efervescência da geração beatnik, dos hippies que clamavam por paz e de um contexto geopolítico complexo e cheio de conflitos, a narrativa se desdobra entrelaçando as histórias de seus protagonistas.
Interessante observar como uma das cenas mais emblemáticas do filme, totalmente improvisada por Hoffman enquanto ele e Voight atravessavam uma das ruas de NY e são quase atropelados por um táxi, pode sintetizar toda a crítica social tecida por ele.
Aos berros, Rizzo contesta o taxista: "Ei! Eu estou andando aqui! Eu estou aqui!", ele esbraveja. Os extras, incluindo o taxista, são pessoas reais, não figurantes contratados. Uma escolha artística ousada do diretor que queria trazer uma realidade espontânea para o seu filme.
A cena surgiu inesperadamente e acabou sintetizando e reforçando de forma brilhante o lado trágico de sua personagem. Rizzo não é invisível. Ele está andando ali, ele existe e também faz parte desta metrópole caótica. Cidade dos fanáticos, dos marginalizados, dos solitários, dos discriminados, dos desiludidos.
A metrópole de todos os sonhos e que também é alienante.
Uma cidade de muitos desejos, mas de pouca tolerância.
Um filme escrito por Waldo Salt e que ganha eco pelos enquadramentos latentes de John Schlesinger, que costura sua poesia visual unido à fotografia potente do polonês Adam Holender e uma trilha sonora (que não poderia ser mais gostosa) de John Barry.
Curioso notar que este foi o único filme classificado como x-rated (cuja exibição é recomendada apenas para adultos) a vencer o Oscar na categoria de Melhor Filme. Uma marca histórica que jamais foi desbancada.
O que a gente poderia esperar dos diretores de "Um Cadáver Para Sobreviver"? Eu, particularmente, não havia caído nas graças dos Daniels nesse filme de 2016 e tinha certo receio do que viria neste longa estrelado por Michelle Yeoh, Ke Huy Quan e Jamie Lee Curtis.
Meu receio em relação à nova empreitada dos Daniels não poderia ser mais bobo. Temos aqui um filme brilhante, generoso, criativo e coerente. A melhor parte: um filme que faz pensar e que não subestima a inteligência de quem o assiste.
Uma criança quando se olha pela primeira vez no espelho, ela realiza a si mesma ali naquele momento. Ela se vê e se reconhece; e se dá conta de como é pela primeira vez. Como se comportam os seus cabelos, como piscam os seus olhos, como mexe a sua boca.
Tal qual essa criança que se vê, se reconhece e se realiza diante do espelho pela primeira vez, assim somos nós ao assistir um filme. A tela (seja a telona do cinema ou a telinha da TV) é o nosso espelho psicológico. Ela faz com que a gente se enxergue ali pela primeira vez, se reconheça e se realize a partir de então.
Eis a teoria do espelho.
Não à toa, a noção de multiverso trabalhada pelos diretores começa e termina com a ideia de reflexos em espelhos (ou objetos espelhados). Assistimos ao filme que se desenrola diante de nós através de um espelho, que atravessa e é atravessado por N realidades.
Somos o que vemos no espelho? Ou somos uma projeção de como nos percebemos diante dele? Um retrato fiel de nós mesmos ou uma imagem projetada que queremos transmitir? Ou, ainda, somos um reflexo mal acabado de tudo aquilo que queríamos ser quando atravessamos nossa imagem diante dessa estrutura de vidro plano?
Quantos eus existem dentro de um único eu? Quantas possibilidades existem dentro de nós?
Seja o que for e como for, para toda realidade, existe a fantasia. E o filme nos apresenta isso da seguinte forma: para toda enfermidade, existe a cura. A fantasia é a nossa mais íntima projeção para aquilo que nos é negado em vida.
Não tem jeito. É inerente ao ser humano desejar, almejar, sonhar, fantasiar. Quantos de nós não queríamos ser ou viver algo que, simplesmente, não nos foi possível? Há escapatória para isso? Há solução? Eu acho que não.
Uma bailarina que virou médica. Uma astronauta que virou engenheira. Uma cientista que virou dona de casa. Uma lutadora de Kung Fu que tem uma lavanderia. Uma grande atriz que só conseguiu atuar no maior papel de sua vida: o de ser mãe.
Assim é a vida. Assim somos nós. A cada escolha que fazemos, abre-se uma nova linha do tempo com a nossa não-escolha. E vice-versa. A cada não-escolha, abre-se uma nova linha do tempo no multiverso para aquilo que poderia ter sido.
E é nessa maluquice, estapafúrdia e caótica, que "Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo" se apresenta. Uma infinidade de potencialidades de tudo o que poderia ter sido e não foi. Ou de tudo o que não poderia ter sido e foi.
É um filme que opera em diferentes camadas e dá a oportunidade do espectador entender como ele achar melhor. Ou como ele pode entender e consegue, oferecendo generosamente infinitas possibilidades de interpretação.
Há de tudo um pouco. TDAH, a complexidade da existência, Confúcio, taoísmo, Buda, física quântica, realidades paralelas, Yīnyáng, psicologia, filosofia, depressão, relação maternal, relação conjugal, existencialismo, geopolítica, Bruce Lee… E por aí vai.
Está tudo aqui. Tudo. Em todo lugar. Ao mesmo tempo.
Temos aqui um filme introspectivo, mas, ao mesmo tempo, muito afável. Melancólico, mas solar. Contido, mas carismático. Contemplativo, mas caloroso (por mais paradoxal que isso possa parecer). Aftersun é um filme sobre memórias, sobre texturas, cores, sabores. Sobre afetos e as lembranças mais doces e esquisitas que nós podemos ter de alguém e de algum momento de nossas vidas. É sobre um pai e sua filha. Sobre a relação dos dois durante um curto período de tempo. É sobre encontros e despedidas. Um filme em que "nada" acontece, mas tudo está ali. Sem pretensões, a diretora nos conta sua história, de um modo belo, honesto e comovente. Digamos que encerrei meu 2022 com chave de ouro.
Quais são os limites da fé? De todas as coisas inventadas pelo homem, acho que a fé é a mais inexplicável delas. O que faz o indivíduo ver o que não está lá? Escutar o que não tem voz? Sentir o que não está encarnado? Perguntas para as quais não temos respostas. Pelo menos, nenhuma resposta que não passe pela fé, cujo fenômeno a ciência não consegue explicar e a racionalidade é totalmente incapaz de compreender. . . . Siga minha página de cinema no Instagram: @claquette.ig
Uma dor do passado que não passa. Uma ferida que não se cura. Uma cicatriz permanente que insiste em rememorar a dor. Insiste em doer. E para quem é amaldiçoado com a imortalidade, essa dor é eterna. Dura para sempre. Até que, um dia, ela passa. . . . Siga minha página de cinema no Instagram: @claquette.ig
Quantas consequências uma escolha pode ter? Com quantas delas você seria capaz de lidar? O amor pode ser inventado? Pode ser reinventado? Durante quanto tempo alguém é capaz de viver a vida de outra pessoa? Até que página vai a história que cada um de nós conta? Muitas perguntas. Nenhuma resposta. Assim é a vida. . . . Siga minha página sobre cinema no Insta: @claquette.ig
Os dilemas vividos pelas pessoas desprendidas, mas que guardam a esperança de se reconectar. Dar adeus às coisas do passado que não fazem mais sentido pode ser uma tarefa mais árdua do que parece. E nesse "feliz ano velho" se desembaraça as histórias afetivas guardadas na última gaveta daquela cômoda antiga, esquecida nos porões do coração. . . . Siga minha página sobre cinema no Insta: @claquette.ig
Quando olho para Marilyn Monroe, olho para uma alma fragmentada. Um espírito selvagem que não conheceu a liberdade. Por trás de toda a beleza, de todo o glamour, dos diamantes, havia uma pobre criança presa no corpo estonteante de uma mulher. Uma criança em busca de compreensão, de acolhimento, de aceitação, mas, sobretudo, uma criança em busca de amor. Monroe sempre foi muito mais do que um produto midiático fabricado para promover um estilo de vida decadente. Mais do que um ícone de uma época, de um cinema que não existe mais, ela foi e sempre será o ícone das almas melancólicas. . . . Siga minha página sobre cinema no Insta: @claquette.ig
Os conflitos entre a população e o Estado todos expostos de maneira inquestionável. De um lado, pessoas comuns, pessoas que lutam diariamente, que descem e sobem o morro todos os dias. Do outro, a mão do Estado que afasta e marginaliza, que coloca o povo contra o povo e que, propositalmente, investe pesado para manter as coisas como estão sob o pretexto da guerra ser contra as drogas. . . . Siga minha página sobre cinema no Insta: @claquette.ig
Como é angustiante a sensação que a falta de diálogo pode nos causar. Como é delirante o distanciamento entre as pessoas. O quanto os problemas são reais? O quanto eles são inventados? Eis a consequência da vida frenética, veloz, inalcançável. Entre o instinto de sobrevivência e a desolação da incompreensão do ser existe a família que se parte ao meio. . . . Siga minha página de cinema no Insta: @claquette.ig
Nascer mulher é sofrer. É lutar mil vezes por dia para não morrer. Nascer mulher num mundo absolutamente misógino e machista é um crime. Um crime sem perdão. As irmãs de Madalena que o digam. É um terror, um pesadelo que só as mulheres sabem. Só as mulheres conhecem. Só as mulheres vivem. É inocência ou desonestidade pensar o contrário. . . . Siga minha página de cinema no Insta: @claquette.ig
O erotismo que há no drama. O drama que há no erotismo. Um resgate às intenções. Um olhar sobre olhares cuidadosos. Uma história que se preocupa com as sutilezas e nuances das motivações que conduzem suas personagens. E o sexo, a tensão sexual, no meio de tantas segundas intenções, torna-se quase palpável. . . . Siga minha página de cinema no Insta: @claquette.ig
"Um homem ganancioso não pode possuir coisas, pois é possuído por elas". Eis a máxima de Mizoguchi nesta obra-prima do cinema japonês. A resignação das mulheres numa sociedade misógina e a ganância dos homens que é tão pungente quanto pueril. A inventividade do roteiro que nos prende com alguns do momentos mais angustiantes, belos e sublimes que a Sétima Arte já produziu. Uma experiência. Um marco. . . . Siga minha página sobre cinema no Insta: @claquette.ig
O que convence? A retrospectiva não linear. As memórias embaralhadas do protagonista em relação à sua história amorosa mal resolvida. O dilema vivido por uma pessoa que precisa avançar, mas está presa num passado problemático e inconclusivo. A melancolia que não recorre aos artifícios clichês melodramáticos. A poeira nostálgica que cobre a narrativa. O que não convence? Bom, o fato do filme atravessar 20 anos no tempo, andando para trás, e não se perceber uma mudança muito nítida na personagem que acompanhamos. Não somos o que fomos ontem, muito menos o que fomos há duas décadas. Isso torna a ação dramática um pouco embaraçosa. . . . Siga minha página sobre cinema no Insta: @claquette.ig
Comete um erro aquele que assiste esse filme como se ele não fosse um desenho animado. Sim, eu cometi esse erro. . . . Siga minha página sobre cinema no Insta: @claquette.ig
Dizem que o homem conhece mais sobre o espaço do que os oceanos da Terra. E não é difícil imaginar o porquê. São nas trevas profundas dos mares que Eubank nos faz imergir. E nesse universo paralelo e desconhecido somos apresentados à hipótese mais chocante e imbatível. No entanto, eu gostaria de também ter visto um mergulho psicológico da protagonista em si diante do fim iminente. Esse mergulho não chega, infelizmente. Há apenas o choque físico, o embate animalesco e a fuga pela sobrevivência. . . . Siga minha página sobre cinema no Insta: @claquette.ig
Mais um filme com a esgotada premissa "o homem é o lobo do homem". No entanto, o que difere aqui é o frescor de uma narrativa mais preocupada com as motivações do que com a ações. E o final... aquela sequência final... Poxa, aquilo é um evento. Um espetáculo à parte. . . . Siga minha página sobre cinema no Insta: @claquette.ig
Robert Altman desperdiçou um ótimo elenco contando uma história boba, fraca e absolutamente esquecível. Fiquei com a forte impressão de que ele nem ao menos soube terminá-la. Há uma confusão tão grande sobre o tom que causa um certo constrangimento no espectador mais atento. Existem diversos caminhos que o filme e as personagens vão tomando e nenhum deixam as coisas muito claras. No entanto, é um filme que pode cativar pela nostalgia de uma época mais simples, em que as histórias eram propositalmente pueris e sentiam um certo orgulho nisso. . . . Siga minha página sobre cinema no Insta: @claquette.ig
O primeiro amor da adolescência. Os sentimentos que envolvem e embalam a fase humana mais difícil, incompreensível e amarga. Paul Thomas Anderson faz um resgate não só de uma época, mas também de sensações e de memórias muito intrínsecas que estavam um tanto esquecidas dentro de cada um de nós. O primeiro toque, o primeiro vislumbre de um corpo nu, o primeiro beijo. O amor, realmente, é esse sentimento que não se entende e não há razão que explique. . . . Siga minha página sobre cinema no Insta: @claquette.ig
Os perigos do fanatismo religioso. A hipocrisia que impera num meio absolutamente tóxico e perverso. Tammy Faye foi mais uma vítima de um sistema corrupto, malicioso e nocivo. Uma vítima que, curiosamente, também conseguiu aproveitar algumas regalias desse sistema vil antes de cair em desgraça. Um filme cartesiano e esquemático, mas que possui seu valor como fonte de conscientização de um tema que ainda nos rodeia, infelizmente. Líderes religiosos são falhos como qualquer outro ser humano. Duro é quando alguns deles fingem ser moralmente superiores quando na verdade estão no espectro oposto. . . . Siga minha página sobre cinema no Insta: @claquette.ig
O lúgubre conto de Henry James é abrasileirado, mas não perde sua essência. O horror das pequenas coisas. Dos detalhes. O horror em seu estado natural. Existe algo pior do que estar isolado num casarão com duas crianças temperamentais? Parece-me difícil. E nessa pandemia muitos experimentaram um pouquinho dessa sensação. E esse horror exprime algo que é bem intrínseco e inerente ao ser humano: o instinto de sobrevivência. Podemos nos esquecer deste detalhe, mas somos todos animais. Somos o resultado de uma evolução que levou milênios para ser erguida. E que pode levar apenas alguns segundos para ser destruída. Não tem jeito, o animal que nos habita sempre falará mais alto em algumas situações. E nesse horror das sombras que se projetam sobre a vida, não há racionalidade que resista. . . . Siga minha página sobre cinema no Insta: @claquette.ig
O desejo latente e que faz pulsar a carne também é pungente e dilacerante. O erotismo e a lascívia de um Brasil provinciano, conservador e profundo, que condena até os atos mais castos. O desejo não é racional. Não faz sentido. O desejo, como nos ensinou Fellini, é um sonho. É a potência de alguma coisa. É a vontade inoculada por algo. É uma sensação embaraçosa que fica entre o pensar e o fazer. Entre o ir e o ficar. E nessa construção de fingimentos e de desejos, o vento seco e áspero do tempo nos atinge. E nos acerta em cheio. . . . Siga minha página sobre cinema no Insta: @claquette.ig
Os dilemas mais difíceis no amadurecer de um homem abordados com a leveza de um cinema despreocupado e despretensioso. As dinâmicas entre as relações com os amigos e com a família que se transformam e se movem para um lugar desconhecido e irregular. A fase da qual todos falam e a qual todos vivem, mas que ninguém consegue escrever um manual para ela. Adolescer é adoecer. É morrer e ressuscitar todos os dias. É vergonha que se passa e se faz passar. É o rompimento de todas as regras aprendidas na infância. É o descumprimento de todas as regras que serão estabelecidas na fase adulta. É o tosco e o grotesco andando juntos, de mãos dadas. É se anular para ser aceito. É ser aceito para se descobrir. É cair na zona da amizade mil vezes por dia. É acreditar na imortalidade. . . . Siga minha página sobre cinema no Insta: @claquette.ig
Perdidos na Noite
4.2 322 Assista AgoraPerdidos na Noite (1969)
Jon Voight e Dustin Hoffman foram dois dos maiores atores que a Nova Hollywood (já velha) viu em cena. Fico aqui imaginando como deve ter sido para Schlesinger dirigi-los numa obra-denúncia B, de baixo orçamento e que tinha claros anseios de representar as ruínas decadentes de uma outrora tão sonhada América.
Ambos imortalizados nos papéis de Joe Buck (Voight), um cowboy texano meio ingênuo que chega em Nova York para se tornar garoto de programa, e Ratzo Rizzo (Hoffman), um rapaz cheio de problemas e que não vê tanta perspectiva de vida na "Grande Maçã".
Um momento sublime na carreira destes dois ícones das artes dramáticas (ok, Voight talvez nem tanto, mas quem se importa?) e que marcou uma geração desiludida e questionadora a respeito da idoneidade ideológica por detrás do "american way of life".
O que parecia improvável, acaba acontecendo: uma amizade nasce ali, entre Buck e Rizzo. Em meio ao caos (físico, espacial, temporal e psicológico de ambos), eles se entregam de tal forma, que a troca, ali conferida, transcende as limitações de suas personagens e de suas falas.
A habilidosa forma com que Schlesinger monta e remonta o arquétipo do herói em Buck é instintivamente perspicaz. A desconstrução é feita diante de nossos olhos e de uma forma comovente. A produção pecou um pouco na montagem e na edição (talvez pelas limitações da época, é verdade), mas nada que desmereça a grandeza da obra ou de sua intenção crítica.
O texto está ali, intacto, e é colocado diante do espectador como uma chaleira que apita e clama por sua atenção, com um sentido de urgência. O filme é de 1969, mas sua crítica não poderia ser mais atual. A esperança está em coma e respira com a ajuda de aparelhos.
Os Estados Unidos sangra o resto do mundo com suas máquinas de poder e guerra, mas também faz sangrar seus próprios filhos. Buck e Rizzo são dois deles. No meio de toda a efervescência da geração beatnik, dos hippies que clamavam por paz e de um contexto geopolítico complexo e cheio de conflitos, a narrativa se desdobra entrelaçando as histórias de seus protagonistas.
Interessante observar como uma das cenas mais emblemáticas do filme, totalmente improvisada por Hoffman enquanto ele e Voight atravessavam uma das ruas de NY e são quase atropelados por um táxi, pode sintetizar toda a crítica social tecida por ele.
Aos berros, Rizzo contesta o taxista: "Ei! Eu estou andando aqui! Eu estou aqui!", ele esbraveja. Os extras, incluindo o taxista, são pessoas reais, não figurantes contratados. Uma escolha artística ousada do diretor que queria trazer uma realidade espontânea para o seu filme.
A cena surgiu inesperadamente e acabou sintetizando e reforçando de forma brilhante o lado trágico de sua personagem. Rizzo não é invisível. Ele está andando ali, ele existe e também faz parte desta metrópole caótica. Cidade dos fanáticos, dos marginalizados, dos solitários, dos discriminados, dos desiludidos.
A metrópole de todos os sonhos e que também é alienante.
Uma cidade de muitos desejos, mas de pouca tolerância.
Um filme escrito por Waldo Salt e que ganha eco pelos enquadramentos latentes de John Schlesinger, que costura sua poesia visual unido à fotografia potente do polonês Adam Holender e uma trilha sonora (que não poderia ser mais gostosa) de John Barry.
Curioso notar que este foi o único filme classificado como x-rated (cuja exibição é recomendada apenas para adultos) a vencer o Oscar na categoria de Melhor Filme. Uma marca histórica que jamais foi desbancada.
Tudo em Todo O Lugar ao Mesmo Tempo
4.0 2,1K Assista AgoraTudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo (2022)
O que a gente poderia esperar dos diretores de "Um Cadáver Para Sobreviver"? Eu, particularmente, não havia caído nas graças dos Daniels nesse filme de 2016 e tinha certo receio do que viria neste longa estrelado por Michelle Yeoh, Ke Huy Quan e Jamie Lee Curtis.
Meu receio em relação à nova empreitada dos Daniels não poderia ser mais bobo. Temos aqui um filme brilhante, generoso, criativo e coerente. A melhor parte: um filme que faz pensar e que não subestima a inteligência de quem o assiste.
Uma criança quando se olha pela primeira vez no espelho, ela realiza a si mesma ali naquele momento. Ela se vê e se reconhece; e se dá conta de como é pela primeira vez. Como se comportam os seus cabelos, como piscam os seus olhos, como mexe a sua boca.
Tal qual essa criança que se vê, se reconhece e se realiza diante do espelho pela primeira vez, assim somos nós ao assistir um filme. A tela (seja a telona do cinema ou a telinha da TV) é o nosso espelho psicológico. Ela faz com que a gente se enxergue ali pela primeira vez, se reconheça e se realize a partir de então.
Eis a teoria do espelho.
Não à toa, a noção de multiverso trabalhada pelos diretores começa e termina com a ideia de reflexos em espelhos (ou objetos espelhados). Assistimos ao filme que se desenrola diante de nós através de um espelho, que atravessa e é atravessado por N realidades.
Somos o que vemos no espelho? Ou somos uma projeção de como nos percebemos diante dele? Um retrato fiel de nós mesmos ou uma imagem projetada que queremos transmitir? Ou, ainda, somos um reflexo mal acabado de tudo aquilo que queríamos ser quando atravessamos nossa imagem diante dessa estrutura de vidro plano?
Quantos eus existem dentro de um único eu? Quantas possibilidades existem dentro de nós?
Seja o que for e como for, para toda realidade, existe a fantasia. E o filme nos apresenta isso da seguinte forma: para toda enfermidade, existe a cura. A fantasia é a nossa mais íntima projeção para aquilo que nos é negado em vida.
Não tem jeito. É inerente ao ser humano desejar, almejar, sonhar, fantasiar. Quantos de nós não queríamos ser ou viver algo que, simplesmente, não nos foi possível? Há escapatória para isso? Há solução? Eu acho que não.
Uma bailarina que virou médica. Uma astronauta que virou engenheira. Uma cientista que virou dona de casa. Uma lutadora de Kung Fu que tem uma lavanderia. Uma grande atriz que só conseguiu atuar no maior papel de sua vida: o de ser mãe.
Assim é a vida. Assim somos nós. A cada escolha que fazemos, abre-se uma nova linha do tempo com a nossa não-escolha. E vice-versa. A cada não-escolha, abre-se uma nova linha do tempo no multiverso para aquilo que poderia ter sido.
E é nessa maluquice, estapafúrdia e caótica, que "Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo" se apresenta. Uma infinidade de potencialidades de tudo o que poderia ter sido e não foi. Ou de tudo o que não poderia ter sido e foi.
É um filme que opera em diferentes camadas e dá a oportunidade do espectador entender como ele achar melhor. Ou como ele pode entender e consegue, oferecendo generosamente infinitas possibilidades de interpretação.
Há de tudo um pouco. TDAH, a complexidade da existência, Confúcio, taoísmo, Buda, física quântica, realidades paralelas, Yīnyáng, psicologia, filosofia, depressão, relação maternal, relação conjugal, existencialismo, geopolítica, Bruce Lee… E por aí vai.
Está tudo aqui. Tudo. Em todo lugar. Ao mesmo tempo.
Aftersun
4.1 709Temos aqui um filme introspectivo, mas, ao mesmo tempo, muito afável. Melancólico, mas solar. Contido, mas carismático. Contemplativo, mas caloroso (por mais paradoxal que isso possa parecer). Aftersun é um filme sobre memórias, sobre texturas, cores, sabores. Sobre afetos e as lembranças mais doces e esquisitas que nós podemos ter de alguém e de algum momento de nossas vidas. É sobre um pai e sua filha. Sobre a relação dos dois durante um curto período de tempo. É sobre encontros e despedidas. Um filme em que "nada" acontece, mas tudo está ali. Sem pretensões, a diretora nos conta sua história, de um modo belo, honesto e comovente. Digamos que encerrei meu 2022 com chave de ouro.
A Canção de Bernadette
4.0 55 Assista AgoraQuais são os limites da fé? De todas as coisas inventadas pelo homem, acho que a fé é a mais inexplicável delas. O que faz o indivíduo ver o que não está lá? Escutar o que não tem voz? Sentir o que não está encarnado? Perguntas para as quais não temos respostas. Pelo menos, nenhuma resposta que não passe pela fé, cujo fenômeno a ciência não consegue explicar e a racionalidade é totalmente incapaz de compreender.
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A Espada do Imortal
3.3 90Uma dor do passado que não passa. Uma ferida que não se cura. Uma cicatriz permanente que insiste em rememorar a dor. Insiste em doer. E para quem é amaldiçoado com a imortalidade, essa dor é eterna. Dura para sempre. Até que, um dia, ela passa.
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Tigertail
3.6 47 Assista AgoraQuantas consequências uma escolha pode ter? Com quantas delas você seria capaz de lidar? O amor pode ser inventado? Pode ser reinventado? Durante quanto tempo alguém é capaz de viver a vida de outra pessoa? Até que página vai a história que cada um de nós conta? Muitas perguntas. Nenhuma resposta. Assim é a vida.
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Happy Old Year
4.0 46Os dilemas vividos pelas pessoas desprendidas, mas que guardam a esperança de se reconectar. Dar adeus às coisas do passado que não fazem mais sentido pode ser uma tarefa mais árdua do que parece. E nesse "feliz ano velho" se desembaraça as histórias afetivas guardadas na última gaveta daquela cômoda antiga, esquecida nos porões do coração.
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O Mistério de Marilyn Monroe: Gravações Inéditas
3.2 69Quando olho para Marilyn Monroe, olho para uma alma fragmentada. Um espírito selvagem que não conheceu a liberdade. Por trás de toda a beleza, de todo o glamour, dos diamantes, havia uma pobre criança presa no corpo estonteante de uma mulher. Uma criança em busca de compreensão, de acolhimento, de aceitação, mas, sobretudo, uma criança em busca de amor. Monroe sempre foi muito mais do que um produto midiático fabricado para promover um estilo de vida decadente. Mais do que um ícone de uma época, de um cinema que não existe mais, ela foi e sempre será o ícone das almas melancólicas.
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Morro dos Prazeres
3.3 14Os conflitos entre a população e o Estado todos expostos de maneira inquestionável. De um lado, pessoas comuns, pessoas que lutam diariamente, que descem e sobem o morro todos os dias. Do outro, a mão do Estado que afasta e marginaliza, que coloca o povo contra o povo e que, propositalmente, investe pesado para manter as coisas como estão sob o pretexto da guerra ser contra as drogas.
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A Sun
4.0 65Como é angustiante a sensação que a falta de diálogo pode nos causar. Como é delirante o distanciamento entre as pessoas. O quanto os problemas são reais? O quanto eles são inventados? Eis a consequência da vida frenética, veloz, inalcançável. Entre o instinto de sobrevivência e a desolação da incompreensão do ser existe a família que se parte ao meio.
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Em Nome de Deus
4.1 254 Assista AgoraNascer mulher é sofrer. É lutar mil vezes por dia para não morrer. Nascer mulher num mundo absolutamente misógino e machista é um crime. Um crime sem perdão. As irmãs de Madalena que o digam. É um terror, um pesadelo que só as mulheres sabem. Só as mulheres conhecem. Só as mulheres vivem. É inocência ou desonestidade pensar o contrário.
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Desejo e Perigo
3.9 108 Assista AgoraO erotismo que há no drama. O drama que há no erotismo. Um resgate às intenções. Um olhar sobre olhares cuidadosos. Uma história que se preocupa com as sutilezas e nuances das motivações que conduzem suas personagens. E o sexo, a tensão sexual, no meio de tantas segundas intenções, torna-se quase palpável.
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Contos da Lua Vaga
4.4 105 Assista Agora"Um homem ganancioso não pode possuir coisas, pois é possuído por elas". Eis a máxima de Mizoguchi nesta obra-prima do cinema japonês. A resignação das mulheres numa sociedade misógina e a ganância dos homens que é tão pungente quanto pueril. A inventividade do roteiro que nos prende com alguns do momentos mais angustiantes, belos e sublimes que a Sétima Arte já produziu. Uma experiência. Um marco.
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Não Devíamos Ter Crescido
3.5 18 Assista AgoraO que convence? A retrospectiva não linear. As memórias embaralhadas do protagonista em relação à sua história amorosa mal resolvida. O dilema vivido por uma pessoa que precisa avançar, mas está presa num passado problemático e inconclusivo. A melancolia que não recorre aos artifícios clichês melodramáticos. A poeira nostálgica que cobre a narrativa. O que não convence? Bom, o fato do filme atravessar 20 anos no tempo, andando para trás, e não se perceber uma mudança muito nítida na personagem que acompanhamos. Não somos o que fomos ontem, muito menos o que fomos há duas décadas. Isso torna a ação dramática um pouco embaraçosa.
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O Monge Desce A Montanha
3.1 27 Assista AgoraComete um erro aquele que assiste esse filme como se ele não fosse um desenho animado. Sim, eu cometi esse erro.
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Ameaça Profunda
3.0 629 Assista AgoraDizem que o homem conhece mais sobre o espaço do que os oceanos da Terra. E não é difícil imaginar o porquê. São nas trevas profundas dos mares que Eubank nos faz imergir. E nesse universo paralelo e desconhecido somos apresentados à hipótese mais chocante e imbatível. No entanto, eu gostaria de também ter visto um mergulho psicológico da protagonista em si diante do fim iminente. Esse mergulho não chega, infelizmente. Há apenas o choque físico, o embate animalesco e a fuga pela sobrevivência.
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Caçada
3.2 104 Assista AgoraMais um filme com a esgotada premissa "o homem é o lobo do homem". No entanto, o que difere aqui é o frescor de uma narrativa mais preocupada com as motivações do que com a ações. E o final... aquela sequência final... Poxa, aquilo é um evento. Um espetáculo à parte.
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Contato
4.1 804 Assista Agora"Não deviam ter enviado uma cientista. Deviam ter enviado um poeta"
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A Fortuna de Cookie
3.1 17 Assista AgoraRobert Altman desperdiçou um ótimo elenco contando uma história boba, fraca e absolutamente esquecível. Fiquei com a forte impressão de que ele nem ao menos soube terminá-la. Há uma confusão tão grande sobre o tom que causa um certo constrangimento no espectador mais atento. Existem diversos caminhos que o filme e as personagens vão tomando e nenhum deixam as coisas muito claras. No entanto, é um filme que pode cativar pela nostalgia de uma época mais simples, em que as histórias eram propositalmente pueris e sentiam um certo orgulho nisso.
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Licorice Pizza
3.5 597O primeiro amor da adolescência. Os sentimentos que envolvem e embalam a fase humana mais difícil, incompreensível e amarga. Paul Thomas Anderson faz um resgate não só de uma época, mas também de sensações e de memórias muito intrínsecas que estavam um tanto esquecidas dentro de cada um de nós. O primeiro toque, o primeiro vislumbre de um corpo nu, o primeiro beijo. O amor, realmente, é esse sentimento que não se entende e não há razão que explique.
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Os Olhos de Tammy Faye
3.3 177 Assista AgoraOs perigos do fanatismo religioso. A hipocrisia que impera num meio absolutamente tóxico e perverso. Tammy Faye foi mais uma vítima de um sistema corrupto, malicioso e nocivo. Uma vítima que, curiosamente, também conseguiu aproveitar algumas regalias desse sistema vil antes de cair em desgraça. Um filme cartesiano e esquemático, mas que possui seu valor como fonte de conscientização de um tema que ainda nos rodeia, infelizmente. Líderes religiosos são falhos como qualquer outro ser humano. Duro é quando alguns deles fingem ser moralmente superiores quando na verdade estão no espectro oposto.
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Através da Sombra
2.3 61 Assista AgoraO lúgubre conto de Henry James é abrasileirado, mas não perde sua essência. O horror das pequenas coisas. Dos detalhes. O horror em seu estado natural. Existe algo pior do que estar isolado num casarão com duas crianças temperamentais? Parece-me difícil. E nessa pandemia muitos experimentaram um pouquinho dessa sensação. E esse horror exprime algo que é bem intrínseco e inerente ao ser humano: o instinto de sobrevivência. Podemos nos esquecer deste detalhe, mas somos todos animais. Somos o resultado de uma evolução que levou milênios para ser erguida. E que pode levar apenas alguns segundos para ser destruída. Não tem jeito, o animal que nos habita sempre falará mais alto em algumas situações. E nesse horror das sombras que se projetam sobre a vida, não há racionalidade que resista.
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Vento Seco
3.2 91O desejo latente e que faz pulsar a carne também é pungente e dilacerante. O erotismo e a lascívia de um Brasil provinciano, conservador e profundo, que condena até os atos mais castos. O desejo não é racional. Não faz sentido. O desejo, como nos ensinou Fellini, é um sonho. É a potência de alguma coisa. É a vontade inoculada por algo. É uma sensação embaraçosa que fica entre o pensar e o fazer. Entre o ir e o ficar. E nessa construção de fingimentos e de desejos, o vento seco e áspero do tempo nos atinge. E nos acerta em cheio.
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Acne
2.7 16Os dilemas mais difíceis no amadurecer de um homem abordados com a leveza de um cinema despreocupado e despretensioso. As dinâmicas entre as relações com os amigos e com a família que se transformam e se movem para um lugar desconhecido e irregular. A fase da qual todos falam e a qual todos vivem, mas que ninguém consegue escrever um manual para ela. Adolescer é adoecer. É morrer e ressuscitar todos os dias. É vergonha que se passa e se faz passar. É o rompimento de todas as regras aprendidas na infância. É o descumprimento de todas as regras que serão estabelecidas na fase adulta. É o tosco e o grotesco andando juntos, de mãos dadas. É se anular para ser aceito. É ser aceito para se descobrir. É cair na zona da amizade mil vezes por dia. É acreditar na imortalidade.
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