O Rei, novo filme da Netflix, é um filme sobre a passagem da vida adulta, antes de ser um épico de guerra ou história. Isso explica o motivo da escolha de Timothée Chalamet para o papel de Henrique V. O físico e a aparência do ator acentuam as característica adolescente do personagem. O roteiro segue um caminho já percorrido por outros filmes, a negação a coroa, a aceitação da responsabilidade e a perda. Todos estão falando da atuação do futuro Batman, Robert Pattinson, mas esqueceram de mencionar Joel Edgerton, que produz e roteiriza o filme e determinados momentos divide o protagonismo da obra com Timothée. O ponto fraco do filme é não surpreender, não nos provocar incomodo, a história passa, mesmo no ponto alto do roteiro, nos mantemos tranquilos. Enquanto o ponto forte é a direção habilidosa de David Michôd
Eddie Murphy é um ator da minha infância, não lembro de todos os filmes que assisti, mas lembro que não foram poucos. A nova obra disponível na #netflix é um retorno excelente, após um tempo longe das telas. Murphy encarna Rudy Ray Moore, um comediante que faz de tudo um pouco no entretenimento, um pioneiro no humor sexualmente e do Rap. O personagem possui o mesmo arquétipo do Saul de Better Call Saul ou do João Grilo, no Alto da compadecida. Trabalhadores precarizados ou lúmpens que dependem da criatividade e inteligência para viver. Saul e João Grilo aplicam golpes, não são más pessoas, mas se esforçam para tentar conseguir viver. Rudy ou Dolemite, como é conhecido vive na legalidade, mas possui o mesmo espirito de não se dar por vencido, de receber não atrás de não e conseguir dar volta por cima. Nesse sentido a escolha do príncipe de Nova York para interpretar o personagem foi um grande acerto, Eddie Murphy sempre interpretou seus personagens de uma forma caricata, sempre levou para cada atuação um pouco de si. Dolemite cria um personagem, mas também leva um pouco de si. Em muito atores isso é um problema, pois toda a atuação parece a mesma, mas em Murphy não, pois esperemos ver ele fazendo isso, pois isso no cativa como cativava os fã de Dolemite.
O filme Ad Astra tem umas coisas legais sobre astronomia. Primeiro ir para Marte por meio da lua, uma ideia discutida pela Nasa, pois a Lua possui um minério que poderia ser usado como combustível. A tecnologia utilizada também é interessante, pois é algo possível dentro uma sociedade capitalista com recursos disponíveis para investir. Agora, o mais interessante é o fato de não existir vida inteligente no espaço. Aqui é a parte mais bonita do filme. Quando pensamos no acidente que gerou a vida como produto de uma causalidade da matéria no universo, podemos nos sentir só, mas religiosamente ou poeticamente podemos nos ver como um milagre. Toda a vida, arte e descoberta que fizemos aqui é única e tem o tamanho de um grão de areia.Um problema do filme é que o homem vai ao espaço levando consigo a barbárie, o que não acho que seja possível. Só conseguiremos explorar o espaço quando resolvemos problemas básicos da humanidade comida, saúde, trabalho, moradia. Enquanto isso, nossas cinco viagens a lua serão o grande ponto alto de nossa missão espacial, talvez um pouso em marte, mas nada grandioso...
Eu teria que assisti alguns ep de Breaking Bad novamente, mas lembro de Jesse Pinkman como alguém tido por sua família como fracassado, um zé-droguinha. Boa pessoa, mas sem objetivo na vida. É engraçado quando o White lhe propõe entrar em uma faculdade e ele diz querer fazer Medicina Esportiva. Isso soa ingenuo, mas sincero. Pinkman é desde o início uma pessoa de bom coração, enganado e maltratado por todos. Ao contrário de White, que se transforma em gangster frio e calculista, Jesse se torna mais miserável, mais triste. Quando ele foge no ep final da série aos gritos enquanto acelera o carro,vemos a dor de quem queria apagar todo o sofrimento vivido até ali. O filme não é uma redenção do personagem, ele não está melhor ao fim. Jesse continua sem perspectiva na vida e tudo que deseja é fugir para algum lugar onde talvez possa recomeçar...Me senti no lugar dele, sem esperança. Quando começou a série, ele podia não ter perspectivas, mas era alguém feliz, ao fim, ele não tinha esperança nenhuma. Não era mais um zé-droguinha, mas nem era feliz. Sinceramente, tive vontade de chorar e senti saudade da série.
Eisenstein dizia que a verdadeira arte deveria revelar as contradições do ser. Maravilhosa sra. Masiel é uma série dispostas a explorar essas contradições. Uma mulher da elite judia de Nova York, mãe de dois filhos é deixada pelo marido e em meio a um surto de tristeza vai a um bar de comédia e se apresenta extremamente bêbada. Conta como não é ruim de cama, fala de todos os sacrifícios que fazia para fazê-lo feliz e demonstra o imenso desalento por tê-la trocado por uma secretária que não sabe apontar um lápis. Masiel ri e faz rir em um momento qual ela queria muito chorar e gritar. A partir desse dia, ela e a amiga vão tentar torná-la comediante. Masiel ter uma família rica é o que lhe permite ir em busca do sonho, isso também a coloca em choque com a moral do ex-marido, amigos e pais. Afinal, mesmo tendo se formado na universidade, ela foi educada e criada para ser mãe, esse era o seu trabalho. Era para isso que ela se dedicava cotidianamente. Ser mulher de família inclua estar sempre bela, comer pouco, cuidar dos filhos e todas as coisas do lar. A separação lhe tira a felicidade, qual imaginava ser o paraíso, mas lhe empurra para uma vida de bares, trabalho e festas. Algo nada "adequado" para uma mulher de família na década de 50. Esse choque entre uma mulher judia educada para ser mãe e uma comediante stand up é o mais interessante e o que torna a primeira temporada excelente. Como a mãe de Masiel perde o sentido de sua vida conforme ela e o pai se ocupam mais. Como o marido de Masiel percebe que o problema dele era estar ofuscado pelo brilho da moça, não só por ser bonita e inteligente, mas por ser uma comediante muito melhor. Como mesmo tendo uma vida de sucesso pela frente, ela se questiona em retornar para a vida antiga. São essas possibilidades, ir ao âmago do ser, em expor e colocar em choque que torna a série uma boa surpresa.
Isso não é uma crítica, apenas um comentário um pouco... extenso.
Na memória de infância do cineasta, Toritama era uma pacata cidade do nordeste brasileiro formada por agricultores e criadores de cabras. Hoje é muito diferente. O silêncio e o sedentarismo foram substituídos pelo barulho das máquinas de costura e pela correria do comércio. Toritama é uma grande oficina de jeans. Para onde você olha tem alguém costurando, carregando calças ou dando acabamento nas roupas. Não existe descanso nem silêncio. O movimento é intenso e repetitivo.
O trabalho, antes visto como meio de subsistência, agora é sonho de enriquecimento. Crianças brincam no meio das máquinas, enquanto as mães costuram. Dia e noite elas trabalham. Quando questionados sobre as “vantagens” do trabalho com o jeans, as operárias e os operários justificam a “liberdade” no horário e o trabalho em abundância. Uma costureira cita o fato de poder ir almoçar, tomar café e jantar em casa, mas não percebe que nessa ida e volta, ela acaba fazendo uma jornada de 12 horas ou mais.
O filme é rodado com base nas ideias de Marcelo Gomes sobre a vida em Toritama. Toda a narração em off tenta orientar o significado da obra para o pensamento do autor e não dos moradores. O documentário expõe então uma contradição entre a fala dos entrevistados e o discurso em off de Gomes. Ele vê a corrida do jeans como o fim do paraíso de sua infância, enquanto os trabalhadores veem a riqueza e oportunidade. Eles possuem uma felicidade miserável, mas ainda assim uma felicidade, o cineasta apenas o saudosismo.
Essa contradição é clara na forma como o cineasta narra o carnaval e como os entrevistados falam da festa. Para ele, é o momento qual os trabalhadores estão desesperados para fugir do “inferno” das máquinas de costura. O filme mostra então as pessoas vendendo TV, geladeira, fogão e até motocicletas para poder aproveitar o feriado na praia. Isso parece desesperador para nós, que como o cineasta somos pessoas de fora, mas se analisarmos bem isso é normal para eles.
Não estou defendendo o modo de vida atual de Toritama, nem menosprezando a vida camponesa das lembranças do cineasta. Os moradores da pequena cidade do interior viviam a seca do nordeste como agricultores ou criadores de cabra e hoje vivem a correria do trabalho industrial com as maquinas de costura. Sinceramente, não é fácil optar pelo “melhor” nesse caso.
Agora, minha crítica ao cineasta é o fato de com a montagem, a voz off e a forma como conduziu o documentário fazer um direcionamento qual a imagem não avaliza. Gomes coloca o passado da infância como um paraíso perdido de felicidade e o presente cheio de pessimismo. O único momento qual parece mudar esse ponto de vista e ver a cidade de forma mais feliz é quando ela está vazia, quando todos viajam.
O documentário, como o próprio nome diz, pretende ser um documento audiovisual, mas assim como um texto escrito, o estilo e a forma impõem uma percepção diferente da realidade. A arte não tem obrigação em produzir verdades-factuais, mas isso não significa que ela deva mascarar a realidade. O filme documental pode ser uma obra histórica ou jornalística e, ainda, artística.
E é nesse ponto que Estou Me Guardando Pra Quando O Carnaval Chegar erra a mão. Gomes tenciona o filme para um lado, enquanto os entrevistados para outro. As contradições entram em choque e não somam valor a obra. O documentário deve ouvir e expor aquilo que é verdadeiro, mesmo quando isso não nos agrada. Gomes vive o saudosismo da infância, mas o povo de Toritama não, eles não parecem nenhum um pouco triste com a vida atual, mesmo parecendo miseráveis aos nossos olhos.
O Bar Luva Dourada é baseado em um livro de Heinz Strunk sobre Fritz Honka, um serial killer que matava mulheres solitárias, em Hamburgo, na Alemanha. As vítimas eram senhoras idosas frequentadoras do bar que nomeia o filme. Como não era bonito, nem muito sociável, Honka aproveitava do álcool e da carência das mulheres. As vítimas eram “convidadas” a irem ao seu minúsculo apartamento, onde eram assassinadas e esquartejadas.
Honka era frustrado por não conseguir realizar seus desejos sexuais com mulheres jovens e belas, então as substituía pelas idosas carentes e alcoolatras. Quando a frustração atingia a consciência, ele explodia em fúria e assassinava as mulheres. A impulsão dos assassinatos era o ódio e a impotência em não conseguir quem ele queria. O serial killer odiava sua vida e se sentia humilhado ao transar com as idosas, essa vergonha o motivava a cometer os crimes e a beber.
O psicopata é um escravo do desejo, não importa quanto a moral ou leis tentem lhe convencer do contrário, nada vai impedir de cometer os crimes. Vemos isso quando ele bate com a cabeça de umas das vitimas em uma explosão de raiva ou quando agarra a colega de trabalho, não há limites. A bebida sempre é um elemento de ebulição, mas a sobriedade nunca lhe provoca arrependimento.
A bebida, diga se de passagem, é quase um personagem no filme, nenhum encontro ou socialização é feito sem que os personagens estejam bêbados. Isso nos provoca um sentimento depressivo, pois ninguém parece beber por estar feliz, bebem para esquecer. Mesmo em um bar, rodeado de pessoas o sofrimento não pode ser compartilhado e o álcool é seu principal anestésico.
Tristeza e solidão ganham vida nas cenas com os personagens do Bar Luva Dourada, qual todos os frequentadores são idosos e nenhum possui uma aparência amistosas. Sentimos um estranhamento e uma confusão entre pena e o asco. Essa sensação acompanha o filme, ao mesmo tempo que nos compadecemos das vítimas, temos um certo afastamento delas pela sujeira e miséria de suas vidas.
É interessante como esse sentimento muda, quando vemos Jonas Dassler sem a maquiagem de Fritz Honka. O serial Killer interpretado por Dassler, era vesgo, tinha o nariz achatado e meio corcunda. O filme parece piorar a aparência do personagem ainda mais, além disso, o jeito como o ator fala, respira e se movimenta ajudam a compor a imagem não apenas de um assassino feio, mas de um monstro.
A intenção do cineasta alemão Faith Akin ao adaptar a vida de um serial Killer parece ser criar uma realidade grotesca, estranhar e provocar o espectador. Uma das características de akin é a temática do imigrante na Alemanha, algo não visto em seu novo filme, exceto pela xenofobia do personagem principal.
Em entrevista ao Jornal Zero Hora, o diretor disse ter feito um filme para se expressar, sem pensar muito e estar ficando velho, ou seja, querer mudar. Akin parece interessado na expressão do desconforto, do grotesco, não se importando o quanto isso agrada ou não seu público. O cineasta parece buscar um novo caminho para falar de uma outra realidade mais aterrorizante
A sensação, ao terminar a primeira temporada de Dark, é desoladora. Sentimos nosso chão ruir e ficamos desamparados. Todos parecem andarilhos no escuro, sem lugar no tempo e no espaço, perdidos no labirinto. Não importa quem o fez, fará ou faz, tudo ficará igual, e ter consciência disso é assustador.
Dos personagens, quem mais se encaixa no perfil de andarilho é Jonas Kahnwald, interpretado por Louis Hofmann. É o mais solitário e o mais angustiado por respostas. A atmosfera escura e fria da fotografia destaca o casaco amarelo do jovem e enfatiza esse isolamento. Na floresta, na escola, na casa ou em meio aos outros personagens, a imagem dele sempre se sobressai, não por estar guiando ou iluminando com a cor, mas por estar sozinho.
Quando ao fim de alguns episódios os personagens olham para o horizonte, o olhar não é de esperança, mas de abandono e desespero. Deus é apenas uma figura mitológica na série e os textos bíblicos servem como metáforas para explicar as descobertas científicas, mas a ciência não é exata. Nem tem o monopólio da verdade como a religião, isso os deixa ainda mais sem rumo, pois ninguém parece poder ajudar.
Não existe confiança em Winden, cidade onde passa a série, ninguém parece acreditar no outro e a família é o berço de todos os conflitos. Toda a conspiração, crimes e mortes estão ligados por laços de sangue. Os personagens não escolhem o destino ao qual estão conectados, como não escolhemos quando nascemos. A angústia de Jonas, o desespero de Ulrich e a loucura de Helge são sintomas da consciência desse destino.
A filosofía de Nietzsche e a teorías científicas sobre viagem no tempo embasam a série, mas esses não são os questionamentos que movem a trama. Descobrir respostas e a viagem no tempo são maneiras de consertar as vidas de cada personagem. O grande problema de Ulrich, por exemplo, é um problema moral, não filosófico nem científico. Jonas prefere se afastar de sua ex-namorada e de seus amigos, também por questões morais.
O questionamento sobre o limite para nossas ações é uma das bases da série. Caso pudéssemos voltar no tempo, poderíamos fazer qualquer coisa? O quanto nossas ações influenciariam na vida de outras e o quanto coisas ruins ou boas tiveram consequências diferentes devido as escolhas certas e erradas feitas por nós.
Ao mesmo tempo que a série questiona os limites das nossas ações, ela também duvida dos valores do ser humano. Se tudo está conectado e todas as ações estão predestinadas, qual o motivo de tentarmos mudar tudo?
Ao fim, a série, criada por Baran bo Odar e roteirizada por Jantje Friese, responde muitas questões apresentada
Fleabang – 1º Temporada- Crítica O trabalho do ator é mudar de corpo. Apagar a si próprio, quando interpreta. Aí, está a grande dificuldade de muitos: como ser outro, sem carregar algo de nós mesmos? Phoebe Waller-Bridge responde isso em Fleabang. Mesmo tendo inspirado a série em sua vida, ela consegue apagar sua personalidade quando interpreta, consegue nos dar algo novo, sem ser somente ela diante da tela.
Percebemos isso durante todos os episódios, quando olha para câmera e comenta a trama, não é a mesma personagem que vive a cena. O olhar, o sorriso, as sobrancelhas mexendo, não são as mesmas. Além de nos tornar confidentes com a “quebra da quarta parede”, Fleabang nos mostra seus pensamentos, seus medos e dúvidas. Ao olhar para a câmera, a personagem exibe seu alter ego e nos convida a entrar na cabeça da personagem.
Apesar do olhar de Fleabang para a câmera recordar o Frank Underwood de Kevin Spacey, os dois personagens são bem diferentes. Space, quando olhava para a câmera, era apenas Frank falando com o espectador. Quando Fleabang fala, é seu alter ego, outro personagem. Existe outra diferença, Phoebe Waller-Bridge criou a série baseada em um monólogo, o centro do texto era o olhar para a plateia.
A atriz consegue, assim, criar a ilusão de um personagem, apagando a si mesma em cena e quebrando isso a todo momento, quando comenta a ação. Mesmo assim, a quebra é algo interno à trama, não busca lembrar o espectador de estar vendo uma obra de ficção. A quebra aumenta a expectativa no por vir, instiga curiosidade, nos dá fôlego.
O ponto de vista feminino
A motivação da dramaturga, atriz, roteirista e produtora para a peça e a série é desmistificar o papel da mulher na ficção.
Ou seja, a obra é o ponto de vista feminino sobre problemas universais como relacionamentos, frustração sexual, profissional e conflitos familiares. Temos milhares de série do tipo retratada com homens, mas o que faz Fleabag ser uma experiência boa, não é apenas o olhar feminino, mas a originalidade desse olhar.
Logo no primeiro episódio, quando a uma palestrante pergunta quantas mulheres dariam 5 anos de sua vida para ter o corpo perfeito, Fleabag e sua irmã levantam as mãos. As duas abaixam logo em seguida com o comentário da personagem em meio a olhares de reprovação: “somos más feministas”.
Em uma palestra feminista, paga pelo pai das duas, elas reconhecem querer trocar de corpo, reconhecem não gostar do que são e querer mudar. E esse é ponto qual torna a série excelente, Phoebe Waller-Bridge não encaixa a personagem em uma ideologia, mas mostra sua luta por se adequar à ideologia qual ela acredita.
Eles vivem é um filme muito divertido de John Carpenter, pois nos ajuda a imaginar uma sociedade aos olhos dos lunáticos da conspiração. Não importa se à direita ou à esquerda, enquanto uns veem comunista infiltrados e outros veem capitalistas; o personagem principal no filme vê aliens. Quem enxerga apenas os efeitos especiais "pobres" não entendeu a proposta de Capetener. Ao colocar os óculos não é cores qual o personagem vê, o mundo visto por meio das novas lentes não é vivo , mas cinza e artificial. A aparência ridícula dos aliens faz parte da ironia. São pessoas em carne viva, sem rosto, reduzida apenas a conspiradores monstruosos. Talvez, essa seja a parte mais interessante do filme, como o olhar de conspirador muitas vezes consegue reduzir a complexidade da vida ao preto e branco.
Assisti ontem, na Netflix, Terra a Deriva. Filme chinês, qual a bilheteria atingiu US$ 700 milhões, apenas nos cinemas chineses. O longa dirigido por Frant Gwo é terceira maior bilheteria do ano, atrás apenas de Capitã Marvel e Vingadores Ultimato. A obra é uma ficção cientifica cheia de clichês e aprovada pela censura do PCC ("Partido Capitalista Chinês"). Isso é perceptível nos pequenos detalhes, como um funcionário público incorruptível e a força coletiva em prol da a nação. Além disso, o filme exalta os valores da família semelhante a qualquer filme americano.A obra é uma versão chinesa de qualquer obra de ficção cientifica americana. Lembro de ter lido uma matéria no Valor Econômico, qual um empresário chinês dizia estar estudando a TV e o cinema americano para aprender a fazer um cinema e TV como no EUA. O filme me pareceu uma tentativa de vender a nação chinesa como salvadores do mundo, semelhante ao que os americanos fazem. A obra custou US$ 48 milhões, um orçamento baixo para os padrões americanos. Ao fim, a obra é bem feita, mas o roteiro não é nada de mais. O filme poderia durar apenas uma hora, mas tem duas, cria plots a cada momento para surpreender o espectador e estimular a ansiedade.O típico filme roda gigante, enche a obra de curvas e subidas perigosas para o passeio ficar mais atrativo, o que nada acrescenta, cria uma emoção superficial. O filme dura o instante do susto, do alívio e nada de mais.
A Favorita (2019) – crítica O Oscar não possui uma categoria de melhor elenco, mas caso existisse, A Favorita seria um forte candidato a vitória. Nenhum personagem passa despercebido em cena, seja protagonista ou coadjuvante. O roteiro e a direção conseguem garantir o tempo e espaço para cada piada, diálogos ou ação. A personalidade dos personagens não é descrita ou narrada, mas apresentada por meio das ações e interesses.
A rainha Ana (Olivia Colman), logo nas primeiras cenas é mostrada como alguém alienada dos assuntos do reino, quer saber da maquiagem, roupas e não sabe em qual pé anda a guerra. Já Lady Sarah (Rachel Weisz) discute com os homens o destino do conflito afirmando ser necessário humilhar os inimigos. A Lady é conselheira e amante da rainha, mas administra o governo como a própria monarca. Enquanto Abgail (Emma Stone) é uma nobre que perdeu os dotes e chega à corte como uma plebeia.
Essa apresentação das personagens principais nos ajuda a entender a localização de cada uma na trama. A rainha Ana é uma mimada, Lady Sarah quer poder e Abgail deseja sobreviver. Ana também é infantil, instável e submissa a amante. Vive uma grande frustação por não ter herdeiros ou marido. A solidão da monarca a deixa em uma posição frágil e dessa fragilidade Abgail vai se aproveitar.
A personagem de Emma Stone conserva os costumes e a educação do passado de lady, algo que lhe dá orgulho. Em mais de uma cena ela está segurando livros e quando se apresenta para a rainha destaca sua educação. É diferente de Sarah, uma mulher interessada no poder. Enquanto a rainha sacia sua gula ou tem crises de ciúmes, Sarah discute novos impostos para financiar a guerra e pratica tiro ao alvo.
O figurino e a maquiagem são outro ponto forte na caracterização do elenco. Enquanto a maioria dos personagens, incluso a rainha, mistura maquiagem exagerada com roupas extremamente coloridas, Sarah parece mais discreta. Ela também usa calça e roupas com um perfil mais “masculino”. A lady é a personagem com características fálicas. Pratica tiro, enfrenta os homens na política e é amante da rainha, isso a torna alguém forte.
Todos os homens no filme são frágeis, manipuláveis e se vestem como palhaços. Os liberais com a peruca branca e uma maquiagem colorida, enquanto os membros do partido conservador usam roupas e perucas pretas. O líder do partido liberal é um jovem apaixonado por Abigail, enquanto o líder do partido conservador é um velho que anda com um pato no colo, amigo de Sarah. Os dois lados são manipulados. Os conservadores por Sarah e os liberais por Abigail.
Essa manipulação mostra como os “ideais” conservadores e liberais casam com os interesses pessoais de Sarah e Abgail. Elas estão à frente dos homens por entenderem o que eles querem e, estando próximas à rainha, podem negociar apoio. Não importa se o marido de Lady Sarah é herói de guerra ou se Abgail não tem mais dotes. Foi a lady quem traçou os planos de guerra e Abgail quem barganhou a pauta liberal.
É indiferente a roupagem qual vestem seus interesses, ao fim nenhuma delas ou dos partidos pensa no bem do povo. A nobreza vive em um ambiente distante da vida real e afundado na alienação. Os problemas são citados, discutidos, mas a vida segue rotineira. Os nobres fazem festas, se banqueteiam, dançam. A cena da corrida de patos e os tomates sendo atirados em um homem nu mostra o quão hipócrita são os homens que dizem se preocupar com o destino do reino.
Essa roupagem hipócrita nutre a disputa política entre a elite. Inconscientemente Sarah e Abgail desejam substituir Ana, uma pelo poder e a outra pelo conforto. Esse desejo não pode ser explicito, então veste a roupa liberal e conservadora. Os interesses individuais tomam carona nos interesses públicos dos partidos. Ana consegue o que quer das duas e as pode descartar como deseja, pois elas estão dispostas a sacríficos. Não podendo gozar o poder, elas gozam ao estar o mais perto o possível.
A Favorita é uma sátira sobre a hipocrisia e alienação dos nobres, mas também sobre uma perspectiva feminina do poder. O grande potencial do elenco está em os homens serem sempre coadjuvantes de uma história feminina com mulheres reais e fortes. O cineasta Yorgos Lanthimos acerta mais uma vez e consegue me deixar dúvida sobre qual sua melhor obra internacional, Lagosta (crítica aqui) ou A Favorita.
Nós (2019) — Crítica Jordan Peele utiliza o caminho da metáfora para criar uma obra de terror. Compreendemos o filme quando enxergamos os significados além das imagens e sons. “Nós” cria uma metáfora sobre a imagem da pessoa negra, aquela vista no cinema e na televisão como ruim. A primeira a ser morta nos filmes de terror. Em alguns momentos é a sombra, em outra o reflexo, mas das duas formas irreais. A sombra é deformada de acordo com a luz e o lugar exposto, o reflexo inverte nossa percepção de direção.
Difícil não associar isso a imagem do negro no cinema. A indústria conjurou as pessoas negras os piores papéis. Quando Adelaide Wilson, interpretada por Lupita Nyong’o, toma um choque ao ver a si mesma, não é a imagem de si mesma a que a assusta, mas a representação dessa imagem. Ela é perseguida não por uma cópia, mas a versão ruim dela mesma, cheia de ódio e dor. A sombra e o reflexo são cópias exatas, mas deformadas.
Um filme de terror com personagens negros como protagonistas não é apenas entretenimento, mas um ato político. É absurda e assustadora caricatura feita pela indústria cinematográfica sobre o corpo, a maneira de agir, falar e ser dos negros. Essa imagem ajuda sustentar o racismo na sociedade.
Um dos grandes méritos do cineasta está em quebrar estereótipos com o roteiro, o homem não consegue defender a mulher, os brancos são boçais e a protagonista é negra. As falas explicativas existem, mas não substituem as ações ou falam o óbvio. A música acompanhando as cenas de morte e luta é um verdadeiro balé macabro.
O verdadeiro terror
O eixo central de um filme de terror não pode ser o susto. Assustar é simples, basta surpreender a pessoa em um momento de desatenção. Podemos conduzir o espectador por uma sala escura, um ambiente silencioso, suspeito e, de repente, bater uma porta. O corte inesperado e o som da porta batendo assusta, mas não mantém a sensação de terror. Para aterrorizar é preciso manter a sensação de medo para além do susto.
A narrativa apresentada precisa nos tirar o chão, nos manter tensos e sem escolha para fugir. É esse o material qual compõe uma verdadeira Nós. Os filmes de susto nos devolvem ao estado normal, nos aliviam, para novamente nos assustar. É o efeito “montanha russa”, a subida alta e lenta nos prepara o susto de uma descida rápida e inesperada.
Filmes montanha russa existem em diferentes gêneros, mas no terror e na comédia eles são semelhantes nos maus roteiros produzidos. Identificamos essas obras pela pobreza dos personagens e da narrativa. Não é importante a história, mas o exagero das piadas e dos sustos, isso “sustenta” o filme. O roteiro é apagado pelas “subidas” cada vez mais altas e as descidas abruptas. Não temos um filme, mas um passeio na montanha russa ou no trem fantasma pode ser divertido, mas é efêmero.
Felizmente, uma leva de novos diretores parece ter entendido isso e está resgatando o verdadeiro terror. Jordan Peele é um deles. Corra! Já havia mostrado essa intenção, mas “Nós” amadurece o estilo ao criar uma obra mais séria, na qual nenhum momento de humor quebra a tensão do medo.
Difícil falar de Alien, pois gosto muito de Ginger, artista plástico que criou o monstro. O primeiro filme sempre será um marco no terror, ficção cientifica e monstros do cinema. A nova obra não tem intensidade, nem a surpresa dos anteriores. É um filme tenso, daqueles de ficar grudado na cadeira. Agora, falta respostas ou novas perguntas, falto acrescimento a mitologia do monstro, falto recolocar a metáfora em seu lugar. O filme não é ruim e como disse, sou suspeito para falar, mas ainda gosto muito do monstro, assim como da arte desse suíço excêntrico, qual Ridiley Scott homenageou.
A série Taboo, estrelada por Tom Hardy é meio estranha, não é ruim, mas algumas coisas me incomodaram. Primeiro, os planos são muito fechados, não existe quase planos compostos ou abertos, a paleta escura ajuda na impressão de sujeira, mas é cansativa. Essa forma de filmar adaptada a tela de computador ou celular empobrece as narrativas. Outro problema, o personagem de Hardy tem relações com tribos africanas e nativos americanos, isso é pouco explorado no mistério, mas poderia ter flashbacks sobre essas origens, os nativos e africanos exercem um forte papel nele, mas não existem na tela.
Hollywood faz o mesmo, torna alguns deuses e outros demônios. Os filmes sobre o Wiikileaks são covardes, não entram nas polêmicas, tentam ser neutros, mas acabam reforçando a “culpa” de Assange. Felizmente Oliver Stone é um cineasta consciente, Snowden é uma obra fiel aos relatos dos perseguidos, não dos perseguidores.
Antes de ver o filme, não li nada sobre a intenção dos envolvidos em dar vida ao personagem Telmo, interpretado por Carlos Alberto Riccelli. Logo, não sabia da série homônima, exibida em 2009 na TV Cultura. Minha única informação sobre a história foi recebida no filme. Mesmo divergindo sobre a perspectiva da cineasta, reconheço a necessidade do filme, em mostra a ditadura e os militares como verdadeiros terroristas.
Poucas lembranças resistem ao tempo, sempre implacável em apagar nossas memórias. A resistência é algo muito difícil, alcançado apenas por momentos imprescindíveis em nossas vidas. O cinema não é indiferente ao tempo, mesmo tendo uma mídia física, qual podemos sempre recorrer quando falhamos ao recordar, existem filmes efêmeros, quais não sobreviverão em nossas mentes. Lembrar é um ato intenso para nossos sentimentos, pois buscamos reviver nosso passado. Assim, as cenas, música e diálogos cravados em nossas almas, talvez digam algo sobre a qualidade do longa-metragem. Aquarius, dirigido por Kleber Mendonça Filho e estrelado por Sônia Braga é um filme de resistência ao tempo, destinado a sobreviver em nossa memória.
O documentário dirigido e escrito pelo chileno Patrício Guzmán, impressiona por alinhar a astronomia e arqueologia, com a ditadura no Chile (1973-1990). Essa “mistura” poderia parecer forçada, mas não é. O cineasta consegue construir poesia com as estrelas, constelações e os corpos dos desaparecidos durante o regime militar chileno. Ao olhar para o céu, percebemos o quanto nossos problemas podem parecer insignificantes diante da imensidão do Universo, mas quando os colocamos sobre a mesa, enxergamos a mesma dimensão das estrelas nas questões humanas. Guzmán, nos mostra a luta inglória e injusta ao estudarmos a ciência. Sentados diante do telescópio perdemos horas, dias e anos para talvez encontrar muito pouco sobre o Universo. Assim também é busca pelos desaparecidos no Chile, enterrados e desmembrados no deserto de Atacama, não conseguimos encontrar corpos inteiros, apenas fragmentos de uma violência e repressão pouco explorada. Uma diferença, ao estudarmos as estrelas em busca de vida é não termos problemas para dormir, mesmo frustrados com o resultado insatisfatórios. Agora, como fazer para dormir sabendo do filho torturado e morto, teve seu corpo desmembrado e que você nunca saberá do ocorrido, nem conseguirá juntar as partes para render-lhe uma homenagem. O título do filme nos transmiti um sentimento de tristeza sobre um passado que nunca existiu, mas sobre uma inocência perdida. É imensamente triste sabermos que nosso conhecimento e relação com a ditadura chilena — no caso dos chilenos— é semelhante ao nosso conhecimento sobre o universo, raso e distante. Guzmán mostra extrema habilidade em ser um cronista do cinema, em conseguir reunir questões políticas, cientificas e pessoais. Tão importante quanto seu pensamento sobre a história é como ele escolhe mostrar esse período. Uma visão revolucionária, ao entender o quanto a história e a ciência podem nos ajudar a evoluir e compreender quem somos.
O grande êxito da Marvel, em suas adaptações para o cinema, está em conseguir capturar a essência dos personagens. Algo difícil, pois as versões para tela grande sempre necessitam de alguns “ajustes”. Essas mudanças, pequenas ou grandes, às vezes, acabam estragando tudo. Os filmes baseados em jogos de vídeos games são exemplos de versões ruins, apesar do êxito nas bilheterias, não foram unanimes entre o público. Guerra Civil consegue conquistar os espectadores, pois consegue agradar os fãs mais antigos, leitores de HQs, e os mais novos, sem muito conhecimento dos quadrinhos.
Ao iniciar o filme, os letreiros anunciam ser um longa baseado em fatos reais. Esta informação, sempre atiça nossa curiosidade, como nossa desconfiança, nunca temos certeza sobre o quanto de realidade existe em um longa-metragem de ficção. O mais importante na obra, não está na fidelidade dos personagens ou nos fatos relatados, mas como o diretor e roteirista Alejandro Amenábar, consegue retratar o sentimento de histeria em nossa sociedade.
O cineasta Aly Muritiba junto com a equipe consegue produzir um excelente drama psicológico. Não espere por solução óbvias, por respostas exatas, nem intenções claras. O filme parece estar mais interessado em apontar as contradições e os movimentos dos sentimentos humanos, ao invés de traduzi-los. Uma obra dedicada a provocar dúvidas e angustias.
Ao fim, o longa-metragem é um entretenimento dedicado aos fãs da DC. Não aos mais ortodoxos, mas aqueles antenados nos games e animações, nas outras adaptações, que ajudaram a imprimir a imagem tão adorada por pessoas do mundo todo.
Habituados a tomar susto, os espectadores mais desatentos podem não entender o terror do Longa-metragem, dirigido e roteirizado por Roger Eggers. Em filmes, como Corrente do Mal e Colina Escarlate, conseguimos ver o significado do terror e não apenas do sentir medo. Levar vários susto não torna uma obra boa, mas a deixa semelhante a experiência de andar em um trem fantasma. Após cada curva, o inesperado nos surpreende tirando nossa atenção do trajeto. Essa sensação de susto é imediata e efêmera, não eterniza a imagem, nem nos apavora.A bruxa não está preocupada em nos assustar, não é um filme “trem fantasma”, mas uma verdadeira obra de terror. Não lembro de nenhuma cena ter me provocado susto, mas lembro da ideia do filme e das imagens me deixarem apavorado.
O Rei
3.6 406O Rei, novo filme da Netflix, é um filme sobre a passagem da vida adulta, antes de ser um épico de guerra ou história. Isso explica o motivo da escolha de Timothée Chalamet para o papel de Henrique V. O físico e a aparência do ator acentuam as característica adolescente do personagem. O roteiro segue um caminho já percorrido por outros filmes, a negação a coroa, a aceitação da responsabilidade e a perda. Todos estão falando da atuação do futuro Batman, Robert Pattinson, mas esqueceram de mencionar Joel Edgerton, que produz e roteiriza o filme e determinados momentos divide o protagonismo da obra com Timothée. O ponto fraco do filme é não surpreender, não nos provocar incomodo, a história passa, mesmo no ponto alto do roteiro, nos mantemos tranquilos. Enquanto o ponto forte é a direção habilidosa de David Michôd
Meu Nome é Dolemite
3.8 362 Assista AgoraEddie Murphy é um ator da minha infância, não lembro de todos os filmes que assisti, mas lembro que não foram poucos. A nova obra disponível na #netflix é um retorno excelente, após um tempo longe das telas. Murphy encarna Rudy Ray Moore, um comediante que faz de tudo um pouco no entretenimento, um pioneiro no humor sexualmente e do Rap. O personagem possui o mesmo arquétipo do Saul de Better Call Saul ou do João Grilo, no Alto da compadecida. Trabalhadores precarizados ou lúmpens que dependem da criatividade e inteligência para viver. Saul e João Grilo aplicam golpes, não são más pessoas, mas se esforçam para tentar conseguir viver. Rudy ou Dolemite, como é conhecido vive na legalidade, mas possui o mesmo espirito de não se dar por vencido, de receber não atrás de não e conseguir dar volta por cima. Nesse sentido a escolha do príncipe de Nova York para interpretar o personagem foi um grande acerto, Eddie Murphy sempre interpretou seus personagens de uma forma caricata, sempre levou para cada atuação um pouco de si. Dolemite cria um personagem, mas também leva um pouco de si. Em muito atores isso é um problema, pois toda a atuação parece a mesma, mas em Murphy não, pois esperemos ver ele fazendo isso, pois isso no cativa como cativava os fã de Dolemite.
Ad Astra: Rumo às Estrelas
3.3 852 Assista AgoraO filme Ad Astra tem umas coisas legais sobre astronomia. Primeiro ir para Marte por meio da lua, uma ideia discutida pela Nasa, pois a Lua possui um minério que poderia ser usado como combustível. A tecnologia utilizada também é interessante, pois é algo possível dentro uma sociedade capitalista com recursos disponíveis para investir. Agora, o mais interessante é o fato de não existir vida inteligente no espaço. Aqui é a parte mais bonita do filme. Quando pensamos no acidente que gerou a vida como produto de uma causalidade da matéria no universo, podemos nos sentir só, mas religiosamente ou poeticamente podemos nos ver como um milagre. Toda a vida, arte e descoberta que fizemos aqui é única e tem o tamanho de um grão de areia.Um problema do filme é que o homem vai ao espaço levando consigo a barbárie, o que não acho que seja possível. Só conseguiremos explorar o espaço quando resolvemos problemas básicos da humanidade comida, saúde, trabalho, moradia. Enquanto isso, nossas cinco viagens a lua serão o grande ponto alto de nossa missão espacial, talvez um pouso em marte, mas nada grandioso...
El Camino: Um Filme de Breaking Bad
3.7 843 Assista AgoraEu teria que assisti alguns ep de Breaking Bad novamente, mas lembro de Jesse Pinkman como alguém tido por sua família como fracassado, um zé-droguinha. Boa pessoa, mas sem objetivo na vida. É engraçado quando o White lhe propõe entrar em uma faculdade e ele diz querer fazer Medicina Esportiva. Isso soa ingenuo, mas sincero. Pinkman é desde o início uma pessoa de bom coração, enganado e maltratado por todos. Ao contrário de White, que se transforma em gangster frio e calculista, Jesse se torna mais miserável, mais triste. Quando ele foge no ep final da série aos gritos enquanto acelera o carro,vemos a dor de quem queria apagar todo o sofrimento vivido até ali. O filme não é uma redenção do personagem, ele não está melhor ao fim. Jesse continua sem perspectiva na vida e tudo que deseja é fugir para algum lugar onde talvez possa recomeçar...Me senti no lugar dele, sem esperança. Quando começou a série, ele podia não ter perspectivas, mas era alguém feliz, ao fim, ele não tinha esperança nenhuma. Não era mais um zé-droguinha, mas nem era feliz. Sinceramente, tive vontade de chorar e senti saudade da série.
Maravilhosa Sra. Maisel (1ª Temporada)
4.5 234 Assista AgoraEisenstein dizia que a verdadeira arte deveria revelar as contradições do ser. Maravilhosa sra. Masiel é uma série dispostas a explorar essas contradições. Uma mulher da elite judia de Nova York, mãe de dois filhos é deixada pelo marido e em meio a um surto de tristeza vai a um bar de comédia e se apresenta extremamente bêbada. Conta como não é ruim de cama, fala de todos os sacrifícios que fazia para fazê-lo feliz e demonstra o imenso desalento por tê-la trocado por uma secretária que não sabe apontar um lápis. Masiel ri e faz rir em um momento qual ela queria muito chorar e gritar. A partir desse dia, ela e a amiga vão tentar torná-la comediante. Masiel ter uma família rica é o que lhe permite ir em busca do sonho, isso também a coloca em choque com a moral do ex-marido, amigos e pais. Afinal, mesmo tendo se formado na universidade, ela foi educada e criada para ser mãe, esse era o seu trabalho. Era para isso que ela se dedicava cotidianamente. Ser mulher de família inclua estar sempre bela, comer pouco, cuidar dos filhos e todas as coisas do lar. A separação lhe tira a felicidade, qual imaginava ser o paraíso, mas lhe empurra para uma vida de bares, trabalho e festas. Algo nada "adequado" para uma mulher de família na década de 50. Esse choque entre uma mulher judia educada para ser mãe e uma comediante stand up é o mais interessante e o que torna a primeira temporada excelente. Como a mãe de Masiel perde o sentido de sua vida conforme ela e o pai se ocupam mais. Como o marido de Masiel percebe que o problema dele era estar ofuscado pelo brilho da moça, não só por ser bonita e inteligente, mas por ser uma comediante muito melhor. Como mesmo tendo uma vida de sucesso pela frente, ela se questiona em retornar para a vida antiga. São essas possibilidades, ir ao âmago do ser, em expor e colocar em choque que torna a série uma boa surpresa.
Isso não é uma crítica, apenas um comentário um pouco... extenso.
Estou Me Guardando Para Quando o Carnaval Chegar
4.3 210Na memória de infância do cineasta, Toritama era uma pacata cidade do nordeste brasileiro formada por agricultores e criadores de cabras. Hoje é muito diferente. O silêncio e o sedentarismo foram substituídos pelo barulho das máquinas de costura e pela correria do comércio. Toritama é uma grande oficina de jeans. Para onde você olha tem alguém costurando, carregando calças ou dando acabamento nas roupas. Não existe descanso nem silêncio. O movimento é intenso e repetitivo.
O trabalho, antes visto como meio de subsistência, agora é sonho de enriquecimento. Crianças brincam no meio das máquinas, enquanto as mães costuram. Dia e noite elas trabalham. Quando questionados sobre as “vantagens” do trabalho com o jeans, as operárias e os operários justificam a “liberdade” no horário e o trabalho em abundância. Uma costureira cita o fato de poder ir almoçar, tomar café e jantar em casa, mas não percebe que nessa ida e volta, ela acaba fazendo uma jornada de 12 horas ou mais.
O filme é rodado com base nas ideias de Marcelo Gomes sobre a vida em Toritama. Toda a narração em off tenta orientar o significado da obra para o pensamento do autor e não dos moradores. O documentário expõe então uma contradição entre a fala dos entrevistados e o discurso em off de Gomes. Ele vê a corrida do jeans como o fim do paraíso de sua infância, enquanto os trabalhadores veem a riqueza e oportunidade. Eles possuem uma felicidade miserável, mas ainda assim uma felicidade, o cineasta apenas o saudosismo.
Essa contradição é clara na forma como o cineasta narra o carnaval e como os entrevistados falam da festa. Para ele, é o momento qual os trabalhadores estão desesperados para fugir do “inferno” das máquinas de costura. O filme mostra então as pessoas vendendo TV, geladeira, fogão e até motocicletas para poder aproveitar o feriado na praia. Isso parece desesperador para nós, que como o cineasta somos pessoas de fora, mas se analisarmos bem isso é normal para eles.
Não estou defendendo o modo de vida atual de Toritama, nem menosprezando a vida camponesa das lembranças do cineasta. Os moradores da pequena cidade do interior viviam a seca do nordeste como agricultores ou criadores de cabra e hoje vivem a correria do trabalho industrial com as maquinas de costura. Sinceramente, não é fácil optar pelo “melhor” nesse caso.
Agora, minha crítica ao cineasta é o fato de com a montagem, a voz off e a forma como conduziu o documentário fazer um direcionamento qual a imagem não avaliza. Gomes coloca o passado da infância como um paraíso perdido de felicidade e o presente cheio de pessimismo. O único momento qual parece mudar esse ponto de vista e ver a cidade de forma mais feliz é quando ela está vazia, quando todos viajam.
O documentário, como o próprio nome diz, pretende ser um documento audiovisual, mas assim como um texto escrito, o estilo e a forma impõem uma percepção diferente da realidade. A arte não tem obrigação em produzir verdades-factuais, mas isso não significa que ela deva mascarar a realidade. O filme documental pode ser uma obra histórica ou jornalística e, ainda, artística.
E é nesse ponto que Estou Me Guardando Pra Quando O Carnaval Chegar erra a mão. Gomes tenciona o filme para um lado, enquanto os entrevistados para outro. As contradições entram em choque e não somam valor a obra. O documentário deve ouvir e expor aquilo que é verdadeiro, mesmo quando isso não nos agrada. Gomes vive o saudosismo da infância, mas o povo de Toritama não, eles não parecem nenhum um pouco triste com a vida atual, mesmo parecendo miseráveis aos nossos olhos.
O Bar Luva Dourada
3.6 341O Bar Luva Dourada é baseado em um livro de Heinz Strunk sobre Fritz Honka, um serial killer que matava mulheres solitárias, em Hamburgo, na Alemanha. As vítimas eram senhoras idosas frequentadoras do bar que nomeia o filme. Como não era bonito, nem muito sociável, Honka aproveitava do álcool e da carência das mulheres. As vítimas eram “convidadas” a irem ao seu minúsculo apartamento, onde eram assassinadas e esquartejadas.
Honka era frustrado por não conseguir realizar seus desejos sexuais com mulheres jovens e belas, então as substituía pelas idosas carentes e alcoolatras. Quando a frustração atingia a consciência, ele explodia em fúria e assassinava as mulheres. A impulsão dos assassinatos era o ódio e a impotência em não conseguir quem ele queria. O serial killer odiava sua vida e se sentia humilhado ao transar com as idosas, essa vergonha o motivava a cometer os crimes e a beber.
O psicopata é um escravo do desejo, não importa quanto a moral ou leis tentem lhe convencer do contrário, nada vai impedir de cometer os crimes. Vemos isso quando ele bate com a cabeça de umas das vitimas em uma explosão de raiva ou quando agarra a colega de trabalho, não há limites. A bebida sempre é um elemento de ebulição, mas a sobriedade nunca lhe provoca arrependimento.
A bebida, diga se de passagem, é quase um personagem no filme, nenhum encontro ou socialização é feito sem que os personagens estejam bêbados. Isso nos provoca um sentimento depressivo, pois ninguém parece beber por estar feliz, bebem para esquecer. Mesmo em um bar, rodeado de pessoas o sofrimento não pode ser compartilhado e o álcool é seu principal anestésico.
Tristeza e solidão ganham vida nas cenas com os personagens do Bar Luva Dourada, qual todos os frequentadores são idosos e nenhum possui uma aparência amistosas. Sentimos um estranhamento e uma confusão entre pena e o asco. Essa sensação acompanha o filme, ao mesmo tempo que nos compadecemos das vítimas, temos um certo afastamento delas pela sujeira e miséria de suas vidas.
É interessante como esse sentimento muda, quando vemos Jonas Dassler sem a maquiagem de Fritz Honka. O serial Killer interpretado por Dassler, era vesgo, tinha o nariz achatado e meio corcunda. O filme parece piorar a aparência do personagem ainda mais, além disso, o jeito como o ator fala, respira e se movimenta ajudam a compor a imagem não apenas de um assassino feio, mas de um monstro.
A intenção do cineasta alemão Faith Akin ao adaptar a vida de um serial Killer parece ser criar uma realidade grotesca, estranhar e provocar o espectador. Uma das características de akin é a temática do imigrante na Alemanha, algo não visto em seu novo filme, exceto pela xenofobia do personagem principal.
Em entrevista ao Jornal Zero Hora, o diretor disse ter feito um filme para se expressar, sem pensar muito e estar ficando velho, ou seja, querer mudar. Akin parece interessado na expressão do desconforto, do grotesco, não se importando o quanto isso agrada ou não seu público. O cineasta parece buscar um novo caminho para falar de uma outra realidade mais aterrorizante
Dark (1ª Temporada)
4.4 1,6KA sensação, ao terminar a primeira temporada de Dark, é desoladora. Sentimos nosso chão ruir e ficamos desamparados. Todos parecem andarilhos no escuro, sem lugar no tempo e no espaço, perdidos no labirinto. Não importa quem o fez, fará ou faz, tudo ficará igual, e ter consciência disso é assustador.
Dos personagens, quem mais se encaixa no perfil de andarilho é Jonas Kahnwald, interpretado por Louis Hofmann. É o mais solitário e o mais angustiado por respostas. A atmosfera escura e fria da fotografia destaca o casaco amarelo do jovem e enfatiza esse isolamento. Na floresta, na escola, na casa ou em meio aos outros personagens, a imagem dele sempre se sobressai, não por estar guiando ou iluminando com a cor, mas por estar sozinho.
Quando ao fim de alguns episódios os personagens olham para o horizonte, o olhar não é de esperança, mas de abandono e desespero. Deus é apenas uma figura mitológica na série e os textos bíblicos servem como metáforas para explicar as descobertas científicas, mas a ciência não é exata. Nem tem o monopólio da verdade como a religião, isso os deixa ainda mais sem rumo, pois ninguém parece poder ajudar.
Não existe confiança em Winden, cidade onde passa a série, ninguém parece acreditar no outro e a família é o berço de todos os conflitos. Toda a conspiração, crimes e mortes estão ligados por laços de sangue. Os personagens não escolhem o destino ao qual estão conectados, como não escolhemos quando nascemos. A angústia de Jonas, o desespero de Ulrich e a loucura de Helge são sintomas da consciência desse destino.
A filosofía de Nietzsche e a teorías científicas sobre viagem no tempo embasam a série, mas esses não são os questionamentos que movem a trama. Descobrir respostas e a viagem no tempo são maneiras de consertar as vidas de cada personagem. O grande problema de Ulrich, por exemplo, é um problema moral, não filosófico nem científico. Jonas prefere se afastar de sua ex-namorada e de seus amigos, também por questões morais.
O questionamento sobre o limite para nossas ações é uma das bases da série. Caso pudéssemos voltar no tempo, poderíamos fazer qualquer coisa? O quanto nossas ações influenciariam na vida de outras e o quanto coisas ruins ou boas tiveram consequências diferentes devido as escolhas certas e erradas feitas por nós.
Ao mesmo tempo que a série questiona os limites das nossas ações, ela também duvida dos valores do ser humano. Se tudo está conectado e todas as ações estão predestinadas, qual o motivo de tentarmos mudar tudo?
Ao fim, a série, criada por Baran bo Odar e roteirizada por Jantje Friese, responde muitas questões apresentada
Fleabag (1ª Temporada)
4.4 627 Assista AgoraFleabang – 1º Temporada- Crítica
O trabalho do ator é mudar de corpo. Apagar a si próprio, quando interpreta. Aí, está a grande dificuldade de muitos: como ser outro, sem carregar algo de nós mesmos? Phoebe Waller-Bridge responde isso em Fleabang. Mesmo tendo inspirado a série em sua vida, ela consegue apagar sua personalidade quando interpreta, consegue nos dar algo novo, sem ser somente ela diante da tela.
Percebemos isso durante todos os episódios, quando olha para câmera e comenta a trama, não é a mesma personagem que vive a cena. O olhar, o sorriso, as sobrancelhas mexendo, não são as mesmas. Além de nos tornar confidentes com a “quebra da quarta parede”, Fleabang nos mostra seus pensamentos, seus medos e dúvidas. Ao olhar para a câmera, a personagem exibe seu alter ego e nos convida a entrar na cabeça da personagem.
Apesar do olhar de Fleabang para a câmera recordar o Frank Underwood de Kevin Spacey, os dois personagens são bem diferentes. Space, quando olhava para a câmera, era apenas Frank falando com o espectador. Quando Fleabang fala, é seu alter ego, outro personagem. Existe outra diferença, Phoebe Waller-Bridge criou a série baseada em um monólogo, o centro do texto era o olhar para a plateia.
A atriz consegue, assim, criar a ilusão de um personagem, apagando a si mesma em cena e quebrando isso a todo momento, quando comenta a ação. Mesmo assim, a quebra é algo interno à trama, não busca lembrar o espectador de estar vendo uma obra de ficção. A quebra aumenta a expectativa no por vir, instiga curiosidade, nos dá fôlego.
O ponto de vista feminino
A motivação da dramaturga, atriz, roteirista e produtora para a peça e a série é desmistificar o papel da mulher na ficção.
Ou seja, a obra é o ponto de vista feminino sobre problemas universais como relacionamentos, frustração sexual, profissional e conflitos familiares. Temos milhares de série do tipo retratada com homens, mas o que faz Fleabag ser uma experiência boa, não é apenas o olhar feminino, mas a originalidade desse olhar.
Logo no primeiro episódio, quando a uma palestrante pergunta quantas mulheres dariam 5 anos de sua vida para ter o corpo perfeito, Fleabag e sua irmã levantam as mãos. As duas abaixam logo em seguida com o comentário da personagem em meio a olhares de reprovação: “somos más feministas”.
Em uma palestra feminista, paga pelo pai das duas, elas reconhecem querer trocar de corpo, reconhecem não gostar do que são e querer mudar. E esse é ponto qual torna a série excelente, Phoebe Waller-Bridge não encaixa a personagem em uma ideologia, mas mostra sua luta por se adequar à ideologia qual ela acredita.
Crítica publicada no Blog Clube de Cinema Outubro
Eles Vivem
3.7 732 Assista AgoraEles vivem é um filme muito divertido de John Carpenter, pois nos ajuda a imaginar uma sociedade aos olhos dos lunáticos da conspiração. Não importa se à direita ou à esquerda, enquanto uns veem comunista infiltrados e outros veem capitalistas; o personagem principal no filme vê aliens. Quem enxerga apenas os efeitos especiais "pobres" não entendeu a proposta de Capetener. Ao colocar os óculos não é cores qual o personagem vê, o mundo visto por meio das novas lentes não é vivo , mas cinza e artificial. A aparência ridícula dos aliens faz parte da ironia. São pessoas em carne viva, sem rosto, reduzida apenas a conspiradores monstruosos. Talvez, essa seja a parte mais interessante do filme, como o olhar de conspirador muitas vezes consegue reduzir a complexidade da vida ao preto e branco.
Terra à Deriva
3.1 115Assisti ontem, na Netflix, Terra a Deriva. Filme chinês, qual a bilheteria atingiu US$ 700 milhões, apenas nos cinemas chineses. O longa dirigido por Frant Gwo é terceira maior bilheteria do ano, atrás apenas de Capitã Marvel e Vingadores Ultimato. A obra é uma ficção cientifica cheia de clichês e aprovada pela censura do PCC ("Partido Capitalista Chinês"). Isso é perceptível nos pequenos detalhes, como um funcionário público incorruptível e a força coletiva em prol da a nação. Além disso, o filme exalta os valores da família semelhante a qualquer filme americano.A obra é uma versão chinesa de qualquer obra de ficção cientifica americana. Lembro de ter lido uma matéria no Valor Econômico, qual um empresário chinês dizia estar estudando a TV e o cinema americano para aprender a fazer um cinema e TV como no EUA. O filme me pareceu uma tentativa de vender a nação chinesa como salvadores do mundo, semelhante ao que os americanos fazem. A obra custou US$ 48 milhões, um orçamento baixo para os padrões americanos. Ao fim, a obra é bem feita, mas o roteiro não é nada de mais. O filme poderia durar apenas uma hora, mas tem duas, cria plots a cada momento para surpreender o espectador e estimular a ansiedade.O típico filme roda gigante, enche a obra de curvas e subidas perigosas para o passeio ficar mais atrativo, o que nada acrescenta, cria uma emoção superficial. O filme dura o instante do susto, do alívio e nada de mais.
A Favorita
3.9 1,2K Assista AgoraA Favorita (2019) – crítica
O Oscar não possui uma categoria de melhor elenco, mas caso existisse, A Favorita seria um forte candidato a vitória. Nenhum personagem passa despercebido em cena, seja protagonista ou coadjuvante. O roteiro e a direção conseguem garantir o tempo e espaço para cada piada, diálogos ou ação. A personalidade dos personagens não é descrita ou narrada, mas apresentada por meio das ações e interesses.
A rainha Ana (Olivia Colman), logo nas primeiras cenas é mostrada como alguém alienada dos assuntos do reino, quer saber da maquiagem, roupas e não sabe em qual pé anda a guerra. Já Lady Sarah (Rachel Weisz) discute com os homens o destino do conflito afirmando ser necessário humilhar os inimigos. A Lady é conselheira e amante da rainha, mas administra o governo como a própria monarca. Enquanto Abgail (Emma Stone) é uma nobre que perdeu os dotes e chega à corte como uma plebeia.
Essa apresentação das personagens principais nos ajuda a entender a localização de cada uma na trama. A rainha Ana é uma mimada, Lady Sarah quer poder e Abgail deseja sobreviver. Ana também é infantil, instável e submissa a amante. Vive uma grande frustação por não ter herdeiros ou marido. A solidão da monarca a deixa em uma posição frágil e dessa fragilidade Abgail vai se aproveitar.
A personagem de Emma Stone conserva os costumes e a educação do passado de lady, algo que lhe dá orgulho. Em mais de uma cena ela está segurando livros e quando se apresenta para a rainha destaca sua educação. É diferente de Sarah, uma mulher interessada no poder. Enquanto a rainha sacia sua gula ou tem crises de ciúmes, Sarah discute novos impostos para financiar a guerra e pratica tiro ao alvo.
O figurino e a maquiagem são outro ponto forte na caracterização do elenco. Enquanto a maioria dos personagens, incluso a rainha, mistura maquiagem exagerada com roupas extremamente coloridas, Sarah parece mais discreta. Ela também usa calça e roupas com um perfil mais “masculino”. A lady é a personagem com características fálicas. Pratica tiro, enfrenta os homens na política e é amante da rainha, isso a torna alguém forte.
Todos os homens no filme são frágeis, manipuláveis e se vestem como palhaços. Os liberais com a peruca branca e uma maquiagem colorida, enquanto os membros do partido conservador usam roupas e perucas pretas. O líder do partido liberal é um jovem apaixonado por Abigail, enquanto o líder do partido conservador é um velho que anda com um pato no colo, amigo de Sarah. Os dois lados são manipulados. Os conservadores por Sarah e os liberais por Abigail.
Essa manipulação mostra como os “ideais” conservadores e liberais casam com os interesses pessoais de Sarah e Abgail. Elas estão à frente dos homens por entenderem o que eles querem e, estando próximas à rainha, podem negociar apoio. Não importa se o marido de Lady Sarah é herói de guerra ou se Abgail não tem mais dotes. Foi a lady quem traçou os planos de guerra e Abgail quem barganhou a pauta liberal.
É indiferente a roupagem qual vestem seus interesses, ao fim nenhuma delas ou dos partidos pensa no bem do povo. A nobreza vive em um ambiente distante da vida real e afundado na alienação. Os problemas são citados, discutidos, mas a vida segue rotineira. Os nobres fazem festas, se banqueteiam, dançam. A cena da corrida de patos e os tomates sendo atirados em um homem nu mostra o quão hipócrita são os homens que dizem se preocupar com o destino do reino.
Essa roupagem hipócrita nutre a disputa política entre a elite. Inconscientemente Sarah e Abgail desejam substituir Ana, uma pelo poder e a outra pelo conforto. Esse desejo não pode ser explicito, então veste a roupa liberal e conservadora. Os interesses individuais tomam carona nos interesses públicos dos partidos. Ana consegue o que quer das duas e as pode descartar como deseja, pois elas estão dispostas a sacríficos. Não podendo gozar o poder, elas gozam ao estar o mais perto o possível.
A Favorita é uma sátira sobre a hipocrisia e alienação dos nobres, mas também sobre uma perspectiva feminina do poder. O grande potencial do elenco está em os homens serem sempre coadjuvantes de uma história feminina com mulheres reais e fortes. O cineasta Yorgos Lanthimos acerta mais uma vez e consegue me deixar dúvida sobre qual sua melhor obra internacional, Lagosta (crítica aqui) ou A Favorita.
Nós
3.8 2,3K Assista AgoraNós (2019) — Crítica
Jordan Peele utiliza o caminho da metáfora para criar uma obra de terror. Compreendemos o filme quando enxergamos os significados além das imagens e sons. “Nós” cria uma metáfora sobre a imagem da pessoa negra, aquela vista no cinema e na televisão como ruim. A primeira a ser morta nos filmes de terror. Em alguns momentos é a sombra, em outra o reflexo, mas das duas formas irreais. A sombra é deformada de acordo com a luz e o lugar exposto, o reflexo inverte nossa percepção de direção.
Difícil não associar isso a imagem do negro no cinema. A indústria conjurou as pessoas negras os piores papéis. Quando Adelaide Wilson, interpretada por Lupita Nyong’o, toma um choque ao ver a si mesma, não é a imagem de si mesma a que a assusta, mas a representação dessa imagem. Ela é perseguida não por uma cópia, mas a versão ruim dela mesma, cheia de ódio e dor. A sombra e o reflexo são cópias exatas, mas deformadas.
Um filme de terror com personagens negros como protagonistas não é apenas entretenimento, mas um ato político. É absurda e assustadora caricatura feita pela indústria cinematográfica sobre o corpo, a maneira de agir, falar e ser dos negros. Essa imagem ajuda sustentar o racismo na sociedade.
Um dos grandes méritos do cineasta está em quebrar estereótipos com o roteiro, o homem não consegue defender a mulher, os brancos são boçais e a protagonista é negra. As falas explicativas existem, mas não substituem as ações ou falam o óbvio. A música acompanhando as cenas de morte e luta é um verdadeiro balé macabro.
O verdadeiro terror
O eixo central de um filme de terror não pode ser o susto. Assustar é simples, basta surpreender a pessoa em um momento de desatenção. Podemos conduzir o espectador por uma sala escura, um ambiente silencioso, suspeito e, de repente, bater uma porta. O corte inesperado e o som da porta batendo assusta, mas não mantém a sensação de terror. Para aterrorizar é preciso manter a sensação de medo para além do susto.
A narrativa apresentada precisa nos tirar o chão, nos manter tensos e sem escolha para fugir. É esse o material qual compõe uma verdadeira Nós. Os filmes de susto nos devolvem ao estado normal, nos aliviam, para novamente nos assustar. É o efeito “montanha russa”, a subida alta e lenta nos prepara o susto de uma descida rápida e inesperada.
Filmes montanha russa existem em diferentes gêneros, mas no terror e na comédia eles são semelhantes nos maus roteiros produzidos. Identificamos essas obras pela pobreza dos personagens e da narrativa. Não é importante a história, mas o exagero das piadas e dos sustos, isso “sustenta” o filme. O roteiro é apagado pelas “subidas” cada vez mais altas e as descidas abruptas. Não temos um filme, mas um passeio na montanha russa ou no trem fantasma pode ser divertido, mas é efêmero.
Felizmente, uma leva de novos diretores parece ter entendido isso e está resgatando o verdadeiro terror. Jordan Peele é um deles. Corra! Já havia mostrado essa intenção, mas “Nós” amadurece o estilo ao criar uma obra mais séria, na qual nenhum momento de humor quebra a tensão do medo.
Alien: Covenant
3.0 1,2K Assista AgoraDifícil falar de Alien, pois gosto muito de Ginger, artista plástico que criou o monstro. O primeiro filme sempre será um marco no terror, ficção cientifica e monstros do cinema. A nova obra não tem intensidade, nem a surpresa dos anteriores. É um filme tenso, daqueles de ficar grudado na cadeira. Agora, falta respostas ou novas perguntas, falto acrescimento a mitologia do monstro, falto recolocar a metáfora em seu lugar. O filme não é ruim e como disse, sou suspeito para falar, mas ainda gosto muito do monstro, assim como da arte desse suíço excêntrico, qual Ridiley Scott homenageou.
Taboo (1ª Temporada)
4.1 126 Assista AgoraA série Taboo, estrelada por Tom Hardy é meio estranha, não é ruim, mas algumas coisas me incomodaram. Primeiro, os planos são muito fechados, não existe quase planos compostos ou abertos, a paleta escura ajuda na impressão de sujeira, mas é cansativa. Essa forma de filmar adaptada a tela de computador ou celular empobrece as narrativas. Outro problema, o personagem de Hardy tem relações com tribos africanas e nativos americanos, isso é pouco explorado no mistério, mas poderia ter flashbacks sobre essas origens, os nativos e africanos exercem um forte papel nele, mas não existem na tela.
Snowden: Herói ou Traidor
3.8 412 Assista AgoraHollywood faz o mesmo, torna alguns deuses e outros demônios. Os filmes sobre o Wiikileaks são covardes, não entram nas polêmicas, tentam ser neutros, mas acabam reforçando a “culpa” de Assange. Felizmente Oliver Stone é um cineasta consciente, Snowden é uma obra fiel aos relatos dos perseguidos, não dos perseguidores.
Trago comigo
3.6 9Antes de ver o filme, não li nada sobre a intenção dos envolvidos em dar vida ao personagem Telmo, interpretado por Carlos Alberto Riccelli. Logo, não sabia da série homônima, exibida em 2009 na TV Cultura. Minha única informação sobre a história foi recebida no filme. Mesmo divergindo sobre a perspectiva da cineasta, reconheço a necessidade do filme, em mostra a ditadura e os militares como verdadeiros terroristas.
Aquarius
4.2 1,9K Assista AgoraPoucas lembranças resistem ao tempo, sempre implacável em apagar nossas memórias. A resistência é algo muito difícil, alcançado apenas por momentos imprescindíveis em nossas vidas. O cinema não é indiferente ao tempo, mesmo tendo uma mídia física, qual podemos sempre recorrer quando falhamos ao recordar, existem filmes efêmeros, quais não sobreviverão em nossas mentes. Lembrar é um ato intenso para nossos sentimentos, pois buscamos reviver nosso passado. Assim, as cenas, música e diálogos cravados em nossas almas, talvez digam algo sobre a qualidade do longa-metragem. Aquarius, dirigido por Kleber Mendonça Filho e estrelado por Sônia Braga é um filme de resistência ao tempo, destinado a sobreviver em nossa memória.
Nostalgia da Luz
4.3 61O documentário dirigido e escrito pelo chileno Patrício Guzmán, impressiona por alinhar a astronomia e arqueologia, com a ditadura no Chile (1973-1990). Essa “mistura” poderia parecer forçada, mas não é. O cineasta consegue construir poesia com as estrelas, constelações e os corpos dos desaparecidos durante o regime militar chileno. Ao olhar para o céu, percebemos o quanto nossos problemas podem parecer insignificantes diante da imensidão do Universo, mas quando os colocamos sobre a mesa, enxergamos a mesma dimensão das estrelas nas questões humanas.
Guzmán, nos mostra a luta inglória e injusta ao estudarmos a ciência. Sentados diante do telescópio perdemos horas, dias e anos para talvez encontrar muito pouco sobre o Universo. Assim também é busca pelos desaparecidos no Chile, enterrados e desmembrados no deserto de Atacama, não conseguimos encontrar corpos inteiros, apenas fragmentos de uma violência e repressão pouco explorada.
Uma diferença, ao estudarmos as estrelas em busca de vida é não termos problemas para dormir, mesmo frustrados com o resultado insatisfatórios. Agora, como fazer para dormir sabendo do filho torturado e morto, teve seu corpo desmembrado e que você nunca saberá do ocorrido, nem conseguirá juntar as partes para render-lhe uma homenagem.
O título do filme nos transmiti um sentimento de tristeza sobre um passado que nunca existiu, mas sobre uma inocência perdida. É imensamente triste sabermos que nosso conhecimento e relação com a ditadura chilena — no caso dos chilenos— é semelhante ao nosso conhecimento sobre o universo, raso e distante.
Guzmán mostra extrema habilidade em ser um cronista do cinema, em conseguir reunir questões políticas, cientificas e pessoais. Tão importante quanto seu pensamento sobre a história é como ele escolhe mostrar esse período. Uma visão revolucionária, ao entender o quanto a história e a ciência podem nos ajudar a evoluir e compreender quem somos.
Capitão América: Guerra Civil
3.9 2,4K Assista AgoraO grande êxito da Marvel, em suas adaptações para o cinema, está em conseguir capturar a essência dos personagens. Algo difícil, pois as versões para tela grande sempre necessitam de alguns “ajustes”. Essas mudanças, pequenas ou grandes, às vezes, acabam estragando tudo. Os filmes baseados em jogos de vídeos games são exemplos de versões ruins, apesar do êxito nas bilheterias, não foram unanimes entre o público. Guerra Civil consegue conquistar os espectadores, pois consegue agradar os fãs mais antigos, leitores de HQs, e os mais novos, sem muito conhecimento dos quadrinhos.
Regressão
2.8 535 Assista AgoraAo iniciar o filme, os letreiros anunciam ser um longa baseado em fatos reais. Esta informação, sempre atiça nossa curiosidade, como nossa desconfiança, nunca temos certeza sobre o quanto de realidade existe em um longa-metragem de ficção. O mais importante na obra, não está na fidelidade dos personagens ou nos fatos relatados, mas como o diretor e roteirista Alejandro Amenábar, consegue retratar o sentimento de histeria em nossa sociedade.
Para Minha Amada Morta
3.5 96 Assista AgoraO cineasta Aly Muritiba junto com a equipe consegue produzir um excelente drama psicológico. Não espere por solução óbvias, por respostas exatas, nem intenções claras. O filme parece estar mais interessado em apontar as contradições e os movimentos dos sentimentos humanos, ao invés de traduzi-los. Uma obra dedicada a provocar dúvidas e angustias.
Batman vs Superman - A Origem da Justiça
3.4 4,9K Assista AgoraAo fim, o longa-metragem é um entretenimento dedicado aos fãs da DC. Não aos mais ortodoxos, mas aqueles antenados nos games e animações, nas outras adaptações, que ajudaram a imprimir a imagem tão adorada por pessoas do mundo todo.
A Bruxa
3.6 3,4K Assista AgoraHabituados a tomar susto, os espectadores mais desatentos podem não entender o terror do Longa-metragem, dirigido e roteirizado por Roger Eggers. Em filmes, como Corrente do Mal e Colina Escarlate, conseguimos ver o significado do terror e não apenas do sentir medo. Levar vários susto não torna uma obra boa, mas a deixa semelhante a experiência de andar em um trem fantasma. Após cada curva, o inesperado nos surpreende tirando nossa atenção do trajeto. Essa sensação de susto é imediata e efêmera, não eterniza a imagem, nem nos apavora.A bruxa não está preocupada em nos assustar, não é um filme “trem fantasma”, mas uma verdadeira obra de terror. Não lembro de nenhuma cena ter me provocado susto, mas lembro da ideia do filme e das imagens me deixarem apavorado.