A minha lembrança do filme, visto pela primeira vez há cerca de 10 anos, se resumia a umas poucas cenas e ao que eu julgava ser a sua conclusão. Descobri, entretanto, que há mais de uma interpretação que se encaixa nos acontecimentos. Nada mais natural, já que o filme foi concebido como um exercício de “juntar as peças” sendo este seu principal atrativo. O roteiro e a montagem propositadamente fazem com que o espectador compartilhe da desorientação vivida pelo protagonista e até mesmo considere se valer de notas para desvendar a trama.
O impressionante épico de Bertolucci, agraciado com 9 prêmios Oscar, retrata a agitada vida de Pu Yi através de duas linhas temporais contrastantes. Na China imperial, coroado aos 3 anos, é mantido na deslumbrante cidade proibida, onde o único contato possível é com seus incontáveis servos, já que até mesmo a mãe não mora consigo. Na China Popular Democrática, é feito prisioneiro para que se torne o “novo homem” idealizado pelo governo comunista. Entre estes dois extremos, há muita história a ser contada, distribuída nas quase 4 horas do filme. O extenso tempo, porém, não foi bem utilizado, deixando certas cenas longas e didáticas demais enquanto outros episódios importantes para a interessante história são mostrados com rapidez e sem a emoção necessária.
Lindbergh sobre Janaína: “[…] fica o tempo todo fazendo discurso político. Parece que tô vendo a senhora candidata a deputada federal na próxima eleição.” Só errou o cargo (que por pouco não foi o de vice-presidenta).
O filme trata dos conflitos do protagonista, principalmente os relacionados ao processo de descoberta e aceitação da homossexualidade, demonstrando como sua formação em meio a uma sociedade inculta e preconceituosa, no seio de uma família desestruturada e incapaz de afeto, impactou sua vida adulta e personalidade. Na montagem, cenas do passado de rejeição e dor são intercaladas com as da vida atual em um ambiente muito mais tolerante, mas que ainda precisa ser melhor assimilado. Em ambos os momentos, Marvin encontra sua libertação no teatro, que lhe fornece oportunidade de fuga na infância e de necessário confronto na maturidade. Gostei da direção e das interpretações, mas achei pouco crível a jornada do protagonista, que triunfa sempre através do incentivo, ajuda e proteção de terceiros.
A originalidade que permeia os trabalhos de Anderson faz com que eu tenha que atribuir pontos ao filme sem nenhuma análise mais aprofundada sobre roteiro. A composição das cenas, com a escolha de cores e elementos, é A grande atração d'A Vida Aquática com Steve Zissou e, assim, deve ser julgada em apartado para que se lhe faça justiça. Trata-se de um trabalho caprichoso demais para ser considerado no mesmo conjunto da pouco consistente narrativa. Em um visual tão atraente, é inevitável dizer que a história é fora de tom. O desenvolvimento, nas quase duas horas de extensão, é arrastado e os conflitos não evoluem de maneira interessante. O que resta, ao final, é admirar a inventividade dos demais aspectos componentes do filme e a performance de Seu Jorge cantando Bowie.
O filme reserva ao seu protagonista uma história padrão, apresentando alguém resolve encarar um passado há muito abandonado e sofre as consequências do período de afastamento. No caso do matador William, os métodos não lhe são mais familiares e as ações outrora automáticas passam a ser estranhas e questionáveis porque os valores mudaram. Infelizmente, achei o desenvolvimento algo problemático. O filme, ao contrário de outros títulos do gênero, opta por um ritmo lento e investe em (bons) diálogos. Porém, as motivações de todos padecem de falta de clareza.
Não há elementos, por exemplo, que revelem pontos fundamentais do roteiro, como o que levou o velho Munny a sair de casa e abandonar os filhos (somente dinheiro?) ou a razão de tanta comoção da cidade pela possível morte de dois forasteiros desordeiros (entendo que há uma relação com o crime que cometeram ter sido praticado em prostitutas, mas é frágil de qualquer forma).
Talvez por ter restrições ao gênero, talvez por ter perdido algo, o fato é que achei apenas razoável.
Um contingente de soldados japoneses, em meio à Segunda Grande Guerra, aguarda a inevitável derrota para o exército americano, mais numeroso e com melhor armamento. Ao contrário do que o título possa sugerir, as cartas de Iwo Jima têm papel secundário no trabalho de dar humanidade a esses homens, apenas servindo como base para a construção de suas histórias. As atuações extraordinárias, aliadas a (e fruto de) um excelente trabalho de direção, revelam o caráter dos militares, sequestrados de suas famílias e sonhos para “servir ao seu país”, uma abstração que é dificilmente justificável, principalmente quando um de seus potenciais resultados é a morte. As personalidades dos soldados são bem pontuadas e bastante interessantes. A trama, mesmo nos momentos mais dramáticos (e são vários em um filme sobre uma batalha que já se sabia perdida desde o início), se esquiva do sentimentalismo desmedido e mesmo do patriotismo canalha presente em alguns filmes de guerra. Um dos grandes do gênero.
Consertar o passado é uma ideia constante nos filmes que tratam de viagem no tempo. Neste, envolve elementos quase infalíveis na construção de uma história prazerosa de acompanhar: relações familiares, crime e atos de heroísmo. A combinação, trazida em um roteiro original e cheio de suspense e emoção, funciona muito bem pela maior parte do filme. A diferença entre os anos em que a história se passa (1969 e 1999) é pontuada não tanto pela estranheza das novas tecnologias, lugar-comum neste gênero, mas pela diferença de postura apresentada pelos dois homens, pai e filho. Enquanto Dennis Quaid (o pai) é corajoso e resolutivo, Jim Caviezel (o filho) parece muito mais frágil e instável, sugerindo que a maturidade demora mais nos novos tempos. Na parte final, o suspense bem alimentado durante toda a extensão do filme culmina em soluções fáceis e simples, o que poderia arruiná-lo não fosse a história tão bem conduzida até este ponto.
Nesta comédia de humor negro, Scorsese coloca seu protagonista, um entediado funcionário de escritório, em uma intrincada cadeia de insanidade na noite de Nova Iorque. Cena após cena, vemos o desesperado personagem se tornar refém de uma excentricidade diferente, e é inevitável adjetivar a trama como kafkiana. A sensação de que o personagem vive um pesadelo se estabelece não só nas suas múltiplas desventuras, mas também no nonsense das situações e dos diálogos, bizarramente ótimos. Um maiúsculo e delicioso trabalho do diretor e de seu roteirista, pra ser revisto a qualquer hora.
O filme foca na versão da primeira das três moças sequestradas por Ariel Castro, Michele. Sendo uma obra feita para a TV, não escapa do modelo narrativo característico, que consiste em apresentar a história de maneira simples e direta. As implicações emocionais da experiência de ser mantida em cárcere privado por 11 anos, afastada do filho e submetida à violência diária (que culminou em cinco abortos) são deixadas em segundo plano. O roteiro também não é eficaz em traduzir tão extenso período de tempo para uma fita de pouco menos de 1h30min, faltando-lhe foco em elementos de transição de época. Se não fosse pelo nascimento da filha de uma das sequestradas – e seu consequente crescimento – mal saberíamos que algum tempo se passou. Em virtude dessa superficialidade, há pouca diferença entre ler um resumo sobre o caso e assistir a esse filme. Comentário randômico: como míope, fiquei angustiada por ela ter passado uma década sem óculos.
É Tim Burton dos pés às cabeças decepadas: tem Johnny Depp (e como era gato há 20 anos!...), tem temática sombria, tem humor negro e tem atuações caricatas. O visual é o que se destaca, com uma fotografia linda e com cenários que transmitem perfeitamente a atmosfera do filme. As mortes violentas, o sangue em profusão e a violência em geral tem seu peso neutralizado pela comicidade sempre presente. Foi um bom entretenimento.
A divisão do filme em duas partes é bastante perceptível. Na primeira metade, há uma certa dificuldade em se estabelecer o foco. Ainda assim, a apresentação da história na voz dos diferentes personagens, todos bem construídos e belissimamente interpretados, contribui para que o interesse se mantenha. Na segunda metade, a partir do retorno de certo personagem, o tema de “tensão racial” fica mais evidente e as narrativas caminham com maior fluidez e consistência. No final, o filme oferece ao espectador pequenos “alívios” que pecam na verossimilhança mas que, após tanta violência e injustiça, não deixam de ser bem-vindos.
São três horas de filme (na versão estendida) e, no entanto, todos os conflitos mostrados não têm motivação e se resolvem rápida e simploriamente. O ódio surge e desaparece num piscar de olhos. Mesmo assim, o filme insiste num incomodo clima "épico". Até funcionaria se os protagonistas tivessem algum carisma e não fossem só “filhinhos da mamãe”. A discussão sobre os métodos dos heróis e o justiçamento que praticam, já presente em outros filmes mas ainda interessante, padece da mesma superficialidade vista no resto da história.
O filme tem a estrutura típica de uma infinidade de romances: paixão intensa seguida por tragédia imensa. Neste, tem também um violoncelo, alguns roqueiros e uma família fofinha. E vários problemas. O casal de protagonistas vive ostentando uma cara de tédio e de aborrecimento sem motivo. Ou seja, uma representação perfeita de adolescentes. O problema é que adolescentes e seus dramas são uma chatice. Os conflitos diretamente relacionados ao casal são de uma platitude sem fim. Além disso, a sustentação do romance é muito fraca, faltando desenvolvimento. E então, temos O GRANDE DRAMA: uma sucessão de eventos muito tristes é anunciada mas o filme não é conduzido de maneira a emocionar. No fim, vira só um amontoado de informações.
Gostaria que o filme tivesse apresentado a mesma qualidade e capacidade de contagiar da trilha sonora. Infelizmente o roteiro tem muitas falhas, principalmente no desenvolvimentos dos personagens. As motivações dos protagonistas são rasas e os personagens secundários não se conectam com a história principal. Foi difícil manter o interesse.
Apresentando-se como comédia, o filme tem um tom divertido e empenha-se em ser o mais leve possível. Tudo é simples e previsível, desde as motivações dos personagens até a resolução dos conflitos. Gostaria de ter visto um filme com mais força mas, ainda assim, assisti-lo não deixou de ser agradável.
Se forem consideradas as comédias nacionais lançadas nos últimos anos, a maioria abaixo da crítica, o filme se sai bem. Dentro de suas pretensões, consideradas as limitações próprias de um projeto nestes moldes, pode-se dizer que o produto final é bastante razoável.
O filme, ainda mais se for considerado seu poético título em português, promete muito mais do que entrega. A sensação é de que faltou desenvolvimento e aprofundamento para a maioria dos temas abordados.
As posições políticas opostas dos protagonistas e o envolvimento de um deles com órgãos de repressão e tortura do governo franquista, por exemplo, são elementos trazidos reiteradas vezes à cena, o que sugere sua importância na história. Entretanto, são sempre tratados de maneira superficial e até desconexa.
Um escritor avesso aos holofotes decide retornar ao seu povoado natal, de onde saiu há 40 anos, para uma semana de homenagens. O prefeito, ao discursar, deixa claro seu status naquele local ao compará-lo com as mais distintas figuras argentinas – Diego, o Papa, a Rainha da Holanda e Messi.
Porém, como afirma o protagonista, lhe falta a morte para que se torne um herói. A imagem de alguém é sempre mais forte, porque, diferente da própria pessoa, pode ser moldada da maneira que convier.
A débil identificação que o povo de Salto tem com aquele que resolve reconhecer como cidadão honorário, sustentada somente pelo local de nascimento comum, dá origem às mais variadas – e injustas – projeções sobre a figura do Prêmio Nobel.
Tão logo o escritor não cumpre o papel que lhe foi atribuído sem que soubesse, a solicitude do povo se transforma, e os vícios da pequena comunidade, que motivaram a fuga do protagonista há tanto tempo, vêm à tona.
Um filme com um afiado humor negro, com ótimos personagens e interpretações.
A maneira utilizada para expor um tema delicado, o despertar sexual de uma jovem adulta portadora de deficiência intelectual, é bastante acertada. Os realizadores foram objetivos na abordagem, sem deixar espaço para o melodrama. Mesmo que haja um potencial “vilão”, o modo como a trama é conduzida não permite maniqueísmos simplistas. A película limita-se a apresentar a história, deixando as reflexões e conclusões todas a cargo do espectador, e é nisso que reside seu maior mérito. Assim, mesmo com algumas inconsistências no roteiro, o filme ganha pontos por sua coragem.
É verdade que o documentário, ao mostrar Jiro e seus funcionários tão dedicados à produção do sushi, celebra a culinária como arte. Mas a obra, infelizmente, é dedicada muito mais ao culto da personalidade e da filosofia de vida do chef: o esforço desmedido e o trabalho incessante são apresentados como virtudes incontestáveis, mesmo que a obsessão pelo sushi tenha consumido sua vida inteira. O pouco tempo que o "shokunin" passou com a família e a dificuldade que tem de se aposentar – e assim confiar a administração do restaurante em definitivo ao filho – após passar 75 anos trabalhando, são atitudes nunca questionadas, mas sim louvadas. Tudo, desde os clientes impressionados com cada gesto de Jiro, até a pesada trilha sonora, contribui para o incômodo clima hagiográfico do documentário.
O filme, ainda que trate de um drogadito em recuperação, é leve, "bonitinho" e familiar. O gato Bob, interpretando a si mesmo, deixa tudo mais fofo. Além dessa fofura porém, por conta de um roteiro previsível e superficial, pouco é entregue. Mas talvez nem precise de mais: ver um gatinho em ação é sempre um bom entretenimento, os milhares de vídeos disponíveis na Internet não me deixam mentir.
A injustificada duração aproximada de três horas age em desfavor do filme. A opção por manter tanto material redundou em algumas cenas excessivamente longas e em outras simplesmente desnecessárias. Na maior parte do tempo, apenas se repetem as extravagâncias do pai e o comportamento estoico da filha. Como resultado, o desgaste dos personagens, ainda que interpretados com competência, é inevitável. Felizmente, há também muitos momentos excelentes na obra, ainda divertida e inteligente.
A cena do evento que Ines hospeda em seu apartamento, como todos pelados para "fortalecer o espírito de equipe", solidamente realizada, é talvez a melhor e mais memorável do filme.
A história de um deus de ar caricatural que odeia a si mesmo e ao próximo e de sua filha que, a sua revelia, divulga as datas de morte de toda a humanidade e desce à Terra para recrutar seis novos apóstolos para escrever o Novíssimo Testamento, transborda criatividade em cada segmento. O registro da vida dos apóstolos, impregnado de melancolia e de algum exotismo, rende não apenas cenas de real delicadeza, mas também consegue garantir inúmeros momentos de diversão. Um filme original, com ótimos personagens e um agradável tom otimista.
Amnésia
4.2 2,2K Assista AgoraA minha lembrança do filme, visto pela primeira vez há cerca de 10 anos, se resumia a umas poucas cenas e ao que eu julgava ser a sua conclusão. Descobri, entretanto, que há mais de uma interpretação que se encaixa nos acontecimentos. Nada mais natural, já que o filme foi concebido como um exercício de “juntar as peças” sendo este seu principal atrativo. O roteiro e a montagem propositadamente fazem com que o espectador compartilhe da desorientação vivida pelo protagonista e até mesmo considere se valer de notas para desvendar a trama.
O Último Imperador
3.8 159 Assista AgoraO impressionante épico de Bertolucci, agraciado com 9 prêmios Oscar, retrata a agitada vida de Pu Yi através de duas linhas temporais contrastantes. Na China imperial, coroado aos 3 anos, é mantido na deslumbrante cidade proibida, onde o único contato possível é com seus incontáveis servos, já que até mesmo a mãe não mora consigo. Na China Popular Democrática, é feito prisioneiro para que se torne o “novo homem” idealizado pelo governo comunista. Entre estes dois extremos, há muita história a ser contada, distribuída nas quase 4 horas do filme. O extenso tempo, porém, não foi bem utilizado, deixando certas cenas longas e didáticas demais enquanto outros episódios importantes para a interessante história são mostrados com rapidez e sem a emoção necessária.
O Processo
4.0 240Lindbergh sobre Janaína: “[…] fica o tempo todo fazendo discurso político. Parece que tô vendo a senhora candidata a deputada federal na próxima eleição.”
Só errou o cargo (que por pouco não foi o de vice-presidenta).
Marvin
3.7 71 Assista AgoraO filme trata dos conflitos do protagonista, principalmente os relacionados ao processo de descoberta e aceitação da homossexualidade, demonstrando como sua formação em meio a uma sociedade inculta e preconceituosa, no seio de uma família desestruturada e incapaz de afeto, impactou sua vida adulta e personalidade. Na montagem, cenas do passado de rejeição e dor são intercaladas com as da vida atual em um ambiente muito mais tolerante, mas que ainda precisa ser melhor assimilado. Em ambos os momentos, Marvin encontra sua libertação no teatro, que lhe fornece oportunidade de fuga na infância e de necessário confronto na maturidade.
Gostei da direção e das interpretações, mas achei pouco crível a jornada do protagonista, que triunfa sempre através do incentivo, ajuda e proteção de terceiros.
A Vida Marinha com Steve Zissou
3.8 454 Assista AgoraA originalidade que permeia os trabalhos de Anderson faz com que eu tenha que atribuir pontos ao filme sem nenhuma análise mais aprofundada sobre roteiro. A composição das cenas, com a escolha de cores e elementos, é A grande atração d'A Vida Aquática com Steve Zissou e, assim, deve ser julgada em apartado para que se lhe faça justiça. Trata-se de um trabalho caprichoso demais para ser considerado no mesmo conjunto da pouco consistente narrativa. Em um visual tão atraente, é inevitável dizer que a história é fora de tom. O desenvolvimento, nas quase duas horas de extensão, é arrastado e os conflitos não evoluem de maneira interessante. O que resta, ao final, é admirar a inventividade dos demais aspectos componentes do filme e a performance de Seu Jorge cantando Bowie.
Os Imperdoáveis
4.3 655O filme reserva ao seu protagonista uma história padrão, apresentando alguém resolve encarar um passado há muito abandonado e sofre as consequências do período de afastamento. No caso do matador William, os métodos não lhe são mais familiares e as ações outrora automáticas passam a ser estranhas e questionáveis porque os valores mudaram. Infelizmente, achei o desenvolvimento algo problemático. O filme, ao contrário de outros títulos do gênero, opta por um ritmo lento e investe em (bons) diálogos. Porém, as motivações de todos padecem de falta de clareza.
Não há elementos, por exemplo, que revelem pontos fundamentais do roteiro, como o que levou o velho Munny a sair de casa e abandonar os filhos (somente dinheiro?) ou a razão de tanta comoção da cidade pela possível morte de dois forasteiros desordeiros (entendo que há uma relação com o crime que cometeram ter sido praticado em prostitutas, mas é frágil de qualquer forma).
Cartas de Iwo Jima
4.0 300 Assista AgoraUm contingente de soldados japoneses, em meio à Segunda Grande Guerra, aguarda a inevitável derrota para o exército americano, mais numeroso e com melhor armamento. Ao contrário do que o título possa sugerir, as cartas de Iwo Jima têm papel secundário no trabalho de dar humanidade a esses homens, apenas servindo como base para a construção de suas histórias. As atuações extraordinárias, aliadas a (e fruto de) um excelente trabalho de direção, revelam o caráter dos militares, sequestrados de suas famílias e sonhos para “servir ao seu país”, uma abstração que é dificilmente justificável, principalmente quando um de seus potenciais resultados é a morte. As personalidades dos soldados são bem pontuadas e bastante interessantes. A trama, mesmo nos momentos mais dramáticos (e são vários em um filme sobre uma batalha que já se sabia perdida desde o início), se esquiva do sentimentalismo desmedido e mesmo do patriotismo canalha presente em alguns filmes de guerra. Um dos grandes do gênero.
Alta Frequência
3.9 389 Assista AgoraConsertar o passado é uma ideia constante nos filmes que tratam de viagem no tempo. Neste, envolve elementos quase infalíveis na construção de uma história prazerosa de acompanhar: relações familiares, crime e atos de heroísmo. A combinação, trazida em um roteiro original e cheio de suspense e emoção, funciona muito bem pela maior parte do filme. A diferença entre os anos em que a história se passa (1969 e 1999) é pontuada não tanto pela estranheza das novas tecnologias, lugar-comum neste gênero, mas pela diferença de postura apresentada pelos dois homens, pai e filho. Enquanto Dennis Quaid (o pai) é corajoso e resolutivo, Jim Caviezel (o filho) parece muito mais frágil e instável, sugerindo que a maturidade demora mais nos novos tempos. Na parte final, o suspense bem alimentado durante toda a extensão do filme culmina em soluções fáceis e simples, o que poderia arruiná-lo não fosse a história tão bem conduzida até este ponto.
Depois de Horas
4.0 457 Assista AgoraNesta comédia de humor negro, Scorsese coloca seu protagonista, um entediado funcionário de escritório, em uma intrincada cadeia de insanidade na noite de Nova Iorque. Cena após cena, vemos o desesperado personagem se tornar refém de uma excentricidade diferente, e é inevitável adjetivar a trama como kafkiana. A sensação de que o personagem vive um pesadelo se estabelece não só nas suas múltiplas desventuras, mas também no nonsense das situações e dos diálogos, bizarramente ótimos. Um maiúsculo e delicioso trabalho do diretor e de seu roteirista, pra ser revisto a qualquer hora.
Sequestros em Cleveland
3.5 200 Assista AgoraO filme foca na versão da primeira das três moças sequestradas por Ariel Castro, Michele. Sendo uma obra feita para a TV, não escapa do modelo narrativo característico, que consiste em apresentar a história de maneira simples e direta. As implicações emocionais da experiência de ser mantida em cárcere privado por 11 anos, afastada do filho e submetida à violência diária (que culminou em cinco abortos) são deixadas em segundo plano. O roteiro também não é eficaz em traduzir tão extenso período de tempo para uma fita de pouco menos de 1h30min, faltando-lhe foco em elementos de transição de época. Se não fosse pelo nascimento da filha de uma das sequestradas – e seu consequente crescimento – mal saberíamos que algum tempo se passou. Em virtude dessa superficialidade, há pouca diferença entre ler um resumo sobre o caso e assistir a esse filme.
Comentário randômico: como míope, fiquei angustiada por ela ter passado uma década sem óculos.
A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça
3.8 1,3K Assista AgoraÉ Tim Burton dos pés às cabeças decepadas: tem Johnny Depp (e como era gato há 20 anos!...), tem temática sombria, tem humor negro e tem atuações caricatas. O visual é o que se destaca, com uma fotografia linda e com cenários que transmitem perfeitamente a atmosfera do filme. As mortes violentas, o sangue em profusão e a violência em geral tem seu peso neutralizado pela comicidade sempre presente. Foi um bom entretenimento.
Mudbound: Lágrimas Sobre o Mississippi
4.1 323 Assista AgoraA divisão do filme em duas partes é bastante perceptível. Na primeira metade, há uma certa dificuldade em se estabelecer o foco. Ainda assim, a apresentação da história na voz dos diferentes personagens, todos bem construídos e belissimamente interpretados, contribui para que o interesse se mantenha.
Na segunda metade, a partir do retorno de certo personagem, o tema de “tensão racial” fica mais evidente e as narrativas caminham com maior fluidez e consistência. No final, o filme oferece ao espectador pequenos “alívios” que pecam na verossimilhança mas que, após tanta violência e injustiça, não deixam de ser bem-vindos.
Batman vs Superman - A Origem da Justiça
3.4 5,0K Assista AgoraSão três horas de filme (na versão estendida) e, no entanto, todos os conflitos mostrados não têm motivação e se resolvem rápida e simploriamente. O ódio surge e desaparece num piscar de olhos. Mesmo assim, o filme insiste num incomodo clima "épico". Até funcionaria se os protagonistas tivessem algum carisma e não fossem só “filhinhos da mamãe”.
A discussão sobre os métodos dos heróis e o justiçamento que praticam, já presente em outros filmes mas ainda interessante, padece da mesma superficialidade vista no resto da história.
Se Eu Ficar
3.5 1,9K Assista AgoraO filme tem a estrutura típica de uma infinidade de romances: paixão intensa seguida por tragédia imensa. Neste, tem também um violoncelo, alguns roqueiros e uma família fofinha. E vários problemas.
O casal de protagonistas vive ostentando uma cara de tédio e de aborrecimento sem motivo. Ou seja, uma representação perfeita de adolescentes. O problema é que adolescentes e seus dramas são uma chatice. Os conflitos diretamente relacionados ao casal são de uma platitude sem fim. Além disso, a sustentação do romance é muito fraca, faltando desenvolvimento. E então, temos O GRANDE DRAMA: uma sucessão de eventos muito tristes é anunciada mas o filme não é conduzido de maneira a emocionar. No fim, vira só um amontoado de informações.
Flashdance: Em Ritmo de Embalo
3.4 643 Assista AgoraGostaria que o filme tivesse apresentado a mesma qualidade e capacidade de contagiar da trilha sonora.
Infelizmente o roteiro tem muitas falhas, principalmente no desenvolvimentos dos personagens. As motivações dos protagonistas são rasas e os personagens secundários não se conectam com a história principal. Foi difícil manter o interesse.
Orgulho e Esperança
4.3 292 Assista AgoraApresentando-se como comédia, o filme tem um tom divertido e empenha-se em ser o mais leve possível. Tudo é simples e previsível, desde as motivações dos personagens até a resolução dos conflitos. Gostaria de ter visto um filme com mais força mas, ainda assim, assisti-lo não deixou de ser agradável.
Internet: O Filme
1.5 317Se forem consideradas as comédias nacionais lançadas nos últimos anos, a maioria abaixo da crítica, o filme se sai bem.
Dentro de suas pretensões, consideradas as limitações próprias de um projeto nestes moldes, pode-se dizer que o produto final é bastante razoável.
Pecados Antigos, Longas Sombras
3.6 79 Assista AgoraO filme, ainda mais se for considerado seu poético título em português, promete muito mais do que entrega. A sensação é de que faltou desenvolvimento e aprofundamento para a maioria dos temas abordados.
As posições políticas opostas dos protagonistas e o envolvimento de um deles com órgãos de repressão e tortura do governo franquista, por exemplo, são elementos trazidos reiteradas vezes à cena, o que sugere sua importância na história. Entretanto, são sempre tratados de maneira superficial e até desconexa.
Outras tramas seguem o mesmo caminho:
a vidente e a doença de Juan, o relacionamento familiar de Pedro, o jornalista “Capote”, o aluguel da casa, a corrupção da polícia
Ao final, o que sobra é um razoável filme de investigação.
O Cidadão Ilustre
4.0 198 Assista AgoraUm escritor avesso aos holofotes decide retornar ao seu povoado natal, de onde saiu há 40 anos, para uma semana de homenagens. O prefeito, ao discursar, deixa claro seu status naquele local ao compará-lo com as mais distintas figuras argentinas – Diego, o Papa, a Rainha da Holanda e Messi.
Porém, como afirma o protagonista, lhe falta a morte para que se torne um herói. A imagem de alguém é sempre mais forte, porque, diferente da própria pessoa, pode ser moldada da maneira que convier.
A débil identificação que o povo de Salto tem com aquele que resolve reconhecer como cidadão honorário, sustentada somente pelo local de nascimento comum, dá origem às mais variadas – e injustas – projeções sobre a figura do Prêmio Nobel.
Tão logo o escritor não cumpre o papel que lhe foi atribuído sem que soubesse, a solicitude do povo se transforma, e os vícios da pequena comunidade, que motivaram a fuga do protagonista há tanto tempo, vêm à tona.
Um filme com um afiado humor negro, com ótimos personagens e interpretações.
Dora ou A Neurose Sexual dos Nossos Pais
3.5 10A maneira utilizada para expor um tema delicado, o despertar sexual de uma jovem adulta portadora de deficiência intelectual, é bastante acertada. Os realizadores foram objetivos na abordagem, sem deixar espaço para o melodrama. Mesmo que haja um potencial “vilão”, o modo como a trama é conduzida não permite maniqueísmos simplistas. A película limita-se a apresentar a história, deixando as reflexões e conclusões todas a cargo do espectador, e é nisso que reside seu maior mérito. Assim, mesmo com algumas inconsistências no roteiro, o filme ganha pontos por sua coragem.
O Sushi dos Sonhos de Jiro
4.2 83É verdade que o documentário, ao mostrar Jiro e seus funcionários tão dedicados à produção do sushi, celebra a culinária como arte.
Mas a obra, infelizmente, é dedicada muito mais ao culto da personalidade e da filosofia de vida do chef: o esforço desmedido e o trabalho incessante são apresentados como virtudes incontestáveis, mesmo que a obsessão pelo sushi tenha consumido sua vida inteira.
O pouco tempo que o "shokunin" passou com a família e a dificuldade que tem de se aposentar – e assim confiar a administração do restaurante em definitivo ao filho – após passar 75 anos trabalhando, são atitudes nunca questionadas, mas sim louvadas.
Tudo, desde os clientes impressionados com cada gesto de Jiro, até a pesada trilha sonora, contribui para o incômodo clima hagiográfico do documentário.
Um Gato de Rua Chamado Bob
4.1 130 Assista AgoraO filme, ainda que trate de um drogadito em recuperação, é leve, "bonitinho" e familiar. O gato Bob, interpretando a si mesmo, deixa tudo mais fofo. Além dessa fofura porém, por conta de um roteiro previsível e superficial, pouco é entregue.
Mas talvez nem precise de mais: ver um gatinho em ação é sempre um bom entretenimento, os milhares de vídeos disponíveis na Internet não me deixam mentir.
As Faces de Toni Erdmann
3.8 257 Assista AgoraA injustificada duração aproximada de três horas age em desfavor do filme. A opção por manter tanto material redundou em algumas cenas excessivamente longas e em outras simplesmente desnecessárias. Na maior parte do tempo, apenas se repetem as extravagâncias do pai e o comportamento estoico da filha. Como resultado, o desgaste dos personagens, ainda que interpretados com competência, é inevitável.
Felizmente, há também muitos momentos excelentes na obra, ainda divertida e inteligente.
A cena do evento que Ines hospeda em seu apartamento, como todos pelados para "fortalecer o espírito de equipe", solidamente realizada, é talvez a melhor e mais memorável do filme.
O Novíssimo Testamento
3.9 165A história de um deus de ar caricatural que odeia a si mesmo e ao próximo e de sua filha que, a sua revelia, divulga as datas de morte de toda a humanidade e desce à Terra para recrutar seis novos apóstolos para escrever o Novíssimo Testamento, transborda criatividade em cada segmento.
O registro da vida dos apóstolos, impregnado de melancolia e de algum exotismo, rende não apenas cenas de real delicadeza, mas também consegue garantir inúmeros momentos de diversão.
Um filme original, com ótimos personagens e um agradável tom otimista.