Acredito que o título do documentário é inapropriado. A expressão latina “mea maxima culpa” é utilizada, no catolicismo, quando do ato de contrição. Os padres abusadores não demonstram, nem de longe, algum arrependimento pelas ações que deixaram profundas marcas na vida de milhares de crianças. Pior do que isso: há os que creiam ter feito um bem a elas. A ICAR, por sua vez, usa e abusa do poder que detém para acobertar os abomináveis crimes, além de, por diversas vezes, contribuir para que se perpetuem. Ao exigir e recompensar o silêncio, ignora a advertência contida em seu próprio livro sagrado: “não há nada de oculto que não venha a ser revelado”. Assim os crentes e não crentes esperam.
A lógica das decisões tomadas pela personagem principal é impossível de ser decifrada. As ações parecem apenas servir para que o filme mantenha um ar excêntrico e resultam em diversas cenas improváveis. Essas cenas, porque excessivas e, na maior parte das vezes, gratuitas, sem qualquer verdadeira contribuição para o andamento da trama, tornam a produção cansativa. Por fim, não entendi a presença da vizinha, explorada e maltratada por Elvira. Não houve nenhum desenvolvimento da relação das duas e, se existia algum subtexto, fui incapaz de compreendê-lo
O convencional relato da trajetória de adversidades e conquistas, comum aos documentários biográficos esportivos está presente, mas serve mais para contextualizar a narrativa principal: a recuperação do cinturão dos médio-pesados, injustamente tomado. Assim, o filme não foca na exaltação dos feitos de Maravilla, o que poderia torná-lo desinteressante, mas sim no jogo de interesses comerciais do esporte e, principalmente, na crescente rivalidade com Chávez Jr., a quem o título foi dado. O clima de competição construído pelo diretor a partir daí contagia e envolve, saiba-se o desfecho da história ou não.
Para Michael Dunn, rap é música de marginal ("thug"). Por extensão, todos os que ouvem e estão inseridos na "subcultura" do rap são bandidos e nada de bom pode vir deles. Contaminado por essas percepções, bastou que um dos adolescentes negros que ouviam rap em alto volume em um carro ao lado do seu lhe tratasse com algum desrespeito para que ele se achasse no direito de alvejar o veículo com 10 tiros, um deles fatal. Depoimentos de familiares e amigos da vítima ajudam a construir a imagem de Jordan Davis, com suas atitudes tipicamente adolescentes. O lado oposto é apresentado pela exibição das conversas do então acusado com sua noiva, cujo conteúdo serve para dirimir qualquer dúvida quanto à mentalidade preconceituosa do atirador, determinante, ao lado do porte de arma, para a realização do crime. O documentário reconta a história do dia do crime de maneira bastante direta, através de cenas do julgamento enfrentado por Dunn. Uma aberrante lei do estado da Flórida, conhecida como "Stand-your-ground", sustenta o argumento da defesa, e é interessante observar que ela é capaz de dar legitimidade ao ato de disparar múltiplos tiros contra alguém com base em uma mera impressão do atirador (e que talvez tivesse gerado a absolvição do réu, não fosse um depoimento inesperado).
As práticas econômicas e os jargões específicos - criados, nas palavras do filme, para fazer com que as pessoas se sintam burras e entediadas e assim deixem Wall Street em paz - eram um enorme desafio a ser vencido, uma vez que o filme depende da compreensão de certos conceitos para ser desfrutado. Além disso, também era complicado agregar valor de entretenimento a tão complexo tema. Os realizadores, se valendo de soluções criativas no roteiro e na edição, e de um poderoso elenco, contornaram as duas questões com habilidade, mas, talvez, não tenham atingido o êxito completo.
O trabalho de animação em stop motion é de encher os olhos, mas o conteúdo narrativo impressiona muito menos. O protagonista, incapaz de considerar qualquer coisa que não seja sua própria (in)felicidade, dificilmente desperta algo além de indiferença.
Explora bastante bem o formato, sendo eficaz em produzir suspense e transmitir o crescente desespero dos confinados através da filmagem. A "chatice" da repórter incomoda um pouco, mas é uma maneira verossímil de reação àquele nível de tensão. As revelações da trama não decepcionam e o resultado final é satisfatório mesmo para quem, como eu, não simpatiza muito com o terror.
Excelentes atuações em um filme muito bem conduzido. A obra se mantém interessante e gera impacto sem precisar se escorar no sentimentalismo, caminho que seria fácil em uma história que envolve abuso sexual infantil. Discussões sobre o poder da imprensa, a importância do ofício de jornalista e, principalmente, a responsabilidade por trás da reportagem, fazem deste um ótimo filme.
O carisma dos personagens e as boas piadas (embora nem todas funcionem para a audiência estrangeira), fazem com que uma história um tanto absurda se torne agradável e divertida.
O documentário se preocupa demais com o potencial drama que a escolha pelo pornô pode gerar na vida das atrizes, notadamente nas sequências com a família e o namorado de uma das moças, possivelmente pré-roteirizadas. Sobre a complexa indústria do pornô e seus prós e contras, o conteúdo apresentado é pouco e superficial, o que compromete sua relevância.
A morte por apedrejamento foi introduzida no Irã em 1983, apenas três anos antes dos eventos retratados no filme. Eu, vivendo numa sociedade ocidental e secularizada, simplesmente não consigo entender como uma prática dessas possa ter sido assimilada tão naturalmente, a ponto de fazer as pessoas ansiarem por sua execução
inclusive, no filme, os filhos e o próprio pai da "adúltera" Soraya.
Quão grande é a suscetibilidade das pessoas ao discurso religioso fundamentalista e quão perigoso é que um Estado seja teocrático e legitime esse mesmo discurso? A extensa sequência do suplício de Soraya responde.
Ainda que eu goste do Messi, provavelmente não teria assistido ao documentário se ele não fosse dirigido pelo Álex de la Iglesia, que reconheço como um diretor ousado. Não o foi desta vez. Recriar com atores cenas da vida de Messi e gravar os depoimentos de seus conhecidos à mesa do jantar não me pareceram escolhas acertadas. A primeira por ser desnecessária e algo cafona, a segunda pelo ar artificial. Pode até ser que os fãs do jogador amem, mas o filme é dispensável.
A atuação da protagonista Anna Paquin consegue compensar em alguma medida o preguiçoso roteiro, mas não o suficiente para salvar o filme de ser entediante e incapaz de emocionar, o que é surpreendente dado o heroísmo (e o corajoso coração) da verdadeira Irena Sendler. A linda história real da indicada ao Nobel da Paz- entregue naquele ano para Al Gore (!) - merecia mais.
Minha Máxima Culpa: Silêncio na Casa de Deus
4.5 53Acredito que o título do documentário é inapropriado. A expressão latina “mea maxima culpa” é utilizada, no catolicismo, quando do ato de contrição. Os padres abusadores não demonstram, nem de longe, algum arrependimento pelas ações que deixaram profundas marcas na vida de milhares de crianças. Pior do que isso: há os que creiam ter feito um bem a elas.
A ICAR, por sua vez, usa e abusa do poder que detém para acobertar os abomináveis crimes, além de, por diversas vezes, contribuir para que se perpetuem. Ao exigir e recompensar o silêncio, ignora a advertência contida em seu próprio livro sagrado: “não há nada de oculto que não venha a ser revelado”. Assim os crentes e não crentes esperam.
Elvira - Te Daria Minha Vida, mas a Estou Usando
3.6 30 Assista AgoraA lógica das decisões tomadas pela personagem principal é impossível de ser decifrada. As ações parecem apenas servir para que o filme mantenha um ar excêntrico e resultam em diversas cenas improváveis. Essas cenas, porque excessivas e, na maior parte das vezes, gratuitas, sem qualquer verdadeira contribuição para o andamento da trama, tornam a produção cansativa.
Por fim, não entendi a presença da vizinha, explorada e maltratada por Elvira. Não houve nenhum desenvolvimento da relação das duas e, se existia algum subtexto, fui incapaz de compreendê-lo
Maravilla
3.9 2O convencional relato da trajetória de adversidades e conquistas, comum aos documentários biográficos esportivos está presente, mas serve mais para contextualizar a narrativa principal: a recuperação do cinturão dos médio-pesados, injustamente tomado.
Assim, o filme não foca na exaltação dos feitos de Maravilla, o que poderia torná-lo desinteressante, mas sim no jogo de interesses comerciais do esporte e, principalmente, na crescente rivalidade com Chávez Jr., a quem o título foi dado. O clima de competição construído pelo diretor a partir daí contagia e envolve, saiba-se o desfecho da história ou não.
3½ Minutes, Ten Bullets
3.9 6Para Michael Dunn, rap é música de marginal ("thug"). Por extensão, todos os que ouvem e estão inseridos na "subcultura" do rap são bandidos e nada de bom pode vir deles. Contaminado por essas percepções, bastou que um dos adolescentes negros que ouviam rap em alto volume em um carro ao lado do seu lhe tratasse com algum desrespeito para que ele se achasse no direito de alvejar o veículo com 10 tiros, um deles fatal.
Depoimentos de familiares e amigos da vítima ajudam a construir a imagem de Jordan Davis, com suas atitudes tipicamente adolescentes. O lado oposto é apresentado pela exibição das conversas do então acusado com sua noiva, cujo conteúdo serve para dirimir qualquer dúvida quanto à mentalidade preconceituosa do atirador, determinante, ao lado do porte de arma, para a realização do crime.
O documentário reconta a história do dia do crime de maneira bastante direta, através de cenas do julgamento enfrentado por Dunn. Uma aberrante lei do estado da Flórida, conhecida como "Stand-your-ground", sustenta o argumento da defesa, e é interessante observar que ela é capaz de dar legitimidade ao ato de disparar múltiplos tiros contra alguém com base em uma mera impressão do atirador (e que talvez tivesse gerado a absolvição do réu, não fosse um depoimento inesperado).
A Grande Aposta
3.7 1,3KAs práticas econômicas e os jargões específicos - criados, nas palavras do filme, para fazer com que as pessoas se sintam burras e entediadas e assim deixem Wall Street em paz - eram um enorme desafio a ser vencido, uma vez que o filme depende da compreensão de certos conceitos para ser desfrutado. Além disso, também era complicado agregar valor de entretenimento a tão complexo tema. Os realizadores, se valendo de soluções criativas no roteiro e na edição, e de um poderoso elenco, contornaram as duas questões com habilidade, mas, talvez, não tenham atingido o êxito completo.
Anomalisa
3.8 497 Assista AgoraO trabalho de animação em stop motion é de encher os olhos, mas o conteúdo narrativo impressiona muito menos. O protagonista, incapaz de considerar qualquer coisa que não seja sua própria (in)felicidade, dificilmente desperta algo além de indiferença.
Josef Fritzl: História de um Monstro
2.2 54Um resumo insuficiente da vida de Fritzl, recheado de entrevistas sem substância. O caso precisa ser abordado em uma produção mais esmerada.
A Dama Dourada
4.0 270 Assista AgoraFormulaico e insípido, vale pelas belas atuações de Helen Mirren e Tatiana Maslany
[REC]
3.6 1,7K Assista AgoraExplora bastante bem o formato, sendo eficaz em produzir suspense e transmitir o crescente desespero dos confinados através da filmagem.
A "chatice" da repórter incomoda um pouco, mas é uma maneira verossímil de reação àquele nível de tensão.
As revelações da trama não decepcionam e o resultado final é satisfatório mesmo para quem, como eu, não simpatiza muito com o terror.
Spotlight - Segredos Revelados
4.1 1,7K Assista AgoraExcelentes atuações em um filme muito bem conduzido. A obra se mantém interessante e gera impacto sem precisar se escorar no sentimentalismo, caminho que seria fácil em uma história que envolve abuso sexual infantil.
Discussões sobre o poder da imprensa, a importância do ofício de jornalista e, principalmente, a responsabilidade por trás da reportagem, fazem deste um ótimo filme.
Namoro à Espanhola
3.5 58O carisma dos personagens e as boas piadas (embora nem todas funcionem para a audiência estrangeira), fazem com que uma história um tanto absurda se torne agradável e divertida.
Hot Girls Wanted
3.3 196 Assista AgoraO documentário se preocupa demais com o potencial drama que a escolha pelo pornô pode gerar na vida das atrizes, notadamente nas sequências com a família e o namorado de uma das moças, possivelmente pré-roteirizadas. Sobre a complexa indústria do pornô e seus prós e contras, o conteúdo apresentado é pouco e superficial, o que compromete sua relevância.
O Apedrejamento de Soraya M.
4.3 92A morte por apedrejamento foi introduzida no Irã em 1983, apenas três anos antes dos eventos retratados no filme. Eu, vivendo numa sociedade ocidental e secularizada, simplesmente não consigo entender como uma prática dessas possa ter sido assimilada tão naturalmente, a ponto de fazer as pessoas ansiarem por sua execução
inclusive, no filme, os filhos e o próprio pai da "adúltera" Soraya.
Quão grande é a suscetibilidade das pessoas ao discurso religioso fundamentalista e quão perigoso é que um Estado seja teocrático e legitime esse mesmo discurso? A extensa sequência do suplício de Soraya responde.
Messi
4.1 4Ainda que eu goste do Messi, provavelmente não teria assistido ao documentário se ele não fosse dirigido pelo Álex de la Iglesia, que reconheço como um diretor ousado. Não o foi desta vez. Recriar com atores cenas da vida de Messi e gravar os depoimentos de seus conhecidos à mesa do jantar não me pareceram escolhas acertadas. A primeira por ser desnecessária e algo cafona, a segunda pelo ar artificial. Pode até ser que os fãs do jogador amem, mas o filme é dispensável.
Filhos da Guerra
4.1 168 Assista AgoraA atuação da protagonista Anna Paquin consegue compensar em alguma medida o preguiçoso roteiro, mas não o suficiente para salvar o filme de ser entediante e incapaz de emocionar, o que é surpreendente dado o heroísmo (e o corajoso coração) da verdadeira Irena Sendler.
A linda história real da indicada ao Nobel da Paz- entregue naquele ano para Al Gore (!) - merecia mais.