Muito bom. Gostei. A obra retrata nada mais, nada menos, do que o espírito do capitalismo. É uma metáfora escancarada e cruel, que nos mostra aquilo que, por certo, em um momento ou outro já sentimos, sem contudo, saber nomear exatamente de que se trata: refiro-me a relação capital x trabalho. Penso, que sob esta perspectiva, o filme desvela a sanha gananciosa do capital sobre o trabalho, deixa a nu a exploração de um sistema que é uma verdadeira máquina de moer gente. Tempo não é dinheiro. Tempo é vida. E a vida não volta. Se vc, perder dinheiro, pode sempre de algum modo tentar recuperá-lo. Mas, e o tempo que foi obrigado, pela lógica do sistema a vender, como poderá recuperá-lo? Enfim, faço eco as palavras do professor Antonio Candido: "Tempo não é dinheiro. Tempo é o tecido da nossa vida, é esse minuto que está passando. Daqui a 10 minutos eu estou mais velho, daqui a 20 minutos eu estou mais próximo da morte. Portanto, eu tenho direito a esse tempo. Esse tempo pertence a meus afetos. É para amar a mulher que escolhi, para ser amado por ela. Para conviver com meus amigos, para ler Machado de Assis. Isso é o tempo."
Excelente! Um filme que mostra um lado B do Brasil. O país dos grotões, das bordas, onde brotam nossos monstros, nosso espírito com toda a violência intrincada que pode ter. É no seio de personagens perdidos, sem rumo em meio a inferninhos, tráfico, desmatamento e toda a sorte de desvarios próprios de uma gente esquecida pelo poder, que se insurge uma alma que é cerzida a brasas, fogo , dor e solidão. As marcas estão na carne destroçada de nossa podridão lírica; na nossa nefasta poesia trituradora de vidas, na margem perdida de nosso ser primordial: puro e belo como uma sarjeta.
No começo, vc pode até achar por algum momento, por certo tempo, que o filme é apenas sobre jovens curtindo a vida louca, através de drogas, sexo e muita bebedeira. Pode parecer, pois, um filme adolescente. Mas, com certeza, não é. Harmony Corine, realizador estadunidense, não brinca em serviço. Não saberia dizer, do que não gostei aqui. Tudo me parece bem encaixado, dando liga, sabe: O ritmo, a fotografia que é um espetáculo a parte, com seu uso de cores, os cortes, o roteiro... enfim, tudo soa como dentro do lugar, levando-nos a outros lugares. É uma viagem. Mais do que psicodélico, eu diria que a obra tem um efeito psicotrópico. Representa toda uma época, toda uma geração que mergulha, que quer perder-se no prazer, num mundo hedonista de festas sem fim. Em uma beleza alucinada e alucinatória, onde as raízes do mundo real, não existem. Mundo do sonho americano, que é antes um vívido pesadelo com as cores mais lindas que se possa imaginar. A vida é aquele instante que se vai fundo, que quer se esgotar na aventura das drogas, do gozo pleno e total do corpo, do êxtase do mais perfeito orgasmo. A juventude quer tudo no agora, e o tempo decaí, se perde e se esgota em si mesmo no mais doce vazio da falta de perspectivas, É , como se tudo ocorresse apenas ali naquele momento em que se goza o prazer da vida e terminasse apenas ali. Não há um mais além, o futuro foi cancelado. A vida foi cancelada em nome do imediatismo, do fundo materialismo em que a alma soçobra e se perde. Pq se achar, saber quem se é, qual sua identidade, significa neste caso, saber que não é se ninguém, se é apenas vazio, lago desperdiçado, vida sem vida na estilização/esterilização de um violência que quanto mais bela, mais fugaz e desvalida do sentido de si mesma. "Mas lembre-se sempre que esta viagem. Foi algo maravilhoso, mágico. Algo bonito."
Amo muito tudo isso: Essa vibe pós pra lá de tudo e depois. Esse rolê híbrido entre isso e aquilo e o nada a ver com isso ou aquilo. É hilário, sarcástico, irônico, metalingustico e têm piadas. A gente fica atordoado com o tanto de coisa que estão sendo ditas ali, com as muitas e variadas e diversas camadas de sentidos que nos escapam, derrapam dão uma volta nas revoltas possíveis das linguagens que habitam esta obra. Há muitos filmes dentro deste filme. O grande barato é a diversão crítica da coisa toda que funciona como um fio desencapado na mente do espectador: um estado de choque dos fragmentos/ estilhaços de nosso mundinho pós fim, pós verdade, pó. Dá sempre pra tirar um sarro ( já que cochilos são proibidos) seja como for. O que sobra é sempre o bagaço da laranja no fim de uma festa que nunca foi para todos. Recomendo demais!
A priori, me perguntei sobre o título: o mal não existe. O sentido em negativo dava ao teor do filme um arranjo irônico parecendo balançar entre o olhar contemplativo daquele mundo natural por oposição ao mundo do empreendorismo próprio da selva urbana. Mas, a obra não é assim tão simplista e investe num quê de enigmático e misterioso que a torna única no modo como demarca que para além da dicotomia bem x mal há coisas que melhor se expressam no silêncio das imagens do que na algaravia das palavras. O mistério impregna a narrativa de uma tensão não exatamente exasperante, mas antes de uma espera por algo, pelo que virá, por aquilo que se revela paradoxalmente ocultando. Percebe-se, pois, a maestria daquilo que nesta visão se dá a conhecer: a harmonia que se quer a todo custo preservar. Um equilíbrio que é tanto a meu ver do mundo físico, do espaço em que se desenrola a obra, assim como do mundo espiritual onde habita aquela matéria que soa incognoscível, ainda que a saibamos, sem saber que a sabemos. Este é daqueles filmes que ficam dentro da gente para além do fim da sessão. Em tempo: Algo de nível pessoal que aqui aflorou, não sei ao certo pq. Quando em criança, morávamos na beira de um lago, meus pais eram caseiros de uma chácara de lazer. Havia lá, ao outro lado do lago, um retiro espiritual, um convento ou algo assim. Fato é que neste lugar existia um cem número de eucaliptos que a mim, na minha percepção infantil soavam como gigantes, ora como seres humanos irmanados numa espécie de coro dramático, de evidente desespero, (o grito de munch), em tempo de ventos fortes. Ventava e os eucaliptos pendiam, pareciam ganhar vida e animar-se então num gesto de desmedida. O que me lembro é que eu "rezava" aos eucaliptos. Isso mesmo, eu pedia a eles como os considerando alguma força espiritual/sobrenatural, eu os invocava em meu coração infantil observando o mistério da força do vento e a assustadora forma como estes "se mexiam" ; eu "rezava" e pedia para que passasse de ano na escola. hahahaahaha. Isto me veio assim de chofre sobretudo nas cenas inicial e finais do filme onde a copa das árvores ganho um tom de força sobrehumana.
As obras de Quentin Dupieux são realmente inconfundíveis. Há sempre uma mescla de elementos que apontam para o riso, o absurdo e o nonsense. Em última instância pode-se dizer que sua marca por excelência é a inventividade. Da fusão bastarda entre um humor irônico e a reflexão proposta pelo tema surge algo que é deliciosamente uma comédia e um drama humano em sua inteireza. Vale a pena assistir pq é ótimo de ponta a ponta: diverte ao mesmo tempo que faz rir e pensar sobre as mazelas da alma humana nas suas escorregadelas de desejos excêntricos, vãos e inauditos.
Delicado e cruel. Uma força arrebatadora que arrasta, nos leva nessa vibe elétrica/ poética de alta tensão vital. O amor é mesmo um fio desencapado e suas consequências, que por vezes, oscilam entre as reverberacões de um inferno ou de um paraíso. O final é inesperado, surpreendente, quebra a espinha da alma e faz tudo então girar como estilhaços de um tiro de doze que nos atinge em cheio. É um filme de coração aberto, que dispõe do hálito selvagem da liberdade para dar conta da aventura/ desventura do viver.
Romantiquinho, né. A trilha sonora nesse sentido é matadora: só love. A obra é essencialmente corporal. Temos a dançarina (afirmação plena do corpo em todas as suas potencialidades; temos sua amiga, a freira, que é a negação do corpo em favor da espiritualidade e é claro, o par romântico da dançarina que não renega o corpo, mas dele não pode extrair aquilo que é mistério e efervescência. As coisas não são evidentemente estanques, como fiz parecer, mas assim se vê melhor. Das artes todas, a dança, é a que menos entendo. Compreendo pq se escreve um poema ou se pinta um quadro ou se faz um filme, mas pq se dança? É claro, que há aí, na dança o perigo do corpo no predomínio deste sobre o espírito. Mas, certamente, se arte é está se faz transcendência, eu apenas que tenho dificuldade em enxergar isso. Da problemática proposta, se tem a pergunta: Pode a ânsia amorosa prescindir do desejo do corpo? De que modo o amor sem a conjugação da carne se realiza se este não é todo espírito e sim uma coisa e outra? Em resumo: há modos distintos de se amar e são estes possíveis no nosso mundinho real habitado pelos sempre problemáticos seres humanos? Tenho lá minhas respostas e meus batalhões de dúvidas a confundir, mais ainda, o baralho sobre a mesa.
"Aprender a pintar a dor" : filmar a dor. Cada fotograma realça a beleza plena da arte e sua recusa mimetizada pela destruição, pela ojeriza que a liberdade artística, a liberdade humana, provocam naqueles a quem o dever, as leis da moral importam mais que a própria vida. Destruir a beleza é destruir a capacidade humana de sonhar, de constituir-se a si mesmo como sujeito de sua própria história. O horror é sempre essa escuridão, esse lamaçal rígido de uma lucidez caduca e arcaica na medida em que seus olhos foram vazados pela aniquilação da morte que propõe como se fosse está uma pulsão de vida quando na verdade, bem sabemos, é o seu oposto.
É leve, divertido, cômico, em suma, gostoso de assistir. Dá pra dar uma boas risadas com a dupla, com as situações que se sucedem num curto espaço. Apesar do predomínio da comédia subjaz, sem dúvida, um bem vindo tom melancólico, ao gosto de Payne, que acaba ao modo de um bom vinho dar um gosto especial a obra.
Dá um aperto no coração da gente, né. Um dor por aquilo que não foi que até pode fazer, quem sabe, escorrer uma furtiva lágrima. É romântico do começo ao fim. É triste e melancólico e belo! O destino claro que existe. Assim como também as possibilidades de escolha que podem em maior ou menor grau ser nosso destino. O amor pode ser uma fratura exposta na pele do tempo a doer por toda a vida de um modo, que só o amor pode doer.
Gostei! Parece haver aqui uma metáfora da diferença entre o humano e o animal. Sendo que este desconsidera o que há de animalesco em si mesmo. Prefere matar aquilo que acredita não corresponder aos seus conceitos de aceitabilidade social, isto é, ao diferente. Chama a este de monstro, de bichos, para não encararem sua própria "monstruosidade" retirando do outro, do diferente sua humanidade, negando-a, e assim desumanizando a si mesmo. Penso nos muros, nas divisões, e em todas as formas de segregação possíveis para separar, para afastar aqueles que não são considerados como nós, que não são suficientemente "humanos" suficientemente"civilizados " para serem aceitos.
Fotogramas do absurdo. Quadros cortantes da condição humana levados a pontos extremos, na exasperacão do desespero do beco sem saída que é a vida. Aproximar a lente e ver. Mesmo sangrando, ver mais perto e sempre. Quando a vida falha o que fazer? Quando o sentido se esvai como seguir sozinho sem mapa, no vazio do sonho/pesadelo, na impossibilidade do encontro com o outro, na voz não ouvida daquele a quem deixamos de ouvir ou ouvimos em demasia dentro de nós mesmos? Um filme que faz estremecer a dor na beleza grávida do absurdo da vida.
Se o cara corta a garganta dela ele nunca mais vai vê-la: Foi isso o que pensei naquela cena. É um filme divertido, leve, algo entre o bobinho e o descontraído. O tema não é novo; a abordagem menos ainda, contudo vale para arejar as ideias, rir e se divertir. A vibe é boa e eu curti. Me deu, foi uma vontade louca de tomar palinka, isso sim!
Há em meio ao desejo que arde uma certa previsibilidade e obviedade, que feito chamas de uma latente fogueira avolumam-se até um nível que inexoravelmente se alastram pela paisagem e pelos corpos desassossegados de si. Incendeia a mente o corpo ressequido pelo amor sempre adiado; sente-se à pele o resfolegar na ânsia nítida da consumação do amor. É um filme físico, corpóreo que clama pelo toque, que numa exasperacão do desejo quer o outro a quem se ama. ” Teu corpo/ branco e morno/(que eu deveria dizer sereno)/é para mim/suave e doloroso/como as areias cortantes/ dos desertos./Que importa/ que ignores minha sede/se tua miragem/ é água cristalina./e a miragem eu firo com mil línguas/e cada uma é um pássaro a bebê-la/ Ferroam a minha pele/ escorpiões de fogo e sol/com seu veneno/e vejo,/magoada de desejo,/ os grãos tão leves/ indo embora ao vento.” Micheliny Verunschk
A cidade, Hirayama e o silêncio. A cidade, Hirayama e a trilha sonora do silêncio. Um mergulho na delicadeza do singelo. A beleza artística dos banheiros de Tóquio e a dimensão lírica da humanidade de Hirayama: solidão e afeto contido nos gestos mínimos/ máximos de ternura. Um compartilhar fraterno e humilde de uma fagulha imensa: a vida. Comunhão das coisas que não se dizem com aquelas que se sentem imensamente. "E todas as vidas que vivemos e todas as vidas a viver estão cheias de árvores e folhas cambiantes."
É como jogar uma granada dentro da alma: estilhaços do eu. Dor/ dilaceramento. Mergulhar numa vida violentada/ transtornada pela busca de refazer-se/ reconstituir-se apesar de. A brutalidade viceja na pele da película que percorre e remói a revolta contida na fragmentação do desespero em fuga de si mesmo: mas, uma fuga sem lugar pq impossível escapar a si mesmo, Desse modo, somente uma superação do trauma através do encontro difícil e espinhoso com o outro pelo afeto, pela compreensão pode ser um caminho para as possibilidades abertas da vida futura.
A verdade não pode ser dita. Há coisas que se sabe, que se percebe nitidamente, mas que em nome de determinados valores, social e moralmente estabelecidos não se pode dizer. Daí o jogo entre a verdade e a hipocrisia, entre o interdito moral e o prazer, entre a culpa e o desejo pelo qual se sente culpado; não a ponto, de se dizer o que verdadeiramente se passou. É um drama forte, onde condenar parece ser um caminho fácil em detrimento do quão indócil pode ser o corpo que deseja e se entrega sem amarras ao socialmente condenável. É um bom filme . Sóbrio em sua forma de narrar, mas poderoso no drama do corpo, da culpa e seus desejos que carregam o caos contido de Eros.
Eu chamaria de comédia distópica. É leve, raso sob certos aspectos, funcionando muito bem como um entretenimento com pitadas satíricas sobre um futuro aparentemente não tão distante. Traça uma dicotomia entre natureza x tecnologizacão da vida: E, se os bebês fossem gerados em úteros artificiais? Isso poderia gerar uma vitória do artificial em detrimento do mundo animal humano. Humanos gerados por aplicativos automatizados. Inteligências artificiais parindo o futuro, ao modo de um ovo casulo: o novo homem?! A nova mulher agora liberta dos entraves biológicos de uma gestação?! Coaching gestacional e todas as delícias que o capitalismo pode operar por vc em nome do futuro de uma humanidade cada vez mais sem humanidade. Vamos otimizar o mundo: Para que árvores se podemos ter árvores holográficas? Viva, as grandes corporações e seu discurso high tech. Não se preocupe em viver, o algoritmo o fará bem melhor que vc.
Curto e intenso. Puro e lírico. Cinema é sonho o resto é ilusão. Creio, que adentramos no terreno do maravilhoso. Um espaço rural, um espaço interno de configurações mágicas/ fantásticas onde o que realmente acontece é o impossível, pois o possível apenas se repete, se repete e se repete. É desses filmes que fazem a gente acreditar em poesia, na transfiguração do humano em sonho, na reluzente força da ternura em sua simplicidade rural subvertendo as leis naturais. É precioso. Desses que a gente guarda do lado esquerdo do peito.
Sincronia? Inconsciente coletivo? Zeitgeist? É um filme interessante. "Pq a zebra tem aquela aparência? Pode identificá-la a quilômetros de distância, não é tão eficiente, certo? (...) predadores precisam identificar suas presas não podem atacar o grupo todo. Então, se coloca a cabeça para fora faz de si mesmo um alvo." Eis, o ponto: o alvo. A personagem de Nicolas Cage, um pacato professor, acaba sendo eleito como o alvo. A fama, Hollywood e o sucesso como diz a canção. " Sonhar é uma espécie de psicose" diz a certa altura. Um tipo de celebridade especial. A obra toca de leve, na cultura do cancelamento da internet: se vc é amado terá o céu, mas se odiado for conhecerá o inferno que os outros farão de sua vida. A publicidade, que como sabemos é a poesia do capitalismo (ironia) poderá lhe usar para lucrar, para vender; afinal de contas para que servem os sonhos senão para que possamos lucrar com eles.
Um road movie de beleza e solidão. Mais do que uma viagem física, trata-se de uma viagem interior sobre o relacionamento entre um pai e sua filha. A fotografia deslumbra e alça à obra a um nível poético expresso sob medida no uso de uma paleta de cores que reflete o estado anímico das personagens. É uma jornada onde o amor se faz presente pela dureza do itinerário a ser percorrido por Serge e sua filha, como também a ternura agridoce das conturbadas relações humanas.
Alguém abre um livro e conta uma história: pedacinhos de poesia e dor. Escombros, beleza, solidão e desamparo. É para dentro, mais do que para fora, no escuro de mim, nos meandros e interticios, que chove e se perde a profana luz enegrecida da guerra. Algo brilha fulgurante feito um diamante em meio às trevas. ” Pássaros estranhos no céu cinzento recém descoberto/Rostos estranhos no estranho corpo da cidade/Cinza, cinzas de pérola e poeira/ Triste é o banquete fúnebre.”
Um rompante de delicadeza. Uma bruta flor: De-li-ca-de-za ! Uma exata medida de impetuosidade em persistentes tons lilazes. Pensei no par antitético peso x leveza. O peso do mundo: a violência, a agressividade, o acidente, as dores da incompreensão, o fundo de militarismo e sua rigidez … Tudo isso, contrastando com a necessária leveza: a sensibilidade para olhar as coisas do mundo, como faz o menino com sua câmera de celular. O amor entre Joana e Cecília, os silêncios que transbordam um olhar reflexivo/ intuitivo para os seres, para a vida como um todo. É um filme muito bom, prenhe de sinceridade sobre a complexidade das relações humanas no que estas exalam de amor e desencontro.
Paraíso
3.2 162 Assista AgoraMuito bom. Gostei. A obra retrata nada mais, nada menos, do que o espírito do capitalismo. É uma metáfora escancarada e cruel, que nos mostra aquilo que, por certo, em um momento ou outro já sentimos, sem contudo, saber nomear exatamente de que se trata: refiro-me a relação capital x trabalho. Penso, que sob esta perspectiva, o filme desvela a sanha gananciosa do capital sobre o trabalho, deixa a nu a exploração de um sistema que é uma verdadeira máquina de moer gente. Tempo não é dinheiro. Tempo é vida. E a vida não volta. Se vc, perder dinheiro, pode sempre de algum modo tentar recuperá-lo. Mas, e o tempo que foi obrigado, pela lógica do sistema a vender, como poderá recuperá-lo? Enfim, faço eco as palavras do professor Antonio Candido: "Tempo não é dinheiro. Tempo é o tecido da nossa vida, é esse minuto que está passando. Daqui a 10 minutos eu estou mais velho, daqui a 20 minutos eu estou mais próximo da morte. Portanto, eu tenho direito a esse tempo. Esse tempo pertence a meus afetos. É para amar a mulher que escolhi, para ser amado por ela. Para conviver com meus amigos, para ler Machado de Assis. Isso é o tempo."
Rodantes
3.5 10 Assista AgoraExcelente! Um filme que mostra um lado B do Brasil. O país dos grotões, das bordas, onde brotam nossos monstros, nosso espírito com toda a violência intrincada que pode ter. É no seio de personagens perdidos, sem rumo em meio a inferninhos, tráfico, desmatamento e toda a sorte de desvarios próprios de uma gente esquecida pelo poder, que se insurge uma alma que é cerzida a brasas, fogo , dor e solidão. As marcas estão na carne destroçada de nossa podridão lírica; na nossa nefasta poesia trituradora de vidas, na margem perdida de nosso ser primordial: puro e belo como uma sarjeta.
Spring Breakers: Garotas Perigosas
2.4 2,0K Assista AgoraNo começo, vc pode até achar por algum momento, por certo tempo, que o filme é apenas sobre jovens curtindo a vida louca, através de drogas, sexo e muita bebedeira. Pode parecer, pois, um filme adolescente. Mas, com certeza, não é. Harmony Corine, realizador estadunidense, não brinca em serviço. Não saberia dizer, do que não gostei aqui. Tudo me parece bem encaixado, dando liga, sabe: O ritmo, a fotografia que é um espetáculo a parte, com seu uso de cores, os cortes, o roteiro... enfim, tudo soa como dentro do lugar, levando-nos a outros lugares. É uma viagem. Mais do que psicodélico, eu diria que a obra tem um efeito psicotrópico. Representa toda uma época, toda uma geração que mergulha, que quer perder-se no prazer, num mundo hedonista de festas sem fim. Em uma beleza alucinada e alucinatória, onde as raízes do mundo real, não existem. Mundo do sonho americano, que é antes um vívido pesadelo com as cores mais lindas que se possa imaginar. A vida é aquele instante que se vai fundo, que quer se esgotar na aventura das drogas, do gozo pleno e total do corpo, do êxtase do mais perfeito orgasmo. A juventude quer tudo no agora, e o tempo decaí, se perde e se esgota em si mesmo no mais doce vazio da falta de perspectivas, É , como se tudo ocorresse apenas ali naquele momento em que se goza o prazer da vida e terminasse apenas ali. Não há um mais além, o futuro foi cancelado. A vida foi cancelada em nome do imediatismo, do fundo materialismo em que a alma soçobra e se perde. Pq se achar, saber quem se é, qual sua identidade, significa neste caso, saber que não é se ninguém, se é apenas vazio, lago desperdiçado, vida sem vida na estilização/esterilização de um violência que quanto mais bela, mais fugaz e desvalida do sentido de si mesma. "Mas lembre-se sempre que esta viagem. Foi algo maravilhoso, mágico. Algo bonito."
Não Espere Muito do Fim do Mundo
3.7 14 Assista AgoraAmo muito tudo isso: Essa vibe pós pra lá de tudo e depois. Esse rolê híbrido entre isso e aquilo e o nada a ver com isso ou aquilo. É hilário, sarcástico, irônico, metalingustico e têm piadas. A gente fica atordoado com o tanto de coisa que estão sendo ditas ali, com as muitas e variadas e diversas camadas de sentidos que nos escapam, derrapam dão uma volta nas revoltas possíveis das linguagens que habitam esta obra. Há muitos filmes dentro deste filme. O grande barato é a diversão crítica da coisa toda que funciona como um fio desencapado na mente do espectador: um estado de choque dos fragmentos/ estilhaços de nosso mundinho pós fim, pós verdade, pó. Dá sempre pra tirar um sarro ( já que cochilos são proibidos) seja como for. O que sobra é sempre o bagaço da laranja no fim de uma festa que nunca foi para todos. Recomendo demais!
O Mal Não Existe
3.7 12A priori, me perguntei sobre o título: o mal não existe. O sentido em negativo dava ao teor do filme um arranjo irônico parecendo balançar entre o olhar contemplativo daquele mundo natural por oposição ao mundo do empreendorismo próprio da selva urbana. Mas, a obra não é assim tão simplista e investe num quê de enigmático e misterioso que a torna única no modo como demarca que para além da dicotomia bem x mal há coisas que melhor se expressam no silêncio das imagens do que na algaravia das palavras. O mistério impregna a narrativa de uma tensão não exatamente exasperante, mas antes de uma espera por algo, pelo que virá, por aquilo que se revela paradoxalmente ocultando. Percebe-se, pois, a maestria daquilo que nesta visão se dá a conhecer: a harmonia que se quer a todo custo preservar. Um equilíbrio que é tanto a meu ver do mundo físico, do espaço em que se desenrola a obra, assim como do mundo espiritual onde habita aquela matéria que soa incognoscível, ainda que a saibamos, sem saber que a sabemos. Este é daqueles filmes que ficam dentro da gente para além do fim da sessão. Em tempo: Algo de nível pessoal que aqui aflorou, não sei ao certo pq. Quando em criança, morávamos na beira de um lago, meus pais eram caseiros de uma chácara de lazer. Havia lá, ao outro lado do lago, um retiro espiritual, um convento ou algo assim. Fato é que neste lugar existia um cem número de eucaliptos que a mim, na minha percepção infantil soavam como gigantes, ora como seres humanos irmanados numa espécie de coro dramático, de evidente desespero, (o grito de munch), em tempo de ventos fortes. Ventava e os eucaliptos pendiam, pareciam ganhar vida e animar-se então num gesto de desmedida. O que me lembro é que eu "rezava" aos eucaliptos. Isso mesmo, eu pedia a eles como os considerando alguma força espiritual/sobrenatural, eu os invocava em meu coração infantil observando o mistério da força do vento e a assustadora forma como estes "se mexiam" ; eu "rezava" e pedia para que passasse de ano na escola. hahahaahaha. Isto me veio assim de chofre sobretudo nas cenas inicial e finais do filme onde a copa das árvores ganho um tom de força sobrehumana.
Incroyable mais vrai
3.4 5As obras de Quentin Dupieux são realmente inconfundíveis. Há sempre uma mescla de elementos que apontam para o riso, o absurdo e o nonsense. Em última instância pode-se dizer que sua marca por excelência é a inventividade. Da fusão bastarda entre um humor irônico e a reflexão proposta pelo tema surge algo que é deliciosamente uma comédia e um drama humano em sua inteireza. Vale a pena assistir pq é ótimo de ponta a ponta: diverte ao mesmo tempo que faz rir e pensar sobre as mazelas da alma humana nas suas escorregadelas de desejos excêntricos, vãos e inauditos.
Teus Olhos Meus
4.0 577Delicado e cruel. Uma força arrebatadora que arrasta, nos leva nessa vibe elétrica/ poética de alta tensão vital. O amor é mesmo um fio desencapado e suas consequências, que por vezes, oscilam entre as reverberacões de um inferno ou de um paraíso. O final é inesperado, surpreendente, quebra a espinha da alma e faz tudo então girar como estilhaços de um tiro de doze que nos atinge em cheio. É um filme de coração aberto, que dispõe do hálito selvagem da liberdade para dar conta da aventura/ desventura do viver.
Slow
3.0 5Romantiquinho, né. A trilha sonora nesse sentido é matadora: só love. A obra é essencialmente corporal. Temos a dançarina (afirmação plena do corpo em todas as suas potencialidades; temos sua amiga, a freira, que é a negação do corpo em favor da espiritualidade e é claro, o par romântico da dançarina que não renega o corpo, mas dele não pode extrair aquilo que é mistério e efervescência. As coisas não são evidentemente estanques, como fiz parecer, mas assim se vê melhor. Das artes todas, a dança, é a que menos entendo. Compreendo pq se escreve um poema ou se pinta um quadro ou se faz um filme, mas pq se dança? É claro, que há aí, na dança o perigo do corpo no predomínio deste sobre o espírito. Mas, certamente, se arte é está se faz transcendência, eu apenas que tenho dificuldade em enxergar isso. Da problemática proposta, se tem a pergunta: Pode a ânsia amorosa prescindir do desejo do corpo? De que modo o amor sem a conjugação da carne se realiza se este não é todo espírito e sim uma coisa e outra? Em resumo: há modos distintos de se amar e são estes possíveis no nosso mundinho real habitado pelos sempre problemáticos seres humanos? Tenho lá minhas respostas e meus batalhões de dúvidas a confundir, mais ainda, o baralho sobre a mesa.
Deutschstunde
3.7 4"Aprender a pintar a dor" : filmar a dor. Cada fotograma realça a beleza plena da arte e sua recusa mimetizada pela destruição, pela ojeriza que a liberdade artística, a liberdade humana, provocam naqueles a quem o dever, as leis da moral importam mais que a própria vida. Destruir a beleza é destruir a capacidade humana de sonhar, de constituir-se a si mesmo como sujeito de sua própria história. O horror é sempre essa escuridão, esse lamaçal rígido de uma lucidez caduca e arcaica na medida em que seus olhos foram vazados pela aniquilação da morte que propõe como se fosse está uma pulsão de vida quando na verdade, bem sabemos, é o seu oposto.
Sideways - Entre Umas e Outras
3.6 261 Assista AgoraÉ leve, divertido, cômico, em suma, gostoso de assistir. Dá pra dar uma boas risadas com a dupla, com as situações que se sucedem num curto espaço. Apesar do predomínio da comédia subjaz, sem dúvida, um bem vindo tom melancólico, ao gosto de Payne, que acaba ao modo de um bom vinho dar um gosto especial a obra.
Vidas Passadas
4.2 759 Assista AgoraDá um aperto no coração da gente, né. Um dor por aquilo que não foi que até pode fazer, quem sabe, escorrer uma furtiva lágrima. É romântico do começo ao fim. É triste e melancólico e belo! O destino claro que existe. Assim como também as possibilidades de escolha que podem em maior ou menor grau ser nosso destino. O amor pode ser uma fratura exposta na pele do tempo a doer por toda a vida de um modo, que só o amor pode doer.
O Reino Animal
3.4 10Gostei! Parece haver aqui uma metáfora da diferença entre o humano e o animal. Sendo que este desconsidera o que há de animalesco em si mesmo. Prefere matar aquilo que acredita não corresponder aos seus conceitos de aceitabilidade social, isto é, ao diferente. Chama a este de monstro, de bichos, para não encararem sua própria "monstruosidade" retirando do outro, do diferente sua humanidade, negando-a, e assim desumanizando a si mesmo. Penso nos muros, nas divisões, e em todas as formas de segregação possíveis para separar, para afastar aqueles que não são considerados como nós, que não são suficientemente "humanos" suficientemente"civilizados " para serem aceitos.
Floresta
4.0 1Fotogramas do absurdo. Quadros cortantes da condição humana levados a pontos extremos, na exasperacão do desespero do beco sem saída que é a vida. Aproximar a lente e ver. Mesmo sangrando, ver mais perto e sempre. Quando a vida falha o que fazer? Quando o sentido se esvai como seguir sozinho sem mapa, no vazio do sonho/pesadelo, na impossibilidade do encontro com o outro, na voz não ouvida daquele a quem deixamos de ouvir ou ouvimos em demasia dentro de nós mesmos? Um filme que faz estremecer a dor na beleza grávida do absurdo da vida.
Zanox
3.0 2Se o cara corta a garganta dela ele nunca mais vai vê-la: Foi isso o que pensei naquela cena. É um filme divertido, leve, algo entre o bobinho e o descontraído. O tema não é novo; a abordagem menos ainda, contudo vale para arejar as ideias, rir e se divertir. A vibe é boa e eu curti. Me deu, foi uma vontade louca de tomar palinka, isso sim!
Coincidências da Vida e Grandes Amores
2.9 6 Assista AgoraHá em meio ao desejo que arde uma certa previsibilidade e obviedade, que feito chamas de uma latente fogueira avolumam-se até um nível que inexoravelmente se alastram pela paisagem e pelos corpos desassossegados de si. Incendeia a mente o corpo ressequido pelo amor sempre adiado; sente-se à pele o resfolegar na ânsia nítida da consumação do amor. É um filme físico, corpóreo que clama pelo toque, que numa exasperacão do desejo quer o outro a quem se ama. ” Teu corpo/ branco e morno/(que eu deveria dizer sereno)/é para mim/suave e doloroso/como as areias cortantes/ dos desertos./Que importa/ que ignores minha sede/se tua miragem/ é água cristalina./e a miragem eu firo com mil línguas/e cada uma é um pássaro a bebê-la/ Ferroam a minha pele/ escorpiões de fogo e sol/com seu veneno/e vejo,/magoada de desejo,/ os grãos tão leves/ indo embora ao vento.” Micheliny Verunschk
Dias Perfeitos
4.2 286 Assista AgoraA cidade, Hirayama e o silêncio. A cidade, Hirayama e a trilha sonora do silêncio. Um mergulho na delicadeza do singelo. A beleza artística dos banheiros de Tóquio e a dimensão lírica da humanidade de Hirayama: solidão e afeto contido nos gestos mínimos/ máximos de ternura. Um compartilhar fraterno e humilde de uma fagulha imensa: a vida. Comunhão das coisas que não se dizem com aquelas que se sentem imensamente. "E todas as vidas que vivemos e todas as vidas a viver estão cheias de árvores e folhas cambiantes."
Sentindo na Pele
3.0 4É como jogar uma granada dentro da alma: estilhaços do eu. Dor/ dilaceramento. Mergulhar numa vida violentada/ transtornada pela busca de refazer-se/ reconstituir-se apesar de. A brutalidade viceja na pele da película que percorre e remói a revolta contida na fragmentação do desespero em fuga de si mesmo: mas, uma fuga sem lugar pq impossível escapar a si mesmo, Desse modo, somente uma superação do trauma através do encontro difícil e espinhoso com o outro pelo afeto, pela compreensão pode ser um caminho para as possibilidades abertas da vida futura.
Verão Passado
3.3 10 Assista AgoraA verdade não pode ser dita. Há coisas que se sabe, que se percebe nitidamente, mas que em nome de determinados valores, social e moralmente estabelecidos não se pode dizer. Daí o jogo entre a verdade e a hipocrisia, entre o interdito moral e o prazer, entre a culpa e o desejo pelo qual se sente culpado; não a ponto, de se dizer o que verdadeiramente se passou. É um drama forte, onde condenar parece ser um caminho fácil em detrimento do quão indócil pode ser o corpo que deseja e se entrega sem amarras ao socialmente condenável. É um bom filme . Sóbrio em sua forma de narrar, mas poderoso no drama do corpo, da culpa e seus desejos que carregam o caos contido de Eros.
The Pod Generation
3.0 23 Assista AgoraEu chamaria de comédia distópica. É leve, raso sob certos aspectos, funcionando muito bem como um entretenimento com pitadas satíricas sobre um futuro aparentemente não tão distante. Traça uma dicotomia entre natureza x tecnologizacão da vida: E, se os bebês fossem gerados em úteros artificiais? Isso poderia gerar uma vitória do artificial em detrimento do mundo animal humano. Humanos gerados por aplicativos automatizados. Inteligências artificiais parindo o futuro, ao modo de um ovo casulo: o novo homem?! A nova mulher agora liberta dos entraves biológicos de uma gestação?! Coaching gestacional e todas as delícias que o capitalismo pode operar por vc em nome do futuro de uma humanidade cada vez mais sem humanidade. Vamos otimizar o mundo: Para que árvores se podemos ter árvores holográficas? Viva, as grandes corporações e seu discurso high tech. Não se preocupe em viver, o algoritmo o fará bem melhor que vc.
A Porcelánbaba
4.0 1Curto e intenso. Puro e lírico. Cinema é sonho o resto é ilusão. Creio, que adentramos no terreno do maravilhoso. Um espaço rural, um espaço interno de configurações mágicas/ fantásticas onde o que realmente acontece é o impossível, pois o possível apenas se repete, se repete e se repete. É desses filmes que fazem a gente acreditar em poesia, na transfiguração do humano em sonho, na reluzente força da ternura em sua simplicidade rural subvertendo as leis naturais. É precioso. Desses que a gente guarda do lado esquerdo do peito.
O Homem dos Sonhos
3.5 146Sincronia? Inconsciente coletivo? Zeitgeist? É um filme interessante. "Pq a zebra tem aquela aparência? Pode identificá-la a quilômetros de distância, não é tão eficiente, certo? (...) predadores precisam identificar suas presas não podem atacar o grupo todo. Então, se coloca a cabeça para fora faz de si mesmo um alvo." Eis, o ponto: o alvo. A personagem de Nicolas Cage, um pacato professor, acaba sendo eleito como o alvo. A fama, Hollywood e o sucesso como diz a canção. " Sonhar é uma espécie de psicose" diz a certa altura. Um tipo de celebridade especial. A obra toca de leve, na cultura do cancelamento da internet: se vc é amado terá o céu, mas se odiado for conhecerá o inferno que os outros farão de sua vida. A publicidade, que como sabemos é a poesia do capitalismo (ironia) poderá lhe usar para lucrar, para vender; afinal de contas para que servem os sonhos senão para que possamos lucrar com eles.
Rodeio
3.4 2 Assista AgoraUm road movie de beleza e solidão. Mais do que uma viagem física, trata-se de uma viagem interior sobre o relacionamento entre um pai e sua filha. A fotografia deslumbra e alça à obra a um nível poético expresso sob medida no uso de uma paleta de cores que reflete o estado anímico das personagens. É uma jornada onde o amor se faz presente pela dureza do itinerário a ser percorrido por Serge e sua filha, como também a ternura agridoce das conturbadas relações humanas.
O Farol
3.7 16Alguém abre um livro e conta uma história: pedacinhos de poesia e dor. Escombros, beleza, solidão e desamparo. É para dentro, mais do que para fora, no escuro de mim, nos meandros e interticios, que chove e se perde a profana luz enegrecida da guerra. Algo brilha fulgurante feito um diamante em meio às trevas. ” Pássaros estranhos no céu cinzento recém descoberto/Rostos estranhos no estranho corpo da cidade/Cinza, cinzas de pérola e poeira/ Triste é o banquete fúnebre.”
O Acidente
3.2 6Um rompante de delicadeza. Uma bruta flor: De-li-ca-de-za ! Uma exata medida de impetuosidade em persistentes tons lilazes. Pensei no par antitético peso x leveza. O peso do mundo: a violência, a agressividade, o acidente, as dores da incompreensão, o fundo de militarismo e sua rigidez … Tudo isso, contrastando com a necessária leveza: a sensibilidade para olhar as coisas do mundo, como faz o menino com sua câmera de celular. O amor entre Joana e Cecília, os silêncios que transbordam um olhar reflexivo/ intuitivo para os seres, para a vida como um todo. É um filme muito bom, prenhe de sinceridade sobre a complexidade das relações humanas no que estas exalam de amor e desencontro.