O mais bonito neste filme é o drama na acepção forte da palavra sem q se recaia ao melodrama. Uma situação pungente, dura, q parece nos questionar sobre o sentido da verdade, como sabemos q o q sabemos é a verdade? e como julgar uma pessoa por meio de evidências, ou de um discurso q não permite alcançar o fato em si? O q vemos na tela é a busca por uma vingança, pelo violência a todo custo, uma verdadeira caçada de um conjunto social a um determinado indivíduo q a transforma num pária, em alguém digno do mais terrível ódio, uma pessoa sobre a qual é imputada uma ação que não praticou e mesmo assim é amaldiçoada por isso. Uma espécie de processo para o qual o réu é condenado de antemão por simplesmente parecer culpado o suficiente aos olhos daqueles q o acusam.
Eu não sabia que este era o primeiro filme de Bruno Dumont. É muito bom! Esperamos alguma coisa da vida jesus, ou ao menos algum personagem chamado jesus ou uma metáfora disso e não temos nada disso. Tem uma personagem q chama Maria, mas sem relação alguma com a da bíblia. São jovens de certo modo envelhecidos pela desolação. Parecem vidas estagnadas em sua motocicletas dando "giros" por uma paisagem triste, imensa e sem perspectivas de mudança. Uma cidadezinha sem ter muito o q fazer. Freddy q parece uma espécie de líder desse bando de adolescentes aparenta ( pelo menos pra mim) e fisicamente mesmo uma espécie de velho. Tem um corpo cansado, um jeito perdido de olhar, um modo estranho desabituado da vida, como que cansado da vida sem mesmo a ter vivido ( ou a ter compreendido demais não sei ao certo) uma espécie vencida pela vida. Parece ter um bom coração, mas um coração corrompido pelo peso dos dias, pelo cansaço das horas, maculado por um ódio/ressentimento das coisas guardadas na alma. Comete coisas ruins. E ao mesmo tempo parece tratar desse minimalismo extremo de uma humanidade transcendente dentro de um realismo cru. É mesmo paradoxal e estranho que fica reverberando na gente perguntando o que é isso?
"Qual o objetivo de viver se a vida é um inferno?". O filme é pesado e bate fundo como a vida. O inferno particular de cada um (criado por cada um?) passa de A para B e assim por diante não numa sucessão lógica mas sim aleatoriamente como o caos. São vidas que dão errado, que perdem a esperança, que caminham numa linha tênue de exasperação que parece levar ao limite a dilaceração como um beco sem saída. É como caminhar com os pés descalços por sobre cacos de vidro: Ninguém sai ileso. Não saímos ilesos nem deste filme e muito menos da vida.
Dor, solidão e incomunicabilidade. É um filme q dói. Q nos violenta com estas vidas despedaçadas/desperdiçadas. Uma paisagem gélida, fria que ressoa em cada um, feito um soco quebrando a alma. Drama caleidoscópico fragmentário de mundos ásperos e frágeis q desejam apenas um pouco de amor, de afeto, de carinho, de compreensão. A gente se sente triste como se recebesse um tiro de doze no peito.
É de uma poesia seca, árida. A precisão de uma pedra transformando-se em mar. Bruta flor. A delicadeza dos sonhos é contrastada por um mundo áspero, difícil, duro, intratável. Um mundo que parece ser pura ausência, que parece eterno em sua imutabilidade de sentimentos represados por um secura afetiva. Mas, irrompe em meio ao áspero o sensível da arte, do amor, do encontro e do afeto. Da dura rocha impõe-se a potência própria daquilo que é alma e transborda feito chuva para romper os diques farpados da solidão.
Fiquei com vontade de tornar-me um assassino. Falso documentário em preto e branco que dialoga diretamente com o público através da espetacularização da violência. Gostamos de violência e por isso o filme nos prende. Vemos de perto, somos cúmplices, tão cúmplices como os caras que estão filmando esta obra. Recheado de um delicioso humor negro que atrai e fascina a película em tom experimental tem um jeito ímpar de nos mostrar e fazer pensar sobre a banalidade do mal. Matam-se todos: adultos, crianças e velhos. Tem esse lado metido a intelectual da personagem central talvez para nos dizer que a arte talvez não humanize ou seja uma força capaz de nos dotar de solidariedade humana vide os preconceitos escrachados do assassino. Vale a pena ser visto pelo q desperta, pelo vício q se não enobrece ao menos embriaga.
Mamamos nos seios do Surrealismo. E q seios alucinantes. A razão nada mais é do q um delírio da imaginação. Tudo pode ser um sonho onde a lógica é a própria lógica do mundo onírico. A começar pelo título somos lançados de chofre sem mais nem menos num espaço avesso a uma suposta ordem racional. Lua negra parece traduzir o subconsciente, a psique do amadurecimento da experiência garota/mulher e nesse polo apontar para o afloramento do desejo sexual tensionado como um delírio explosivo ao modo de uma guerra entre homens e mulheres, de plantas q choram e sentem dor, de um feioso unicórnio e de toda sorte de animais fofos e asquerosos ademais da liberdade selvagem de crianças nuas. O filme é grávido de simbolismos em diversos graus. O grande barato disso tudo é q ficamos desnorteados sem saber o q virá na próxima cena, na próxima imagem pois q o efeito transgressor da narrativa propicia uma verdadeira viagem sem rota certa rumo ao obscuro coração do devaneio e seu irmão o imaginário.
Dá uma dor na gente tbm. É duro, áspero e sensível. O cenário desolador só enfatiza a imensa devastação afetiva das personagens. O silêncio fala e machuca. Cada mínimo olhar, cada gesto carrega consigo uma dor absurda enraizada numa brutal solidão. Parece que tudo está sempre a pronto de romper, de explodir num grito absurdo e vazio.
É um bom filme. De um realismo cru, sem meias tintas, sem meios tons. Centrado no cotidiano de pessoas comuns mostra sem véus histórias q se cruzam. Meio q lembra "Short Cuts" por esse viés. Não há nenhum aparato pirotécnico apenas a vida como ela é. Interessante é o modo como estas histórias se cruzam, se misturam e se afastam tbm numa espécie de painel caleidoscópico acerca dos afetos humanos em especial do sexo ou quem sabe do amor que de tão tênue existe ainda que se esgarce aqui e ali nuns remendos brutais do dia a dia. Os personagens são figuras humanas plenas de solidão e parecem o tempo todo buscar algo que preencha seus vazios.
Filme espetacular! Lembrou-me outros filmes como "Teorema" do Pasolini pelo elemento perturbador ( uma pessoa desconhecida q adentra o lar burguês). E ainda vi reminiscências do "O sacrifício do cervo sagrado" além dum tipo de assunção do mal próprio de Michel Haneke. Tudo se dá muito assustadoramente por um viés psicológico q nos prende na tela e nos mantêm em suspense sem saber ao certo o q virá. A atmosfera fantástica ( pela eclosão do elemento estranho como irrupção de uma ordem estabelecida). Não sabemos o q irá ocorrer e não temos certeza alguma do q ocorre e pq ocorre assim. Tudo parece ainda uma alegoria do mal ( metafisicamente falando, religiosamente falando) acrescido tbm por uma culpa sociológica das pessoas abastadas e confortavelmente sentadas sobre uma posição social privilegiada. É mesmo uma obra notável q abre-se a múltiplas possibilidades de entendimento e q merece sem vista.
Sensacional! Divertido, intuitivo e engraçado. Talvez algo como um racionalismo surrealista!? Os diálogos tem um sabor a nonsense, algo fora da lógica ainda que tudo transcorra sob uma espécie de ordem bem delimitada. O uso das cores é tbm algo muito precioso nesta obra que parece assim acompanhar esta cisão mesclada de exagero e sobriedade. Acho tbm q há um busca por uma dicção metalinguística pois os personagens parecem querer nos mostrar isso justamente: que são personagens e q estão atuando. Há de um lado papéis sociais claramente visíveis ao mesmo tempo em q o absurdo da representação parece apontar para o absurdo da própria vida.
Regido pelo signo da noite por seu lado obscuro e enigmático, mas ao mesmo tempo cristalino como a água mais cristalina. Poderia estar falando da escrita de Kafka onde o absurdo nos surpreende através de uma narrativa límpida, mas falo deste filme. Gosto da tensão existente desde o começo e q começo, hein! Uma cena q é uma verdadeira porrada q nos conduz para dentro de uma escola. Tudo lá é muito clean, muito aparentemente perfeito demais. A síntese da obra é a tensão entre a forma fria que transparece no ambiente escolar, no comportamento glacial de certos alunos e no modo como isso transtorna o conteúdo da película que pulsa de um modo maravilhosamente estranho ( muito tbm graças a banda sonora que encaixa exemplarmente com aquilo que se vai contando). É impressionante o modo inesperado como acontecem as coisas, a metáfora kafkiana do estranho feito o emblema de uma barata. Lembrou-me algo do Yorgos Lanthimos pela frieza da forma em contraposição ao que se revela. PS: Só mesmo o título "O professor substituto" que me parece aquém pq dá uma ideia distante do q fato é a obra e de todo o seu potencial.
É engraçado e tbm triste e sob certo aspecto cruel. O filme se desenrola com extrema concisão. A trama aparentemente caricatural apresenta personagens simples que perfazendo um triângulo amoroso deliciosamente arquitetado produz no espectador uma vontade doida de ver como tudo aquilo vai acabar. A gente fica mesmo é boquiaberto com a situação apresentada menos pelo inverossímil da coisa do q pelo viés quase absurdo disso.
Parece faltar algo. Uma espécie de vazio, uma perda incerta de não se sabe o q . É sobretudo um filme dentro de uma cabeça, uma construção de uma psicologia, uma identidade abalada por um acidente, Estilhaços/ fragmentos de um mundo desordenado. A gente tbm fica meio perdido feito a personagem. Tem-se a impressão de a qualquer momento algo ocorrerá, algo se revelará. Entre o suspense do talvez e a incerteza da possibilidade.
Excepcional o modo como se mesclam, fundem e confundem-se os gêneros. Um arroubo fabular entre o interdito e o paraíso. Luxuriante e incisivo permitindo uma imbricação entre papeis não plenamente definidos pq fronteiriços, embaçados pela tomada/fusão com o oposto eu/mesmo. Nesta vertigem o uso da luz, da fotografia dá-nos um verdadeiro jardim de delícias, um éden metamorfoseado em frutas peludas, em elementos fálicos, plenos de um sabor orgiástico onde o prazer toma as rédeas do consciente.
Uma experiência estética com alto grau de beleza. Um filme prenhe de simbolismo onírico/metafísico adensado pelo perpassar cíclico das estações, da forma pendular entre efêmera e eterna daquilo que se vai constantemente, da vida em sua plena pulsão alinhavada pelo espreitar da morte. De encher os olhos da alma, de ficar extasiado pela contemplação que nos transcende para além da "casca" meramente material. Há quase não sei ao certo uma espécie de misticismo, de rito litúrgico se é q se pode dizer assim pelo milagre da vida, pela "engravidamento" da vida comum através de uma poeticidade avassaladora.
Documentário poético partidário. Poético pelo caráter eminentemente lírico da voz narradora que amalgama em si uma tensão entre fatos político/sociais e fatos pessoais. Desse embricamento entre o mundo do eu, do sujeito narrador e o mundo exterior tem-se uma tessitura arranhada pelo compasso da História em turbilhão, de uma democracia jovem e perdida, em vertigem, frágil como o eu que experencia algo que o afeta profundamente e que é tbm afetado por ele. "Esse é tempo de partido/ tempo de homens partidos" Drummond. Tomando partido Petra Costa reproduz o ritmo do coração que bate do lado esquerdo. Para além da dicotomia bem/ mal, "nós" contra "eles" o documentário enche-se de uma verdade humana profunda pq prenhe de uma verdade pessoal. Comovente e parcial pq afinal de contas "Ver com olhos livres, quem é capaz?" Oswald de Andrade. Sabendo que a falácia dos fatos é antes um engodo, uma suposta ilusão jornalística a serviço de determinados interesses, aliás, "todo discurso fala em nome de determinados interesses em detrimento de outros" Flávio Kothe, cada um puxa a sardinha pro seu lado. A verdade é antes uma construção dos fatos, uma forma de apropriação das coisas e do mundo, "um batalhão móvel de metáforas..." no dizer de certo filósofo alemão bigodudo. Em transe, em vertigem num looping democrático/autoritário, em que a verdade da História se faz por um embate, um confronto de narrativas. Mas, vale lembrar a fragilidade do eu e da democracia que parece cambalear, titubear, prostrar-se melancólica "num mundo enfastiado que já não crê nos bichos e duvida das coisas" Drummond.
Ritmo trinário: Beleza, Amor, Prazer:Corpo/Espírito/Poesia: Cinema de poesia: Corpoema. Fluxo sensível do escuro fundo desejo a luz cambiante transcendente do q se conhece no desconhecido do sentimento amoroso: Mutações/Metamorfoses/Amálgamas. Filme de amor: "Os signos transam entre si" Décio Pignatari. Delicadeza e crueza e filme e poesia. Metalinguagem e outras metas. Meta a língua nisso. A língua amorosa: Literatura, artes plásticas, teatro. Mescla tecida de variações sobre o mesmo tema: Bifurcações de sentidos labirínticos. "O gozo é o instante antes de gozar" Arnaldo Antunes. A participação do outro, o desejo, o encontro desejante com o outro. Autor/ Obra/Público: Ritmo trinário: Adentrar a obra, o filme vir a ser em processo de busca. Nenhum caminho: Todos os caminhos circulares, vasos comunicantes de um sentido desejante. O coração humano delira a alma transborda e o amor afoga-nos.
É como tomar um porre a luz do meio dia. Beber todas as garrafas ou nenhuma. Tanto faz pq estaremos mesmo perdidos e cambaleantes e sem saída. Faz frio, muito frio. É úmido e as esperanças são pequenas frustrações inebriantes feito o tédio. Numa espécie de fim, de nada mais, todos dançam suas músicas tristes e quem sabe a noite cubra com um pouco de beleza o vazio intenso dessas vidas estagnadas entre o abismo e o nada.
Um filme sobre nosso tempo e por consequência sobre nós mesmos. Parafraseando Drummond: "O tempo é ainda de likes, solidão e incomunicabilidade". A rede global, o mundo ao toque das mãos em smartphones, tablets, pcs. Ums mundo digital, a aldeia global q apesar de tanta gente, de tanta facilidade a comunicação com o outro produz o inverso: o isolamento, o distanciamento a solidão da luz wifi piscando em milhões de quartos escuros e solitários mundo afora. E a rede, a grande rede ainda funciona como armadilha para golpes financeiros e emocionais q podem produzir consequências devastadoras no mundo real.
Amor? "Todo homem mata as coisas que ama" Oscar Wilde. Quando não há mais volta, mais nenhuma chance permanecendo apenas a dor como ressentimento tudo então pode explodir em vísceras "amorosas". Há esse drama, essa faca, essa escultura, essa dor no estômago. Há essa tensão que exaspera que vai do drama a toques de terror envolto por um clima em suspense: O q será que vai acontecer? se pergunta o espectador. E tudo é mais pro lado de dentro mesmo onde tanta coisa se rasga, se dilacera e sangra.
Excruciante! Sente-se perfeitamente toda a angústia, a dor, a humilhação de uma mulher lutando por manter seu emprego. É um filme político, não é caricatural, nem panfletário antes profundamente humano na medida q nos leva a sentir empatia pelo drama do outro. Drama este tão contemporâneo ( a crise e suas consequências) tão hostis para um humanismo que cambaleia diante do egoísmo, mas q tbm sabe se solidarizar diante do sofrimento alheio.
É um filme meio q embasado num clichê amoroso: o encontro de duas pessoas totalmente diferentes, de culturas distintas, q sequer entendem a mesma língua. Talvez peque pq somos meio q levados a saber o q ocorrerá ao longo da trama. Por outro lado tudo é muito bem urdido através de uma atmosfera baseada num pequeno lirismo cotidiano q se saberá lirismo amoroso. Interessantíssimo é o modo como duas culturas tão diferentes se aproximam e o imbricamento q disso resulta.
O amor é estranho. Luz obscura. Na pele profundamente. Sangue, esperma e lágrimas feito a vida visceralmente. Uma poética do corpo. O corpo amoroso. O corpo feito desejo. Um filme que afunda na gente feito um coração batendo aos berros, aos gritos do êxtase/gozo sexual. O corpo é uma adaga em que enfiamos o coração do ente amoroso. E sangra. Um filme sobre a fúria amorosa e seus desdobramentos: O corpo no corpo do outro: Love-me
A Caça
4.2 2,0K Assista AgoraO mais bonito neste filme é o drama na acepção forte da palavra sem q se recaia ao melodrama. Uma situação pungente, dura, q parece nos questionar sobre o sentido da verdade, como sabemos q o q sabemos é a verdade? e como julgar uma pessoa por meio de evidências, ou de um discurso q não permite alcançar o fato em si? O q vemos na tela é a busca por uma vingança, pelo violência a todo custo, uma verdadeira caçada de um conjunto social a um determinado indivíduo q a transforma num pária, em alguém digno do mais terrível ódio, uma pessoa sobre a qual é imputada uma ação que não praticou e mesmo assim é amaldiçoada por isso. Uma espécie de processo para o qual o réu é condenado de antemão por simplesmente parecer culpado o suficiente aos olhos daqueles q o acusam.
A Vida de Jesus
3.4 16Eu não sabia que este era o primeiro filme de Bruno Dumont. É muito bom! Esperamos alguma coisa da vida jesus, ou ao menos algum personagem chamado jesus ou uma metáfora disso e não temos nada disso. Tem uma personagem q chama Maria, mas sem relação alguma com a da bíblia. São jovens de certo modo envelhecidos pela desolação. Parecem vidas estagnadas em sua motocicletas dando "giros" por uma paisagem triste, imensa e sem perspectivas de mudança. Uma cidadezinha sem ter muito o q fazer. Freddy q parece uma espécie de líder desse bando de adolescentes aparenta ( pelo menos pra mim) e fisicamente mesmo uma espécie de velho. Tem um corpo cansado, um jeito perdido de olhar, um modo estranho desabituado da vida, como que cansado da vida sem mesmo a ter vivido ( ou a ter compreendido demais não sei ao certo) uma espécie vencida pela vida. Parece ter um bom coração, mas um coração corrompido pelo peso dos dias, pelo cansaço das horas, maculado por um ódio/ressentimento das coisas guardadas na alma. Comete coisas ruins. E ao mesmo tempo parece tratar desse minimalismo extremo de uma humanidade transcendente dentro de um realismo cru. É mesmo paradoxal e estranho que fica reverberando na gente perguntando o que é isso?
Zona Mortal
3.8 7"Qual o objetivo de viver se a vida é um inferno?". O filme é pesado e bate fundo como a vida. O inferno particular de cada um (criado por cada um?) passa de A para B e assim por diante não numa sucessão lógica mas sim aleatoriamente como o caos. São vidas que dão errado, que perdem a esperança, que caminham numa linha tênue de exasperação que parece levar ao limite a dilaceração como um beco sem saída. É como caminhar com os pés descalços por sobre cacos de vidro: Ninguém sai ileso. Não saímos ilesos nem deste filme e muito menos da vida.
Naked Harbour
3.6 13Dor, solidão e incomunicabilidade. É um filme q dói. Q nos violenta com estas vidas despedaçadas/desperdiçadas. Uma paisagem gélida, fria que ressoa em cada um, feito um soco quebrando a alma. Drama caleidoscópico fragmentário de mundos ásperos e frágeis q desejam apenas um pouco de amor, de afeto, de carinho, de compreensão. A gente se sente triste como se recebesse um tiro de doze no peito.
A História da Eternidade
4.3 448É de uma poesia seca, árida. A precisão de uma pedra transformando-se em mar. Bruta flor. A delicadeza dos sonhos é contrastada por um mundo áspero, difícil, duro, intratável. Um mundo que parece ser pura ausência, que parece eterno em sua imutabilidade de sentimentos represados por um secura afetiva. Mas, irrompe em meio ao áspero o sensível da arte, do amor, do encontro e do afeto. Da dura rocha impõe-se a potência própria daquilo que é alma e transborda feito chuva para romper os diques farpados da solidão.
Aconteceu Perto da Sua Casa
3.8 102Fiquei com vontade de tornar-me um assassino. Falso documentário em preto e branco que dialoga diretamente com o público através da espetacularização da violência. Gostamos de violência e por isso o filme nos prende. Vemos de perto, somos cúmplices, tão cúmplices como os caras que estão filmando esta obra. Recheado de um delicioso humor negro que atrai e fascina a película em tom experimental tem um jeito ímpar de nos mostrar e fazer pensar sobre a banalidade do mal. Matam-se todos: adultos, crianças e velhos. Tem esse lado metido a intelectual da personagem central talvez para nos dizer que a arte talvez não humanize ou seja uma força capaz de nos dotar de solidariedade humana vide os preconceitos escrachados do assassino. Vale a pena ser visto pelo q desperta, pelo vício q se não enobrece ao menos embriaga.
Lua Negra
3.5 54Mamamos nos seios do Surrealismo. E q seios alucinantes. A razão nada mais é do q um delírio da imaginação. Tudo pode ser um sonho onde a lógica é a própria lógica do mundo onírico. A começar pelo título somos lançados de chofre sem mais nem menos num espaço avesso a uma suposta ordem racional. Lua negra parece traduzir o subconsciente, a psique do amadurecimento da experiência garota/mulher e nesse polo apontar para o afloramento do desejo sexual tensionado como um delírio explosivo ao modo de uma guerra entre homens e mulheres, de plantas q choram e sentem dor, de um feioso unicórnio e de toda sorte de animais fofos e asquerosos ademais da liberdade selvagem de crianças nuas. O filme é grávido de simbolismos em diversos graus. O grande barato disso tudo é q ficamos desnorteados sem saber o q virá na próxima cena, na próxima imagem pois q o efeito transgressor da narrativa propicia uma verdadeira viagem sem rota certa rumo ao obscuro coração do devaneio e seu irmão o imaginário.
Shell
3.5 7Dá uma dor na gente tbm. É duro, áspero e sensível. O cenário desolador só enfatiza a imensa devastação afetiva das personagens. O silêncio fala e machuca. Cada mínimo olhar, cada gesto carrega consigo uma dor absurda enraizada numa brutal solidão. Parece que tudo está sempre a pronto de romper, de explodir num grito absurdo e vazio.
Antares
3.5 16É um bom filme. De um realismo cru, sem meias tintas, sem meios tons. Centrado no cotidiano de pessoas comuns mostra sem véus histórias q se cruzam. Meio q lembra "Short Cuts" por esse viés. Não há nenhum aparato pirotécnico apenas a vida como ela é. Interessante é o modo como estas histórias se cruzam, se misturam e se afastam tbm numa espécie de painel caleidoscópico acerca dos afetos humanos em especial do sexo ou quem sabe do amor que de tão tênue existe ainda que se esgarce aqui e ali nuns remendos brutais do dia a dia. Os personagens são figuras humanas plenas de solidão e parecem o tempo todo buscar algo que preencha seus vazios.
Borgman
3.5 133Filme espetacular! Lembrou-me outros filmes como "Teorema" do Pasolini pelo elemento perturbador ( uma pessoa desconhecida q adentra o lar burguês). E ainda vi reminiscências do "O sacrifício do cervo sagrado" além dum tipo de assunção do mal próprio de Michel Haneke. Tudo se dá muito assustadoramente por um viés psicológico q nos prende na tela e nos mantêm em suspense sem saber ao certo o q virá. A atmosfera fantástica ( pela eclosão do elemento estranho como irrupção de uma ordem estabelecida). Não sabemos o q irá ocorrer e não temos certeza alguma do q ocorre e pq ocorre assim. Tudo parece ainda uma alegoria do mal ( metafisicamente falando, religiosamente falando) acrescido tbm por uma culpa sociológica das pessoas abastadas e confortavelmente sentadas sobre uma posição social privilegiada. É mesmo uma obra notável q abre-se a múltiplas possibilidades de entendimento e q merece sem vista.
Abel
3.5 5Sensacional! Divertido, intuitivo e engraçado. Talvez algo como um racionalismo surrealista!? Os diálogos tem um sabor a nonsense, algo fora da lógica ainda que tudo transcorra sob uma espécie de ordem bem delimitada. O uso das cores é tbm algo muito precioso nesta obra que parece assim acompanhar esta cisão mesclada de exagero e sobriedade. Acho tbm q há um busca por uma dicção metalinguística pois os personagens parecem querer nos mostrar isso justamente: que são personagens e q estão atuando. Há de um lado papéis sociais claramente visíveis ao mesmo tempo em q o absurdo da representação parece apontar para o absurdo da própria vida.
O Professor Substituto
3.7 70 Assista AgoraRegido pelo signo da noite por seu lado obscuro e enigmático, mas ao mesmo tempo cristalino como a água mais cristalina. Poderia estar falando da escrita de Kafka onde o absurdo nos surpreende através de uma narrativa límpida, mas falo deste filme. Gosto da tensão existente desde o começo e q começo, hein! Uma cena q é uma verdadeira porrada q nos conduz para dentro de uma escola. Tudo lá é muito clean, muito aparentemente perfeito demais. A síntese da obra é a tensão entre a forma fria que transparece no ambiente escolar, no comportamento glacial de certos alunos e no modo como isso transtorna o conteúdo da película que pulsa de um modo maravilhosamente estranho ( muito tbm graças a banda sonora que encaixa exemplarmente com aquilo que se vai contando). É impressionante o modo inesperado como acontecem as coisas, a metáfora kafkiana do estranho feito o emblema de uma barata. Lembrou-me algo do Yorgos Lanthimos pela frieza da forma em contraposição ao que se revela. PS: Só mesmo o título "O professor substituto" que me parece aquém pq dá uma ideia distante do q fato é a obra e de todo o seu potencial.
O Pequeno Tony
3.6 1 Assista AgoraÉ engraçado e tbm triste e sob certo aspecto cruel. O filme se desenrola com extrema concisão. A trama aparentemente caricatural apresenta personagens simples que perfazendo um triângulo amoroso deliciosamente arquitetado produz no espectador uma vontade doida de ver como tudo aquilo vai acabar. A gente fica mesmo é boquiaberto com a situação apresentada menos pelo inverossímil da coisa do q pelo viés quase absurdo disso.
A Mulher Sem Cabeça
3.5 63Parece faltar algo. Uma espécie de vazio, uma perda incerta de não se sabe o q . É sobretudo um filme dentro de uma cabeça, uma construção de uma psicologia, uma identidade abalada por um acidente, Estilhaços/ fragmentos de um mundo desordenado. A gente tbm fica meio perdido feito a personagem. Tem-se a impressão de a qualquer momento algo ocorrerá, algo se revelará. Entre o suspense do talvez e a incerteza da possibilidade.
Os Garotos Selvagens
3.8 26 Assista AgoraExcepcional o modo como se mesclam, fundem e confundem-se os gêneros. Um arroubo fabular entre o interdito e o paraíso. Luxuriante e incisivo permitindo uma imbricação entre papeis não plenamente definidos pq fronteiriços, embaçados pela tomada/fusão com o oposto eu/mesmo. Nesta vertigem o uso da luz, da fotografia dá-nos um verdadeiro jardim de delícias, um éden metamorfoseado em frutas peludas, em elementos fálicos, plenos de um sabor orgiástico onde o prazer toma as rédeas do consciente.
The Roe's Room
3.9 2Uma experiência estética com alto grau de beleza. Um filme prenhe de simbolismo onírico/metafísico adensado pelo perpassar cíclico das estações, da forma pendular entre efêmera e eterna daquilo que se vai constantemente, da vida em sua plena pulsão alinhavada pelo espreitar da morte. De encher os olhos da alma, de ficar extasiado pela contemplação que nos transcende para além da "casca" meramente material. Há quase não sei ao certo uma espécie de misticismo, de rito litúrgico se é q se pode dizer assim pelo milagre da vida, pela "engravidamento" da vida comum através de uma poeticidade avassaladora.
Democracia em Vertigem
4.1 1,3KDocumentário poético partidário. Poético pelo caráter eminentemente lírico da voz narradora que amalgama em si uma tensão entre fatos político/sociais e fatos pessoais. Desse embricamento entre o mundo do eu, do sujeito narrador e o mundo exterior tem-se uma tessitura arranhada pelo compasso da História em turbilhão, de uma democracia jovem e perdida, em vertigem, frágil como o eu que experencia algo que o afeta profundamente e que é tbm afetado por ele. "Esse é tempo de partido/ tempo de homens partidos" Drummond. Tomando partido Petra Costa reproduz o ritmo do coração que bate do lado esquerdo. Para além da dicotomia bem/ mal, "nós" contra "eles" o documentário enche-se de uma verdade humana profunda pq prenhe de uma verdade pessoal. Comovente e parcial pq afinal de contas "Ver com olhos livres, quem é capaz?" Oswald de Andrade. Sabendo que a falácia dos fatos é antes um engodo, uma suposta ilusão jornalística a serviço de determinados interesses, aliás, "todo discurso fala em nome de determinados interesses em detrimento de outros" Flávio Kothe, cada um puxa a sardinha pro seu lado. A verdade é antes uma construção dos fatos, uma forma de apropriação das coisas e do mundo, "um batalhão móvel de metáforas..." no dizer de certo filósofo alemão bigodudo. Em transe, em vertigem num looping democrático/autoritário, em que a verdade da História se faz por um embate, um confronto de narrativas. Mas, vale lembrar a fragilidade do eu e da democracia que parece cambalear, titubear, prostrar-se melancólica "num mundo enfastiado que já não crê nos bichos e duvida das coisas" Drummond.
Filme de Amor
3.5 28Ritmo trinário: Beleza, Amor, Prazer:Corpo/Espírito/Poesia: Cinema de poesia: Corpoema. Fluxo sensível do escuro fundo desejo a luz cambiante transcendente do q se conhece no desconhecido do sentimento amoroso: Mutações/Metamorfoses/Amálgamas. Filme de amor: "Os signos transam entre si" Décio Pignatari. Delicadeza e crueza e filme e poesia. Metalinguagem e outras metas. Meta a língua nisso. A língua amorosa: Literatura, artes plásticas, teatro. Mescla tecida de variações sobre o mesmo tema: Bifurcações de sentidos labirínticos. "O gozo é o instante antes de gozar" Arnaldo Antunes. A participação do outro, o desejo, o encontro desejante com o outro. Autor/ Obra/Público: Ritmo trinário: Adentrar a obra, o filme vir a ser em processo de busca. Nenhum caminho: Todos os caminhos circulares, vasos comunicantes de um sentido desejante. O coração humano delira a alma transborda e o amor afoga-nos.
Abelhas Selvagens
3.1 2É como tomar um porre a luz do meio dia. Beber todas as garrafas ou nenhuma. Tanto faz pq estaremos mesmo perdidos e cambaleantes e sem saída. Faz frio, muito frio. É úmido e as esperanças são pequenas frustrações inebriantes feito o tédio. Numa espécie de fim, de nada mais, todos dançam suas músicas tristes e quem sabe a noite cubra com um pouco de beleza o vazio intenso dessas vidas estagnadas entre o abismo e o nada.
Os Desconectados
3.9 442 Assista AgoraUm filme sobre nosso tempo e por consequência sobre nós mesmos. Parafraseando Drummond: "O tempo é ainda de likes, solidão e incomunicabilidade". A rede global, o mundo ao toque das mãos em smartphones, tablets, pcs. Ums mundo digital, a aldeia global q apesar de tanta gente, de tanta facilidade a comunicação com o outro produz o inverso: o isolamento, o distanciamento a solidão da luz wifi piscando em milhões de quartos escuros e solitários mundo afora. E a rede, a grande rede ainda funciona como armadilha para golpes financeiros e emocionais q podem produzir consequências devastadoras no mundo real.
Beast
2.9 10Amor? "Todo homem mata as coisas que ama" Oscar Wilde. Quando não há mais volta, mais nenhuma chance permanecendo apenas a dor como ressentimento tudo então pode explodir em vísceras "amorosas". Há esse drama, essa faca, essa escultura, essa dor no estômago. Há essa tensão que exaspera que vai do drama a toques de terror envolto por um clima em suspense: O q será que vai acontecer? se pergunta o espectador. E tudo é mais pro lado de dentro mesmo onde tanta coisa se rasga, se dilacera e sangra.
Dois Dias, Uma Noite
3.9 542Excruciante! Sente-se perfeitamente toda a angústia, a dor, a humilhação de uma mulher lutando por manter seu emprego. É um filme político, não é caricatural, nem panfletário antes profundamente humano na medida q nos leva a sentir empatia pelo drama do outro. Drama este tão contemporâneo ( a crise e suas consequências) tão hostis para um humanismo que cambaleia diante do egoísmo, mas q tbm sabe se solidarizar diante do sofrimento alheio.
Kinamand
3.8 5É um filme meio q embasado num clichê amoroso: o encontro de duas pessoas totalmente diferentes, de culturas distintas, q sequer entendem a mesma língua. Talvez peque pq somos meio q levados a saber o q ocorrerá ao longo da trama. Por outro lado tudo é muito bem urdido através de uma atmosfera baseada num pequeno lirismo cotidiano q se saberá lirismo amoroso. Interessantíssimo é o modo como duas culturas tão diferentes se aproximam e o imbricamento q disso resulta.
Love
3.5 883 Assista AgoraO amor é estranho. Luz obscura. Na pele profundamente. Sangue, esperma e lágrimas feito a vida visceralmente. Uma poética do corpo. O corpo amoroso. O corpo feito desejo. Um filme que afunda na gente feito um coração batendo aos berros, aos gritos do êxtase/gozo sexual. O corpo é uma adaga em que enfiamos o coração do ente amoroso. E sangra. Um filme sobre a fúria amorosa e seus desdobramentos: O corpo no corpo do outro: Love-me