Galera podia parar de falar que tem arco sem fim ou personagem inútil né? Vamo pensar um pouco nos temas que a série trata que logo você percebe que praticamente TODOS os personagens tem algum ponto de existir, até a mãe drogada ou o cara que mata o casal Tarantino. Mas vamo lá, facilitando pra vocês:
Audrey: provavelmente em um hospital ou na white lodge/derivados - tem suas cenas que são ótimas e bem Existencialism 101, além de falar sobre sonhos, um dos grandes pontos da série.
Becky: repetindo a história da mãe e do pai (se envolvendo com drogas e etc - repetição um dos grandes pontos também), repete também questão de relacionamento com os pais a lá a ótima cena do Major com o Bobby na 2ª temporada (que foi chave pra redenção do Bobby nessa temporada, outro tema da série - busca pelo bem). Mas no fim a Shelly ainda sai com um traficante (e um envolvido com a Black Lodge) - repetição de novo.
Freddy, o da luva: pessoas comuns envolvidas com as misteriosas forças do universo ("why me?" "why not you?"). Assim como Lucy, que junto com o Andy são os personagens com o coração mais puro da série, atira no Mr. C., derrotar o Bob foi tarefa de uma pessoa qualquer - a bondade no mundo, outro tema da série.
Drunk e Chad: Chad pra falar da corrupção da polícia - a maldade no mundo - e, junto com o Drunk, se juntarem todos nas celas para reforçar o caráter de "destino" para o que culminou na cena em que o Bob morre.
Outros pontos chave: paranóia, hipocrisia suburbana, instituições precárias e mentirosas, pós-guerra, brincadeira com a violência na televisão (assim como a série original brincava com novela), a própria violência, o espírito americano, o capitalismo atual, os mistérios da existência - e como nunca teremos uma resposta concreta disso - etc etc etc. São 18 horas e dá pra escrever um livro sobre tudo que a série aborda.
Mais alguma coisa ou vocês vão continuar reclamando de "roteiro ruim" e "montagem problemática"? Não ligo de não gostarem da série, mas parem de inventar motivo que não foi e nem nunca vai ser o ponto dela - é como se vocês tivessem falando que tal filme de terror não é bom porque não tem comédia.
Kubrick desconstruindo o egocentrismo e narcisismo do Tom Cruise por meio do tesão, Sydney Pollack falando sobre a realidade (e o cinema que quer emulá-la) ser mera questão de perspectiva e paranóia. Fuck: poetic cinema.
Não sabia que o Lynch tinha feito um filme sobre os 25 anos que o Agent Cooper ficou preso no labirinto do tempo, espaço e consciência da Black Lodge.
É um filme que parece o tempo todo estar a um passo de ser uma daquelas obra-primas não-intencionais, porém nunca consegue superar algumas limitações. Muito se fala de como o Lynch não pode montar a versão final do filme, porém acho que a própria direção dele erra a mão em alguns aspectos - o principal é que ele não consegue dar profundidade aos muitos dramas, o que acaba tirando força de todos os acontecimentos do filme e limitando os seus temas (é meio triste pensar em como o filme poderia tratar da consciência humana, com tantos pontos que envolvem isso - quem sabe era esse o grande interesse do Lynch no filme -, porém acaba faltando algo pra tudo se conectar como deveria). Mas de resto o filme acaba sendo tão divertido nesse seu mundinho ultra-apressado e expositivo que dá pra se divertir bastante. Há umas soluções visuais incriveís, o ritmo que o filme ganha na sua metade final é bem único e há uns pontos muito doidos no meio disso tudo. Muito se fala do filme do Jodorowsky, mas não sei se trocaria essa extravagância mística novelesca do Lynch pelo carnaval que ele queria fazer - e que, inclusive, possuía imensas chances de dar errado da mesma forma que esse filme deu.
A distância entre o ser e o querer tornada física - Deus tornado físico. A ambiguidade da vida e a ambiguidade divina. Acaba não sobrando muita coisa, só o desespero mesmo.
A grande interrogação de todo esse projeto é como o Malick faz um filme "sobre a cena musical de Austin" (ou seja, música popular como um todo) e não consegue atualizar um pouco que seja o seu modus operandis. Aqui ele tá falando sobre crise existencial dentro do meio artístico, mas é extremamente parecido de quando ele fala sobre núcleos familiares no pós-guerra, ou sobre gente na guerra, ou sobre o descobrimento das américas (e isso que eu não vi os dois últimos filmes dele). Tem diálogo e take aqui que se você joga no meio dos seus outros filmes não vai soar nada deslocado - porque eles estão é deslocados nesse filme.
Existe alguns momentos que o filme consegue extrair algo bem genuíno (Patti Smith e a química entre a Rooney Mara e o Ryan Gosling me vêm a cabeça), assim como tem algumas ideias e momentos que o Malick realmente parece sair um pouco daquele monotonia usual do seu cinema e adentrar em algo diferente, mas pra cada momento desse tem uns 2 ou 3 daquelas divagações que, nesse filme especialmente, não conseguem criar carga dramática nem filosófica alguma e só ficam soando vazias mesmo. Aliás o fraquíssimo núcleo dramático do filme explica porque essa repetição do Malick vai ladeira abaixo aqui: é uma história preguiçosa e fraca, que não se sustenta por si só e tenta usar como muletas essa filosofia de segunda categoria que tanto elevou o cinema do diretor em outros filmes (que não se sustentavam só nela), mas aí que ele cai de cara no chão. É uma pena porque quando o filme começou eu pensei "é realmente muito fácil fazer cinema contemplativo enquanto filma a Rooney Mara né", mas nem isso.
Eu de verdade não sei que atrativo a série pode ter hoje se a pessoa não gosta do Dougie. Ele é o cerne de toda essa discussão sobre a cultura norte-americana e sobre a vida como um todo que a série tá tentando fazer agora. "Watch and listen to the dream of time and space". O que você faz quando passa 25 anos preso em um lugar que nem tempo, nem espaço existem? Lynch com essa redescoberta da vida pelo Cooper brinca com todo o significado de estar vivo: trabalhar, amar, socializar, transar e por aí vai. É lindo como o Coop cai nesse universo no meio ultra-capitalista de um cassino e, no alto de sua ingenuidade, acaba parando nos braços da Janey-E - e aprende tudo que pode vir junto com o companheirismo. É tudo lindo pra caralho, e não me deixem começar a falar sobre como a série tá abordando a velhice que eu vou chorar pensando em quem faleceu após as filmagens.
Acho que assisti-lo no cinema e junto com 2 outros filmes do diretor tornou a experiência muito mais prazerosa e inteligente do que deveria ser. Entre o texto literal sem pausa dos trechos de Othon no Pour Renato e a fluidez absurda, linda e difícil do Não-Reconciliados, existe uma certa mágica inexplicável em assistir um take de 4 minutos de um gato se lambendo na tela grande.
O cinema como emulação da realidade, mas a realidade como sentimentos e ideias e não acontecimentos propriamente ditos. Mesmo que seja tudo meio difuso, Parajanov entendia muito bem da criação e manipulação dos mais simples (ou complexos, depende de onde se olha) símbolos - realmente não sei se precisamos muito mais do que isso para um filme.
Se a série original tinha como um foco o isolamento da cidade de Twin Peaks do resto do mundo (mesmo que esse mundo se impusesse a ela), aqui Lynch isola todo o universo da série do resto, tornando o seu cinema (ou sua obra) como grande objeto de estudo nesses 4 primeiros episódios. Ele parece tratar tudo de uma forma tão canônica, como, mesmo elementos completamente novos, fossem coisas consagradas tendo seu curto tempo de tela ali naquele momento, criando algo que vai muito além da mera exposição ou de um exibicionismo, algo que entra numa esfera plenamente contemplativa mesmo. Lynch abstraiu toda uma noção tanto espacial, quanto temporal, e (re)criou um universo onde cortinas vermelhas, caixas de vidro e quadros imensos do Kafka apenas flutuam no espaço (literalmente), não significando nada e tudo ao mesmo tempo. A série original sempre se pautou em um exercício de clima, mas a série abandonar o onírico e mergulhar fundo no absurdo era bem inesperado (e bem-vindo). Não sei se o cinema desse ano vai ver umas cenas tão inspiradas quanto as do Agent Cooper perdido entre os multi-universos e, logo após, entre a vida ultra-capitalista suburbana. Ou as cenas do Gordon, que, quase sem verbalizar isso, carregam uma carga imensa de nostalgia e de velhice. Na verdade, os 4 episódios parecem carregar tanta coisa sem de fato abordar tudo isso - até a própria trama deles que, difusa, é quase inexistente até então, mas Lynch entende tão bem o conceito narrativo televiso que só tá criando uma jornada artística absurda, o resto pode ficar pra depois mesmo (muito provavelmente, ficar para nunca mais).
Cinema como uma janela para a realidade, já que a própria realidade se torna abstrata e contemplativa a todo momento. Um dia quero amar algo como Hutton ama as imagens que filma.
Gordard faz um cinema de símbolos, mas não de simbolismos: é inclusive engraçado como ele parece negar qualquer noção que ligue certo personagem a certa ideia (como um personagem que simbolizaria o industrial, o produtor de cinema ou coisa do tipo). Como o filme faz tão pouco sentido, a cada momento que ele parece querer tratar de uma relação de classes e de seus personagens ele parece estar fazendo uma esquete cômica absurda (uma separada da outra, desconexa da outra). O cinema pode ser uma indústria e a indústria pode ser o cinema, os dois podem ser lindos e feios, mas no fim o grande ponto do filme me pareceu ser como cada um é um artista e como cada artista é um grande nada - e como o grande nada é a arte por si só. Não faz muito sentido porque não precisa fazer; muitas vezes o filme parece um grande musical sobre esse ato de se fazer cinema e de se trabalhar - inclusive acho que a melhor cena do filme é a que uma câmera, com operadores e tudo, se perde em meio a uma cena sendo gravada no momento, logo antes da "nossa" câmera, do nosso olhar, se tornar o filme sendo gravado. Não é uma mistura de realidade e ficção porque a ficção do Godard é a realidade e vice-versa, com um universo inteiro perdido entre esses dois.
Hitchcock aqui entende que o mais assustador não é um sociopata a solta ou um crime de efeitos psicológicos, mas sim a própria estrutura da sociedade, com seus papéis e funções que se misturam e se confundem o tempo todo. Ninguém está errado e ninguém está certo: cada um apenas busca o melhor para si, tendo efeitos devastadores para um par de indivíduos - totalmente não intencional. Um Hitchcock inspiradíssimo e o Henry Fonda é uma dádiva.
Por mais que o filme tenha dificuldade em estabelecer a questão moral (do menino não querer matar), ele compensa tudo isso na forma que trata o romance e sua mitologia. A Bigelow tinha um controle tão forte sobre o filme que, em meia dúzia de takes, ela basicamente resolve toda a identidade dos vampiros - e isso que ainda aparecem um Lance Henriksen e um Bill Paxton inspiradíssimo para ajudar. E isso acaba interferindo na forma como ela faz esse romance ultra-dramático clássico funcionar, o colocando na roupagem de um western [noturno], em um contexto da violência dos anos 80 no cinema. E ainda tem a trilha do Tangerine Dream. Ela era foda demais nessa época mesmo.
Aparentemente todas as centenas de video essays falando sobre a paleta de cores pasteurizada dos filmes do MCU funcionou, que tal agora focarmos nisso de todo mundo querer destruir o universo?
Mas sério, só de o filme ter dado um pouco de cor e ter criado uma real identidade visual já é um passo imenso para a Marvel. Parece que ele realmente mergulha naquelas ideias visuais que o estúdio apresenta no Ant-Man e no Doctor Strange, mas não teve coragem de realmente as utilizar - como o set piece final, que se passa inteiramente dentro de um tipo de espaço que é só de passagem em outros filmes. Mesmo que a ação seja meio estéril em algumas cenas, são bem interessantes e divertidas as soluções visuais que o filme encontra em relação a isso.
De resto, ele funciona como um grande episódio de desenho animado, o que sinceramente apela demais pra mim (me lembrei vendo o filme que o James Gunn roterizou os filmes do Scooby-Doo, que sempre gostei quando era menor). É aquela economia pra apresentar conceitos e personagens, mas que funciona super bem, como com aqueles personagens dourados, que são apresentados basicamente por meio do visual e de piadas, e até mesmo com o Stallone. E o filme ainda consegue criar uma dinâmica que quebra a estrutura usual da Marvel, finalmente não tendo que apelar pra um set piece, sempre ruinzinho, no meio do filme - que inclusive é substituída pela cena mais legal dele. Quem sabe o único elemento que se desloque um pouco seja o drama, mas ele, à sua própria maneira, acaba funcionando quando o filme não tem uma mão muito pesada nele (na maioria das vezes), então nem chega a atrapalhar. Assim como a motivação do vilão: mesmo parecendo super deslocada quando apresentada - é um filme tão sóbrio e consistente que apela do nada pra um simples "eita ele quer matar todo mundo" (e querendo dar um peso dramático pra isso) -, mas, conforme o filme avança e com a ajuda do Kurt Russell, até mesmo ele acha o seu lugar.
Ainda não é nada extraordinário, mas só do filme conseguir construir uma identidade própria, com todos seus elementos funcionando e sem apelar nem pra uma seriadade descabida, nem pra uma pseudo-auto-consciência à la Deadpool, já é ótimo. Pago fácil pra ver uma bobajada cartunesca e criativa dessas regularmente.
É triste ver um diretor tão experiente fazendo um filme desses, que parece juntar tudo de ruim que pode se esperar de alguém nessa situação: revisionismo mal feito, tentativa de chocar usando as piores tendências atuais e bobajada filosófica que se acha mais inteligente do que é (agora as ações bobas não são fruto da vida humana como commodity de uma corporação, e sim porque o comandante é um "extremista da fé"). Aliás, é engraçado como filme, seguindo o exato contrário da crítica do filme de 79, realmente trata a vida humana (e a emoção, o luto) como simples commodity mesmo, simples mercadoria para o filme, se apoiando num realismo que é mais cínico e cheio de si do que qualquer coisa - só ver como todos os personagens do filme perdem seu parceiro e, em momento algum, o filme parece querer realmente tratar de luto. E o pior que é realmente uma pena que tudo acaba saindo desse jeito, já que a ideia de "conheci nossos Deuses e os matei" é tão absurda que é boa, mas num filme tão meia-boca e gratuito assim fica difícil engolir.
Pelo menos o filme acerta o número mínimo de Michael Fassbenders que cada blockbuster deveria ter hoje em dia.
"How can you call this science? Do you think Madam Currie would invite such comparisons?"
Muito bom assistir um filme que reconhece e acredita mesmo em toda sua vulgaridade e liberdade que tem para ser o que quiser - ainda mais se feito por um diretor que, se quer pautar o filme em um exercício completamente autoral, consegue o fazer sem parecer pedante ou intrometido com a trama. Perdido no espaço/tempo, assim como o próprio Drácula, o filme só se preocupa em ser o que é (ou o que decide ser). Porém, infelizmente essas histórias ultra-sexuais/carnais, que buscam essa exploração dramática do desejo, dificilmente funcionam pra mim, mesmo que esse tom over funcione em relação ao romance. Tem Tom Waits, Keanu Reeves, Winona Ryder e um monte de coisa sem nexo (coisas boas e ruins), mas infelizmente esse ponto principal do sexo não deu pra mim, deixando o filme um pouco maçante.
Por que sonhamos? Por que fazemos/assistimos filmes? O Lynch dos anos 2000 é realmente um dos mais interessante trabalhos revisionistas já feitos - olhando a própria obra, a aprimorando, atualizando, e, por fim, até a justificando.
Em um primeiro momento, o filme parece a antítese do que era Mulholland Drive: enquanto este se tratava da arte/sonho como escapatória, fuga de uma realidade que é um pesadelo, aqui o sonho/o filme em si seria o pesadelo, o problema, confundindo-se com a realidade, sendo impossível lidar com elas separadamente. O que, até certo ponto, ainda é o ponto de toda a história da Laura Dern, que é a busca de um equilíbrio, pela arte, em um mundo naturalmente desequilibrado - descobrindo que essa busca é completamente inútil. É de certa forma a destruição de toda a ferramente possibilitadora que Lynch encontrou na arte em Mulholland. A arte seria uma odisseia sem fim, sem solução; uma queda dentro da própria loucura, da própria ficção, porém que não haveria saída, em momento algum.
Mas a virada que o filme dá, em seus 10 minutos finais, acaba retomando toda a ideia do Mulholland Drive e em uma forma que vai além da escapatória, chegando a uma real redenção - aqui, a maldição que a Naomi Watts sofre ao fim de Mulholland se torna em uma purificação, em uma salvação. A odisseia da Laura Dern acha o seu fim e o seu objetivo: um acordo com o telespectador/o artista em busca de um sentido e de uma solução (que acaba sendo para ambos). O uso do Rabbits, trabalho paralelo do Lynch que ele inclui no filme, demonstra toda essa questão do ficcional dentro de trama de Dern. É uma outra obra, com outras ideias e outro ponto, mas sempre presente, representando todo o fator ficcional do filme que assistíamos, nós e a prostituta polonesa (não é à toa que a Laura Dern entra no set dos coelhos antes de encontrar sua telespectadora/criadora - ela se assume enquanto a ficção, se misturando com outra, das mais baratas (versão lynchiana para sitcoms)). Os 10 minutos do filme são dos mais lindos que me recordo de ver nos últimos tempos, porque é justamente tudo que busco na arte: uma Laura Dern que sofra com todos os meus problemas, os encare e venha por fim me dar um beijo, concretizando a exorcização deles e me fazendo encará-los na vida real. Quem sabe haja uma ideia maior aqui em relação ao artista propriamente dito, não só ao telespectador (ao contrário do Mulholland Drive, aqui a telespectadora literalmente cria a televisão em que assiste o filme, tendo conexão direta com ela), mas a lógica permanece a mesma: a arte como o grande exorcista da realidade.
Agora fica a dúvida de como essa ideias revisionistas tomarão lugar em sua nova obra abertamente revisionista, a nova temporada de Twin Peaks. Um Lynch que consegue justificar toda a liberdade e loucura de suas obras sem parecer pedante ou óbvio era realmente tudo o que eu queria.
Twin Peaks (3ª Temporada)
4.4 622 Assista AgoraGalera podia parar de falar que tem arco sem fim ou personagem inútil né? Vamo pensar um pouco nos temas que a série trata que logo você percebe que praticamente TODOS os personagens tem algum ponto de existir, até a mãe drogada ou o cara que mata o casal Tarantino. Mas vamo lá, facilitando pra vocês:
Audrey: provavelmente em um hospital ou na white lodge/derivados - tem suas cenas que são ótimas e bem Existencialism 101, além de falar sobre sonhos, um dos grandes pontos da série.
Becky: repetindo a história da mãe e do pai (se envolvendo com drogas e etc - repetição um dos grandes pontos também), repete também questão de relacionamento com os pais a lá a ótima cena do Major com o Bobby na 2ª temporada (que foi chave pra redenção do Bobby nessa temporada, outro tema da série - busca pelo bem). Mas no fim a Shelly ainda sai com um traficante (e um envolvido com a Black Lodge) - repetição de novo.
Freddy, o da luva: pessoas comuns envolvidas com as misteriosas forças do universo ("why me?" "why not you?"). Assim como Lucy, que junto com o Andy são os personagens com o coração mais puro da série, atira no Mr. C., derrotar o Bob foi tarefa de uma pessoa qualquer - a bondade no mundo, outro tema da série.
Drunk e Chad: Chad pra falar da corrupção da polícia - a maldade no mundo - e, junto com o Drunk, se juntarem todos nas celas para reforçar o caráter de "destino" para o que culminou na cena em que o Bob morre.
Outros pontos chave: paranóia, hipocrisia suburbana, instituições precárias e mentirosas, pós-guerra, brincadeira com a violência na televisão (assim como a série original brincava com novela), a própria violência, o espírito americano, o capitalismo atual, os mistérios da existência - e como nunca teremos uma resposta concreta disso - etc etc etc. São 18 horas e dá pra escrever um livro sobre tudo que a série aborda.
Mais alguma coisa ou vocês vão continuar reclamando de "roteiro ruim" e "montagem problemática"? Não ligo de não gostarem da série, mas parem de inventar motivo que não foi e nem nunca vai ser o ponto dela - é como se vocês tivessem falando que tal filme de terror não é bom porque não tem comédia.
O Vingador do Futuro
3.6 495 Assista AgoraVerhoeven achando que é Hitchcock. Lindo demais.
De Olhos Bem Fechados
3.9 1,5K Assista AgoraKubrick desconstruindo o egocentrismo e narcisismo do Tom Cruise por meio do tesão, Sydney Pollack falando sobre a realidade (e o cinema que quer emulá-la) ser mera questão de perspectiva e paranóia. Fuck: poetic cinema.
Duna
2.9 412 Assista AgoraNão sabia que o Lynch tinha feito um filme sobre os 25 anos que o Agent Cooper ficou preso no labirinto do tempo, espaço e consciência da Black Lodge.
É um filme que parece o tempo todo estar a um passo de ser uma daquelas obra-primas não-intencionais, porém nunca consegue superar algumas limitações. Muito se fala de como o Lynch não pode montar a versão final do filme, porém acho que a própria direção dele erra a mão em alguns aspectos - o principal é que ele não consegue dar profundidade aos muitos dramas, o que acaba tirando força de todos os acontecimentos do filme e limitando os seus temas (é meio triste pensar em como o filme poderia tratar da consciência humana, com tantos pontos que envolvem isso - quem sabe era esse o grande interesse do Lynch no filme -, porém acaba faltando algo pra tudo se conectar como deveria). Mas de resto o filme acaba sendo tão divertido nesse seu mundinho ultra-apressado e expositivo que dá pra se divertir bastante. Há umas soluções visuais incriveís, o ritmo que o filme ganha na sua metade final é bem único e há uns pontos muito doidos no meio disso tudo. Muito se fala do filme do Jodorowsky, mas não sei se trocaria essa extravagância mística novelesca do Lynch pelo carnaval que ele queria fazer - e que, inclusive, possuía imensas chances de dar errado da mesma forma que esse filme deu.
Stalker
4.3 504 Assista AgoraA distância entre o ser e o querer tornada física - Deus tornado físico. A ambiguidade da vida e a ambiguidade divina. Acaba não sobrando muita coisa, só o desespero mesmo.
De Canção Em Canção
2.9 373 Assista AgoraA grande interrogação de todo esse projeto é como o Malick faz um filme "sobre a cena musical de Austin" (ou seja, música popular como um todo) e não consegue atualizar um pouco que seja o seu modus operandis. Aqui ele tá falando sobre crise existencial dentro do meio artístico, mas é extremamente parecido de quando ele fala sobre núcleos familiares no pós-guerra, ou sobre gente na guerra, ou sobre o descobrimento das américas (e isso que eu não vi os dois últimos filmes dele). Tem diálogo e take aqui que se você joga no meio dos seus outros filmes não vai soar nada deslocado - porque eles estão é deslocados nesse filme.
Existe alguns momentos que o filme consegue extrair algo bem genuíno (Patti Smith e a química entre a Rooney Mara e o Ryan Gosling me vêm a cabeça), assim como tem algumas ideias e momentos que o Malick realmente parece sair um pouco daquele monotonia usual do seu cinema e adentrar em algo diferente, mas pra cada momento desse tem uns 2 ou 3 daquelas divagações que, nesse filme especialmente, não conseguem criar carga dramática nem filosófica alguma e só ficam soando vazias mesmo. Aliás o fraquíssimo núcleo dramático do filme explica porque essa repetição do Malick vai ladeira abaixo aqui: é uma história preguiçosa e fraca, que não se sustenta por si só e tenta usar como muletas essa filosofia de segunda categoria que tanto elevou o cinema do diretor em outros filmes (que não se sustentavam só nela), mas aí que ele cai de cara no chão. É uma pena porque quando o filme começou eu pensei "é realmente muito fácil fazer cinema contemplativo enquanto filma a Rooney Mara né", mas nem isso.
Twin Peaks (3ª Temporada)
4.4 622 Assista AgoraEu de verdade não sei que atrativo a série pode ter hoje se a pessoa não gosta do Dougie. Ele é o cerne de toda essa discussão sobre a cultura norte-americana e sobre a vida como um todo que a série tá tentando fazer agora. "Watch and listen to the dream of time and space". O que você faz quando passa 25 anos preso em um lugar que nem tempo, nem espaço existem? Lynch com essa redescoberta da vida pelo Cooper brinca com todo o significado de estar vivo: trabalhar, amar, socializar, transar e por aí vai. É lindo como o Coop cai nesse universo no meio ultra-capitalista de um cassino e, no alto de sua ingenuidade, acaba parando nos braços da Janey-E - e aprende tudo que pode vir junto com o companheirismo. É tudo lindo pra caralho, e não me deixem começar a falar sobre como a série tá abordando a velhice que eu vou chorar pensando em quem faleceu após as filmagens.
Carrots & Peas
2.5 2O cineasta é um imbecil.
Documentário
4.0 28Filminhos, tédio e tela quadrada.
Onde está você, Jean-Marie Straub?
3.6 1Acho que assisti-lo no cinema e junto com 2 outros filmes do diretor tornou a experiência muito mais prazerosa e inteligente do que deveria ser. Entre o texto literal sem pausa dos trechos de Othon no Pour Renato e a fluidez absurda, linda e difícil do Não-Reconciliados, existe uma certa mágica inexplicável em assistir um take de 4 minutos de um gato se lambendo na tela grande.
Boudu Salvo das Águas
3.8 18Burguês é tudo besta.
Night Music
3.5 230 segundos de intenso deleite visual interrompidos abruptamente pela vida real. Parece um resumo da minha vida.
Luzes da Cidade
4.6 625 Assista AgoraYes, I can see now.
Window Water Baby Moving
4.2 13Eu realmente não esperava um filme sobre um parto, mas é bonito demais. É muito lindo e estranho ser humano mesmo.
A Cor da Romã
4.1 133O cinema como emulação da realidade, mas a realidade como sentimentos e ideias e não acontecimentos propriamente ditos. Mesmo que seja tudo meio difuso, Parajanov entendia muito bem da criação e manipulação dos mais simples (ou complexos, depende de onde se olha) símbolos - realmente não sei se precisamos muito mais do que isso para um filme.
Twin Peaks (3ª Temporada)
4.4 622 Assista AgoraSe a série original tinha como um foco o isolamento da cidade de Twin Peaks do resto do mundo (mesmo que esse mundo se impusesse a ela), aqui Lynch isola todo o universo da série do resto, tornando o seu cinema (ou sua obra) como grande objeto de estudo nesses 4 primeiros episódios. Ele parece tratar tudo de uma forma tão canônica, como, mesmo elementos completamente novos, fossem coisas consagradas tendo seu curto tempo de tela ali naquele momento, criando algo que vai muito além da mera exposição ou de um exibicionismo, algo que entra numa esfera plenamente contemplativa mesmo. Lynch abstraiu toda uma noção tanto espacial, quanto temporal, e (re)criou um universo onde cortinas vermelhas, caixas de vidro e quadros imensos do Kafka apenas flutuam no espaço (literalmente), não significando nada e tudo ao mesmo tempo. A série original sempre se pautou em um exercício de clima, mas a série abandonar o onírico e mergulhar fundo no absurdo era bem inesperado (e bem-vindo). Não sei se o cinema desse ano vai ver umas cenas tão inspiradas quanto as do Agent Cooper perdido entre os multi-universos e, logo após, entre a vida ultra-capitalista suburbana. Ou as cenas do Gordon, que, quase sem verbalizar isso, carregam uma carga imensa de nostalgia e de velhice. Na verdade, os 4 episódios parecem carregar tanta coisa sem de fato abordar tudo isso - até a própria trama deles que, difusa, é quase inexistente até então, mas Lynch entende tão bem o conceito narrativo televiso que só tá criando uma jornada artística absurda, o resto pode ficar pra depois mesmo (muito provavelmente, ficar para nunca mais).
Is it future? Or is it past?
NON-EXIST-ENT
O Lynch é foda mesmo.
Skagafjördur
3.5 2Cinema como uma janela para a realidade, já que a própria realidade se torna abstrata e contemplativa a todo momento. Um dia quero amar algo como Hutton ama as imagens que filma.
Completo aqui: https://www.youtube.com/watch?v=bGBEX-S8AVE
Passion
3.5 17Gordard faz um cinema de símbolos, mas não de simbolismos: é inclusive engraçado como ele parece negar qualquer noção que ligue certo personagem a certa ideia (como um personagem que simbolizaria o industrial, o produtor de cinema ou coisa do tipo). Como o filme faz tão pouco sentido, a cada momento que ele parece querer tratar de uma relação de classes e de seus personagens ele parece estar fazendo uma esquete cômica absurda (uma separada da outra, desconexa da outra). O cinema pode ser uma indústria e a indústria pode ser o cinema, os dois podem ser lindos e feios, mas no fim o grande ponto do filme me pareceu ser como cada um é um artista e como cada artista é um grande nada - e como o grande nada é a arte por si só. Não faz muito sentido porque não precisa fazer; muitas vezes o filme parece um grande musical sobre esse ato de se fazer cinema e de se trabalhar - inclusive acho que a melhor cena do filme é a que uma câmera, com operadores e tudo, se perde em meio a uma cena sendo gravada no momento, logo antes da "nossa" câmera, do nosso olhar, se tornar o filme sendo gravado. Não é uma mistura de realidade e ficção porque a ficção do Godard é a realidade e vice-versa, com um universo inteiro perdido entre esses dois.
O Homem Errado
3.9 97 Assista AgoraHitchcock aqui entende que o mais assustador não é um sociopata a solta ou um crime de efeitos psicológicos, mas sim a própria estrutura da sociedade, com seus papéis e funções que se misturam e se confundem o tempo todo. Ninguém está errado e ninguém está certo: cada um apenas busca o melhor para si, tendo efeitos devastadores para um par de indivíduos - totalmente não intencional. Um Hitchcock inspiradíssimo e o Henry Fonda é uma dádiva.
Quando Chega A Escuridão
3.3 132Por mais que o filme tenha dificuldade em estabelecer a questão moral (do menino não querer matar), ele compensa tudo isso na forma que trata o romance e sua mitologia. A Bigelow tinha um controle tão forte sobre o filme que, em meia dúzia de takes, ela basicamente resolve toda a identidade dos vampiros - e isso que ainda aparecem um Lance Henriksen e um Bill Paxton inspiradíssimo para ajudar. E isso acaba interferindo na forma como ela faz esse romance ultra-dramático clássico funcionar, o colocando na roupagem de um western [noturno], em um contexto da violência dos anos 80 no cinema. E ainda tem a trilha do Tangerine Dream. Ela era foda demais nessa época mesmo.
Guardiões da Galáxia Vol. 2
4.0 1,7K Assista AgoraAparentemente todas as centenas de video essays falando sobre a paleta de cores pasteurizada dos filmes do MCU funcionou, que tal agora focarmos nisso de todo mundo querer destruir o universo?
Mas sério, só de o filme ter dado um pouco de cor e ter criado uma real identidade visual já é um passo imenso para a Marvel. Parece que ele realmente mergulha naquelas ideias visuais que o estúdio apresenta no Ant-Man e no Doctor Strange, mas não teve coragem de realmente as utilizar - como o set piece final, que se passa inteiramente dentro de um tipo de espaço que é só de passagem em outros filmes. Mesmo que a ação seja meio estéril em algumas cenas, são bem interessantes e divertidas as soluções visuais que o filme encontra em relação a isso.
De resto, ele funciona como um grande episódio de desenho animado, o que sinceramente apela demais pra mim (me lembrei vendo o filme que o James Gunn roterizou os filmes do Scooby-Doo, que sempre gostei quando era menor). É aquela economia pra apresentar conceitos e personagens, mas que funciona super bem, como com aqueles personagens dourados, que são apresentados basicamente por meio do visual e de piadas, e até mesmo com o Stallone. E o filme ainda consegue criar uma dinâmica que quebra a estrutura usual da Marvel, finalmente não tendo que apelar pra um set piece, sempre ruinzinho, no meio do filme - que inclusive é substituída pela cena mais legal dele. Quem sabe o único elemento que se desloque um pouco seja o drama, mas ele, à sua própria maneira, acaba funcionando quando o filme não tem uma mão muito pesada nele (na maioria das vezes), então nem chega a atrapalhar. Assim como a motivação do vilão: mesmo parecendo super deslocada quando apresentada - é um filme tão sóbrio e consistente que apela do nada pra um simples "eita ele quer matar todo mundo" (e querendo dar um peso dramático pra isso) -, mas, conforme o filme avança e com a ajuda do Kurt Russell, até mesmo ele acha o seu lugar.
Ainda não é nada extraordinário, mas só do filme conseguir construir uma identidade própria, com todos seus elementos funcionando e sem apelar nem pra uma seriadade descabida, nem pra uma pseudo-auto-consciência à la Deadpool, já é ótimo. Pago fácil pra ver uma bobajada cartunesca e criativa dessas regularmente.
Alien: Covenant
3.0 1,2K Assista AgoraÉ triste ver um diretor tão experiente fazendo um filme desses, que parece juntar tudo de ruim que pode se esperar de alguém nessa situação: revisionismo mal feito, tentativa de chocar usando as piores tendências atuais e bobajada filosófica que se acha mais inteligente do que é (agora as ações bobas não são fruto da vida humana como commodity de uma corporação, e sim porque o comandante é um "extremista da fé"). Aliás, é engraçado como filme, seguindo o exato contrário da crítica do filme de 79, realmente trata a vida humana (e a emoção, o luto) como simples commodity mesmo, simples mercadoria para o filme, se apoiando num realismo que é mais cínico e cheio de si do que qualquer coisa - só ver como todos os personagens do filme perdem seu parceiro e, em momento algum, o filme parece querer realmente tratar de luto. E o pior que é realmente uma pena que tudo acaba saindo desse jeito, já que a ideia de "conheci nossos Deuses e os matei" é tão absurda que é boa, mas num filme tão meia-boca e gratuito assim fica difícil engolir.
Pelo menos o filme acerta o número mínimo de Michael Fassbenders que cada blockbuster deveria ter hoje em dia.
Drácula de Bram Stoker
4.0 1,4K Assista Agora"How can you call this science? Do you think Madam Currie would invite such comparisons?"
Muito bom assistir um filme que reconhece e acredita mesmo em toda sua vulgaridade e liberdade que tem para ser o que quiser - ainda mais se feito por um diretor que, se quer pautar o filme em um exercício completamente autoral, consegue o fazer sem parecer pedante ou intrometido com a trama. Perdido no espaço/tempo, assim como o próprio Drácula, o filme só se preocupa em ser o que é (ou o que decide ser). Porém, infelizmente essas histórias ultra-sexuais/carnais, que buscam essa exploração dramática do desejo, dificilmente funcionam pra mim, mesmo que esse tom over funcione em relação ao romance. Tem Tom Waits, Keanu Reeves, Winona Ryder e um monte de coisa sem nexo (coisas boas e ruins), mas infelizmente esse ponto principal do sexo não deu pra mim, deixando o filme um pouco maçante.
Império dos Sonhos
3.8 433Por que sonhamos? Por que fazemos/assistimos filmes? O Lynch dos anos 2000 é realmente um dos mais interessante trabalhos revisionistas já feitos - olhando a própria obra, a aprimorando, atualizando, e, por fim, até a justificando.
Em um primeiro momento, o filme parece a antítese do que era Mulholland Drive: enquanto este se tratava da arte/sonho como escapatória, fuga de uma realidade que é um pesadelo, aqui o sonho/o filme em si seria o pesadelo, o problema, confundindo-se com a realidade, sendo impossível lidar com elas separadamente. O que, até certo ponto, ainda é o ponto de toda a história da Laura Dern, que é a busca de um equilíbrio, pela arte, em um mundo naturalmente desequilibrado - descobrindo que essa busca é completamente inútil. É de certa forma a destruição de toda a ferramente possibilitadora que Lynch encontrou na arte em Mulholland. A arte seria uma odisseia sem fim, sem solução; uma queda dentro da própria loucura, da própria ficção, porém que não haveria saída, em momento algum.
Mas a virada que o filme dá, em seus 10 minutos finais, acaba retomando toda a ideia do Mulholland Drive e em uma forma que vai além da escapatória, chegando a uma real redenção - aqui, a maldição que a Naomi Watts sofre ao fim de Mulholland se torna em uma purificação, em uma salvação. A odisseia da Laura Dern acha o seu fim e o seu objetivo: um acordo com o telespectador/o artista em busca de um sentido e de uma solução (que acaba sendo para ambos). O uso do Rabbits, trabalho paralelo do Lynch que ele inclui no filme, demonstra toda essa questão do ficcional dentro de trama de Dern. É uma outra obra, com outras ideias e outro ponto, mas sempre presente, representando todo o fator ficcional do filme que assistíamos, nós e a prostituta polonesa (não é à toa que a Laura Dern entra no set dos coelhos antes de encontrar sua telespectadora/criadora - ela se assume enquanto a ficção, se misturando com outra, das mais baratas (versão lynchiana para sitcoms)). Os 10 minutos do filme são dos mais lindos que me recordo de ver nos últimos tempos, porque é justamente tudo que busco na arte: uma Laura Dern que sofra com todos os meus problemas, os encare e venha por fim me dar um beijo, concretizando a exorcização deles e me fazendo encará-los na vida real. Quem sabe haja uma ideia maior aqui em relação ao artista propriamente dito, não só ao telespectador (ao contrário do Mulholland Drive, aqui a telespectadora literalmente cria a televisão em que assiste o filme, tendo conexão direta com ela), mas a lógica permanece a mesma: a arte como o grande exorcista da realidade.
Agora fica a dúvida de como essa ideias revisionistas tomarão lugar em sua nova obra abertamente revisionista, a nova temporada de Twin Peaks. Um Lynch que consegue justificar toda a liberdade e loucura de suas obras sem parecer pedante ou óbvio era realmente tudo o que eu queria.