Que filme divertido! O diretor e roteirista Shane Black é o mesmo cara que escreveu os dois primeiros Máquina Mortífera e dirigiu Beijos e Tiros. Em Dois Caras Legais, ele entrega mais uma comédia policial ambientada em Los Angeles. Aqui o barato é que a trama se passa em 1977, auge da disco e do cinema pornô. Russel Crowe está ótimo como uma cara durão, mas com um coração mole. E Ryan Gosling está hilário como um detetive particular picareta com uma filha adolescente mais esperta do que ele. Os diálogos são muitos bons. O roteiro tem boas reviravoltas. A trilha sonora e a direção de arte são competentes em criar a atmosfera da época. A crítica e o público adoraram, mas o filme foi um fracasso de bilheteria. Vai entender. Parece o piloto de luxo de uma série promissora. Pena que não veremos os próximos episódios.
Melhor filme de zumbi que vejo em muito tempo. É um tapa na cara do cinema comercial americano. Invasão Zumbi tenta fugir do previsível sem perder a diversão. Mistura eficiente de ação, drama, comédia e terror. Há soluções de roteiro forçadas (as transformações dos zumbis são mais rápidas ou mais lentas de acordo com as necessidades da trama, alguns personagens são caricaturais, o melodrama...), mas nada disso compromete o ritmo insano. Para completar, é uma interessante sátira social que fala sobre individualismo, altruísmo, status quo e quebra da norma.
John Carney criou um subgênero só dele: a comédia romântica sobre músicos. Seus filmes têm romances pés no chão, um humor leve, mas que nunca ofende sua inteligência, e incríveis trilhas sonoras. Sing Street é o seu projeto mais ambicioso, exigindo mais da produção e do roteiro. O filme se passa na Dublin dos anos 80 e mostra a formação de uma banda de garotos, em meio a crises familiares, desemprego, repressão de padres, bullying e as alegrias e dores do amor. É um filme que aquece o coração.
Filme de terror pouco falado em 2016, mas que chegou a entrar em algumas listas de melhores do ano. É uma produção da Grã-Bretanha, Irã e Qatar. É a estreia do diretor e roteirista iraniano Babak Anvari. E o cara destrói. O filme se passa no Irã dos anos 80, durante a guerra Irã-Iraque. Uma mulher iraniana passa por uma série de problemas. Sofre com os bombardeios que atingem a capital Teerã, tem de cuidar da filha pequena inquieta, tem um marido que acha conveniente sua condição de dona de casa e o regime do aiatolá Khomeini a impede de continuar os estudos de medicina, por causa do seu passado político. O filme demora um pouco para engrenar. Mas, quando começa de fato, apresenta um terror sutil, que aumenta de intensidade, ficando cada vez mais creepy. O interessante é que a história do Irã e a cultura árabe são usados para realizar um filme de terror que também fala sobre os absurdos da guerra e angústias sociais quando não se tem liberdade. Eu estava ansioso para ver esse filme e não fui decepcionado.
O diretor pernambucano Gabriel Mascaro reinventou o imaginário do Nordeste ao mostrar a realidade contemporânea da região, onde progresso, miséria, tradição e cultura pop andam lado a lado. Na superfície, acompanhamos o cotidiano das vaquejadas, onde a virilidade de homens e animais é tão presente. Mas o interesse aqui é mostrar outro olhar sobre esse universo, considerado brutal por muitos. O filme não tem propriamente uma trama. É um estudo de personagens. E eles são tão ricos, tão bem representados, que nos ganham a cada cena. A entrega do elenco é total, dos atores profissionais e dos não-atores. Vemos um questionamento constante de papéis e de dinâmicas sociais, do que é ser masculino e feminino. Iremar, um vaqueiro, almeja ser estilista de moda. Enquanto Galega dirige um caminhão e cria a filha sozinha. Mas há muito mais. Cada personagem tem seu encanto e sua subversão. A transição entre comédia e drama não é forçada. Os diálogos divertidos, tensos, ou delicados nunca tiram o espectador desse mundo. A montagem é paciente, mas vigorosa, com o uso frequente de longas tomadas. A direção de arte é enganosamente simples, recriando o ambiente rural, em locações reais. A fotografia estiliza o sertão sem parecer artificial, falso, com planos abertos durante o dia e o uso de cores fortes à noite. A trilha sonora, com sucessos nacionais, canções estrangeiras e música original, amplia o impacto das imagens. Boi Neon fala sobre sonhos, mas nunca de maneira romântica.
Filmes de terror marcantes não são aqueles que dão os maiores sustos, mas os que mexem com nossos mais profundos medos. Em A Bruxa, vemos o que acontece quando a sociedade patriarcal não funciona como o esperado. Numa produção de baixo orçamento, mas visualmente sofisticada, o diretor e roteirista estreante Robert Eggers perturba o espectador com um olhar perspicaz, analisando como o fracasso e a frustração podem colocar em teste até as certezas mais inabaláveis. O filme faz um embate constate entre norma, caos, sanidade e delírio. E isso afeta nossa própria percepção do que estamos vendo. As imagens sobrenaturais são "reais", ou são projeções dos personagens, uma forma do diretor tornar mais evidentes os medos de cada um deles? A produção cria uma cenário verossímil e claustrofóbico. Acreditamos nas dúvidas dos personagens porque as atuações são incríveis, principalmente, dos quatro filhos. Até os animais estão maravilhosos! Tem um coelho que é muito assustador. Alguns podem considerar o filme lento e chato. Mas, na verdade, ele tem paciência em construir uma atmosfera de paranoia ao extremo. Já disseram que A Bruxa é uma anti-fábula, que o intuito do filme não é pregar uma moral, mas subvertê-la.
Este filme francês é o melhor da carreira de Paul Verhoeven, superando até mesmo Robocop, uma violenta sátira ao american way of life e ao capitalismo, mas com um final conservador. Em Elle, Verhoeven está livre para desafiar o espectador até o último segundo. E assim como George Miller, diretor de Mad Max: Estrada da Fúria, o cineasta holandês prova que, aos 78 anos, está em evolução como artista.
Originalmente, Elle era para ser produzido nos EUA e protagonizado por uma estrela de Hollywood. Mas nenhum estúdio e nenhuma atriz se interessaram pelo projeto, considerado polêmico demais. Verhoeven ganhou fama de provocador com filmes, muitas vezes, classificados como apelativos. Mas, em Elle, a provocação é mais complexa. Aqui a rejeição pelo projeto tem mais a ver com o incômodo das verdades expostas, a profunda análise da condição humana.
Verhoeven levou o projeto para a França, terra do autor do romance que deu origem ao filme. O roteiro do americano David Birke foi vertido para o francês. E o cineasta holandês encontrou em Isabelle Huppert sua protagonista perfeita. Huppert é a força motriz dessa mistura de thriller, sátira social e drama familiar. Michèle Leblanc é uma mulher de 50 anos, empresária de sucesso, cercada por homens que questionam sua posição de poder, mãe, avó e alguém que não tem pudores em satisfazer sua libido. O personagem de Huppert é pragmática, irônica, decidida e imperfeita. Além disso, possui um passado sombrio. O interessante é que Verhoeven, em nenhum momento, pretende julgar Michèle. Ela é um mecanismo do diretor para abalar nossas certezas.
A segurança da direção é absurda. Verhoeven varia entre o intenso e o discreto com muita habilidade. A mise-en-scène cria uma atmosfera hitchcockiana, levando para outro nível o que já tinha sido feito em filmes como Instinto Selvagem e O Homem das Sombras. Elle é muito francês em seu conteúdo, mas com formato de suspense americano, na verdade, uma subversão do gênero. Amado ou odiado, considerado feminista ou misógino, Elle é um deleite visual e um veículo de discussão poderoso.
Rogue One é um filme que está dividindo opiniões. Para alguns, já é o melhor da franquia. Para outros, uma decepção. Nem tanto nem tão pouco. O Império Contra-Ataca ainda reina como o ápice de Star Wars. Ainda é o episódio que melhor soube explorar o universo da saga, com a evolução dos personagens e uma trama dinâmica e complexa.
Rogue One traz aspectos inéditos para Star Wars, como a ambiguidade moral dos heróis e os conflitos internos na Aliança Rebelde. Neste quesito, Rogue One se torna um filme de guerra muito bem executado. As cenas de ação e de batalha são o que vale o ingresso. Visualmente é, sim, o melhor filme de Star Wars. Mas O Despertar da Força foi mais bem sucedido em resgatar a magia da saga criada por George Lucas.
O grande problema de Rogue One são os personagens. Mesmo os mais interessantes não convencem. As motivações são vagas, inconsistentes. Rogue One teve uma produção problemática com mudança de roteirista, de compositor da trilha sonora e refilmagens. Isso fica evidente no corte final. Em certos momentos, a montagem é confusa e apressada. Há soluções de roteiro que não fazem o menor sentido. Personagens clássicos da franquia aparecem. Infelizmente, deram mais importância a um determinado personagem, totalmente criado em CGI, do que a outro, tão crucial para a saga.
Rogue One é um filme que vai ser mais apreciado por fãs de Star Wars. O público médio de cinema pode não curtir tanto por não entregar o mesmo nível de diversão de outras franquias, como Transformers e Marvel. Rogue One é, ao mesmo tempo, um filme corajoso e uma lição para a Disney de como não se deve tocar uma produção.
É uma delícia ver Cumberbatch e Freeman numa adaptação de época de Sherlock. O roteiro de Mark Gattis, que também interpreta Mycroft, conteve as pirotecnias narrativas de Steven Mofatt. A ciranda de reviravoltas está lá, porém é mais eficiente, orgânica e com propósito, sem deus ex machina. Há soluções para a trama bastante criativas, algumas realmente impressionantes. O clima de terror funciona. Outro elemento intrigante é a brincadeira metalinguística com o próprio ato de pensar, de escrever ficção, com acontecimentos dos episódios anteriores e com a vida e obra de Conan Doyle. Há problemas (principalmente, uma visão equivocada do feminismo). Mas, no fim, deixou o gostinho de que a série pode voltar a ser divertida.
Uma das mais belas animações que já vi. É um filme lento, mas os personagens são tão cativantes e as imagens tão deslumbrantes que chegamos até o final sem muitos problemas. Não é por caso que chamam Shinkai de "o novo Miyazaki".
Animação revolucionária e que ainda continua influenciando gente na moda, ciência, literatura, indústria em geral e, claro, no cinema. O roteiro é fraquinho, a ideologia é conservadora (militares mostrados como os mais sensatos, cientistas como loucos, sexismo), mas a qualidade da animação, montagem, fotografia, efeitos sonoros e trilha sonora são incríveis. O filme envelheceu muito bem.
O diretor e roteirista Makoto Shinkai vem chamando atenção nos últimos com suas animações com personagens bem desenvolvidos e cenários realistas. Ele está sendo chamado de "o novo Miyazaki" por sua importância para a animação japonesa. Seu filme mais recente, Your Name, foi um grande sucesso no Japão e a crítica americana está bastante entusiasmada. The Garden of Words é uma ode à solidão. É uma animação belíssima, triste, sem respostas fáceis. Mas que, no final, deixa na gente uma sensação boa de aprendizado.
Belíssimo e estranhíssimo. É um filme leeeento, mas cheio de imagens poderosas. É uma narrativa fragmentada, não-linear e que usa a montagem de forma bastante criativa. A fantasia aqui é perturbadora porque tem uma pegada adulta, servindo de metáfora para falar sobre morte, perda, arrependimento, sexualidade, família, tradição, quebra de convenções, valor da vida. Um vigoroso poema visual.
A Chegada é um corpo estranho no cinema atual. Um filme com ambição kubrickiana, mas consciente de que também precisa vender pipoca e refrigerante. É uma produção que pode estar de olho no Oscar. Porém, diferente de outros candidatos recentes no gênero da ficção científica (Gravidade, Perdido em Marte), A Chegada se arrisca mais.
Minha expectativa para o filme, de certa maneira, estava comprometida. Eu já tinha lido a novela Story of your life, de Ted Chiang, na qual A Chegada se baseou (recentemente a editora Intrínseca publicou uma coletânea do autor). A grande revelação do filme não foi nenhuma surpresa para mim. Minha curiosidade estava em saber como fariam a adaptação da história de Chiang, por causa de sua estrutura peculiar. E também como tratariam as ideias e discussões científicas.
Posso dizer que A Chegada é uma bela adaptação, fiel na medida do possível. E mesmo quem já leu a novela vai se surpreender com algumas novidades.
Ted Chiang é um dos autores mais cultuados da ficção científica, nos últimos trinta anos. Ele não é um escritor prolífico. Sua obra é focada em contos e novelas. São narrativas muito engenhosas, uma interessante mescla de ficção sedutora e poderosa especulação científica. Por isso, cada história dele ganha um ar de genialidade. Por muitos anos, tentaram adaptar Story of your life para o cinema.
O diretor canadense Denis Villeneuve é um nome ascendente em Hollywood. Conhecido pela extrema segurança ao filmar, pela beleza de suas produções e por provocar o espectador com situações desconfortáveis, questionamentos morais. Alguns o chamam de brilhante, um novo mestre do cinema. Outros de farsa, com domínio técnico demais e ideias de menos.
Em A Chegada, ele provoca o espectador a repensar conceitos, no que talvez seja seu filme mais caloroso. Porque o que vemos aqui é uma melancólica peça de reflexão sobre comunicação e convívio. Na verdade, é um filme otimista. Emocionante, sem ser piegas.
Em relação ao conteúdo científico, as ideias de FC hard da novela foram simplificadas, tornadas mais visuais (afinal estamos falando de cinema). O infodump é mais enxuto e verossímil do que em Interestelar, por exemplo. Não vemos explicações básicas de astrofísica entre cientistas de alto nível. E sim explicações de conceitos um pouco mais complexos entre cientistas de áreas bem diferentes. Aliás, as soluções visuais e sonoras para representar o universo dos heptapods, dos alienígenas, são criativas, de grande impacto, meio lovecraftianas. A trilha sonora deixa tudo ora mais tenso e misterioso, ora mais melancólico e tocante.
A única atuação que realmente se destaca é a de Amy Adams. Ela domina o filme. É um papel exigente, sutil, cheio de nuances e variações emocionais. Não há gritaria nem caras e bocas. Ela foi mais do que convincente.
Um tema central da novela de Chiang é a discussão entre escolha e determinismo. E isso também é um elemento importante em A Chegada. Novela e filme são bons pontos de partida para reflexões sobre as possibilidades de conhecimento, aceitação e mudança de nossas próprias vidas e de uma melhor compreensão do Universo.
A Chegada é bem-sucedido em traduzir, num fenomenal trabalho de montagem, a estrutura menos convencional de Story of your life. Contudo, em certos momentos, o filme peca por fazer concessões um tanto baratas. Não para tornar a história mais acessível. E sim por preguiça mesmo do roteirista. Há algumas explosões e tiros desnecessários. E todo o ritmo acertado, paciente, na interação com os alienígenas se perde numa resolução acelerada, com a grande revelação da trama sendo simplesmente jogada ao espectador.
Alguns podem dizer que o filme é pretensioso. Muita pompa para ideias que não se sustentam. Discordo. A Chegada é um entretenimento visualmente arrojado com substância. Estimula o debate de temas relevantes com honestidade. Já entrou para a lista dos melhores filmes de FC de todos os tempos.
Excelente adaptação da novela gótica A Volta do Parafuso, de Henry James. O filme captou de maneira soberba a ambiguidade da narrativa do livro. Mérito do roteiro afiado. Debora Kerr está muito bem, numa interpretação adequadamente afetada. E as crianças são incríveis em mostrar ora inocência, ora perversidade. A montagem e a fotografia captaram toda a beleza e o horror da única locação. Os efeitos especiais e sonoros são sutis, pode-se dizer, modestos, mas de grande impacto. Uma produção pequena com coragem para tornar-se algo maior. Um clássico do terror psicológico.
Visual e sonoramente, Sob a Pele é incrível. As soluções da produção para sugerir o clima de ficção científica são sutis e muito poderosas. E a mistura de sensualidade e terror é algo assustador de fato. Talvez esta seja a melhor atuação de Scarlett Johansson. A primeira metade é tensa, cruel e provocativa (no sentido de questionar convenções). Mas, na segunda metade, a coisa fica arrastada, perde força e o filme termina de maneira bem convencional.
Trabalhar Cansa é um filme nacional que faz uma mistura muito interessante de crítica social com terror. O maior problema do filme é não dar, logo nos primeiros minutos, uma pista mais impactante do abalo psicológico que virá depois. Então a trama meio que se arrasta na primeira metade. Mesmo assim, assistimos à afiada crônica de uma família de classe média em crise pela falta de emprego e pela aventura de abrir o próprio negócio. Vemos também a mentalidade tacanha e preconceituosa que não pensa duas vezes ao expressar o sentimento de superioridade a funcionários do mercadinho que inauguram e à empregada da casa; personagem discreta, mas que não é passiva diante desse cenário de exploração. Na segunda metade, o ritmo do filme melhora bastante e o terror chega de vez. É um terror de atmosfera. Mostra pouco, insinua muito, não explica quase nada. O absurdo abalando as estruturas da mediocridade do cotidiano.
Não é um filme de terror, e sim um bom suspense. Curto e contido, a trama se passa em uma locação com poucos personagens. A protagonista é deficiente auditiva e escritora de thrillers. A grande sacada do roteiro é utilizar estes dois elementos para desenvolver a história sem forçar a barra, num jogo de metalinguagem interessante. Não há nada de novo, mas, no final, você se sente aliviado porque não te enganaram, não ofenderam sua inteligência.
Eu sou fã de Star Trek. Não vi todas as séries nem todos os filmes. Mas vi bastante coisa, principalmente, ligada à tripulação original e a da Nova Geração. E continuo querendo ver mais, saber mais. Por isso, digo que o chamado Abramsverse não é Star Trek. E esse terceiro filme deixa isso bem claro.
Visualmente, Sem Fronteiras é belíssimo. Neste aspecto, é como O Despertar da Força. Um conceito do passado com um nível de produção nunca visto antes. A grande diferença é que O Despertar é Star Wars, uma fantasia espacial, misturando filmes de samurais, de guerra e faroeste. Mas Sem Fronteiras não é Star Trek, pois a aventura ao desconhecido, a exploração dos limites da ética e da ciência, são esmagadas pela correria e pelas explosões. E, acima de tudo, pela nada convincente interação entre os personagens.
Gasta-se mais tempo com a ação frenética e um humor cheio de piadas e gags visuais batidas do que em estabelecer conexões sólidas entre a tripulação. Há tentativas, mas elas fracassam. Não são melhor desenvolvidas, ficam pelo caminho. Por exemplo, a relação entre Kirk e Spock, a razão de ser desse universo. Existe tanta coisa acontecendo que os dois mal se falam. Por outro lado, Spock e McCoy ficam juntos quase o filme inteiro, mas o que ganhamos é um Spock depressivo e um McCoy gaiato. Onde está a ironia impassível do vulcano? E a rabugice do doutor?
O filme em si, como entretenimento, não se sustenta. Empolga nos trinta minutos iniciais, com personagens cheios de dúvidas, de dilemas e uma incrível sequência de ação. No segundo ato, ficamos entediados com cenas mal construídas e diálogos ruins. O melhor é reservado para o núcleo do capitão Kirk, deixando migalhas para membros da tripulação, como Uhura e Sulu. E o clímax é grandioso, mas sem emoção. E isso se deve muito à falta de importância do antagonista. A motivação dele é preguiçosa. Um total desperdício do talento de Idris Elba.
Assim como parei de assistir aos filmes de X-Men depois de Dias de um Futuro Esquecido, também vou fazer o mesmo em relação à Star Trek. Esse Abramsverse para mim já deu. Agora o jeito é apostar as fichas na série de TV Star Trek: Discovery. Tomara que não seja um blefe.
um filme que não devia existir. reforça uma ideia racista do passado, de que povos africanos precisam ser salvos por um herói branco que é melhor do que qualquer guerreiro local. o roteiro é um lixo. em relação ao visual, pouca coisa se salva.
Acabo de rever, depois de muitos anos, e continua ótimo. A qualidade dos efeitos especiais práticos ainda impressiona. Filme bastante lovecraftiano. A tensão é quase insuportável. E o final, matador.
Dois Caras Legais
3.6 639 Assista AgoraQue filme divertido! O diretor e roteirista Shane Black é o mesmo cara que escreveu os dois primeiros Máquina Mortífera e dirigiu Beijos e Tiros. Em Dois Caras Legais, ele entrega mais uma comédia policial ambientada em Los Angeles. Aqui o barato é que a trama se passa em 1977, auge da disco e do cinema pornô. Russel Crowe está ótimo como uma cara durão, mas com um coração mole. E Ryan Gosling está hilário como um detetive particular picareta com uma filha adolescente mais esperta do que ele. Os diálogos são muitos bons. O roteiro tem boas reviravoltas. A trilha sonora e a direção de arte são competentes em criar a atmosfera da época. A crítica e o público adoraram, mas o filme foi um fracasso de bilheteria. Vai entender. Parece o piloto de luxo de uma série promissora. Pena que não veremos os próximos episódios.
Invasão Zumbi
4.0 2,0K Assista AgoraMelhor filme de zumbi que vejo em muito tempo. É um tapa na cara do cinema comercial americano. Invasão Zumbi tenta fugir do previsível sem perder a diversão. Mistura eficiente de ação, drama, comédia e terror. Há soluções de roteiro forçadas (as transformações dos zumbis são mais rápidas ou mais lentas de acordo com as necessidades da trama, alguns personagens são caricaturais, o melodrama...), mas nada disso compromete o ritmo insano. Para completar, é uma interessante sátira social que fala sobre individualismo, altruísmo, status quo e quebra da norma.
Sing Street - Música e Sonho
4.1 714 Assista AgoraJohn Carney criou um subgênero só dele: a comédia romântica sobre músicos. Seus filmes têm romances pés no chão, um humor leve, mas que nunca ofende sua inteligência, e incríveis trilhas sonoras. Sing Street é o seu projeto mais ambicioso, exigindo mais da produção e do roteiro. O filme se passa na Dublin dos anos 80 e mostra a formação de uma banda de garotos, em meio a crises familiares, desemprego, repressão de padres, bullying e as alegrias e dores do amor. É um filme que aquece o coração.
Sob a Sombra
3.4 338 Assista AgoraFilme de terror pouco falado em 2016, mas que chegou a entrar em algumas listas de melhores do ano. É uma produção da Grã-Bretanha, Irã e Qatar. É a estreia do diretor e roteirista iraniano Babak Anvari. E o cara destrói. O filme se passa no Irã dos anos 80, durante a guerra Irã-Iraque. Uma mulher iraniana passa por uma série de problemas. Sofre com os bombardeios que atingem a capital Teerã, tem de cuidar da filha pequena inquieta, tem um marido que acha conveniente sua condição de dona de casa e o regime do aiatolá Khomeini a impede de continuar os estudos de medicina, por causa do seu passado político. O filme demora um pouco para engrenar. Mas, quando começa de fato, apresenta um terror sutil, que aumenta de intensidade, ficando cada vez mais creepy. O interessante é que a história do Irã e a cultura árabe são usados para realizar um filme de terror que também fala sobre os absurdos da guerra e angústias sociais quando não se tem liberdade. Eu estava ansioso para ver esse filme e não fui decepcionado.
Spectral
3.2 247 Assista AgoraBom filme. Bem produzido. O que importa aqui é a ação. Melhor que muitas grandes produções cheias de astros de Hollywood.
Boi Neon
3.6 461O diretor pernambucano Gabriel Mascaro reinventou o imaginário do Nordeste ao mostrar a realidade contemporânea da região, onde progresso, miséria, tradição e cultura pop andam lado a lado. Na superfície, acompanhamos o cotidiano das vaquejadas, onde a virilidade de homens e animais é tão presente. Mas o interesse aqui é mostrar outro olhar sobre esse universo, considerado brutal por muitos. O filme não tem propriamente uma trama. É um estudo de personagens. E eles são tão ricos, tão bem representados, que nos ganham a cada cena. A entrega do elenco é total, dos atores profissionais e dos não-atores. Vemos um questionamento constante de papéis e de dinâmicas sociais, do que é ser masculino e feminino. Iremar, um vaqueiro, almeja ser estilista de moda. Enquanto Galega dirige um caminhão e cria a filha sozinha. Mas há muito mais. Cada personagem tem seu encanto e sua subversão. A transição entre comédia e drama não é forçada. Os diálogos divertidos, tensos, ou delicados nunca tiram o espectador desse mundo. A montagem é paciente, mas vigorosa, com o uso frequente de longas tomadas. A direção de arte é enganosamente simples, recriando o ambiente rural, em locações reais. A fotografia estiliza o sertão sem parecer artificial, falso, com planos abertos durante o dia e o uso de cores fortes à noite. A trilha sonora, com sucessos nacionais, canções estrangeiras e música original, amplia o impacto das imagens. Boi Neon fala sobre sonhos, mas nunca de maneira romântica.
A Bruxa
3.6 3,4K Assista AgoraFilmes de terror marcantes não são aqueles que dão os maiores sustos, mas os que mexem com nossos mais profundos medos. Em A Bruxa, vemos o que acontece quando a sociedade patriarcal não funciona como o esperado. Numa produção de baixo orçamento, mas visualmente sofisticada, o diretor e roteirista estreante Robert Eggers perturba o espectador com um olhar perspicaz, analisando como o fracasso e a frustração podem colocar em teste até as certezas mais inabaláveis. O filme faz um embate constate entre norma, caos, sanidade e delírio. E isso afeta nossa própria percepção do que estamos vendo. As imagens sobrenaturais são "reais", ou são projeções dos personagens, uma forma do diretor tornar mais evidentes os medos de cada um deles? A produção cria uma cenário verossímil e claustrofóbico. Acreditamos nas dúvidas dos personagens porque as atuações são incríveis, principalmente, dos quatro filhos. Até os animais estão maravilhosos! Tem um coelho que é muito assustador. Alguns podem considerar o filme lento e chato. Mas, na verdade, ele tem paciência em construir uma atmosfera de paranoia ao extremo. Já disseram que A Bruxa é uma anti-fábula, que o intuito do filme não é pregar uma moral, mas subvertê-la.
Elle
3.8 886Este filme francês é o melhor da carreira de Paul Verhoeven, superando até mesmo Robocop, uma violenta sátira ao american way of life e ao capitalismo, mas com um final conservador. Em Elle, Verhoeven está livre para desafiar o espectador até o último segundo. E assim como George Miller, diretor de Mad Max: Estrada da Fúria, o cineasta holandês prova que, aos 78 anos, está em evolução como artista.
Originalmente, Elle era para ser produzido nos EUA e protagonizado por uma estrela de Hollywood. Mas nenhum estúdio e nenhuma atriz se interessaram pelo projeto, considerado polêmico demais. Verhoeven ganhou fama de provocador com filmes, muitas vezes, classificados como apelativos. Mas, em Elle, a provocação é mais complexa. Aqui a rejeição pelo projeto tem mais a ver com o incômodo das verdades expostas, a profunda análise da condição humana.
Verhoeven levou o projeto para a França, terra do autor do romance que deu origem ao filme. O roteiro do americano David Birke foi vertido para o francês. E o cineasta holandês encontrou em Isabelle Huppert sua protagonista perfeita. Huppert é a força motriz dessa mistura de thriller, sátira social e drama familiar. Michèle Leblanc é uma mulher de 50 anos, empresária de sucesso, cercada por homens que questionam sua posição de poder, mãe, avó e alguém que não tem pudores em satisfazer sua libido. O personagem de Huppert é pragmática, irônica, decidida e imperfeita. Além disso, possui um passado sombrio. O interessante é que Verhoeven, em nenhum momento, pretende julgar Michèle. Ela é um mecanismo do diretor para abalar nossas certezas.
A segurança da direção é absurda. Verhoeven varia entre o intenso e o discreto com muita habilidade. A mise-en-scène cria uma atmosfera hitchcockiana, levando para outro nível o que já tinha sido feito em filmes como Instinto Selvagem e O Homem das Sombras. Elle é muito francês em seu conteúdo, mas com formato de suspense americano, na verdade, uma subversão do gênero. Amado ou odiado, considerado feminista ou misógino, Elle é um deleite visual e um veículo de discussão poderoso.
Rogue One: Uma História Star Wars
4.2 1,7K Assista AgoraRogue One é um filme que está dividindo opiniões. Para alguns, já é o melhor da franquia. Para outros, uma decepção. Nem tanto nem tão pouco. O Império Contra-Ataca ainda reina como o ápice de Star Wars. Ainda é o episódio que melhor soube explorar o universo da saga, com a evolução dos personagens e uma trama dinâmica e complexa.
Rogue One traz aspectos inéditos para Star Wars, como a ambiguidade moral dos heróis e os conflitos internos na Aliança Rebelde. Neste quesito, Rogue One se torna um filme de guerra muito bem executado. As cenas de ação e de batalha são o que vale o ingresso. Visualmente é, sim, o melhor filme de Star Wars. Mas O Despertar da Força foi mais bem sucedido em resgatar a magia da saga criada por George Lucas.
O grande problema de Rogue One são os personagens. Mesmo os mais interessantes não convencem. As motivações são vagas, inconsistentes. Rogue One teve uma produção problemática com mudança de roteirista, de compositor da trilha sonora e refilmagens. Isso fica evidente no corte final. Em certos momentos, a montagem é confusa e apressada. Há soluções de roteiro que não fazem o menor sentido. Personagens clássicos da franquia aparecem. Infelizmente, deram mais importância a um determinado personagem, totalmente criado em CGI, do que a outro, tão crucial para a saga.
Rogue One é um filme que vai ser mais apreciado por fãs de Star Wars. O público médio de cinema pode não curtir tanto por não entregar o mesmo nível de diversão de outras franquias, como Transformers e Marvel. Rogue One é, ao mesmo tempo, um filme corajoso e uma lição para a Disney de como não se deve tocar uma produção.
Sherlock: A Abominável Noiva
4.4 190 Assista AgoraÉ uma delícia ver Cumberbatch e Freeman numa adaptação de época de Sherlock. O roteiro de Mark Gattis, que também interpreta Mycroft, conteve as pirotecnias narrativas de Steven Mofatt. A ciranda de reviravoltas está lá, porém é mais eficiente, orgânica e com propósito, sem deus ex machina. Há soluções para a trama bastante criativas, algumas realmente impressionantes. O clima de terror funciona. Outro elemento intrigante é a brincadeira metalinguística com o próprio ato de pensar, de escrever ficção, com acontecimentos dos episódios anteriores e com a vida e obra de Conan Doyle. Há problemas (principalmente, uma visão equivocada do feminismo). Mas, no fim, deixou o gostinho de que a série pode voltar a ser divertida.
O Lugar Prometido em Nossa Juventude
3.5 46Uma das mais belas animações que já vi. É um filme lento, mas os personagens são tão cativantes e as imagens tão deslumbrantes que chegamos até o final sem muitos problemas. Não é por caso que chamam Shinkai de "o novo Miyazaki".
Akira
4.3 868 Assista AgoraAnimação revolucionária e que ainda continua influenciando gente na moda, ciência, literatura, indústria em geral e, claro, no cinema. O roteiro é fraquinho, a ideologia é conservadora (militares mostrados como os mais sensatos, cientistas como loucos, sexismo), mas a qualidade da animação, montagem, fotografia, efeitos sonoros e trilha sonora são incríveis. O filme envelheceu muito bem.
O Jardim das Palavras
4.0 363O diretor e roteirista Makoto Shinkai vem chamando atenção nos últimos com suas animações com personagens bem desenvolvidos e cenários realistas. Ele está sendo chamado de "o novo Miyazaki" por sua importância para a animação japonesa. Seu filme mais recente, Your Name, foi um grande sucesso no Japão e a crítica americana está bastante entusiasmada. The Garden of Words é uma ode à solidão. É uma animação belíssima, triste, sem respostas fáceis. Mas que, no final, deixa na gente uma sensação boa de aprendizado.
Tio Boonmee, Que Pode Recordar Suas Vidas Passadas
3.6 196Belíssimo e estranhíssimo. É um filme leeeento, mas cheio de imagens poderosas. É uma narrativa fragmentada, não-linear e que usa a montagem de forma bastante criativa. A fantasia aqui é perturbadora porque tem uma pegada adulta, servindo de metáfora para falar sobre morte, perda, arrependimento, sexualidade, família, tradição, quebra de convenções, valor da vida. Um vigoroso poema visual.
A Chegada
4.2 3,4K Assista AgoraA Chegada é um corpo estranho no cinema atual. Um filme com ambição kubrickiana, mas consciente de que também precisa vender pipoca e refrigerante. É uma produção que pode estar de olho no Oscar. Porém, diferente de outros candidatos recentes no gênero da ficção científica (Gravidade, Perdido em Marte), A Chegada se arrisca mais.
Minha expectativa para o filme, de certa maneira, estava comprometida. Eu já tinha lido a novela Story of your life, de Ted Chiang, na qual A Chegada se baseou (recentemente a editora Intrínseca publicou uma coletânea do autor). A grande revelação do filme não foi nenhuma surpresa para mim. Minha curiosidade estava em saber como fariam a adaptação da história de Chiang, por causa de sua estrutura peculiar. E também como tratariam as ideias e discussões científicas.
Posso dizer que A Chegada é uma bela adaptação, fiel na medida do possível. E mesmo quem já leu a novela vai se surpreender com algumas novidades.
Ted Chiang é um dos autores mais cultuados da ficção científica, nos últimos trinta anos.
Ele não é um escritor prolífico. Sua obra é focada em contos e novelas. São narrativas muito engenhosas, uma interessante mescla de ficção sedutora e poderosa especulação científica. Por isso, cada história dele ganha um ar de genialidade. Por muitos anos, tentaram adaptar Story of your life para o cinema.
O diretor canadense Denis Villeneuve é um nome ascendente em Hollywood. Conhecido pela extrema segurança ao filmar, pela beleza de suas produções e por provocar o espectador com situações desconfortáveis, questionamentos morais. Alguns o chamam de brilhante, um novo mestre do cinema. Outros de farsa, com domínio técnico demais e ideias de menos.
Em A Chegada, ele provoca o espectador a repensar conceitos, no que talvez seja seu filme mais caloroso. Porque o que vemos aqui é uma melancólica peça de reflexão sobre comunicação e convívio. Na verdade, é um filme otimista. Emocionante, sem ser piegas.
Em relação ao conteúdo científico, as ideias de FC hard da novela foram simplificadas, tornadas mais visuais (afinal estamos falando de cinema). O infodump é mais enxuto e verossímil do que em Interestelar, por exemplo. Não vemos explicações básicas de astrofísica entre cientistas de alto nível. E sim explicações de conceitos um pouco mais complexos entre cientistas de áreas bem diferentes. Aliás, as soluções visuais e sonoras para representar o universo dos heptapods, dos alienígenas, são criativas, de grande impacto, meio lovecraftianas. A trilha sonora deixa tudo ora mais tenso e misterioso, ora mais melancólico e tocante.
A única atuação que realmente se destaca é a de Amy Adams. Ela domina o filme. É um papel exigente, sutil, cheio de nuances e variações emocionais. Não há gritaria nem caras e bocas. Ela foi mais do que convincente.
Um tema central da novela de Chiang é a discussão entre escolha e determinismo. E isso também é um elemento importante em A Chegada. Novela e filme são bons pontos de partida para reflexões sobre as possibilidades de conhecimento, aceitação e mudança de nossas próprias vidas e de uma melhor compreensão do Universo.
A Chegada é bem-sucedido em traduzir, num fenomenal trabalho de montagem, a estrutura menos convencional de Story of your life. Contudo, em certos momentos, o filme peca por fazer concessões um tanto baratas. Não para tornar a história mais acessível. E sim por preguiça mesmo do roteirista. Há algumas explosões e tiros desnecessários. E todo o ritmo acertado, paciente, na interação com os alienígenas se perde numa resolução acelerada, com a grande revelação da trama sendo simplesmente jogada ao espectador.
Alguns podem dizer que o filme é pretensioso. Muita pompa para ideias que não se sustentam. Discordo. A Chegada é um entretenimento visualmente arrojado com substância. Estimula o debate de temas relevantes com honestidade. Já entrou para a lista dos melhores filmes de FC de todos os tempos.
Os Inocentes
4.1 396Excelente adaptação da novela gótica A Volta do Parafuso, de Henry James. O filme captou de maneira soberba a ambiguidade da narrativa do livro. Mérito do roteiro afiado. Debora Kerr está muito bem, numa interpretação adequadamente afetada. E as crianças são incríveis em mostrar ora inocência, ora perversidade. A montagem e a fotografia captaram toda a beleza e o horror da única locação. Os efeitos especiais e sonoros são sutis, pode-se dizer, modestos, mas de grande impacto. Uma produção pequena com coragem para tornar-se algo maior. Um clássico do terror psicológico.
Sob a Pele
3.2 1,4K Assista AgoraVisual e sonoramente, Sob a Pele é incrível. As soluções da produção para sugerir o clima de ficção científica são sutis e muito poderosas. E a mistura de sensualidade e terror é algo assustador de fato. Talvez esta seja a melhor atuação de Scarlett Johansson. A primeira metade é tensa, cruel e provocativa (no sentido de questionar convenções). Mas, na segunda metade, a coisa fica arrastada, perde força e o filme termina de maneira bem convencional.
Trabalhar Cansa
3.6 209Trabalhar Cansa é um filme nacional que faz uma mistura muito interessante de crítica social com terror. O maior problema do filme é não dar, logo nos primeiros minutos, uma pista mais impactante do abalo psicológico que virá depois. Então a trama meio que se arrasta na primeira metade. Mesmo assim, assistimos à afiada crônica de uma família de classe média em crise pela falta de emprego e pela aventura de abrir o próprio negócio. Vemos também a mentalidade tacanha e preconceituosa que não pensa duas vezes ao expressar o sentimento de superioridade a funcionários do mercadinho que inauguram e à empregada da casa; personagem discreta, mas que não é passiva diante desse cenário de exploração. Na segunda metade, o ritmo do filme melhora bastante e o terror chega de vez. É um terror de atmosfera. Mostra pouco, insinua muito, não explica quase nada. O absurdo abalando as estruturas da mediocridade do cotidiano.
O Homem Duplicado
3.7 1,8K Assista AgoraO filme promete muito e entrega pouco. Leva 3 estrelas pela atuação de Jake Gynllenhaal e porque é muito bem filmado.
Triângulo do Medo
3.5 1,3K Assista AgoraO filme começa interessante, vai caminhando bem, mas acaba se tornando cansativo. Agora o que me irritou mesmo foi o final, forçado e desonesto.
Hush: A Morte Ouve
3.5 1,5KNão é um filme de terror, e sim um bom suspense. Curto e contido, a trama se passa em uma locação com poucos personagens. A protagonista é deficiente auditiva e escritora de thrillers. A grande sacada do roteiro é utilizar estes dois elementos para desenvolver a história sem forçar a barra, num jogo de metalinguagem interessante. Não há nada de novo, mas, no final, você se sente aliviado porque não te enganaram, não ofenderam sua inteligência.
Star Trek: Sem Fronteiras
3.8 566 Assista AgoraEu sou fã de Star Trek. Não vi todas as séries nem todos os filmes. Mas vi bastante coisa, principalmente, ligada à tripulação original e a da Nova Geração. E continuo querendo ver mais, saber mais. Por isso, digo que o chamado Abramsverse não é Star Trek. E esse terceiro filme deixa isso bem claro.
Visualmente, Sem Fronteiras é belíssimo. Neste aspecto, é como O Despertar da Força. Um conceito do passado com um nível de produção nunca visto antes. A grande diferença é que O Despertar é Star Wars, uma fantasia espacial, misturando filmes de samurais, de guerra e faroeste. Mas Sem Fronteiras não é Star Trek, pois a aventura ao desconhecido, a exploração dos limites da ética e da ciência, são esmagadas pela correria e pelas explosões. E, acima de tudo, pela nada convincente interação entre os personagens.
Gasta-se mais tempo com a ação frenética e um humor cheio de piadas e gags visuais batidas do que em estabelecer conexões sólidas entre a tripulação. Há tentativas, mas elas fracassam. Não são melhor desenvolvidas, ficam pelo caminho. Por exemplo, a relação entre Kirk e Spock, a razão de ser desse universo. Existe tanta coisa acontecendo que os dois mal se falam. Por outro lado, Spock e McCoy ficam juntos quase o filme inteiro, mas o que ganhamos é um Spock depressivo e um McCoy gaiato. Onde está a ironia impassível do vulcano? E a rabugice do doutor?
O filme em si, como entretenimento, não se sustenta. Empolga nos trinta minutos iniciais, com personagens cheios de dúvidas, de dilemas e uma incrível sequência de ação. No segundo ato, ficamos entediados com cenas mal construídas e diálogos ruins. O melhor é reservado para o núcleo do capitão Kirk, deixando migalhas para membros da tripulação, como Uhura e Sulu. E o clímax é grandioso, mas sem emoção. E isso se deve muito à falta de importância do antagonista. A motivação dele é preguiçosa. Um total desperdício do talento de Idris Elba.
Assim como parei de assistir aos filmes de X-Men depois de Dias de um Futuro Esquecido, também vou fazer o mesmo em relação à Star Trek. Esse Abramsverse para mim já deu. Agora o jeito é apostar as fichas na série de TV Star Trek: Discovery. Tomara que não seja um blefe.
A Lenda de Tarzan
3.1 793 Assista Agoraum filme que não devia existir. reforça uma ideia racista do passado, de que povos africanos precisam ser salvos por um herói branco que é melhor do que qualquer guerreiro local. o roteiro é um lixo. em relação ao visual, pouca coisa se salva.
O Enigma de Outro Mundo
4.0 981 Assista AgoraAcabo de rever, depois de muitos anos, e continua ótimo. A qualidade dos efeitos especiais práticos ainda impressiona. Filme bastante lovecraftiano. A tensão é quase insuportável. E o final, matador.