É muito clichê reciclável de comédia romântica, com uma pitada de narrativa pós-millennial (inserção de narração/capítulos/filosofias de vida).
Os pontos fortes poderiam ser bem mais aproveitados, como o carisma tímido da protagonista,e a amizade que ela constrói com o Deacon. A fidelidade à narrativa da personagem Ellie, e seu final coeso, conseguem dar um tom de dignidade ao tipo de "mensagem atualizada" que o filme busca, apesar de tudo.
Bergman é um dos meus diretores favoritos, então, sempre vai ser difícil para mim separar a ótica de admiração. Mas sempre suspiro aliviado quando meu lado racional e analítico concorda em enaltecer aquilo que meus sentimentos enxergaram primeiro.
"Monika e o desejo" não foge de fórmulas características de diretores que apelam a sentimentos românticos porém, fugazes da juventude. Mas claro que os ingredientes rotineiros, nas mãos de alguém como Bergman, produzem um resultado final de sabor inexistente e exótico.
A musa inspiradora, Monika, interpretada por uma explosão de sensualidade fronteiriça à ingenuidade de Harriet Anderson, segue como força motriz e dinâmica de uma releitura bíblica. A Eva que converte e incita o jovem Adão - Harry vivido por Lars Ekborg - a vivenciar na pele o amor romântico, em sua total intensidade. Por todo o trajeto Monika é a força traxsformadora inalcansável.
É muito interessante, também, perceber os aspectos sociais de uma Europa pós-guerra,e em ritmo de estabilidade. Os ideias conservadores, de família e trabalho, são confrontados pelos protagonistas. Porém, o ponta-pé inicial é uma provocação do diretor - juntos, o casal assiste o filme Hollywoodiano, que faz parte do mainstream capitalista, mas que exalta valores do amor impossível, as vezes subversivo e que supera tudoe a todos.
Neste contexto, eles são insensíveis a constatação de que ao seguir os "ventos do verão" e de escaparem das obrigações e deveres urbanos, para viverem o seu amor, também estão seguindo valores pré-idealizados, levemente mascarados de contravenção.
E ao perceberem a necessidade do retorno de sua fuga, idealizam o mais clichê burguês, o do casal feliz, do homem provedor, e do seu primeiro filho homem.
Quero destacar dois pontos destaques do filme. A atuação de Harriet, que na época estava com um relacionamento com o diretor, o que muitos atribuem sua imensa naturalidade e força diante das câmres, e vice-versa daquele que a dirigia.
Outro ponto é a própria direção. Um dos melhores trabalhos de fotografia que já vi em preto e branco. Bergman consegue triblar o que na época era comum e que para um espectador atual poderia ser uma falta, e destacar paisagens exuberantes, com o uso inteligente de contraste, que segue a linha narrativa que apresenta os momentos do sonho, e da volta à realidade (soturna, sombria, urbana).
Por mais que Bergman aposte na construção de uma musa, e de um protagonista masculino sem grande força e manipulável, a própria narrativa de gênero também é desafiada. Bergman não nos quer colocar contra Monika, na verdade ele quer que julguemos bem e mal ambos os protagonistas.
Na própria cena, incônica, em que Monika ao ser mostrada como adúltera, olha para a câmera, com a mesma ingenuidade, intensidade, e um tom leve e desafiador, onde o prórpio espctador se pergunta, desconfortável, "de que forma julgá-la?". Nesse momento bergman, mais uma vez, apela a traços do que seriam suas raízes na liturgia sagrada
Fico feliz em ser surpreendido mais uma vez por Bergman, em uma trama que tinha tudo para refrear meus ânimos. Ao final, Monika é a força inquietante que segue, Harry se dobra e retrai-se. Qual deles somos nós? Na verdade, em quais momentos já fomos Monika ou Harry?
O filme é uma reciclagem barata de tantos outros filmes apaziguadores raciais que o precedeu. Porém, cumpre bem a função de filme "que não machuca ninguém", filme "sessão da tarde".
O roteiro aposta em um joguinho de arquétipos pouco efetivo, mas bem palatável. O negro que sofre racismo mas desconhece suas origens; o branco, de família de imigrantes e pobre, mas que é fruto do pensamento de superioridade racial. Todas as referências sobre a forma como os negros eram tratados naquela terrível época da História do US é extremamente previsível - os momentos de agressão, seja verbal, seja física, os momentos de discussão. O diretor parece não querer trazer nenhum tipo de ponto de vista diferente, seja visual, de narrativa... parece um filme comprado e diluído como uma sopa instantânea.
O personagem de Mortensen é carismático, mas não extravasa muito do ogro valentão que consegue sua redenção através da mudança de caráter. Enquanto Ali, coitado, parece sufocado em um personagem superficial, brilhando apenas no único momento de confronto ativo de seu personagem, e quando o roteiro parece sair de sua zona de letargia verborrágica. Que ele continue com o seu Oscar pela brilhante performance em "Moonlight" e só. E se eu for falar aqui de como 98% de todos os gatilhos das problemáticas que surgem na narrativa tem como grande movimentador o branco e sua redenção... aí se vão mais parágrafos.
Green Book para mim é o mais fraco dos indicados a melhor filme, e não apresenta primor nenhum para ser o melhor roteiro, no Oscar. Mas, segue como um dos favoritos em ambas as categorias. É mais do mesmo, e se vale de ingredientes envelhecidos, mas que emociona e convence pelo conforto emocional.
Passei por um triz de dar duas estrelas e meia para o filme, mas depois de muito digestão, consigo acrescentar "um meio" merecedor para o final ascendente, onde finalmente o roteiro e montagem, que acho bastante falhos, conseguem fazer jus a grande dupla de atuantes nos papéis principais.
O enredo do filme caminha com um início trivial, mas, apesar da demora, atinge e consegue delimitar em uma trama com bastante densidade. Infelizmente, boa parte do filme se deixa se levar por um roteiro simplório, sem conseguir produzir e moldar simbologias próprias e que destaquem o incômodo silencioso de um passado e presente que virão à tona. É uma armadilha para muitos clichês e poucas expressões de sutilidade.
Para nossa sorte, temos uma Gleen Close afiadíssima, que consegue desde o início compreender e diluir as angústias do seu personagem, seguindo a narrativa, e apresentando, a primeira vista, um arquétipo exaustivamente utilizado, mas que se desembrulha em camadas de diferentes nuances. Paciente, assim como sua personagem "Joan", ela prossegue, e ao encontrar o ambiente e ferramentes à sua altura, nos entrega uma performance impecável.
Pontos positivos para o início da terceira parte do filme, onde, finalmente, roteiro, montagem e direção entram em harmonia para saudar uma deusa. Parece que depois de tanta embromação, a equipe se pegou pensando: "Nossa, temos Gleen Close no papel, vamos elevar o nível, dar ao Olimpo o que é digno do Olimpo". Amém!
Devo pontuar a ótima atuação de Jonathan Pryce, digna de premiações, e negativamente de Max Irons, sem ajuda do roteiro nem do talento.
Espero que um Oscar esteja vindo por aí para Gleen Close, mais que merecedor para esta Rainha do teatro e cinema americano!
Um filme que dá gosto de dar nota máxima. E uma sensação que fica ao final: MORTE AO PÊNIS! haha
Brincadeiras à parte, para quem está ligado ao mundo do cinema, mesmo que não muito enraizado, ir assistir Roma é um movimento preenchido de enormes expectativas. O que torna a experiência uma armadilha, ou redenção.
Fico feliz que fui capturado pelo segundo sentimento. Cuarón entrega um filme nostálgico, de técnica impecável e acolhedora. Somos transportados a tons e notas de cheiros e barulhos caseiros, de uma cultura distante, porém, tão próxima. Cleo é um personagem de uma fortaleza passional muitas vezes questionável, mas jamais sua resiliência. De tal forma, fluímos, passivos, à imensidão oceânica de uma Cleo profunda e de aparência simplória. Nos inquietamos com a aparente calmaria sem bordas, sem fim. Somos engolfados, numa aflição ardente, salina, quando enfim, a tormenta chega.
As comparações com "Que horas ela volta?" são inevitáveis, principalmente para um público latino como o nosso, que detém obra de tanta qualidade e que também nos retrata. As tramas seguem fluxos e se propõe a confrontar pontos diferentes, sob o pano amordaçador das divisões de classe. Porém, dividem o peso da sutileza afiada e sufocante do cotidiano, agraciada com os ecos da normalidade.
Um terceiro ato sutilmente implacável, Roma consegue se entregar a uma intimidade despretensiosa, mas com auto-conhecimento de sua força. Um presente de Cuarón para todas as "Libo", e para todos nós que nos abrimos a esta experiência.
Infelizmente Lars Von Trier cai na armadilha que muitos autores/diretores acabam derrapando com o tempo (Olá Woody Allen) de realizar obras masturbatórias da própria trajetória. Nesse filme ele atinge o ápice, ao não só reciclar vários conceitos já utilizados na sua carreira, como também se colocar numa metáfora "auto-biográfica" sem grandes momentos. O roteiro é infértil e seco, e chega a momentos de orgasmos "intelectóides" desnecessários. Diversas cenas miram em um modo "Tarantinesco" mas, acertam em uma versão de "Jogos Mortais" sem apelo.
O grand-finale é uma tentativa frustada de atingir um nível metafórico-mitológico, que quase não dialoga com o resto do filme, e a quase nível de "Mother", quer escancarar aos espectadores de que sim, tudo o que nós vimos até então é uma sombra representativa da caverna de Platão contemplativa de LVT.
Sou mais um dos que vieram parar nesse filme por conta de ser uma obra que serviu de inspiração a "La La Land". Tenho meus problemas com musicais quase que inteiramente cantados, e por isto, que a minha nota não foi pelo menos meia estrela maior. Mea-culpa. Porém, como já foi dito abaixo, a partir de 30 minutos de filme a pessoa já se acostuma e não imagina mais outra forma do enredo ser contado. A palavra central do filme é "encatamento", você se pega encantado pela estória quando menos percebe. O mais interessante é ele ser um musical com uma dinâmica de cenas "não-musicadas" - se é que posso utilizar essa expressão nada elegante. A narrativa é uma extensiva canção, não existem cenas musicalmente apartadas, grandes coreografias, e em quase todo tempo o elenco atua como se estivesse encenando diálogos normais, sem nenhum tipo de interferência de trejeitos musicais. Falando em elenco, todos estão muito bem, a doçura e beleza de Deneuve é um charme a parte, e claro, o design de produção do filme é a cereja do bolo, mais uma ferramenta de diálogo e "encanto" para o deleite do público.
Documentário bastante necessário nos tempos em que estamos passando. Principalmente por mostrar o lado de um grupo de militares que foram tirados de suas famílias, sofreram grandes traumas e depois foram descartados. Deveria ser exibido junto com outros materiais de mídias todos os anos em colégios de escola pública e privada para que nossos jovens não caiam na tentação do discurso conservador autoritário.
A ditadura militar no Brasil, infelizmente, é mais um evento histórico que não foi passado a limpo pelo nosso povo. Diferente dos alemães que durante anos encaram as amargas consequencias de um período obscuro de sua História, a passionalidade furiosa do brasileiro nos faz flertar novamente com esse tema.
Enquanto isso foi deixado o legado de horror e ódio, vidas destruídas de ambos os lados, e um silencio envergonhante que necessita ser libertadoramente expurgado.
O cinema nacional desabrochou nos últimos anos em torno da construção de personagens femininas fortes e de maduras críticas sociais de um país que tenta se enxergar.
Ao lado de personagens femininas marcantes dos últimos anos no cinema, como a querida Val de "Que horas ela volta?", a determinada Clara de "Aquarius", ou mesmo a memória da brilhante psiquiatra alagoana Nise da Silveir, em "Nise, o coração da loucura", dentre outras, somos apresentados a Rosa, uma mulher de classe média, aparentemente sem nenhum grande problema ou desafio a ser superado.
O filme não expõe conflitos verticais sobre o sistema de hierarquias sociais ou de poder . Mas, seu trunfo está justamente ao oferecer a faceta de relações horizontais dentro de uma perspectiva aparentemente insossa de uma classe média desinteressante. Mas, devemos lembrar que a grande parte de nós esta envolvida nesses tipos de conflitos e vazios existenciais. A maior parte de nossas vidas são resumidas a discussões na cozinha ou por aplicativos de mensagem. Os grandes males do mundo estão mais presentes nos nossos discursos entre uma chamada do jornal e outra, e nas filosofias de barzinho do que nas nossas atitudes diárias.
Essa pode ser a dificuldade maior do filme, em dialogar com um publico sedento pela jornada de herói ou heroína por grandes causas. Rosa mesmo, é confrontada com isso diariamente, quando seu marido, aclamado pelo seu trabalho de preservação ambiental é considerado um salvador do futuro do planeta, e ela, não parece brilhar em seu emprego enrijecido, nos seus sonhos esquecidos, e nas reclamações da necessidade da ajuda em afazeres tão "simplórios" como cuidar das filhas e da casa.
Porém Rosa é tão super-mulher quanto as outras que nomeei no início deste texto. Rosa pode ser uma irmã nossa, uma tia, nossa mãe. Sua jornada é um reflexo da mulher pós-moderna. Direitos conquistados, porém, ainda cercada de tantas cobranças restritas ao seu gênero. Seu marido pode seguir sonhos, viajar e salvar o mundo, enquanto ela permanece sentir abrir mão de tantos desejos por ser a mãe. Além disso tudo sua jornada de auto-conhecimento, com certeza um dos maiores desafios de qualquer ser humano seja qual for o gênero, parece ser sempre ofuscada e menosprezada pelos feitos do marido e pela frieza e insensibilidade da própria mãe. Falando nisso, com certeza a relação entre as duas - Rosa e sua mãe - é a construção mais complexa e bem desenvolvida do filme, sendo abrilhantada pelas performances de Maria Ribeiro como Rosa e Clarisse Abujamra.
Confesso que cheguei com muito preconceito com relação ao filme, mas a alternância entre as sutilezas e problemas do cotidiano que ele me presenteou me conquistaram. Uma boa surpresa e que o cinema nacional continue assim, diversificado, apresentando diversos pontos de vista, diversas cores, gêneros, sexualidades, problemas.
Ainda fico de cara com a ousadia da Marilyn de usar os vestidos ousados pra época. Felizmente ícone. Atuação divertidíssima da dupla de atores, destaque pra Jack Lemmon impagável enquanto Daphne. Com um roteiro inteligente, o humor do filme brinca de forma suave com algumas questões de gênero enrijecidas da época. Marilyn é um avento. A exuberância e atrevimento em pessoa, é de se imaginar o choque na época com alguém que concentrava tanta sensualidade e poderia manipulá-la e destacá-la da forma que quisesse. Talvez sendo um dos precursores dos enredos envolvendo trocas de gênero ("As branquelas", já hoje considerado um clássico humor trash "se afoga" dessa fonte), "quanto mais quente melhor" é um filme construído para aproveitar o melhor dos novos tempos que chegavam.
O Ponto mais interessante do documentário, como bastante citado, é expor o senso comum dos religiosos fundamentalistas vazios de argumentos e recheados de uma fé cega e ignorante.
Porém, para um doc que se intitula "Questionando Darwin" minhas expectativas era assistir um debate mais científico do que superficial como foi.
Algo alarmante que podemos confirmar ao assisti-lo é o número gigantesco de pessoas que não compreendem ciência, preferindo acreditar cegamente na interpretação de um livro e de seus líderes do que procurarem formar suas próprias opiniões.
O grande desafio da ciência no século 21 com certeza será a sua melhor compreensão diante de uma massa cada vez maior de desesperados e deseducados.
Com abertura suntuosa e bastante estética, tanto imageticamente quanto sonoramente, o que se aguarda é um filme que desenvolva uma narrativa complexa e bem montada. Pena que o que realmente estar por vir são 115 minutos arrastados de decepção. Literalmente "muito barulho por nada".
Dois adjetivos afundam as expectativas: Pretensiosidade e Sutileza. O que não falta do primeiro é quase esquecido do segundo. O roteiro e a direção não conseguem dialogar. Há um esforço da direção, em seus enquadramentos e ritmo e trilha, em tentar confluir junto dos traços da personagem de Amy Adams, porém, as tentativas acabam por engolir a técnica, ao querer estender uma personalidade fria e vazia, o filme se torna frio e vazio de uma unidimensionalidade frustrante.
O roteiro por si, segue o efeito de desencontro do filme. Os arquétipos dos personagens não sem do plano básico, nenhum personagem consegue romper a barreira do inócuo. seja a mãe branca republicana; o casamento superficial e marido ausente; o ex-marido de personalidade passional; e claro, a vazia e arrependida mulher. Junto da direção, o que se vê é uma narrativa "on your face"; mesmo a tentativa de ligação entre a história do ex-casal e o roteiro do ex-marido não é instigante. Você até tenta achar grandes metáforas, analogias ou sentimentos mais tridimensionais. O que te impressiona é no final saber "sim, é só isso".
As 3 estrelas são pelo elenco. Todas as atuações estão "on point". Parece que todos os atores fizeram o máximo possível, tento sido abandonados pelos aspectos de roteiro e direção acima citados. Amy Adams não está em seu melhor papel mas faz o que pode (sendo bastante sabotada por cortes de cenas de "suspiros e tensão", e as vezes uma franja que quase cria vida), e destaque para Michael Shannon, que apesar de como os outros, poderia ter um personagem mais interessante, acabou garantindo uma indicação de ator coadjuvante no Oscar.
O filme nos permite sonhar junto, uma verdadeira imersão a um mundo onde a matéria é subjetiva e os pensamentos tentam se objetificar. Sua principal ferramente é o autoconhecimento. Só se vale a pena viver enquanto humanos se nós desafiarmos a dádiva e ao mesmo tempo o pecado de conhecer a si mesmo. Sem o conhecimento de si a vida se torna robótica, apática e apenas comportamental. O maior mistério do mundo está dentro de nós mesmos, e os sonhos parecem ser o retorno à matriz, um mergulho no caos e na criação. Sonhar acordado é ser fruto de si mesmo, criador e criatura, é ser ação e sujeito. Será as representações de nós mesmos mais prazerosas com suas infinitas possibilidades? - Platão responderia o inverso. Mais do que questionar as realidades devemos seguir as maiores possibilidades.
O filme permite que o espectador flua entre Tom e Summer, se identificando por vezes com um ou outro, além de novas análises dos próprios relacionamentos. Seu tema é cosmopolita e expõe as raízes apodrecidas de um padrão de relacionamento secular que nos faz acreditar em termos embriagantes: "almas gêmeas", "felizes para sempre", "amor a primeira vista".
Summer pode incomodar por ser a figura contestadora dessa sistema. Apesar de que, no fim das contas, seu radicalismo com as relações humanas acaba cedendo espaço para o que seria considerado convencionalidade.
Nos relacionamentos nos envolvemos em grandes e pequenas questões em que não há certo ou errado, apenas visões diferentes de agir no mundo. A guerra de egos e orgulho apenas atrapalha. O que podemos aprender nisso tudo é tentar sempre saber a hora certa de usar a razão, e que emoção é bicho indomado, não pode permanecer no controle ininterruptamente.
Ps: Não adianta querer mandar a conta das decepções para o outro. Tu te tornas eternamente responsável por tuas próprias expectativas.
Como um entusiasta das histórias e dos personagens do universo DC (Batman principalmente) muito mais que os da Marvel, e após o conflito pessoal de amor e ódio por BvS, esperei com entusiamo o filme do Esquadrão Suicida. Por ser uma jogada não tradicional dentro do universo Warner/DC e por ser uma chance de expansão, com tom diferente, desse mesmo universo. Infelizmente, Esquadrão Suicida é fruto de um complexo patológico da DC: trauma pelas críticas pesadas ao estilo "Snyder", "síndrome do pênis pequeno" com relação à Marvel, e o medo de dar uma identidade própria a seus filmes sem estar à sombra da rival. Todos estes aspectos parecem fazer do "Esquadrão" não um filme de quadrinhos ou de heróis. Chego a conclusão de que ele é mais reservado a um estudo psicológico do que está acontecendo nos corredores do estúdio, nas reuniões de edição, nos encontros dos acionistas.
Esquadrão Suicida na verdade deve ser encarado como um drama psicológico, onde cada erro de edição,montagem, trilha e roteiro na verdade são expressões representando a angústia, confusão e aflição dos envolvidos no projeto.O filme na verdade parece ser responsabilidade das frustrações e pitacos de muitos, ao final temos, como já li em outra crítica, uma imensa colcha de retalhos, um filme "Frankestein", sem personalidade, onde a ordem das cenas com divergentes tons criam uma cronologia heterogênea e desequilibrada.
O trunfo, assim como BvS, são os personagens e atuações. Wil Smith convence de pistoleiro e como um quase líder do grupo. Margot Robbie encontrou o tom de sua Arlequina, apesar de que, o seu principal arco foi suavizado, com certeza uma forma de marketing, já que seu personagem vem fazendo bastante sucesso mesmo antes da estréia, e do medo de abordar um assunto como relação abusiva dela com o Coringa. Já este, não dá para dar um veredito, o Coringa de Leto parece ser promissor, apesar de alguns exageros e de uma rejeição inicial ao seu visual gangster, porém, o filme não permite que o personagem ganhe profundidade, aliás, ele poderia nem estar ali que não haveria problema algum. Viola Davis é a atriz perfeita para Amanda Waller, um dos personagens mais interessantes do universo DC.Os outros personagem estão na margem do O.K. Cara Delevingne interpreta um dos vilões mais dispensáveis de todos os tempos, sobre sua atuação sem muito a declarar, pois por sorte não vemos muitas cenas suas tentando interpretar alguma coisa.
Como uma adaptação dos quadrinhos e parte do universo DC, esquadrão suicida é uma promessa que não se cumpriu. Uma premissa tão boa quanto um esquadrão de vilões, nos cinemas ficou preso a clichês e tentativas de ser engraçado/sagaz/dramático/violento. Com uma edição confusa e roteiro básico, problemas de direção pontuais só fizeram acrescentar a bola de neve. Apesar disso, pelo menos, a dinâmica do grupo chega a funcionar, mesmo que as vezes até forçada.
Como divertimento esquadrão suicida não é de todo mal. Entretém, possui uma trama muito melhor de ser mastigada que BvS, pois, se arrisca menos, está numa zona de conforto mais estabelecida. Porém, mesmo assim, é um filme facilmente esquecível, pois não há nada de marcante, salve os personagens arlequina, waller e até pistoleiro.
Enfim, espero dias melhores para a DC, mas tá ficando difícil. Oremos por mulher-maravilha.
Ps: acredito que em aulas de cinema provavelmente esse filme será passado como um exemplo de como NÃO trabalhar uma trilha sonora. Sinceramente, nunca vi nenhum filme que usou de forma tão errônea sua trilha, chegou a dar agonia em alguns momentos. Bebendo da fonte de "Guardiões da Galáxia " o filme é recheado de músicas "pop bacaninhas", porém a utilização delas é completamente sem lógica, parecem estar ali só por estar.
Difícil dizer se agora, depois de todos os holofotes dados após o grande sucesso "Que horas ela volta?", Anna Muylaert está consolidada no cinema nacional com seu mais novo filme. Mas, é fácil afirmar que seu estilo já é dono de um morfismo próprio e característico.
"Mãe só há uma" pouco lembra o antecessor da diretora, apesar de ambos terem sido gravados ao mesmo tempo. Como disse a própria, que eu tive o prazer de conhecer pois estava presente na minha sessão, esse é um filme desprendido de um padrão narrativo, mais livre, contestador, cru e ácido, sem compromisso nenhum em aprofundar temas ou mesmo entregar respostas. Com traços que lembram filmes independentes franceses (Dolan, irmãos Dardenne) ele é "apenas" contestador, sufocante, "o filme representa o personagem principal caindo em um buraco que parece não ter fim". A proposta do filme é um retrato, um retrato veloz da caída por esse "buraco" do personagem principal e não mostrar ou seu final, ou mesmo, questionar o que se passa na cabeça daqueles que estão caindo junto.
De ligação com o "filme da Val", apenas a marca registrada da diretora, apresentar uma trama principal com alta carga dramática com significado construído especificamente por ações cotidianas, relações corriqueiras, pequenos atos.
Com uma das cenas finais mais belas que já assisti, o filme finaliza mais parecendo um "curta estendido" devido a sua velocidade e despreocupação em esmiuçar cada perfil psicológico dos personagens, ou temas tão controversos quanto a fluidez de gênero do personagem principal.
As angústias a mim oferecidas deram a luz a questionamentos. Se Anna Muylaert continuar com esse traço tão marcante de sua cinematografia não será difícil seu lugar no História do cinema nacional e mundial estar consolidado.
"Nise: o coração da Loucura" representa mais um exemplo de que o nosso cinema nacional caminha muito bem, e tende a amadurecer mais ainda, mesmo com a concorrência avassaladora das comédias genéricas globais. Nossos diretores independentes não estão deixando à desejar.
"Nise" não é exatamente biográfico. Na verdade o protagonismo dele é dividido entre o esforço comandando pela ilustre psiquiatra alagoana Nise da Silveira e o florescer da humanidade dos seus clientes em resposta. Assistir ao filme é tão lindo quanto observar o crescimento de uma planta no meio do ambiente acimentado humano. É vida plena rompendo o que seria considerado estéril.
Glória Pires prova porque é uma das grandes atrizes de sua geração. Dá vida à médica que revolucionou a psiquiatria e a terapia ocupacional, deixando um legado não só à sua época, mas também, as gerações futuras. Endurecida pelo período que passou presa, e tendo que enfrentar um ambiente totalmente machista, Glória conseguiu dividir sua personagem entre a rigidez ao enfrentar o sistema e seus "carrascos", e a humildade e doçura ao cuidar dos seus clientes.
Do outro lado, uma grata surpresa. Todos os atores que personificaram os clientes da doutora, aqueles tratados como "farrapos" pela sociedade conseguiram transmitir a vulnerabilidade de seus personagens, mas, principalmente, fizeram florescer a humanidade de cada um, convenceram que cada vida vale sim à pena.
Com um roteiro não tão recheado de diálogos complexos, "Nise" aposta nas frases fortes e certeiras da psiquiatra e na simplicidade e ingenuidade de seus clientes. Acerta. A direção está desprendida de muitos maneirismos incômodos de filmagem típica de novela e apesar de não surpreender muito, em diversos momentos, acertou ao captar a essência da ambientação e da evolução das sensações dos clientes de acordo com os eventos que vão se desenrolando.
Espero continuar vendo tantos bons filmes nacionais sendo lançados. Pena que muitos ainda estão reclusos às sessões de arte de cinemas menores. Nosso povo merece ver mais do que apenas as ´"3 marias globais" ou a novela da bíblia.
OBS: e como meu pai disse após ver o filme "Que mulher foi essa Nise da Silveira!!"
Não sei porque ainda me impressiono com a falta de crivo dos brasileiros em misturar política, futebol e religião em tudo. Essa "politização" do brasileiro é tão burra e alienada que o faz vir numa página sobre o filme para discutir sobre os "petralhas, comunas, pt..."
Bom , estarei aguardando ansiosamente este filme, e aos "politizados" revoltadinhos, que nem chamo de "direita", pois a grande maioria destes "salvadores da pátria" não tem noção de ideologia política, restam aceitar a aclamação mundial desse filme de "atores esquerdopatas mamadores do estado" no maior festival de cinema do mundo. E olha que capaz de vir prêmio pra cá? Cannes é um festival comunista financiado pela república gayzista,abortista, ateia, bolivariana, chinesa, sem dúvidas.
Abro essa resenha com: se quiser filme de assustar não assista, se você está achando que é um típico filme de terror, não vá assistir. Porém, se for, tomara que não seja um dos babacas que estavam junto da sala comigo que me fizeram ter uma péssima experiência cinematográfica com sorrisos na hora errada, conversas e zombação.
O filme é primoroso pela construção da sua atmosfera. Os elementos que vão gradativamente sendo adicionados ao longo deste, criam a aura macabra necessária ao mesmo tempo que vão penetrando nas nossas mentes com vários questionamentos sem nem mesmo sentirmos.
Até hoje não digeri totalmente as mensagens e subtextos do filme. O filme inteiro parece ser apoiado em várias metáforas. A que eu achei mais marcante envolve o amadurecimento da personagem principal Thomasin ( Anya Taylor-Joy) enquanto mulher adulta, e o quanto preconceitos e machismo apoiados por teologia religiosa recaíam sobre as mulheres daquela época, que sofreram até perseguições, e como ainda são sentidas até hoje as marcas desse absurdo.
No mais, espero revê-lo em casa para ter uma melhor conexão, já que o filme possui cenas bastante primorosas e varias questões ainda para serem respondidas.
Com certeza se tornará um clássico do horror-cult no futuro
Em Danish Girl o que ficou foi uma vontade de ver uma história tão complexa ser contada de outra forma, que realmente invadisse a alma inquieta de Lili e retratasse de diversos ângulos sua angústia e o reflexo disto em sua esposa.
Alicia Vikander, com o personagem da generosa e fiel Gerda, é a responsável por guiar a linha dramática de toda a trama. Por mais que Eddie Redmayne (Lili/Einar) tente traduzir o que seu personagem está passando, a sua atuação corporal se torna bastante perceptível e mecanizada, sua preocupação em graduar o período de transição da personagem acaba por expor traços repetitivos desnecessários e ofuscando as verdadeiras brechas por onde a alma angustiada de Lili queria transbordar.
O enredo, o preenchimento da narrativa é o grande ponto positivo do filme. Apesar de não ter conseguido me levar pela densidade do material que tinha em mãos, o filme tem boas cenas, onde, principalmente, pessoas que não compreendem tanto acerca da transexualidade pode ter um primeiro contato, de forma histórica.
Espero que cada vez mais se fale sobre este tema tão importante, e sobre a ótica de diferentes estúdios, diretores, produtores e roteiristas, é necessário dar voz aqueles que ainda permanecem apagados na sétima arte.
Spolight é um filme que tem como objetivo principal mostrar os mecanismos e a construção do seu enredo, ele se mantém fiel ao estilo jornalístico do início ao final.
Apesar do filme parecer, de início, feito para os votantes do Oscar o aclamar, ele aposta mais no realismo e não se apresenta recheado de reviravoltas, dramas e cenas de embates. Spotlight é metódico, seco, as vezes frio e calculista demais, porém, ele representa exatamente os fatos que ocorreram e como os envolvidos em desvendá-lo tiveram que agir.
Por um lado, sente-se falta do lado humano, conhecer mais as histórias das vítimas, confrontar os padres que estavam envolvidos nesses crimes, e a próprio conflito dentro dos jornalistas que estão envolvidos na investigação. Destes, apenas o último foi mais representado, quando diante dos horrores que encontraram eles tem que decidir ter paciência e frieza para levar tudo até o fim, ou se render aos sentimentos de indignação e revolta.
As atuações são comedidas e nos tons certos, sem grandes diálogo dignos de indicação. O filme, permanece fiel a história que conta. Até porque, foi desta forma que, na vida real, o caso pode ser fechado e exposto ao público e autoridades.
Um grande espetáculo que, para nossa sorte, ainda pode conquistar várias e várias gerações.
Neste clássico do cinema o enredo não é o ponto forte do filme, é um romance típico, totalmente inspirado na história de Romeu e Julieta, porém, sob o plano de fundo dos EUA urbano e de economia crescente enfrentando os problemas que até hoje ainda não foram sanados.
O trunfo desta obra são seus musicais, aqui muito bem coreografados, onde cada passo e ação dos personagens são traduzidos em movimentos de braços, pernas, cabeças frenéticos e sincronizados. Esta é a grande joia do filme a ser apreciada. Esse conjunto nos levam diretamente aos musicais da Broadway nos anos 60.
Com cenários e figurinos primorosos, vale destacar a atuação de George Chakiris (Bernardo) e Rita Moreno (Anita) que acabam roubando, principalmente, ela, a cena perante os mocinhos, que acabam presos no clichê do amor impossível a primeira vista.
O filme flerta com temas amadurecidos ao mesmo tempo que não esquece de velhas formas para entreter a faixa etária que é seu principal alvo, as crianças. O início conta uma história que deve encantar mais aos adultos do que os pequenos, e o desenrolar da trama até o seu final aposta mais nos ingredientes infantis: uma jornada com aventura, muitas cores, personagens carismáticos e o derretimento do coração do velho senhor Fredricksen.
Apesar de não considerar o melhor filme da Pixar e de não ter superado as minhas expectativas geradas pelos ótimos comentários sobre o mesmo, o filme cumpre muito bem o seu papel, e de forma bastante natural e fluida, os personagens são ótimos e cativantes.
No final percebemos que o foco em alçar vôos altos em nossas vidas nos tiram a visão periférica das pequenas coisas que fazem nosso dia-a-dia valer à pena. De repente guardamos mágoas e arrependimentos de caminhos não trilhados e não damos valor as nossas conquistas e escolhas do presente que realmente nos fazem felizes.
A cena-síntese de toda a mensagem trabalhada na película nos é revelada quando Friedricksen abre o albúm de aventuras da falecida esposa, e lá, onde deveria estar o espaço vazio do sonho que nuunca se realizou de irem morar nas cachoeiras, estão fotos do casamento e de momentos tão corriqueiros dos dois. Esse é o grande momento de desapego do personagem.
Os sonhos são os produtos de "entorpecentes naturais", é um mundo abstrato que a psicanalise até hoje tenta desvendar. Por vezes previsível e sensato, por outras, sem sentido e um tanto psicodélicos. Neles habitam nossos verdadeiros desejos e aspirações, porém, quando o "mundo real" se torna insustentável, a relação que temos com o mundo idealizado pode nos levar a um caminho de atuodestruição.
Réquiem para um sonho mexe com a nossa vulnerabilidade, com nossos conceitos de estabilidade. Nos assusta pois, percebemos que escolhas erradas podem nos tirar do controle de nossas próprias vidas rapidamente. Ficamos de frente a linha tênue entre a realidade e o desequilíbrio de um mundo baseado em expectativas e illusões.
De diferentes formas os vícios regem os sonhos dos quatro personagens principais. Harry (Jared Leto) busca uma oportunidade confortável, onde possa se tornar bem sucedido aos olhos da namorada e de sua mãe, e, ao mesmo tempo, continuar usufruindo de seus vícios. Marion (Jennifer Connelly) preenche o vazio de ter tido tudo menos o carinho de seus pais apostando no projeto do namorado, mantendo sua dependência no amor dele. Marlon (Tyrone C. Love) após uma infância pobre, sonha em estar no topo para provar sua capacidade. Diferente dos outros, Sara (Ellen Bursty) é hipnotizada todos os dias pelas ondas de tv, e um acontecimento que pode permitir que ela própria seja inserida nesse mundo faz com que ela, imersa numa vida vazia de sentido, se entregue a uma meta que vai levá-la aos extremos do comportamento humano.
Com quatro ótimas atuações o filme angustia pela forma como mostra o desenrolar da história de cada um, a decadência dos sentimentos e do que seria parte da alma humana.
No final, quando cada um se posiciona de forma fetal é escancarado o teor primitivo de nossas ações e a total vulnerabilidade a qual estamos entregues nos momentos de decisões das nossas vidas.
Os vícios são mestres em nos enganar e nos apresentar um mundo perfeito e cabível as nossas vontades.
Você Nem Imagina
3.4 517 Assista AgoraÉ muito clichê reciclável de comédia romântica, com uma pitada de narrativa pós-millennial (inserção de narração/capítulos/filosofias de vida).
Os pontos fortes poderiam ser bem mais aproveitados, como o carisma tímido da protagonista,e a amizade que ela constrói com o Deacon. A fidelidade à narrativa da personagem Ellie, e seu final coeso, conseguem dar um tom de dignidade ao tipo de "mensagem atualizada" que o filme busca, apesar de tudo.
Monika e o Desejo
4.0 120 Assista AgoraBergman é um dos meus diretores favoritos, então, sempre vai ser difícil para mim separar a ótica de admiração. Mas sempre suspiro aliviado quando meu lado racional e analítico concorda em enaltecer aquilo que meus sentimentos enxergaram primeiro.
"Monika e o desejo" não foge de fórmulas características de diretores que apelam a sentimentos românticos porém, fugazes da juventude. Mas claro que os ingredientes rotineiros, nas mãos de alguém como Bergman, produzem um resultado final de sabor inexistente e exótico.
A musa inspiradora, Monika, interpretada por uma explosão de sensualidade fronteiriça à ingenuidade de Harriet Anderson, segue como força motriz e dinâmica de uma releitura bíblica. A Eva que converte e incita o jovem Adão - Harry vivido por Lars Ekborg - a vivenciar na pele o amor romântico, em sua total intensidade. Por todo o trajeto Monika é a força traxsformadora inalcansável.
É muito interessante, também, perceber os aspectos sociais de uma Europa pós-guerra,e em ritmo de estabilidade. Os ideias conservadores, de família e trabalho, são confrontados pelos protagonistas. Porém, o ponta-pé inicial é uma provocação do diretor - juntos, o casal assiste o filme Hollywoodiano, que faz parte do mainstream capitalista, mas que exalta valores do amor impossível, as vezes subversivo e que supera tudoe a todos.
Neste contexto, eles são insensíveis a constatação de que ao seguir os "ventos do verão" e de escaparem das obrigações e deveres urbanos, para viverem o seu amor, também estão seguindo valores pré-idealizados, levemente mascarados de contravenção.
E ao perceberem a necessidade do retorno de sua fuga, idealizam o mais clichê burguês, o do casal feliz, do homem provedor, e do seu primeiro filho homem.
Quero destacar dois pontos destaques do filme. A atuação de Harriet, que na época estava com um relacionamento com o diretor, o que muitos atribuem sua imensa naturalidade e força diante das câmres, e vice-versa daquele que a dirigia.
Outro ponto é a própria direção. Um dos melhores trabalhos de fotografia que já vi em preto e branco. Bergman consegue triblar o que na época era comum e que para um espectador atual poderia ser uma falta, e destacar paisagens exuberantes, com o uso inteligente de contraste, que segue a linha narrativa que apresenta os momentos do sonho, e da volta à realidade (soturna, sombria, urbana).
Por mais que Bergman aposte na construção de uma musa, e de um protagonista masculino sem grande força e manipulável, a própria narrativa de gênero também é desafiada. Bergman não nos quer colocar contra Monika, na verdade ele quer que julguemos bem e mal ambos os protagonistas.
Na própria cena, incônica, em que Monika ao ser mostrada como adúltera, olha para a câmera, com a mesma ingenuidade, intensidade, e um tom leve e desafiador, onde o prórpio espctador se pergunta, desconfortável, "de que forma julgá-la?". Nesse momento bergman, mais uma vez, apela a traços do que seriam suas raízes na liturgia sagrada
Fico feliz em ser surpreendido mais uma vez por Bergman, em uma trama que tinha tudo para refrear meus ânimos. Ao final, Monika é a força inquietante que segue, Harry se dobra e retrai-se. Qual deles somos nós? Na verdade, em quais momentos já fomos Monika ou Harry?
Green Book: O Guia
4.1 1,5K Assista AgoraO filme é uma reciclagem barata de tantos outros filmes apaziguadores raciais que o precedeu. Porém, cumpre bem a função de filme "que não machuca ninguém", filme "sessão da tarde".
O roteiro aposta em um joguinho de arquétipos pouco efetivo, mas bem palatável. O negro que sofre racismo mas desconhece suas origens; o branco, de família de imigrantes e pobre, mas que é fruto do pensamento de superioridade racial. Todas as referências sobre a forma como os negros eram tratados naquela terrível época da História do US é extremamente previsível - os momentos de agressão, seja verbal, seja física, os momentos de discussão. O diretor parece não querer trazer nenhum tipo de ponto de vista diferente, seja visual, de narrativa... parece um filme comprado e diluído como uma sopa instantânea.
O personagem de Mortensen é carismático, mas não extravasa muito do ogro valentão que consegue sua redenção através da mudança de caráter. Enquanto Ali, coitado, parece sufocado em um personagem superficial, brilhando apenas no único momento de confronto ativo de seu personagem, e quando o roteiro parece sair de sua zona de letargia verborrágica. Que ele continue com o seu Oscar pela brilhante performance em "Moonlight" e só. E se eu for falar aqui de como 98% de todos os gatilhos das problemáticas que surgem na narrativa tem como grande movimentador o branco e sua redenção... aí se vão mais parágrafos.
Green Book para mim é o mais fraco dos indicados a melhor filme, e não apresenta primor nenhum para ser o melhor roteiro, no Oscar. Mas, segue como um dos favoritos em ambas as categorias. É mais do mesmo, e se vale de ingredientes envelhecidos, mas que emociona e convence pelo conforto emocional.
A Esposa
3.8 557 Assista AgoraPassei por um triz de dar duas estrelas e meia para o filme, mas depois de muito digestão, consigo acrescentar "um meio" merecedor para o final ascendente, onde finalmente o roteiro e montagem, que acho bastante falhos, conseguem fazer jus a grande dupla de atuantes nos papéis principais.
O enredo do filme caminha com um início trivial, mas, apesar da demora, atinge e consegue delimitar em uma trama com bastante densidade. Infelizmente, boa parte do filme se deixa se levar por um roteiro simplório, sem conseguir produzir e moldar simbologias próprias e que destaquem o incômodo silencioso de um passado e presente que virão à tona. É uma armadilha para muitos clichês e poucas expressões de sutilidade.
Para nossa sorte, temos uma Gleen Close afiadíssima, que consegue desde o início compreender e diluir as angústias do seu personagem, seguindo a narrativa, e apresentando, a primeira vista, um arquétipo exaustivamente utilizado, mas que se desembrulha em camadas de diferentes nuances. Paciente, assim como sua personagem "Joan", ela prossegue, e ao encontrar o ambiente e ferramentes à sua altura, nos entrega uma performance impecável.
Pontos positivos para o início da terceira parte do filme, onde, finalmente, roteiro, montagem e direção entram em harmonia para saudar uma deusa. Parece que depois de tanta embromação, a equipe se pegou pensando: "Nossa, temos Gleen Close no papel, vamos elevar o nível, dar ao Olimpo o que é digno do Olimpo". Amém!
Devo pontuar a ótima atuação de Jonathan Pryce, digna de premiações, e negativamente de Max Irons, sem ajuda do roteiro nem do talento.
Espero que um Oscar esteja vindo por aí para Gleen Close, mais que merecedor para esta Rainha do teatro e cinema americano!
Roma
4.1 1,4K Assista AgoraUm filme que dá gosto de dar nota máxima. E uma sensação que fica ao final: MORTE AO PÊNIS! haha
Brincadeiras à parte, para quem está ligado ao mundo do cinema, mesmo que não muito enraizado, ir assistir Roma é um movimento preenchido de enormes expectativas. O que torna a experiência uma armadilha, ou redenção.
Fico feliz que fui capturado pelo segundo sentimento. Cuarón entrega um filme nostálgico, de técnica impecável e acolhedora. Somos transportados a tons e notas de cheiros e barulhos caseiros, de uma cultura distante, porém, tão próxima. Cleo é um personagem de uma fortaleza passional muitas vezes questionável, mas jamais sua resiliência. De tal forma, fluímos, passivos, à imensidão oceânica de uma Cleo profunda e de aparência simplória. Nos inquietamos com a aparente calmaria sem bordas, sem fim. Somos engolfados, numa aflição ardente, salina, quando enfim, a tormenta chega.
As comparações com "Que horas ela volta?" são inevitáveis, principalmente para um público latino como o nosso, que detém obra de tanta qualidade e que também nos retrata. As tramas seguem fluxos e se propõe a confrontar pontos diferentes, sob o pano amordaçador das divisões de classe. Porém, dividem o peso da sutileza afiada e sufocante do cotidiano, agraciada com os ecos da normalidade.
Um terceiro ato sutilmente implacável, Roma consegue se entregar a uma intimidade despretensiosa, mas com auto-conhecimento de sua força. Um presente de Cuarón para todas as "Libo", e para todos nós que nos abrimos a esta experiência.
A Casa Que Jack Construiu
3.5 788 Assista AgoraInfelizmente Lars Von Trier cai na armadilha que muitos autores/diretores acabam derrapando com o tempo (Olá Woody Allen) de realizar obras masturbatórias da própria trajetória. Nesse filme ele atinge o ápice, ao não só reciclar vários conceitos já utilizados na sua carreira, como também se colocar numa metáfora "auto-biográfica" sem grandes momentos. O roteiro é infértil e seco, e chega a momentos de orgasmos "intelectóides" desnecessários. Diversas cenas miram em um modo "Tarantinesco" mas, acertam em uma versão de "Jogos Mortais" sem apelo.
O grand-finale é uma tentativa frustada de atingir um nível metafórico-mitológico, que quase não dialoga com o resto do filme, e a quase nível de "Mother", quer escancarar aos espectadores de que sim, tudo o que nós vimos até então é uma sombra representativa da caverna de Platão contemplativa de LVT.
Uma pena.
Os Guarda-Chuvas do Amor
3.9 158 Assista AgoraSou mais um dos que vieram parar nesse filme por conta de ser uma obra que serviu de inspiração a "La La Land". Tenho meus problemas com musicais quase que inteiramente cantados, e por isto, que a minha nota não foi pelo menos meia estrela maior. Mea-culpa. Porém, como já foi dito abaixo, a partir de 30 minutos de filme a pessoa já se acostuma e não imagina mais outra forma do enredo ser contado. A palavra central do filme é "encatamento", você se pega encantado pela estória quando menos percebe. O mais interessante é ele ser um musical com uma dinâmica de cenas "não-musicadas" - se é que posso utilizar essa expressão nada elegante. A narrativa é uma extensiva canção, não existem cenas musicalmente apartadas, grandes coreografias, e em quase todo tempo o elenco atua como se estivesse encenando diálogos normais, sem nenhum tipo de interferência de trejeitos musicais. Falando em elenco, todos estão muito bem, a doçura e beleza de Deneuve é um charme a parte, e claro, o design de produção do filme é a cereja do bolo, mais uma ferramenta de diálogo e "encanto" para o deleite do público.
Soldados do Araguaia
4.1 22 Assista AgoraDocumentário bastante necessário nos tempos em que estamos passando. Principalmente por mostrar o lado de um grupo de militares que foram tirados de suas famílias, sofreram grandes traumas e depois foram descartados. Deveria ser exibido junto com outros materiais de mídias todos os anos em colégios de escola pública e privada para que nossos jovens não caiam na tentação do discurso conservador autoritário.
A ditadura militar no Brasil, infelizmente, é mais um evento histórico que não foi passado a limpo pelo nosso povo. Diferente dos alemães que durante anos encaram as amargas consequencias de um período obscuro de sua História, a passionalidade furiosa do brasileiro nos faz flertar novamente com esse tema.
Enquanto isso foi deixado o legado de horror e ódio, vidas destruídas de ambos os lados, e um silencio envergonhante que necessita ser libertadoramente expurgado.
Como Nossos Pais
3.8 444O cinema nacional desabrochou nos últimos anos em torno da construção de personagens femininas fortes e de maduras críticas sociais de um país que tenta se enxergar.
Ao lado de personagens femininas marcantes dos últimos anos no cinema, como a querida Val de "Que horas ela volta?", a determinada Clara de "Aquarius", ou mesmo a memória da brilhante psiquiatra alagoana Nise da Silveir, em "Nise, o coração da loucura", dentre outras, somos apresentados a Rosa, uma mulher de classe média, aparentemente sem nenhum grande problema ou desafio a ser superado.
O filme não expõe conflitos verticais sobre o sistema de hierarquias sociais ou de poder . Mas, seu trunfo está justamente ao oferecer a faceta de relações horizontais dentro de uma perspectiva aparentemente insossa de uma classe média desinteressante. Mas, devemos lembrar que a grande parte de nós esta envolvida nesses tipos de conflitos e vazios existenciais. A maior parte de nossas vidas são resumidas a discussões na cozinha ou por aplicativos de mensagem. Os grandes males do mundo estão mais presentes nos nossos discursos entre uma chamada do jornal e outra, e nas filosofias de barzinho do que nas nossas atitudes diárias.
Essa pode ser a dificuldade maior do filme, em dialogar com um publico sedento pela jornada de herói ou heroína por grandes causas. Rosa mesmo, é confrontada com isso diariamente, quando seu marido, aclamado pelo seu trabalho de preservação ambiental é considerado um salvador do futuro do planeta, e ela, não parece brilhar em seu emprego enrijecido, nos seus sonhos esquecidos, e nas reclamações da necessidade da ajuda em afazeres tão "simplórios" como cuidar das filhas e da casa.
Porém Rosa é tão super-mulher quanto as outras que nomeei no início deste texto. Rosa pode ser uma irmã nossa, uma tia, nossa mãe. Sua jornada é um reflexo da mulher pós-moderna. Direitos conquistados, porém, ainda cercada de tantas cobranças restritas ao seu gênero. Seu marido pode seguir sonhos, viajar e salvar o mundo, enquanto ela permanece sentir abrir mão de tantos desejos por ser a mãe. Além disso tudo sua jornada de auto-conhecimento, com certeza um dos maiores desafios de qualquer ser humano seja qual for o gênero, parece ser sempre ofuscada e menosprezada pelos feitos do marido e pela frieza e insensibilidade da própria mãe. Falando nisso, com certeza a relação entre as duas - Rosa e sua mãe - é a construção mais complexa e bem desenvolvida do filme, sendo abrilhantada pelas performances de Maria Ribeiro como Rosa e Clarisse Abujamra.
Confesso que cheguei com muito preconceito com relação ao filme, mas a alternância entre as sutilezas e problemas do cotidiano que ele me presenteou me conquistaram. Uma boa surpresa e que o cinema nacional continue assim, diversificado, apresentando diversos pontos de vista, diversas cores, gêneros, sexualidades, problemas.
Quanto Mais Quente Melhor
4.3 853 Assista AgoraAinda fico de cara com a ousadia da Marilyn de usar os vestidos ousados pra época. Felizmente ícone. Atuação divertidíssima da dupla de atores, destaque pra Jack Lemmon impagável enquanto Daphne. Com um roteiro inteligente, o humor do filme brinca de forma suave com algumas questões de gênero enrijecidas da época. Marilyn é um avento. A exuberância e atrevimento em pessoa, é de se imaginar o choque na época com alguém que concentrava tanta sensualidade e poderia manipulá-la e destacá-la da forma que quisesse. Talvez sendo um dos precursores dos enredos envolvendo trocas de gênero ("As branquelas", já hoje considerado um clássico humor trash "se afoga" dessa fonte), "quanto mais quente melhor" é um filme construído para aproveitar o melhor dos novos tempos que chegavam.
Contestando Darwin
3.3 6 Assista AgoraO Ponto mais interessante do documentário, como bastante citado, é expor o senso comum dos religiosos fundamentalistas vazios de argumentos e recheados de uma fé cega e ignorante.
Porém, para um doc que se intitula "Questionando Darwin" minhas expectativas era assistir um debate mais científico do que superficial como foi.
Algo alarmante que podemos confirmar ao assisti-lo é o número gigantesco de pessoas que não compreendem ciência, preferindo acreditar cegamente na interpretação de um livro e de seus líderes do que procurarem formar suas próprias opiniões.
O grande desafio da ciência no século 21 com certeza será a sua melhor compreensão diante de uma massa cada vez maior de desesperados e deseducados.
Animais Noturnos
4.0 2,2K Assista AgoraCom abertura suntuosa e bastante estética, tanto imageticamente quanto sonoramente, o que se aguarda é um filme que desenvolva uma narrativa complexa e bem montada. Pena que o que realmente estar por vir são 115 minutos arrastados de decepção. Literalmente "muito barulho por nada".
Dois adjetivos afundam as expectativas: Pretensiosidade e Sutileza. O que não falta do primeiro é quase esquecido do segundo. O roteiro e a direção não conseguem dialogar. Há um esforço da direção, em seus enquadramentos e ritmo e trilha, em tentar confluir junto dos traços da personagem de Amy Adams, porém, as tentativas acabam por engolir a técnica, ao querer estender uma personalidade fria e vazia, o filme se torna frio e vazio de uma unidimensionalidade frustrante.
O roteiro por si, segue o efeito de desencontro do filme. Os arquétipos dos personagens não sem do plano básico, nenhum personagem consegue romper a barreira do inócuo. seja a mãe branca republicana; o casamento superficial e marido ausente; o ex-marido de personalidade passional; e claro, a vazia e arrependida mulher. Junto da direção, o que se vê é uma narrativa "on your face"; mesmo a tentativa de ligação entre a história do ex-casal e o roteiro do ex-marido não é instigante. Você até tenta achar grandes metáforas, analogias ou sentimentos mais tridimensionais. O que te impressiona é no final saber "sim, é só isso".
As 3 estrelas são pelo elenco. Todas as atuações estão "on point". Parece que todos os atores fizeram o máximo possível, tento sido abandonados pelos aspectos de roteiro e direção acima citados. Amy Adams não está em seu melhor papel mas faz o que pode (sendo bastante sabotada por cortes de cenas de "suspiros e tensão", e as vezes uma franja que quase cria vida), e destaque para Michael Shannon, que apesar de como os outros, poderia ter um personagem mais interessante, acabou garantindo uma indicação de ator coadjuvante no Oscar.
Acordar para a Vida
4.3 789O filme nos permite sonhar junto, uma verdadeira imersão a um mundo onde a matéria é subjetiva e os pensamentos tentam se objetificar. Sua principal ferramente é o autoconhecimento. Só se vale a pena viver enquanto humanos se nós desafiarmos a dádiva e ao mesmo tempo o pecado de conhecer a si mesmo. Sem o conhecimento de si a vida se torna robótica, apática e apenas comportamental. O maior mistério do mundo está dentro de nós mesmos, e os sonhos parecem ser o retorno à matriz, um mergulho no caos e na criação. Sonhar acordado é ser fruto de si mesmo, criador e criatura, é ser ação e sujeito. Será as representações de nós mesmos mais prazerosas com suas infinitas possibilidades? - Platão responderia o inverso. Mais do que questionar as realidades devemos seguir as maiores possibilidades.
(500) Dias com Ela
4.0 5,7K Assista AgoraO filme permite que o espectador flua entre Tom e Summer, se identificando por vezes com um ou outro, além de novas análises dos próprios relacionamentos. Seu tema é cosmopolita e expõe as raízes apodrecidas de um padrão de relacionamento secular que nos faz acreditar em termos embriagantes: "almas gêmeas", "felizes para sempre", "amor a primeira vista".
Summer pode incomodar por ser a figura contestadora dessa sistema. Apesar de que, no fim das contas, seu radicalismo com as relações humanas acaba cedendo espaço para o que seria considerado convencionalidade.
Nos relacionamentos nos envolvemos em grandes e pequenas questões em que não há certo ou errado, apenas visões diferentes de agir no mundo. A guerra de egos e orgulho apenas atrapalha. O que podemos aprender nisso tudo é tentar sempre saber a hora certa de usar a razão, e que emoção é bicho indomado, não pode permanecer no controle ininterruptamente.
Ps: Não adianta querer mandar a conta das decepções para o outro. Tu te tornas eternamente responsável por tuas próprias expectativas.
Esquadrão Suicida
2.8 4,0K Assista AgoraComo um entusiasta das histórias e dos personagens do universo DC (Batman principalmente) muito mais que os da Marvel, e após o conflito pessoal de amor e ódio por BvS, esperei com entusiamo o filme do Esquadrão Suicida. Por ser uma jogada não tradicional dentro do universo Warner/DC e por ser uma chance de expansão, com tom diferente, desse mesmo universo.
Infelizmente, Esquadrão Suicida é fruto de um complexo patológico da DC: trauma pelas críticas pesadas ao estilo "Snyder", "síndrome do pênis pequeno" com relação à Marvel, e o medo de dar uma identidade própria a seus filmes sem estar à sombra da rival. Todos estes aspectos parecem fazer do "Esquadrão" não um filme de quadrinhos ou de heróis. Chego a conclusão de que ele é mais reservado a um estudo psicológico do que está acontecendo nos corredores do estúdio, nas reuniões de edição, nos encontros dos acionistas.
Esquadrão Suicida na verdade deve ser encarado como um drama psicológico, onde cada erro de edição,montagem, trilha e roteiro na verdade são expressões representando a angústia, confusão e aflição dos envolvidos no projeto.O filme na verdade parece ser responsabilidade das frustrações e pitacos de muitos, ao final temos, como já li em outra crítica, uma imensa colcha de retalhos, um filme "Frankestein", sem personalidade, onde a ordem das cenas com divergentes tons criam uma cronologia heterogênea e desequilibrada.
O trunfo, assim como BvS, são os personagens e atuações. Wil Smith convence de pistoleiro e como um quase líder do grupo. Margot Robbie encontrou o tom de sua Arlequina, apesar de que, o seu principal arco foi suavizado, com certeza uma forma de marketing, já que seu personagem vem fazendo bastante sucesso mesmo antes da estréia, e do medo de abordar um assunto como relação abusiva dela com o Coringa. Já este, não dá para dar um veredito, o Coringa de Leto parece ser promissor, apesar de alguns exageros e de uma rejeição inicial ao seu visual gangster, porém, o filme não permite que o personagem ganhe profundidade, aliás, ele poderia nem estar ali que não haveria problema algum. Viola Davis é a atriz perfeita para Amanda Waller, um dos personagens mais interessantes do universo DC.Os outros personagem estão na margem do O.K. Cara Delevingne interpreta um dos vilões mais dispensáveis de todos os tempos, sobre sua atuação sem muito a declarar, pois por sorte não vemos muitas cenas suas tentando interpretar alguma coisa.
Como uma adaptação dos quadrinhos e parte do universo DC, esquadrão suicida é uma promessa que não se cumpriu. Uma premissa tão boa quanto um esquadrão de vilões, nos cinemas ficou preso a clichês e tentativas de ser engraçado/sagaz/dramático/violento. Com uma edição confusa e roteiro básico, problemas de direção pontuais só fizeram acrescentar a bola de neve. Apesar disso, pelo menos, a dinâmica do grupo chega a funcionar, mesmo que as vezes até forçada.
Como divertimento esquadrão suicida não é de todo mal. Entretém, possui uma trama muito melhor de ser mastigada que BvS, pois, se arrisca menos, está numa zona de conforto mais estabelecida. Porém, mesmo assim, é um filme facilmente esquecível, pois não há nada de marcante, salve os personagens arlequina, waller e até pistoleiro.
Enfim, espero dias melhores para a DC, mas tá ficando difícil. Oremos por mulher-maravilha.
Ps: acredito que em aulas de cinema provavelmente esse filme será passado como um exemplo de como NÃO trabalhar uma trilha sonora. Sinceramente, nunca vi nenhum filme que usou de forma tão errônea sua trilha, chegou a dar agonia em alguns momentos. Bebendo da fonte de "Guardiões da Galáxia " o filme é recheado de músicas "pop bacaninhas", porém a utilização delas é completamente sem lógica, parecem estar ali só por estar.
Mãe Só Há Uma
3.5 407 Assista AgoraDifícil dizer se agora, depois de todos os holofotes dados após o grande sucesso "Que horas ela volta?", Anna Muylaert está consolidada no cinema nacional com seu mais novo filme. Mas, é fácil afirmar que seu estilo já é dono de um morfismo próprio e característico.
"Mãe só há uma" pouco lembra o antecessor da diretora, apesar de ambos terem sido gravados ao mesmo tempo. Como disse a própria, que eu tive o prazer de conhecer pois estava presente na minha sessão, esse é um filme desprendido de um padrão narrativo, mais livre, contestador, cru e ácido, sem compromisso nenhum em aprofundar temas ou mesmo entregar respostas. Com traços que lembram filmes independentes franceses (Dolan, irmãos Dardenne) ele é "apenas" contestador, sufocante, "o filme representa o personagem principal caindo em um buraco que parece não ter fim". A proposta do filme é um retrato, um retrato veloz da caída por esse "buraco" do personagem principal e não mostrar ou seu final, ou mesmo, questionar o que se passa na cabeça daqueles que estão caindo junto.
De ligação com o "filme da Val", apenas a marca registrada da diretora, apresentar uma trama principal com alta carga dramática com significado construído especificamente por ações cotidianas, relações corriqueiras, pequenos atos.
Com uma das cenas finais mais belas que já assisti, o filme finaliza mais parecendo um "curta estendido" devido a sua velocidade e despreocupação em esmiuçar cada perfil psicológico dos personagens, ou temas tão controversos quanto a fluidez de gênero do personagem principal.
As angústias a mim oferecidas deram a luz a questionamentos. Se Anna Muylaert continuar com esse traço tão marcante de sua cinematografia não será difícil seu lugar no História do cinema nacional e mundial estar consolidado.
Nise: O Coração da Loucura
4.3 656 Assista Agora"Nise: o coração da Loucura" representa mais um exemplo de que o nosso cinema nacional caminha muito bem, e tende a amadurecer mais ainda, mesmo com a concorrência avassaladora das comédias genéricas globais. Nossos diretores independentes não estão deixando à desejar.
"Nise" não é exatamente biográfico. Na verdade o protagonismo dele é dividido entre o esforço comandando pela ilustre psiquiatra alagoana Nise da Silveira e o florescer da humanidade dos seus clientes em resposta. Assistir ao filme é tão lindo quanto observar o crescimento de uma planta no meio do ambiente acimentado humano. É vida plena rompendo o que seria considerado estéril.
Glória Pires prova porque é uma das grandes atrizes de sua geração. Dá vida à médica que revolucionou a psiquiatria e a terapia ocupacional, deixando um legado não só à sua época, mas também, as gerações futuras. Endurecida pelo período que passou presa, e tendo que enfrentar um ambiente totalmente machista, Glória conseguiu dividir sua personagem entre a rigidez ao enfrentar o sistema e seus "carrascos", e a humildade e doçura ao cuidar dos seus clientes.
Do outro lado, uma grata surpresa. Todos os atores que personificaram os clientes da doutora, aqueles tratados como "farrapos" pela sociedade conseguiram transmitir a vulnerabilidade de seus personagens, mas, principalmente, fizeram florescer a humanidade de cada um, convenceram que cada vida vale sim à pena.
Com um roteiro não tão recheado de diálogos complexos, "Nise" aposta nas frases fortes e certeiras da psiquiatra e na simplicidade e ingenuidade de seus clientes. Acerta. A direção está desprendida de muitos maneirismos incômodos de filmagem típica de novela e apesar de não surpreender muito, em diversos momentos, acertou ao captar a essência da ambientação e da evolução das sensações dos clientes de acordo com os eventos que vão se desenrolando.
Espero continuar vendo tantos bons filmes nacionais sendo lançados. Pena que muitos ainda estão reclusos às sessões de arte de cinemas menores. Nosso povo merece ver mais do que apenas as ´"3 marias globais" ou a novela da bíblia.
OBS: e como meu pai disse após ver o filme "Que mulher foi essa Nise da Silveira!!"
Aquarius
4.2 1,9K Assista AgoraNão sei porque ainda me impressiono com a falta de crivo dos brasileiros em misturar política, futebol e religião em tudo. Essa "politização" do brasileiro é tão burra e alienada que o faz vir numa página sobre o filme para discutir sobre os "petralhas, comunas, pt..."
Bom , estarei aguardando ansiosamente este filme, e aos "politizados" revoltadinhos, que nem chamo de "direita", pois a grande maioria destes "salvadores da pátria" não tem noção de ideologia política, restam aceitar a aclamação mundial desse filme de "atores esquerdopatas mamadores do estado" no maior festival de cinema do mundo. E olha que capaz de vir prêmio pra cá? Cannes é um festival comunista financiado pela república gayzista,abortista, ateia, bolivariana, chinesa, sem dúvidas.
A Bruxa
3.6 3,4K Assista AgoraAbro essa resenha com: se quiser filme de assustar não assista, se você está achando que é um típico filme de terror, não vá assistir. Porém, se for, tomara que não seja um dos babacas que estavam junto da sala comigo que me fizeram ter uma péssima experiência cinematográfica com sorrisos na hora errada, conversas e zombação.
O filme é primoroso pela construção da sua atmosfera. Os elementos que vão gradativamente sendo adicionados ao longo deste, criam a aura macabra necessária ao mesmo tempo que vão penetrando nas nossas mentes com vários questionamentos sem nem mesmo sentirmos.
Até hoje não digeri totalmente as mensagens e subtextos do filme. O filme inteiro parece ser apoiado em várias metáforas. A que eu achei mais marcante envolve o amadurecimento da personagem principal Thomasin ( Anya Taylor-Joy) enquanto mulher adulta, e o quanto preconceitos e machismo apoiados por teologia religiosa recaíam sobre as mulheres daquela época, que sofreram até perseguições, e como ainda são sentidas até hoje as marcas desse absurdo.
No mais, espero revê-lo em casa para ter uma melhor conexão, já que o filme possui cenas bastante primorosas e varias questões ainda para serem respondidas.
Com certeza se tornará um clássico do horror-cult no futuro
A Garota Dinamarquesa
4.0 2,2K Assista AgoraEm Danish Girl o que ficou foi uma vontade de ver uma história tão complexa ser contada de outra forma, que realmente invadisse a alma inquieta de Lili e retratasse de diversos ângulos sua angústia e o reflexo disto em sua esposa.
Alicia Vikander, com o personagem da generosa e fiel Gerda, é a responsável por guiar a linha dramática de toda a trama. Por mais que Eddie Redmayne (Lili/Einar) tente traduzir o que seu personagem está passando, a sua atuação corporal se torna bastante perceptível e mecanizada, sua preocupação em graduar o período de transição da personagem acaba por expor traços repetitivos desnecessários e ofuscando as verdadeiras brechas por onde a alma angustiada de Lili queria transbordar.
O enredo, o preenchimento da narrativa é o grande ponto positivo do filme. Apesar de não ter conseguido me levar pela densidade do material que tinha em mãos, o filme tem boas cenas, onde, principalmente, pessoas que não compreendem tanto acerca da transexualidade pode ter um primeiro contato, de forma histórica.
Espero que cada vez mais se fale sobre este tema tão importante, e sobre a ótica de diferentes estúdios, diretores, produtores e roteiristas, é necessário dar voz aqueles que ainda permanecem apagados na sétima arte.
Spotlight - Segredos Revelados
4.1 1,7K Assista AgoraSpolight é um filme que tem como objetivo principal mostrar os mecanismos e a construção do seu enredo, ele se mantém fiel ao estilo jornalístico do início ao final.
Apesar do filme parecer, de início, feito para os votantes do Oscar o aclamar, ele aposta mais no realismo e não se apresenta recheado de reviravoltas, dramas e cenas de embates. Spotlight é metódico, seco, as vezes frio e calculista demais, porém, ele representa exatamente os fatos que ocorreram e como os envolvidos em desvendá-lo tiveram que agir.
Por um lado, sente-se falta do lado humano, conhecer mais as histórias das vítimas, confrontar os padres que estavam envolvidos nesses crimes, e a próprio conflito dentro dos jornalistas que estão envolvidos na investigação. Destes, apenas o último foi mais representado, quando diante dos horrores que encontraram eles tem que decidir ter paciência e frieza para levar tudo até o fim, ou se render aos sentimentos de indignação e revolta.
As atuações são comedidas e nos tons certos, sem grandes diálogo dignos de indicação. O filme, permanece fiel a história que conta. Até porque, foi desta forma que, na vida real, o caso pode ser fechado e exposto ao público e autoridades.
Amor, Sublime Amor
3.8 372 Assista AgoraUm grande espetáculo que, para nossa sorte, ainda pode conquistar várias e várias gerações.
Neste clássico do cinema o enredo não é o ponto forte do filme, é um romance típico, totalmente inspirado na história de Romeu e Julieta, porém, sob o plano de fundo dos EUA urbano e de economia crescente enfrentando os problemas que até hoje ainda não foram sanados.
O trunfo desta obra são seus musicais, aqui muito bem coreografados, onde cada passo e ação dos personagens são traduzidos em movimentos de braços, pernas, cabeças frenéticos e sincronizados. Esta é a grande joia do filme a ser apreciada. Esse conjunto nos levam diretamente aos musicais da Broadway nos anos 60.
Com cenários e figurinos primorosos, vale destacar a atuação de George Chakiris (Bernardo) e Rita Moreno (Anita) que acabam roubando, principalmente, ela, a cena perante os mocinhos, que acabam presos no clichê do amor impossível a primeira vista.
Up: Altas Aventuras
4.3 3,8K Assista AgoraO filme flerta com temas amadurecidos ao mesmo tempo que não esquece de velhas formas para entreter a faixa etária que é seu principal alvo, as crianças. O início conta uma história que deve encantar mais aos adultos do que os pequenos, e o desenrolar da trama até o seu final aposta mais nos ingredientes infantis: uma jornada com aventura, muitas cores, personagens carismáticos e o derretimento do coração do velho senhor Fredricksen.
Apesar de não considerar o melhor filme da Pixar e de não ter superado as minhas expectativas geradas pelos ótimos comentários sobre o mesmo, o filme cumpre muito bem o seu papel, e de forma bastante natural e fluida, os personagens são ótimos e cativantes.
No final percebemos que o foco em alçar vôos altos em nossas vidas nos tiram a visão periférica das pequenas coisas que fazem nosso dia-a-dia valer à pena. De repente guardamos mágoas e arrependimentos de caminhos não trilhados e não damos valor as nossas conquistas e escolhas do presente que realmente nos fazem felizes.
A cena-síntese de toda a mensagem trabalhada na película nos é revelada quando Friedricksen abre o albúm de aventuras da falecida esposa, e lá, onde deveria estar o espaço vazio do sonho que nuunca se realizou de irem morar nas cachoeiras, estão fotos do casamento e de momentos tão corriqueiros dos dois. Esse é o grande momento de desapego do personagem.
Réquiem para um Sonho
4.3 4,4K Assista AgoraOs sonhos são os produtos de "entorpecentes naturais", é um mundo abstrato que a psicanalise até hoje tenta desvendar. Por vezes previsível e sensato, por outras, sem sentido e um tanto psicodélicos. Neles habitam nossos verdadeiros desejos e aspirações, porém, quando o "mundo real" se torna insustentável, a relação que temos com o mundo idealizado pode nos levar a um caminho de atuodestruição.
Réquiem para um sonho mexe com a nossa vulnerabilidade, com nossos conceitos de estabilidade. Nos assusta pois, percebemos que escolhas erradas podem nos tirar do controle de nossas próprias vidas rapidamente. Ficamos de frente a linha tênue entre a realidade e o desequilíbrio de um mundo baseado em expectativas e illusões.
De diferentes formas os vícios regem os sonhos dos quatro personagens principais. Harry (Jared Leto) busca uma oportunidade confortável, onde possa se tornar bem sucedido aos olhos da namorada e de sua mãe, e, ao mesmo tempo, continuar usufruindo de seus vícios. Marion (Jennifer Connelly) preenche o vazio de ter tido tudo menos o carinho de seus pais apostando no projeto do namorado, mantendo sua dependência no amor dele. Marlon (Tyrone C. Love) após uma infância pobre, sonha em estar no topo para provar sua capacidade. Diferente dos outros, Sara (Ellen Bursty) é hipnotizada todos os dias pelas ondas de tv, e um acontecimento que pode permitir que ela própria seja inserida nesse mundo faz com que ela, imersa numa vida vazia de sentido, se entregue a uma meta que vai levá-la aos extremos do comportamento humano.
Com quatro ótimas atuações o filme angustia pela forma como mostra o desenrolar da história de cada um, a decadência dos sentimentos e do que seria parte da alma humana.
No final, quando cada um se posiciona de forma fetal é escancarado o teor primitivo de nossas ações e a total vulnerabilidade a qual estamos entregues nos momentos de decisões das nossas vidas.
Os vícios são mestres em nos enganar e nos apresentar um mundo perfeito e cabível as nossas vontades.