Dentre os indicados do Oscar 2018, é o meu favorito. Todo o sabor do conflito entre Christine e sua cidade, sua família, sua escola, inclusive entre Christine e ela mesma, sob o alterego Lady Bird, remetem a um paladar de déjà vu no espectador que já se alimentou dessas sensações por mais de uma vez ao longo da vida. Trata-se de uma identificação que transcende a personalidade da protagonista, se relacionando ainda mais com o contexto em que ela está inserida. Passamos muito tempo cobrando melhorias dos outros e de nós mesmos, reclamando de circunstâncias das quais sentiremos falta quando não as tivermos no futuro. É muito verdadeiro e até ousado vestir esse coming of age com um híbrido entre drama e comédia, ainda que eu preferisse uma experiência mais crua. Como trabalho parcialmente biográfico da Greta Gerwig, no entanto, não poderia ter sido diferente. Apesar da Alisson Janney ter arrebatado a estatueta de coadjuvante, meu coração permanece com a Laurie Metcalf. A projeção de afeto que essa atriz faz com o olhar é uma coisa de outro mundo. Ela encarna a guardiã que briga, que exige demais, que joga verdades secas, mas que não deixa de transparecer todo o amor que sente pela filha. Enquanto Saoirse, que some atrás da imaturidade deliciosa da protagonista, deixa claro o tempo inteiro o quanto herdou a personalidade da mãe. "Eu quero que você seja a melhor versão de si". "E se essa já for a minha melhor versão?". Nada mais a declarar por aqui.
Ainda que custe a mostrar a que veio, vai ganhando contornos de honestidade à medida que o amor entre Elio e Oliver se manifesta em tela. Não sei se foi um maior acerto do casting ou do roteiro adaptado, mas a dúvida é essencialmente a chave desse equilíbrio. Temos dois personagens que constroem uma relação forte durante um verão na Itália, com pitadas de hedonismo e um tratamento mais complexo que transcende o rótulo (ainda que político, em termos de representatividade), de gays ou heteros. São pessoas que vivem suas vidas se interessando por outras pessoas. O monólogo do pai de Elio ao final da película reforça essa ideia e é uma das coisas mais belas que você vai ver esse ano. O desfecho consegue ser ainda mais sublime e envolve o Timothée Chalamet em close up aflorando um misto quase sufocante de sentimentos contidos enquanto observa a lareira durante três minutos. Esse menino ainda vai dar muito o que falar.
Consigo enxergar nesta carta de amor de Selton algo que eu escreveria. Inserts de poesia, uma mística que ronda os personagens, os lugares que frequentam, a paisagem que os cercam; fanzines onde pensamentos encontram circunstâncias. E até certo ponto, o filme funciona bem assim. Na pincelada, na página em branco que veste a trajetória de Tony em todas as suas elipses. No entanto, tenho a sensação de que, dessa forma, a ideia caberia melhor num curta ou num média metragem. Não que o longa seja entediante, mas com um pano de fundo tão rico, e personagens tão interessantes a serem desenvolvidos, ater-se quase inteiramente à contemplação do protagonista deixa alguns espaços mortos durante a película. Fiquei com vontade de conhecer melhor Luna, Petra, Sofia, Paco... Ainda assim, uma experiência interessante. Se sairia melhor na briga pela indicação ao Oscar de Melhor Filme estrangeiro do que Bingo, eu arrisco.
É delicado avaliar filmes que ostentam figuras políticas em períodos históricos críticos. Entretanto, ao menos até o terceiro ato, que insere Churchill num metrô com civis na sequência mais dispensável da película, não notei uso exacerbado de recursos diegéticos para romantizar a trajetória do protagonista. Temos, pontualmente, composições que evocam um senso de patriotismo; uma esposa e uma datilógrafa com vida própria utilizadas, vez ou outra, para viabilizar exposições e respiros narrativos, mas nada que comprometa dramaticamente a caracterização do primeiro-ministro ou das pessoas que o rodeiam. Outro ponto de destaque é que, apesar de monstruosa, a interpretação de Gary Oldman nunca engole o filme ou o sustenta sozinha. Coadjuvantes, design de produção e, sobretudo, a cinematografia, com planos abertos em zênite, uso das luzes, e uma paleta ambivalente que transita entre tons arenosos e azuis (a incidência da guerra e da tristeza), estabelecem as condições para que a história se desenrole com fluidez. O momento mais problemático se concentra nos minutos finais
Vince Gilligan, em documentário sobre Breaking Bad, justificou parte de seu fascínio por Bryan Cranston alegando que o ator emanava uma humanidade inquestionável em suas performances, por meio de todos os trejeitos e marcas de personalidade que incorporava a Walter White, a despeito do caráter extremamente danoso do personagem. Essa afirmação foi evocada diretamente enquanto eu assistia a Trama Fantasma. Guardadas as devidas proporções, por mais repreensíveis que fossem as atitudes de Woodcock, eu não conseguia parar de sentir o mínimo de compaixão por ele. Todas as suas feridas foram afloradas através dos gestos, do tom de voz, da postura ao andar e das microexpressões faciais do Daniel Day-Lewis. Isso é algo tremendamente difícil de fazer. Lesley Manville também não fica atrás, e entrega uma coadjuvante que, apesar de deter um comportamento similar ao do irmão, dispensa sua nocividade ao revelar, aos poucos, ser a única pessoa sensata da casa. PTA fez um trabalho memorável aqui - denso, intrigante e minimalista. Só fica a sensação de ter alguns minutos sobrando.
Minha cinefilia quis o final no momento do monólogo de Alma que diz:
"Se ele não acordar disso, se não estiver aqui amanhã, não importa. Pois eu sei que ele estaria me esperando na vida após a morte, ou em algum lugar celestial seguro. Nessa vida, na próxima e na próxima. E para o que quer que aconteça na estrada que se segue a partir daqui. Só exigirá minha paciência para encontrá-lo de novo. Estar apaixonada por ele não torna a vida um grande mistério."
Tanto amor envolvido que nem dá pra mensurar. A entrega é tamanha que transborda o sofrimento dos atores pelos destinos de seus próprios personagens. Bryan foi a âncora emocional do elenco, assim como Gilligan foi a de toda a equipe. Um trabalho de 6 anos que mudou a vida de todos que estiveram envolvidos no processo, fãs, intérpretes e profissionais de bastidores. Meu mais sincero e profundo "Obrigado" a toda a família que concebeu essa obra de arte. A cada dia que passa, viro mais fã de Breaking Bad.
Saul Goodman: Vão tirar sua esposa e seus filhos da casa. A casa se foi, as contas bancárias estão bloqueadas. A foto da sua esposa já deve estar nos jornais, ao lado da sua. Quem vai dar emprego a ela?
Bob Odenkirk: Vince, na série, não evita as consequências dos atos. Quase todas as séries e filmes se esquivam das consquências, só por diversão.
Walter White: Acha que eu queria fugir? Acha que eu queria deixá-la assim? Era a ÚLTIMA coisa que eu queria!
Vince Gilligan: É comum que em qualquer drama, matem o pai de alguém, e no próximo episódio, é como se nada tivesse acontecido. A vida real não funciona assim. É importante que, nesta pequena recriação da vida, chamada Breaking Bad, se mostre a vida com realismo.
Walter White: Eu vou matar Jack e todo o seu bando, vou recuperar o que é meu e dar para os meus filhos. E aí, só aí, terá acabado.
Bob Odenkirk: Com uma direção incrível e uma espécie de ambientação sexy que é extremamente sombria, Vince faz com que as pessoas assistam esse programa. Uma história sobre pessoas que tomam más decisões e as consequências que elas causam.
Eu nunca vou me esquecer dessa cena. Da gargalhada megalomaníaca, do olhar aterrorizado da Skyler e do telefonema de socorro da Marie, ignorando toda a toca de coelho de violência e autodestruição em que Walter White colocara a família. Definitivamente, o momento mais tenso da série, lado a lado com a sequência do deserto em Ozymandias. Calafrios definem.
- apenas meros fantoches mudos pra engrandecer o personagem de Gus Fring, fillar o roteiro e deixar o Hank de molho por um tempo.
Felizmente, uma das cenas mais poéticas da série ganha corpo nos diálogos do episódio da Mosca, e os dois capítulos finais colocam nossos nervos à flor da pele para delinear um pouco da grande tragédia em que BrBa vai se converter nas próximas temporadas.
É curioso que eu tenha decidido revisitar Breaking Bad quase 5 anos após tê-la terminado, mesmo tendo considerado as primeiras temporadas monótonas. Ainda mais curioso pelo fato de eu só ter percebido agora o quanto a criação de Vince Gilligan foi milimetricamente esculpida desde o início, e que a dita monotonia vinha justamente da minha zona de conforto com um bombardeio de cliffhangers. BrBa não é isenta deles, claro, mas não precisa usá-los a todo custo. A densidade dos personagens é absurda, e nosso grau de envolvimento com aquele cotidiano fragmentado em mil pedaços já é suficiente para desejarmos saber de que jeito as coisas vão se desenrolar mais tarde. A forma como cada uma das subtramas acaba contribuindo para a trama principal é uma coisa linda de se ver. Drama, humor, tensão e camadas - tá aí uma mistura que não se vê tão bem feita hoje em dia.
Diversos problemas estruturais que incomodam bastante, a despeito, primeiramente, de o filme não se decidir se quer ser seco e naturalista, um melodrama piegas ou uma comédia de humor negro
- é a primeira vez que vejo um vilão racista (Rockwell) ser alívio cômico e também um anti-herói. Seria menos gritante se fosse uma história crua que perscruta cotidianos ambíguos e deixa as conclusões a cargo do espectador, mas o filme está constantemente tentando romantizar/aliviar condutas desprezíveis, usando recursos como as cartas do Willoughby e a trilha sonora original, que incita emoções específicas. Pra finalizar, também foi difícil de engolir a transformação de uma cena de quase agressão a uma mulher em uma piada sobre a burrice de outra mulher.
Ainda assim, 'Três Anúncios' tem seu lado positivo. A premissa é ousada, as atuações são muito boas, a trama consegue chacoalhar o espectador e terminar no momento certo.
Nunca senti tanta raiva de personagens fictícios como nesse filme, provavelmente porque de fictícios não têm nada. São atentados psicológicos desumanos com a protagonista, daqueles que presenciamos a todo o tempo com indivíduos do grupo LGBT. Uma obra contemporânea, real, sensível, e extremamente necessária. Daniela Vega está assombrosa em cena, senti toda a força de Marina nos olhares da atriz!
- Eu nunca lutaria pra que alguém me amasse, mesmo que eu a amasse profundamente. Você não deve forçar nada. - Há alguns meses atrás, eu achava que o meu amor iria durar pra sempre. E ainda que pense que vou amá-la pra sempre, agora é diferente. - Sei onde você está querendo chegar... Coração e alma. Mas olho pra mim mesmo agora e penso: Ok, vou ficar sozinho pelo resto da minha vida, e estou bem com isso. - Isso me aterroriza. - Costumava me aterrorizar também, mas agora me aterroriza fato de não me aterrorizar mais. - Eu não iria querer isso. - Nossos maiores sonhos não são sobre pessoas, mas sobre trabalhar por algo. Uma pessoa só infla nosso ego. Essa é a verdade. - Isso é tão... - Você apenas não entende certas coisas. Uma certa dose de ansiedade é normal, aquele sentimento de que certas coisas apenas não se somam. - Pode ser que demore alguns anos pra eu entender tudo isso, mas obrigado.
Um conjunto de situações e diálogos fofos que seriam perfeitamente operantes caso isolados. No entanto, na tentativa de dar conta de tudo - relações familiares, passado e futuro dos personagens, contexto histórico-cultural, empoderamento feminino, amadurecimento e crise de meia idade - Mills acaba forjando uma sequência de cenas montadas à esmo. A premissa também não faz muito sentido, com uma mãe de que pede ajuda a duas meninas beirando à adolescência para criar seu filho, para que ele se torne um bom homem (?). Mas pela beleza das interpretações e da construção de alguns arcos, vale a conferida. O melhor do filme é a Greta Gerwig.
Derrapa nas questões de representatividade e representação feminina, mas ainda assim, demonstra um amadurecimento de Sheridan, agora como diretor e roteirista. Se em Sicario a tensão aguda era calcada por circunstâncias redundantes e caracteres unidimensionais, aqui ela é impulsionada pela sensibilidade lancinante do roteiro ao tratar dos dramas íntimos de cada personagem, repetindo um pouco do que foi muito bem lapidado em A Qualquer Custo. Terra Selvagem pode até falhar em parecer militante a favor das nativas americanas, mas acerta em abrir uma janela para isso através da ótica de um protagonista que sobrevive no meio da violência. Uma experiência indigesta e realista sobre dor, perda, desigualdade social, falta de amparo, as mazelas do isolamento e o que de mais cruel ele traz à tona nos seres humanos.
Começou bem xoxo, amador, com alguns participantes bem calados e sem muito carisma. Mas no final, foi a única temporada desses realities de casal da MTV em que eu senti que as pessoas saíram do programa cultivando um carinho legítimo umas pelas outras, além de um aprendizado sobre olhar mais atentamente quem está do nosso lado. Gostei demais.
É muito triste ver a mulherada se matando pra manter um macho e os caras tacando o foda-se pra elas. Na segunda temporada, todo mundo já tinha mais ou menos consciência que ninguém era de ninguém.
O que mais me surpeendeu aqui, no entanto, foi a presença da Kerolayne ter me feito gostar alguma coisa da Gabi Prado. P.S.: André, prêmio de mais escroto do rolê, parabains.
A única coisa que deixou a desejar foi a dedução/verbalização do Zach para o Charlie de suas suspeitas sobre a morte do Whitcomb. Poderíamos ter desconfiado de Josh através da paranoia silenciosa do protagonista, deixaria as coisas mais dúbias.
Esse foi o meu primeiro dos irmãos Safdie e eu não poderia estar mais atônito. Na subida dos créditos, já havia posto de lado as conveniências de roteiro pra terminar de absorver a descarga de adrenalina que recebi. Esperava um filme completamente diferente e ainda assim, gostei bastante do resultado - só queria ver mais e mais da relação entre Connie e Nick. Falar de Pattinson aqui é chover no molhado.
O primeiro ato é promissor. Personagens bem apresentados, clima gradualmente estabelecido, investimentos assertivos em zoom in e zoom out pra criar tensão... E aí, o filme perde a cadência e entra numa espiral de repetições, com os efeitos sonoros tentando induzir a um nível de angústia que ainda não se manifestou no filme. Mas há méritos. Embora tenha faltado um pouco mais de espaço para o Sunny Suljic, todo o elenco tá incrível aqui - o Kheogan é medonho por natureza. O desfecho enigmático em contra plongèe e música clássica deixa um gostinho de quero mais. No saldo, meu preferido do Lanthimos segue sendo The Lobster.
Comparados aos autoconscientes "Dente Canino" e "O Lagosta", "Alpes" é um ponto fora da curva. Aqui, ainda que tenha em mãos uma boa premissa, Lanthimos parece perdido, não sabendo usar a bizarrice para costurar a narrativa sem que ela pareça um conjunto de colagens aleatórias. Tem alguns pontos de questionamento e desenvolvimentos interessantes, como a construção de personagens super caricatos que encontram maneiras grotescamente reais de transmitir humanidade. Faltou, contudo, um norte, um contexto bem sedimentado e coesão com o restante do enredo.
Premissa que respira melancolia, humanidade e introspecção. Uma pena, no entanto, que Kogonada imponha uma barreira entre o espectador e os personagens ao adotar uma preocupação excessiva com a fotografia e a imponência das locações. Entendo onde ele quis chegar com isso, mas confesso que acabou me distanciando um pouco do filme.
Vermelho Russo é essencialmente o processo, o caminho que Braun percorre para falar de várias coisas, conseguindo ser pertinente em cada uma delas - um diário de viagem, um guia turístico, um conjunto de registros de memória, recortes de uma amizade... Isso é o mais difícil. A fluidez e a gostosura de assistir a isso tudo compensa um pouco da amargura do final que destituiu da personagem de Manoella grande parte da empatia do espectador. Por um momento, prevaleceu certo maniqueísmo entre as personagens que não combinou em nada com a proposta do filme. Em vez de focar no final, fico com o processo. Uma pequena joia de 2017.
Lady Bird: A Hora de Voar
3.8 2,1K Assista AgoraDentre os indicados do Oscar 2018, é o meu favorito. Todo o sabor do conflito entre Christine e sua cidade, sua família, sua escola, inclusive entre Christine e ela mesma, sob o alterego Lady Bird, remetem a um paladar de déjà vu no espectador que já se alimentou dessas sensações por mais de uma vez ao longo da vida. Trata-se de uma identificação que transcende a personalidade da protagonista, se relacionando ainda mais com o contexto em que ela está inserida. Passamos muito tempo cobrando melhorias dos outros e de nós mesmos, reclamando de circunstâncias das quais sentiremos falta quando não as tivermos no futuro. É muito verdadeiro e até ousado vestir esse coming of age com um híbrido entre drama e comédia, ainda que eu preferisse uma experiência mais crua. Como trabalho parcialmente biográfico da Greta Gerwig, no entanto, não poderia ter sido diferente. Apesar da Alisson Janney ter arrebatado a estatueta de coadjuvante, meu coração permanece com a Laurie Metcalf. A projeção de afeto que essa atriz faz com o olhar é uma coisa de outro mundo. Ela encarna a guardiã que briga, que exige demais, que joga verdades secas, mas que não deixa de transparecer todo o amor que sente pela filha. Enquanto Saoirse, que some atrás da imaturidade deliciosa da protagonista, deixa claro o tempo inteiro o quanto herdou a personalidade da mãe. "Eu quero que você seja a melhor versão de si". "E se essa já for a minha melhor versão?". Nada mais a declarar por aqui.
Me Chame Pelo Seu Nome
4.1 2,6K Assista AgoraAinda que custe a mostrar a que veio, vai ganhando contornos de honestidade à medida que o amor entre Elio e Oliver se manifesta em tela. Não sei se foi um maior acerto do casting ou do roteiro adaptado, mas a dúvida é essencialmente a chave desse equilíbrio. Temos dois personagens que constroem uma relação forte durante um verão na Itália, com pitadas de hedonismo e um tratamento mais complexo que transcende o rótulo (ainda que político, em termos de representatividade), de gays ou heteros. São pessoas que vivem suas vidas se interessando por outras pessoas. O monólogo do pai de Elio ao final da película reforça essa ideia e é uma das coisas mais belas que você vai ver esse ano. O desfecho consegue ser ainda mais sublime e envolve o Timothée Chalamet em close up aflorando um misto quase sufocante de sentimentos contidos enquanto observa a lareira durante três minutos. Esse menino ainda vai dar muito o que falar.
O Filme da Minha Vida
3.6 500 Assista AgoraConsigo enxergar nesta carta de amor de Selton algo que eu escreveria. Inserts de poesia, uma mística que ronda os personagens, os lugares que frequentam, a paisagem que os cercam; fanzines onde pensamentos encontram circunstâncias. E até certo ponto, o filme funciona bem assim. Na pincelada, na página em branco que veste a trajetória de Tony em todas as suas elipses. No entanto, tenho a sensação de que, dessa forma, a ideia caberia melhor num curta ou num média metragem. Não que o longa seja entediante, mas com um pano de fundo tão rico, e personagens tão interessantes a serem desenvolvidos, ater-se quase inteiramente à contemplação do protagonista deixa alguns espaços mortos durante a película. Fiquei com vontade de conhecer melhor Luna, Petra, Sofia, Paco... Ainda assim, uma experiência interessante. Se sairia melhor na briga pela indicação ao Oscar de Melhor Filme estrangeiro do que Bingo, eu arrisco.
O Destino de Uma Nação
3.7 723 Assista AgoraÉ delicado avaliar filmes que ostentam figuras políticas em períodos históricos críticos. Entretanto, ao menos até o terceiro ato, que insere Churchill num metrô com civis na sequência mais dispensável da película, não notei uso exacerbado de recursos diegéticos para romantizar a trajetória do protagonista. Temos, pontualmente, composições que evocam um senso de patriotismo; uma esposa e uma datilógrafa com vida própria utilizadas, vez ou outra, para viabilizar exposições e respiros narrativos, mas nada que comprometa dramaticamente a caracterização do primeiro-ministro ou das pessoas que o rodeiam. Outro ponto de destaque é que, apesar de monstruosa, a interpretação de Gary Oldman nunca engole o filme ou o sustenta sozinha. Coadjuvantes, design de produção e, sobretudo, a cinematografia, com planos abertos em zênite, uso das luzes, e uma paleta ambivalente que transita entre tons arenosos e azuis (a incidência da guerra e da tristeza), estabelecem as condições para que a história se desenrole com fluidez. O momento mais problemático se concentra nos minutos finais
- alguém comprou a mudança repentina de ideia por todo o Parlamento? Deveria ter levado mais tempo pra aquilo acontecer.
Trama Fantasma
3.7 804 Assista AgoraVince Gilligan, em documentário sobre Breaking Bad, justificou parte de seu fascínio por Bryan Cranston alegando que o ator emanava uma humanidade inquestionável em suas performances, por meio de todos os trejeitos e marcas de personalidade que incorporava a Walter White, a despeito do caráter extremamente danoso do personagem. Essa afirmação foi evocada diretamente enquanto eu assistia a Trama Fantasma. Guardadas as devidas proporções, por mais repreensíveis que fossem as atitudes de Woodcock, eu não conseguia parar de sentir o mínimo de compaixão por ele. Todas as suas feridas foram afloradas através dos gestos, do tom de voz, da postura ao andar e das microexpressões faciais do Daniel Day-Lewis. Isso é algo tremendamente difícil de fazer. Lesley Manville também não fica atrás, e entrega uma coadjuvante que, apesar de deter um comportamento similar ao do irmão, dispensa sua nocividade ao revelar, aos poucos, ser a única pessoa sensata da casa. PTA fez um trabalho memorável aqui - denso, intrigante e minimalista. Só fica a sensação de ter alguns minutos sobrando.
Minha cinefilia quis o final no momento do monólogo de Alma que diz:
"Se ele não acordar disso, se não estiver aqui amanhã, não importa. Pois eu sei que ele estaria me esperando na vida após a morte, ou em algum lugar celestial seguro. Nessa vida, na próxima e na próxima. E para o que quer que aconteça na estrada que se segue a partir daqui. Só exigirá minha paciência para encontrá-lo de novo. Estar apaixonada por ele não torna a vida um grande mistério."
Eles se olham. Ela sorri. Cut to black.
No Half Measures: Creating the Final Season of Breaking Bad
4.5 9Tanto amor envolvido que nem dá pra mensurar. A entrega é tamanha que transborda o sofrimento dos atores pelos destinos de seus próprios personagens. Bryan foi a âncora emocional do elenco, assim como Gilligan foi a de toda a equipe. Um trabalho de 6 anos que mudou a vida de todos que estiveram envolvidos no processo, fãs, intérpretes e profissionais de bastidores. Meu mais sincero e profundo "Obrigado" a toda a família que concebeu essa obra de arte. A cada dia que passa, viro mais fã de Breaking Bad.
Saul Goodman: Vão tirar sua esposa e seus filhos da casa. A casa se foi, as contas bancárias estão bloqueadas. A foto da sua esposa já deve estar nos jornais, ao lado da sua. Quem vai dar emprego a ela?
Bob Odenkirk: Vince, na série, não evita as consequências dos atos. Quase todas as séries e filmes se esquivam das consquências, só por diversão.
Walter White: Acha que eu queria fugir? Acha que eu queria deixá-la assim? Era a ÚLTIMA coisa que eu queria!
Vince Gilligan: É comum que em qualquer drama, matem o pai de alguém, e no próximo episódio, é como se nada tivesse acontecido. A vida real não funciona assim. É importante que, nesta pequena recriação da vida, chamada Breaking Bad, se mostre a vida com realismo.
Walter White: Eu vou matar Jack e todo o seu bando, vou recuperar o que é meu e dar para os meus filhos. E aí, só aí, terá acabado.
Bob Odenkirk: Com uma direção incrível e uma espécie de ambientação sexy que é extremamente sombria, Vince faz com que as pessoas assistam esse programa. Uma história sobre pessoas que tomam más decisões e as consequências que elas causam.
Breaking Bad (5ª Temporada)
4.8 3,0K Assista AgoraComo restaurar o psicológico massacrado por Vince Gilligan, Google pesquisar.
I guess I got what I deserve... ♫
Breaking Bad (4ª Temporada)
4.7 1,2K Assista Agora[4x11] Crawl Space:
"WHERE'S THE MONEY?"
Eu nunca vou me esquecer dessa cena. Da gargalhada megalomaníaca, do olhar aterrorizado da Skyler e do telefonema de socorro da Marie, ignorando toda a toca de coelho de violência e autodestruição em que Walter White colocara a família. Definitivamente, o momento mais tenso da série, lado a lado com a sequência do deserto em Ozymandias. Calafrios definem.
Breaking Bad (3ª Temporada)
4.6 840Senti falta da construção de arcos decentes pra os primos Salamanca. Achei um pouco patética a forma como eles foram tratados aqui
- apenas meros fantoches mudos pra engrandecer o personagem de Gus Fring, fillar o roteiro e deixar o Hank de molho por um tempo.
Breaking Bad (1ª Temporada)
4.5 1,4K Assista AgoraÉ curioso que eu tenha decidido revisitar Breaking Bad quase 5 anos após tê-la terminado, mesmo tendo considerado as primeiras temporadas monótonas. Ainda mais curioso pelo fato de eu só ter percebido agora o quanto a criação de Vince Gilligan foi milimetricamente esculpida desde o início, e que a dita monotonia vinha justamente da minha zona de conforto com um bombardeio de cliffhangers. BrBa não é isenta deles, claro, mas não precisa usá-los a todo custo. A densidade dos personagens é absurda, e nosso grau de envolvimento com aquele cotidiano fragmentado em mil pedaços já é suficiente para desejarmos saber de que jeito as coisas vão se desenrolar mais tarde. A forma como cada uma das subtramas acaba contribuindo para a trama principal é uma coisa linda de se ver. Drama, humor, tensão e camadas - tá aí uma mistura que não se vê tão bem feita hoje em dia.
Três Anúncios Para um Crime
4.2 2,0K Assista AgoraDiversos problemas estruturais que incomodam bastante, a despeito, primeiramente, de o filme não se decidir se quer ser seco e naturalista, um melodrama piegas ou uma comédia de humor negro
- é a primeira vez que vejo um vilão racista (Rockwell) ser alívio cômico e também um anti-herói. Seria menos gritante se fosse uma história crua que perscruta cotidianos ambíguos e deixa as conclusões a cargo do espectador, mas o filme está constantemente tentando romantizar/aliviar condutas desprezíveis, usando recursos como as cartas do Willoughby e a trilha sonora original, que incita emoções específicas. Pra finalizar, também foi difícil de engolir a transformação de uma cena de quase agressão a uma mulher em uma piada sobre a burrice de outra mulher.
Uma Mulher Fantástica
4.1 422 Assista AgoraNunca senti tanta raiva de personagens fictícios como nesse filme, provavelmente porque de fictícios não têm nada. São atentados psicológicos desumanos com a protagonista, daqueles que presenciamos a todo o tempo com indivíduos do grupo LGBT. Uma obra contemporânea, real, sensível, e extremamente necessária. Daniela Vega está assombrosa em cena, senti toda a força de Marina nos olhares da atriz!
Todas Essas Noites Sem Dormir
3.5 15- Eu nunca lutaria pra que alguém me amasse, mesmo que eu a amasse profundamente. Você não deve forçar nada.
- Há alguns meses atrás, eu achava que o meu amor iria durar pra sempre. E ainda que pense que vou amá-la pra sempre, agora é diferente.
- Sei onde você está querendo chegar... Coração e alma. Mas olho pra mim mesmo agora e penso: Ok, vou ficar sozinho pelo resto da minha vida, e estou bem com isso.
- Isso me aterroriza.
- Costumava me aterrorizar também, mas agora me aterroriza fato de não me aterrorizar mais.
- Eu não iria querer isso.
- Nossos maiores sonhos não são sobre pessoas, mas sobre trabalhar por algo. Uma pessoa só infla nosso ego. Essa é a verdade.
- Isso é tão...
- Você apenas não entende certas coisas. Uma certa dose de ansiedade é normal, aquele sentimento de que certas coisas apenas não se somam.
- Pode ser que demore alguns anos pra eu entender tudo isso, mas obrigado.
Mulheres do Século XX
4.0 415 Assista AgoraUm conjunto de situações e diálogos fofos que seriam perfeitamente operantes caso isolados. No entanto, na tentativa de dar conta de tudo - relações familiares, passado e futuro dos personagens, contexto histórico-cultural, empoderamento feminino, amadurecimento e crise de meia idade - Mills acaba forjando uma sequência de cenas montadas à esmo. A premissa também não faz muito sentido, com uma mãe de que pede ajuda a duas meninas beirando à adolescência para criar seu filho, para que ele se torne um bom homem (?). Mas pela beleza das interpretações e da construção de alguns arcos, vale a conferida. O melhor do filme é a Greta Gerwig.
Terra Selvagem
3.8 594 Assista AgoraDerrapa nas questões de representatividade e representação feminina, mas ainda assim, demonstra um amadurecimento de Sheridan, agora como diretor e roteirista. Se em Sicario a tensão aguda era calcada por circunstâncias redundantes e caracteres unidimensionais, aqui ela é impulsionada pela sensibilidade lancinante do roteiro ao tratar dos dramas íntimos de cada personagem, repetindo um pouco do que foi muito bem lapidado em A Qualquer Custo. Terra Selvagem pode até falhar em parecer militante a favor das nativas americanas, mas acerta em abrir uma janela para isso através da ótica de um protagonista que sobrevive no meio da violência. Uma experiência indigesta e realista sobre dor, perda, desigualdade social, falta de amparo, as mazelas do isolamento e o que de mais cruel ele traz à tona nos seres humanos.
Are You The One? Brasil (2ª temporada)
3.2 11Começou bem xoxo, amador, com alguns participantes bem calados e sem muito carisma. Mas no final, foi a única temporada desses realities de casal da MTV em que eu senti que as pessoas saíram do programa cultivando um carinho legítimo umas pelas outras, além de um aprendizado sobre olhar mais atentamente quem está do nosso lado. Gostei demais.
De Férias Com o Ex Brasil (1ª Temporada)
3.4 31É muito triste ver a mulherada se matando pra manter um macho e os caras tacando o foda-se pra elas. Na segunda temporada, todo mundo já tinha mais ou menos consciência que ninguém era de ninguém.
O que mais me surpeendeu aqui, no entanto, foi a presença da Kerolayne ter me feito gostar alguma coisa da Gabi Prado. P.S.: André, prêmio de mais escroto do rolê, parabains.
Tempos Obscuros
3.3 266Tô estatelado no sofá. Uma puta aula de cinema, e por um estreante! Me surpreende muito não ter visto esse filme em nenhuma lista de melhores do ano.
A única coisa que deixou a desejar foi a dedução/verbalização do Zach para o Charlie de suas suspeitas sobre a morte do Whitcomb. Poderíamos ter desconfiado de Josh através da paranoia silenciosa do protagonista, deixaria as coisas mais dúbias.
De Férias Com o Ex Brasil (2ª Temporada)
3.2 23Resumindo: ninguém presta
(e eu aqui assistindo)
Bom Comportamento
3.8 392Esse foi o meu primeiro dos irmãos Safdie e eu não poderia estar mais atônito. Na subida dos créditos, já havia posto de lado as conveniências de roteiro pra terminar de absorver a descarga de adrenalina que recebi. Esperava um filme completamente diferente e ainda assim, gostei bastante do resultado - só queria ver mais e mais da relação entre Connie e Nick. Falar de Pattinson aqui é chover no molhado.
"Cross the room if you've ever not gotten along with your family members sometimes.
Cross the room if you have a friend."
O Sacrifício do Cervo Sagrado
3.7 1,2K Assista AgoraO primeiro ato é promissor. Personagens bem apresentados, clima gradualmente estabelecido, investimentos assertivos em zoom in e zoom out pra criar tensão... E aí, o filme perde a cadência e entra numa espiral de repetições, com os efeitos sonoros tentando induzir a um nível de angústia que ainda não se manifestou no filme. Mas há méritos. Embora tenha faltado um pouco mais de espaço para o Sunny Suljic, todo o elenco tá incrível aqui - o Kheogan é medonho por natureza. O desfecho enigmático em contra plongèe e música clássica deixa um gostinho de quero mais. No saldo, meu preferido do Lanthimos segue sendo The Lobster.
Alpes
3.5 89 Assista AgoraComparados aos autoconscientes "Dente Canino" e "O Lagosta", "Alpes" é um ponto fora da curva. Aqui, ainda que tenha em mãos uma boa premissa, Lanthimos parece perdido, não sabendo usar a bizarrice para costurar a narrativa sem que ela pareça um conjunto de colagens aleatórias. Tem alguns pontos de questionamento e desenvolvimentos interessantes, como a construção de personagens super caricatos que encontram maneiras grotescamente reais de transmitir humanidade. Faltou, contudo, um norte, um contexto bem sedimentado e coesão com o restante do enredo.
Columbus
3.8 129Premissa que respira melancolia, humanidade e introspecção. Uma pena, no entanto, que Kogonada imponha uma barreira entre o espectador e os personagens ao adotar uma preocupação excessiva com a fotografia e a imponência das locações. Entendo onde ele quis chegar com isso, mas confesso que acabou me distanciando um pouco do filme.
Vermelho Russo
3.5 42Vermelho Russo é essencialmente o processo, o caminho que Braun percorre para falar de várias coisas, conseguindo ser pertinente em cada uma delas - um diário de viagem, um guia turístico, um conjunto de registros de memória, recortes de uma amizade... Isso é o mais difícil. A fluidez e a gostosura de assistir a isso tudo compensa um pouco da amargura do final que destituiu da personagem de Manoella grande parte da empatia do espectador. Por um momento, prevaleceu certo maniqueísmo entre as personagens que não combinou em nada com a proposta do filme. Em vez de focar no final, fico com o processo. Uma pequena joia de 2017.