Comédia romântica em tom de fantasia que fez enorme e inesperado sucesso de público nos cinemas na época, em 1987, e depois foi muito reprisado na TV aberta. Teve até uma continuação, ‘Manequim: A magia do amor’ (1991), com história semelhante, mas outro elenco e direção. Esse conto de fadas urbano, moderno e gracioso, conquista o público ainda hoje, e foi levemente inspirado na clássica comédia musical com Ava Gardner ‘A deusa do amor’ (1948), sobre uma estátua que cria vida depois de receber um beijo de um vitrinista de uma loja. Andrew McCarthy, de ‘A garota de rosa shocking’ (1986), e Kim Cattrall, da série ‘Sex and the city’ (1998-2004), estavam no auge da carreira e fazem um belo par – ele, um rapaz de carne e osso, que adora andar de moto, e ela, a manequim que cria vida e tem um romance inusitado com o garotão, saindo em altas aventuras pelas ruas da Filadélfia. O elenco de apoio é bacana, com nomes como a veterana Estelle Getty, o novato James Spader e os comediantes G.W. Bailey e Meshach Taylor (que faz piadas bem engraçadas). A música ‘Nothing's gonna stop us now’, de Jefferson Starship, recebeu indicação ao Oscar, Grammy e Globo de Ouro de melhor canção, a primeira nomeação da compositora Diane Warren, hoje campeã de indicações, com 15 ao todo - ela nunca ganhou nenhum, por incrível que pareça. A canção aparece nos créditos finais e retorna no filme dois. Outra música composta exclusivamente para o longa é a de abertura, toda em desenho animado, ‘In my wildest dreams’, de Belinda Carlisle. Foi o melhor trabalho do falecido diretor Michael Gottlieb, que fez somente mais três filmes, dentre eles ‘O senhor babá’ (1993) - Gottlieb também foi roteirista aqui e dos outros trabalhos da carreira. Saiu há poucos meses em DVD na coleção ‘Manequim’, juntamente com a continuação, ‘Manequim: A magia do amor’ (1991). POR FELIPE BRIDA - BLOG CINEMA NA WEB
É incrível como tem filmes bons escondidos no catálogo da Netflix. Esse, por exemplo, assisti quando foi lançado lá em setembro de 2022, e essa semana revi com muita satisfação. Que filme bonito, delicado, com dois ótimos atores (desconhecidos), que esbanjam talento e carisma – os dois são PCDs, a atriz Ruth Madeleye é cadeirante, fez séries no Reino Unido, e Arthur Hughes, também ator de seriados e novelas no Reino Unido, tem deficiência nas mãos, braços e pernas. Eles interpretam os reais ativistas Barbara Lisicki e Alan Holdsworth, que eram artistas de rua e lideraram enormes manifestações na Grã-Bretanha entre 1989 e 1993 em busca de seus direitos e dos direitos de toda a comunidade com deficiência física, motora e intelectual. O filme é muito curto, tem apenas 67 minutos, parece um episódio de série, e recomendo todos assistirem. Enquanto os atores contracenam para contar essa história de superação e luta, há reportagens da época entrelaçadas no filme, com narração da atriz principal Roteiro de Jack Thorne, roteirista colaborador de vários filmes, como ‘Extraordinário’ (2017), ‘Enola Holmes’ (2020) e ‘As nadadoras’ (2022). O filme foi produzido e distribuído pela BBC no Reino Unido; depois, em parceria com a Netflix, a BBC distribuiu o longa no restante do mundo.
Vigoroso filme policial com Charles Bronson, que foi o rosto do cinema de ação dos anos 70, aqui repetindo o papel de um investigador durão, disposto a ir até o fim para resolver os casos que caem em suas mãos. Realizado no auge da Nova Hollywood, durante as grandes transformações nas produções do cinema americano, que propunha um viés mais autoral nas obras, esse thriller violento com boas cenas de ação é um prato cheio para os fãs de cinema policial e do ator Charles Bronson – em mais uma parceria com o diretor inglês Michael Winner; juntos fizeram o faroeste ‘Renegado vingador’ (1972), o notórios filme de ação que ganhou remake ‘Assassino a preço fixo’ (1972) e a retumbante trilogia ‘Deseja de matar’, um clássico absoluto, rodada entre 1974 e 1985. O vencedor do Oscar Martin Balsam interpreta o vilão, o chefe da máfia siciliana, perseguido pelo detetive que quer desmantelar sua quadrilha. Baseado no livro de John Gardner, com roteiro de Gerard Wilson, roteirista de outros filmes de Winner, como ‘Mato em nome da lei’ (1971) e um de meus preferidos, ‘Scorpio’ (1973). Em DVD, disponível no box ‘Cinema Policial – vol. 8’, da Versátil Home Video, caixa que reúne três bons clássicos do gênero, ‘Os 26 do expresso postal’ (1967), ‘O golpe de John Anderson’ (1971) e ‘Duas ovelhas negras’ (1974).
Um dos suspenses mais instigantes dos anos 80, um thriller angustiante com pitadas de horror em que Mary Steenburgen, vencedora do Oscar, interpreta três personagens – ao longo do filme descobre-se o motivo. O veterano diretor Arthur Penn, três vezes indicado ao Oscar, de ‘Bonnie e Clyde – Uma rajada de balas’ (1967), ‘Pequeno grande homem’ (1970) e ‘Um lance no escuro’ (1975), caprichou na trama complexa, que vai se tornando uma fita diabólica, envolvendo assassinato, ocultação de cadáver, herança etc Mary está bem, carismática e fotogênica como de praxe, Roddy McDowall e Jan Rubes são dois bons vilões de peso dispostos a tudo nesse filme com viés de terror psicológico levado às últimas consequências. Imprevisível, o filme se passa integralmente num casarão isolado na neve, e parece uma peça de teatro, com poucos atores em cena e o mínimo de cenários. O diretor de fotografia inventa enquadramentos inusitados, por cima, por baixo, de lado, e até nisso o filme é criativo. Levemente inspirado em um romance de Anthony Gilbert, conta com uma fotografia sofisticada de interiores de Jan Weincke, de ‘Zappa’ (1983). Não confundir com a fita policial de espionagem com humor de mesmo título em português, com Jeff Bridges e John Huston, de 1979. Saiu em DVD no box ‘Obras-primas do terror: Anos 80 - Vol. 3’, pela Versátil Home Video, juntamente com os longas ‘O mensageiro de satanás’ (1981), ‘O enigma do mal’ (1982), ‘Especiais efeitos’ (1984), ‘Tudo por uma verdade’ (1984) e ‘Sem face’ (1988).
Fita independente de suspense com terror pouco conhecida do público, que virou cult com o passar do tempo. Bebe na fonte do cinema de Brian De Palma, em especial traz elementos e clima de ‘Um tiro na noite’ (1981) e ‘Dublê de corpo’ (1984 – lançado dois meses antes de ‘Especiais efeitos’). O diretor e roteirista Larry Cohen vinha de uma carreira consolidada no cinema policial com terror, fez o bizarro e nojento ‘Nasce um monstro’ (1974), o estranhíssimo e apocalíptico ‘Foi Deus quem mandou’ (1976), a fantasia com monstros ‘Q – A serpente alada’ (1982) e o terror escatológico inúmeras vezes exibido na TV ‘A coisa’ (1985), e aqui rodou um curioso filme independente metalinguístico, sobre a produção de cinema, um filme dentro de outro, utilizando um assassinato real como pano de fundo. É a história de um diretor decadente que mata a atriz de seus filmes e depois procura uma mulher que se pareça com a vítima para refazer o crime na frente das câmeras. Com o desenrolar dos dias, o sádico cineasta vai perdendo a sanidade. A ideia central do filme de Cohen é discutir os ‘Video nasties’, aqueles com crimes reais que ganhavam força na época, e também tratar dos artifícios do cinema, como a montagem de um filme e as inspirações de um diretor. Marcou a estreia do ator Eric Bogosian, de ‘Talk radio – Verdades que matam’ (1988), e foi o segundo filme da atriz Zoë Lund (1962-1999), que enfrentou problemas com as drogas e virou musa do cineasta Abel Ferrara, trabalhando com ele como protagonista nos violentos ‘Sedução e vingança’ (1981) e ‘Vício frenético’ (1992). A fotografia faz as cores explodirem na tela, numa mistura de pop art com psicodelismo, feita pelo diretor de fotografia Paul Glickman, parceiro de Larry Cohen em vários filmes. Filme em ótima cópia, disponível em DVD no box ‘Obras-primas do terror: Anos 80 - Vol. 3’, da Versátil Home Video, numa caixa contendo os longas ‘O mensageiro de satanás’ (1981), ‘O enigma do mal’ (1982), ‘Tudo por uma verdade’ (1984), ‘Morte no inverno’ (1987) e ‘Sem face’ (1988).
Releitura do clássico filme de terror “Os olhos sem rosto” (1960), com muita violência, crimes brutais, sangue e erotismo, dirigido pelo mestre do cinema exploitation Jesús Franco, que também assinava como Jess Franco – nascido na Espanha, escreveu, dirigiu e produziu mais de 130 filmes na Espanha, Itália e França, como ‘O terrível Dr. Orloff’ (1962 – e várias continuações de ‘Dr. Orloff’), ‘O diabólico Dr. Z’ (1967), ‘Ela matou em êxtase’ (1971) e ‘Lua sangrenta’ (1981). ‘Sem face’ é um eurotrash com uma história tensa e cheia de mistério, sobre um cirurgião plástico cujos procedimentos estéticos não são nem um pouco ortodoxos. Mulheres começam a desaparecer em Paris ao passarem pela clínica dele, e a polícia inicia uma exaustiva investigação, partindo da clínica do médico até boates e outros points da noite parisiense. Helmut Berger, Telly Savallas, Christopher Mitchum (filho do veterano Robert Mitchum), Stéphane Audran, Caroline Munro e Brigitte Lahaie são alguns nomes conhecidos que aparecem no filme. Cuidado com a classificação indicativa, devido às cenas fortes – duas delas causam impacto, como a da injeção no olho e uma decapitação horrenda. Filme em ótima cópia, disponível em DVD no box ‘Obras-primas do terror: Anos 80 - Vol. 3’, da Versátil Home Video, caixa contendo os longas-metragens ‘O mensageiro de satanás’ (1981), ‘O enigma do mal’ (1982), ‘Tudo por uma verdade’ (1984), ‘Especiais efeitos’ (1984) e ‘Morte no inverno’ (1987).
Do começo ao fim, ‘O mensageiro de satanás’ é um filme assustador, com cenas macabras de assassinato, ambientado nos porões escuros de uma academia militar que mais parece uma igreja medieval decadente. A fotografia enegrecida dá o tom funesto desse terror oitentista original e de classificação indicativa 18 anos – no Reino Unido, por exemplo, foi banido, taxado de ‘Video nasty’. Clint Howard, de ‘Um sonho distante’ (1992), é um rosto coadjuvante conhecido, começou a carreira como ator mirim, aos cinco anos de idade, participou de mais de 200 longas e aqui é o protagonista, um cadete da academia militar que invoca o diabo por meio de um computador para acabar com seus colegas que fazem bullying com ele – os estudantes da academia militar batem nele, jogam-no ao chão, fazem piadas por ser gordinho e ter bochechas grandes. Quando invoca o diabo pelo computador, a máquina pede ‘sangue humano’, o que levará o jovem a matar todos para saciar a sede monstruosa do equipamento eletrônico. Lançado em 1981, já se discutia o perigo do uso indevido do computador – na época as máquinas eram de propriedade dos militares e dos governos, para estratégias de guerra, e só anos depois viriam a ser de uso doméstico. Prepare-se para um filme forte, de violência brutal, com direito a uma chacina no final com várias cabeças sendo decapitadas. Co-estrelam o veterano R.G. Armstrong, de ‘O predador’ (1987), Joe Cortese, de ‘A outra história americana’ (1998), Don Stark, de ‘Peggy Sue, seu passado a espera’ (1986), e Claude Earl Jones, de ‘Miracle Mile’ (1988). Estreia na direção de Eric Weston, que escreveu o roteiro, e depois dirigiria ‘Marvin e Tige - Todo mundo precisa de alguém’ (1983) e ‘Triângulo de ferro’ (1989). Filme em ótima cópia, disponível em DVD no box ‘Obras-primas do terror: Anos 80 - Vol. 3’, da Versátil Home Video, caixa contendo os filmes ‘O enigma do mal’ (1982), ‘Especiais efeitos’ (1984), ‘Tudo por uma verdade’ (1984), ‘Morte no inverno’ (1987) e ‘Sem face’ (1988). Aqui nos é apresentada a versão com cortes, de 92 minutos, em vez da original de cinema com cinco minutos a mais. POR FELIPE BRIDA - BLOG CINEMA NA WEB
Faroeste classe A empolgante e inusitado, com assinatura da Malpaso, produtora de Clint Eastwood, que realizou praticamente todos os filmes do ator/diretor entre os anos de 1960 e 2010. Eastwood repete o papel do pistoleiro solitário e caladão, mortífero no gatilho, com um figurino semelhante ao da ‘Trilogia do Dólar’. Com olhar sagaz e desconfiado, ele atira sem piedade, joga dinamites e está disposto a eliminar um quartel inteiro para apreender cargas de ouro roubada do povo mexicano. Mas ao seu lado estará uma figura ilustre, uma freira que ele salvou do estupro no deserto – papel brilhante de Shirley MacLaine, de ‘Se meu apartamento falasse’ (1960), no auge da carreira. Uma dupla improvável, que não se dá bem, e que ao longo da história será balançada por surpresas. O contexto do filme é o México do reinado do imperador Maximiliano, entre os anos de 1864 e 1867, quando forças francesas invadiram e ocuparam áreas do México. A história se passa ali, no meio do calor do deserto e das armadilhas selvagens dos foras-da-lei. A fotografia ensolarada de Gabriel Figueroa e a direção de arte condizem com essa ambientação – o filme foi rodado nos desertos do México, nas regiões de Sonora e Chihuahua, uma produção difícil, num calor insuportável, contam os produtores. A trilha, não poderia ser diferente, é memorável, de Ennio Morricone, o pai das trilhas dos western spaghetti. Roteiro de Budd Boetticher, que dirigiu muitos faroestes com Randolph Scott, como ‘Entardecer sangrento’ (1957). Shirley MacLaine não se deu com o diretor, Don Siegel, que aqui fortaleceria uma duradoura parceria com Clint Eastwood; ela está num papel de alívio cômico, que originalmente seria de Elizabeth Taylor. MacLaine traz o humor necessário para uma história de violência e opressão - na época o faroeste causou burburinho pelas cenas violentas, de tiros com sangue, algo que não acontecia nas produções americanas. O desfecho, o ataque ao forte francês, é uma sequência estrondosa, de 10 minutos de tiros e explosões. É um dos filmes da minha vida, já o assisti umas dez vezes e nunca me canso. Saiu em DVD e em bluray pela Classicline, em edições diferentes – o filme em DVD tem a metragem de cinema, 114 minutos, enquanto o bluray, com ótima imagem, traz o corte para a TV americana, com 10 min a menos. Em 2002 o filme já havia saído em DVD pela primeira vez no Brasil pela Universal Pictures.
‘Duas vidas’ é o exemplar perfeito do cinema romântico da ‘velha Hollywood’, um filme estilizado, bonito, adorado pelos americanos, muito fotogênico, mas de teor trágico. Desde o início sabemos que o casal terá dificuldades – um playboy casado conhece uma ex-cantora que tem um namorado, em pleno cruzeiro transatlântico. Eles não podem trair – lembrando que o cinema nessa época era extremamente moralista, portanto, combinam uma data futura para o reencontro, depois das devidas separações. Mas, no dia marcado, uma fatalidade colocará a vida dos dois em jogo. A história pode soar conhecida para alguns – é o mesmo roteiro de ‘Tarde demais para esquecer’, de 1957, feito pelo mesmo diretor, Leo McCarey, que o recriou com mais romantismo e o fez colorido, trazendo para a cena Cary Grant e Deborah Kerr. E o filme também teve outro remake, em 1994, com o casal Warren Beatty e Annette Bening, no último trabalho de Katherine Hepburn, ‘Segredos do coração’. O francês Charles Boyer está ok no papel principal, e Irene Dunne, uma das divas do cinema, interpreta muito bem uma mulher inteligente e à frente de seu tempo. Os apaixonados vão se encantar e torcer pelo casal. Recebeu seis indicações ao Oscar – melhor filme, atriz para Irene, atriz coadjuvante para Maria Ouspenskaya, roteiro original, direção de arte e canção. Ganhou edição especial em DVD pela Obras-primas do Cinema, numa cópia restaurada - na abertura fala-se da restauração, feita em 2020 pelo Museu de Arte Moderna, o MoMa, em parceria com a Lobster Films, a partir de uma cópia 35mm; essa é a cópia final desse belíssimo filme da RKO Pictures, um clássico notável. No DVD da OPC há dois extras especiais.
Bateu recorde de bilheteria esse filme de drama e ação que é um universo paralelo de um dos personagens mais queridos dos X-Men, Wolverine - o filme custou US$ 97 milhões e teve faturamento bruto mundial de US$ 619 milhões. A história é complexa, passa-se num futuro indeterminado, em que os X-Men foram dizimados. Só restaram Wolverine/Logan e o professor Charles Xavier, hoje velhos, cansados e doentes – uma desconstrução total dos super-heróis que conhecemos, imbatíveis e que não sofrem. Logan protege Xavier, que está na beira do leito de morte. Vivem escondidos numa usina desativada, até que recebem a incumbência de proteger uma garotinha perseguida por cientistas e mercenários – ela é uma nova X-Men, cuidada por uma enfermeira mexicana, e foi vítima de sinistras experiências que a transformaram numa espécie de Wolverine, com garras mortais. Daí a trama se desenrola, sempre com tom dramático, e algumas, mas eficientes cenas de ação – vão surgindo figuras excêntricas, como Caliban - papel de Stephen Merchant, de ‘Jojo Rabbit’ (2019), um mutante de capa e chapéu, que não pode ficar no sol, e Pierce, chefe dos Carniceiros, um rapaz com braço biônico – papel de Boyd Holbrook, de ‘A hospedeira’ (2013). Inspirado na série de HQ ‘Velho Logan’, do escocês Mark Millar, é um mundo alternativo baseado no arco da história de Wolverine, lançado entre 2008 e 2009, depois retomado em 2015. Logan era o apelido de James Howlett, o Wolverine, personagem importante dos X-Men, que apareceu pela primeira vez numa HQ de ‘O incrível Hulk’, em 1974. Aqui, agora, o personagem Logan tem os poderes enfraquecidos, abandonou a vida de herói para ser chofer de limusine, levando pessoas a casamentos e a funerais. E ele cuida do professor/mentor Charles Xavier, que está com Alzheimer, fragilizado. Na época do lançamento, em 2017, foi o 10º longa-metragem da série de filmes dos ‘X-Men’ e o terceiro focado no Wolverine, antecedido por ‘X-Men Origens: Wolverine’ (2009) e ‘Wolverine: Imortal’ (2013) – este último, dirigido também por James Mangold, e todos foram muito bem de bilheteria. Mangold é um entusiasta do cinema de aventura e ação, com filmes variados na carreira; também produtor e roteirista, dirigiu policiais como ‘Cop land’ (1997) e ‘Encontro explosivo’ (2010), o faroeste ‘Os indomáveis’ (2010), os dramas biográficos ‘Garota, interrompida’ (1999), ‘Johnny e June’ (2005) e ‘Ford vs. Ferrari’ (2019), o suspense ‘Identidade’ (2003), o já mencionado ‘Wolverine: Imortal’ (2013) e recentemente a aventura ‘Indiana Jones e a relíquia do destino’ (2023). Indicado ao Oscar de melhor roteiro adaptado, ‘Logan’ teve sua première no Festival de Berlim. Não é um filme qualquer de super-herói, tem mais clima dramático, os personagens são humanizados, há tragédias reveladas e um desfecho amargo, que deu uma pontada de tristeza nos fãs desse popular personagem. Hugh Jackman foi o ator de todas as versões para cinema de Wolverine, da Marvel, desde ‘X-Men – O filme’ em 2000, e tornou-se querido no papel. Tem participação de célebres atores veteranos, como Richard E. Grant, indicado ao Oscar por ‘Poderia me perdoar?’ (2018), como o líder dos cientistas maus, e, claro, Patrick Stewart, como Xavier – ele repetiu o papel em quase todos os longas anteriores. Tem fortes traços com os faroestes ‘Os imperdoáveis’ (1992) e ‘Os brutos também amam’ (1953) – aliás, este clássico aparece na TV quando Xavier a liga, e os cenários desérticos com corrida de carro lembram a franquia ‘Mad Max’. Saiu em bluray pela 20th Century Fox, numa edição simples, e depois, a versão chamada ‘Logan Noir’, em preto-e-branco, junto com a versão colorida de cinema – experimentem ver em PB, é outra sensação e outro filme! A metragem original é de 137 minutos, porém, em regiões da China, devido à violência, o filme teve um corte de 15 minutos, saindo com 122 minutos – há cenas sangrentas, por isso - numa delas, no começo, Logan, para se proteger de um ataque, corta os braços de um bandido e enfinca suas garras na cabeça de um ladrão. No Brasil e nos EUA, teve classificação de 16 anos. POR FELIPE BRIDA - BLOG CINEMA NA WEB
Entre os anos de 2005 e 2015, a Holanda produziu muitos filmes infantis com histórias inusitadas, como ‘A história de Wim de A a Z’ (2015), uma espécie de Oliver Twist dos Países Baixos, sobre um menino órfão forçado a trabalhar numa fábrica e que se envolve em aventuras mágicas, e esse outro bom exemplar, ‘O pequeno gângster’ (2015), uma brincadeira infanto-juvenil com o mundo da máfia. É uma farsa com gags engraçadas, de um menino vítima de bullying na escola que dá a volta por cima contando uma mentirinha, de que ele e seu pai são mafiosos – o boato cresce e vira uma aventura maluca de peripécias mil. O filme tem composição minimalista, com poucos cenários e personagens, fotografia pastel e momentos cômicos – numa das cenas, o menino, vestido de gângster, olha para o espelho e imita Robert De Niro em ‘Taxi Driver’, repetindo a célebre frase do filme, ‘Você está falando comigo’? É uma sessão da tarde para assistir sem compromisso, um filme criativo com breve teor metalinguístico, já que o garoto – o bom ator Thor Braun, que depois fez mais seriados na Holanda – imita a máfia a partir de cenas de um filme policial que viu na TV. Falando nisso, os créditos iniciais são um barato, em preto-e-branco, cujo letreiro é com tipografia antiga, imagem embaçada e com ranhuras. Baseado no livro infantil de sucesso ‘De Boskampi's’, da escritora holandesa Marjon Hoffman, publicado em 2004, o filme recebeu prêmio especial no Festival de Hamburgo. Foi dirigido pelo holandês Arne Toonen, do policial ‘Estado de emergência’ (2019), que também assina como produtor. Não se deixe levar pela capa meio tosca – é uma fitinha bacana, bem realizada e criativa. Outro filme que explora a máfia pelo ponto de vista das crianças é a comédia musical com aventura ‘Quando as metralhadoras cospem’ (1976), de Alan Parker, indicada ao Oscar de melhor trilha sonora. Em DVD pela Flashstar, pode ser visto na plataforma Prime Video. Disponível, para locação, nos streamings Google Play Video, Apple TV e Youtube Filmes. POR FELIPE BRIDA - BLOG CINEMA NA WEB
Uma pequena cidade dos Estados Unidos é invadida por baratas mutantes que comem tudo o que encontram pela frente, inclusive pessoas. Um grupo de sobreviventes corre contra o tempo para eliminar os insetos assassinos.
Terror B muito exibido na TV aberta e agora em DVD numa ótima cópia pela Versátil Home Video, dentro do box ‘Obras-primas do terror anos 80 – Animais em fúria’, caixa que reúne cinco outros filmes, ‘Olhos da noite’ (1982), ‘Ratos – A noite do terror’ (1984), ‘O corte da navalha’ (1984), ‘Link – O animal assassino’ (1986) e ‘Comando assassino’ (1988). Um filme sangrento, com cenas fortes de gente sendo devorada por baratas mutantes – os insetos foram alvo de uma experiencia genética malsucedida e agora invadem casas atrás de comida. Há sequências nojentas, dos insetos entrando no corpo das pessoas, arrancando membros e liquefazendo as vítimas – o final são 10 minutos de puro êxtase com criaturas híbridas medonhas e assassinas, com direito a olhos saltando do crânio, um gato com presas enormes virando morto-vivo e até uma criatura ambulante formada por um amontoado de restos humanos. É divertido, asqueroso e assustador ao mesmo tempo – por causa da violência e atrocidades, recebeu classificação indicativa de 18 anos. Usaram baratas reais para gravar o filme – são milhares espalhadas pelo set de filmagem, que sobem nas pernas dos personagens. Por isso, quem tem aflição de baratas deve evitar. Estreia do diretor Terence H. Winkless, que depois faria dois filmes B de ação com luta, ‘Punhos sangrentos’ (1989) e ‘Código de honra’ (1992) – ele, como roteirista, ao lado de John Sayles, adaptou para o cinema o livro ‘Grito de horror’ (1981), um horror movie eficiente e um clássico de filme de lobisomem. Por falar em adaptação, ‘O ninho do terror’ veio do livro de Eli Cantor, ‘The nest’, com roteiro assinado por Robert King, roteirista de ‘Apenas bons amigos’ (1994) e ‘Justiça vermelha’ (1997). No elenco estão o veterano Robert Lansing, de ‘Quarta dimensão’ (1959), e Lisa Langlois, de ‘Os donos do amanhã’ (1982). POR FELIPE BRIDA - BLOG CINEMA NA WEB
Um homem é abduzido por uma nave espacial em sua casa e desaparece. Três anos depois, retorna para a família, disposto a se reconectar com o filho e com a esposa, que hoje vive com um novo marido. Só que dentro dele habita um monstro mutante.
Por muitas razões curti demais esse filme grotesco de terror com ficção científica. Gosto do cinema scifi e de horror movies, e pelo filme ser fora do habitual, com um roteiro delirante, a combinação é perfeita. Tudo é imprevisível nessa fita britânica independente, nunca sabemos para onde o roteiro irá nos levar. O filme, que é violento e tem classificação indicativa de 18 anos, começa com um pai sendo abduzido por uma nave, e o filho pequeno testemunha o fato. O homem some por três anos, a criança tem pesadelos constantes, até que ele retorna, porém a esposa hoje é casada com outro. Ele não está normal, suas atitudes estão estranhas. Isso porque dentro dele habita um monstro que aos poucos se revelará de uma forma horrenda. O longa mistura momentos lúdicos e engraçados da imaginação da criança, quando ela brinca e seus bonecos criam vida, e atinge o pico com cenas bizarras e escatológicas, algumas simbólicas – o monstro bota ovos na boca das vítimas por meio de um falo/cordão umbilical, e elas fazem brotar da barriga novos humanos que depois se tornam monstros – isso me lembra ‘Alien – O 8º passageiro’, quando a criatura sai das entranhas de John Hurt. Nada convencional, tem um tom pessimista e um final chocante. Essa é a versão de cinema, de 86 minutos, sem cortes. Na capinha em DVD, há um comentário curioso, que diz que esse filme é o ‘o avesso de ET’ [em menção ao filme de Spielberg, lançado no mesmo ano, 1982]. O diretor e roteirista Harry Bromley Davenport realizou duas continuações inferiores e grosseiras, ‘Xtro II - O reencontro’ (1991) e ‘Xtro 3 - O massacre’ (1995). No elenco, Philip Sayer, de ‘Alugado para matar’ (1983), Bernice Stegers, de ‘Suíte francesa’ (2014), e Maryam d'Abo, de ‘007 - Marcado para a morte’ (1987). Filme disponível no box ‘Clássicos Sci-fi – Anos 80’, da Versátil Home Video, junto de cinco filmes – ‘O domínio do olhar’ (1981), ‘Amores eletrônicos’ (1984), ‘A noite do cometa’ (1984), ‘As aventuras de Buckaroo Banzai’ (1984) e ‘Drive-in da morte’ (1986). POR FELIPE BRIDA - BLOG CINEMA NA WEB
Indicado ao Golden Camera em Cannes e exibidos nos festivais de Toronto e Mar del Plata, esse filme neonoir complexo e instigante foi um marco do novo cinema norueguês, rodado em incríveis locações do norte da Noruega, na cidade de Tromsø e na vila de pescadores de Nyksund, localizada na ilha Langøya. A dupla de roteiristas Erik Skjoldbjærg e Nikolaj Frobenius estreavam com o impactante filme policial, cheio de reviravoltas – Skjoldbjærg assinou a direção, e a dupla de roteiristas escreveu, muito tempo depois, outro bom thriller com aventura, ‘Mergulho profundo’ (2013). Grande nome de sua geração, o ator sueco Stellan Skarsgård, hoje um rosto frequente no cinema americano, entrega uma performance arrebatadora, no papel do detetive insone que mata seu colega de trabalho e faz de tudo para sair ileso – ele é um verdadeiro anti-herói, plantando provas para incriminar um dos suspeitos de ter cometido um homicídio, objeto inicial de sua investigação. A tensão cresce a cada minuto, e na inteligente trama vão sendo inseridas novas pistas pelo caminho até um desfecho memorável – por isso, atenção nos mínimos detalhes e nos diálogos para não se perder. ‘Insônia’ ajudou a formatar o cinema escandinavo nos anos 90 e apresentá-lo para outros continentes – os três países da Península Escandinava, Dinamarca, Suécia e Noruega, são atualmente referência de um cinema autoral marcado por filmes que colecionam prêmios. O filme fez a cabeça dos críticos e do público, e cinco anos depois o diretor Christopher Nolan, reverenciado por ‘Amnésia’ (2000) e esse ano indicado ao Oscar por ‘Oppenheimer’ (2023), adquiriu os direitos para um remake nos EUA, com nomes importantes no elenco, como Al Pacino, Robin Williams e Hilary Swank. Nolan manteve o tom sombrio de investigação, que agora se passaria no extremo norte do Alaska, onde também ocorre o solstício de verão, quando nunca anoitece, e a claridade do dia fica por quase três meses. ‘Insônia’ saiu recentemente em DVD pela Obras-primas do Cinema, cujo disco tem 20 minutos de material extra.
Terror slasher que funciona para quem curte filmes de psicopatas e não chiam de mortes sangrentas. Há poucos assassinatos e um final surpresa, no estilo ‘Quem matou’, ou seja, o serial killer só é revelado nos minutos finais – apesar das pistas pintarem no desenrolar da trama, é um desfecho imprevisível. Segundo filme do diretor Andrew Davis, de filmes de ação conhecidos do público, como ‘A força em alerta’ (1992, com Steven Seagal), ‘O fugitivo’ (1993, com Harrison Ford) e ‘Um crime perfeito’ (1998, com Michael Douglas), que também dirigiu a fotografia. É um slasher de sobrevivência que mistura elementos de ‘Amargo pesadelo’ (1972), ‘Quadrilha de sádicos’ (1977), ‘Sexta-feira 13’ (1980) e ‘Pânico na floresta’ (2003) – tudo ocorre numa floresta fechada, um grupo de guardas florestais são caçados por um assassino cruel que rasga a garganta das vítimas, e os que sobrevivem precisam fugir desse inferno. Tem algo sobrenatural no ar que será, aos poucos, esclarecido. Fotografia escura nos momentos de tensão e um final chocante ajudam na boa condução desse filme curioso de terror com suspense. No elenco, Rachel Ward, de ‘Paixões violentas’ (1984) e protagonista da série ‘Os pássaros feridos’ (1983), Joe Pantoliano, de ‘Amnésia’ (2000), Daryl Hannah, de ‘Blade runner’ – O caçador de androides (1982), Akosua Busia, de ‘A cor púrpura’ (1985), e Mark Metcalf, de ‘O clube dos cafajestes’ (1978). Assinado pelo produtor Samuel Z. Arkoff, mestre do cinema B, com roteiro da dupla Neill D. Hicks e Jon George, dos cultuados ‘Arlequim’ (1980) e ‘A caçada do futuro’ (1982), e colaboração de Ronald Shusett, roteirista ao lado de Dan O’Bannon do clássico ‘Alien – O 8º passageiro’ (1979). Rodado no Redwood National Park, na California, em 1981, o filme ficou dois anos na gaveta, pois os produtores encontraram dificuldades em lançá-lo antes – 1981 foi o ano sagrado do cinema slasher, com 25 filmes de terror com psicopatas mascarados exibidos nos cinemas, tornando a década de 80 como a mais profícua desse cinema brutal e sanguinolento. É uma fita rara, pouco conhecida, que agora pode ser assistida em boa cópia – saiu em DVD pela Versátil Home Video no box ‘Slashers – Vol. 15’, contendo ainda os longas ‘O assassino do 7º andar’ (1984), ‘Killer party – A noite das brincadeiras mortais’ (1986) e ‘Spa diabólico’ (1988) – vem cards na caixa e muitos extras. POR FELIPE BRIDA - BLOG CINEMA NA WEB
Filme B canadense de terror escatológico e que dá asco para quem tem medo de ratos, do diretor Robert Clouse, responsável por dois cultuados filmes de lutas marciais com Bruce Lee, ‘Operação dragão’ (1973) e ‘Jogo da morte’ (1978). Originalmente da Warner Bros, é um dos tantos filmes com animais assassinos que o cinema lançou nas décadas de 70 e 80, no caso ratos contaminados com um milho tóxico, que crescem até atingir o tamanho de um cachorro. Eles invadem casas, cinema e estações de metrô, em busca de carne humana. Apesar de ser terror cheio de corre-corre e mortes, fazia um alerta para os transgênicos – o milho é ‘batizado’ com esteroides, formando um novo produto altamente tóxico, e trazia ainda uma questão de saúde pública, o dos lixos acumulados nas metrópoles - Chicago, Nova York e Los Angeles, por exemplo, são cidades com população de ratos exorbitante, hoje um risco grave para doenças e contaminações. A história foi adaptada do livro ‘The rats’, de James Herbert, livro lançado em 1974. Herbert, escritor de outros romances que viraram filmes, como ‘Fluke – Lembranças de outra vida’ e ‘Ilusões perigosas’, ambos de 1995, detestou a versão para cinema desse seu livro mais popular. Como muitos filmes B de terror da época, reunia atores e atrizes conhecidos para puxar público; aqui vemos Sam Groom, protagonista da série ‘Dr. Simon Locke’ (1971-1975), Sara Botsford, de ‘Na calada da noite’ (1982), Scatman Crothers, de ‘O iluminado’ (1980), e Cec Linder, de ‘007 contra Goldfinger’ (1964). Para recriar os ratos gigantes, utilizaram dezenas de cachorros Dachshunds, o ‘Salsicha’, vestindo figurino de roedores de pelagem grossa, além de bonecos feiosos de ratos dentuços, nas cenas em que os bichos aparecem em close. Filme em ótima cópia, disponível em DVD no box da Versátil ‘Obras-primas do terror anos 80 – Animais em fúria’. A caixa reúne outros cinco filmes, ‘Ratos – A noite do terror’ (1984), ‘O corte da navalha’ (1984), ‘Link – O animal assassino’ (1986), ‘O ninho do terror’ (1987) e ‘Comando assassino’ (1988), trazendo cards colecionáveis e muitos extras. POR FELIPE BRIDA - BLOG CINEMA NA WEB
Documentário sobre o ‘6º Congresso Nacional-Socialista Alemão’, realizado em Nuremberg em 1934 e liderado por Adolf Hitler. Conhecido como o ‘6° Congresso do Partido Nazista’, reuniu mais de 35 mil pessoas e tornou-se uma das maiores armas da propaganda nazista.
Filme-propaganda da Alemanha Nazista encomendado por Adolf Hitler, muito estudado e comentado devido à estética inovadora, milimetricamente planejada pela cineasta Leni Riefenstahl (1902-2003). Leni dirigiu, escreveu, produziu, montou e ajudou na fotografia desse documentário opulento, cuja ideia era documentar os primeiros anos da NSDAP, o Partido Nazi, fundado duas décadas antes. Tudo é grandiloquente no documentário – da ópera pomposa do alemão Richard Wagner aos zepelins pelos céus, das paradas grandiosas com desfiles de cavalos e carros alegóricos ao batalhão inumerável de soldados enfileirados em perfeita harmonia. Uma manifestação catártica do povo alemão diante da figura de Hitler e do alto escalão do Reich. Ali vê-se o torpor das massas, movidas pelos discursos fascinantes do Führer, que aos poucos foi levando a Alemanha para a barbárie, definindo a essência do que foi o nazismo. Leni era uma esteta, sabia de enquadramento e montagem como ninguém, e o filme fala por si só sobre a parte técnica. Ela coloca a câmera no chão, usa e abusa de plongée e contra-plongée, recorre a gruas para captar imagens do alto etc. Por isso foi um filme ousado e ambicioso numa época em que o cinema ainda era mudo e não havia os recursos de hoje. Consta que Leni utilizou 30 câmeras e contratou 120 técnicos de som e de imagem pra captar os comícios em Nuremberg; ela demorou seis meses para editar o filme, e as quase duas horas de duração da versão final representam apenas 3% do material bruto, ou seja, o total de captação era de quatro mil horas de imagens. Leni tinha carta branca de Hitler para fazer o filme; na exibição da obra pronta, ela teve atritos com Goebbels, o ministro da propaganda nazista, que detestou o resultado; mas Hitler gostou, usando a obra para glorificar o movimento nazista - depois da Segunda Guerra, o longa foi banido da Alemanha e proibido em alguns países. Grande parte das imagens que conhecemos dos discursos de Hitler e Goebbels vieram desse filme. A cineasta sempre se defendeu dizendo que não imaginava os rumos do Nazismo na 2ª Guerra – seu filme, por retratar a alienação do povo alemão diante de Hitler, ajudou a espalhar discursos de ódio que depois seriam usados para unir a Alemanha e justificar perseguição aos judeus – as falas de Führer já mencionavam a raça ariana, o povo alemão como divino, e ele, Hitler, como uma presença onipotente, de um líder escolhido por Deus. Apesar de Leni nunca ter se filiado ao Partido Nazi, foi a cineasta oficial do Nazismo – antes fez os curtas ‘A vitória da fé’ (1933) e ‘O dia da liberdade’ (1935), que tratavam, respectivamente, do ‘5º Congresso Nazista’ e dos soldados de Hitler, e depois faria as duas partes de ‘Olympia’ (1938), também conhecido como ‘Olimpíada e a mocidade olímpica’, sobre as Olimpíadas de Berlim em 1936, com Hitler no comando do país. Exibido e premiado no Festival de Veneza, o documentário teve distribuição mundial pela UFA, a Universum Film AG, a maior rede de estúdios cinematográficos da Alemanha durante a República de Weimar e o III Reich, concorrente de Hollywood e que mantinha salas de cinemas ao redor do mundo – grande parte dos filmes do Expressionismo Alemão foram produzidos e distribuídos pela UFA, como ‘O gabinete do Dr. Caligari’ (1920), ‘Aurora’ (1927), ‘Metropolis’ (1927) e ‘O anjo azul’ (1930). ‘O triunfo da vontade’ virou um filme mítico e temido. Aparece até hoje em listas dos grandes filmes do cinema – concordo em termos de montagem e captação, e cineastas importantes já ressignificaram sequências do documentário, como ‘Star Wars’, ‘Tropas estelares’ e ‘Jogos vorazes. Disponível em DVD pela Classicline na metragem de 108 minutos – a metragem original é de 114 minutos. No DVD, que está com boa imagem, não deixem de ver, na seção dos extras, o curta de Leni ‘O dia da liberdade’ (1935), sobre a propaganda e o exército hitlerista.
Mais sobre Leni Riefenstahl
Leni Riefenstahl, quando pequena, estudou pintura e literatura, incentivada pela mãe. De família rica, filha de um industrial, Leni tinha apenas um irmão, que morreu no front da 2ª Guerra Mundial. Não quis assumir os negócios da família e seguiu para a carreira do esporte – fez natação e foi ginasta olímpica e aos 16 entrou para o balé, tendo duros conflitos com o pai. Foi dançarina e bailarina notória em Berlim nos anos 20. Lesionada, não pôde mais dançar, então, como gostava de cinema, pediu emprego para um diretor, Arnold Fancke, e acabou trabalhando em dois filmes dele como atriz, ‘Monte sagrado’ (1926) e ‘O inferno branco de Piz Palu’ (1929) – este, codirigido pelo importante cineasta Georg Wilhelm Pabst. Em ‘Monte sagrado’ auxiliou na direção, até que em 1932 fez ‘A luz azul’, codirigido pelo diretor austro-húngaro Béla Balázs (sem crédito). No cinema, Leni, além de dirigir, trabalhou como produtora, montadora e roteirista de seus filmes, e ocasionalmente foi diretora de fotografia. Depois de viver o auge no cinema alemão dos anos30, caiu no ostracismo - nunca mais conseguiu financiar filmes e gravar outros, pois ficou tachada como ‘a cineasta do Reich’, sofrendo boicotes. Dirigiu só mais um filme, ‘Terra baixa’ (1954), um drama musical, em que ela faz a personagem principal – ela era atriz de formação, aparecendo em ‘A luz azul’ (1932), por exemplo - nos anos 60 tentou fazer uma refilmagem de ‘A luz azul’, mas não conseguiu recursos financeiros. Para sobreviver, Leni dedicou-se à fotografia até o final da vida, inclusive à fotografia submarina, em que se tornou pioneira, chegando a publicar livros da área. Viveu reclusa, e em 2000 sofreu um acidente de helicóptero quando estava no Sudão, na África, onde viveu por um período a trabalho. Leni morreu em 2003 aos 101 anos.
Nas noites de lua cheia, uma misteriosa luz azul brilha no alto de uma montanha. Ao longo dos anos, os moradores de uma vila próxima escalam até o pico para checar o estranho acontecimento, mas nunca retornam de lá. Junta (Leni Riefenstahl), uma mulher solitária, chega ao vilarejo e consegue se aproximar da luz. Então é considerada uma bruxa, tornando-se alvo de fanáticos; revoltados, homens e mulheres do vilarejo a culpam pelas mortes das pessoas que nunca voltaram da montanha e saem para caçá-la.
Primeiro filme autoral de Leni Riefenstahl (1902-2003), a controversa cineasta alemã admirada por Adolf Hitler e que trabalhou anos a fio com ele. Ela produziu ‘A luz azul’, escreveu o roteiro - baseado numa novela de Gustav Renker, dirigiu, editou e atuou na pele da protagonista, Junta, uma mulher tida como bruxa e que passa a ser perseguida por fanáticos – Leni era bonita e muito inteligente. Na época, tinha apenas 29 anos, e fez o roteiro junto de Carl Mayer, roteirista austro-húngaro que escreveu filmes do Expressionismo Alemão, como ‘O gabinete do Dr. Caligari’ (1920) e ‘A última gargalhada’ (1924). Por isso ‘A luz azul’ traz fortes traços do Expressionismo, com uma trama de fantasia, personagens grotescos e estética estilizada nos enquadramentos e nos grandes cenários fotografados na penumbra, que lembram um sonho. Com esse filme, Adolf Hitler considerou Leni uma cineasta perfeita, tornou-a sua diretora favorita, e logo depois a chamou para trabalhar com ele no Reich. Essa é a versão que Leni defendeu a vida toda em entrevistas - há quem diga que foi ela quem assistiu a um discurso de Hitler, ficou encantada e propôs ao Führer seu trabalho como cineasta. Independentemente de quem procurou quem, o que houve foi uma longa parceria entre ambos – no ano seguinte, 1933, ela filmou o ‘5º Congresso Nacional-Socialista Alemão’, em Nuremberg, lançando-o como um filme-propaganda, ‘A vitória da fé’, de 61 minutos; o filme prepararia o maior filme dela e um dos mais importantes do cinema europeu daquela época, em termos de fotografia e montagem, “O triunfo da vontade” (1935), em que ela registrou o ‘6º. Congresso Nacional-Socialista Alemão’, também em Nuremberg, o famoso congresso nazista que reuniu 35 mil pessoas. A parceria não pararia aí; ela dirigiu o documentário em curta-metragem ‘O dia da liberdade’ (também de 1935), sobre o Exército de Hitler, e anos depois outro épico monumental da linguagem moderna, as duas partes de ‘Olympia’ (1938), traduzido no Brasil como ‘Olimpíadas e a mocidade olímpica’, sobre os Jogos Olímpicos de Verão de 1936 em Berlim – o filme deu a ela prêmio especial no Festival de Veneza. ‘A luz azul’ é um filme pioneiro dessa estética e narrativa diferenciadas da diretora, que já demonstrava aqui amplo domínio técnico com seus enquadramentos virtuosos e movimentos de câmera fora do comum, o que seria notável em ‘O triunfo da vontade’ - Infelizmente, a diretora serviu ao Reich, fazendo filmes que ampliavam o discurso hitlerista para fora do nicho nazista. Leni até o fim da vida defendeu que nunca foi filiada ao Partido Nazista e, conforme contava em entrevistas, ela era ingênua na época, não desconfiava sobre os rumos que a Alemanha tomaria nas mãos de Hitler. Ela pagou um preço caro: nunca mais conseguiu financiar filmes e gravar outros, pois ficou tachada como ‘a cineasta do Reich’, sofrendo boicote, além de ter sido presa, acusada de usar prisioneiros de guerra nos seus filmes, o que nunca ficou provado. Indicado ao Festival de Veneza, que tinha sido fundado dois anos antes, ‘A luz azul’ foi rodado nos Alpes da Itália e trata de temas discutíveis na época, como fanatismo religioso. Está em domínio público e pode ser assistido gratuitamente no Sesc Digital, pelo Internet Archive, uma organização sem fins lucrativos fundada em 1996 que mantém um repositório com mais de 10 petabytes de arquivos digitais. Essa cópia vem de uma restauração de 2005, com metragem de 79 minutos, seis a menos que a original, de 85 minutos. No Internet Archive, a parceria com o Sesc Digital traz 10 filmes numa mostra chamada ‘Pioneiras do cinema’, que reúne curtas e longas escritas e/ou dirigidos por mulheres entre 1906 e 1946. Além de ‘A luz azul’, há os longas ‘A luz do amor’ (1921), da norte-americana Frances Marion, e ‘O ébrio’ (1946), da brasileira Gilda de Abreu, e curtas-metragens de Alice Guy-Blaché, Mabel Normand, Maya Deren e outras. POR FELIPE BRIDA - BLOG CINEMA NA WEB
Mais um filme esquecido no tempo que a distribuidora Obras-primas do Cinema resgata e traz com exclusividade em DVD aos colecionadores. ‘A casa dos sonhos’ (1988) fracassou na época nos cinemas e virou cult, um filme de drama com suspense, fantasia e pitadas de terror. Nesse conto de fadas sobrenatural, com presságios e figuras sinistras, uma garotinha sofre bullying na escola e vive em conflitos com a mãe. Ela gosta de desenhar, e numa de suas criações, isolada no quarto, rabisca uma casa com um garoto deficiente. Ela tem o poder de, nos sonhos, vagar pelo lugar, e tragada de maneira mágica para o desenho, fica amiga do menino, que não pode andar. Os dois usufruem de uma amizade sem interesse, até que vão precisar um do outro para escapar de um homem cego e desfigurado, que aparece na penumbra os ameaçando com um martelo na mão. Com certa melancolia, o filme trata dos medos das crianças, a ausência dos pais e de como elas usam a imaginação para fugir de uma realidade perturbadora. Exibido no Festival de Toronto, ganhou prêmios em festivais de cinema de terror e do cinema fantástico, como Avoriaz e Fantasporto. Foi um dos primeiros trabalhos do diretor londrino Bernard Rose, na época com 28 anos, que já flertava com a temática sobrenatural e iria desenvolvê-la com maestria no terror ‘O mistério de Candyman’ (1992) – ele dirigiu também um filme que admiro bastante e nunca mais encontrei para rever, ‘Minha amada imortal’ (1992), biografia de Beethoven, interpretado por Gary Oldman. O roteiro, que ora pode parecer confuso, com sonhos, alucinação e realidade se misturando, é de Matthew Jacobs, roteirista de filmes B de ação, como ‘Ninja, a missão’ (1984), e que o escreveu a partir de um romance original do fim da década de 50, ‘Marianne Dreams’, da escritora inglesa de obras de fantasia Catherine Storr. Único filme de Charlotte Burke, a garota protagonista, que não seguiu carreira. Já o menino Elliott Spiers, que interpreta Marc, seguiu carreira, fez seriados, mas morreu prematuramente seis anos mais tarde, após ficar doente devido a uma reação alérgica a um medicamento – ele tinha 20 anos. Vemos também no elenco a atriz Glenne Headly, de ‘Os safados’ (1988) e ‘Dick Tracy’ (1990), no papel da mãe de Anna, uma atriz de quem sempre gostei, ex-mulher de John Malkovich e que faleceu há pouco tempo aos 62 anos. Ainda aparecem em papéis secundários Gemma Jones, veterana atriz inglesa, de ‘Razão e sensibilidade’ (1995), como uma médica, e Ben Cross, de ‘Carruagens de fogo’ (1981), no papel do perverso homem dos sonhos de Anna – o papel dele crescerá na reta final e ganhará contornos interessantes. Boa trilha sonora, do premiado Hans Zimmer em parceria com o veterano Stanley Myers, e uma fotografia que dá o tom onírico necessário para a história, de Mike Southon. PS: No Brasil tem outro filme de mesmo título, um terror ruim e infeliz de Jim Sheridan, com Daniel Craig, Rachel Weisz e Naomi Watts – portanto, não confunda. POR FELIPE BRIDA - BLOG CINEMA NA WEB
Filme de ação, luta e esportes que lançou no Ocidente a figura de Jean-Claude Van Damme, na época com 28 anos, um ator belga que antes havia participado de outra fita de luta conhecida dos fãs, ‘Retroceder nunca, render-se jamais’ (1985). ‘O grande dragão’ foi seu segundo filme, com boa bilheteria e ganhando fãs no mundo todo, e em seguida Van Damme estrelaria uma série de fitas de ação e artes marciais semelhantes, como ‘Cyborg – O dragão do futuro’ (1989), ‘Kickboxer – O desafio do dragão’ (1989), ‘Leão branco, o lutador sem lei’ (1990), ‘Soldado universal’ (1992), ‘Vencer ou morrer’ (1993) etc. ‘O grande dragão branco’ é um dos melhores dessa linha, e foi baseado em fatos reais. Conta a vida de um lutador canadense, mas criado nos Estados Unidos, Frank William Dux, hoje com 67 anos. Dux era militar, participou de mais de 300 lutas nos anos 70 e 80, foi campeão de peso pesado e nunca sofreu uma derrota. Segundo Dux conta, viajou para Hong Kong conhecer o proibido Kumite, uma arte marcial violenta, em que o adversário morre. Acabou ficando por lá e se dedicando ao esporte, que era clandestino. No Kumite, Dux ficou conhecido pelo nocaute rápido, e ao voltar para os EUA nos anos 80, fundou a sua escola de ninjitsu, a Dux-Ryo. Ele virou treinador de dublês para o cinema – inclusive coreografou Van Damme para o filme ‘Leão branco, lutador sem lei’ e até auxiliou no roteiro de outro filme de luta com Van Damme, ‘Desafio mortal’ (1996). O filme narra partes da trajetória dele, de quando chega a Hong Kong e aos poucos tenta entrar no Kumite, sofrendo preconceito por não ser nem japonês nem chinês, que eram aqueles que subiam no ringue da luta. Era um esporte clandestino, escondido em subterrâneos, sem alarde e com pouco público, e o filme procura desvendar esse lado sórdido da competição. Van Damme nunca foi bom ator, mas tem carisma e consegue segurar e prosseguir com o papel do lendário lutador. Dispensou dublês para as cenas de luta, e esse seu filme surpreendeu na bilheteria da época - custou U$ 1 milhão e rendeu 11 vezes mais nas salas de cinema. Depois foi incessantemente reprisado na TV aberta – lembro que na metade da década de 90 o filme chegou a passar três vezes no mesmo ano na mesma emissora. Produção norte-americana, foi rodada totalmente em Hong Kong, inclusive na ‘Cidade murada de Kowloon’, uma região populosa, degradada e que era uma antiga fortaleza militar. Newt Arnold dirigiu dois filmes antes, os de terror B ‘Mãos criminosas’ (1962) e ‘Blood thirst’ (1971), e viu aqui seu maior sucesso comercial. Trabalhou, de maneira ocasional, como roteirista e ator em pontas, no entanto seu destaque no cinema foi como assistente de direção, com mais de 50 longas nas costas, como ‘O poderoso chefão 2’, ‘Inferno na torre’, ‘Blade runner’ e ‘Os Goonies’. Reparem na participação especial de Forest Whitaker em início de carreira e no bom trabalho do veterano ator chinês Roy Chiao. Entre 1996 e 1999, houve três continuações do filme - sequências, diríamos, sem permissão, apenas usando o mesmo título; a história era cópia barata, reunia outro elenco e mudaram o nome do personagem, sendo as três protagonizadas por Daniel Bernhardt – isso sem contar a infinidade de imitações ruins que surgiram. Ganhou mês retrasado duas ótimas edições em mídia física pela Obras-primas do Cinema, uma em DVD e outra em bluray. A em DVD vem luva, cards, capa dupla face e quase duas horas de extras, como entrevistas e especiais sobre o filme, enquanto a em bluray traz os mesmos itens, exceto mais uma entrevista no extra e um trailer, reunida em um digibook especial de colecionador com 30 páginas.
Trash de carteirinha, esse filme extremamente violento é baseado num mangá japonês gore, ‘Riki-Oh’, de Masahiko Takajo e Tetsuya Saruwatari, que circulou entre 1987 e 1990. Tanto o mangá quanto o filme trazem um universo das artes marciais com mortes violentas e muito humor negro/macabro, misturando elementos do scifi e do terror, numa trama tensa sobre encarceramento e injustiça. Num futuro próximo, o sistema penitenciário é privado, existe um descontrole social, e ali dentro as leis são feitas pelos presos. Ricky é um jovem detido por um crime que não cometeu, um atentado contra uma máfia. Na prisão vira uma espécie de ultra-humano ao se dedicar às lutas marciais, percebendo forças poderosas em seus golpes. Perseguidos por algozes na cadeia e querendo reestruturar aquele sistema perverso em que os encarcerados são submetidos a torturas, Ricky se transforma numa arma mortífera, matando todos que aparecem em seu caminho. A fita virou cult, com cenas grotescas e escrachadas de mortes, com tripas voando, cabeças sendo arrancadas com soco, olhos saltando do crânio e por aí vai. No desfecho, altamente sanguinolento, um dos vilões que vira um monstro é estraçalhado num moedor de carnes. Prepare-se para um espetáculo de sangue e risos, nesse filme trash proposital, com visíveis membros de borracha, sangue de groselha e maquiagem grosseira. Vi pela primeira vez agora e me diverti bastante. Esse é o trabalho mais conhecido do diretor honconguês Ngai Choi Lam, que também trabalha como diretor de fotografia, e fez fitas de terror com ação, como ‘A sétima maldição’ (1986), um longa violento com monstros horripilantes na selva da Tailândia, estrelado por Chow Yun-fat. O mangá ‘Riki-Oh’ deu origem, antes, aos animes para cinema ‘Riki-Oh – O muro do inferno’ (1989) e ‘Riki-Oh – Filho da destruição’ (1990), sem contar, nos anos 2000, a inúmeras adaptações para telefilmes e séries na China e Hong Kong. ‘A história de Ricky’ saiu recentemente em DVD pela Obras-primas do Cinema numa excelente cópia, na maior versão possível, a de cinema, com 91 minutos - isso porque em países como Alemanha houve cortes de 10 minutos por causa da violência. Nessa edição da OP, vem luva, cards e 40 minutos de extras.
O cinema slasher fervilhava no ano de 1981. Pintava nas salas de cinema norte-americanas uma média de um filme desse estilo a cada duas semanas. Eram produções de baixo orçamento com psicopatas que trucidavam jovens com requintes de crueldade. O universo desse cinema de horror violento ganhava popularidade nos Estados Unidos e se expandia além das fronteiras americanas. O slasher invadiu o mundo, tornou-se um subgênero cultuado e esteve em voga até o final daquela década – na verdade ele nunca morreu, vira e mexe retornava com novos apetrechos, como ocorreu nos anos de 1990 e 2000 com “Pânico”, “Eu sei o que vocês fizeram no verão passado”, “Lenda urbana” e as novas fases de “Halloween” e “Sexta-feira 13” – lembrando que os originais dessas duas franquias foram pioneiros do slasher, lançados respectivamente em 1978 e 1980. 1981, o ano de ouro do slasher. Dezenas de fitas fizeram o público gritar nas salas escurinhas de cinema. A maioria tinha como vilão um assassino perverso perseguindo jovens indefesos, utilizando máscara e luva e carregando uma arma afiada (faca, facão, machado, forquilha, arpão e por aí vai). Alguns slashers de 1981 tinham apelo sobrenatural, com ares demoníacos, outros com ingredientes de humor negro, e parte deles com trama de investigação policial. Alguns marcantes foram “Dia dos Namorados macabro” (de George Mihalka), “Sexta-feira 13 - Parte 2” (de Steve Miner), “Chamas da morte” (de Tony Maylam – intitulado ainda de “A vingança de Cropsy”), “Feliz aniversário para mim” (de J. Lee Thompson), “Halloween II – O pesadelo continua!” (de Rick Rosenthal), “Noite infernal” (de Tom DeSimone), “Aniversário sangrento” (de Ed Hunt), “A hora das sombras” (de Jimmy Huston), “Pouco antes do amanhecer” (de Jeff Lieberman), “Escola noturna” (de Ken Hughes), “Corpo estudantil” (de Mickey Rose e Michael Ritchie), “Incubus” (de John Hough) e “X-ray: Massacre no hospital” (de Boaz Davidson). E, claro, um dos mais sinistros exemplares, “Olhos assassinos”, de Ken Wiederhorn. “Olhos assassinos” é um slasher na linha mais realista, com um assassino que parece ter saído das páginas policiais: um estrangulador de mulheres. Nessa trama engenhosa e detalhista, uma jornalista que atua numa TV em Miami, Jane Harris (Lauren Tewes) suspeita que o vizinho do prédio da frente é um assassino em série, chamado Stanley Herbert (John DiSanti). Na frente das câmeras, sentada na bancada do telejornal, ela noticia todos os dias o assassinato de uma mulher em Miami, o que coloca as autoridades policiais da cidade em estado de alerta. Os dias correm, não há ninguém preso nem paradeiro sobre o criminoso, então a jornalista resolve investigar o caso por conta, já que aparentemente ele mora no prédio próximo a ela. Com coragem e sede de justiça, Jane entra na casa do suposto assassino quando ele não está. Vasculha seus pertences, acredita que encontra alguma pista e sai em disparada. A partir daquele dia, começa a chantageá-lo sem que ele saiba quem ela é. Até que a filha da jornalista, Tracy (Jennifer Jason Leigh), uma adolescente cega, passa a ser seguida por Herbert. Enquanto Jane faz a investigação por conta própria, os assassinatos continuam ocorrendo. A maioria das vítimas são mulheres, mas há homens também, pois eles “atrapalham” o caminho do furioso serial killer. O diretor Ken Wiederhorn, que realizou apenas sete filmes ao longo da carreira, entre os anos de 1970 e 1990, como “Horror em alto-mar” (1977), e escreveu e dirigiu séries de TV como “A hora do pesadelo: O terror de Freddy Krueger”, trouxe um roteirista com quem havia trabalhado em “King frat” (1979), Mark Jackson (que também assinava como Ron Kurz). Jackson/Kurz sentiu-se à vontade para escrever um roteiro de filme independente de terror que originalmente seria uma fita policial. E deu todo o tom de horror, tragédia e sangue necessários para um autêntico slasher movie (em 1980 Kurz auxiliou no roteiro de “Sexta-feira 13” e ajudaria a criar os personagens do segundo capítulo, dando forma ao real Jason Voorhees, no capítulo 2 da franquia). Kurz trouxe dimensões psicológicas críveis aos personagens centrais: a da jornalista que busca respostas dos crimes horrendos que assolam Miami, a da filha cega e suas dificuldades de se comunicar e locomover, e a do assassino, um homem comum, de meia-idade, de pouca fala, solitário, que antes de atacar as mulheres liga para elas falando pornografias, sussurrando e ameaçando-as de morte. De classe média, ele faz ligações de casa e de cabines telefônicas e com seus largos óculos passa a vigiá-las perto de suas casas - o assassino foi inspirado no criminoso Lars Thorwald, de “Janela indiscreta” (1957), interpretado por Raymond Burr. O modus operandi do assassino foge à tradição dos slashers: ele coloca meias finas para tapar o rosto (como se fossem de assaltante, algo que não costumamos ver nos slashers) e as mata estranguladas (às vezes as ataca com faca). Também costuma estuprá-las (algo diferente dos psicopatas slasherianos). Vez ou outra um homem aparece pelo caminho, então o assassino os elimina com um canivete pontiagudo e até com uma machadinha de açougueiro (uma cena emblemática e grotesca traz o serial killer, no começo do filme, decapitando um coitado cuja cabeça voa para dentro de um aquário). Esse é um slaher sanguinário, com poucas mortes e que não segue o formato de “whodunit?” (“who [has] done it?”, ou “Quem matou?”), tão comum na primeira fase dos slashers e tão usual em filmes de investigação. O assassino aparece na penumbra desde o início, vê-se a silhueta dele à noite e os pés caminhando (um homem de calças sociais e sapato, bem vestido), porém em poucos minutos seu rosto aparece. Sabemos quem ele é, onde mora, o que faz. Ele é o morador do prédio de classe média em frente ao condomínio onde mora a jornalista e sua filha cega. Seus traços são a misoginia, a perversão e a falsa aparência de um homem honroso. O filme não tem alívio cômico, tudo é muito sério, direto e duro, sem reviravoltas também. Algumas cenas gore estilizam a fita, com espirros de sangue e bons efeitos especiais, assinados por Tom Savini, de slashers como “Sexta-feira 13” (1980), “O maníaco” (1980), “Chamas da morte” (1981) e “Quem matou Rosemary?” (1981). Por causa da violência, na época do lançamento, recebeu classificação R (Rated-R), para maiores de 18 anos.
Elenco de “Olhos assassinos”
O filme “Olhos assassinos” foi determinante na carreira das atrizes Lauren Tewes e Jennifer Jason Leigh, ambas estreantes no cinema. Lauren vinha da série “O barco do amor” e trabalhou mais em TV (séries e telefilmes), fazendo participação especial em apenas dois filmes de cinema, dirigidos por Gregg Araki, “Geração maldita” (1995) e “Estrada para lugar nenhum” (1997). Aqui interpreta a corajosa jornalista que denuncia os crimes contra mulheres em Miami e vai caçar o assassino com as próprias mãos, colocando-se frente a frente com ele. Já a atriz Jennifer Jason Leigh tinha na época 17 anos e fez 18 anos durante as gravações de “Olhos assassinos”. Antes ela havia feito pequenas aparições em séries como “Baretta” e “Os Waltons”. “Olhos assassinos” seria seu trampolim para a carreira: no ano seguinte, 1982, foi escalada para o elenco “O homem com a lente mortal” e “Picardias estudantis”, depois faria “Tudo por uma herança” (1983 – também conhecido como “Dinheiro fácil”), “A morte pede carona” (1986) e mais de 60 títulos, incluindo “Os oito odiados” (2015), pelo qual foi indicada ao Oscar de melhor atriz coadjuvante. Aqui interpreta com solidez e sem caricatura a personagem cega, uma adolescente que vira alvo do serial killer. Por fim, o ator John DiSanti vinha de “King frat”, do mesmo diretor, Ken Wiederhorn. Antes apareceu em “Lenny” (1974) e “Um trapalhão mandando brasa” (1980), e depois faria “Ausência de malícia” (1981), “O esquadrão de justiça” (1983) e “O milagre veio do espaço” (1987). Ele interpreta aqui o assassino Stanley Herbert, de olhar sinistro e expressões faciais de arrepiar.
Curiosidade:
Prestem atenção em dois easter eggs: quando o assassino telefona para a primeira vítima, esta assiste na TV, em preto-e-branco, o filme “Horror em alto-mar” (ou “Ondas do pavor”), de zumbis do fundo do oceano, que foi o primeiro trabalho do diretor da fita, Ken Wiederhorn. Já na metade do filme, quando a jornalista vai a um cinema, há o poster, na vitrine, de “Despertar dos mortos”, cuja maquiagem e efeitos são de Tom Savini, o mesmo de “Olhos assassinos”.
Resenha escrita especialmente para o livro "Slashers - Pérolas da coleção", lançado pela Versátil Home Video em janeiro desse ano. Livro disponível para venda no site da Versátil.
Essa é a versão para cinema do ‘Caso Travis Walton’, ocorrido em novembro de 1975, um dos mais conhecidos da ufologia e que mexeu com o mundo todo. Enquanto estudiosos acreditam que a abdução foi real, parte dos peritos e da mídia apontam o tal sequestro alienígena de Walton uma fraude. Acredite você ou não em alienígena, como cinema ‘Fogo no céu’ funciona, e se interpretarmos aquilo como verídico, a experiência se torna ainda mais aterrorizante. Travis Walton era um funcionário de uma reserva florestal numa cidadezinha do Arizona que, segundo relata, foi abduzido e ficou cinco dias em uma nave alienígena, após ser capturado na floresta. Ele reapareceu numa rodovia a quilômetros do local onde sumiu, desorientado, e a partir daí uma complicada investigação tomou conta de sua vida. O filme é baseado no livro dele, ‘The Walton experience’, lançado três anos após o incidente, e Walton descreve o interior da nave alienígena e as torturas sofridas pelas mãos dos ETs – ele foi vítima de um terrível experimento laboratorial - e as imagens de cinema tentam acompanhar tudo isso. Dá muito medo, pois as sequências são assustadoras, com uma direção de arte e uma fotografia impressionantes. No filme, um drama scifi com suspense e momentos de puro terror, D.B. Sweeney, de ‘Atraídos pelo perigo’ (1987) e ‘Um casal quase perfeito’ (1992), interpreta Walton, num papel exigente e difícil, quase um tour-de-force. Está no elenco com ele nomes que se revelavam naquela década, Robert Patrick (de ‘O exterminador do futuro 2 – O julgamento final’, de 1991), Peter Berg (de ‘Noites calmas’, de 1992), Henry Thomas (de ‘ET – O extraterrestre’, de 1982) e Craig Sheffer (de ‘Nada é para sempre’, de 1992), os quatro como seus colegas de trabalho na reserva florestal, e participação do veterano ator James Garner, de ‘Fugindo do inferno’ (1963), como um xerife. Junto de o ‘Caso Roswell’, que também ganhou versão para cinema e série, é um dos relatos mais estudados sobre abdução alienígena. O verdadeiro Travis Walton e a esposa, Dana, aparecem numa pontinha no filme – Walton, hoje com 70 anos de idade, não gostou do longa, e três anos depois lançou um novo livro para comparar o filme com o que aconteceu com ele, ‘Fire in the sky: the Walton experience’. Falecido no ano passado aos 75 anos, o diretor Robert Lieberman dirigiu dezenas de telefilmes e séries, incluindo seriados de temática paranormal, como episódios de ‘Arquivo X’, ‘O vidente’ e ‘The dead zone’, e poucos filmes, como as comédias infantis ‘Um pedido de Natal’ (1991) e ‘Nós somos os campões 3’ (1996) – porém foi em ‘Fogo no céu’ seu maior trabalho. Um filme que gosto demais, fez parte da minha infância e revi recentemente na ótima cópia que a Obras-primas do Cinema lançou em DVD, numa edição especial contendo uma hora de extras, cards e luva – recomendo essa cópia, pois vem de uma restauração em 2k norte-americana.
- Resenha publicada em 28/12/2008, a partir de duas entrevistas especiais que fiz no IV FestCine - Festival de Goiânia, com o ator e diretor Selton Mello e com a atriz Darlene Gloria, em novembro de 2008.
Dono de um ferro-velho numa cidadezinha do interior, Caio (Leonardo Medeiros) volta para a casa do irmão para passar o Natal com a família. Afastado de todos por causa de uma tragédia do passado, tentará com muito custo se reconectar com os pais, divorciados, e com o irmão mais velho.
Mineiro natural de Passos, o ator Selton Mello, que completa 36 anos no próximo dia 30, assinou aqui seu primeiro filme como diretor de cinema. O drama “Feliz Natal” teve estreia nos cinemas brasileiros no dia 21/11 com críticas positivas. Premiado em festivais de cinema de todo o país, dentre eles três prêmios no Festival de Paulínia – melhor diretor, atrizes coadjuvantes (Darlene Glória e Graziella Moretto) e menção especial para o ator mirim Fabrício Reis, e nove troféus no IV Festcine Goiânia, “Feliz Natal” é um dramático painel sobre desestruturação familiar. O longa-metragem narra a história de Caio (Leonardo Medeiros), um homem de 40 anos que, na véspera do Natal, decide retornar para sua cidade após um longo tempo longe da família. Lá reencontra o pai, Miguel (Lúcio Mauro), que não aceita a sua volta, o irmão Téo (Paulo Guarnieri), que enfrenta uma crise conjugal, e a mãe, Mércia (Darlene Glória), alcoólatra e perturbada. A presença de Caio altera a vida de todos os membros da família, provocando comportamentos extremos, como ódio e reconciliação. Quando estive no FestCine Goiânia, entrevistei Selton Mello, Darlene Glória e a produtora Vania Catani, para falar sobre a produção. Nessa primeira investida como diretor, Selton optou em rodar um projeto de carga dramática densa, que aborda a desestruturação no ambiente familiar, marcado por uma tragédia no passado. Segundo Mello, foi uma tentativa de dizer algo que vinha querendo expressar há tempos, mas como ator não teve a possibilidade de fazer. Entrou fundo num projeto cuja ideia principal era de fazer um filme intenso sobre incomunicabilidade entre pais e filhos e ao mesmo tempo o da solidão em suas diversas formas. Outro diferencial do seu primeiro longa é que o caso gira em torno de uma família de classe média, tão pouco abordada no cinema brasileiro. Mello disse que se espelhou no cinema de Arnaldo Jabor, que fazia tão bem filmes sobre a classe média. Pelo fato de o filme ser dramático, pesado, angustiante, o que foge do gosto habitual do telespectador, acredita que “Feliz Natal” atingirá o público, ainda mais com as críticas positivas que recebeu – eu, por exemplo, achei um dos melhores filmes brasileiros do ano. O longa é uma história próxima de nós; existe uma família em ruínas, o filho sai de casa, a mãe é alcoólatra e separou-se do marido, o irmão está infeliz com o casamento; há um passado sombrio na vida do personagem central, só revelado nos momentos finais da fita, em uma sequência marcante, puramente visual e poética. E o desfecho, com a criancinha na janela, papel bom do estreante mirim Fabricio Reis, é de ferir o coração... Outro diferencial do filme é o diretor ter reunido um time de atores e atrizes de primeira categoria, e ter liberdade em rodar um projeto de cunho autoral. Segundo Mello, cada um dos personagens traz uma história diferente e para tanto resgatou grandes nomes do cinema - Darlene Glória não atuava desde os anos 80, pelo menos num papel de destaque; Paulo Guarnieri estava afastado das telas desde 1996, e é um dos grandes atores brasileiros, também esquecido. Tem ainda Lúcio Mauro, Graziella Moretto e o principal, Leonardo Medeiros, que vem firmando carreira e é sem dúvida um dos maiores nomes da geração atual de atores. Darlene explode num papel complexo – ela é a mãe alcoólatra e inconsequente do protagonista, que traz traços da verdadeira Darlene do passado; Darlene fez uso de drogas, teve internações em hospitais psiquiátricos e depois se converteu e virou pastora evangélica. No filme funcionam também a fotografia escurecida de Lula Carvalho e a trilha sonora com tom fúnebre de Plinio Profeta. Cheio de ângulos e enquadramentos incômodos, com zoom nos rostos dos personagens, conta com um delicado roteiro de Selton Mello com o estreante Marcelo Vindicato.
Manequim
3.1 127 Assista AgoraComédia romântica em tom de fantasia que fez enorme e inesperado sucesso de público nos cinemas na época, em 1987, e depois foi muito reprisado na TV aberta. Teve até uma continuação, ‘Manequim: A magia do amor’ (1991), com história semelhante, mas outro elenco e direção.
Esse conto de fadas urbano, moderno e gracioso, conquista o público ainda hoje, e foi levemente inspirado na clássica comédia musical com Ava Gardner ‘A deusa do amor’ (1948), sobre uma estátua que cria vida depois de receber um beijo de um vitrinista de uma loja.
Andrew McCarthy, de ‘A garota de rosa shocking’ (1986), e Kim Cattrall, da série ‘Sex and the city’ (1998-2004), estavam no auge da carreira e fazem um belo par – ele, um rapaz de carne e osso, que adora andar de moto, e ela, a manequim que cria vida e tem um romance inusitado com o garotão, saindo em altas aventuras pelas ruas da Filadélfia.
O elenco de apoio é bacana, com nomes como a veterana Estelle Getty, o novato James Spader e os comediantes G.W. Bailey e Meshach Taylor (que faz piadas bem engraçadas). A música ‘Nothing's gonna stop us now’, de Jefferson Starship, recebeu indicação ao Oscar, Grammy e Globo de Ouro de melhor canção, a primeira nomeação da compositora Diane Warren, hoje campeã de indicações, com 15 ao todo - ela nunca ganhou nenhum, por incrível que pareça. A canção aparece nos créditos finais e retorna no filme dois. Outra música composta exclusivamente para o longa é a de abertura, toda em desenho animado, ‘In my wildest dreams’, de Belinda Carlisle.
Foi o melhor trabalho do falecido diretor Michael Gottlieb, que fez somente mais três filmes, dentre eles ‘O senhor babá’ (1993) - Gottlieb também foi roteirista aqui e dos outros trabalhos da carreira.
Saiu há poucos meses em DVD na coleção ‘Manequim’, juntamente com a continuação, ‘Manequim: A magia do amor’ (1991).
POR FELIPE BRIDA - BLOG CINEMA NA WEB
A Luta de Barbara e Alan
3.5 1É incrível como tem filmes bons escondidos no catálogo da Netflix. Esse, por exemplo, assisti quando foi lançado lá em setembro de 2022, e essa semana revi com muita satisfação. Que filme bonito, delicado, com dois ótimos atores (desconhecidos), que esbanjam talento e carisma – os dois são PCDs, a atriz Ruth Madeleye é cadeirante, fez séries no Reino Unido, e Arthur Hughes, também ator de seriados e novelas no Reino Unido, tem deficiência nas mãos, braços e pernas. Eles interpretam os reais ativistas Barbara Lisicki e Alan Holdsworth, que eram artistas de rua e lideraram enormes manifestações na Grã-Bretanha entre 1989 e 1993 em busca de seus direitos e dos direitos de toda a comunidade com deficiência física, motora e intelectual.
O filme é muito curto, tem apenas 67 minutos, parece um episódio de série, e recomendo todos assistirem. Enquanto os atores contracenam para contar essa história de superação e luta, há reportagens da época entrelaçadas no filme, com narração da atriz principal
Roteiro de Jack Thorne, roteirista colaborador de vários filmes, como ‘Extraordinário’ (2017), ‘Enola Holmes’ (2020) e ‘As nadadoras’ (2022). O filme foi produzido e distribuído pela BBC no Reino Unido; depois, em parceria com a Netflix, a BBC distribuiu o longa no restante do mundo.
POR FELIPE BRIDA - BLOG CINEMA NA WEB
Jogo Sujo
3.1 23 Assista AgoraVigoroso filme policial com Charles Bronson, que foi o rosto do cinema de ação dos anos 70, aqui repetindo o papel de um investigador durão, disposto a ir até o fim para resolver os casos que caem em suas mãos. Realizado no auge da Nova Hollywood, durante as grandes transformações nas produções do cinema americano, que propunha um viés mais autoral nas obras, esse thriller violento com boas cenas de ação é um prato cheio para os fãs de cinema policial e do ator Charles Bronson – em mais uma parceria com o diretor inglês Michael Winner; juntos fizeram o faroeste ‘Renegado vingador’ (1972), o notórios filme de ação que ganhou remake ‘Assassino a preço fixo’ (1972) e a retumbante trilogia ‘Deseja de matar’, um clássico absoluto, rodada entre 1974 e 1985.
O vencedor do Oscar Martin Balsam interpreta o vilão, o chefe da máfia siciliana, perseguido pelo detetive que quer desmantelar sua quadrilha.
Baseado no livro de John Gardner, com roteiro de Gerard Wilson, roteirista de outros filmes de Winner, como ‘Mato em nome da lei’ (1971) e um de meus preferidos, ‘Scorpio’ (1973).
Em DVD, disponível no box ‘Cinema Policial – vol. 8’, da Versátil Home Video, caixa que reúne três bons clássicos do gênero, ‘Os 26 do expresso postal’ (1967), ‘O golpe de John Anderson’ (1971) e ‘Duas ovelhas negras’ (1974).
POR FELIPE BRIDA - BLOG CINEMA NA WEB
Morte no Inverno
3.3 26 Assista AgoraUm dos suspenses mais instigantes dos anos 80, um thriller angustiante com pitadas de horror em que Mary Steenburgen, vencedora do Oscar, interpreta três personagens – ao longo do filme descobre-se o motivo. O veterano diretor Arthur Penn, três vezes indicado ao Oscar, de ‘Bonnie e Clyde – Uma rajada de balas’ (1967), ‘Pequeno grande homem’ (1970) e ‘Um lance no escuro’ (1975), caprichou na trama complexa, que vai se tornando uma fita diabólica, envolvendo assassinato, ocultação de cadáver, herança etc
Mary está bem, carismática e fotogênica como de praxe, Roddy McDowall e Jan Rubes são dois bons vilões de peso dispostos a tudo nesse filme com viés de terror psicológico levado às últimas consequências. Imprevisível, o filme se passa integralmente num casarão isolado na neve, e parece uma peça de teatro, com poucos atores em cena e o mínimo de cenários. O diretor de fotografia inventa enquadramentos inusitados, por cima, por baixo, de lado, e até nisso o filme é criativo. Levemente inspirado em um romance de Anthony Gilbert, conta com uma fotografia sofisticada de interiores de Jan Weincke, de ‘Zappa’ (1983).
Não confundir com a fita policial de espionagem com humor de mesmo título em português, com Jeff Bridges e John Huston, de 1979.
Saiu em DVD no box ‘Obras-primas do terror: Anos 80 - Vol. 3’, pela Versátil Home Video, juntamente com os longas ‘O mensageiro de satanás’ (1981), ‘O enigma do mal’ (1982), ‘Especiais efeitos’ (1984), ‘Tudo por uma verdade’ (1984) e ‘Sem face’ (1988).
POR FELIPE BRIDA - BLOG CINEMA NA WEB
Especiais Efeitos
3.2 7Fita independente de suspense com terror pouco conhecida do público, que virou cult com o passar do tempo. Bebe na fonte do cinema de Brian De Palma, em especial traz elementos e clima de ‘Um tiro na noite’ (1981) e ‘Dublê de corpo’ (1984 – lançado dois meses antes de ‘Especiais efeitos’). O diretor e roteirista Larry Cohen vinha de uma carreira consolidada no cinema policial com terror, fez o bizarro e nojento ‘Nasce um monstro’ (1974), o estranhíssimo e apocalíptico ‘Foi Deus quem mandou’ (1976), a fantasia com monstros ‘Q – A serpente alada’ (1982) e o terror escatológico inúmeras vezes exibido na TV ‘A coisa’ (1985), e aqui rodou um curioso filme independente metalinguístico, sobre a produção de cinema, um filme dentro de outro, utilizando um assassinato real como pano de fundo. É a história de um diretor decadente que mata a atriz de seus filmes e depois procura uma mulher que se pareça com a vítima para refazer o crime na frente das câmeras. Com o desenrolar dos dias, o sádico cineasta vai perdendo a sanidade. A ideia central do filme de Cohen é discutir os ‘Video nasties’, aqueles com crimes reais que ganhavam força na época, e também tratar dos artifícios do cinema, como a montagem de um filme e as inspirações de um diretor.
Marcou a estreia do ator Eric Bogosian, de ‘Talk radio – Verdades que matam’ (1988), e foi o segundo filme da atriz Zoë Lund (1962-1999), que enfrentou problemas com as drogas e virou musa do cineasta Abel Ferrara, trabalhando com ele como protagonista nos violentos ‘Sedução e vingança’ (1981) e ‘Vício frenético’ (1992). A fotografia faz as cores explodirem na tela, numa mistura de pop art com psicodelismo, feita pelo diretor de fotografia Paul Glickman, parceiro de Larry Cohen em vários filmes.
Filme em ótima cópia, disponível em DVD no box ‘Obras-primas do terror: Anos 80 - Vol. 3’, da Versátil Home Video, numa caixa contendo os longas ‘O mensageiro de satanás’ (1981), ‘O enigma do mal’ (1982), ‘Tudo por uma verdade’ (1984), ‘Morte no inverno’ (1987) e ‘Sem face’ (1988).
POR FELIPE BRIDA - BLOG CINEMA NA WEB
Sem Face
3.2 14Releitura do clássico filme de terror “Os olhos sem rosto” (1960), com muita violência, crimes brutais, sangue e erotismo, dirigido pelo mestre do cinema exploitation Jesús Franco, que também assinava como Jess Franco – nascido na Espanha, escreveu, dirigiu e produziu mais de 130 filmes na Espanha, Itália e França, como ‘O terrível Dr. Orloff’ (1962 – e várias continuações de ‘Dr. Orloff’), ‘O diabólico Dr. Z’ (1967), ‘Ela matou em êxtase’ (1971) e ‘Lua sangrenta’ (1981).
‘Sem face’ é um eurotrash com uma história tensa e cheia de mistério, sobre um cirurgião plástico cujos procedimentos estéticos não são nem um pouco ortodoxos. Mulheres começam a desaparecer em Paris ao passarem pela clínica dele, e a polícia inicia uma exaustiva investigação, partindo da clínica do médico até boates e outros points da noite parisiense.
Helmut Berger, Telly Savallas, Christopher Mitchum (filho do veterano Robert Mitchum), Stéphane Audran, Caroline Munro e Brigitte Lahaie são alguns nomes conhecidos que aparecem no filme. Cuidado com a classificação indicativa, devido às cenas fortes – duas delas causam impacto, como a da injeção no olho e uma decapitação horrenda.
Filme em ótima cópia, disponível em DVD no box ‘Obras-primas do terror: Anos 80 - Vol. 3’, da Versátil Home Video, caixa contendo os longas-metragens ‘O mensageiro de satanás’ (1981), ‘O enigma do mal’ (1982), ‘Tudo por uma verdade’ (1984), ‘Especiais efeitos’ (1984) e ‘Morte no inverno’ (1987).
POR FELIPE BRIDA - BLOG CINEMA NA WEB
Mensageiro de Satanás
3.1 50 Assista AgoraDo começo ao fim, ‘O mensageiro de satanás’ é um filme assustador, com cenas macabras de assassinato, ambientado nos porões escuros de uma academia militar que mais parece uma igreja medieval decadente. A fotografia enegrecida dá o tom funesto desse terror oitentista original e de classificação indicativa 18 anos – no Reino Unido, por exemplo, foi banido, taxado de ‘Video nasty’.
Clint Howard, de ‘Um sonho distante’ (1992), é um rosto coadjuvante conhecido, começou a carreira como ator mirim, aos cinco anos de idade, participou de mais de 200 longas e aqui é o protagonista, um cadete da academia militar que invoca o diabo por meio de um computador para acabar com seus colegas que fazem bullying com ele – os estudantes da academia militar batem nele, jogam-no ao chão, fazem piadas por ser gordinho e ter bochechas grandes. Quando invoca o diabo pelo computador, a máquina pede ‘sangue humano’, o que levará o jovem a matar todos para saciar a sede monstruosa do equipamento eletrônico. Lançado em 1981, já se discutia o perigo do uso indevido do computador – na época as máquinas eram de propriedade dos militares e dos governos, para estratégias de guerra, e só anos depois viriam a ser de uso doméstico.
Prepare-se para um filme forte, de violência brutal, com direito a uma chacina no final com várias cabeças sendo decapitadas.
Co-estrelam o veterano R.G. Armstrong, de ‘O predador’ (1987), Joe Cortese, de ‘A outra história americana’ (1998), Don Stark, de ‘Peggy Sue, seu passado a espera’ (1986), e Claude Earl Jones, de ‘Miracle Mile’ (1988). Estreia na direção de Eric Weston, que escreveu o roteiro, e depois dirigiria ‘Marvin e Tige - Todo mundo precisa de alguém’ (1983) e ‘Triângulo de ferro’ (1989).
Filme em ótima cópia, disponível em DVD no box ‘Obras-primas do terror: Anos 80 - Vol. 3’, da Versátil Home Video, caixa contendo os filmes ‘O enigma do mal’ (1982), ‘Especiais efeitos’ (1984), ‘Tudo por uma verdade’ (1984), ‘Morte no inverno’ (1987) e ‘Sem face’ (1988). Aqui nos é apresentada a versão com cortes, de 92 minutos, em vez da original de cinema com cinco minutos a mais.
POR FELIPE BRIDA - BLOG CINEMA NA WEB
Os Abutres Têm Fome
3.8 80 Assista AgoraFaroeste classe A empolgante e inusitado, com assinatura da Malpaso, produtora de Clint Eastwood, que realizou praticamente todos os filmes do ator/diretor entre os anos de 1960 e 2010. Eastwood repete o papel do pistoleiro solitário e caladão, mortífero no gatilho, com um figurino semelhante ao da ‘Trilogia do Dólar’. Com olhar sagaz e desconfiado, ele atira sem piedade, joga dinamites e está disposto a eliminar um quartel inteiro para apreender cargas de ouro roubada do povo mexicano. Mas ao seu lado estará uma figura ilustre, uma freira que ele salvou do estupro no deserto – papel brilhante de Shirley MacLaine, de ‘Se meu apartamento falasse’ (1960), no auge da carreira. Uma dupla improvável, que não se dá bem, e que ao longo da história será balançada por surpresas.
O contexto do filme é o México do reinado do imperador Maximiliano, entre os anos de 1864 e 1867, quando forças francesas invadiram e ocuparam áreas do México. A história se passa ali, no meio do calor do deserto e das armadilhas selvagens dos foras-da-lei. A fotografia ensolarada de Gabriel Figueroa e a direção de arte condizem com essa ambientação – o filme foi rodado nos desertos do México, nas regiões de Sonora e Chihuahua, uma produção difícil, num calor insuportável, contam os produtores. A trilha, não poderia ser diferente, é memorável, de Ennio Morricone, o pai das trilhas dos western spaghetti. Roteiro de Budd Boetticher, que dirigiu muitos faroestes com Randolph Scott, como ‘Entardecer sangrento’ (1957).
Shirley MacLaine não se deu com o diretor, Don Siegel, que aqui fortaleceria uma duradoura parceria com Clint Eastwood; ela está num papel de alívio cômico, que originalmente seria de Elizabeth Taylor. MacLaine traz o humor necessário para uma história de violência e opressão - na época o faroeste causou burburinho pelas cenas violentas, de tiros com sangue, algo que não acontecia nas produções americanas. O desfecho, o ataque ao forte francês, é uma sequência estrondosa, de 10 minutos de tiros e explosões.
É um dos filmes da minha vida, já o assisti umas dez vezes e nunca me canso. Saiu em DVD e em bluray pela Classicline, em edições diferentes – o filme em DVD tem a metragem de cinema, 114 minutos, enquanto o bluray, com ótima imagem, traz o corte para a TV americana, com 10 min a menos. Em 2002 o filme já havia saído em DVD pela primeira vez no Brasil pela Universal Pictures.
POR FELIPE BRIDA - BLOG CINEMA NA WEB
Duas Vidas
3.8 18 Assista Agora‘Duas vidas’ é o exemplar perfeito do cinema romântico da ‘velha Hollywood’, um filme estilizado, bonito, adorado pelos americanos, muito fotogênico, mas de teor trágico. Desde o início sabemos que o casal terá dificuldades – um playboy casado conhece uma ex-cantora que tem um namorado, em pleno cruzeiro transatlântico. Eles não podem trair – lembrando que o cinema nessa época era extremamente moralista, portanto, combinam uma data futura para o reencontro, depois das devidas separações. Mas, no dia marcado, uma fatalidade colocará a vida dos dois em jogo. A história pode soar conhecida para alguns – é o mesmo roteiro de ‘Tarde demais para esquecer’, de 1957, feito pelo mesmo diretor, Leo McCarey, que o recriou com mais romantismo e o fez colorido, trazendo para a cena Cary Grant e Deborah Kerr. E o filme também teve outro remake, em 1994, com o casal Warren Beatty e Annette Bening, no último trabalho de Katherine Hepburn, ‘Segredos do coração’.
O francês Charles Boyer está ok no papel principal, e Irene Dunne, uma das divas do cinema, interpreta muito bem uma mulher inteligente e à frente de seu tempo. Os apaixonados vão se encantar e torcer pelo casal.
Recebeu seis indicações ao Oscar – melhor filme, atriz para Irene, atriz coadjuvante para Maria Ouspenskaya, roteiro original, direção de arte e canção.
Ganhou edição especial em DVD pela Obras-primas do Cinema, numa cópia restaurada - na abertura fala-se da restauração, feita em 2020 pelo Museu de Arte Moderna, o MoMa, em parceria com a Lobster Films, a partir de uma cópia 35mm; essa é a cópia final desse belíssimo filme da RKO Pictures, um clássico notável. No DVD da OPC há dois extras especiais.
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Logan
4.3 2,6K Assista AgoraBateu recorde de bilheteria esse filme de drama e ação que é um universo paralelo de um dos personagens mais queridos dos X-Men, Wolverine - o filme custou US$ 97 milhões e teve faturamento bruto mundial de US$ 619 milhões.
A história é complexa, passa-se num futuro indeterminado, em que os X-Men foram dizimados. Só restaram Wolverine/Logan e o professor Charles Xavier, hoje velhos, cansados e doentes – uma desconstrução total dos super-heróis que conhecemos, imbatíveis e que não sofrem. Logan protege Xavier, que está na beira do leito de morte. Vivem escondidos numa usina desativada, até que recebem a incumbência de proteger uma garotinha perseguida por cientistas e mercenários – ela é uma nova X-Men, cuidada por uma enfermeira mexicana, e foi vítima de sinistras experiências que a transformaram numa espécie de Wolverine, com garras mortais. Daí a trama se desenrola, sempre com tom dramático, e algumas, mas eficientes cenas de ação – vão surgindo figuras excêntricas, como Caliban - papel de Stephen Merchant, de ‘Jojo Rabbit’ (2019), um mutante de capa e chapéu, que não pode ficar no sol, e Pierce, chefe dos Carniceiros, um rapaz com braço biônico – papel de Boyd Holbrook, de ‘A hospedeira’ (2013).
Inspirado na série de HQ ‘Velho Logan’, do escocês Mark Millar, é um mundo alternativo baseado no arco da história de Wolverine, lançado entre 2008 e 2009, depois retomado em 2015. Logan era o apelido de James Howlett, o Wolverine, personagem importante dos X-Men, que apareceu pela primeira vez numa HQ de ‘O incrível Hulk’, em 1974. Aqui, agora, o personagem Logan tem os poderes enfraquecidos, abandonou a vida de herói para ser chofer de limusine, levando pessoas a casamentos e a funerais. E ele cuida do professor/mentor Charles Xavier, que está com Alzheimer, fragilizado.
Na época do lançamento, em 2017, foi o 10º longa-metragem da série de filmes dos ‘X-Men’ e o terceiro focado no Wolverine, antecedido por ‘X-Men Origens: Wolverine’ (2009) e ‘Wolverine: Imortal’ (2013) – este último, dirigido também por James Mangold, e todos foram muito bem de bilheteria. Mangold é um entusiasta do cinema de aventura e ação, com filmes variados na carreira; também produtor e roteirista, dirigiu policiais como ‘Cop land’ (1997) e ‘Encontro explosivo’ (2010), o faroeste ‘Os indomáveis’ (2010), os dramas biográficos ‘Garota, interrompida’ (1999), ‘Johnny e June’ (2005) e ‘Ford vs. Ferrari’ (2019), o suspense ‘Identidade’ (2003), o já mencionado ‘Wolverine: Imortal’ (2013) e recentemente a aventura ‘Indiana Jones e a relíquia do destino’ (2023).
Indicado ao Oscar de melhor roteiro adaptado, ‘Logan’ teve sua première no Festival de Berlim. Não é um filme qualquer de super-herói, tem mais clima dramático, os personagens são humanizados, há tragédias reveladas e um desfecho amargo, que deu uma pontada de tristeza nos fãs desse popular personagem. Hugh Jackman foi o ator de todas as versões para cinema de Wolverine, da Marvel, desde ‘X-Men – O filme’ em 2000, e tornou-se querido no papel. Tem participação de célebres atores veteranos, como Richard E. Grant, indicado ao Oscar por ‘Poderia me perdoar?’ (2018), como o líder dos cientistas maus, e, claro, Patrick Stewart, como Xavier – ele repetiu o papel em quase todos os longas anteriores.
Tem fortes traços com os faroestes ‘Os imperdoáveis’ (1992) e ‘Os brutos também amam’ (1953) – aliás, este clássico aparece na TV quando Xavier a liga, e os cenários desérticos com corrida de carro lembram a franquia ‘Mad Max’.
Saiu em bluray pela 20th Century Fox, numa edição simples, e depois, a versão chamada ‘Logan Noir’, em preto-e-branco, junto com a versão colorida de cinema – experimentem ver em PB, é outra sensação e outro filme! A metragem original é de 137 minutos, porém, em regiões da China, devido à violência, o filme teve um corte de 15 minutos, saindo com 122 minutos – há cenas sangrentas, por isso - numa delas, no começo, Logan, para se proteger de um ataque, corta os braços de um bandido e enfinca suas garras na cabeça de um ladrão. No Brasil e nos EUA, teve classificação de 16 anos.
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O Pequeno Gangster
3.8 12Entre os anos de 2005 e 2015, a Holanda produziu muitos filmes infantis com histórias inusitadas, como ‘A história de Wim de A a Z’ (2015), uma espécie de Oliver Twist dos Países Baixos, sobre um menino órfão forçado a trabalhar numa fábrica e que se envolve em aventuras mágicas, e esse outro bom exemplar, ‘O pequeno gângster’ (2015), uma brincadeira infanto-juvenil com o mundo da máfia. É uma farsa com gags engraçadas, de um menino vítima de bullying na escola que dá a volta por cima contando uma mentirinha, de que ele e seu pai são mafiosos – o boato cresce e vira uma aventura maluca de peripécias mil.
O filme tem composição minimalista, com poucos cenários e personagens, fotografia pastel e momentos cômicos – numa das cenas, o menino, vestido de gângster, olha para o espelho e imita Robert De Niro em ‘Taxi Driver’, repetindo a célebre frase do filme, ‘Você está falando comigo’?
É uma sessão da tarde para assistir sem compromisso, um filme criativo com breve teor metalinguístico, já que o garoto – o bom ator Thor Braun, que depois fez mais seriados na Holanda – imita a máfia a partir de cenas de um filme policial que viu na TV. Falando nisso, os créditos iniciais são um barato, em preto-e-branco, cujo letreiro é com tipografia antiga, imagem embaçada e com ranhuras.
Baseado no livro infantil de sucesso ‘De Boskampi's’, da escritora holandesa Marjon Hoffman, publicado em 2004, o filme recebeu prêmio especial no Festival de Hamburgo. Foi dirigido pelo holandês Arne Toonen, do policial ‘Estado de emergência’ (2019), que também assina como produtor.
Não se deixe levar pela capa meio tosca – é uma fitinha bacana, bem realizada e criativa. Outro filme que explora a máfia pelo ponto de vista das crianças é a comédia musical com aventura ‘Quando as metralhadoras cospem’ (1976), de Alan Parker, indicada ao Oscar de melhor trilha sonora.
Em DVD pela Flashstar, pode ser visto na plataforma Prime Video. Disponível, para locação, nos streamings Google Play Video, Apple TV e Youtube Filmes.
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O Ninho do Terror
2.7 30 Assista AgoraUma pequena cidade dos Estados Unidos é invadida por baratas mutantes que comem tudo o que encontram pela frente, inclusive pessoas. Um grupo de sobreviventes corre contra o tempo para eliminar os insetos assassinos.
Terror B muito exibido na TV aberta e agora em DVD numa ótima cópia pela Versátil Home Video, dentro do box ‘Obras-primas do terror anos 80 – Animais em fúria’, caixa que reúne cinco outros filmes, ‘Olhos da noite’ (1982), ‘Ratos – A noite do terror’ (1984), ‘O corte da navalha’ (1984), ‘Link – O animal assassino’ (1986) e ‘Comando assassino’ (1988). Um filme sangrento, com cenas fortes de gente sendo devorada por baratas mutantes – os insetos foram alvo de uma experiencia genética malsucedida e agora invadem casas atrás de comida. Há sequências nojentas, dos insetos entrando no corpo das pessoas, arrancando membros e liquefazendo as vítimas – o final são 10 minutos de puro êxtase com criaturas híbridas medonhas e assassinas, com direito a olhos saltando do crânio, um gato com presas enormes virando morto-vivo e até uma criatura ambulante formada por um amontoado de restos humanos. É divertido, asqueroso e assustador ao mesmo tempo – por causa da violência e atrocidades, recebeu classificação indicativa de 18 anos.
Usaram baratas reais para gravar o filme – são milhares espalhadas pelo set de filmagem, que sobem nas pernas dos personagens. Por isso, quem tem aflição de baratas deve evitar.
Estreia do diretor Terence H. Winkless, que depois faria dois filmes B de ação com luta, ‘Punhos sangrentos’ (1989) e ‘Código de honra’ (1992) – ele, como roteirista, ao lado de John Sayles, adaptou para o cinema o livro ‘Grito de horror’ (1981), um horror movie eficiente e um clássico de filme de lobisomem.
Por falar em adaptação, ‘O ninho do terror’ veio do livro de Eli Cantor, ‘The nest’, com roteiro assinado por Robert King, roteirista de ‘Apenas bons amigos’ (1994) e ‘Justiça vermelha’ (1997). No elenco estão o veterano Robert Lansing, de ‘Quarta dimensão’ (1959), e Lisa Langlois, de ‘Os donos do amanhã’ (1982).
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Estranhas Metamorfoses
3.1 76Um homem é abduzido por uma nave espacial em sua casa e desaparece. Três anos depois, retorna para a família, disposto a se reconectar com o filho e com a esposa, que hoje vive com um novo marido. Só que dentro dele habita um monstro mutante.
Por muitas razões curti demais esse filme grotesco de terror com ficção científica. Gosto do cinema scifi e de horror movies, e pelo filme ser fora do habitual, com um roteiro delirante, a combinação é perfeita. Tudo é imprevisível nessa fita britânica independente, nunca sabemos para onde o roteiro irá nos levar.
O filme, que é violento e tem classificação indicativa de 18 anos, começa com um pai sendo abduzido por uma nave, e o filho pequeno testemunha o fato. O homem some por três anos, a criança tem pesadelos constantes, até que ele retorna, porém a esposa hoje é casada com outro. Ele não está normal, suas atitudes estão estranhas. Isso porque dentro dele habita um monstro que aos poucos se revelará de uma forma horrenda.
O longa mistura momentos lúdicos e engraçados da imaginação da criança, quando ela brinca e seus bonecos criam vida, e atinge o pico com cenas bizarras e escatológicas, algumas simbólicas – o monstro bota ovos na boca das vítimas por meio de um falo/cordão umbilical, e elas fazem brotar da barriga novos humanos que depois se tornam monstros – isso me lembra ‘Alien – O 8º passageiro’, quando a criatura sai das entranhas de John Hurt. Nada convencional, tem um tom pessimista e um final chocante.
Essa é a versão de cinema, de 86 minutos, sem cortes. Na capinha em DVD, há um comentário curioso, que diz que esse filme é o ‘o avesso de ET’ [em menção ao filme de Spielberg, lançado no mesmo ano, 1982].
O diretor e roteirista Harry Bromley Davenport realizou duas continuações inferiores e grosseiras, ‘Xtro II - O reencontro’ (1991) e ‘Xtro 3 - O massacre’ (1995). No elenco, Philip Sayer, de ‘Alugado para matar’ (1983), Bernice Stegers, de ‘Suíte francesa’ (2014), e Maryam d'Abo, de ‘007 - Marcado para a morte’ (1987). Filme disponível no box ‘Clássicos Sci-fi – Anos 80’, da Versátil Home Video, junto de cinco filmes – ‘O domínio do olhar’ (1981), ‘Amores eletrônicos’ (1984), ‘A noite do cometa’ (1984), ‘As aventuras de Buckaroo Banzai’ (1984) e ‘Drive-in da morte’ (1986).
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Insônia
3.4 26Indicado ao Golden Camera em Cannes e exibidos nos festivais de Toronto e Mar del Plata, esse filme neonoir complexo e instigante foi um marco do novo cinema norueguês, rodado em incríveis locações do norte da Noruega, na cidade de Tromsø e na vila de pescadores de Nyksund, localizada na ilha Langøya. A dupla de roteiristas Erik Skjoldbjærg e Nikolaj Frobenius estreavam com o impactante filme policial, cheio de reviravoltas – Skjoldbjærg assinou a direção, e a dupla de roteiristas escreveu, muito tempo depois, outro bom thriller com aventura, ‘Mergulho profundo’ (2013). Grande nome de sua geração, o ator sueco Stellan Skarsgård, hoje um rosto frequente no cinema americano, entrega uma performance arrebatadora, no papel do detetive insone que mata seu colega de trabalho e faz de tudo para sair ileso – ele é um verdadeiro anti-herói, plantando provas para incriminar um dos suspeitos de ter cometido um homicídio, objeto inicial de sua investigação.
A tensão cresce a cada minuto, e na inteligente trama vão sendo inseridas novas pistas pelo caminho até um desfecho memorável – por isso, atenção nos mínimos detalhes e nos diálogos para não se perder.
‘Insônia’ ajudou a formatar o cinema escandinavo nos anos 90 e apresentá-lo para outros continentes – os três países da Península Escandinava, Dinamarca, Suécia e Noruega, são atualmente referência de um cinema autoral marcado por filmes que colecionam prêmios.
O filme fez a cabeça dos críticos e do público, e cinco anos depois o diretor Christopher Nolan, reverenciado por ‘Amnésia’ (2000) e esse ano indicado ao Oscar por ‘Oppenheimer’ (2023), adquiriu os direitos para um remake nos EUA, com nomes importantes no elenco, como Al Pacino, Robin Williams e Hilary Swank. Nolan manteve o tom sombrio de investigação, que agora se passaria no extremo norte do Alaska, onde também ocorre o solstício de verão, quando nunca anoitece, e a claridade do dia fica por quase três meses.
‘Insônia’ saiu recentemente em DVD pela Obras-primas do Cinema, cujo disco tem 20 minutos de material extra.
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The Final Terror
2.6 20Terror slasher que funciona para quem curte filmes de psicopatas e não chiam de mortes sangrentas. Há poucos assassinatos e um final surpresa, no estilo ‘Quem matou’, ou seja, o serial killer só é revelado nos minutos finais – apesar das pistas pintarem no desenrolar da trama, é um desfecho imprevisível.
Segundo filme do diretor Andrew Davis, de filmes de ação conhecidos do público, como ‘A força em alerta’ (1992, com Steven Seagal), ‘O fugitivo’ (1993, com Harrison Ford) e ‘Um crime perfeito’ (1998, com Michael Douglas), que também dirigiu a fotografia. É um slasher de sobrevivência que mistura elementos de ‘Amargo pesadelo’ (1972), ‘Quadrilha de sádicos’ (1977), ‘Sexta-feira 13’ (1980) e ‘Pânico na floresta’ (2003) – tudo ocorre numa floresta fechada, um grupo de guardas florestais são caçados por um assassino cruel que rasga a garganta das vítimas, e os que sobrevivem precisam fugir desse inferno. Tem algo sobrenatural no ar que será, aos poucos, esclarecido. Fotografia escura nos momentos de tensão e um final chocante ajudam na boa condução desse filme curioso de terror com suspense.
No elenco, Rachel Ward, de ‘Paixões violentas’ (1984) e protagonista da série ‘Os pássaros feridos’ (1983), Joe Pantoliano, de ‘Amnésia’ (2000), Daryl Hannah, de ‘Blade runner’ – O caçador de androides (1982), Akosua Busia, de ‘A cor púrpura’ (1985), e Mark Metcalf, de ‘O clube dos cafajestes’ (1978).
Assinado pelo produtor Samuel Z. Arkoff, mestre do cinema B, com roteiro da dupla Neill D. Hicks e Jon George, dos cultuados ‘Arlequim’ (1980) e ‘A caçada do futuro’ (1982), e colaboração de Ronald Shusett, roteirista ao lado de Dan O’Bannon do clássico ‘Alien – O 8º passageiro’ (1979).
Rodado no Redwood National Park, na California, em 1981, o filme ficou dois anos na gaveta, pois os produtores encontraram dificuldades em lançá-lo antes – 1981 foi o ano sagrado do cinema slasher, com 25 filmes de terror com psicopatas mascarados exibidos nos cinemas, tornando a década de 80 como a mais profícua desse cinema brutal e sanguinolento.
É uma fita rara, pouco conhecida, que agora pode ser assistida em boa cópia – saiu em DVD pela Versátil Home Video no box ‘Slashers – Vol. 15’, contendo ainda os longas ‘O assassino do 7º andar’ (1984), ‘Killer party – A noite das brincadeiras mortais’ (1986) e ‘Spa diabólico’ (1988) – vem cards na caixa e muitos extras.
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Olhos da Noite
2.8 16Filme B canadense de terror escatológico e que dá asco para quem tem medo de ratos, do diretor Robert Clouse, responsável por dois cultuados filmes de lutas marciais com Bruce Lee, ‘Operação dragão’ (1973) e ‘Jogo da morte’ (1978). Originalmente da Warner Bros, é um dos tantos filmes com animais assassinos que o cinema lançou nas décadas de 70 e 80, no caso ratos contaminados com um milho tóxico, que crescem até atingir o tamanho de um cachorro. Eles invadem casas, cinema e estações de metrô, em busca de carne humana. Apesar de ser terror cheio de corre-corre e mortes, fazia um alerta para os transgênicos – o milho é ‘batizado’ com esteroides, formando um novo produto altamente tóxico, e trazia ainda uma questão de saúde pública, o dos lixos acumulados nas metrópoles - Chicago, Nova York e Los Angeles, por exemplo, são cidades com população de ratos exorbitante, hoje um risco grave para doenças e contaminações.
A história foi adaptada do livro ‘The rats’, de James Herbert, livro lançado em 1974. Herbert, escritor de outros romances que viraram filmes, como ‘Fluke – Lembranças de outra vida’ e ‘Ilusões perigosas’, ambos de 1995, detestou a versão para cinema desse seu livro mais popular.
Como muitos filmes B de terror da época, reunia atores e atrizes conhecidos para puxar público; aqui vemos Sam Groom, protagonista da série ‘Dr. Simon Locke’ (1971-1975), Sara Botsford, de ‘Na calada da noite’ (1982), Scatman Crothers, de ‘O iluminado’ (1980), e Cec Linder, de ‘007 contra Goldfinger’ (1964).
Para recriar os ratos gigantes, utilizaram dezenas de cachorros Dachshunds, o ‘Salsicha’, vestindo figurino de roedores de pelagem grossa, além de bonecos feiosos de ratos dentuços, nas cenas em que os bichos aparecem em close.
Filme em ótima cópia, disponível em DVD no box da Versátil ‘Obras-primas do terror anos 80 – Animais em fúria’. A caixa reúne outros cinco filmes, ‘Ratos – A noite do terror’ (1984), ‘O corte da navalha’ (1984), ‘Link – O animal assassino’ (1986), ‘O ninho do terror’ (1987) e ‘Comando assassino’ (1988), trazendo cards colecionáveis e muitos extras.
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O Triunfo da Vontade
3.8 95 Assista AgoraDocumentário sobre o ‘6º Congresso Nacional-Socialista Alemão’, realizado em Nuremberg em 1934 e liderado por Adolf Hitler. Conhecido como o ‘6° Congresso do Partido Nazista’, reuniu mais de 35 mil pessoas e tornou-se uma das maiores armas da propaganda nazista.
Filme-propaganda da Alemanha Nazista encomendado por Adolf Hitler, muito estudado e comentado devido à estética inovadora, milimetricamente planejada pela cineasta Leni Riefenstahl (1902-2003). Leni dirigiu, escreveu, produziu, montou e ajudou na fotografia desse documentário opulento, cuja ideia era documentar os primeiros anos da NSDAP, o Partido Nazi, fundado duas décadas antes.
Tudo é grandiloquente no documentário – da ópera pomposa do alemão Richard Wagner aos zepelins pelos céus, das paradas grandiosas com desfiles de cavalos e carros alegóricos ao batalhão inumerável de soldados enfileirados em perfeita harmonia. Uma manifestação catártica do povo alemão diante da figura de Hitler e do alto escalão do Reich. Ali vê-se o torpor das massas, movidas pelos discursos fascinantes do Führer, que aos poucos foi levando a Alemanha para a barbárie, definindo a essência do que foi o nazismo.
Leni era uma esteta, sabia de enquadramento e montagem como ninguém, e o filme fala por si só sobre a parte técnica. Ela coloca a câmera no chão, usa e abusa de plongée e contra-plongée, recorre a gruas para captar imagens do alto etc. Por isso foi um filme ousado e ambicioso numa época em que o cinema ainda era mudo e não havia os recursos de hoje. Consta que Leni utilizou 30 câmeras e contratou 120 técnicos de som e de imagem pra captar os comícios em Nuremberg; ela demorou seis meses para editar o filme, e as quase duas horas de duração da versão final representam apenas 3% do material bruto, ou seja, o total de captação era de quatro mil horas de imagens.
Leni tinha carta branca de Hitler para fazer o filme; na exibição da obra pronta, ela teve atritos com Goebbels, o ministro da propaganda nazista, que detestou o resultado; mas Hitler gostou, usando a obra para glorificar o movimento nazista - depois da Segunda Guerra, o longa foi banido da Alemanha e proibido em alguns países. Grande parte das imagens que conhecemos dos discursos de Hitler e Goebbels vieram desse filme.
A cineasta sempre se defendeu dizendo que não imaginava os rumos do Nazismo na 2ª Guerra – seu filme, por retratar a alienação do povo alemão diante de Hitler, ajudou a espalhar discursos de ódio que depois seriam usados para unir a Alemanha e justificar perseguição aos judeus – as falas de Führer já mencionavam a raça ariana, o povo alemão como divino, e ele, Hitler, como uma presença onipotente, de um líder escolhido por Deus.
Apesar de Leni nunca ter se filiado ao Partido Nazi, foi a cineasta oficial do Nazismo – antes fez os curtas ‘A vitória da fé’ (1933) e ‘O dia da liberdade’ (1935), que tratavam, respectivamente, do ‘5º Congresso Nazista’ e dos soldados de Hitler, e depois faria as duas partes de ‘Olympia’ (1938), também conhecido como ‘Olimpíada e a mocidade olímpica’, sobre as Olimpíadas de Berlim em 1936, com Hitler no comando do país.
Exibido e premiado no Festival de Veneza, o documentário teve distribuição mundial pela UFA, a Universum Film AG, a maior rede de estúdios cinematográficos da Alemanha durante a República de Weimar e o III Reich, concorrente de Hollywood e que mantinha salas de cinemas ao redor do mundo – grande parte dos filmes do Expressionismo Alemão foram produzidos e distribuídos pela UFA, como ‘O gabinete do Dr. Caligari’ (1920), ‘Aurora’ (1927), ‘Metropolis’ (1927) e ‘O anjo azul’ (1930).
‘O triunfo da vontade’ virou um filme mítico e temido. Aparece até hoje em listas dos grandes filmes do cinema – concordo em termos de montagem e captação, e cineastas importantes já ressignificaram sequências do documentário, como ‘Star Wars’, ‘Tropas estelares’ e ‘Jogos vorazes.
Disponível em DVD pela Classicline na metragem de 108 minutos – a metragem original é de 114 minutos. No DVD, que está com boa imagem, não deixem de ver, na seção dos extras, o curta de Leni ‘O dia da liberdade’ (1935), sobre a propaganda e o exército hitlerista.
Mais sobre Leni Riefenstahl
Leni Riefenstahl, quando pequena, estudou pintura e literatura, incentivada pela mãe. De família rica, filha de um industrial, Leni tinha apenas um irmão, que morreu no front da 2ª Guerra Mundial. Não quis assumir os negócios da família e seguiu para a carreira do esporte – fez natação e foi ginasta olímpica e aos 16 entrou para o balé, tendo duros conflitos com o pai. Foi dançarina e bailarina notória em Berlim nos anos 20. Lesionada, não pôde mais dançar, então, como gostava de cinema, pediu emprego para um diretor, Arnold Fancke, e acabou trabalhando em dois filmes dele como atriz, ‘Monte sagrado’ (1926) e ‘O inferno branco de Piz Palu’ (1929) – este, codirigido pelo importante cineasta Georg Wilhelm Pabst. Em ‘Monte sagrado’ auxiliou na direção, até que em 1932 fez ‘A luz azul’, codirigido pelo diretor austro-húngaro Béla Balázs (sem crédito).
No cinema, Leni, além de dirigir, trabalhou como produtora, montadora e roteirista de seus filmes, e ocasionalmente foi diretora de fotografia. Depois de viver o auge no cinema alemão dos anos30, caiu no ostracismo - nunca mais conseguiu financiar filmes e gravar outros, pois ficou tachada como ‘a cineasta do Reich’, sofrendo boicotes. Dirigiu só mais um filme, ‘Terra baixa’ (1954), um drama musical, em que ela faz a personagem principal – ela era atriz de formação, aparecendo em ‘A luz azul’ (1932), por exemplo - nos anos 60 tentou fazer uma refilmagem de ‘A luz azul’, mas não conseguiu recursos financeiros.
Para sobreviver, Leni dedicou-se à fotografia até o final da vida, inclusive à fotografia submarina, em que se tornou pioneira, chegando a publicar livros da área.
Viveu reclusa, e em 2000 sofreu um acidente de helicóptero quando estava no Sudão, na África, onde viveu por um período a trabalho. Leni morreu em 2003 aos 101 anos.
POR FELIPE BRIDA - BLOG CINEMA NA WEB
A Luz Azul
3.5 8Nas noites de lua cheia, uma misteriosa luz azul brilha no alto de uma montanha. Ao longo dos anos, os moradores de uma vila próxima escalam até o pico para checar o estranho acontecimento, mas nunca retornam de lá. Junta (Leni Riefenstahl), uma mulher solitária, chega ao vilarejo e consegue se aproximar da luz. Então é considerada uma bruxa, tornando-se alvo de fanáticos; revoltados, homens e mulheres do vilarejo a culpam pelas mortes das pessoas que nunca voltaram da montanha e saem para caçá-la.
Primeiro filme autoral de Leni Riefenstahl (1902-2003), a controversa cineasta alemã admirada por Adolf Hitler e que trabalhou anos a fio com ele. Ela produziu ‘A luz azul’, escreveu o roteiro - baseado numa novela de Gustav Renker, dirigiu, editou e atuou na pele da protagonista, Junta, uma mulher tida como bruxa e que passa a ser perseguida por fanáticos – Leni era bonita e muito inteligente. Na época, tinha apenas 29 anos, e fez o roteiro junto de Carl Mayer, roteirista austro-húngaro que escreveu filmes do Expressionismo Alemão, como ‘O gabinete do Dr. Caligari’ (1920) e ‘A última gargalhada’ (1924). Por isso ‘A luz azul’ traz fortes traços do Expressionismo, com uma trama de fantasia, personagens grotescos e estética estilizada nos enquadramentos e nos grandes cenários fotografados na penumbra, que lembram um sonho.
Com esse filme, Adolf Hitler considerou Leni uma cineasta perfeita, tornou-a sua diretora favorita, e logo depois a chamou para trabalhar com ele no Reich. Essa é a versão que Leni defendeu a vida toda em entrevistas - há quem diga que foi ela quem assistiu a um discurso de Hitler, ficou encantada e propôs ao Führer seu trabalho como cineasta. Independentemente de quem procurou quem, o que houve foi uma longa parceria entre ambos – no ano seguinte, 1933, ela filmou o ‘5º Congresso Nacional-Socialista Alemão’, em Nuremberg, lançando-o como um filme-propaganda, ‘A vitória da fé’, de 61 minutos; o filme prepararia o maior filme dela e um dos mais importantes do cinema europeu daquela época, em termos de fotografia e montagem, “O triunfo da vontade” (1935), em que ela registrou o ‘6º. Congresso Nacional-Socialista Alemão’, também em Nuremberg, o famoso congresso nazista que reuniu 35 mil pessoas. A parceria não pararia aí; ela dirigiu o documentário em curta-metragem ‘O dia da liberdade’ (também de 1935), sobre o Exército de Hitler, e anos depois outro épico monumental da linguagem moderna, as duas partes de ‘Olympia’ (1938), traduzido no Brasil como ‘Olimpíadas e a mocidade olímpica’, sobre os Jogos Olímpicos de Verão de 1936 em Berlim – o filme deu a ela prêmio especial no Festival de Veneza.
‘A luz azul’ é um filme pioneiro dessa estética e narrativa diferenciadas da diretora, que já demonstrava aqui amplo domínio técnico com seus enquadramentos virtuosos e movimentos de câmera fora do comum, o que seria notável em ‘O triunfo da vontade’ - Infelizmente, a diretora serviu ao Reich, fazendo filmes que ampliavam o discurso hitlerista para fora do nicho nazista. Leni até o fim da vida defendeu que nunca foi filiada ao Partido Nazista e, conforme contava em entrevistas, ela era ingênua na época, não desconfiava sobre os rumos que a Alemanha tomaria nas mãos de Hitler. Ela pagou um preço caro: nunca mais conseguiu financiar filmes e gravar outros, pois ficou tachada como ‘a cineasta do Reich’, sofrendo boicote, além de ter sido presa, acusada de usar prisioneiros de guerra nos seus filmes, o que nunca ficou provado.
Indicado ao Festival de Veneza, que tinha sido fundado dois anos antes, ‘A luz azul’ foi rodado nos Alpes da Itália e trata de temas discutíveis na época, como fanatismo religioso. Está em domínio público e pode ser assistido gratuitamente no Sesc Digital, pelo Internet Archive, uma organização sem fins lucrativos fundada em 1996 que mantém um repositório com mais de 10 petabytes de arquivos digitais. Essa cópia vem de uma restauração de 2005, com metragem de 79 minutos, seis a menos que a original, de 85 minutos. No Internet Archive, a parceria com o Sesc Digital traz 10 filmes numa mostra chamada ‘Pioneiras do cinema’, que reúne curtas e longas escritas e/ou dirigidos por mulheres entre 1906 e 1946. Além de ‘A luz azul’, há os longas ‘A luz do amor’ (1921), da norte-americana Frances Marion, e ‘O ébrio’ (1946), da brasileira Gilda de Abreu, e curtas-metragens de Alice Guy-Blaché, Mabel Normand, Maya Deren e outras.
POR FELIPE BRIDA - BLOG CINEMA NA WEB
A Casa dos Sonhos
3.3 32Mais um filme esquecido no tempo que a distribuidora Obras-primas do Cinema resgata e traz com exclusividade em DVD aos colecionadores. ‘A casa dos sonhos’ (1988) fracassou na época nos cinemas e virou cult, um filme de drama com suspense, fantasia e pitadas de terror. Nesse conto de fadas sobrenatural, com presságios e figuras sinistras, uma garotinha sofre bullying na escola e vive em conflitos com a mãe. Ela gosta de desenhar, e numa de suas criações, isolada no quarto, rabisca uma casa com um garoto deficiente. Ela tem o poder de, nos sonhos, vagar pelo lugar, e tragada de maneira mágica para o desenho, fica amiga do menino, que não pode andar. Os dois usufruem de uma amizade sem interesse, até que vão precisar um do outro para escapar de um homem cego e desfigurado, que aparece na penumbra os ameaçando com um martelo na mão.
Com certa melancolia, o filme trata dos medos das crianças, a ausência dos pais e de como elas usam a imaginação para fugir de uma realidade perturbadora.
Exibido no Festival de Toronto, ganhou prêmios em festivais de cinema de terror e do cinema fantástico, como Avoriaz e Fantasporto. Foi um dos primeiros trabalhos do diretor londrino Bernard Rose, na época com 28 anos, que já flertava com a temática sobrenatural e iria desenvolvê-la com maestria no terror ‘O mistério de Candyman’ (1992) – ele dirigiu também um filme que admiro bastante e nunca mais encontrei para rever, ‘Minha amada imortal’ (1992), biografia de Beethoven, interpretado por Gary Oldman.
O roteiro, que ora pode parecer confuso, com sonhos, alucinação e realidade se misturando, é de Matthew Jacobs, roteirista de filmes B de ação, como ‘Ninja, a missão’ (1984), e que o escreveu a partir de um romance original do fim da década de 50, ‘Marianne Dreams’, da escritora inglesa de obras de fantasia Catherine Storr.
Único filme de Charlotte Burke, a garota protagonista, que não seguiu carreira. Já o menino Elliott Spiers, que interpreta Marc, seguiu carreira, fez seriados, mas morreu prematuramente seis anos mais tarde, após ficar doente devido a uma reação alérgica a um medicamento – ele tinha 20 anos.
Vemos também no elenco a atriz Glenne Headly, de ‘Os safados’ (1988) e ‘Dick Tracy’ (1990), no papel da mãe de Anna, uma atriz de quem sempre gostei, ex-mulher de John Malkovich e que faleceu há pouco tempo aos 62 anos. Ainda aparecem em papéis secundários Gemma Jones, veterana atriz inglesa, de ‘Razão e sensibilidade’ (1995), como uma médica, e Ben Cross, de ‘Carruagens de fogo’ (1981), no papel do perverso homem dos sonhos de Anna – o papel dele crescerá na reta final e ganhará contornos interessantes. Boa trilha sonora, do premiado Hans Zimmer em parceria com o veterano Stanley Myers, e uma fotografia que dá o tom onírico necessário para a história, de Mike Southon.
PS: No Brasil tem outro filme de mesmo título, um terror ruim e infeliz de Jim Sheridan, com Daniel Craig, Rachel Weisz e Naomi Watts – portanto, não confunda.
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O Grande Dragão Branco
3.4 621 Assista AgoraFilme de ação, luta e esportes que lançou no Ocidente a figura de Jean-Claude Van Damme, na época com 28 anos, um ator belga que antes havia participado de outra fita de luta conhecida dos fãs, ‘Retroceder nunca, render-se jamais’ (1985). ‘O grande dragão’ foi seu segundo filme, com boa bilheteria e ganhando fãs no mundo todo, e em seguida Van Damme estrelaria uma série de fitas de ação e artes marciais semelhantes, como ‘Cyborg – O dragão do futuro’ (1989), ‘Kickboxer – O desafio do dragão’ (1989), ‘Leão branco, o lutador sem lei’ (1990), ‘Soldado universal’ (1992), ‘Vencer ou morrer’ (1993) etc. ‘O grande dragão branco’ é um dos melhores dessa linha, e foi baseado em fatos reais. Conta a vida de um lutador canadense, mas criado nos Estados Unidos, Frank William Dux, hoje com 67 anos. Dux era militar, participou de mais de 300 lutas nos anos 70 e 80, foi campeão de peso pesado e nunca sofreu uma derrota. Segundo Dux conta, viajou para Hong Kong conhecer o proibido Kumite, uma arte marcial violenta, em que o adversário morre. Acabou ficando por lá e se dedicando ao esporte, que era clandestino. No Kumite, Dux ficou conhecido pelo nocaute rápido, e ao voltar para os EUA nos anos 80, fundou a sua escola de ninjitsu, a Dux-Ryo. Ele virou treinador de dublês para o cinema – inclusive coreografou Van Damme para o filme ‘Leão branco, lutador sem lei’ e até auxiliou no roteiro de outro filme de luta com Van Damme, ‘Desafio mortal’ (1996). O filme narra partes da trajetória dele, de quando chega a Hong Kong e aos poucos tenta entrar no Kumite, sofrendo preconceito por não ser nem japonês nem chinês, que eram aqueles que subiam no ringue da luta. Era um esporte clandestino, escondido em subterrâneos, sem alarde e com pouco público, e o filme procura desvendar esse lado sórdido da competição.
Van Damme nunca foi bom ator, mas tem carisma e consegue segurar e prosseguir com o papel do lendário lutador. Dispensou dublês para as cenas de luta, e esse seu filme surpreendeu na bilheteria da época - custou U$ 1 milhão e rendeu 11 vezes mais nas salas de cinema. Depois foi incessantemente reprisado na TV aberta – lembro que na metade da década de 90 o filme chegou a passar três vezes no mesmo ano na mesma emissora.
Produção norte-americana, foi rodada totalmente em Hong Kong, inclusive na ‘Cidade murada de Kowloon’, uma região populosa, degradada e que era uma antiga fortaleza militar.
Newt Arnold dirigiu dois filmes antes, os de terror B ‘Mãos criminosas’ (1962) e ‘Blood thirst’ (1971), e viu aqui seu maior sucesso comercial. Trabalhou, de maneira ocasional, como roteirista e ator em pontas, no entanto seu destaque no cinema foi como assistente de direção, com mais de 50 longas nas costas, como ‘O poderoso chefão 2’, ‘Inferno na torre’, ‘Blade runner’ e ‘Os Goonies’.
Reparem na participação especial de Forest Whitaker em início de carreira e no bom trabalho do veterano ator chinês Roy Chiao.
Entre 1996 e 1999, houve três continuações do filme - sequências, diríamos, sem permissão, apenas usando o mesmo título; a história era cópia barata, reunia outro elenco e mudaram o nome do personagem, sendo as três protagonizadas por Daniel Bernhardt – isso sem contar a infinidade de imitações ruins que surgiram.
Ganhou mês retrasado duas ótimas edições em mídia física pela Obras-primas do Cinema, uma em DVD e outra em bluray. A em DVD vem luva, cards, capa dupla face e quase duas horas de extras, como entrevistas e especiais sobre o filme, enquanto a em bluray traz os mesmos itens, exceto mais uma entrevista no extra e um trailer, reunida em um digibook especial de colecionador com 30 páginas.
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A História de Ricky
4.0 143Trash de carteirinha, esse filme extremamente violento é baseado num mangá japonês gore, ‘Riki-Oh’, de Masahiko Takajo e Tetsuya Saruwatari, que circulou entre 1987 e 1990. Tanto o mangá quanto o filme trazem um universo das artes marciais com mortes violentas e muito humor negro/macabro, misturando elementos do scifi e do terror, numa trama tensa sobre encarceramento e injustiça.
Num futuro próximo, o sistema penitenciário é privado, existe um descontrole social, e ali dentro as leis são feitas pelos presos. Ricky é um jovem detido por um crime que não cometeu, um atentado contra uma máfia. Na prisão vira uma espécie de ultra-humano ao se dedicar às lutas marciais, percebendo forças poderosas em seus golpes. Perseguidos por algozes na cadeia e querendo reestruturar aquele sistema perverso em que os encarcerados são submetidos a torturas, Ricky se transforma numa arma mortífera, matando todos que aparecem em seu caminho.
A fita virou cult, com cenas grotescas e escrachadas de mortes, com tripas voando, cabeças sendo arrancadas com soco, olhos saltando do crânio e por aí vai. No desfecho, altamente sanguinolento, um dos vilões que vira um monstro é estraçalhado num moedor de carnes. Prepare-se para um espetáculo de sangue e risos, nesse filme trash proposital, com visíveis membros de borracha, sangue de groselha e maquiagem grosseira. Vi pela primeira vez agora e me diverti bastante.
Esse é o trabalho mais conhecido do diretor honconguês Ngai Choi Lam, que também trabalha como diretor de fotografia, e fez fitas de terror com ação, como ‘A sétima maldição’ (1986), um longa violento com monstros horripilantes na selva da Tailândia, estrelado por Chow Yun-fat.
O mangá ‘Riki-Oh’ deu origem, antes, aos animes para cinema ‘Riki-Oh – O muro do inferno’ (1989) e ‘Riki-Oh – Filho da destruição’ (1990), sem contar, nos anos 2000, a inúmeras adaptações para telefilmes e séries na China e Hong Kong.
‘A história de Ricky’ saiu recentemente em DVD pela Obras-primas do Cinema numa excelente cópia, na maior versão possível, a de cinema, com 91 minutos - isso porque em países como Alemanha houve cortes de 10 minutos por causa da violência. Nessa edição da OP, vem luva, cards e 40 minutos de extras.
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Olhos Assassinos
3.4 51 Assista AgoraO olho sinistro que tudo vê
Por Felipe Brida
O cinema slasher fervilhava no ano de 1981. Pintava nas salas de cinema norte-americanas uma média de um filme desse estilo a cada duas semanas. Eram produções de baixo orçamento com psicopatas que trucidavam jovens com requintes de crueldade. O universo desse cinema de horror violento ganhava popularidade nos Estados Unidos e se expandia além das fronteiras americanas. O slasher invadiu o mundo, tornou-se um subgênero cultuado e esteve em voga até o final daquela década – na verdade ele nunca morreu, vira e mexe retornava com novos apetrechos, como ocorreu nos anos de 1990 e 2000 com “Pânico”, “Eu sei o que vocês fizeram no verão passado”, “Lenda urbana” e as novas fases de “Halloween” e “Sexta-feira 13” – lembrando que os originais dessas duas franquias foram pioneiros do slasher, lançados respectivamente em 1978 e 1980.
1981, o ano de ouro do slasher. Dezenas de fitas fizeram o público gritar nas salas escurinhas de cinema. A maioria tinha como vilão um assassino perverso perseguindo jovens indefesos, utilizando máscara e luva e carregando uma arma afiada (faca, facão, machado, forquilha, arpão e por aí vai). Alguns slashers de 1981 tinham apelo sobrenatural, com ares demoníacos, outros com ingredientes de humor negro, e parte deles com trama de investigação policial. Alguns marcantes foram “Dia dos Namorados macabro” (de George Mihalka), “Sexta-feira 13 - Parte 2” (de Steve Miner), “Chamas da morte” (de Tony Maylam – intitulado ainda de “A vingança de Cropsy”), “Feliz aniversário para mim” (de J. Lee Thompson), “Halloween II – O pesadelo continua!” (de Rick Rosenthal), “Noite infernal” (de Tom DeSimone), “Aniversário sangrento” (de Ed Hunt), “A hora das sombras” (de Jimmy Huston), “Pouco antes do amanhecer” (de Jeff Lieberman), “Escola noturna” (de Ken Hughes), “Corpo estudantil” (de Mickey Rose e Michael Ritchie), “Incubus” (de John Hough) e “X-ray: Massacre no hospital” (de Boaz Davidson). E, claro, um dos mais sinistros exemplares, “Olhos assassinos”, de Ken Wiederhorn.
“Olhos assassinos” é um slasher na linha mais realista, com um assassino que parece ter saído das páginas policiais: um estrangulador de mulheres. Nessa trama engenhosa e detalhista, uma jornalista que atua numa TV em Miami, Jane Harris (Lauren Tewes) suspeita que o vizinho do prédio da frente é um assassino em série, chamado Stanley Herbert (John DiSanti). Na frente das câmeras, sentada na bancada do telejornal, ela noticia todos os dias o assassinato de uma mulher em Miami, o que coloca as autoridades policiais da cidade em estado de alerta. Os dias correm, não há ninguém preso nem paradeiro sobre o criminoso, então a jornalista resolve investigar o caso por conta, já que aparentemente ele mora no prédio próximo a ela. Com coragem e sede de justiça, Jane entra na casa do suposto assassino quando ele não está. Vasculha seus pertences, acredita que encontra alguma pista e sai em disparada. A partir daquele dia, começa a chantageá-lo sem que ele saiba quem ela é. Até que a filha da jornalista, Tracy (Jennifer Jason Leigh), uma adolescente cega, passa a ser seguida por Herbert.
Enquanto Jane faz a investigação por conta própria, os assassinatos continuam ocorrendo. A maioria das vítimas são mulheres, mas há homens também, pois eles “atrapalham” o caminho do furioso serial killer.
O diretor Ken Wiederhorn, que realizou apenas sete filmes ao longo da carreira, entre os anos de 1970 e 1990, como “Horror em alto-mar” (1977), e escreveu e dirigiu séries de TV como “A hora do pesadelo: O terror de Freddy Krueger”, trouxe um roteirista com quem havia trabalhado em “King frat” (1979), Mark Jackson (que também assinava como Ron Kurz). Jackson/Kurz sentiu-se à vontade para escrever um roteiro de filme independente de terror que originalmente seria uma fita policial. E deu todo o tom de horror, tragédia e sangue necessários para um autêntico slasher movie (em 1980 Kurz auxiliou no roteiro de “Sexta-feira 13” e ajudaria a criar os personagens do segundo capítulo, dando forma ao real Jason Voorhees, no capítulo 2 da franquia). Kurz trouxe dimensões psicológicas críveis aos personagens centrais: a da jornalista que busca respostas dos crimes horrendos que assolam Miami, a da filha cega e suas dificuldades de se comunicar e locomover, e a do assassino, um homem comum, de meia-idade, de pouca fala, solitário, que antes de atacar as mulheres liga para elas falando pornografias, sussurrando e ameaçando-as de morte. De classe média, ele faz ligações de casa e de cabines telefônicas e com seus largos óculos passa a vigiá-las perto de suas casas - o assassino foi inspirado no criminoso Lars Thorwald, de “Janela indiscreta” (1957), interpretado por Raymond Burr.
O modus operandi do assassino foge à tradição dos slashers: ele coloca meias finas para tapar o rosto (como se fossem de assaltante, algo que não costumamos ver nos slashers) e as mata estranguladas (às vezes as ataca com faca). Também costuma estuprá-las (algo diferente dos psicopatas slasherianos). Vez ou outra um homem aparece pelo caminho, então o assassino os elimina com um canivete pontiagudo e até com uma machadinha de açougueiro (uma cena emblemática e grotesca traz o serial killer, no começo do filme, decapitando um coitado cuja cabeça voa para dentro de um aquário).
Esse é um slaher sanguinário, com poucas mortes e que não segue o formato de “whodunit?” (“who [has] done it?”, ou “Quem matou?”), tão comum na primeira fase dos slashers e tão usual em filmes de investigação. O assassino aparece na penumbra desde o início, vê-se a silhueta dele à noite e os pés caminhando (um homem de calças sociais e sapato, bem vestido), porém em poucos minutos seu rosto aparece. Sabemos quem ele é, onde mora, o que faz. Ele é o morador do prédio de classe média em frente ao condomínio onde mora a jornalista e sua filha cega. Seus traços são a misoginia, a perversão e a falsa aparência de um homem honroso.
O filme não tem alívio cômico, tudo é muito sério, direto e duro, sem reviravoltas também. Algumas cenas gore estilizam a fita, com espirros de sangue e bons efeitos especiais, assinados por Tom Savini, de slashers como “Sexta-feira 13” (1980), “O maníaco” (1980), “Chamas da morte” (1981) e “Quem matou Rosemary?” (1981). Por causa da violência, na época do lançamento, recebeu classificação R (Rated-R), para maiores de 18 anos.
Elenco de “Olhos assassinos”
O filme “Olhos assassinos” foi determinante na carreira das atrizes Lauren Tewes e Jennifer Jason Leigh, ambas estreantes no cinema. Lauren vinha da série “O barco do amor” e trabalhou mais em TV (séries e telefilmes), fazendo participação especial em apenas dois filmes de cinema, dirigidos por Gregg Araki, “Geração maldita” (1995) e “Estrada para lugar nenhum” (1997). Aqui interpreta a corajosa jornalista que denuncia os crimes contra mulheres em Miami e vai caçar o assassino com as próprias mãos, colocando-se frente a frente com ele.
Já a atriz Jennifer Jason Leigh tinha na época 17 anos e fez 18 anos durante as gravações de “Olhos assassinos”. Antes ela havia feito pequenas aparições em séries como “Baretta” e “Os Waltons”. “Olhos assassinos” seria seu trampolim para a carreira: no ano seguinte, 1982, foi escalada para o elenco “O homem com a lente mortal” e “Picardias estudantis”, depois faria “Tudo por uma herança” (1983 – também conhecido como “Dinheiro fácil”), “A morte pede carona” (1986) e mais de 60 títulos, incluindo “Os oito odiados” (2015), pelo qual foi indicada ao Oscar de melhor atriz coadjuvante. Aqui interpreta com solidez e sem caricatura a personagem cega, uma adolescente que vira alvo do serial killer.
Por fim, o ator John DiSanti vinha de “King frat”, do mesmo diretor, Ken Wiederhorn. Antes apareceu em “Lenny” (1974) e “Um trapalhão mandando brasa” (1980), e depois faria “Ausência de malícia” (1981), “O esquadrão de justiça” (1983) e “O milagre veio do espaço” (1987). Ele interpreta aqui o assassino Stanley Herbert, de olhar sinistro e expressões faciais de arrepiar.
Curiosidade:
Prestem atenção em dois easter eggs: quando o assassino telefona para a primeira vítima, esta assiste na TV, em preto-e-branco, o filme “Horror em alto-mar” (ou “Ondas do pavor”), de zumbis do fundo do oceano, que foi o primeiro trabalho do diretor da fita, Ken Wiederhorn. Já na metade do filme, quando a jornalista vai a um cinema, há o poster, na vitrine, de “Despertar dos mortos”, cuja maquiagem e efeitos são de Tom Savini, o mesmo de “Olhos assassinos”.
Resenha escrita especialmente para o livro "Slashers - Pérolas da coleção", lançado pela Versátil Home Video em janeiro desse ano. Livro disponível para venda no site da Versátil.
Fogo no Céu
3.6 301 Assista AgoraEssa é a versão para cinema do ‘Caso Travis Walton’, ocorrido em novembro de 1975, um dos mais conhecidos da ufologia e que mexeu com o mundo todo. Enquanto estudiosos acreditam que a abdução foi real, parte dos peritos e da mídia apontam o tal sequestro alienígena de Walton uma fraude. Acredite você ou não em alienígena, como cinema ‘Fogo no céu’ funciona, e se interpretarmos aquilo como verídico, a experiência se torna ainda mais aterrorizante.
Travis Walton era um funcionário de uma reserva florestal numa cidadezinha do Arizona que, segundo relata, foi abduzido e ficou cinco dias em uma nave alienígena, após ser capturado na floresta. Ele reapareceu numa rodovia a quilômetros do local onde sumiu, desorientado, e a partir daí uma complicada investigação tomou conta de sua vida.
O filme é baseado no livro dele, ‘The Walton experience’, lançado três anos após o incidente, e Walton descreve o interior da nave alienígena e as torturas sofridas pelas mãos dos ETs – ele foi vítima de um terrível experimento laboratorial - e as imagens de cinema tentam acompanhar tudo isso. Dá muito medo, pois as sequências são assustadoras, com uma direção de arte e uma fotografia impressionantes.
No filme, um drama scifi com suspense e momentos de puro terror, D.B. Sweeney, de ‘Atraídos pelo perigo’ (1987) e ‘Um casal quase perfeito’ (1992), interpreta Walton, num papel exigente e difícil, quase um tour-de-force. Está no elenco com ele nomes que se revelavam naquela década, Robert Patrick (de ‘O exterminador do futuro 2 – O julgamento final’, de 1991), Peter Berg (de ‘Noites calmas’, de 1992), Henry Thomas (de ‘ET – O extraterrestre’, de 1982) e Craig Sheffer (de ‘Nada é para sempre’, de 1992), os quatro como seus colegas de trabalho na reserva florestal, e participação do veterano ator James Garner, de ‘Fugindo do inferno’ (1963), como um xerife.
Junto de o ‘Caso Roswell’, que também ganhou versão para cinema e série, é um dos relatos mais estudados sobre abdução alienígena. O verdadeiro Travis Walton e a esposa, Dana, aparecem numa pontinha no filme – Walton, hoje com 70 anos de idade, não gostou do longa, e três anos depois lançou um novo livro para comparar o filme com o que aconteceu com ele, ‘Fire in the sky: the Walton experience’.
Falecido no ano passado aos 75 anos, o diretor Robert Lieberman dirigiu dezenas de telefilmes e séries, incluindo seriados de temática paranormal, como episódios de ‘Arquivo X’, ‘O vidente’ e ‘The dead zone’, e poucos filmes, como as comédias infantis ‘Um pedido de Natal’ (1991) e ‘Nós somos os campões 3’ (1996) – porém foi em ‘Fogo no céu’ seu maior trabalho.
Um filme que gosto demais, fez parte da minha infância e revi recentemente na ótima cópia que a Obras-primas do Cinema lançou em DVD, numa edição especial contendo uma hora de extras, cards e luva – recomendo essa cópia, pois vem de uma restauração em 2k norte-americana.
POR FELIPE BRIDA - BLOG CINEMA NA WEB
Feliz Natal
3.4 144Feliz Natal
- Resenha publicada em 28/12/2008, a partir de duas entrevistas especiais que fiz no IV FestCine - Festival de Goiânia, com o ator e diretor Selton Mello e com a atriz Darlene Gloria, em novembro de 2008.
Dono de um ferro-velho numa cidadezinha do interior, Caio (Leonardo Medeiros) volta para a casa do irmão para passar o Natal com a família. Afastado de todos por causa de uma tragédia do passado, tentará com muito custo se reconectar com os pais, divorciados, e com o irmão mais velho.
Mineiro natural de Passos, o ator Selton Mello, que completa 36 anos no próximo dia 30, assinou aqui seu primeiro filme como diretor de cinema. O drama “Feliz Natal” teve estreia nos cinemas brasileiros no dia 21/11 com críticas positivas. Premiado em festivais de cinema de todo o país, dentre eles três prêmios no Festival de Paulínia – melhor diretor, atrizes coadjuvantes (Darlene Glória e Graziella Moretto) e menção especial para o ator mirim Fabrício Reis, e nove troféus no IV Festcine Goiânia, “Feliz Natal” é um dramático painel sobre desestruturação familiar.
O longa-metragem narra a história de Caio (Leonardo Medeiros), um homem de 40 anos que, na véspera do Natal, decide retornar para sua cidade após um longo tempo longe da família. Lá reencontra o pai, Miguel (Lúcio Mauro), que não aceita a sua volta, o irmão Téo (Paulo Guarnieri), que enfrenta uma crise conjugal, e a mãe, Mércia (Darlene Glória), alcoólatra e perturbada. A presença de Caio altera a vida de todos os membros da família, provocando comportamentos extremos, como ódio e reconciliação.
Quando estive no FestCine Goiânia, entrevistei Selton Mello, Darlene Glória e a produtora Vania Catani, para falar sobre a produção. Nessa primeira investida como diretor, Selton optou em rodar um projeto de carga dramática densa, que aborda a desestruturação no ambiente familiar, marcado por uma tragédia no passado. Segundo Mello, foi uma tentativa de dizer algo que vinha querendo expressar há tempos, mas como ator não teve a possibilidade de fazer. Entrou fundo num projeto cuja ideia principal era de fazer um filme intenso sobre incomunicabilidade entre pais e filhos e ao mesmo tempo o da solidão em suas diversas formas. Outro diferencial do seu primeiro longa é que o caso gira em torno de uma família de classe média, tão pouco abordada no cinema brasileiro. Mello disse que se espelhou no cinema de Arnaldo Jabor, que fazia tão bem filmes sobre a classe média.
Pelo fato de o filme ser dramático, pesado, angustiante, o que foge do gosto habitual do telespectador, acredita que “Feliz Natal” atingirá o público, ainda mais com as críticas positivas que recebeu – eu, por exemplo, achei um dos melhores filmes brasileiros do ano.
O longa é uma história próxima de nós; existe uma família em ruínas, o filho sai de casa, a mãe é alcoólatra e separou-se do marido, o irmão está infeliz com o casamento; há um passado sombrio na vida do personagem central, só revelado nos momentos finais da fita, em uma sequência marcante, puramente visual e poética. E o desfecho, com a criancinha na janela, papel bom do estreante mirim Fabricio Reis, é de ferir o coração...
Outro diferencial do filme é o diretor ter reunido um time de atores e atrizes de primeira categoria, e ter liberdade em rodar um projeto de cunho autoral. Segundo Mello, cada um dos personagens traz uma história diferente e para tanto resgatou grandes nomes do cinema - Darlene Glória não atuava desde os anos 80, pelo menos num papel de destaque; Paulo Guarnieri estava afastado das telas desde 1996, e é um dos grandes atores brasileiros, também esquecido. Tem ainda Lúcio Mauro, Graziella Moretto e o principal, Leonardo Medeiros, que vem firmando carreira e é sem dúvida um dos maiores nomes da geração atual de atores.
Darlene explode num papel complexo – ela é a mãe alcoólatra e inconsequente do protagonista, que traz traços da verdadeira Darlene do passado; Darlene fez uso de drogas, teve internações em hospitais psiquiátricos e depois se converteu e virou pastora evangélica.
No filme funcionam também a fotografia escurecida de Lula Carvalho e a trilha sonora com tom fúnebre de Plinio Profeta. Cheio de ângulos e enquadramentos incômodos, com zoom nos rostos dos personagens, conta com um delicado roteiro de Selton Mello com o estreante Marcelo Vindicato.