O diretor norte-americano Gavin O’Connor, dos filmes “Livre para amar” (1999) e “Força policial” (2008), voltou-se novamente ao mundo dos esportes, depois de falar do boxe em “Guerreiro” (2011), retomando parceria com o astro Ben Affleck, com que havia trabalho no complexo filme de espionagem “O contador” (2016). Trouxe o bom roteirista Brad Ingelsby, de “Tudo por justiça” (2013) e “Noite sem fim” (2015), e realizou seu filme menos comercial e mais intimista, um retrato de um homem entregue à dependência do álcool que tenta reconstruir sua vida após chances perdidas. Promissor no basquete, o personagem de Ben hoje trabalha em obras pesadas, acabou de se divorciar e vive sozinho, deprimido. Até que surge a oportunidade de ser treinador de um time de basquete que está em boa colocação na região, e prestes a entrar num grande campeonato. Ele terá poucas horas para decidir se assume a vaga ou não, mas para tanto terá de abandonar o vício. Com cenas bem conduzidas dos treinos de basquete na quadra e um bom desempenho de Affleck, o filme trata de superação e retomada de vida, sem cair em pieguices – até porque Affleck (que vem fazendo muitos filmes fora do circuito comercial) envolveu-se com drogas e álcool, esteve numa clínica de reabilitação meses antes da gravação e conseguiu sair dela a tempo para gravar o filme. Por ter vivido o drama de um adicto, conseguiu dar o peso e a decência para o papel (na clínica, o ator engordou 15 quilos e manteve o peso para o protagonista, outro reflexo da ‘verdade’ que o ator passa para o personagem). É uma fita independente de drama séria e humana, cuja produção sofreu problemas na distribuição nos cinemas em 2020 – a premiére foi em 1º de março daquele ano em Los Angeles, e dias depois foi decretada a pandemia da Covid-19, fazendo com que as salas de cinema fossem fechadas por um ano. Ou seja, o filme fracassou, entrando em streaming logo depois. Hoje pode ser assistido em DVD e Bluray, lançado pela Warner Bros (ambos com muitos extras no disco), e disponível para assinantes no Amazon Prime Video e HBO Max e para aluguel em plataformas como Apple TV e GooglePlay. Recomendo!
Filme de terror de início de carreira de Oliver Stone, que pouca gente conhece. Por ter sido fracasso no lançamento nos cinemas em 1981, virou cult, e hoje revendo é um filme assustador, de terror psicológico, cheio de metáforas. A principal delas é a relação do tormento do cartunista sem a mão com as alucinações dos soldados da Guerra do Vietnã, tema recorrente nas obras de Stone – por ter sido combatente no Vietnã, e viu de perto os horrores da guerra, ele fez obras máximas do cinema com o tema, por exemplo, Platoon e Nascido em 4 de julho, sempre trazendo os soldados perturbados e os horrores da guerra. Esse foi o segundo filme de Stone, sete anos depois de estrear com um terror B, ‘Seizure’, de 1974, e depois faria filmes sobre política e mundo dos negócios, como ‘Wall Street – Poder e cobiça’, ‘JFK - A pergunta que não quer calar’ e ‘Nixon’, biografias musicais, como ‘The Doors’, e fitas de extrema violência, como ‘Assassinos por natureza’. Em ‘A mão’, um cartunista tem a mão decepada num trágico acidente de carro. O membro nunca foi encontrado, então ele não pode voltar a desenhar. Usa provisoriamente uma prótese de aço. Seu casamento anda ruim, passa a ter pesadelos diários com a mão desaparecida, tornando-o um homem instável, deprimido e violento. Psicologicamente abalado, isola-se numa casa remota com a esposa e a filha pequena, e paralelo a isso, pessoas com quem não se dava começam a ser assassinadas de maneira brutal. Teria aquela mão criado vida agindo com vontade própria? Produzido e lançado pela Orion/Warner, tem um bom Michael Caine no papel principal, personagem que seria originalmente de Jon Voight e depois de Dustin Hoffman, que declinaram. Tem efeitos especiais de Carlo Rambaldi, ganhador de três Oscars, dentre eles por criaturas famosas do cinema, como Alien e ET – os efeitos criados por ele são os diferentes modelos de mãos decepadas, que andam, rastejam e pulam. Baseado no livro de Marc Brandel ‘The lizard's tail’, foi produzido por um dos produtores mais importantes dos anos 80 e 90, Edward R. Pressman, e traz trilha sonora de James Horner, de ‘Titanic’, e montagem bem caprichada do premiado Richard Marks, de ‘Dick Tracy’. Utilizando cores fortes e cenas em PB, há momentos assustadores, como a visão da mão andando pelos matos e entrando nas casas, como se estivesse viva e víssemos com seus olhos, em primeira pessoa. No filme todo a realidade se confunde com os delírios do cartunista, nunca sabemos se o que ocorre é real ou não, o que torna o filme angustiante. A cena final na clínica, com participação da atriz Viveca Lindfors, é de fechar com chave de ouro. Lançado em DVD numa boa cópia pela Classicline
Aclamado nos festivais por onde passou, “A baleia” é um contundente drama pessoal do diretor Darren Aronofsky, que não costuma fazer filmes fáceis de serem digeridos. Dele vimos os controversos e complexos “Pi” (1998), “Réquiem para um sonho” (2000), “Cisne negro” (2010) e “Mãe!” (2017), e “A baleia” (2022) entra sem sombra de dúvida nesse rol de obras impactantes do diretor que também é roteirista e produtor de seus trabalhos. Aronofsky resgatou o ex-astro de Hollywood Brendan Fraser, que nos anos 90 fez fitas simpáticas de comédia e depois caiu nas drogas, e extraiu dele uma performance humana, íntima e delicada, de um professor de redação gay, recluso pela obesidade mórbida e que hoje mora numa casinha simples dando aulas online sempre com a câmera desligada (por causa de seu peso). No passado, uma tragédia o impediu de se socializar, afastou-se da família e tem apenas uma amiga que frequenta sua casa, a enfermeira que o auxilia nos afazeres domésticos e verifica sua pressão arterial constantemente, Liz (um soberbo trabalho da tailandesa Hong Chau). Um dia sua filha adolescente, que é rebelde e agressiva, Ellie (trabalho também forte de Sadie Sink) chega para passar uns dias com ele, o que será uma verdadeira tempestade de emoções. Ela não o aceita pelo que fez anos atrás, e esse reencontro será a última tentativa de redenção do professor, pois sua saúde está debilitada. Com uma trama cheia de revelações, em que tudo ocorre em três ou quatro ambientes da mesma casa (dois quartos, cozinha, sala e varanda), o filme se constrói e reconstrói a cada momento. Tudo é muito pontuado, com detalhes nos diálogos, no drama sólido que nos faz ficar com um nó na garganta, na dúbia referência à baleia (ao mesmo tempo é a baleia Moby Dick, de uma redação que o professor guarda consigo, e também uma forma pejorativa a ele, pelo seu porte) e no trabalho extraordinário de Fraser (que mal o reconhecemos, pois está sob uma maquiagem desgastante, com enchimentos de borracha, que o fez parecer um homem de mais de 250 quilos) e dos coadjuvantes, com destaque para Chau, Sink e uma rápida e eloquente participação de Samantha Morton, como a ex-mulher do professor. A câmera intimista do diretor capta olhares únicos dos atores, em especial de Fraser, quando nos momentos mais dramáticos e altos da história (um trabalho de maestria de Aronofsky). Baseado na peça de Samuel D. Hunter, o filme ganhou prêmios importantes: o Oscar de melhor ator para Fraser e melhor maquiagem, quatro troféus especiais no Festival de Veneza, sem contar as inúmeras indicações de Fraser, ao Globo de Ouro, Bafta etc. Prepare-se para o final simbólico (como costumam ser os desfechos das obras do diretor), que arrancam suspiros e lágrimas. Foi um dos meus filmes preferidos de 2022, que passou nos cinemas brasileiros esse ano e saiu recentemente em DVD e Bluray pela Obras-primas do Cinema (ambos com mais de 1h de extras no disco), em parceria com a California Filmes e a A24 Filmes. Disponível para aluguel em plataformas de streaming, como Youtube Filmes, Apple TV, GooglePlay Filmes e Amazon Prime Video.
Também lançado no Brasil como “Mistério no bosque”, esse intrigante filme de fantasia e mistério com toques de terror foi, vejam só, assinado pela Disney, e é um dos únicos exemplares da produtora nessa linha. Rodado em bosques ingleses na região de Warwickshire, tem um clima sombrio, com algo sobrenatural no ar (auxiliado por uma fotografia compenetrada e bucólica, do mestre Alan Hume, de “O buraco da agulha”), envolvendo desaparecimento de crianças, fantasmas e bruxarias (apesar de ter recebido classificação indicativa PG, que nos EUA é para mais de 13 anos, foi vendido como um “filme de família”, de “fantasia”, por ter a Disney por trás). Quando digo “filme de terror” não é nada relacionado a mortes macabras, assassinos cruéis e sustos, e sim o tema, a ambientação, a forma como a história é narrada (que tem um desfecho marcante, apesar de já decifrarmos tudo já na metade). Foi um dos últimos trabalhos da grandiosa e premiada Bette Davis (ganhadora de dois Oscars e indicada a outros nove!), repetindo o papel de uma megera, com aparência de bruxa. Tem também participação de Carroll Baker (de “Assim caminha a humanidade”) e Ian Bannen (de “Coração valente”), além da atriz mirim Kyle Richards, na época com 10 anos - antes fez “Eaten alive” e “Halloween: A noite do terror”. O diretor John Hough vinha de filmes de terror como “A casa da noite eterna” e “Incubus” e antes havia feito para a Disney a aventura “A montanha enfeitiçada”. “Olhos na flroesta” é um pequeno grande thriller com revelações, magias, sobrenatural e espíritos, feito na medida exata para agradar crianças, jovens e adultos. Em DVD pela Classicline, numa ótima cópia. POR FELIPE BRIDA - BLOG CINEMA NA WEB
O best seller “Watership Down”, de Richard Adams, ganhou o mundo após ser publicado em 1972, virou série de desenho animado, filmes e imitações em vários países. Em 1978, a história original dos coelhos valentes em busca de um novo território para viver foi adaptada em uma belíssima animação cult, que serve às crianças, mas também é um filmão para jovens e adultos. Isso porque não é apenas uma fábula simplista de coelhos numa aventura em busca de um lar; é uma crítica social sobre exílio e perseguição, alienação e preconceito, e fala também sobre poder, identidade e territorialidade. Os coelhos de uma comunidade são alvos de algo misterioso que os ameaça, eles fogem para sobreviver e na jornada, coelhos de um outro grupo os ameaçarão. Eles enfrentam seus pares e outros perigos no caminho (naturais e humanos). O diretor Martin Rosen realizou um feito inédito, produzindo uma animação para adultos com sensatez e emoção – outros desenhos para adultos já haviam sido feitos, como “A revolução dos bichos” (1954), “Planeta fantástico” (1973) e “O senhor dos anéis” (1978), mas esse aqui teve uma linguagem mais fácil e jovem, com apelo direto ao coração do público (e foi bem recebido por ele nos cinemas). Quatro anos depois, Rosen dirigiu outra história de Richard Adams, também animação com animais, “Os cães plagueados” (1982), sobre cães que fogem de um laboratório e são caçados por humanos. Conta com vozes de atores britânicos indicados ao Oscar, como John Hurt, Ralph Richardson, Nigel Hawthorne e Denholm Elliott, além de Hannah Gordon, Harry Andrews, Roy Kinnear, John Bennett, Joss Ackland, Zero Mostel e Richard Briers. Em 2018 ganhou nova versão, uma microssérie bem irregular e fraquinha na Netflix, chamada “Em busca de Watership Down”, com vozes de James McAvoy, Ben Kingsley e John Boyega. Atenção à canção principal do filme, que é linda, de Art Garfunkel, “Bright eyes”. A animação foi relançada em DVD no Brasil pela Obras-primas do Cinema no box “Clássicos da animação”, que contém a animação francesa de arte “Os anos de luz” (1987), o britânico “Quando o vento sopra” (1986) e o japonês “Perfect blue” (1997). Todos estão numa excelente cópia restaurada, num disco duplo com mais de 1h10 de extras. POR FELIPE BRIDA - BLOG CINEMA NA WEB
Dirigido por Clint Eastwood, astro e diretor premiado, que está na ativa aos 93 anos, o filme é a história não contada de J. Edgar Hoover (1895-1972), que por 37 anos foi diretor do Federal Bureau of Investigation (FBI), um dos mais organizados centros policiais de investigação do mundo. Temido, adorado, aplaudido, depois que morreu levantaram-se duas suspeitas sobre ele: de que usava o cargo para subornar e ameaçar pessoas e de que era gay. O filme acompanha essas suposições, com foco no relacionamento discreto que teve com Clyde Tolson, um policial que se tornou seu braço direito e foi vice-diretor do FBI. O longa-metragem, que dividiu opinião da crítica e do público, não só coloca tais suspeitas como verdade, como mostra a fundo o relacionamento de Hoover e Tolson, morando juntos como um casal (o que nunca foi provado). Fotos e documentos revelam que Hoover e Tolson eram muito próximos, foram flagrados inúmeras vezes em lugares públicos a sós (em jantares, por exemplo), e quando Hoover morreu, em 1972, Tolson herdou parte dos bens dele e da propriedade onde viveu – e para lá se mudou, falecendo três anos depois, em 1975. Outro ponto do filme é mostrar Hoover com seus métodos implacáveis de destruir inimigos, censurando pessoas e perseguindo líderes acusando-os de comunistas (ele foi peça central na ‘caça às bruxas’ durante o Macarthismo). Também foi acusado de manipular e plantar provas em casos. É um drama com extensos diálogos e um bom trabalho dos dois atores centrais, DiCaprio, indicado ao Globo de Ouro pelo papel, em papel sério e convicto, e Hammer com suas sutilezas – ele ganhou destaque em Hollywood a partir desse seu trabalho desafiador. O roteiro é bom e ousado, de Dustin Lance Black, ganhador do Oscar de melhor roteiro por “Milk: A voz da igualdade” (2008), mas sinto falta de um desfecho impactante e uma pitadinha de ação, que caberiam em algum lugar da história. Vejo também excesso de personagens (tem muita gente no elenco, são mais de 100 atores e atrizes que desfilam em participações pequenas, como Naomi Watts, Judi Dench, Adam Driver, Ken Howard, Josh Lucas, Dermot Mulroney, Josh Hamilton e Lea Thompson) e a fotografia é bem escura, que chega a atrapalhar sequências cruciais – assinada por Tom Stern, indicado ao Oscar por “A troca” (2008), também de Clint Eastwood, um colaborador frequente dos filmes do diretor. A maquiagem é um pouco over, realçada demais. Não foi bem de bilheteria, não foi tão elogiado pela crítica, no entanto é uma história ousada e pouco convencional de Hoover, que mostra o outro lado dessa controversa figura pública. Clint Eastwood é um diretor que lança de um a dois filmes por ano, tem quatro Oscars nas costas (dois de melhor filme e dois de direção) e nos últimos anos investe em fitas baseadas em histórias verídicas, como esse aqui, “Sniper americano” (2014), “Sully: O herói do rio Hudson” (2016), “15h17: Trem para Paris” (2018) e “O caso Richard Jewell’ (2019). Ele está dirigindo seu novo, “Juror #2”, um suspense de tribunal com grande elenco, incluindo ele de volta na atuação, previsto para o final de 2024. J. Edgar está disponível em DVD e Bluray, pela Warner Bros, e em plataformas de streaming como HBO Max, e para aluguel na Amazon Prime Video, Apple TV e Google Play. POR FELIPE BRIDA - BLOG CINEMA NA WEB
Um pequeno cult B do finzinho dos anos de 1950, um entretenimento à moda antiga, fita scifi com terror e mistério, sobre uma gosma maligna que vem do espaço sideral, dentro de um meteorito, e cai numa cidadezinha rural. Ela come pessoas e cresce de forma assustadora. Rodado na Pensilvânia, em pouco mais de 20 dias, com orçamento barato (U$ 240 mil), o filme traz efeitos especiais consideráveis para a época, quando investia-se nos efeitos 3D. A bolha era feita de um silicone com corante vermelho, enchida com ar como se fosse uma bexiga; as imagens dela eram captadas isoladamente e depois inseridas em primeiro plano, dando a impressão de que elas eram enormes, maiores que os personagens do filme (ou seja, um processo artesanal com truques de imagens e montagem). Também era moda a abertura dos filmes com número musical (aqui aproveitaram a ascensão do rock'n'roll e da pop music - a música que abre fala de uma bolha assassina e foi composta por Burt Bacharach, falecido em fevereiro aos 94 anos). Originalmente da Paramount Pictures, é uma fita rápida e divertida, inconfundível e nostálgica, com a primeira aparição em cena do futuro astro Steve McQueen - ele tinha 27 anos, antes havia feito como figurante seriados, depois se tornaria importante ator de faroeste e policial, de obras célebres como "Sete homens e um destino" (1960), "Fugindo do inferno" (1963), "Bullitt" (1968) e "Papillon" (1973). Escrito por uma mulher, a atriz Kay Linaker, que assinava Kay Phillips, seu único script para cinema (ela atuou em fitas dos anos 40 como "O canto da vitória"). E foi um dos cinco filmes dirigidos Irvin S. Yeaworth Jr., que fez filmes de terror como "Quarta dimensão" (1959). Quem assiste não esquece (tem uma cena memorável, quando a bolha ataca um cinema lotado!). Também conhecido como “A bolha”, deu origem, trinta anos depois (em 1988), a um remake com mais terror e suspense, que virou um cult movie pelos fãs, inúmeras vezes reprisado na TV aberta. Essa primeira versão, de 1958, sai em DVD numa edição de colecionador pela Classicline, com extras e card colecionável.
Nessa continuação ainda mais violenta e cruel de “Terrifier” (2016), lançada em dezembro de 2022 nos cinemas, subtende-se que o palhaço Art é ressuscitado por um mal maior, uma entidade diabólica, que surge na pele de uma criança sinistra que sempre o observa com sorriso medonho. O palhaço retorna com mais sede de sangue e comete atrocidades inimagináveis. Ambos os filmes “Terrifier” contêm violência gráfica e estilizada, com muito gore (há muito esguicho de sangue rosa, miolos, gente de plástico etc, bem podreira e intencional, porém algumas cenas são assustadoras e bem feitas, especialmente às do segundo filme). No cinema são muitos os filmes com palhaços assassinos, de diversas concepções, como a série e os longas de Stephen King, “It: A coisa” (1990, 2017 e 2019), “Palhaços assassinos do espaço sideral” (1988) e “Palhaço assassino” (1989) - e “Terrifier”, mesmo sem um roteiro de qualidade, por ora bem repetitivo, coloca Art na galeria de vilões assustadores (a caracterização dele dá medo!). A ideia original de “Terrifier” nasceu com um curta-metragem de Leone, de 2011, rodado em Nova York, sobre uma jovem perseguida pelo palhaço. Dois anos depois, no mesmo local e elenco, o diretor rodou “Terrifier: O início” (2013), expandindo o universo de Art, agora com uma babá que, no Halloween, encontra vídeos em VHS das mortes cometidas pelo palhaço, em três histórias (o filme acaba de ser lançado em bluray pela Obras-primas do Cinema). Em 2016, Leone trocou o elenco, inclusive o ator que fazia o palhaço, e criou “Terrifier”, que no Brasil passou no circuito independente com o título de “Aterrorizante”. Custou U$ 35 mil e rendeu U$ 417 mil, quase 12 vezes mais. Com a repercussão, fez essa continuação, com mais qualidade técnica, mais bizarrices e mais violento, com longos 2h18 de duração (eu teria reduzido uns 30 minutos). Custou mais caro, U$ 250 mil, só que rendeu US$ 15 milhões, ou seja, 60 vezes mais, chegando a ser lançado nos cinemas brasileiros - ficou dois meses em cartaz, entre dezembro de 2022 e fevereiro de 2023, em centenas de salas, com distribuição pela A2 Filmes (isso reflete que o público quer filmes assim). Agora pode ser adquirido em DVD e BD pela Classicline, num box em disco duplo, com luvas, cards e extras nos discos, como trailer, making of, entrevistas, cenas deletadas, clipes e comentários do diretor. POR FELIPE BRIDA - BLOG CINEMA NA WEB
Inovando mais uma vez no mercado de mídia física no Brasil, a distribuidora Classicline, localizada em Fortaleza (CE), lançou esse mês a coleção “Terrifier”, tanto em DVD quanto em bluray. O box reúne os dois principais filmes de terror com o palhaço assassino Art, que sai no Halloween matando quem vê pelo caminho. Os sangrentos filmes, de 2016 e 2022, são produções independentes, ganharam público ao redor do mundo e agora ambos os longas podem ser adquiridos pelos colecionadores. Os dois filmes se passam na mesma noite de Halloween, quando um palhaço sádico sai pelas ruas de uma cidadezinha norte-americana atrás de suas vítimas. Ele não fala, tem sede de sangue e comete crimes brutais, com requintes de crueldade. Escrito, dirigido e produzido por Damien Leone, é um slasher baratíssimo, que rendeu boa bilheteria mundial. Conta com cenas apelativas de assassinato e verdadeiros massacres, com sangue jorrando na tela. Art abre a cabeça das vítimas com machado, dá tiro com revólver, usa martelo, bisturi e outros objetos. A concepção do palhaço assassino Art é sinistra (num dos extras há um making of mostrando a caracterização do ator David Howard Thornton, da série ‘Gotham’). Reparem que na abertura do filme, quando o assassino aparece de costas montando seu personagem Art, o diretor presta homenagem ao primeiro filme de “A hora do pesadelo” (1984), quando Freddy Krueger aparece de costas mexendo em ferramentas para criar a luva com lâminas. No Brasil passou no circuito independente e entrou no Amazon Prime Video com o título de “Aterrorizante”. A parte 2 é ainda mais violenta, sangrenta e cruel. Irá gostar quem curte cinema de terror desse tipo.
Divertida e alto astral, essa comédia romântica água com açúcar dos anos 90 acaba de ser lançada em DVD no Brasil pela Obras-primas do Cinema, a pedido dos colecionadores. Com um roteiro bem cara de filmes românticos da década de 50 50 (com uma cena em menção à “A princesa e o plebeu”, cujos personagens e lugares se assemelham), é um passeio por lindas paisagens da Itália, como a Fonte de Netuno, na Piazza Navona, em Roma, pontos históricos da cidade de Siena, na Toscana, um tour pelas águas de Veneza e muitas gravações nos famosos estúdios da Cinecittá (em Roma). A atriz Marisa Tomei tinha acabado de ganhar o Oscar de coadjuvante por “Meu primo Vinny” (1993) e desfrutava o prestígio da carreira, aqui num papel leve e gracioso de uma noiva (de nome Faith, olhe só a coincidência!), que vai atrás de um cidadão desconhecido que poderá ser o homem de sua vida, marcado pelo sopro do destino (quando criança, viu esse homem aparecer numa sessão de tabuleiro de Ouija e depois numa conversa com uma vidente); já Robert Downey Jr, em início de carreira e indicado ao Oscar um ano antes, por “Chaplin” (1992), projetava-se como galã, tinha forte presença em cena, e em “Só você” aparece apenas a partir da metade, como o misterioso Damon Bradley, o possível “homem da vida” da protagonista. Entre os dois rola muita química e bons momentos de romance e humor, graças à dupla que sabe interpretar papeis desse nível. Bonnie Hunt (de “Rain Man”) e o ator português Joaquim de Almeida (de “Bom dia, Babilônia”) são bons coadjuvantes que auxiliam a trama andar. Foi o primeiro trabalho da roteirista Diane Drake, de “Do que as mulheres gostam” (2000), e um dos filmes menos lembrados do canadense Norman Jewison, um de meus diretores de cinema favoritos, que está vivo, aos 97 anos; indicado a sete Oscars, Jewison fez obras máximas do cinema comoo policial sobre racismo “No calor da noite” (1968), os musicais divisores de água “Um violinista no telhado” (1972) e “Jesus Cristo Superstar” (1973) e a elegante comédia romântica “Feitiço da lua” (1987). Se gosta de romance irá curtir “Só você”, também lançado no Brasil com o título original, “Only you”. POR FELIPE BRIDA - BLOG CINEMA NA WEB
James Wan, produtor, roteirista e diretor nascido na Malásia, ganhou espaço no cinema de terror hollywoodiano com as franquias milionárias de “Jogos mortais”, “Invocação do mal” e “Sobrenatural”. Boa parte deles foi bem recebido pelo público, outros dividiu a crítica, e continuações pipocaram nas telas, além de spin-offs. Pode-se dizer que Wan ajudou a reinventar o cinema de horror contemporâneo nos Estados Unidos. Depois de se arriscar em universos diferentes, dirigindo a ação “Velozes & furiosos 7” (2015) e a fita de super-heróis da DC Comics “Aquaman” (2018) – diga-se de passagem dois bons trabalhos dele – Wan fez em “Maligno” um original thriller de terror em homenagem ao cinema de horror chinês e tailandês oitentista, que lembra vagamente “Enfeitiçados” (1981) e “Uma história chinesa de fantasmas” (1987), misturando situações bizarras, pitadas de sobrenatural, lutas marciais e mortes macabras com muito sangue. A bela e boa atriz inglesa Annabelle Wallis, de “Annabelle” (2014) e “A múmia” (2017), interpreta uma mulher atormentada por crimes horrendos. De repente seu quarto fica escuro, parece que vive uma maldição. Com a ajuda da irmã e de médicos, tenta entender o que se passa em sua mente. Até que os crimes acontecem de verdade, e o principal suspeito é um homem misterioso de roupa preta, de couro. Mas o filme não para aí: da metade para o fim ele dá uma reviravolta danada de impressionante para apresentar a identidade do temível assassino (e se prepare, é uma das revelações mais ousadas e chocantes do cinema). O diretor, inspirado por outros estilos cinematográficos, insere elementos do slasher/giallo, coloca humor negro (há cenas, como a da delegacia e a do hospital, em que rimos da tragédia) e muita escatologia e por fim pode ser visto como um cinema trash confessional, no melhor sentido da palavra. Foi até elogiado por nada mais nada menos que Stephen King, um dos mestres do horror. O roteiro é de James Wan junto de Akela Cooper (que esse ano fez nova parceria com Wan, em “M3gan”) e Ingrid Bisu (junto com Wan produziu o filme, esse é o primeiro script dela, que é romena e trabalha como atriz, de filmes como “A freira”). Lançado em DVD e Bluray pela Warner Bros (ambos com muitos extras no disco), está também disponível para assinantes no Amazon Prime Video e HBO Max e para aluguel em plataformas de streaming como Oi Play, Apple TV e GooglePlay.
Um autêntico filme B de terror com comédia, também visto como uma sátira à sociedade de consumo e à cultura industrializada dos sitcons americanos. Uma família, sem saber, conecta-se ao espaço sideral pela antena parabólica, e pelas ondas magnéticas, um monstro horroroso e melequento, de olhos tortos e dentes grandes, aparece e some para devorá-los. Com piadas infames, erotismo, muita gritaria e momentos altamente bizarros, essa fita cult com traços do cinema scifi lembra outro terror do mesmo ano, “Invasores de Marte” (1986, de Tobe Hooper). O diretor Ted Nicolaou posteriormente (nos anos 1990) faria vários filmes populares para home vídeo, como a franquia de terror com vampiros demoníacos “Subspecies” (entre 1991 e 2023). No elenco, rostos conhecidos como Gerrit Graham (de “O fantasma do paraíso” e “Brinquedo assassino 2”), Mary Woronov (de “Tudo por dinheiro” e “A noite do cometa”), Diane Franklin (de “Amityville 2: A possessão”) e Bert Remsen (de “Onde os homens são homens” e “Nashville”). É um filme melhor do que aparenta e bem criativo, com uma sagaz crítica social. A fita mais legal do box “Sessão de terror Anos 80 – vol.6”, que traz junto “Assassinato no colégio”, “Spookies: Renascidos das trevas” e “Os demônios de Alcatraz”, lançado pela Obras-primas do Cinema; são dois discos, contendo 50 minutos de extras e cards colecionáveis.
Nos anos de 1980 os filmes de terror eram inventivos demais, como podemos notar nessa fita corriqueira que contém humor negro, em que um feiticeiro maligno transforma pessoas em criaturas estranhas e ainda convoca zumbis para atacar um grupo de jovens, com o objetivo de retirar o sangue das vítimas para tratar da noiva que está em coma. Uma mistura maluca, numa fantasia de horror que diverte e entretém – mas para tanto há que se perdoar os furos evidentes no roteiro, o elenco fraco e desconhecido (a maioria nem seguiu carreira no cinema) e erros de edição. Parte das falhas está atribuída aos muitos problemas na produção; inicialmente o filme seria dirigido pela dupla Brendan Faulkner e Thomas Doran, com o título de “Twisted souls”, depois entrou outro cineasta na equipe, Genie Joseph, e dois novos roteiristas para auxiliar nos rumos da trama. Integra o box “Sessão de terror Anos 80 – vol.6”, com os filmes “Assassinato no colégio”, “A visão do terror” e “Os demônios de Alcatraz”, lançado pela Obras-primas do Cinema; são dois discos, contendo 50 minutos de extras e cards colecionáveis. POR FELIPE BRIDA - Blog Cinema na Web
Fita B de terror com muito rock’n’roll dos anos 80, demônios assustadores e pitadas de humor negro. Naquelas tramas absurdamente divertidas e impossíveis da época, acompanhamos um estudante que vive sonhando com demônios em uma penitenciária. Ele tem um “chamado”, e com um grupo de amigos vai até a ilha de Alcatraz, na prisão desativada, encontrar-se com o mal. Um deles é possuído por um demônio canibal, os amigos se dispersam e acabam perseguidos por criaturas medonhas que atormentam o rapaz em seus sonhos. Uma bruxa boa e gótica irá auxiliá-los no caminho da sobrevivência. Fitinha corriqueira, passatempo curto (tem 85 minutos apenas), direto e curioso, com atores desconhecidos (há canastrões, que nem seguiram carreira, e participação especial de Toni Basil, cantora, coreógrafa e atriz, no papel da bruxa boa). Inspirado no cinema de terror oitentista italiano de Lamberto Bava, em particular na cultuada duologia “Demons” (1985 e 1986) – a maquiagem dos demônios com dentes que saltam é muito semelhante, além do clima, com uma fotografia escura em ambientes tomados por fumaças, da trilha sonora e dos letreiros iniciais. Foi filmado na verdadeira penitenciária federal de Alcatraz, na Baía de São Francisco, Califórnia, que existiu como prisão por 30 anos, entre 1934 e 1963, e abrigou criminosos perversos, como Alvin Karpis, e mafiosos, dentre eles Al Capone. O filme saiu em DVD no box “Sessão de terror Anos 80 – vol.6”, juntamente com “A visão do terror” (1986), “Spookies: Renascidos das trevas” (1986) e “Assassinato no colégio” (1989) - lançado pela Obras-primas do Cinema, em disco duplo, contendo 50 minutos de extras e cards colecionáveis. POR FELIPE BRIDA - Blog Cinema na Web
Nos anos de 1980 brotou nos Estados Unidos um popular subgênero do terror chamado ‘slasher movies’, com filmes sanguinários sobre assassinos mascarados que trucidavam jovens em cabanas distantes (como “Sexta-feira 13”), em mansões sinistras (como “Noite infernal”), em festas (como “Baile de formatura”) etc. Dentro do mundo do slasher surgiu uma linha de filmes com humor negro, uma espécie de terrir (terror com comédia), principalmente no fim daquela década. “Assassinato no colégio” (1989) é um desses casos, uma fitinha corriqueira com tom policial e uma trama de investigação, sobre estudantes que são mortos na escola de uma pequena cidade após o súbito desaparecimento de um procurador de Justiça cuja filha está matriculada lá. Muitas mortes bizarras deixam a comunidade estarrecida, e todos estão à procura do assassino. Nada marcante ou especial, é um passatempo bobinho, porém curioso por trazer Brad Pitt bem novo (na época tinha 26 anos, e este foi seu quarto trabalho no cinema). Tem participação dos novatos Donovan Leitch Jr., de “A bolha assassina” (1988) e Jill Schoelen, de “O padrasto” (1987), e dos veteranos Martin Mull, de “Os sete suspeitos” (1985), como o procurador desaparecido, e Roddy McDowall, de “Cleopatra” (1963) e “A hora do espanto” (1985), no papel do diretor da escola. Foi o único filme dirigido pelo inglês Rospo Pallenberg, roteirista de “Excalibur” (1981) e “Floresta das esmeraldas” (1985), e que coescreveu e codirigiu, sem créditos, “O exorcista II: O herege” (1977). Integra o box “Sessão de terror Anos 80 – vol.6”, com os filmes “Os demônios de Alcatraz”, “A visão do terror” e “Spookies: Renascidos das trevas”, lançado pela Obras-primas do Cinema; são dois discos, contendo 50 minutos de extras e cards colecionáveis. POR FELIPE BRIDA - Blog Cinema na Web
Coprodução EUA/Japão, o documentário acompanha passo a passo as investigações em torno do desaparecimento de uma jovem em Tóquio, chamada Lucie Blackman, em 2000. Ela era comissária de bordo, tinha 21 anos e fez uma viagem à capital do Japão, onde pretendia se instalar por um ano. Porém, desapareceu sem deixar vestígios três semanas depois de chegar lá. O pai, Tim Blackman, fez uma busca incansável por justiça, e é ele quem conduz as conversas nesse documentário investigativo de grande impacto. No filme, vê-se uma série de vídeos reais da investigação do caso, a atuação da polícia japonesa e a mobilização da comunidade. Na época o pai chegou a implorar ao primeiro-ministro Tony Blair para expandir a investigação. O clímax do doc é a prisão de um suspeito, um playboy milionário acusado por agressão sexual a mulheres e que costumava gravar vídeos caseiros estuprando as vítimas desacordadas. A Netflix é especializada em séries, microsséries e documentários policiais, e aqui temos mais um bom exemplo, que funciona. É um caso intrigante, de roer as unhas, com um triste desfecho. Estreou na Netflix em 26 de julho.
Um caso turbulento de assassinatos brutais de idosas, que mexeu com a opinião pública e amedrontou o México entre os anos de 1990 e 2000 é o tema central desse documentário imperdível da Netflix. Mais de 40 velhinhas solitárias foram estranguladas dentro de casa, numa época em que não havia celular nem câmeras de vigilância, em uma das cidades mais populosas do mundo, Cidade do México. No documentário, a equipe entrevista policiais que atuaram no caso, familiares e amigos das vítimas, bem como peritos criminais. Há ainda um vastíssimo material de arquivo, como jornais impressos, fotos e vídeos da investigação liberados pela polícia, que ajudam a reconstruir o caso que ficou conhecido como “La Mataviejitas”. A polícia sempre trabalhou com a hipótese de que o criminoso era um homem, pela força com que estrangulava as vítimas. Quando a investigação avançou, chegou-se à conclusão de uma mulher alta, encorpada e musculosa – a partir daí, muitas mulheres foram presas indevidamente, e a polícia mirava transexuais, a ponto de agredi-los nas ruas em busca de informação (o filme faz uma crítica à repressão policial, em especial àquela contra os mais vulneráveis; em certo ponto do documentário, alguns entrevistados da corporação policial mexicana fazem o ‘mea culpa’). A serial killer confessa era uma mulher solitária, ex-lutadora de luta livre apelidada de “Dama do Silêncio, que tinha um bom relacionamento com a vizinhança onde morava – ou seja, uma cidadã acima de qualquer suspeita. Outro bom doc investigativo da Netflix para não desgrudar os olhos da TV - estreou na plataforma em 27 de julho.
A diretora Stephanie Soechtig engajou-se em vários documentários sobre produtos aparentemente inofensivos vendidos no mercado , mas causadoras de graves riscos à saúde: em “Tapped” (2009), examinou os efeitos nocivos de substâncias liberadas pelas garrafas Pet no organismo humano; em “Fed up” (2014), tratou o boom da obesidade nos Estados Unidos relacionando-o à indústria de alimentos fast food e enlatados; e em “The devil we know” (2018), mostrou a contaminação de pessoas com o Teflon, um polímero com substâncias cancerígenas usado em panelas. Agora, com “Contaminação: A verdade sobre o que comemos”, que estreou na Netflix no dia 02 de agosto, ela se volta para o mundo das contaminações alimentares, falando de surtos de doenças causadas por microrganismos invisíveis a olho nu; no filme, ela foca em duas delas: as provocadas pela bactéria E. coli e a salmonella. O doc investiga pais que perderam filhos por graves infecções gastrointestinais, e entrevista pessoas que por um triz não morreram, porém que sofrem as consequências, tendo de fazer tratamentos médicos periódicos. Com ousadia, a diretora procura quem está por trás dessa indústria de alimentos; ela denuncia empresas, por exemplo, que deixam de fazer as devidas inspeções sanitárias em alimentos como alface, ovos e frangos. Há ainda entrevistas com congressistas norte-americanos, ativistas, médicos e chefes de laboratórios, que trazem dados alarmantes sobre a contaminação de alimentos - uma simples alface mal lavada, segundo eles, possui mais bactérias E. coli do que em carnes fatiadas nas bandejas de mercado, sem contar o frango, campeão de contaminação por salmonella. É um doc que nos causa sensações ruins, pois demonstra que todos os alimentos estão sujeitos à contaminação, sendo boa parte deles não averiguados por agências de vigilância sanitária – lembremos que é um filme norte-americano, e lá as regras de fiscalização higiênica são bem diferentes do Brasil; há menos rigor na averiguação dos produtos alimentícios e há brechas nas leis de cada estado, pelo que aponta o filme. Serve de alerta para revermos nossas práticas de armazenamento dos alimentos e como escolher na hora de comprá-los.
Sempre esteve na lista dos meus filmes preferidos “Alucinações do passado” (1990), uma obra instigante, adulta e repleta de mensagens escondidas, que fala dos traumas dos soldados que estiveram na Guerra do Vietnã, porém com um viés de terror psicológico. O diretor é Adrian Lyne, que fez somente nove filmes na carreira (ele está vivo, com 82 anos), dentre eles fitas populares nos anos de 1980 e 1990, como o notório musical “Flashdance: Em ritmo de embalo” (1983), o tórrido romance “9 ½ semanas de amor” (1986), o suspense de puro erotismo e tensão “Atração fatal” (1987 - em que chegou a ser indicado ao Oscar de melhor diretor), o drama romântico muito reprisado na TV “Proposta indecente” (1993) e a versão moderna (e bem legal) de “Lolita” (1997). Apesar de dirigir pouco, sabe conduzir o elenco como ninguém – em “Alucinações do passado” extraiu a melhor interpretação de Tim Robbins, que até então não tinha feito nada de especial e praticamente foi aqui que sua carreira virou, no difícil papel do soldado traumatizado com a guerra e que sofre de desassociação, distorcendo a realidade, tendo pesadelos com monstros e vultos que o perseguem. Depois do filme, Robbins fez grandes papéis, protagonizando “O jogador” (1992), em que ganhou os prêmios de ator em Cannes e no Globo de Ouro, e ainda “Na roda da fortuna” (1994), “Um sonho de liberdade” (1994) e “O suspeito da rua Arlington” (1999) – foi casado com Susan Sarandon de 1988 a 2009, recebeu indicação ao Oscar de diretor por “Os últimos passos de um homem” (1996 - que deu o prêmio de atriz a Susan) e ganhou o Oscar de melhor ator coadjuvante em “Sobre meninos e lobos” (2003). “Alucinações do passado” foi escrito por Bruce Joel Rubin, que no mesmo ano ganhou o Oscar de roteiro por “Ghost: Do outro lado da vida” (1990). É um intenso drama de guerra sobre a descida de um homem ao inferno, reunindo elementos essenciais do cinema de suspense, terror e ficção científica. Há cenas memoráveis, como a do metrô, quando Jacob vê vultos horripilantes como se fossem fantasmas pretos sem rosto, e a da boate, em que Jezebel, a namorada do protagonista, surge com um longo rabo de monstro enquanto dança. O título original é “Jacob’s ladder” (ou “A escada de Jacó”), que segundo a Bíblia, em Gênesis, simboliza a conexão do céu com a terra, do homem com Deus, da carne com o espiritual. E aos poucos essa mensagem vai se solidificando no filme, até chegar ao emocionante desfecho. Gravado na maior parte em Nova York e algumas cenas em Porto Rico (como as da Guerra do Vietnã), conta com um bom elenco de apoio, como Elizabeth Peña, atriz de origem cubana que fez “La bamba” (1987) e “A hora do rush” (1998), e que faleceu cedo, aos 57 anos em 2014, e Danny Aiello, ator veterano de mais de 90 filmes, como “Era uma vez na América” (1984), “Feitiço da lua” (1987) e “Faça a coisa certa” (1989 – indicado ao Oscar de melhor ator coadjuvante). Há rápidas aparições de Matt Craven, de “Questão de honra” (1992), Jason Alexander, da série “Seinfeld” (1989-1998), Ving Rhames, o Luther de todos os filmes da franquia “Missão: Impossível” e, vejam só, de Macaulay Culkin, em participação não-creditada, na época com nove anos e meses antes de fazer o sucesso de público “Esqueceram de mim” (1990). “Alucinações do passado” acaba de sair numa ótima edição em DVD pela Obras-primas do Cinema, com capa dupla face, card colecionável e 40 minutos de extras no disco. PS: Ganhou uma pavorosa continuação em 2019, “Alucinações do passado 2”, de David M. Rosenthal, com o ator Michael Ealy, que refaz, com erros e sem tom, a história, agora na Guerra do Afeganistão.
Um thriller de terror diferente, que nos prende até o desfecho-surpresa, com uma história original repleta de mistério, fantasia e elementos de ficção científica. Escrita e dirigida pelo indiano M. Night Shyamalan, que no finzinho da década de 1990 revolucionou o cinema de horror com sua obra-prima “O sexto sentido” (1999) e depois teve carreira irregular, dividido entre bons filmes como “Corpo fechado” (2000) e “Fragmentado” (2016) e longas pavorosos, por exemplo, “Fim dos tempos” (2008) e “Depois da Terra” (2013). Shyamalan fez aqui uma livre adaptação da graphic novel francesa “Sandcastle/ Château de sable”, da dupla Pierre Oscar Levy e Frederik Peeters, escrevendo um novo final, com mais violência e um clima de mais angústia e estranheza. Na trama, uma família se hospeda num resort luxuoso e, para relaxar, são convidados pelo gerente para passar alguns dias numa praia paradisíaca localizada numa ilha próxima. O casal é Guy (Gael García Bernal, de “Amores brutos”) e a esposa, Prisca (Vicky Krieps, de “Trama fantasma”), que vivem um relacionamento em crise, e levam com eles os filhos pequenos. Na ilha chegam outros turistas, como um senhor misterioso, Charles (Rufus Sewell, de “Coração de cavaleiro”), e a modelo Chrystal (Abbey Lee, de “Mad Max: Estrada da fúria”). O passeio se torna infernal: descobrem que estão envelhecendo a cada minuto que passa, a ponto de as crianças se tornarem jovens, e os adultos, velhos com rugas e dores no corpo. Aparece um cadáver que em poucas horas se decompõe sobrando apenas os ossos... Eles se perguntam: o que ocorre naquela ilha e como fugir de lá? Como não encontram respostas, o desespero toma conta, e todos vão se tornando agressivos. Inusitado, com cenas bizarras saídas da mente efervescente de Shyamalan, conta com um final revelador (pelo menos para mim) – prestem atenção nos vinte minutos finais e não deixem que te contem para não estragar a surpresa! Não é dos grandes filmes do diretor, mas exemplifica essa nova fase dele depois de lançar uma série de fiascos de crítica e público. Disponível em DVD e bluray pela Universal Pictures (ambos com extras no disco) e para aluguel em plataformas de streaming, como Star+, Youtube Filmes, Apple TV e GooglePlay Filmes e Amazon Prime Video.
Indicado ao Globo de Ouro de melhor filme estrangeiro em 1975, é um dos momentos mais formidáveis no cinema do humorista francês Louis de Funès (1914-1983), ator com hilárias caras e bocas, de “A grande escapada” (1966) e “O avarento’ (1980). Aqui foi novamente dirigido pelo parceiro de trabalho Gérard Oury – Funès esteve numa das séries de filmes mais queridas pelos franceses, do “Gendarme”, produzidos entre os anos de 1960 e 1980. Funès costumava interpretar a mesma linha de papéis, senhores chatos, ranzinzas, mas astutos, que se envolviam em enrascadas mirabolantes. Em “Rabbi Jacó”, ele é um homem reclamão que assume a identidade de um rabino para fugir de bandidos perigosos, como assassinos e terroristas. Engraçado, tem cenas impagáveis, como a da perseguição na fábrica de chiclete (onde todo mundo cai nos tanques de goma e ficam verdes, melequentos) e a do final, dos ritos judaicos. Um filme que não envelhece, traz uma mensagem contra a discriminação de raça e credo, e garante, por fim, risos atrás de risos. O filme foi relançado em bluray no Brasil pela Versatil, numa excelente cópia restaurada em alta definição (com muitos extras no disco).
A Obras-primas do Cinema distribuiu mês retrasado em DVD esse charmoso clássico da década de 1940, que traz uma das mais incríveis atuações de Bette Davis, um monstro sagrado da Sétima Arte, em papel que lhe rendeu sua sétima indicação ao Oscar. Originalmente da Warner Bros, numa época em que o estúdio se voltava para filmes sérios, que rompiam com tabus, esse romance melodramático conta com três bons coadjuvantes: Gladys Cooper, no papel da mãe controladora da protagonista, com seu olhar penetrante (indicada ao Oscar aqui de atriz coadjuvante, esteve em “Minha bela dama”), Paul Heinred (de “Casablanca”), o bonitão casado que a protagonista conhece no Rio de Janeiro (aliás, tem músicas brasileiras na trilha sonora) e Claude Rains (de “A mulher faz o homem”), o psiquiatra que ajuda a personagem central em sua clínica. É um roteiro maduro, bem esquematizado pelo roteirista Casey Robinson (de “O capitão Blood”), que adaptou o romance da escritora Olive Higgins Prouty, sobre uma mulher em plena transformação, que precisa vencer medos e barreiras sociais para se impor como uma mulher independente e sair das garras da mãe dominadora. Dirigido pelo britânico Irving Rapper, de “Rapsódia azul”, é um grande filme dos anos de Ouro de Hollywood. Ganhou o Oscar de trilha sonora (de Max Steiner, de trilhas impecáveis como a de “E o vento levou”).
Estranho, escatológico, repulsivo e estranhamente engraçado, “Street trash” é um dos filmes mais bizarros do cinema, também conhecido por “O lixo das ruas”. É um autêntico trash (trash de natureza técnica mesmo, de concepção correta do que é um ‘trash movie’), um terror-comédia maluco, produzido com pouco dinheiro (custou U$ 500 mil) e rapidamente tornou-se cult. A fita, de 1987, nasceu de um curta-metragem feito quatro anos antes pelo mesmo diretor (J. Michael Muro), elenco e equipe, com menos recursos. Muro aproveitou o plot e as piadas, estendeu a história para projetá-la nas telonas e jogou mais cenas de violência e escatologia. Uma bebida maldita encontrada nos fundos de um depósito de uma loja, de nome Viper, é roubada por mendigos, que acabam dividindo os frascos e bebendo o conteúdo. Porém o Viper derrete quem o bebe. Um andarilho que observa tudo tenta alertar os amigos de rua, sem sucesso. A trama do filme é somente essa, um roteiro superenxuto, que investe em mortes bizarras, com bons efeitos especiais e maquiagem, com gente derretendo e explodindo. Prepara-se para muita nojeira, com líquidos corporais pingando pelas ruas, tripas pulando fora do corpo, o sangue se transformando em uma pasta azulada. No fim, as vítimas do Viper viram uma gosma colorida. Numa cena icônica que virou o pôster original do filme, um mendigo senta-se no vaso sanitário e derrete, e os restos do seu corpo são tragados para dentro da privada. Tem um forte comentário social: o “lixo das ruas” referindo-se pejorativamente aos andarilhos que povoam o Brooklyn, e o Viper como uma forma de “limpar” a cidade (uma crítica à aporofobia). O derretimento das pessoas por essa bebida colocada com destaque para ser vendida barata também é um alerta quanto à sociedade de consumo (todos querem o Viper vendido por um dólar, mas ninguém sabe o que tem ali no frasco). “Street trash” tornou-se um marco do cinema trash. Foram 40 dias de filmagem em 1985, todo rodado nas ruas de Nova York. Teve exibição em diversos festivais de cinema terror e de cinema fantástico, como Avoriaz e Bruxelas, e somente dois anos depois lançado no circuito independente. O filme acaba de sair em DVD numa edição sem cortes, na versão integral de 100 minutos, pela distribuidora Obras-primas do Cinema - por causa das nojeiras e da violência, o filme sofreu cortes de 10 minutos em alguns países, sendo lançado com 91 minutos na Noruega, por exemplo. No disco, além da ótima cópia do filme, há extras, incluindo o curta “Street trash”, de 1983. Um crítico de cinema da Inglaterra resumiu bem a fita no lançamento; disse que “Eraserhead” se encontra com “A noite dos mortos-vivos” no set de filmagens de “O massacre da serra elétrica”. Bom divertimento! POR FELIPE BRIDA - Blog Cinema na Web
A Netflix é reconhecida por produzir documentários investigativos tensos, que caíram no gosto popular, e aqueles sobre denúncia social de mazelas que se perpetuam na sociedade, como é o caso desse grande filme indicado ao Oscar na categoria em 2017. Aqui, a cineasta negra Ava DuVernay, que já esteve envolvida em mais de 90 produções, seja como roteirista, produtora ou diretora, na maioria deles sobre questões raciais, reflete sobre um lado triste e permanente da História dos EUA: os crimes raciais. Mas para contar essa história, ela se volta para a 13ª. Emenda da Constituição do país - aquela que, a partir de 1865, tornava crime manter escravos, forçando a abolição nos estados que resistiam mesmo com o fim da Guerra de Secessão (Guerra Civil), e faz um paralelo com o altíssimo número de negros presos, sendo muitos deles inocentes. A teoria é de que escravidão e criminalização caminham juntas, a cadeia tornou-se a escravidão contemporânea para os negros. Estudiosos, políticos, ativistas e negros que cumpriram penas relatam sobre esses dados e discutem a relação entre a criminalização e perseguição da população preta norte-americana com a explosão do sistema prisional, trazendo relatos chocantes. É um estudo pontual e detalhista sobre racismo estrutural, que deve ser assistido por todos (recomendo aos professores exibirem aos seus alunos). Dois anos antes, em 2014, a diretora fez “Selma: Uma luta pela igualdade” (2014), sobre a marcha conduzida por Martin Luther King para conquistar o direito dos negros ao voto. Tirando a infeliz fita de fantasia e aventura para a Disney “Uma dobra no tempo” (2018), Ava realizou bons trabalhos, com destaque para a minissérie “Olhos que condenam” (2019), que também aborda o racismo e foi novamente produzida para a Netflix. “A 13ª Emenda” ganhou o Bafta de melhor doc, quatro Emmys e outros 30 prêmios em mais de 50 festivais internacionais. Disponível no catálogo da Netflix.
O Caminho de Volta
3.3 83 Assista AgoraO diretor norte-americano Gavin O’Connor, dos filmes “Livre para amar” (1999) e “Força policial” (2008), voltou-se novamente ao mundo dos esportes, depois de falar do boxe em “Guerreiro” (2011), retomando parceria com o astro Ben Affleck, com que havia trabalho no complexo filme de espionagem “O contador” (2016). Trouxe o bom roteirista Brad Ingelsby, de “Tudo por justiça” (2013) e “Noite sem fim” (2015), e realizou seu filme menos comercial e mais intimista, um retrato de um homem entregue à dependência do álcool que tenta reconstruir sua vida após chances perdidas. Promissor no basquete, o personagem de Ben hoje trabalha em obras pesadas, acabou de se divorciar e vive sozinho, deprimido. Até que surge a oportunidade de ser treinador de um time de basquete que está em boa colocação na região, e prestes a entrar num grande campeonato. Ele terá poucas horas para decidir se assume a vaga ou não, mas para tanto terá de abandonar o vício.
Com cenas bem conduzidas dos treinos de basquete na quadra e um bom desempenho de Affleck, o filme trata de superação e retomada de vida, sem cair em pieguices – até porque Affleck (que vem fazendo muitos filmes fora do circuito comercial) envolveu-se com drogas e álcool, esteve numa clínica de reabilitação meses antes da gravação e conseguiu sair dela a tempo para gravar o filme. Por ter vivido o drama de um adicto, conseguiu dar o peso e a decência para o papel (na clínica, o ator engordou 15 quilos e manteve o peso para o protagonista, outro reflexo da ‘verdade’ que o ator passa para o personagem).
É uma fita independente de drama séria e humana, cuja produção sofreu problemas na distribuição nos cinemas em 2020 – a premiére foi em 1º de março daquele ano em Los Angeles, e dias depois foi decretada a pandemia da Covid-19, fazendo com que as salas de cinema fossem fechadas por um ano. Ou seja, o filme fracassou, entrando em streaming logo depois. Hoje pode ser assistido em DVD e Bluray, lançado pela Warner Bros (ambos com muitos extras no disco), e disponível para assinantes no Amazon Prime Video e HBO Max e para aluguel em plataformas como Apple TV e GooglePlay. Recomendo!
POR FELIPE BRIDA - BLOG CINEMA NA WEB
A Mão
3.1 33Filme de terror de início de carreira de Oliver Stone, que pouca gente conhece. Por ter sido fracasso no lançamento nos cinemas em 1981, virou cult, e hoje revendo é um filme assustador, de terror psicológico, cheio de metáforas. A principal delas é a relação do tormento do cartunista sem a mão com as alucinações dos soldados da Guerra do Vietnã, tema recorrente nas obras de Stone – por ter sido combatente no Vietnã, e viu de perto os horrores da guerra, ele fez obras máximas do cinema com o tema, por exemplo, Platoon e Nascido em 4 de julho, sempre trazendo os soldados perturbados e os horrores da guerra. Esse foi o segundo filme de Stone, sete anos depois de estrear com um terror B, ‘Seizure’, de 1974, e depois faria filmes sobre política e mundo dos negócios, como ‘Wall Street – Poder e cobiça’, ‘JFK - A pergunta que não quer calar’ e ‘Nixon’, biografias musicais, como ‘The Doors’, e fitas de extrema violência, como ‘Assassinos por natureza’.
Em ‘A mão’, um cartunista tem a mão decepada num trágico acidente de carro. O membro nunca foi encontrado, então ele não pode voltar a desenhar. Usa provisoriamente uma prótese de aço. Seu casamento anda ruim, passa a ter pesadelos diários com a mão desaparecida, tornando-o um homem instável, deprimido e violento. Psicologicamente abalado, isola-se numa casa remota com a esposa e a filha pequena, e paralelo a isso, pessoas com quem não se dava começam a ser assassinadas de maneira brutal. Teria aquela mão criado vida agindo com vontade própria?
Produzido e lançado pela Orion/Warner, tem um bom Michael Caine no papel principal, personagem que seria originalmente de Jon Voight e depois de Dustin Hoffman, que declinaram. Tem efeitos especiais de Carlo Rambaldi, ganhador de três Oscars, dentre eles por criaturas famosas do cinema, como Alien e ET – os efeitos criados por ele são os diferentes modelos de mãos decepadas, que andam, rastejam e pulam.
Baseado no livro de Marc Brandel ‘The lizard's tail’, foi produzido por um dos produtores mais importantes dos anos 80 e 90, Edward R. Pressman, e traz trilha sonora de James Horner, de ‘Titanic’, e montagem bem caprichada do premiado Richard Marks, de ‘Dick Tracy’.
Utilizando cores fortes e cenas em PB, há momentos assustadores, como a visão da mão andando pelos matos e entrando nas casas, como se estivesse viva e víssemos com seus olhos, em primeira pessoa.
No filme todo a realidade se confunde com os delírios do cartunista, nunca sabemos se o que ocorre é real ou não, o que torna o filme angustiante. A cena final na clínica, com participação da atriz Viveca Lindfors, é de fechar com chave de ouro. Lançado em DVD numa boa cópia pela Classicline
POR FELIPE BRIDA - BLOG CINEMA NA WEB
A Baleia
4.0 1,0K Assista AgoraAclamado nos festivais por onde passou, “A baleia” é um contundente drama pessoal do diretor Darren Aronofsky, que não costuma fazer filmes fáceis de serem digeridos. Dele vimos os controversos e complexos “Pi” (1998), “Réquiem para um sonho” (2000), “Cisne negro” (2010) e “Mãe!” (2017), e “A baleia” (2022) entra sem sombra de dúvida nesse rol de obras impactantes do diretor que também é roteirista e produtor de seus trabalhos. Aronofsky resgatou o ex-astro de Hollywood Brendan Fraser, que nos anos 90 fez fitas simpáticas de comédia e depois caiu nas drogas, e extraiu dele uma performance humana, íntima e delicada, de um professor de redação gay, recluso pela obesidade mórbida e que hoje mora numa casinha simples dando aulas online sempre com a câmera desligada (por causa de seu peso). No passado, uma tragédia o impediu de se socializar, afastou-se da família e tem apenas uma amiga que frequenta sua casa, a enfermeira que o auxilia nos afazeres domésticos e verifica sua pressão arterial constantemente, Liz (um soberbo trabalho da tailandesa Hong Chau). Um dia sua filha adolescente, que é rebelde e agressiva, Ellie (trabalho também forte de Sadie Sink) chega para passar uns dias com ele, o que será uma verdadeira tempestade de emoções. Ela não o aceita pelo que fez anos atrás, e esse reencontro será a última tentativa de redenção do professor, pois sua saúde está debilitada.
Com uma trama cheia de revelações, em que tudo ocorre em três ou quatro ambientes da mesma casa (dois quartos, cozinha, sala e varanda), o filme se constrói e reconstrói a cada momento. Tudo é muito pontuado, com detalhes nos diálogos, no drama sólido que nos faz ficar com um nó na garganta, na dúbia referência à baleia (ao mesmo tempo é a baleia Moby Dick, de uma redação que o professor guarda consigo, e também uma forma pejorativa a ele, pelo seu porte) e no trabalho extraordinário de Fraser (que mal o reconhecemos, pois está sob uma maquiagem desgastante, com enchimentos de borracha, que o fez parecer um homem de mais de 250 quilos) e dos coadjuvantes, com destaque para Chau, Sink e uma rápida e eloquente participação de Samantha Morton, como a ex-mulher do professor. A câmera intimista do diretor capta olhares únicos dos atores, em especial de Fraser, quando nos momentos mais dramáticos e altos da história (um trabalho de maestria de Aronofsky).
Baseado na peça de Samuel D. Hunter, o filme ganhou prêmios importantes: o Oscar de melhor ator para Fraser e melhor maquiagem, quatro troféus especiais no Festival de Veneza, sem contar as inúmeras indicações de Fraser, ao Globo de Ouro, Bafta etc. Prepare-se para o final simbólico (como costumam ser os desfechos das obras do diretor), que arrancam suspiros e lágrimas.
Foi um dos meus filmes preferidos de 2022, que passou nos cinemas brasileiros esse ano e saiu recentemente em DVD e Bluray pela Obras-primas do Cinema (ambos com mais de 1h de extras no disco), em parceria com a California Filmes e a A24 Filmes. Disponível para aluguel em plataformas de streaming, como Youtube Filmes, Apple TV, GooglePlay Filmes e Amazon Prime Video.
POR FELIPE BRIDA - BLOG CINEMA NA WEB
Mistério no Bosque
3.3 55Também lançado no Brasil como “Mistério no bosque”, esse intrigante filme de fantasia e mistério com toques de terror foi, vejam só, assinado pela Disney, e é um dos únicos exemplares da produtora nessa linha. Rodado em bosques ingleses na região de Warwickshire, tem um clima sombrio, com algo sobrenatural no ar (auxiliado por uma fotografia compenetrada e bucólica, do mestre Alan Hume, de “O buraco da agulha”), envolvendo desaparecimento de crianças, fantasmas e bruxarias (apesar de ter recebido classificação indicativa PG, que nos EUA é para mais de 13 anos, foi vendido como um “filme de família”, de “fantasia”, por ter a Disney por trás). Quando digo “filme de terror” não é nada relacionado a mortes macabras, assassinos cruéis e sustos, e sim o tema, a ambientação, a forma como a história é narrada (que tem um desfecho marcante, apesar de já decifrarmos tudo já na metade).
Foi um dos últimos trabalhos da grandiosa e premiada Bette Davis (ganhadora de dois Oscars e indicada a outros nove!), repetindo o papel de uma megera, com aparência de bruxa. Tem também participação de Carroll Baker (de “Assim caminha a humanidade”) e Ian Bannen (de “Coração valente”), além da atriz mirim Kyle Richards, na época com 10 anos - antes fez “Eaten alive” e “Halloween: A noite do terror”.
O diretor John Hough vinha de filmes de terror como “A casa da noite eterna” e “Incubus” e antes havia feito para a Disney a aventura “A montanha enfeitiçada”. “Olhos na flroesta” é um pequeno grande thriller com revelações, magias, sobrenatural e espíritos, feito na medida exata para agradar crianças, jovens e adultos. Em DVD pela Classicline, numa ótima cópia.
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Uma Grande Aventura
4.0 59O best seller “Watership Down”, de Richard Adams, ganhou o mundo após ser publicado em 1972, virou série de desenho animado, filmes e imitações em vários países. Em 1978, a história original dos coelhos valentes em busca de um novo território para viver foi adaptada em uma belíssima animação cult, que serve às crianças, mas também é um filmão para jovens e adultos. Isso porque não é apenas uma fábula simplista de coelhos numa aventura em busca de um lar; é uma crítica social sobre exílio e perseguição, alienação e preconceito, e fala também sobre poder, identidade e territorialidade. Os coelhos de uma comunidade são alvos de algo misterioso que os ameaça, eles fogem para sobreviver e na jornada, coelhos de um outro grupo os ameaçarão. Eles enfrentam seus pares e outros perigos no caminho (naturais e humanos).
O diretor Martin Rosen realizou um feito inédito, produzindo uma animação para adultos com sensatez e emoção – outros desenhos para adultos já haviam sido feitos, como “A revolução dos bichos” (1954), “Planeta fantástico” (1973) e “O senhor dos anéis” (1978), mas esse aqui teve uma linguagem mais fácil e jovem, com apelo direto ao coração do público (e foi bem recebido por ele nos cinemas). Quatro anos depois, Rosen dirigiu outra história de Richard Adams, também animação com animais, “Os cães plagueados” (1982), sobre cães que fogem de um laboratório e são caçados por humanos.
Conta com vozes de atores britânicos indicados ao Oscar, como John Hurt, Ralph Richardson, Nigel Hawthorne e Denholm Elliott, além de Hannah Gordon, Harry Andrews, Roy Kinnear, John Bennett, Joss Ackland, Zero Mostel e Richard Briers.
Em 2018 ganhou nova versão, uma microssérie bem irregular e fraquinha na Netflix, chamada “Em busca de Watership Down”, com vozes de James McAvoy, Ben Kingsley e John Boyega.
Atenção à canção principal do filme, que é linda, de Art Garfunkel, “Bright eyes”.
A animação foi relançada em DVD no Brasil pela Obras-primas do Cinema no box “Clássicos da animação”, que contém a animação francesa de arte “Os anos de luz” (1987), o britânico “Quando o vento sopra” (1986) e o japonês “Perfect blue” (1997). Todos estão numa excelente cópia restaurada, num disco duplo com mais de 1h10 de extras.
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J. Edgar
3.5 646 Assista AgoraDirigido por Clint Eastwood, astro e diretor premiado, que está na ativa aos 93 anos, o filme é a história não contada de J. Edgar Hoover (1895-1972), que por 37 anos foi diretor do Federal Bureau of Investigation (FBI), um dos mais organizados centros policiais de investigação do mundo. Temido, adorado, aplaudido, depois que morreu levantaram-se duas suspeitas sobre ele: de que usava o cargo para subornar e ameaçar pessoas e de que era gay. O filme acompanha essas suposições, com foco no relacionamento discreto que teve com Clyde Tolson, um policial que se tornou seu braço direito e foi vice-diretor do FBI. O longa-metragem, que dividiu opinião da crítica e do público, não só coloca tais suspeitas como verdade, como mostra a fundo o relacionamento de Hoover e Tolson, morando juntos como um casal (o que nunca foi provado).
Fotos e documentos revelam que Hoover e Tolson eram muito próximos, foram flagrados inúmeras vezes em lugares públicos a sós (em jantares, por exemplo), e quando Hoover morreu, em 1972, Tolson herdou parte dos bens dele e da propriedade onde viveu – e para lá se mudou, falecendo três anos depois, em 1975.
Outro ponto do filme é mostrar Hoover com seus métodos implacáveis de destruir inimigos, censurando pessoas e perseguindo líderes acusando-os de comunistas (ele foi peça central na ‘caça às bruxas’ durante o Macarthismo). Também foi acusado de manipular e plantar provas em casos.
É um drama com extensos diálogos e um bom trabalho dos dois atores centrais, DiCaprio, indicado ao Globo de Ouro pelo papel, em papel sério e convicto, e Hammer com suas sutilezas – ele ganhou destaque em Hollywood a partir desse seu trabalho desafiador. O roteiro é bom e ousado, de Dustin Lance Black, ganhador do Oscar de melhor roteiro por “Milk: A voz da igualdade” (2008), mas sinto falta de um desfecho impactante e uma pitadinha de ação, que caberiam em algum lugar da história. Vejo também excesso de personagens (tem muita gente no elenco, são mais de 100 atores e atrizes que desfilam em participações pequenas, como Naomi Watts, Judi Dench, Adam Driver, Ken Howard, Josh Lucas, Dermot Mulroney, Josh Hamilton e Lea Thompson) e a fotografia é bem escura, que chega a atrapalhar sequências cruciais – assinada por Tom Stern, indicado ao Oscar por “A troca” (2008), também de Clint Eastwood, um colaborador frequente dos filmes do diretor. A maquiagem é um pouco over, realçada demais.
Não foi bem de bilheteria, não foi tão elogiado pela crítica, no entanto é uma história ousada e pouco convencional de Hoover, que mostra o outro lado dessa controversa figura pública.
Clint Eastwood é um diretor que lança de um a dois filmes por ano, tem quatro Oscars nas costas (dois de melhor filme e dois de direção) e nos últimos anos investe em fitas baseadas em histórias verídicas, como esse aqui, “Sniper americano” (2014), “Sully: O herói do rio Hudson” (2016), “15h17: Trem para Paris” (2018) e “O caso Richard Jewell’ (2019). Ele está dirigindo seu novo, “Juror #2”, um suspense de tribunal com grande elenco, incluindo ele de volta na atuação, previsto para o final de 2024.
J. Edgar está disponível em DVD e Bluray, pela Warner Bros, e em plataformas de streaming como HBO Max, e para aluguel na Amazon Prime Video, Apple TV e Google Play.
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A Bolha
3.2 103 Assista AgoraUm pequeno cult B do finzinho dos anos de 1950, um entretenimento à moda antiga, fita scifi com terror e mistério, sobre uma gosma maligna que vem do espaço sideral, dentro de um meteorito, e cai numa cidadezinha rural. Ela come pessoas e cresce de forma assustadora.
Rodado na Pensilvânia, em pouco mais de 20 dias, com orçamento barato (U$ 240 mil), o filme traz efeitos especiais consideráveis para a época, quando investia-se nos efeitos 3D. A bolha era feita de um silicone com corante vermelho, enchida com ar como se fosse uma bexiga; as imagens dela eram captadas isoladamente e depois inseridas em primeiro plano, dando a impressão de que elas eram enormes, maiores que os personagens do filme (ou seja, um processo artesanal com truques de imagens e montagem).
Também era moda a abertura dos filmes com número musical (aqui aproveitaram a ascensão do rock'n'roll e da pop music - a música que abre fala de uma bolha assassina e foi composta por Burt Bacharach, falecido em fevereiro aos 94 anos).
Originalmente da Paramount Pictures, é uma fita rápida e divertida, inconfundível e nostálgica, com a primeira aparição em cena do futuro astro Steve McQueen - ele tinha 27 anos, antes havia feito como figurante seriados, depois se tornaria importante ator de faroeste e policial, de obras célebres como "Sete homens e um destino" (1960), "Fugindo do inferno" (1963), "Bullitt" (1968) e "Papillon" (1973).
Escrito por uma mulher, a atriz Kay Linaker, que assinava Kay Phillips, seu único script para cinema (ela atuou em fitas dos anos 40 como "O canto da vitória"). E foi um dos cinco filmes dirigidos Irvin S. Yeaworth Jr., que fez filmes de terror como "Quarta dimensão" (1959).
Quem assiste não esquece (tem uma cena memorável, quando a bolha ataca um cinema lotado!). Também conhecido como “A bolha”, deu origem, trinta anos depois (em 1988), a um remake com mais terror e suspense, que virou um cult movie pelos fãs, inúmeras vezes reprisado na TV aberta. Essa primeira versão, de 1958, sai em DVD numa edição de colecionador pela Classicline, com extras e card colecionável.
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Aterrorizante 2
2.9 423 Assista AgoraNessa continuação ainda mais violenta e cruel de “Terrifier” (2016), lançada em dezembro de 2022 nos cinemas, subtende-se que o palhaço Art é ressuscitado por um mal maior, uma entidade diabólica, que surge na pele de uma criança sinistra que sempre o observa com sorriso medonho. O palhaço retorna com mais sede de sangue e comete atrocidades inimagináveis.
Ambos os filmes “Terrifier” contêm violência gráfica e estilizada, com muito gore (há muito esguicho de sangue rosa, miolos, gente de plástico etc, bem podreira e intencional, porém algumas cenas são assustadoras e bem feitas, especialmente às do segundo filme).
No cinema são muitos os filmes com palhaços assassinos, de diversas concepções, como a série e os longas de Stephen King, “It: A coisa” (1990, 2017 e 2019), “Palhaços assassinos do espaço sideral” (1988) e “Palhaço assassino” (1989) - e “Terrifier”, mesmo sem um roteiro de qualidade, por ora bem repetitivo, coloca Art na galeria de vilões assustadores (a caracterização dele dá medo!).
A ideia original de “Terrifier” nasceu com um curta-metragem de Leone, de 2011, rodado em Nova York, sobre uma jovem perseguida pelo palhaço. Dois anos depois, no mesmo local e elenco, o diretor rodou “Terrifier: O início” (2013), expandindo o universo de Art, agora com uma babá que, no Halloween, encontra vídeos em VHS das mortes cometidas pelo palhaço, em três histórias (o filme acaba de ser lançado em bluray pela Obras-primas do Cinema). Em 2016, Leone trocou o elenco, inclusive o ator que fazia o palhaço, e criou “Terrifier”, que no Brasil passou no circuito independente com o título de “Aterrorizante”. Custou U$ 35 mil e rendeu U$ 417 mil, quase 12 vezes mais. Com a repercussão, fez essa continuação, com mais qualidade técnica, mais bizarrices e mais violento, com longos 2h18 de duração (eu teria reduzido uns 30 minutos). Custou mais caro, U$ 250 mil, só que rendeu US$ 15 milhões, ou seja, 60 vezes mais, chegando a ser lançado nos cinemas brasileiros - ficou dois meses em cartaz, entre dezembro de 2022 e fevereiro de 2023, em centenas de salas, com distribuição pela A2 Filmes (isso reflete que o público quer filmes assim).
Agora pode ser adquirido em DVD e BD pela Classicline, num box em disco duplo, com luvas, cards e extras nos discos, como trailer, making of, entrevistas, cenas deletadas, clipes e comentários do diretor.
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Aterrorizante
2.9 455 Assista AgoraInovando mais uma vez no mercado de mídia física no Brasil, a distribuidora Classicline, localizada em Fortaleza (CE), lançou esse mês a coleção “Terrifier”, tanto em DVD quanto em bluray. O box reúne os dois principais filmes de terror com o palhaço assassino Art, que sai no Halloween matando quem vê pelo caminho. Os sangrentos filmes, de 2016 e 2022, são produções independentes, ganharam público ao redor do mundo e agora ambos os longas podem ser adquiridos pelos colecionadores.
Os dois filmes se passam na mesma noite de Halloween, quando um palhaço sádico sai pelas ruas de uma cidadezinha norte-americana atrás de suas vítimas. Ele não fala, tem sede de sangue e comete crimes brutais, com requintes de crueldade. Escrito, dirigido e produzido por Damien Leone, é um slasher baratíssimo, que rendeu boa bilheteria mundial. Conta com cenas apelativas de assassinato e verdadeiros massacres, com sangue jorrando na tela. Art abre a cabeça das vítimas com machado, dá tiro com revólver, usa martelo, bisturi e outros objetos. A concepção do palhaço assassino Art é sinistra (num dos extras há um making of mostrando a caracterização do ator David Howard Thornton, da série ‘Gotham’). Reparem que na abertura do filme, quando o assassino aparece de costas montando seu personagem Art, o diretor presta homenagem ao primeiro filme de “A hora do pesadelo” (1984), quando Freddy Krueger aparece de costas mexendo em ferramentas para criar a luva com lâminas. No Brasil passou no circuito independente e entrou no Amazon Prime Video com o título de “Aterrorizante”.
A parte 2 é ainda mais violenta, sangrenta e cruel. Irá gostar quem curte cinema de terror desse tipo.
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Só Você
3.4 207 Assista AgoraDivertida e alto astral, essa comédia romântica água com açúcar dos anos 90 acaba de ser lançada em DVD no Brasil pela Obras-primas do Cinema, a pedido dos colecionadores. Com um roteiro bem cara de filmes românticos da década de 50 50 (com uma cena em menção à “A princesa e o plebeu”, cujos personagens e lugares se assemelham), é um passeio por lindas paisagens da Itália, como a Fonte de Netuno, na Piazza Navona, em Roma, pontos históricos da cidade de Siena, na Toscana, um tour pelas águas de Veneza e muitas gravações nos famosos estúdios da Cinecittá (em Roma).
A atriz Marisa Tomei tinha acabado de ganhar o Oscar de coadjuvante por “Meu primo Vinny” (1993) e desfrutava o prestígio da carreira, aqui num papel leve e gracioso de uma noiva (de nome Faith, olhe só a coincidência!), que vai atrás de um cidadão desconhecido que poderá ser o homem de sua vida, marcado pelo sopro do destino (quando criança, viu esse homem aparecer numa sessão de tabuleiro de Ouija e depois numa conversa com uma vidente); já Robert Downey Jr, em início de carreira e indicado ao Oscar um ano antes, por “Chaplin” (1992), projetava-se como galã, tinha forte presença em cena, e em “Só você” aparece apenas a partir da metade, como o misterioso Damon Bradley, o possível “homem da vida” da protagonista. Entre os dois rola muita química e bons momentos de romance e humor, graças à dupla que sabe interpretar papeis desse nível. Bonnie Hunt (de “Rain Man”) e o ator português Joaquim de Almeida (de “Bom dia, Babilônia”) são bons coadjuvantes que auxiliam a trama andar.
Foi o primeiro trabalho da roteirista Diane Drake, de “Do que as mulheres gostam” (2000), e um dos filmes menos lembrados do canadense Norman Jewison, um de meus diretores de cinema favoritos, que está vivo, aos 97 anos; indicado a sete Oscars, Jewison fez obras máximas do cinema comoo policial sobre racismo “No calor da noite” (1968), os musicais divisores de água “Um violinista no telhado” (1972) e “Jesus Cristo Superstar” (1973) e a elegante comédia romântica “Feitiço da lua” (1987).
Se gosta de romance irá curtir “Só você”, também lançado no Brasil com o título original, “Only you”.
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Maligno
3.3 1,2KJames Wan, produtor, roteirista e diretor nascido na Malásia, ganhou espaço no cinema de terror hollywoodiano com as franquias milionárias de “Jogos mortais”, “Invocação do mal” e “Sobrenatural”. Boa parte deles foi bem recebido pelo público, outros dividiu a crítica, e continuações pipocaram nas telas, além de spin-offs. Pode-se dizer que Wan ajudou a reinventar o cinema de horror contemporâneo nos Estados Unidos.
Depois de se arriscar em universos diferentes, dirigindo a ação “Velozes & furiosos 7” (2015) e a fita de super-heróis da DC Comics “Aquaman” (2018) – diga-se de passagem dois bons trabalhos dele – Wan fez em “Maligno” um original thriller de terror em homenagem ao cinema de horror chinês e tailandês oitentista, que lembra vagamente “Enfeitiçados” (1981) e “Uma história chinesa de fantasmas” (1987), misturando situações bizarras, pitadas de sobrenatural, lutas marciais e mortes macabras com muito sangue. A bela e boa atriz inglesa Annabelle Wallis, de “Annabelle” (2014) e “A múmia” (2017), interpreta uma mulher atormentada por crimes horrendos. De repente seu quarto fica escuro, parece que vive uma maldição. Com a ajuda da irmã e de médicos, tenta entender o que se passa em sua mente. Até que os crimes acontecem de verdade, e o principal suspeito é um homem misterioso de roupa preta, de couro. Mas o filme não para aí: da metade para o fim ele dá uma reviravolta danada de impressionante para apresentar a identidade do temível assassino (e se prepare, é uma das revelações mais ousadas e chocantes do cinema). O diretor, inspirado por outros estilos cinematográficos, insere elementos do slasher/giallo, coloca humor negro (há cenas, como a da delegacia e a do hospital, em que rimos da tragédia) e muita escatologia e por fim pode ser visto como um cinema trash confessional, no melhor sentido da palavra. Foi até elogiado por nada mais nada menos que Stephen King, um dos mestres do horror.
O roteiro é de James Wan junto de Akela Cooper (que esse ano fez nova parceria com Wan, em “M3gan”) e Ingrid Bisu (junto com Wan produziu o filme, esse é o primeiro script dela, que é romena e trabalha como atriz, de filmes como “A freira”).
Lançado em DVD e Bluray pela Warner Bros (ambos com muitos extras no disco), está também disponível para assinantes no Amazon Prime Video e HBO Max e para aluguel em plataformas de streaming como Oi Play, Apple TV e GooglePlay.
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A Visão do Terror
3.1 69Um autêntico filme B de terror com comédia, também visto como uma sátira à sociedade de consumo e à cultura industrializada dos sitcons americanos. Uma família, sem saber, conecta-se ao espaço sideral pela antena parabólica, e pelas ondas magnéticas, um monstro horroroso e melequento, de olhos tortos e dentes grandes, aparece e some para devorá-los. Com piadas infames, erotismo, muita gritaria e momentos altamente bizarros, essa fita cult com traços do cinema scifi lembra outro terror do mesmo ano, “Invasores de Marte” (1986, de Tobe Hooper). O diretor Ted Nicolaou posteriormente (nos anos 1990) faria vários filmes populares para home vídeo, como a franquia de terror com vampiros demoníacos “Subspecies” (entre 1991 e 2023). No elenco, rostos conhecidos como Gerrit Graham (de “O fantasma do paraíso” e “Brinquedo assassino 2”), Mary Woronov (de “Tudo por dinheiro” e “A noite do cometa”), Diane Franklin (de “Amityville 2: A possessão”) e Bert Remsen (de “Onde os homens são homens” e “Nashville”). É um filme melhor do que aparenta e bem criativo, com uma sagaz crítica social. A fita mais legal do box “Sessão de terror Anos 80 – vol.6”, que traz junto “Assassinato no colégio”, “Spookies: Renascidos das trevas” e “Os demônios de Alcatraz”, lançado pela Obras-primas do Cinema; são dois discos, contendo 50 minutos de extras e cards colecionáveis.
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Spookies: Renascidos das Trevas
2.7 24 Assista AgoraNos anos de 1980 os filmes de terror eram inventivos demais, como podemos notar nessa fita corriqueira que contém humor negro, em que um feiticeiro maligno transforma pessoas em criaturas estranhas e ainda convoca zumbis para atacar um grupo de jovens, com o objetivo de retirar o sangue das vítimas para tratar da noiva que está em coma. Uma mistura maluca, numa fantasia de horror que diverte e entretém – mas para tanto há que se perdoar os furos evidentes no roteiro, o elenco fraco e desconhecido (a maioria nem seguiu carreira no cinema) e erros de edição. Parte das falhas está atribuída aos muitos problemas na produção; inicialmente o filme seria dirigido pela dupla Brendan Faulkner e Thomas Doran, com o título de “Twisted souls”, depois entrou outro cineasta na equipe, Genie Joseph, e dois novos roteiristas para auxiliar nos rumos da trama.
Integra o box “Sessão de terror Anos 80 – vol.6”, com os filmes “Assassinato no colégio”, “A visão do terror” e “Os demônios de Alcatraz”, lançado pela Obras-primas do Cinema; são dois discos, contendo 50 minutos de extras e cards colecionáveis.
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Demônios De Alcatraz
2.2 15Fita B de terror com muito rock’n’roll dos anos 80, demônios assustadores e pitadas de humor negro. Naquelas tramas absurdamente divertidas e impossíveis da época, acompanhamos um estudante que vive sonhando com demônios em uma penitenciária. Ele tem um “chamado”, e com um grupo de amigos vai até a ilha de Alcatraz, na prisão desativada, encontrar-se com o mal. Um deles é possuído por um demônio canibal, os amigos se dispersam e acabam perseguidos por criaturas medonhas que atormentam o rapaz em seus sonhos. Uma bruxa boa e gótica irá auxiliá-los no caminho da sobrevivência.
Fitinha corriqueira, passatempo curto (tem 85 minutos apenas), direto e curioso, com atores desconhecidos (há canastrões, que nem seguiram carreira, e participação especial de Toni Basil, cantora, coreógrafa e atriz, no papel da bruxa boa). Inspirado no cinema de terror oitentista italiano de Lamberto Bava, em particular na cultuada duologia “Demons” (1985 e 1986) – a maquiagem dos demônios com dentes que saltam é muito semelhante, além do clima, com uma fotografia escura em ambientes tomados por fumaças, da trilha sonora e dos letreiros iniciais.
Foi filmado na verdadeira penitenciária federal de Alcatraz, na Baía de São Francisco, Califórnia, que existiu como prisão por 30 anos, entre 1934 e 1963, e abrigou criminosos perversos, como Alvin Karpis, e mafiosos, dentre eles Al Capone.
O filme saiu em DVD no box “Sessão de terror Anos 80 – vol.6”, juntamente com “A visão do terror” (1986), “Spookies: Renascidos das trevas” (1986) e “Assassinato no colégio” (1989) - lançado pela Obras-primas do Cinema, em disco duplo, contendo 50 minutos de extras e cards colecionáveis.
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Assassinato no Colégio
2.2 18 Assista AgoraNos anos de 1980 brotou nos Estados Unidos um popular subgênero do terror chamado ‘slasher movies’, com filmes sanguinários sobre assassinos mascarados que trucidavam jovens em cabanas distantes (como “Sexta-feira 13”), em mansões sinistras (como “Noite infernal”), em festas (como “Baile de formatura”) etc. Dentro do mundo do slasher surgiu uma linha de filmes com humor negro, uma espécie de terrir (terror com comédia), principalmente no fim daquela década. “Assassinato no colégio” (1989) é um desses casos, uma fitinha corriqueira com tom policial e uma trama de investigação, sobre estudantes que são mortos na escola de uma pequena cidade após o súbito desaparecimento de um procurador de Justiça cuja filha está matriculada lá. Muitas mortes bizarras deixam a comunidade estarrecida, e todos estão à procura do assassino.
Nada marcante ou especial, é um passatempo bobinho, porém curioso por trazer Brad Pitt bem novo (na época tinha 26 anos, e este foi seu quarto trabalho no cinema). Tem participação dos novatos Donovan Leitch Jr., de “A bolha assassina” (1988) e Jill Schoelen, de “O padrasto” (1987), e dos veteranos Martin Mull, de “Os sete suspeitos” (1985), como o procurador desaparecido, e Roddy McDowall, de “Cleopatra” (1963) e “A hora do espanto” (1985), no papel do diretor da escola.
Foi o único filme dirigido pelo inglês Rospo Pallenberg, roteirista de “Excalibur” (1981) e “Floresta das esmeraldas” (1985), e que coescreveu e codirigiu, sem créditos, “O exorcista II: O herege” (1977).
Integra o box “Sessão de terror Anos 80 – vol.6”, com os filmes “Os demônios de Alcatraz”, “A visão do terror” e “Spookies: Renascidos das trevas”, lançado pela Obras-primas do Cinema; são dois discos, contendo 50 minutos de extras e cards colecionáveis.
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Desaparecida: O Caso Lucie Blackman
3.3 14 Assista AgoraCoprodução EUA/Japão, o documentário acompanha passo a passo as investigações em torno do desaparecimento de uma jovem em Tóquio, chamada Lucie Blackman, em 2000. Ela era comissária de bordo, tinha 21 anos e fez uma viagem à capital do Japão, onde pretendia se instalar por um ano. Porém, desapareceu sem deixar vestígios três semanas depois de chegar lá. O pai, Tim Blackman, fez uma busca incansável por justiça, e é ele quem conduz as conversas nesse documentário investigativo de grande impacto. No filme, vê-se uma série de vídeos reais da investigação do caso, a atuação da polícia japonesa e a mobilização da comunidade. Na época o pai chegou a implorar ao primeiro-ministro Tony Blair para expandir a investigação. O clímax do doc é a prisão de um suspeito, um playboy milionário acusado por agressão sexual a mulheres e que costumava gravar vídeos caseiros estuprando as vítimas desacordadas.
A Netflix é especializada em séries, microsséries e documentários policiais, e aqui temos mais um bom exemplo, que funciona. É um caso intrigante, de roer as unhas, com um triste desfecho. Estreou na Netflix em 26 de julho.
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A Dama do Silêncio: La Mataviejitas
3.3 9 Assista AgoraUm caso turbulento de assassinatos brutais de idosas, que mexeu com a opinião pública e amedrontou o México entre os anos de 1990 e 2000 é o tema central desse documentário imperdível da Netflix. Mais de 40 velhinhas solitárias foram estranguladas dentro de casa, numa época em que não havia celular nem câmeras de vigilância, em uma das cidades mais populosas do mundo, Cidade do México. No documentário, a equipe entrevista policiais que atuaram no caso, familiares e amigos das vítimas, bem como peritos criminais. Há ainda um vastíssimo material de arquivo, como jornais impressos, fotos e vídeos da investigação liberados pela polícia, que ajudam a reconstruir o caso que ficou conhecido como “La Mataviejitas”. A polícia sempre trabalhou com a hipótese de que o criminoso era um homem, pela força com que estrangulava as vítimas. Quando a investigação avançou, chegou-se à conclusão de uma mulher alta, encorpada e musculosa – a partir daí, muitas mulheres foram presas indevidamente, e a polícia mirava transexuais, a ponto de agredi-los nas ruas em busca de informação (o filme faz uma crítica à repressão policial, em especial àquela contra os mais vulneráveis; em certo ponto do documentário, alguns entrevistados da corporação policial mexicana fazem o ‘mea culpa’). A serial killer confessa era uma mulher solitária, ex-lutadora de luta livre apelidada de “Dama do Silêncio, que tinha um bom relacionamento com a vizinhança onde morava – ou seja, uma cidadã acima de qualquer suspeita.
Outro bom doc investigativo da Netflix para não desgrudar os olhos da TV - estreou na plataforma em 27 de julho.
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Contaminação: A Verdade Sobre o que Comemos
3.5 16 Assista AgoraA diretora Stephanie Soechtig engajou-se em vários documentários sobre produtos aparentemente inofensivos vendidos no mercado , mas causadoras de graves riscos à saúde: em “Tapped” (2009), examinou os efeitos nocivos de substâncias liberadas pelas garrafas Pet no organismo humano; em “Fed up” (2014), tratou o boom da obesidade nos Estados Unidos relacionando-o à indústria de alimentos fast food e enlatados; e em “The devil we know” (2018), mostrou a contaminação de pessoas com o Teflon, um polímero com substâncias cancerígenas usado em panelas. Agora, com “Contaminação: A verdade sobre o que comemos”, que estreou na Netflix no dia 02 de agosto, ela se volta para o mundo das contaminações alimentares, falando de surtos de doenças causadas por microrganismos invisíveis a olho nu; no filme, ela foca em duas delas: as provocadas pela bactéria E. coli e a salmonella. O doc investiga pais que perderam filhos por graves infecções gastrointestinais, e entrevista pessoas que por um triz não morreram, porém que sofrem as consequências, tendo de fazer tratamentos médicos periódicos. Com ousadia, a diretora procura quem está por trás dessa indústria de alimentos; ela denuncia empresas, por exemplo, que deixam de fazer as devidas inspeções sanitárias em alimentos como alface, ovos e frangos.
Há ainda entrevistas com congressistas norte-americanos, ativistas, médicos e chefes de laboratórios, que trazem dados alarmantes sobre a contaminação de alimentos - uma simples alface mal lavada, segundo eles, possui mais bactérias E. coli do que em carnes fatiadas nas bandejas de mercado, sem contar o frango, campeão de contaminação por salmonella.
É um doc que nos causa sensações ruins, pois demonstra que todos os alimentos estão sujeitos à contaminação, sendo boa parte deles não averiguados por agências de vigilância sanitária – lembremos que é um filme norte-americano, e lá as regras de fiscalização higiênica são bem diferentes do Brasil; há menos rigor na averiguação dos produtos alimentícios e há brechas nas leis de cada estado, pelo que aponta o filme.
Serve de alerta para revermos nossas práticas de armazenamento dos alimentos e como escolher na hora de comprá-los.
POR FELIPE BRIDA - BLOG CINEMA NA WEB
Alucinações do Passado
3.9 257Sempre esteve na lista dos meus filmes preferidos “Alucinações do passado” (1990), uma obra instigante, adulta e repleta de mensagens escondidas, que fala dos traumas dos soldados que estiveram na Guerra do Vietnã, porém com um viés de terror psicológico. O diretor é Adrian Lyne, que fez somente nove filmes na carreira (ele está vivo, com 82 anos), dentre eles fitas populares nos anos de 1980 e 1990, como o notório musical “Flashdance: Em ritmo de embalo” (1983), o tórrido romance “9 ½ semanas de amor” (1986), o suspense de puro erotismo e tensão “Atração fatal” (1987 - em que chegou a ser indicado ao Oscar de melhor diretor), o drama romântico muito reprisado na TV “Proposta indecente” (1993) e a versão moderna (e bem legal) de “Lolita” (1997). Apesar de dirigir pouco, sabe conduzir o elenco como ninguém – em “Alucinações do passado” extraiu a melhor interpretação de Tim Robbins, que até então não tinha feito nada de especial e praticamente foi aqui que sua carreira virou, no difícil papel do soldado traumatizado com a guerra e que sofre de desassociação, distorcendo a realidade, tendo pesadelos com monstros e vultos que o perseguem. Depois do filme, Robbins fez grandes papéis, protagonizando “O jogador” (1992), em que ganhou os prêmios de ator em Cannes e no Globo de Ouro, e ainda “Na roda da fortuna” (1994), “Um sonho de liberdade” (1994) e “O suspeito da rua Arlington” (1999) – foi casado com Susan Sarandon de 1988 a 2009, recebeu indicação ao Oscar de diretor por “Os últimos passos de um homem” (1996 - que deu o prêmio de atriz a Susan) e ganhou o Oscar de melhor ator coadjuvante em “Sobre meninos e lobos” (2003).
“Alucinações do passado” foi escrito por Bruce Joel Rubin, que no mesmo ano ganhou o Oscar de roteiro por “Ghost: Do outro lado da vida” (1990). É um intenso drama de guerra sobre a descida de um homem ao inferno, reunindo elementos essenciais do cinema de suspense, terror e ficção científica. Há cenas memoráveis, como a do metrô, quando Jacob vê vultos horripilantes como se fossem fantasmas pretos sem rosto, e a da boate, em que Jezebel, a namorada do protagonista, surge com um longo rabo de monstro enquanto dança.
O título original é “Jacob’s ladder” (ou “A escada de Jacó”), que segundo a Bíblia, em Gênesis, simboliza a conexão do céu com a terra, do homem com Deus, da carne com o espiritual. E aos poucos essa mensagem vai se solidificando no filme, até chegar ao emocionante desfecho.
Gravado na maior parte em Nova York e algumas cenas em Porto Rico (como as da Guerra do Vietnã), conta com um bom elenco de apoio, como Elizabeth Peña, atriz de origem cubana que fez “La bamba” (1987) e “A hora do rush” (1998), e que faleceu cedo, aos 57 anos em 2014, e Danny Aiello, ator veterano de mais de 90 filmes, como “Era uma vez na América” (1984), “Feitiço da lua” (1987) e “Faça a coisa certa” (1989 – indicado ao Oscar de melhor ator coadjuvante). Há rápidas aparições de Matt Craven, de “Questão de honra” (1992), Jason Alexander, da série “Seinfeld” (1989-1998), Ving Rhames, o Luther de todos os filmes da franquia “Missão: Impossível” e, vejam só, de Macaulay Culkin, em participação não-creditada, na época com nove anos e meses antes de fazer o sucesso de público “Esqueceram de mim” (1990).
“Alucinações do passado” acaba de sair numa ótima edição em DVD pela Obras-primas do Cinema, com capa dupla face, card colecionável e 40 minutos de extras no disco.
PS: Ganhou uma pavorosa continuação em 2019, “Alucinações do passado 2”, de David M. Rosenthal, com o ator Michael Ealy, que refaz, com erros e sem tom, a história, agora na Guerra do Afeganistão.
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Tempo
3.1 1,1K Assista AgoraUm thriller de terror diferente, que nos prende até o desfecho-surpresa, com uma história original repleta de mistério, fantasia e elementos de ficção científica. Escrita e dirigida pelo indiano M. Night Shyamalan, que no finzinho da década de 1990 revolucionou o cinema de horror com sua obra-prima “O sexto sentido” (1999) e depois teve carreira irregular, dividido entre bons filmes como “Corpo fechado” (2000) e “Fragmentado” (2016) e longas pavorosos, por exemplo, “Fim dos tempos” (2008) e “Depois da Terra” (2013).
Shyamalan fez aqui uma livre adaptação da graphic novel francesa “Sandcastle/ Château de sable”, da dupla Pierre Oscar Levy e Frederik Peeters, escrevendo um novo final, com mais violência e um clima de mais angústia e estranheza. Na trama, uma família se hospeda num resort luxuoso e, para relaxar, são convidados pelo gerente para passar alguns dias numa praia paradisíaca localizada numa ilha próxima. O casal é Guy (Gael García Bernal, de “Amores brutos”) e a esposa, Prisca (Vicky Krieps, de “Trama fantasma”), que vivem um relacionamento em crise, e levam com eles os filhos pequenos. Na ilha chegam outros turistas, como um senhor misterioso, Charles (Rufus Sewell, de “Coração de cavaleiro”), e a modelo Chrystal (Abbey Lee, de “Mad Max: Estrada da fúria”). O passeio se torna infernal: descobrem que estão envelhecendo a cada minuto que passa, a ponto de as crianças se tornarem jovens, e os adultos, velhos com rugas e dores no corpo. Aparece um cadáver que em poucas horas se decompõe sobrando apenas os ossos... Eles se perguntam: o que ocorre naquela ilha e como fugir de lá? Como não encontram respostas, o desespero toma conta, e todos vão se tornando agressivos.
Inusitado, com cenas bizarras saídas da mente efervescente de Shyamalan, conta com um final revelador (pelo menos para mim) – prestem atenção nos vinte minutos finais e não deixem que te contem para não estragar a surpresa!
Não é dos grandes filmes do diretor, mas exemplifica essa nova fase dele depois de lançar uma série de fiascos de crítica e público.
Disponível em DVD e bluray pela Universal Pictures (ambos com extras no disco) e para aluguel em plataformas de streaming, como Star+, Youtube Filmes, Apple TV e GooglePlay Filmes e Amazon Prime Video.
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As Loucas Aventuras do Rabbi Jacob
3.9 22 Assista AgoraIndicado ao Globo de Ouro de melhor filme estrangeiro em 1975, é um dos momentos mais formidáveis no cinema do humorista francês Louis de Funès (1914-1983), ator com hilárias caras e bocas, de “A grande escapada” (1966) e “O avarento’ (1980). Aqui foi novamente dirigido pelo parceiro de trabalho Gérard Oury – Funès esteve numa das séries de filmes mais queridas pelos franceses, do “Gendarme”, produzidos entre os anos de 1960 e 1980. Funès costumava interpretar a mesma linha de papéis, senhores chatos, ranzinzas, mas astutos, que se envolviam em enrascadas mirabolantes. Em “Rabbi Jacó”, ele é um homem reclamão que assume a identidade de um rabino para fugir de bandidos perigosos, como assassinos e terroristas. Engraçado, tem cenas impagáveis, como a da perseguição na fábrica de chiclete (onde todo mundo cai nos tanques de goma e ficam verdes, melequentos) e a do final, dos ritos judaicos. Um filme que não envelhece, traz uma mensagem contra a discriminação de raça e credo, e garante, por fim, risos atrás de risos.
O filme foi relançado em bluray no Brasil pela Versatil, numa excelente cópia restaurada em alta definição (com muitos extras no disco).
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A Estranha Passageira
4.2 86A Obras-primas do Cinema distribuiu mês retrasado em DVD esse charmoso clássico da década de 1940, que traz uma das mais incríveis atuações de Bette Davis, um monstro sagrado da Sétima Arte, em papel que lhe rendeu sua sétima indicação ao Oscar. Originalmente da Warner Bros, numa época em que o estúdio se voltava para filmes sérios, que rompiam com tabus, esse romance melodramático conta com três bons coadjuvantes: Gladys Cooper, no papel da mãe controladora da protagonista, com seu olhar penetrante (indicada ao Oscar aqui de atriz coadjuvante, esteve em “Minha bela dama”), Paul Heinred (de “Casablanca”), o bonitão casado que a protagonista conhece no Rio de Janeiro (aliás, tem músicas brasileiras na trilha sonora) e Claude Rains (de “A mulher faz o homem”), o psiquiatra que ajuda a personagem central em sua clínica.
É um roteiro maduro, bem esquematizado pelo roteirista Casey Robinson (de “O capitão Blood”), que adaptou o romance da escritora Olive Higgins Prouty, sobre uma mulher em plena transformação, que precisa vencer medos e barreiras sociais para se impor como uma mulher independente e sair das garras da mãe dominadora. Dirigido pelo britânico Irving Rapper, de “Rapsódia azul”, é um grande filme dos anos de Ouro de Hollywood. Ganhou o Oscar de trilha sonora (de Max Steiner, de trilhas impecáveis como a de “E o vento levou”).
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O Lixo das Ruas
3.3 93Estranho, escatológico, repulsivo e estranhamente engraçado, “Street trash” é um dos filmes mais bizarros do cinema, também conhecido por “O lixo das ruas”. É um autêntico trash (trash de natureza técnica mesmo, de concepção correta do que é um ‘trash movie’), um terror-comédia maluco, produzido com pouco dinheiro (custou U$ 500 mil) e rapidamente tornou-se cult.
A fita, de 1987, nasceu de um curta-metragem feito quatro anos antes pelo mesmo diretor (J. Michael Muro), elenco e equipe, com menos recursos. Muro aproveitou o plot e as piadas, estendeu a história para projetá-la nas telonas e jogou mais cenas de violência e escatologia. Uma bebida maldita encontrada nos fundos de um depósito de uma loja, de nome Viper, é roubada por mendigos, que acabam dividindo os frascos e bebendo o conteúdo. Porém o Viper derrete quem o bebe. Um andarilho que observa tudo tenta alertar os amigos de rua, sem sucesso. A trama do filme é somente essa, um roteiro superenxuto, que investe em mortes bizarras, com bons efeitos especiais e maquiagem, com gente derretendo e explodindo. Prepara-se para muita nojeira, com líquidos corporais pingando pelas ruas, tripas pulando fora do corpo, o sangue se transformando em uma pasta azulada. No fim, as vítimas do Viper viram uma gosma colorida. Numa cena icônica que virou o pôster original do filme, um mendigo senta-se no vaso sanitário e derrete, e os restos do seu corpo são tragados para dentro da privada.
Tem um forte comentário social: o “lixo das ruas” referindo-se pejorativamente aos andarilhos que povoam o Brooklyn, e o Viper como uma forma de “limpar” a cidade (uma crítica à aporofobia). O derretimento das pessoas por essa bebida colocada com destaque para ser vendida barata também é um alerta quanto à sociedade de consumo (todos querem o Viper vendido por um dólar, mas ninguém sabe o que tem ali no frasco).
“Street trash” tornou-se um marco do cinema trash. Foram 40 dias de filmagem em 1985, todo rodado nas ruas de Nova York. Teve exibição em diversos festivais de cinema terror e de cinema fantástico, como Avoriaz e Bruxelas, e somente dois anos depois lançado no circuito independente.
O filme acaba de sair em DVD numa edição sem cortes, na versão integral de 100 minutos, pela distribuidora Obras-primas do Cinema - por causa das nojeiras e da violência, o filme sofreu cortes de 10 minutos em alguns países, sendo lançado com 91 minutos na Noruega, por exemplo. No disco, além da ótima cópia do filme, há extras, incluindo o curta “Street trash”, de 1983.
Um crítico de cinema da Inglaterra resumiu bem a fita no lançamento; disse que “Eraserhead” se encontra com “A noite dos mortos-vivos” no set de filmagens de “O massacre da serra elétrica”. Bom divertimento!
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A 13ª Emenda
4.6 354 Assista AgoraA Netflix é reconhecida por produzir documentários investigativos tensos, que caíram no gosto popular, e aqueles sobre denúncia social de mazelas que se perpetuam na sociedade, como é o caso desse grande filme indicado ao Oscar na categoria em 2017. Aqui, a cineasta negra Ava DuVernay, que já esteve envolvida em mais de 90 produções, seja como roteirista, produtora ou diretora, na maioria deles sobre questões raciais, reflete sobre um lado triste e permanente da História dos EUA: os crimes raciais. Mas para contar essa história, ela se volta para a 13ª. Emenda da Constituição do país - aquela que, a partir de 1865, tornava crime manter escravos, forçando a abolição nos estados que resistiam mesmo com o fim da Guerra de Secessão (Guerra Civil), e faz um paralelo com o altíssimo número de negros presos, sendo muitos deles inocentes. A teoria é de que escravidão e criminalização caminham juntas, a cadeia tornou-se a escravidão contemporânea para os negros. Estudiosos, políticos, ativistas e negros que cumpriram penas relatam sobre esses dados e discutem a relação entre a criminalização e perseguição da população preta norte-americana com a explosão do sistema prisional, trazendo relatos chocantes. É um estudo pontual e detalhista sobre racismo estrutural, que deve ser assistido por todos (recomendo aos professores exibirem aos seus alunos).
Dois anos antes, em 2014, a diretora fez “Selma: Uma luta pela igualdade” (2014), sobre a marcha conduzida por Martin Luther King para conquistar o direito dos negros ao voto. Tirando a infeliz fita de fantasia e aventura para a Disney “Uma dobra no tempo” (2018), Ava realizou bons trabalhos, com destaque para a minissérie “Olhos que condenam” (2019), que também aborda o racismo e foi novamente produzida para a Netflix.
“A 13ª Emenda” ganhou o Bafta de melhor doc, quatro Emmys e outros 30 prêmios em mais de 50 festivais internacionais. Disponível no catálogo da Netflix.
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