Mais de 3 anos criando coragem (e expectativa) pra ver um filme e a minha única decepção é não o ter feito antes. O nível de direção alcançado aqui é magnífico. Aliás, a junção de uma direção tão minuciosa e realista, com uma fotografia grandiosa e o trabalho dos adestradores, em especial de Teresa Ann Miller (filha do cara que nos permitiu Cujo, Babe e Beethoven) resulta em uma verdadeira obra de arte. Basicamente um Pássaros contemporâneo; que funciona muito bem per se, e também como a alegoria a que se propõe, da crescente tensão imigrante européia. É intrinsecamente um filme sobre humanidade e a questão d'o outro. No mais, não é um filme fácil. Criar coragem foi realmente um processo necessário. Se você for um dos que, como eu, chora em filmes de cachorro (já dizia Zezé: Eu não vou negar) recomendo se preparar. Mas já te dou dois motivos: o primeiro é que a experiência é muito recompensadora. E o segundo é que 98% dos cerca de 280 cães usados no filme conseguiram um lar após as filmagens, e eram todos cães de rua e/ou abrigo.
Não sabia que se tratava de um remake. Como não vi o original, essa é essencialmente uma crítica falha. Não sou capaz de avaliá-lo em relação ao filme italiano, mas talvez possa comentá-lo como filme findo em si. Para mim, é o mais fraco da filmografia de Alex de la Iglesia até agora. Todos seus elementos típicos estão lá, o drama, os diálogos rápidos, o humor ácido, um caráter voyeurístico, contudo o filme parece sempre prestes a decolar, e nunca o faz. Se não tivesse sido tão pitoresco durante todo o seu desenvolvimento, teria dado uma nota baixíssima apenas pelo uso do artifício mais preguiçoso da história do cinema no desfecho. Pontos positivos por desenvolver um filme inteiro em um só cenário sem parecer teatral e pela história "suculenta", mas já não saberia dizer se isso (tal qual o desfecho) é mérito (ou demérito) da condução de Alex ou do roteiro original.
Bom entretenimento nos moldes Sessão da Tarde. The Babysitter tem um Q nostálgico de aventura pré-adolescente, mas com um agrado a nova geração: gore.
Tem uns pontos negativos da minha parte pelo personagem John, que é basicamente todo o estereótipo do negro americano possível, só que de forma mais estúpida que os demais estereótipos do filme. Fora isso não há nada de novo, mas é bem divertido.
Esqueça tudo o que foi dito até agora. Inxeba é o filme do ano (ainda que de 2017). Lançado em meio a protestos, fez uma carreira excelente em festivais (sobretudo no circuito LGBT) e foi a escolha da África do Sul para o Oscar. Inxeba acompanha a trajetória de um garoto homossexual Xhosa e seu Instrutor em meio ao seu ritual de iniciação. Fora os conflitos internos, o filme explora de forma bastante realista o embate entre modernidade e tradição e, principalmente, os significados e a toxicidade da masculinidade. Os personagens são muito bem construídos e a história não toma rumos previsíveis em nenhum momento. A interpretação dos três atores principais é estupenda. As nuances, as expressões, o silêncio. O elenco de apoio também não deixa por menos. E se nada disso valer a pena, a fotografia por si já eleva o filme ao status de obra de arte. Um compilado de imagens e texturas absurdamente deslumbrantes.
Um filme sensível e delicado. A paralisia cerebral mostrada de forma bastante humana. Se pudesse mudar uma coisa no roteiro, porém, seria a forma com que se encontraram. Um pouco inverossímil, mas não chega a comprometer o filme como todo.
Uma boa homenagem pra quem vai assistir despido de preconceitos. Bastante engraçado. Já pros puristas e saudosistas (em sua maioria nascidos bem bem bem bem bem depois da estreia do filme) melhor pular.
Li algo sobre os roteiros do Sorkin que me deixou pensativa, era algo do tipo "seus roteiros são muito 'certinhos', parece uma história contada e não uma história vivida". Não sei se concordo completamente, mas sempre acho o trabalho mecânico demais, com pouca emoção e pouco "caos". É tudo muito arrumado. Em Molly's Game há uma tentativa de introduzir mais emoção do meio pro final ( seja por meio do pai ou pela redenção), mas infelizmente são justo nessas tentativas que o filme se perde. Em momentos, esse sentimentalismo se mostra deslocado e talvez por estar no lugar errado, soa até mesmo brega. O primeiro ato funciona muito bem, a parte de NY é apressada e confusa e o fechamento não funciona muito bem. Ainda há um outro problema: a inevitável comparação com filmes anteriores da Chastain, sobretudo Miss Sloane. Ok, é notório que Chastain consegue entregar diálogos longos, complexos e rápidos, e interpreta mulheres fortes como ninguém, mas tanto a personagem quanto a estrutura dos dois filmes é a mesma. E eu, particularmente, prefiro Miss Sloane.
Um filme verborrágico com uma premissa muito interessante mas um desenvolvimento falho. O excesso de planos médios e a falta de movimentação dão um ar amador. O elenco parece até mal utilizado diante de uma decupagem tão simplória.
O tipo de filme que te faz querer saber mais sobre a história em que se baseia. Interessantíssimo! Aliás, 2018 e essa ainda é uma história não muito palatável pra grande parcela da população. Uma pena. Angela Robinson tem aqui a sua obra mais madura, mas não menos divertida. Aleatório, mas Rebecca Hall está completamente hipnotizante.
Que filme encantador! The Shape of Water é basicamente a síntese do que é a sétima arte. Emociona, encanta, espanta, te faz rir, torcer, desprezar, provoca medo, angústia; basicamente todos os gêneros harmoniosamente conduzidos por um verdadeiro mestre do fantástico. Não esperava nada menos de Del Toro, ainda que Crimson Peak tenha sido morno; bem como obras recentes que assumiu a produção. Em termos narrativos, Del Toro obtém dois êxitos importantes: fazer o espectador abarcar um relacionamento bizarro, e, de forma mais sútil, manchar o arquétipo do grande herói americano. Fora a homenagem belíssima a Era Clássica, do cinema mudo aos musicais. Todd Haynes tenta algo similar nessa mesma temporada, com Wonderstuck, mas sem a maturidade de The Shape of Water e se escorando em um melodrama exagerado. Em termos artísticos o filme é um banquete. Sem dúvidas, merecedor da estatueta por design de produção. O elenco também é sensacional, e se o mundo fosse um lugar justo, Sally Hawkins dividiria Melhor Atriz com Frances McDormand. Para não ficar apenas em reverências, se tivesse que elencar um defeito, seria, infelizmente, na maquiagem. Minha admiração por Del Toro se dá em grande parte pelo uso de efeitos práticos invés de CGI, mas talvez fosse necessário "quebrar" mais com as formas e proporções humanas da criatura. Não tanto no rosto, mas no corpo. Em muitos momentos tive a experiência roubada por ler "homem fantasiado". Isso evitaria também as comparações com Abe Sapien de Hellboy. Mas não é nesse tom que quero terminar o comentário, então vou deixar duas palavras mágicas de Hollywood: Doug Jones. Amém.
Não é porque você criou o personagem que você é a melhor escolha para interpretá-lo. Ingrid Jungermann (a atriz) é, ironicamente, o ponto fraco do filme. Enquanto que Ingrid Jungermann (a diretora) fez um trabalho bem sólido e um flerte interessante com filmes de gênero em uma perspectiva "queer". Ainda assim, Women Who Kill poderia ter sido muito melhor, tivesse Jungermann mergulhado de cabeça no humor negro, invés de optar por algo mais contido e sóbrio em dados momentos.
Kelly Reichardt e seus trabalhos profundamente humanos. Inacreditável a complexidade que ela consegue alcançar com situações aparentemente simples e banais. Um filme muito bonito.
Wonderstruck tem uma premissa técnica ousada, mas confia muito em um elenco infantil que, infelizmente, não tem forças para carregar o filme. Todos os elementos de Todd Haynes estão lá: a melodramaticidade, o culto aos clássicos, o ar glamouroso da velha Hollywood, mas aqui a sensação que fica é que ele pesa a mão. A trilha, componente essencial em um filme basicamente mudo, é bastante exagerada. Conforme o filme se desenvolve, melhora, mas é bastante difícil superar a primeira parte. A fotografia na primeira parte também é falha e peca na falta de contraste. Algo que também melhora conforme o filme progride. Aliás, a cena do Panorama, no final, é belíssima e vale menção a parte. Para a história não há outra palavra senão "fofa". É um filme doce que provavelmente se daria bem como filme "família".
Krisha é um filme extraordinário. O realismo obtido aqui dificilmente será alcançado em outro filme. É de dar inveja. Roteiro, atuação, tudo impecável. E ainda assim há uma clara preocupação com os aspectos técnicos. A fotografia é muito bela, com uma decupagem e edição bastante criativas, mas particularmente o que vale destacar é como o som é bem explorado em favor da narrativa e perturbador. Há quem argumente que, por ser um elenco composto pela família de Trey, a direção de atores ficaria de escanteio. Discordo. É claro que a dinâmica entre velhos conhecidos, atuando com o mesmo nome, contribui para o ar realista, mas acredito que deva ter sido ainda mais difícil dirigir um elenco tão conhecido, em situações tão íntimas e dolorosas. Adoraria saber mais sobre todo o processo de filmagem.
Não quero saber se é previsível ou se recorre a clichês. Trilha maravilhosa, estética maravilhosa, montagem maravilhosa, atuação maravilhosa, coreografia maravilhosa. Vou guardar no coração.
Ou: como atropelar um filme perfeitamente bom nos seus minutos finais com mensagens religiosas. Poucas chances na corrida pela estatueta por conta de um fechamento apressado em tom de conto de fadas e panfletário. Totalmente inverossímil. Não pela história em si, mas pela evolução narrativa. Talvez, com mais meia hora, quarenta minutos de desenvolvimento, tal final caísse bem.
Suki Waterhouse não tem força o suficiente para carregar o filme como protagonista e é engolida (pun intended) pelo elenco, inclusive por Jason Momoa. Ainda assim, Ana Lily Amirpour conduz o filme muito bem, com escolhas estéticas bastante interessantes e uma atmosfera que prende pela morbidez. Tivesse menos falas da protagonista (que já são poucas, note o nível da atuação) e talvez algumas "podas", como na sequência lisérgica da mesma, melhoraria uns 30% já.
Uma boa fotografia, boa técnica e bem atuado. A Dark Song é um filme lento, um "slow burner", mas funciona bem dessa forma. O desenvolvimento é bastante interessante, mas o fim deixa muito a desejar. Ainda assim, me fez esperar por mais trabalhos do diretor.
Não é exatamente um filme ruim, ou chato de se assistir, mas poucas piadas têm êxito. Para quem assistiu o trailer, em especial, o filme é uma decepção. Os melhores momentos estão compilados nele, não restando muita coisa para o longa. Aliás, certamente poderia ser resumido a um curta. Contudo, a pior questão sequer são os momentos cômicos. Particularmente, a premissa era bastante promissora, mas o desenvolvimento saiu problemático. No Men Beyond This Point acaba sendo uma comédia vazia, cheia de furos e, embora flerte com algum tipo de profundidade e causa social, embaraçaria militantes de ambos os pólos. O que mais me perturba é que, ainda que se passe em uma sociedade onde homens não nascem, o filme consegue ser inteiramente sobre... Homens. Os únicos aspectos da nova configuração que são abordados acabam sendo o lesbianismo e a inaptidão das mulheres para a ciência (é claro...). Não espantosamente, o filme é escrito e dirigido por um homem. Não daria pra esperar algo diferente. Além disso, o filme é basicamente um ode a heterossexualidade. Claro que há de se analisar que em uma sociedade onde algum tipo de orientação sexual é compulsória, pessoas de outras sexualidades se frustram, e romances (sobretudo os proibidos) são sempre objetos benquistos e propulsores em roteiros. Contudo, apenas o lesbianismo compulsório é abordado. Há um filme, muito pior em qualidade, diga-se de passagem, mas que aborda o lesbianismo compulsório em um mundo utópico de forma muito mais interessante é Without Men (2011), sem a necessidade de ser pejorativo (ao menos nesse tópico). Em No Men Beyond This Point não há homens homossexuais, nem homossexualidade masculina compulsória, ainda que o filme enfatize a importância da ereção e do desejo sexual masculino. Homens também, ainda que extremamente reprimidos, não externalizam seus desejos. Escolhas no mínimo inverossimilhantes, mas que deixam transparecer as intenções (ou ao menos ideologias) dos realizadores. Aliás, um bom exercício narrativo seria re-imaginar esse roteiro de forma inversa. Ainda que ignorássemos a inviabilidade biológica, o filme seria um desastre, não?
Deus Branco
3.7 178Mais de 3 anos criando coragem (e expectativa) pra ver um filme e a minha única decepção é não o ter feito antes.
O nível de direção alcançado aqui é magnífico. Aliás, a junção de uma direção tão minuciosa e realista, com uma fotografia grandiosa e o trabalho dos adestradores, em especial de Teresa Ann Miller (filha do cara que nos permitiu Cujo, Babe e Beethoven) resulta em uma verdadeira obra de arte. Basicamente um Pássaros contemporâneo; que funciona muito bem per se, e também como a alegoria a que se propõe, da crescente tensão imigrante européia. É intrinsecamente um filme sobre humanidade e a questão d'o outro.
No mais, não é um filme fácil. Criar coragem foi realmente um processo necessário. Se você for um dos que, como eu, chora em filmes de cachorro (já dizia Zezé: Eu não vou negar) recomendo se preparar. Mas já te dou dois motivos: o primeiro é que a experiência é muito recompensadora. E o segundo é que 98% dos cerca de 280 cães usados no filme conseguiram um lar após as filmagens, e eram todos cães de rua e/ou abrigo.
Perfeitos Desconhecidos
3.4 193Não sabia que se tratava de um remake. Como não vi o original, essa é essencialmente uma crítica falha. Não sou capaz de avaliá-lo em relação ao filme italiano, mas talvez possa comentá-lo como filme findo em si.
Para mim, é o mais fraco da filmografia de Alex de la Iglesia até agora. Todos seus elementos típicos estão lá, o drama, os diálogos rápidos, o humor ácido, um caráter voyeurístico, contudo o filme parece sempre prestes a decolar, e nunca o faz.
Se não tivesse sido tão pitoresco durante todo o seu desenvolvimento, teria dado uma nota baixíssima apenas pelo uso do artifício mais preguiçoso da história do cinema no desfecho.
Pontos positivos por desenvolver um filme inteiro em um só cenário sem parecer teatral e pela história "suculenta", mas já não saberia dizer se isso (tal qual o desfecho) é mérito (ou demérito) da condução de Alex ou do roteiro original.
A Comédia dos Pecados
2.9 128 Assista AgoraDecameron versão família.
A Babá
3.1 960 Assista AgoraBom entretenimento nos moldes Sessão da Tarde. The Babysitter tem um Q nostálgico de aventura pré-adolescente, mas com um agrado a nova geração: gore.
Tem uns pontos negativos da minha parte pelo personagem John, que é basicamente todo o estereótipo do negro americano possível, só que de forma mais estúpida que os demais estereótipos do filme.
Fora isso não há nada de novo, mas é bem divertido.
Os Iniciados
3.6 47 Assista AgoraEsqueça tudo o que foi dito até agora. Inxeba é o filme do ano (ainda que de 2017).
Lançado em meio a protestos, fez uma carreira excelente em festivais (sobretudo no circuito LGBT) e foi a escolha da África do Sul para o Oscar.
Inxeba acompanha a trajetória de um garoto homossexual Xhosa e seu Instrutor em meio ao seu ritual de iniciação. Fora os conflitos internos, o filme explora de forma bastante realista o embate entre modernidade e tradição e, principalmente, os significados e a toxicidade da masculinidade.
Os personagens são muito bem construídos e a história não toma rumos previsíveis em nenhum momento.
A interpretação dos três atores principais é estupenda. As nuances, as expressões, o silêncio. O elenco de apoio também não deixa por menos.
E se nada disso valer a pena, a fotografia por si já eleva o filme ao status de obra de arte. Um compilado de imagens e texturas absurdamente deslumbrantes.
Margarita com Canudinho
3.8 93 Assista AgoraUm filme sensível e delicado. A paralisia cerebral mostrada de forma bastante humana.
Se pudesse mudar uma coisa no roteiro, porém, seria a forma com que se encontraram. Um pouco inverossímil, mas não chega a comprometer o filme como todo.
Caça-Fantasmas
3.2 1,3K Assista AgoraUma boa homenagem pra quem vai assistir despido de preconceitos. Bastante engraçado. Já pros puristas e saudosistas (em sua maioria nascidos bem bem bem bem bem depois da estreia do filme) melhor pular.
Sigourney Weaver sempre fazendo os melhores cameos.
A Grande Jogada
3.7 342 Assista AgoraLi algo sobre os roteiros do Sorkin que me deixou pensativa, era algo do tipo "seus roteiros são muito 'certinhos', parece uma história contada e não uma história vivida". Não sei se concordo completamente, mas sempre acho o trabalho mecânico demais, com pouca emoção e pouco "caos". É tudo muito arrumado.
Em Molly's Game há uma tentativa de introduzir mais emoção do meio pro final ( seja por meio do pai ou pela redenção), mas infelizmente são justo nessas tentativas que o filme se perde. Em momentos, esse sentimentalismo se mostra deslocado e talvez por estar no lugar errado, soa até mesmo brega.
O primeiro ato funciona muito bem, a parte de NY é apressada e confusa e o fechamento não funciona muito bem.
Ainda há um outro problema: a inevitável comparação com filmes anteriores da Chastain, sobretudo Miss Sloane.
Ok, é notório que Chastain consegue entregar diálogos longos, complexos e rápidos, e interpreta mulheres fortes como ninguém, mas tanto a personagem quanto a estrutura dos dois filmes é a mesma. E eu, particularmente, prefiro Miss Sloane.
Marjorie Prime
3.4 43 Assista AgoraUm filme verborrágico com uma premissa muito interessante mas um desenvolvimento falho. O excesso de planos médios e a falta de movimentação dão um ar amador. O elenco parece até mal utilizado diante de uma decupagem tão simplória.
Professor Marston e as Mulheres Maravilhas
3.9 172 Assista AgoraO tipo de filme que te faz querer saber mais sobre a história em que se baseia. Interessantíssimo! Aliás, 2018 e essa ainda é uma história não muito palatável pra grande parcela da população. Uma pena.
Angela Robinson tem aqui a sua obra mais madura, mas não menos divertida.
Aleatório, mas Rebecca Hall está completamente hipnotizante.
A Forma da Água
3.9 2,7KQue filme encantador!
The Shape of Water é basicamente a síntese do que é a sétima arte. Emociona, encanta, espanta, te faz rir, torcer, desprezar, provoca medo, angústia; basicamente todos os gêneros harmoniosamente conduzidos por um verdadeiro mestre do fantástico. Não esperava nada menos de Del Toro, ainda que Crimson Peak tenha sido morno; bem como obras recentes que assumiu a produção.
Em termos narrativos, Del Toro obtém dois êxitos importantes: fazer o espectador abarcar um relacionamento bizarro, e, de forma mais sútil, manchar o arquétipo do grande herói americano. Fora a homenagem belíssima a Era Clássica, do cinema mudo aos musicais.
Todd Haynes tenta algo similar nessa mesma temporada, com Wonderstuck, mas sem a maturidade de The Shape of Water e se escorando em um melodrama exagerado.
Em termos artísticos o filme é um banquete. Sem dúvidas, merecedor da estatueta por design de produção. O elenco também é sensacional, e se o mundo fosse um lugar justo, Sally Hawkins dividiria Melhor Atriz com Frances McDormand.
Para não ficar apenas em reverências, se tivesse que elencar um defeito, seria, infelizmente, na maquiagem. Minha admiração por Del Toro se dá em grande parte pelo uso de efeitos práticos invés de CGI, mas talvez fosse necessário "quebrar" mais com as formas e proporções humanas da criatura. Não tanto no rosto, mas no corpo. Em muitos momentos tive a experiência roubada por ler "homem fantasiado". Isso evitaria também as comparações com Abe Sapien de Hellboy.
Mas não é nesse tom que quero terminar o comentário, então vou deixar duas palavras mágicas de Hollywood: Doug Jones. Amém.
Women Who Kill
3.2 5Não é porque você criou o personagem que você é a melhor escolha para interpretá-lo.
Ingrid Jungermann (a atriz) é, ironicamente, o ponto fraco do filme. Enquanto que Ingrid Jungermann (a diretora) fez um trabalho bem sólido e um flerte interessante com filmes de gênero em uma perspectiva "queer". Ainda assim, Women Who Kill poderia ter sido muito melhor, tivesse Jungermann mergulhado de cabeça no humor negro, invés de optar por algo mais contido e sóbrio em dados momentos.
Certas Mulheres
3.1 76 Assista AgoraKelly Reichardt e seus trabalhos profundamente humanos. Inacreditável a complexidade que ela consegue alcançar com situações aparentemente simples e banais. Um filme muito bonito.
Logan
4.3 2,6K Assista AgoraJames Mangold fazendo um filme de herói é algo que nunca imaginei. Mas, oh boy... Que bom que aconteceu!
The Room
2.3 492Ainda tô na dúvida se "amei, nota zero" ou "odiei, nota dez".
Sem Fôlego
3.0 76 Assista AgoraWonderstruck tem uma premissa técnica ousada, mas confia muito em um elenco infantil que, infelizmente, não tem forças para carregar o filme.
Todos os elementos de Todd Haynes estão lá: a melodramaticidade, o culto aos clássicos, o ar glamouroso da velha Hollywood, mas aqui a sensação que fica é que ele pesa a mão.
A trilha, componente essencial em um filme basicamente mudo, é bastante exagerada. Conforme o filme se desenvolve, melhora, mas é bastante difícil superar a primeira parte.
A fotografia na primeira parte também é falha e peca na falta de contraste. Algo que também melhora conforme o filme progride. Aliás, a cena do Panorama, no final, é belíssima e vale menção a parte.
Para a história não há outra palavra senão "fofa". É um filme doce que provavelmente se daria bem como filme "família".
Outras Pessoas
3.7 116Quem diria que Molly Shannon teria toda essa carga dramática. Agradável surpresa.
Krisha
3.7 83Krisha é um filme extraordinário. O realismo obtido aqui dificilmente será alcançado em outro filme. É de dar inveja. Roteiro, atuação, tudo impecável. E ainda assim há uma clara preocupação com os aspectos técnicos. A fotografia é muito bela, com uma decupagem e edição bastante criativas, mas particularmente o que vale destacar é como o som é bem explorado em favor da narrativa e perturbador.
Há quem argumente que, por ser um elenco composto pela família de Trey, a direção de atores ficaria de escanteio. Discordo. É claro que a dinâmica entre velhos conhecidos, atuando com o mesmo nome, contribui para o ar realista, mas acredito que deva ter sido ainda mais difícil dirigir um elenco tão conhecido, em situações tão íntimas e dolorosas. Adoraria saber mais sobre todo o processo de filmagem.
Atômica
3.6 1,1K Assista AgoraNão quero saber se é previsível ou se recorre a clichês. Trilha maravilhosa, estética maravilhosa, montagem maravilhosa, atuação maravilhosa, coreografia maravilhosa. Vou guardar no coração.
Bingo - O Rei das Manhãs
4.1 1,1K Assista AgoraOu: como atropelar um filme perfeitamente bom nos seus minutos finais com mensagens religiosas.
Poucas chances na corrida pela estatueta por conta de um fechamento apressado em tom de conto de fadas e panfletário. Totalmente inverossímil. Não pela história em si, mas pela evolução narrativa. Talvez, com mais meia hora, quarenta minutos de desenvolvimento, tal final caísse bem.
Amores Canibais
2.4 393 Assista AgoraSuki Waterhouse não tem força o suficiente para carregar o filme como protagonista e é engolida (pun intended) pelo elenco, inclusive por Jason Momoa.
Ainda assim, Ana Lily Amirpour conduz o filme muito bem, com escolhas estéticas bastante interessantes e uma atmosfera que prende pela morbidez.
Tivesse menos falas da protagonista (que já são poucas, note o nível da atuação) e talvez algumas "podas", como na sequência lisérgica da mesma, melhoraria uns 30% já.
São Paulo em Hi-Fi
4.3 48Preciso desse filme. Quem souber onde assistir, por favor me avise.
Vozes da Escuridão
3.2 244Uma boa fotografia, boa técnica e bem atuado. A Dark Song é um filme lento, um "slow burner", mas funciona bem dessa forma. O desenvolvimento é bastante interessante, mas o fim deixa muito a desejar. Ainda assim, me fez esperar por mais trabalhos do diretor.
Proibido Homens
3.2 15 Assista AgoraNão é exatamente um filme ruim, ou chato de se assistir, mas poucas piadas têm êxito. Para quem assistiu o trailer, em especial, o filme é uma decepção. Os melhores momentos estão compilados nele, não restando muita coisa para o longa. Aliás, certamente poderia ser resumido a um curta.
Contudo, a pior questão sequer são os momentos cômicos. Particularmente, a premissa era bastante promissora, mas o desenvolvimento saiu problemático.
No Men Beyond This Point acaba sendo uma comédia vazia, cheia de furos e, embora flerte com algum tipo de profundidade e causa social, embaraçaria militantes de ambos os pólos.
O que mais me perturba é que, ainda que se passe em uma sociedade onde homens não nascem, o filme consegue ser inteiramente sobre... Homens.
Os únicos aspectos da nova configuração que são abordados acabam sendo o lesbianismo e a inaptidão das mulheres para a ciência (é claro...). Não espantosamente, o filme é escrito e dirigido por um homem. Não daria pra esperar algo diferente.
Além disso, o filme é basicamente um ode a heterossexualidade. Claro que há de se analisar que em uma sociedade onde algum tipo de orientação sexual é compulsória, pessoas de outras sexualidades se frustram, e romances (sobretudo os proibidos) são sempre objetos benquistos e propulsores em roteiros. Contudo, apenas o lesbianismo compulsório é abordado. Há um filme, muito pior em qualidade, diga-se de passagem, mas que aborda o lesbianismo compulsório em um mundo utópico de forma muito mais interessante é Without Men (2011), sem a necessidade de ser pejorativo (ao menos nesse tópico).
Em No Men Beyond This Point não há homens homossexuais, nem homossexualidade masculina compulsória, ainda que o filme enfatize a importância da ereção e do desejo sexual masculino. Homens também, ainda que extremamente reprimidos, não externalizam seus desejos. Escolhas no mínimo inverossimilhantes, mas que deixam transparecer as intenções (ou ao menos ideologias) dos realizadores.
Aliás, um bom exercício narrativo seria re-imaginar esse roteiro de forma inversa. Ainda que ignorássemos a inviabilidade biológica, o filme seria um desastre, não?