Está longe de ser o melhor filme da série. Aliás, todos os filmes do Pierce Brosnan não empolgaram muito em termos de roteiro, apesar de cumprirem bem a premissa principal. Ele é um Bond digno. De qualquer forma, o arco de participação dele traz os elementos que todos conhecemos, e mantém o fôlego do personagem. Casino Royale e Skyfall, com o Daniel Craig (que está longe de ser o melhor Bond), elevam o universo do personagem a outro patamar, claro, apenas para compararmos. Brosnan está mais para Roger Moore.
De qualquer forma, o filme prende a atenção e funciona como um bom filme de ação (apesar de, por vezes, mentiroso - mas qual filme não é?).
A cena da perseguição da BMW dentro da garagem, com Bond guiando o automóvel por controle remoto, no banco traseiro, é antológica! Sensacional.
E as Bondgirls também estão à altura! Paris, infelizmente, sai de cena (Terri Hatcher nunca preencheu bem o perfil, para ser sincero), e a Michelle Yeoh, apesar de linda, é meio caladona. Mas faz jus ao papel.
Enfim, nota 3, um bom filme de Tela Quente ou Sessão da Tarde. Entretenimento fácil.
Eu adorei o filme. Mas confesso que ainda preciso maturá-lo, reassisti-lo algumas vezes mais, antes de começar a aprofundar o entendimento.
De um lado, um tímido jovem americano, saindo do casulo, morando fora de sua terra natal, os Estados Unidos. De outro, dois jovens franceses, criação liberal, altamente envolvidos na explosão estudantil. Todos viciados em filmes, no cinema de forma geral.
E, feitos amigos, se juntam na descoberta individual. Durante muito tempo, nem saem de casa. Uma casa abandonada pelos pais durante certo tempo.
Apesar de parecerem maduros e libertários, Theo e Isa se mostram também "virgens" para diversos aspectos da vida. Os questionamentos que Matthew traz sobre a infância, o amadurecimento e o rompimento familiar necessários à vida comum mostram o quanto os dois ainda estão mergulhados em si mesmos.
O desvirginamento de Isa por um Matthew sedento é significativo.
Ainda fico por entender se era mesmo intenção do Bertolucci pagar um pau para os americanos. Porque o Matthew é um jovem estadunidense em temporada na França e, apesar de termos notícias de que os francófonos são extremamente intolerantes com línguas estrangeiras (especialmente o inglês, de seus rivais europeus), os personagens se comunicam na língua do visitante durante 90% do filme.
É ele quem questiona a maturidade dos dois franceses. Como um americano questionando os propósitos evolutivos franceses, o comportamento preso ao passado, ou de que forma seja. Me recuso a assimilar.
Da mesma forma, ao final, Matthew tenta convencer Theo e Isa a não usarem o coquetel molotov, exaltando a paz e o amor, usando a racionalidade contra a impulsividade, numa possível demonstração da visão americana versus a visão europeia. Ou teria sido para demonstrar que a guerra é necessária, e os americanos (ou reacionários, de forma geral), buscam "a paz que eu não quero"? Ficou no ar.
Agora, uma coisa é certa: Quando eu for a Paris, vou querer gritar "New York Herald Tribune!" na Champs-Élysées e sair correndo para bater o record de travessia do Louvre.
Que são relatos, a gente logo percebe. Estórias distintas, personagens sem ligação aparente, assim como todos aqueles que pegaram o avião no início do filme. Mas à medida em que as narrativas se desenvolvem, descobrimos o ingrediente que dá a liga. O "Gabriel Pasternak" de todos os segmentos: o limite da civilidade. Que todos somos animais, não há dúvidas. Mas qual o limite da razão? O que torna alguém selvagem? Que tipo de situação desafia qualquer valor, qualquer razoabilidade, levando alguém a cometer algo impensado, esdrúxulo, completamente animalesco (ou visando a própria sobrevivência).
Em cada um dos relatos que vemos, o filme nos direciona uma pergunta fundamental: E você? O que faria nessa situação?
Quem escolheria para compor a viagem de avião? Colocaria ou não o veneno de rato no prato do agiota? Em que momento deixaria a rixa na estrada de lado (ou iria até às últimas consequências? Em qual prédio do governo estouraria uma bomba, e quantas? Pagaria o suborno ao advogado e ao investigador? Como se vingaria do noivo traidor?
As situações aparentemente absurdas são embasadas num fundo de verdade: todo mundo tem um limite. Por mais sólido que o pacto social seja, ninguém tem sangue de barata.
Reconheço a importância e profundidade do filme no cenário artístico senegalês (e africano, de modo geral). Aliás, o filme levanta questionamentos até sobre o nosso modo de vida aqui no Brasil. A força do dinheiro, a hipocrisia, a fragilidade das posturas ideológicas, tudo isso se aplica perfeitamente à nossa realidade. A questão do preconceito racial e das diferenças sociais é flagrante.
A cena da saída do palácio para o churrasco do casamento, onde cada uma das autoridades entra em seu próprio carro com motorista, e seguem todos em comboio, rumo ao mesmo lugar, isolados, é interessantíssima. Que coisa besta essa tal de burocracia.
De qualquer forma, não é meu filme favorito. Não assistiria de novo.
Um bom filme, com alguns momentos engraçados. Mas, ao contrário do que a sinopse possa parecer indicar, não é um filme puramente de comédia - ou, ao menos, não é uma comédia como conhecemos. Na verdade, é um filme ligeiramente morno, com ótima atuação de Rafael Spregelburd. O elenco de apoio não é grande coisa, mas principalmente porque a estória gira em torno de Telléz e Sofia.
Enfim, é uma boa sátira que, apesar dos arriscados momentos em que quase cai numa metalinguagem (já que a crítica quase desaparece), cumpre bem seu papel.
Direção competente, roteiro bem engendrado, boa fotografia e ótimas atuações. Tão redondinho, que quase cai no clichê Hollywoodiano. Talvez, o fato de ser argentino (juntamente com suas características, temperamentos e acidez) tenha salvado o filme.
Gostei do filme, mas acho que é um filme muito mais técnico do que propriamente focado no roteiro. Vou explicar melhor.
Antes de mais nada, é necessário dizer que o filme se baseia no livro de Lionel Shriver, que por sua vez possui um forte pé na realidade dos massacres em escolas americanas. O livro foi escrito em primeira pessoa, sob o olhar de Eva (mãe do moleque psicopata), em tom completamente confessional e sob forma de cartas enviadas ao marido (e pai do menino).
Ou seja, a escolha de Lynne Ramsay (diretora e roteirista) em fugir da narração em primeira pessoa e da leitura de cartas, no filme, foi extremamente ousada. Por que a base da história é a dimensão psicológica - principalmente culpa - que a mãe apresenta, punindo-se e responsabilizando-se (não sem a ajuda dos próprios filhos e marido) pelos erros cometidos pelo filho. Como mostrar a culpa, sem dizê-la? Como esboçar o sofrimento psicológico, senão com palavras? Cenas como as da mãe passando a roupa do filho preso tomam um ar extremamente relevante à obra.
Me chamou especial atenção a sequência da gravidez, em que vemos Eva olhando-se no espelho, com a barriga enorme, ao mesmo tempo em que vemos as células se multiplicarem, e a operação de uma máquina de xerox. No espelho, ao fundo, vemos o pai usando uma camisa preta do Led Zeppelin - a mesma que o moleque usa no começo do filme, e que a mãe usa no final. Existe, talvez, um certo ciúme ou receio, por parte da mãe, de que o moleque seja uma cópia do pai, o que acaba induzindo a culpa pela rejeição.
Dai porque a obra se torna muito mais relevante tecnicamente do que pelo roteiro em si (na dimensão da história, não da forma da narrativa). Porque dá pra resumir bem todo o enredo em 10 ou 15 minutos - não é lá grande coisa. Mas o que se busca é, por meio de montagens, sons e a mistura do vermelho sufocante demonstrar sentimentos e fugir da estrutura adotada pelo livro.
Acho que a ideia que o marca é a busca pelo amadurecimento. Ou fuga dele. O personagem principal, Greg, sempre se contentou com uma posição passiva, acomodada, de se encaixar no contexto social sem se expor muito. Um camaleão. Isso, em si, já é uma fuga e, considerando que o cara já está no final da adolescência, um sinal claro de falta de amadurecimento.
Dai que aparece uma garota com leucemia. Conhecida, mas sem nenhum vínculo de amizade. E o cara é impelido a manter contato com ela. Fisicamente, ele vai, mas o que percebemos é uma fuga insistente dos fatos, da realidade.
Ao contrário de Earl, seu amigo (o qual é chamado de "parceiro", "colaborador", mas nunca de amigo - também pela fuga), Greg se debate o tempo inteiro para não se sentir envolvido emocionalmente com Rachel (a garota). O que para ela, funciona bem - pela primeira vez, alguém enxerga a pessoa além da doença. O que não faltam são piadas de humor negro.
Mas Greg se debate. E quer levar o espectador junto, mentindo, dizendo que ela não morre no final e que ela ficará bem. Quer se afastar do drama e da dor, fugir. E quer a cumplicidade de quem assiste.
Earl e Greg costumam fazer seus filmes caseiros. Já são 41 obras - todas "livremente adaptadas" de clássicos consagrados. E que também ressaem como sintoma de uma falta de amadurecimento: as películas são ruins, fracas, trash, e trazem certa vergonha aos autores. Eles não querem que ninguém as veja.
Mas ao final, a garota os motiva a criar a única obra original que já criaram. E é a última coisa que ela vê. E é um dos elementos que o próprio Greg usa para tentar ser aceito na faculdade, enviando uma cópia por correio à instituição. Ele sente orgulho, quer que outros vejam.
Uma obra muito bonita sobre a simplicidade, importância e fugacidade da vida. Os detalhes, as características. E a presença - em oposição à fuga. Amadurecimento, comprometimento com o que se gosta e quem se ama.
Rachel se mostra presente mesmo após a morte. Nos detalhes de seu quarto. nas almofadas, nos livros recortados e desenhos na parede. Continua ensinando, nas palavras do louco professor McCarthy. E agora, um pouco mais amadurecido, Greg também está presente e consegue enxergar isso.
Infelizmente, achei um filme fraco. E olha que eu estava torcendo! Pra começo de conversa, achei que o filme era lançamento. Nunca tinha ouvido falar. Dai descobri que é de 2013! Dois anos completamente invisíveis para a obra. Sem divulgação, sem repercussão... Era prenúncio de algo.
Acho importante frisar que, considerando-se o próprio cartaz do filme, trata-se de uma obra sobre a relação pai e filha. Existia uma relação forte entre os dois, há a morte da garotinha, isso se transforma no ímpeto do pai em viabilizar a construção de um hospital infantil. É a trama, é o que está na sinopse. E é o que o filme quer explorar mas, a meu ver, não consegue.
Eu sou fã do David Duchovny. Mais do que de Mulder (personagem dele na série Arquivo X) e mais do que Hank Moody (sua interpretação na cômica Californication). E esses dois personagens que deram fama a ele também são responsáveis por sua maldição. Sinto que ele vem se esforçando por amadurecimento dramático escolhendo papéis pesados, densos, com uma carga dramática diferente. Em grande parte, para se desvencilhar da imagem de Mulder/Moody que inevitavelmente carrega.
Então, nada mais desafiador que encarnar um pai lacônico, que perde ainda mais as palavras quando sua filha morre (os outros, trigêmeos, são filhos apenas de Brenda (Hope Davis). E, infelizmente, como fã, tenho que declarar: ele falhou imensamente.
Não sei se por causa da profundidade do roteiro, ou se pela direção... Mas faltou algo. Sim, o personagem é calado, esquivo, mas o ator tem que estar presente nessa ausência. O grito silencioso de um pai em desespero não foi sentido. A indignação que a sra. Fareri sente da ausência do marido não chegou a ser sentida, efetivamente, por nós telespectadores.
Além disso, a despeito da linha dramática do roteiro, o filme se perde entre o que se propõe a mostrar e o que efetivamente mostra. Não há uma construção forte da relação entre pai e filha, exceto um ou outro diálogo, e um acampamento/pescaria. Não achei o suficiente para criar um vínculo forte com o telespectador. Por outro lado, não chegamos a ver a construção do hospital em si. Vemos apenas alguns pequenos obstáculos burocráticos entre o desejo e a obra. Os conflitos psicológicos também são fracos, poucos, cujo ápice é a destruição de copos e porcelanas, numa discussão na cozinha. Faltou profundidade, adensamento.
O título, "Mais de mil palavras" faz referência ao dito popular. "Um ato vale mais do que mil palavras". E a intenção era mostrar que, apesar de não ser muito falastrão, John Fareri agia, e trouxe significado à morte de sua filha. Transformou o luto em algo concreto.
O que confere maior credibilidade à obra é o fato de ter sido inspirada em fatos reais. Julie Fareri, pessoa real, membro da família Fareri, ajudou a produzir o filme, o que indica que há uma verossimilhança no que assistimos. Mas como obra de arte, deixou bastante a desejar.
Fazer bons filmes de ação é uma arte em extinção. A franquia do 007 conseguiu retomar o rumo com o Cassino Royale e Skyfall (vamos torcer pelo Spectre!) e Missão Impossível (exceto o mentiroso filme do John Woo) manteve a alta qualidade. Aliás, em tempos de CGI usada e abusada, a franquia tem usado como marketing o fato de o próprio Tom Cruise fazer as cenas de ação, sem recorrer a dublês. Herois de ação andam escassos.
À parte disso, nada mais tem ganhado minha atenção. Não acho sensato darem continuidade à saga Bourne, por exemplo.
Nesse último filme, terminado às pressas, a qualidade continua. Um roteiro novamente envolvente, atores carismáticos (dessa vez, senti que a ênfase maior foi no Simon Pegg), Alec Baldwin e a linda da Rebecca Fergunson dando show.
Um detalhe nos roteiros modernos começa a me incomodar - apesar de não considerá-lo defeito nessa obra em particular, pela qualidade da execução: na busca por situações cada vez mais verossímeis, em contexto com a realidade e buscando profundidade psicológica aos personagens e à trama, os roteiros tem se tornado cada vez mais inchados de explicações, as tramas cada vez mais emaranhadas com situações sem aparente importância à saga dos protagonistas. Tramoias internacionais, tráfico, fluxo de dinheiro, contextos políticos e sociais tem sido inseridos à esmo apenas para maquiar histórias simples, que dispensariam completamente todo esse aparato. Pela natureza da IMF (uma agência de espiões internacionais), natural que se considerem aspectos de política e economia externa, relações internacionais etc e tal. Mas a equipe tem conseguido manter esses elementos como pano de fundo apenas. Sem distrair da história que realmente interessa aos telespectadores.
Obra-prima continua sendo apenas o filme do Brian de Palma, que inaugurou a saga. Mas esse se mantém como um excelente filme de ação, com todos os elementos que já conhecemos e gostamos.
Impossível deixar de repetir o clichê: Uma belíssima obra, com uma homenagem sensacional ao cinema.
A começar da metonímia: um filme, dentro do filme, dá inicio ao drama. A mistura entre realidade e ficção provocada pelo comportamento inesperado de um dos personagens (Tom Baxter) é o ponto inicial de todas as mudanças de comportamento da protagonista real (Cecília).
A realidade (Cecília) apaixona-se pela ficção (Baxter) e andam de mãos dadas durante um bom tempo, até que a primeira é forçada a assumir seu papel, desvinculando-se do ilusório. E o ponto de fuga de Cecília, inicialmente, é o cinema. E, ao final, com o desfecho, se torna a dor necessária para manter-se a sanidade.
Paralelamente, vemos uma crítica do próprio Allen ao mercado do cinema em si (crítica essa presente na postura do próprio diretor, que se recusa a receber prêmios e honrarias por suas obras. Nunca compareceu a uma cerimônia de Oscar): as burocracias do show business atravancam voos mais altos do cinema. A preocupação do produtor do filme, do dono da sala de exibição, dos telespectadores, do ator Gil Sheperd e até do casting secundário com a paralisação da obra por causa do sumiço do personagem de Jeff Daniels nos remete ao lado chato e formal de se produzir um filme.
Há, inclusive, um discurso de um dos personagens coadjuvantes, taxado de "comunista", que resume o pensamento do Allen: "Por quê devemos ficar aqui parados? Eles exploram nosso trabalho, faturam às custas de nosso suor!" - fala esta rapidamente sufocada pelos demais personagens presentes.
A vida imita a arte? Ou a arte imita a vida? Pessoas reais, inicialmente, querem fugir de suas realidades mergulhando no cinema. E os personagens, num segundo momento, invejam os problemas humanos, querendo sair da tela.
O olhar existencialmente melancólico e momentaneamente alegre de Cecília, ao final, nos diz tudo. É preciso ter pés no chão, mas que eles não estejam enterrados. É preciso ter a cabeça na realidade, mas que essa realidade não seja dura demais. Porque a vida não possui finais felizes - o que não quer dizer que não possamos usufruir e, principalmente, criar esses momentos de felicidade.
Excelente filme. Aliás, em se tratando de Clint Eastwood, dificilmente alguma obra decepciona.
Fotografia espetacular (principalmente na emulação das velhas fotografias dos anos 20, num efeito de "quadro vivo"), atuações excelentes de Angelina Jolie, Jeffrey Donovan, Amy Ryan e Jason Butler Harner, e uma história agoniante.
Achei interessante o casting envolver diversos bons atores e atrizes de séries populares - o que pode ter sido uma importante estratégia de contenção de gastos. Mas a Amy Ryan (de The Office), Jeffrey Donovan (de "Burn Notice" e "Fargo"), Jason Butler Harner (de "Fringe" e "Scandal"), Denis O'Hare (de "The Good Wife" e "True Blood") todos confirmam a excelente fase da TV americana, com atuações impecáveis.
A única coisa que peca, a meu ver, foi o final do filme. Na tentativa de se mostrar um final feliz, recompensador por toda a busca perpetrada no decorrer do filme, acaba se distanciando do comprometimento com a realidade. Em resumo, como uma mãe que não encontra seu filho pode prosseguir alegre em sua missão até o fim de seus dias? Como uma mãe amaldiçoada por um episódio de sua vida sem desfecho pode sorrir, dizendo-se feliz por recuperar a esperança? Esperança ou maldição?
Gostei do filme, é uma boa animação para assistir com a família e amigos. Existem alguma sutilezas que mereciam mais atenção, quanto ao roteiro. Porque sim, o maior sonho de todas as crianças do mundo é poder brincar com seus brinquedos de maneira mais participativa, com bonecos vivos, ativos, com personalidade - e nesse aspecto, o filme se aproxima de Toy Story. Um aspecto pertencente ao mundo da fantasia e tudo mais, mas que apresenta comprometimento com a trama e a proposta do filme. Agora, o fato de o vilão ter uma espaçonave, ser rico pra caramba, ou a gota de lágrima que dá vida aos jogadores de metal soam mais como uma saída fácil e batida para os problemas de roteiro. Acabam caindo no clichê (algo que dificilmente você verá num filme da Pixar).
Aliás, o mundo da animação ficou extremamente complicado depois da Disney e da Pixar (e, agora, da Disney-Pixar). O nível de qualidade se elevou a patamares impressionantes, a ponto de ampliar um mercado que era puramente infantil para um que envolve também adolescentes e adultos. Divertida Mente, por exemplo, é um filme tão bom para adultos quanto para crianças.
E nesse aspecto, apesar de reconhecer a qualidade da obra do Campanella, eu ainda a classificaria como um filme para crianças, em grande parte pelos diálogos e saídas de roteiro infantis.
Poxa, eu não tenho absolutamente nada contra romances - principalmente esses mais leves, sem muita coisa para assimilar. São bons pra relaxar e tudo mais.
Mas quando me disseram que esse era o melhor romance do ano, dos que fazem a gente chorar do início ao fim, repensar a vida e tudo mais, achei que o roteiro pudesse trazer algo de bom.
Me decepcionei imensamente. E olha que eu sou fanzaço da Hilary Swank!
Mas é um roteiro muito meia boca. Pra início de conversa, acho que a estratégia de matar o cara logo no início - o cara responsável pela pretensão de levar às lágrimas o telespectador - é imensamente arriscada, em qualquer história que seja. Afinal, para quê chorar por quem não se conhece? Como ser tocado com a despedida de um personagem que não despertou sua empatia ainda?
A inocência da Holly (um nome meio óbvio, inclusive) fica sendo, sozinha, a responsável por nos causar a sensação de piedade e melancolia. Mas, por vezes, irrita! E o clima meio surreal, meio comédia de humor negro, meio "Amélie Poulain", não combina com o teor da história em si. Falta concordância, combinação... Alto deslocado no ar.
Eu acho impossível analisar os filmes mais recentes da franquia sem relembrar qual a premissa da série. E não dá pra delinear bem qual é essa premissa sem fazer comparações ou, no mínimo, análises dos primeiros dois filmes.
Porque o primeiro instalou a treta: viagens no tempo com uma máquina vinda do futuro programada para matar. A galera foi à loucura tentando imaginar a sensação de terror que é fugir de algo assim, aparentemente indestrutível. Mas era um só.
O segundo, expandiu o universo: o lance da guerra de humanos contra máquinas, o John Connor como santo graal/messias/salvação da humanidade e uma máquina que protege humanos. Adicionado às duas premissas anteriores (viagem no tempo e máquina programada para matar). Dai, a galera foi à loucura imaginando como seria contar com um protetor mecanizado aparentemente inferior, contra um doido de mercúrio líquido. E a pitada cômica de ensinar palavrões e expressões humanas pro metalóide repetir (hasta la vista baby e coisas do gênero). Fora Guns N' Roses, Harley Davidsons, escopetas escondidas nas rosas... obra-prima.
O terceiro já deu uma quebrada na sequência, porque não adiciona nada inédito na trama. Não expande universo, não apresenta nada que já não tenhamos visto antes. Consegue manter a curiosidade por ver uma mulher no papel de Exterminador, e o grau de violência aumenta (aquela cabeçada que o Schwarzza deu no mictório é uma coisa cabulosa). Mas pelo menos o gênero do filme e as premissas originais são mantidas.
Mas a partir daí, no final desse terceiro, e com o T: Salvation, a coisa descamba. O filme muda pra algo futurista, aspirante a Matrix, os Exterminadores viram figurantes. As premissas mudam completamente. Vira filme de guerra, sem propriamente expandir o universo. Não sacaram que a coisa legal da franquia é ver um monstro escabroso de metal andando no meio de humanos normais, em situações normais. O alto risco de fugir de algo aparentemente indestrutível. E ver o Schwarzza chutar bundas como algo futurista tentando se virar com roupas, armas e sotaque humano.
Dito isso, acredito que o ponto positivo desse último filme foi resgatar a dignidade dos primeiros filmes. Schwarzza retorna fazendo o que sabe de melhor, as fugas retornam, quebra-quebra, referências ao primeiro (101 model), segundo (T-1000) e terceiro (a T-X Mulher) vilões. Mas o filme se perde entre estabelecer nova trama e homenagear os filmes antigos. A impressão que fica é que estamos vendo um resumo compacto da franquia toda. Perseguições idênticas, quebração similar. Mas como não tem o Robert Patrick como T-1000 e a Kristanna Loken como T-X, não temos a sensação de viagem no tempo. Enfim, virou uma salada. Sem Guns N' Roses, sem Harley. E sem o tom cômico equilibrado. Até tentam emplacar algumas frases de efeito, tipo "I've been waiting for you" e coisas do tipo, mas não cola. Porque as premissas foram retomadas, mas não se acrescentou nada. Skynet cada vez mais forte, Cyberdyne repaginada, e agora um Genisys (com efeitos metalinguísticos, já que representaria o restart da franquia).
Enfim, um bom filme. Mas longe de se tornar a obra-prima que foi o T: Judgement Day.
O curioso é que o nome do filme original, "Lost In Translation", acabou mesmo perdendo seu sentido na tradução, "Encontros e Desencontros".
Em meio a um mundo estranho e bagunçado - externa e internamente - os dois personagens se encontram como uma certa tábua de salvação. Uma conexão temporária, em meio ao caos momentâneo. Uma encruzilhada.
A cena do Karaokê, com "More Than This", é antológica. Entrou pra galeria de troféus cults.
E, para coroar o roteiro, a fotografia, a trilha sonora e tudo o mais, nada melhor do que um show de atuação do Bill Murray, que improvisou a cena final do cochicho. Quem é que precisa saber? Durante todo o filme, vemos pessoas desconexas, buscando conexão, sem que ninguém os entendesse. Agora, com o murmúrio que se perdeu na imensidão de sons, o que permanece é o sentimento - e que esse fique apenas entre aqueles dois perdidos.
Acredito que as intenções da obra são bem melhores que a concretização final, mas suscita discussões importantes e interessantes. As atuações deixam a desejar vez ou outra, mas cumprem bem seu papel e não chegam a prejudicar o todo.
De início, achei o título um pouco pretensioso. Casa Grande. Somos levados a crer que a discussão será bem profunda a respeito de diferenças sociais e, principalmente, calcada numa comparação expressiva com a composição da sociedade escravocrata. Nesse ponto, a única coisa observável é a localização da casa da empregada (do lado de fora da mansão), e a relação um pouco utilitarista do filho (Jean) com ela (Rita). O moleque só a procura como forma de escapar da sua vida ordinária, por vezes tentando saciar sua curiosidade sexual.
Mas o que vemos são discussões por vezes infantis (como a discussão sobre a importância/necessidade de se andar de ônibus) e até óbvias demais (como o embate sobre cotas sociais, no churrasco de família). Não raro, soam como lições de moral da novela teen Malhação.
Mas no geral, é uma boa obra, que penetra nos contrastes existentes entre as realidades da classe alta e baixa sem recorrer a um desfecho conciliador. Não há finais felizes. Cada um termina num novo ponto de partida, e só os próprios personagens poderiam dizer se pertencem a um "final feliz" ou um "final triste". Existem perdas e ganhos sob qualquer aspecto.
Em resumo, eu poderia dizer que o filme trata da reverberação de conflitos sociais na mentalidade individual, a partir do ponto de vista do moleque (Jean). A puberdade, com suas rebeldias sem causa, seus hormônios à flor da pele e a busca por um amor verdadeiro mascaram a angústia social pela qual passa Jean, que não entende, não resolve (nem poderia!) e é arrastado por um turbilhão de emoções. Afinal, quem poderia dizer se a fuga da Casa Grande foi ocasionada pela mentira dos pais, pelo fim do namoro, pela ausência do motorista Severino, pela falência financeira da família, pela aproximação da pobreza ou pela busca da independência pessoal? Talvez, por tudo isso junto.
O que importa é que, no final das contas, não interessa o mundo ao qual pertençamos, as posses que temos ou o cargo que ocupamos. Todo mundo quer começar o dia com a paz de espírito necessária para fumar um cigarro tranquilamente na janela de casa.
O filme é bom!! Presta uma nítida homenagem a "Tubarão", do Spielberg.
Ambientado no outback australiano, porém apresentando elementos de uma terra fantástica, o filme traz os ataques de uma figura mitológica - um javali gigante - que já causou danos físicos e psicológicos suficientes a Jake, um caçador de cangurus. Que, por conta dos ataques, acaba virando caçador de javalis. Sua obsessão é encontrar e aniquilar o "Razorback".
É interessante notar que a falta de recursos financeiros - característica comum aos filmes dessa nova onda australiana (os chamados "ozploitation") - não foi empecilho para a ambição do diretor em adaptar a obra de Peter Brennan. O jeito foi usar e abusar da criatividade para suprimir esse aspecto. Uma figura mecânica tosca vira um monstro horripilante, onipresente e impiedoso por meio das técnicas de filmagem.
Além disso, os recursos do roteiro dão mais força na construção do "Razorback", numa sequencia de mortes que lembra um pouco a série "Jogos do Trono" (Game of Thrones), de George R. R. Martin. De início, não sabemos quem é o protagonista, e somos induzidos a erro repetidamente, alimentando empatia por personagens sacrificados. Primeiramente, somos acreditados a seguir Jake. Em seguida, o foco é desviado para a jornalista Beth Winters. Em seguida, voltamos a acreditar em Jake e, por fim, Carl ganha a atenção. Essa sequência leva a acreditar que o monstro é invencível, e coloca em dúvida sobre a competência dos personagens em atingir seus objetivos.
Apesar de baixo orçamento, é um filme que deve ser assistido levando-se em conta os anos 80, e certamente merece um lugar de destaque na galeria de monstros celebrizados.
É um filme bom, mas nada genial. Tem o jeitão "ozploitation", aquela coisa maluca, de baixo orçamento, com muita influência européia. Mas fiquei com a impressão de que poderia ter sido melhor. Até porque a proposta do filme é de um suspense/thriller, mas algumas vezes descamba para o "pastelão".
Como bem disse um conhecido meu, Marcelo Ribeiro, aquela cena em que o Quid pega a moto vermelha e parte pra perseguição ao furgão é uma das maiores quebras de expectativa do cinema mundial hahaha
Mas convenhamos, a atuação do Stacy Keach é muito boa!! E a Jamie Lee Curtis também está bem divertida.
Há referências quase explícitas a Hitchcock, principalmente "Janela Indiscreta" e "Psicose", na tentativa de induzir um clima de paranoia frequentemente quebrado pela comicidade de algumas cenas.
Mas, no geral, é um filme bom. Mediano. Pelo cartaz e sinopses espalhados internet afora, eu esperava algo mais contundente.
Excelente filme. Talvez, a única parte boa da ditadura seja a interrupção às filmagens originais dessa obra. Afinal, de início, era pra ser um filme de ficção baseado em fatos reais... com atores (ainda que amadores) interpretando pessoas da vida real e até a si mesmos. Mas com a ditadura, a obra foi suspensa e retomada depois como documentário! Esse documentário serve, ao mesmo tempo, de recuperação da identidade dos envolvidos, em Sapé, que perderam suas memórias e suas próprias essências ao fugir da ditadura. Os "flashbacks" utilizando as filmagens em preto e branco do original são maravilhosas!
Excelente atuação da Regina Casé. Completamente desperdiçada em programas de sábado fracos da Rede Globo.
O mais bacana é que é um filme baseado em estereótipos, mas estereótipos completamente críveis, reais, os quais vemos todos os dias em nossas rotinas diárias. Não existe caricaturização ali, para nos induzir a emoções extremas. A classe média (que se acha classe rica) está lá, falando seu inglês disfarçado para não ser compreendido pela ignorância da classe inferior. Mas presente com seus problemas, sua falta de tempo, sua falta de objetivos, dispersão de ideias.
A despeito de diversas críticas que acusaram o filme de governista (já que mostra a ascensão de classes mais baixas), acho justamente o contrário: o filme mostra que, muitas vezes, a separação de classes é cultural, mental, construída por séculos, e ultrapassar essa barreira tem que partir do esforço de cada um.
Passar em um vestibular é consequência de esforço pessoal. Entrar numa piscina é um ato simples, significativo em si mesmo. A diferença de classes deve ser quebrada em pequenos atos diários, partindo de esforços individuais.
Quando li o poster, e diversos comentários aqui, pensei em algo como Anaconda, ou Razorback, Tubarão, Sharknado, ou até Evil Dead (em que as raízes das árvores matam a galera). Um thriller de terror com muito sangue. Mas não! A natureza não age de forma violenta, ostensiva. Se você não sacar a intenção por trás de ângulos de câmera voyeuristas, montagens de sons e imagens, vai chegar a achar a natureza patética, infantil, fraca perante os personagens humanos. Mas o suspense vai crescendo de mansinho, devagar, sem pressa. E o terror é psicológico. De início, inclusive, percebe-se uma tensão entre o casal humano. Eles escondem algo. Existe um problema não resolvido entre eles, uma culpa, um fardo. E isso parece se refletir na hostilidade da fauna e flora. Existe um reflexo do interior projetado no exterior. Mas os ângulos de câmera não deixam que a natureza esteja presente apenas de forma passiva. Existe atividade natural. Existe uma agressividade ativa também. A natureza age de forma sutil e psicológica encurralando os personagens, perseguindo, aterrorizando. E a conclusão vem para demonstrar que a natureza não mata, não prejudica, mas mostra que o homem é o lobo do próprio homem. É a doença que precisa ser controlada, extirpada.
A cena da exaustiva fuga de Peter pela floresta cada vez mais sombria é interessantíssima. Lembra bastante a fuga de Branca de Neve, aterrorizada, pela floresta negra.
A montagem das cenas com o som estridente, irritante, incômodo guia esse thriller psicológico. E na batalha de som (carros, caminhões, armas, gritos) contra som (pássaros, mugidos, coaxares), resta claro que a natureza ganha.
E o bebê peixe-boi simboliza isso: a natureza é invencível. Não se pode fugir dela.
Eu acho o filme sensacional. Mas a análise fica muito mais rica se considerarmos a trilogia completa - Antes do Pôr-do-sol e Antes da Meia-noite. Ou seja, o ideal é assistir os três filmes, depois voltar e assistir de novo os três filmes.
Porque esse primeiro é recheado de diálogos interessantíssimos, mas ainda na fase inicial do "rapour". Mostra uma face mais inocente e juvenil de Jesse e Celine. Aqui, os dois estão apenas se conhecendo. Não existem problemas, filhos, ex-mulheres, trabalho, frustração, mães e sogras, enfim... São duas pessoas se conhecendo na essência, sem saber muito ao certo o que o futuro reserva.
Aliás, até mais da metade do filme, os próprios personagens não sabem muito ao certo se querem mesmo se encontrar depois daquela "one night stand".
Um outro aspecto muito bacana é a zoeira que Jesse e Celine fazem com o amor romântico - principalmente após passagens românticas. Tiram onda com a cigana que lê mãos (após uma sessão bem mística de leitura de mãos), zoam com o beijo na roda-gigante (após o beijo!), conversam jogando taito e bebendo cerveja.
ps.: Depois de assistir aos três filmes, assista novamente, prestando atenção aos detalhes. Num dos diálogos iniciais desse filme, ainda no trem, o Jesse faz uma descrição do futuro marido da Celine para convencê-la a passear por Viena com ele. Que vem a ser a descrição quase perfeita da sua própria situação no segundo filme (só que sem ser marido da Celine, ehueheue)!
Outro diálogo, sobre a morte e a transitoriedade da existência, que é travado no cemitério dos desconhecidos, também é retomado no terceiro filme da trilogia (Antes da Meia-Noite).
Eu definiria essa trilogia como "o que aconteceria com Romeu e Julieta se nenhum dos dois tivesse morrido". Uma história de amor no mundo real.
007: O Amanhã Nunca Morre
3.3 158 Assista AgoraEstá longe de ser o melhor filme da série. Aliás, todos os filmes do Pierce Brosnan não empolgaram muito em termos de roteiro, apesar de cumprirem bem a premissa principal. Ele é um Bond digno.
De qualquer forma, o arco de participação dele traz os elementos que todos conhecemos, e mantém o fôlego do personagem. Casino Royale e Skyfall, com o Daniel Craig (que está longe de ser o melhor Bond), elevam o universo do personagem a outro patamar, claro, apenas para compararmos. Brosnan está mais para Roger Moore.
De qualquer forma, o filme prende a atenção e funciona como um bom filme de ação (apesar de, por vezes, mentiroso - mas qual filme não é?).
A cena da perseguição da BMW dentro da garagem, com Bond guiando o automóvel por controle remoto, no banco traseiro, é antológica! Sensacional.
E as Bondgirls também estão à altura! Paris, infelizmente, sai de cena (Terri Hatcher nunca preencheu bem o perfil, para ser sincero), e a Michelle Yeoh, apesar de linda, é meio caladona. Mas faz jus ao papel.
Enfim, nota 3, um bom filme de Tela Quente ou Sessão da Tarde. Entretenimento fácil.
Os Sonhadores
4.1 1,9K Assista AgoraEu adorei o filme. Mas confesso que ainda preciso maturá-lo, reassisti-lo algumas vezes mais, antes de começar a aprofundar o entendimento.
De um lado, um tímido jovem americano, saindo do casulo, morando fora de sua terra natal, os Estados Unidos. De outro, dois jovens franceses, criação liberal, altamente envolvidos na explosão estudantil. Todos viciados em filmes, no cinema de forma geral.
E, feitos amigos, se juntam na descoberta individual. Durante muito tempo, nem saem de casa. Uma casa abandonada pelos pais durante certo tempo.
Apesar de parecerem maduros e libertários, Theo e Isa se mostram também "virgens" para diversos aspectos da vida. Os questionamentos que Matthew traz sobre a infância, o amadurecimento e o rompimento familiar necessários à vida comum mostram o quanto os dois ainda estão mergulhados em si mesmos.
O desvirginamento de Isa por um Matthew sedento é significativo.
Ainda fico por entender se era mesmo intenção do Bertolucci pagar um pau para os americanos. Porque o Matthew é um jovem estadunidense em temporada na França e, apesar de termos notícias de que os francófonos são extremamente intolerantes com línguas estrangeiras (especialmente o inglês, de seus rivais europeus), os personagens se comunicam na língua do visitante durante 90% do filme.
É ele quem questiona a maturidade dos dois franceses. Como um americano questionando os propósitos evolutivos franceses, o comportamento preso ao passado, ou de que forma seja. Me recuso a assimilar.
Da mesma forma, ao final, Matthew tenta convencer Theo e Isa a não usarem o coquetel molotov, exaltando a paz e o amor, usando a racionalidade contra a impulsividade, numa possível demonstração da visão americana versus a visão europeia. Ou teria sido para demonstrar que a guerra é necessária, e os americanos (ou reacionários, de forma geral), buscam "a paz que eu não quero"? Ficou no ar.
Agora, uma coisa é certa: Quando eu for a Paris, vou querer gritar "New York Herald Tribune!" na Champs-Élysées e sair correndo para bater o record de travessia do Louvre.
Relatos Selvagens
4.4 2,9K Assista AgoraQue são relatos, a gente logo percebe. Estórias distintas, personagens sem ligação aparente, assim como todos aqueles que pegaram o avião no início do filme.
Mas à medida em que as narrativas se desenvolvem, descobrimos o ingrediente que dá a liga. O "Gabriel Pasternak" de todos os segmentos: o limite da civilidade. Que todos somos animais, não há dúvidas. Mas qual o limite da razão? O que torna alguém selvagem? Que tipo de situação desafia qualquer valor, qualquer razoabilidade, levando alguém a cometer algo impensado, esdrúxulo, completamente animalesco (ou visando a própria sobrevivência).
Em cada um dos relatos que vemos, o filme nos direciona uma pergunta fundamental: E você? O que faria nessa situação?
Quem escolheria para compor a viagem de avião? Colocaria ou não o veneno de rato no prato do agiota? Em que momento deixaria a rixa na estrada de lado (ou iria até às últimas consequências? Em qual prédio do governo estouraria uma bomba, e quantas? Pagaria o suborno ao advogado e ao investigador? Como se vingaria do noivo traidor?
As situações aparentemente absurdas são embasadas num fundo de verdade: todo mundo tem um limite. Por mais sólido que o pacto social seja, ninguém tem sangue de barata.
Filme sensacional.
Xala
3.6 11Reconheço a importância e profundidade do filme no cenário artístico senegalês (e africano, de modo geral).
Aliás, o filme levanta questionamentos até sobre o nosso modo de vida aqui no Brasil. A força do dinheiro, a hipocrisia, a fragilidade das posturas ideológicas, tudo isso se aplica perfeitamente à nossa realidade.
A questão do preconceito racial e das diferenças sociais é flagrante.
A cena da saída do palácio para o churrasco do casamento, onde cada uma das autoridades entra em seu próprio carro com motorista, e seguem todos em comboio, rumo ao mesmo lugar, isolados, é interessantíssima. Que coisa besta essa tal de burocracia.
De qualquer forma, não é meu filme favorito. Não assistiria de novo.
O Crítico
3.3 39 Assista AgoraUm bom filme, com alguns momentos engraçados.
Mas, ao contrário do que a sinopse possa parecer indicar, não é um filme puramente de comédia - ou, ao menos, não é uma comédia como conhecemos.
Na verdade, é um filme ligeiramente morno, com ótima atuação de Rafael Spregelburd.
O elenco de apoio não é grande coisa, mas principalmente porque a estória gira em torno de Telléz e Sofia.
Enfim, é uma boa sátira que, apesar dos arriscados momentos em que quase cai numa metalinguagem (já que a crítica quase desaparece), cumpre bem seu papel.
Direção competente, roteiro bem engendrado, boa fotografia e ótimas atuações. Tão redondinho, que quase cai no clichê Hollywoodiano. Talvez, o fato de ser argentino (juntamente com suas características, temperamentos e acidez) tenha salvado o filme.
Precisamos Falar Sobre o Kevin
4.1 4,2K Assista AgoraGostei do filme, mas acho que é um filme muito mais técnico do que propriamente focado no roteiro. Vou explicar melhor.
Antes de mais nada, é necessário dizer que o filme se baseia no livro de Lionel Shriver, que por sua vez possui um forte pé na realidade dos massacres em escolas americanas. O livro foi escrito em primeira pessoa, sob o olhar de Eva (mãe do moleque psicopata), em tom completamente confessional e sob forma de cartas enviadas ao marido (e pai do menino).
Ou seja, a escolha de Lynne Ramsay (diretora e roteirista) em fugir da narração em primeira pessoa e da leitura de cartas, no filme, foi extremamente ousada. Por que a base da história é a dimensão psicológica - principalmente culpa - que a mãe apresenta, punindo-se e responsabilizando-se (não sem a ajuda dos próprios filhos e marido) pelos erros cometidos pelo filho. Como mostrar a culpa, sem dizê-la? Como esboçar o sofrimento psicológico, senão com palavras? Cenas como as da mãe passando a roupa do filho preso tomam um ar extremamente relevante à obra.
Me chamou especial atenção a sequência da gravidez, em que vemos Eva olhando-se no espelho, com a barriga enorme, ao mesmo tempo em que vemos as células se multiplicarem, e a operação de uma máquina de xerox. No espelho, ao fundo, vemos o pai usando uma camisa preta do Led Zeppelin - a mesma que o moleque usa no começo do filme, e que a mãe usa no final. Existe, talvez, um certo ciúme ou receio, por parte da mãe, de que o moleque seja uma cópia do pai, o que acaba induzindo a culpa pela rejeição.
Dai porque a obra se torna muito mais relevante tecnicamente do que pelo roteiro em si (na dimensão da história, não da forma da narrativa). Porque dá pra resumir bem todo o enredo em 10 ou 15 minutos - não é lá grande coisa. Mas o que se busca é, por meio de montagens, sons e a mistura do vermelho sufocante demonstrar sentimentos e fugir da estrutura adotada pelo livro.
Eu, Você e a Garota Que Vai Morrer
4.0 888 Assista AgoraExcelente filme, muito sensível e bem construído.
Acho que a ideia que o marca é a busca pelo amadurecimento. Ou fuga dele.
O personagem principal, Greg, sempre se contentou com uma posição passiva, acomodada, de se encaixar no contexto social sem se expor muito. Um camaleão. Isso, em si, já é uma fuga e, considerando que o cara já está no final da adolescência, um sinal claro de falta de amadurecimento.
Dai que aparece uma garota com leucemia. Conhecida, mas sem nenhum vínculo de amizade. E o cara é impelido a manter contato com ela. Fisicamente, ele vai, mas o que percebemos é uma fuga insistente dos fatos, da realidade.
Ao contrário de Earl, seu amigo (o qual é chamado de "parceiro", "colaborador", mas nunca de amigo - também pela fuga), Greg se debate o tempo inteiro para não se sentir envolvido emocionalmente com Rachel (a garota). O que para ela, funciona bem - pela primeira vez, alguém enxerga a pessoa além da doença. O que não faltam são piadas de humor negro.
Mas Greg se debate. E quer levar o espectador junto, mentindo, dizendo que ela não morre no final e que ela ficará bem. Quer se afastar do drama e da dor, fugir. E quer a cumplicidade de quem assiste.
Earl e Greg costumam fazer seus filmes caseiros. Já são 41 obras - todas "livremente adaptadas" de clássicos consagrados. E que também ressaem como sintoma de uma falta de amadurecimento: as películas são ruins, fracas, trash, e trazem certa vergonha aos autores. Eles não querem que ninguém as veja.
Mas ao final, a garota os motiva a criar a única obra original que já criaram. E é a última coisa que ela vê. E é um dos elementos que o próprio Greg usa para tentar ser aceito na faculdade, enviando uma cópia por correio à instituição. Ele sente orgulho, quer que outros vejam.
Uma obra muito bonita sobre a simplicidade, importância e fugacidade da vida. Os detalhes, as características. E a presença - em oposição à fuga. Amadurecimento, comprometimento com o que se gosta e quem se ama.
Rachel se mostra presente mesmo após a morte. Nos detalhes de seu quarto. nas almofadas, nos livros recortados e desenhos na parede. Continua ensinando, nas palavras do louco professor McCarthy. E agora, um pouco mais amadurecido, Greg também está presente e consegue enxergar isso.
Mais de Mil Palavras
3.4 12 Assista AgoraInfelizmente, achei um filme fraco. E olha que eu estava torcendo!
Pra começo de conversa, achei que o filme era lançamento. Nunca tinha ouvido falar. Dai descobri que é de 2013! Dois anos completamente invisíveis para a obra. Sem divulgação, sem repercussão... Era prenúncio de algo.
Acho importante frisar que, considerando-se o próprio cartaz do filme, trata-se de uma obra sobre a relação pai e filha. Existia uma relação forte entre os dois, há a morte da garotinha, isso se transforma no ímpeto do pai em viabilizar a construção de um hospital infantil. É a trama, é o que está na sinopse. E é o que o filme quer explorar mas, a meu ver, não consegue.
Eu sou fã do David Duchovny. Mais do que de Mulder (personagem dele na série Arquivo X) e mais do que Hank Moody (sua interpretação na cômica Californication). E esses dois personagens que deram fama a ele também são responsáveis por sua maldição. Sinto que ele vem se esforçando por amadurecimento dramático escolhendo papéis pesados, densos, com uma carga dramática diferente. Em grande parte, para se desvencilhar da imagem de Mulder/Moody que inevitavelmente carrega.
Então, nada mais desafiador que encarnar um pai lacônico, que perde ainda mais as palavras quando sua filha morre (os outros, trigêmeos, são filhos apenas de Brenda (Hope Davis). E, infelizmente, como fã, tenho que declarar: ele falhou imensamente.
Não sei se por causa da profundidade do roteiro, ou se pela direção... Mas faltou algo. Sim, o personagem é calado, esquivo, mas o ator tem que estar presente nessa ausência. O grito silencioso de um pai em desespero não foi sentido. A indignação que a sra. Fareri sente da ausência do marido não chegou a ser sentida, efetivamente, por nós telespectadores.
Além disso, a despeito da linha dramática do roteiro, o filme se perde entre o que se propõe a mostrar e o que efetivamente mostra. Não há uma construção forte da relação entre pai e filha, exceto um ou outro diálogo, e um acampamento/pescaria. Não achei o suficiente para criar um vínculo forte com o telespectador. Por outro lado, não chegamos a ver a construção do hospital em si. Vemos apenas alguns pequenos obstáculos burocráticos entre o desejo e a obra. Os conflitos psicológicos também são fracos, poucos, cujo ápice é a destruição de copos e porcelanas, numa discussão na cozinha. Faltou profundidade, adensamento.
O título, "Mais de mil palavras" faz referência ao dito popular. "Um ato vale mais do que mil palavras". E a intenção era mostrar que, apesar de não ser muito falastrão, John Fareri agia, e trouxe significado à morte de sua filha. Transformou o luto em algo concreto.
O que confere maior credibilidade à obra é o fato de ter sido inspirada em fatos reais. Julie Fareri, pessoa real, membro da família Fareri, ajudou a produzir o filme, o que indica que há uma verossimilhança no que assistimos. Mas como obra de arte, deixou bastante a desejar.
Missão: Impossível - Nação Secreta
3.7 805 Assista AgoraFazer bons filmes de ação é uma arte em extinção.
A franquia do 007 conseguiu retomar o rumo com o Cassino Royale e Skyfall (vamos torcer pelo Spectre!) e Missão Impossível (exceto o mentiroso filme do John Woo) manteve a alta qualidade. Aliás, em tempos de CGI usada e abusada, a franquia tem usado como marketing o fato de o próprio Tom Cruise fazer as cenas de ação, sem recorrer a dublês. Herois de ação andam escassos.
À parte disso, nada mais tem ganhado minha atenção. Não acho sensato darem continuidade à saga Bourne, por exemplo.
Nesse último filme, terminado às pressas, a qualidade continua.
Um roteiro novamente envolvente, atores carismáticos (dessa vez, senti que a ênfase maior foi no Simon Pegg), Alec Baldwin e a linda da Rebecca Fergunson dando show.
Um detalhe nos roteiros modernos começa a me incomodar - apesar de não considerá-lo defeito nessa obra em particular, pela qualidade da execução: na busca por situações cada vez mais verossímeis, em contexto com a realidade e buscando profundidade psicológica aos personagens e à trama, os roteiros tem se tornado cada vez mais inchados de explicações, as tramas cada vez mais emaranhadas com situações sem aparente importância à saga dos protagonistas. Tramoias internacionais, tráfico, fluxo de dinheiro, contextos políticos e sociais tem sido inseridos à esmo apenas para maquiar histórias simples, que dispensariam completamente todo esse aparato.
Pela natureza da IMF (uma agência de espiões internacionais), natural que se considerem aspectos de política e economia externa, relações internacionais etc e tal. Mas a equipe tem conseguido manter esses elementos como pano de fundo apenas. Sem distrair da história que realmente interessa aos telespectadores.
Obra-prima continua sendo apenas o filme do Brian de Palma, que inaugurou a saga. Mas esse se mantém como um excelente filme de ação, com todos os elementos que já conhecemos e gostamos.
A Rosa Púrpura do Cairo
4.1 591 Assista AgoraImpossível deixar de repetir o clichê: Uma belíssima obra, com uma homenagem sensacional ao cinema.
A começar da metonímia: um filme, dentro do filme, dá inicio ao drama. A mistura entre realidade e ficção provocada pelo comportamento inesperado de um dos personagens (Tom Baxter) é o ponto inicial de todas as mudanças de comportamento da protagonista real (Cecília).
A realidade (Cecília) apaixona-se pela ficção (Baxter) e andam de mãos dadas durante um bom tempo, até que a primeira é forçada a assumir seu papel, desvinculando-se do ilusório. E o ponto de fuga de Cecília, inicialmente, é o cinema. E, ao final, com o desfecho, se torna a dor necessária para manter-se a sanidade.
Paralelamente, vemos uma crítica do próprio Allen ao mercado do cinema em si (crítica essa presente na postura do próprio diretor, que se recusa a receber prêmios e honrarias por suas obras. Nunca compareceu a uma cerimônia de Oscar): as burocracias do show business atravancam voos mais altos do cinema. A preocupação do produtor do filme, do dono da sala de exibição, dos telespectadores, do ator Gil Sheperd e até do casting secundário com a paralisação da obra por causa do sumiço do personagem de Jeff Daniels nos remete ao lado chato e formal de se produzir um filme.
Há, inclusive, um discurso de um dos personagens coadjuvantes, taxado de "comunista", que resume o pensamento do Allen: "Por quê devemos ficar aqui parados? Eles exploram nosso trabalho, faturam às custas de nosso suor!" - fala esta rapidamente sufocada pelos demais personagens presentes.
A vida imita a arte? Ou a arte imita a vida? Pessoas reais, inicialmente, querem fugir de suas realidades mergulhando no cinema. E os personagens, num segundo momento, invejam os problemas humanos, querendo sair da tela.
O olhar existencialmente melancólico e momentaneamente alegre de Cecília, ao final, nos diz tudo. É preciso ter pés no chão, mas que eles não estejam enterrados. É preciso ter a cabeça na realidade, mas que essa realidade não seja dura demais. Porque a vida não possui finais felizes - o que não quer dizer que não possamos usufruir e, principalmente, criar esses momentos de felicidade.
A Troca
4.0 1,6K Assista AgoraExcelente filme.
Aliás, em se tratando de Clint Eastwood, dificilmente alguma obra decepciona.
Fotografia espetacular (principalmente na emulação das velhas fotografias dos anos 20, num efeito de "quadro vivo"), atuações excelentes de Angelina Jolie, Jeffrey Donovan, Amy Ryan e Jason Butler Harner, e uma história agoniante.
Achei interessante o casting envolver diversos bons atores e atrizes de séries populares - o que pode ter sido uma importante estratégia de contenção de gastos. Mas a Amy Ryan (de The Office), Jeffrey Donovan (de "Burn Notice" e "Fargo"), Jason Butler Harner (de "Fringe" e "Scandal"), Denis O'Hare (de "The Good Wife" e "True Blood") todos confirmam a excelente fase da TV americana, com atuações impecáveis.
A única coisa que peca, a meu ver, foi o final do filme. Na tentativa de se mostrar um final feliz, recompensador por toda a busca perpetrada no decorrer do filme, acaba se distanciando do comprometimento com a realidade. Em resumo, como uma mãe que não encontra seu filho pode prosseguir alegre em sua missão até o fim de seus dias? Como uma mãe amaldiçoada por um episódio de sua vida sem desfecho pode sorrir, dizendo-se feliz por recuperar a esperança? Esperança ou maldição?
Um Time Show de Bola
3.3 137Gostei do filme, é uma boa animação para assistir com a família e amigos.
Existem alguma sutilezas que mereciam mais atenção, quanto ao roteiro. Porque sim, o maior sonho de todas as crianças do mundo é poder brincar com seus brinquedos de maneira mais participativa, com bonecos vivos, ativos, com personalidade - e nesse aspecto, o filme se aproxima de Toy Story. Um aspecto pertencente ao mundo da fantasia e tudo mais, mas que apresenta comprometimento com a trama e a proposta do filme. Agora, o fato de o vilão ter uma espaçonave, ser rico pra caramba, ou a gota de lágrima que dá vida aos jogadores de metal soam mais como uma saída fácil e batida para os problemas de roteiro. Acabam caindo no clichê (algo que dificilmente você verá num filme da Pixar).
Aliás, o mundo da animação ficou extremamente complicado depois da Disney e da Pixar (e, agora, da Disney-Pixar). O nível de qualidade se elevou a patamares impressionantes, a ponto de ampliar um mercado que era puramente infantil para um que envolve também adolescentes e adultos. Divertida Mente, por exemplo, é um filme tão bom para adultos quanto para crianças.
E nesse aspecto, apesar de reconhecer a qualidade da obra do Campanella, eu ainda a classificaria como um filme para crianças, em grande parte pelos diálogos e saídas de roteiro infantis.
P.S. Eu Te Amo
3.7 2,7K Assista AgoraPoxa, eu não tenho absolutamente nada contra romances - principalmente esses mais leves, sem muita coisa para assimilar. São bons pra relaxar e tudo mais.
Mas quando me disseram que esse era o melhor romance do ano, dos que fazem a gente chorar do início ao fim, repensar a vida e tudo mais, achei que o roteiro pudesse trazer algo de bom.
Me decepcionei imensamente. E olha que eu sou fanzaço da Hilary Swank!
Mas é um roteiro muito meia boca. Pra início de conversa, acho que a estratégia de matar o cara logo no início - o cara responsável pela pretensão de levar às lágrimas o telespectador - é imensamente arriscada, em qualquer história que seja. Afinal, para quê chorar por quem não se conhece? Como ser tocado com a despedida de um personagem que não despertou sua empatia ainda?
A inocência da Holly (um nome meio óbvio, inclusive) fica sendo, sozinha, a responsável por nos causar a sensação de piedade e melancolia. Mas, por vezes, irrita! E o clima meio surreal, meio comédia de humor negro, meio "Amélie Poulain", não combina com o teor da história em si. Falta concordância, combinação... Alto deslocado no ar.
O Exterminador do Futuro: Gênesis
3.2 1,2K Assista AgoraEu acho impossível analisar os filmes mais recentes da franquia sem relembrar qual a premissa da série. E não dá pra delinear bem qual é essa premissa sem fazer comparações ou, no mínimo, análises dos primeiros dois filmes.
Porque o primeiro instalou a treta: viagens no tempo com uma máquina vinda do futuro programada para matar. A galera foi à loucura tentando imaginar a sensação de terror que é fugir de algo assim, aparentemente indestrutível. Mas era um só.
O segundo, expandiu o universo: o lance da guerra de humanos contra máquinas, o John Connor como santo graal/messias/salvação da humanidade e uma máquina que protege humanos. Adicionado às duas premissas anteriores (viagem no tempo e máquina programada para matar). Dai, a galera foi à loucura imaginando como seria contar com um protetor mecanizado aparentemente inferior, contra um doido de mercúrio líquido. E a pitada cômica de ensinar palavrões e expressões humanas pro metalóide repetir (hasta la vista baby e coisas do gênero). Fora Guns N' Roses, Harley Davidsons, escopetas escondidas nas rosas... obra-prima.
O terceiro já deu uma quebrada na sequência, porque não adiciona nada inédito na trama. Não expande universo, não apresenta nada que já não tenhamos visto antes. Consegue manter a curiosidade por ver uma mulher no papel de Exterminador, e o grau de violência aumenta (aquela cabeçada que o Schwarzza deu no mictório é uma coisa cabulosa). Mas pelo menos o gênero do filme e as premissas originais são mantidas.
Mas a partir daí, no final desse terceiro, e com o T: Salvation, a coisa descamba. O filme muda pra algo futurista, aspirante a Matrix, os Exterminadores viram figurantes. As premissas mudam completamente. Vira filme de guerra, sem propriamente expandir o universo. Não sacaram que a coisa legal da franquia é ver um monstro escabroso de metal andando no meio de humanos normais, em situações normais. O alto risco de fugir de algo aparentemente indestrutível. E ver o Schwarzza chutar bundas como algo futurista tentando se virar com roupas, armas e sotaque humano.
Dito isso, acredito que o ponto positivo desse último filme foi resgatar a dignidade dos primeiros filmes. Schwarzza retorna fazendo o que sabe de melhor, as fugas retornam, quebra-quebra, referências ao primeiro (101 model), segundo (T-1000) e terceiro (a T-X Mulher) vilões. Mas o filme se perde entre estabelecer nova trama e homenagear os filmes antigos. A impressão que fica é que estamos vendo um resumo compacto da franquia toda. Perseguições idênticas, quebração similar. Mas como não tem o Robert Patrick como T-1000 e a Kristanna Loken como T-X, não temos a sensação de viagem no tempo. Enfim, virou uma salada. Sem Guns N' Roses, sem Harley. E sem o tom cômico equilibrado. Até tentam emplacar algumas frases de efeito, tipo "I've been waiting for you" e coisas do tipo, mas não cola. Porque as premissas foram retomadas, mas não se acrescentou nada. Skynet cada vez mais forte, Cyberdyne repaginada, e agora um Genisys (com efeitos metalinguísticos, já que representaria o restart da franquia).
Enfim, um bom filme. Mas longe de se tornar a obra-prima que foi o T: Judgement Day.
Encontros e Desencontros
3.8 1,7K Assista AgoraQue filme fantástico! Sensibilidade pura.
O curioso é que o nome do filme original, "Lost In Translation", acabou mesmo perdendo seu sentido na tradução, "Encontros e Desencontros".
Em meio a um mundo estranho e bagunçado - externa e internamente - os dois personagens se encontram como uma certa tábua de salvação. Uma conexão temporária, em meio ao caos momentâneo. Uma encruzilhada.
A cena do Karaokê, com "More Than This", é antológica. Entrou pra galeria de troféus cults.
E, para coroar o roteiro, a fotografia, a trilha sonora e tudo o mais, nada melhor do que um show de atuação do Bill Murray, que improvisou a cena final do cochicho. Quem é que precisa saber? Durante todo o filme, vemos pessoas desconexas, buscando conexão, sem que ninguém os entendesse. Agora, com o murmúrio que se perdeu na imensidão de sons, o que permanece é o sentimento - e que esse fique apenas entre aqueles dois perdidos.
Casa Grande
3.5 576 Assista AgoraO filme é muito bom!
Acredito que as intenções da obra são bem melhores que a concretização final, mas suscita discussões importantes e interessantes. As atuações deixam a desejar vez ou outra, mas cumprem bem seu papel e não chegam a prejudicar o todo.
De início, achei o título um pouco pretensioso. Casa Grande. Somos levados a crer que a discussão será bem profunda a respeito de diferenças sociais e, principalmente, calcada numa comparação expressiva com a composição da sociedade escravocrata. Nesse ponto, a única coisa observável é a localização da casa da empregada (do lado de fora da mansão), e a relação um pouco utilitarista do filho (Jean) com ela (Rita). O moleque só a procura como forma de escapar da sua vida ordinária, por vezes tentando saciar sua curiosidade sexual.
Mas o que vemos são discussões por vezes infantis (como a discussão sobre a importância/necessidade de se andar de ônibus) e até óbvias demais (como o embate sobre cotas sociais, no churrasco de família). Não raro, soam como lições de moral da novela teen Malhação.
Mas no geral, é uma boa obra, que penetra nos contrastes existentes entre as realidades da classe alta e baixa sem recorrer a um desfecho conciliador. Não há finais felizes. Cada um termina num novo ponto de partida, e só os próprios personagens poderiam dizer se pertencem a um "final feliz" ou um "final triste". Existem perdas e ganhos sob qualquer aspecto.
Em resumo, eu poderia dizer que o filme trata da reverberação de conflitos sociais na mentalidade individual, a partir do ponto de vista do moleque (Jean). A puberdade, com suas rebeldias sem causa, seus hormônios à flor da pele e a busca por um amor verdadeiro mascaram a angústia social pela qual passa Jean, que não entende, não resolve (nem poderia!) e é arrastado por um turbilhão de emoções. Afinal, quem poderia dizer se a fuga da Casa Grande foi ocasionada pela mentira dos pais, pelo fim do namoro, pela ausência do motorista Severino, pela falência financeira da família, pela aproximação da pobreza ou pela busca da independência pessoal? Talvez, por tudo isso junto.
O que importa é que, no final das contas, não interessa o mundo ao qual pertençamos, as posses que temos ou o cargo que ocupamos. Todo mundo quer começar o dia com a paz de espírito necessária para fumar um cigarro tranquilamente na janela de casa.
O Corte da Navalha
3.0 52O filme é bom!!
Presta uma nítida homenagem a "Tubarão", do Spielberg.
Ambientado no outback australiano, porém apresentando elementos de uma terra fantástica, o filme traz os ataques de uma figura mitológica - um javali gigante - que já causou danos físicos e psicológicos suficientes a Jake, um caçador de cangurus. Que, por conta dos ataques, acaba virando caçador de javalis. Sua obsessão é encontrar e aniquilar o "Razorback".
É interessante notar que a falta de recursos financeiros - característica comum aos filmes dessa nova onda australiana (os chamados "ozploitation") - não foi empecilho para a ambição do diretor em adaptar a obra de Peter Brennan. O jeito foi usar e abusar da criatividade para suprimir esse aspecto. Uma figura mecânica tosca vira um monstro horripilante, onipresente e impiedoso por meio das técnicas de filmagem.
Além disso, os recursos do roteiro dão mais força na construção do "Razorback", numa sequencia de mortes que lembra um pouco a série "Jogos do Trono" (Game of Thrones), de George R. R. Martin. De início, não sabemos quem é o protagonista, e somos induzidos a erro repetidamente, alimentando empatia por personagens sacrificados. Primeiramente, somos acreditados a seguir Jake. Em seguida, o foco é desviado para a jornalista Beth Winters. Em seguida, voltamos a acreditar em Jake e, por fim, Carl ganha a atenção. Essa sequência leva a acreditar que o monstro é invencível, e coloca em dúvida sobre a competência dos personagens em atingir seus objetivos.
Apesar de baixo orçamento, é um filme que deve ser assistido levando-se em conta os anos 80, e certamente merece um lugar de destaque na galeria de monstros celebrizados.
Enigma na Estrada
3.1 34É um filme bom, mas nada genial. Tem o jeitão "ozploitation", aquela coisa maluca, de baixo orçamento, com muita influência européia. Mas fiquei com a impressão de que poderia ter sido melhor. Até porque a proposta do filme é de um suspense/thriller, mas algumas vezes descamba para o "pastelão".
Como bem disse um conhecido meu, Marcelo Ribeiro, aquela cena em que o Quid pega a moto vermelha e parte pra perseguição ao furgão é uma das maiores quebras de expectativa do cinema mundial hahaha
Mas convenhamos, a atuação do Stacy Keach é muito boa!! E a Jamie Lee Curtis também está bem divertida.
Há referências quase explícitas a Hitchcock, principalmente "Janela Indiscreta" e "Psicose", na tentativa de induzir um clima de paranoia frequentemente quebrado pela comicidade de algumas cenas.
Mas, no geral, é um filme bom. Mediano. Pelo cartaz e sinopses espalhados internet afora, eu esperava algo mais contundente.
Cabra Marcado Para Morrer
4.5 253 Assista AgoraExcelente filme. Talvez, a única parte boa da ditadura seja a interrupção às filmagens originais dessa obra. Afinal, de início, era pra ser um filme de ficção baseado em fatos reais... com atores (ainda que amadores) interpretando pessoas da vida real e até a si mesmos. Mas com a ditadura, a obra foi suspensa e retomada depois como documentário! Esse documentário serve, ao mesmo tempo, de recuperação da identidade dos envolvidos, em Sapé, que perderam suas memórias e suas próprias essências ao fugir da ditadura. Os "flashbacks" utilizando as filmagens em preto e branco do original são maravilhosas!
Que Horas Ela Volta?
4.3 3,0K Assista AgoraExcelente atuação da Regina Casé. Completamente desperdiçada em programas de sábado fracos da Rede Globo.
O mais bacana é que é um filme baseado em estereótipos, mas estereótipos completamente críveis, reais, os quais vemos todos os dias em nossas rotinas diárias. Não existe caricaturização ali, para nos induzir a emoções extremas. A classe média (que se acha classe rica) está lá, falando seu inglês disfarçado para não ser compreendido pela ignorância da classe inferior. Mas presente com seus problemas, sua falta de tempo, sua falta de objetivos, dispersão de ideias.
A despeito de diversas críticas que acusaram o filme de governista (já que mostra a ascensão de classes mais baixas), acho justamente o contrário: o filme mostra que, muitas vezes, a separação de classes é cultural, mental, construída por séculos, e ultrapassar essa barreira tem que partir do esforço de cada um.
Passar em um vestibular é consequência de esforço pessoal. Entrar numa piscina é um ato simples, significativo em si mesmo. A diferença de classes deve ser quebrada em pequenos atos diários, partindo de esforços individuais.
Um Longo Fim de Semana
3.4 43Quando li o poster, e diversos comentários aqui, pensei em algo como Anaconda, ou Razorback, Tubarão, Sharknado, ou até Evil Dead (em que as raízes das árvores matam a galera). Um thriller de terror com muito sangue.
Mas não! A natureza não age de forma violenta, ostensiva. Se você não sacar a intenção por trás de ângulos de câmera voyeuristas, montagens de sons e imagens, vai chegar a achar a natureza patética, infantil, fraca perante os personagens humanos.
Mas o suspense vai crescendo de mansinho, devagar, sem pressa. E o terror é psicológico.
De início, inclusive, percebe-se uma tensão entre o casal humano. Eles escondem algo. Existe um problema não resolvido entre eles, uma culpa, um fardo. E isso parece se refletir na hostilidade da fauna e flora. Existe um reflexo do interior projetado no exterior.
Mas os ângulos de câmera não deixam que a natureza esteja presente apenas de forma passiva. Existe atividade natural. Existe uma agressividade ativa também.
A natureza age de forma sutil e psicológica encurralando os personagens, perseguindo, aterrorizando.
E a conclusão vem para demonstrar que a natureza não mata, não prejudica, mas mostra que o homem é o lobo do próprio homem. É a doença que precisa ser controlada, extirpada.
A cena da exaustiva fuga de Peter pela floresta cada vez mais sombria é interessantíssima. Lembra bastante a fuga de Branca de Neve, aterrorizada, pela floresta negra.
A montagem das cenas com o som estridente, irritante, incômodo guia esse thriller psicológico. E na batalha de som (carros, caminhões, armas, gritos) contra som (pássaros, mugidos, coaxares), resta claro que a natureza ganha.
E o bebê peixe-boi simboliza isso: a natureza é invencível. Não se pode fugir dela.
Sempre Amigos
4.1 277 Assista AgoraPerformance muito boa da Gillian Anderson! Beberrona de primeira hahaha.
Dinossauros: O Filme
2.7 10Quem se lembra da dancinha?
"Uh! Laca laca laca! Uh! Laca laca laca!"
Antes do Amanhecer
4.3 1,9K Assista AgoraEu acho o filme sensacional.
Mas a análise fica muito mais rica se considerarmos a trilogia completa - Antes do Pôr-do-sol e Antes da Meia-noite.
Ou seja, o ideal é assistir os três filmes, depois voltar e assistir de novo os três filmes.
Porque esse primeiro é recheado de diálogos interessantíssimos, mas ainda na fase inicial do "rapour". Mostra uma face mais inocente e juvenil de Jesse e Celine.
Aqui, os dois estão apenas se conhecendo. Não existem problemas, filhos, ex-mulheres, trabalho, frustração, mães e sogras, enfim... São duas pessoas se conhecendo na essência, sem saber muito ao certo o que o futuro reserva.
Aliás, até mais da metade do filme, os próprios personagens não sabem muito ao certo se querem mesmo se encontrar depois daquela "one night stand".
Um outro aspecto muito bacana é a zoeira que Jesse e Celine fazem com o amor romântico - principalmente após passagens românticas. Tiram onda com a cigana que lê mãos (após uma sessão bem mística de leitura de mãos), zoam com o beijo na roda-gigante (após o beijo!), conversam jogando taito e bebendo cerveja.
ps.: Depois de assistir aos três filmes, assista novamente, prestando atenção aos detalhes. Num dos diálogos iniciais desse filme, ainda no trem, o Jesse faz uma descrição do futuro marido da Celine para convencê-la a passear por Viena com ele. Que vem a ser a descrição quase perfeita da sua própria situação no segundo filme (só que sem ser marido da Celine, ehueheue)!
Outro diálogo, sobre a morte e a transitoriedade da existência, que é travado no cemitério dos desconhecidos, também é retomado no terceiro filme da trilogia (Antes da Meia-Noite).
Eu definiria essa trilogia como "o que aconteceria com Romeu e Julieta se nenhum dos dois tivesse morrido". Uma história de amor no mundo real.