BUMBLEBEE (2018) é, dos Transformers, o mais adorável. E isso se dá, diferentemente das versões anteriores, criadas com a finalidade de reproduzir robôs lutando, pelo arco dramático entre Charlie e Bee. A jovem está de luto pela morte de seu pai e encontra em um fusca amarelo abandonado, mais do que o tão sonhado veículo, um amigo. O elenco é pequeno (em tamanho, não em qualidade) e só contribui para a fluidez da narrativa com jeitinho de anos 80. Não há conspirações ou maldades em excesso e a simpatia pelo robô desajeitado que faz um barulhinho de abelha é imediata. Para todas as idades, vá sem medo de errar - e com garantia de diversão e fofura - assistir Bumblebee. IG @omelhordocinema
Posso dizer que estava mais receosa do que ansiosa para ver Mary Poppins novamente. Algumas coisas, para mim, são intocáveis, e ela é uma dessas. Ter a pretensão de se equiparar a um clássico tem se tornado comum no cinema atual - com muita quantidade e carente de originalidade; porém, dá para afirmar que, nessa missão, Emily Blunt (sem tentar imitar Julie Andrews e menos calorosa) e O RETORNO DE MARY POPPINS (Mary Poppins Returns, 2018) se saíram bem. Ambientado na década de 1930, na era de crise econômica londrina, Poppins retorna para ajudar Michael e Jane Banks, agora adultos, a redescobrir a magia de viver. Além deles, o acendedor de lampiões, os três filhos de Michael e os incríveis personagens animados embarcam de novo na aventura musical e dançante da babá da maleta misteriosa e guarda-chuva falante que sobe e desce dos céus. As músicas são boas, mas estão a colheradas de distância de adoçar nossa memória como “Supercalifragilisticexpialidocious” (nunca consegui pronunciar isso). Melhor do que elas são as cenas coreografadas e descobrir Van Dyke em um pequeno número e o paradeiro do certificado de ações do banco logo no início (presta atenção). Precisávamos de outra Poppins? Talvez não. Mas também não há como negar que, sem ambições além de entreter, vê-la mais uma vez (ainda que de outra forma), com aquele padrão Disney de produção, não deixa de ser nostálgico e agradável - mesmo lágrimas não tendo escorrido. IG @omelhordocinema
Tá bom... eu não resisto a Joaquin Phoenix! E minhas 3 estrelas em A PÉ ELE NÃO VAI LONGE (Don’t Worry, He Won’t Get Far On Foot, 2018) são (quase que) exclusivamente por ele. O novo filme de Gus Van Sant, sobre a trajetória do cartunista John Callahan, conhecido por seus desenhos controversos, seria um verdadeiro pé no saco se não contasse com o próximo Coringa. Vestido de manual de autoajuda, acompanhamos a luta - em 12 etapas - de John para se livrar da bebida, que o deixou tetraplégico, e para perdoar tudo e todos que lhe fizeram mal, inclusive a si mesmo. Infelizmente, ao se preocupar menos com o seu trabalho do que com uma vida alcoolizada antes e depois da cadeira de rodas, A Pé Ele Não Vai Longe se torna uma busca enfadonha por redenção e mensagens positivas, e não iria muito longe se não fosse pelo “O cara”. IG @omelhordocinema
Bem que eu tentei, mas um dos filmes mexicanos mais populares nos festivais desse ano me pareceu um pouco vazio. Uma pena. MUSEU (Museo, 2018), apesar de ter um questionamento interessante (sobre a justa propriedade de achados arqueológicos) e a performance sempre agradável de Gael García Bernal, escorrega em uma narrativa sem vida. Como uma réplica da história original, o filme de assalto de Ruizpalacios usa o roubo de mais de cem peças do Museu Nacional de Antropologia na Cidade do México, ocorrido em 1985, para exagerar no drama dos amigos Juan e Wilson, que cansados da mesmice, resolvem fazer algo diferente. A câmera e os efeitos sonoros frenéticos também são uma boa tentativa de dar um gás a Museu, porém o peso documental e a discussão dos direitos de artefatos históricos são perdidos no meio do caminho - iguais a tantas antiguidades roubadas. IG @omelhordocinema
Vou contra a maré de críticas negativas. A VIDA EM SI (Life Itself, 2018) conseguiu me agradar. Através de suas cinco histórias, o novo filme de Dan Fogelman (de This Is Us) engendra uma teia toda certinha de eventos inesperados (até certo ponto) para contar a história de Will e Abby, um casal apaixonado que dá o start a uma sucessão de dramas - que me fez chorar. É clichê? É sim. Contudo, a busca por heróis e por narradores confiáveis, sustentada por um elenco de respeito, torna suas duas horas bem satisfatórias. Começa melhor do que termina, é verdade. Mas nem a aposta pelo caminho mais fácil prejudica a jornada de A Vida em Si como um todo. IG @omelhordocinema
Gostaria de compartilhar que COLETTE (2018) é muito parecido com outro filme que vi há pouco tempo e já postei por aqui, mas não quero dar spoiler. O que naquele é um trunfo a ser revelado mais ao final; nesse é escancarado logo de cara. Colette é uma romancista francesa bastante popular, cuja personagem Claudine habitou diversos livros seus, e o imaginário, a cabeça e a vestimenta de muita gente no início do século 20. Oprimida pelo machismo da época, ela escreve, porém quem deita na cama é o seu marido, Willy, um bon vivant que só sabe se apoderar do talento alheio. Colette nunca se torna um filme ruim, no entanto, ao se concentrar no período pré-emancipatório, dá um tom melancólico e não faz justiça à grandeza e importância (tanto para a literatura, quanto para o feminismo) dessa escritora. Esse é o risco da visão microscópica de uma biografia e caberá a você, caso se interesse, correr atrás do restante de sua história. IG @omelhordocinema
Pelo que eu me lembre, UM MAR DE ESPERANÇA (Pulang, 2018) foi a minha primeira experiência com o cinema malaio, e apesar de boas avaliações, não me agradou. Baseado em uma história real, durante seis décadas, uma mulher espera o retorno do marido, que saiu a navegar ao redor do mundo para ganhar dinheiro. A volta prometida do marinheiro não acontece e agora, em seu leito de morte, ela pede ao neto que descubra o paradeiro do avô. Um filme sem arcos dramáticos, que aparenta baixo orçamento e não decide entre o romance e o mistério, restando, por fim, tão perdido quanto seu personagem. A trama de Um Mar de Esperança pode até ter seu mérito na realidade, mas na ficção não é mais do que um arroz com feijão sem tempero que demora (muito) a passar. IG @omelhordocinema
A ideia que parece idêntica a de Um Lugar Silencioso também funciona bem em CAIXA DE PÁSSAROS (Bird Box, 2018), o novo filme de Sandra Bullock. No entanto, assim como sua fonte de inspiração, há pontos mal contados que, em parte, prejudicam a credibilidade do romance de Josh Malerman, ao aterrorizar e dizimar a população que vê mais do que deveria ou gostaria. Esse gênero trabalha com experiências sensoriais altamente estimulantes e emocionais (aquele com a fala e audição, esse com a visão), e logo em seus primeiros minutos já nos arrancam de nossa zona de conforto. Em seu melhor papel em anos, Bullock tem total domínio das duas horas apocalípticas de Caixa de Pássaros e a narrativa alternando entre o passado e o presente de Malorie (igual a Um Lugar Silencioso) tenta explicar (e nem sempre consegue) que diabos ocorre ali. Você olha, você morre. O tic tac do thriller somente é suspenso por pouquíssimos segundos de afeto. E só. O perigo é iminente e eminente, e semelhante a O Enigma de Outro Mundo e outros exemplares do horror, a sobrevivência em dinâmica de grupo é muito bem explorada. É provável que você já tenha visto a premissa de Caixa de Pássaros de uma ou outra forma, isso, todavia, não significa dizer que não vale a pena ver de novo ou que sua respiração terminará a mesma. IG @omelhordocinema
Ele ainda não vive debaixo d'água, mas finalmente aceita seus poderes, já fala com os peixes e está prestes a assumir o trono de Atlantis, depois que seu meio-irmão ameaça entrar em guerra com a superfície. As duas primeiras aparições de Jason Momoa em Batman vs Superman e Liga da Justiça não conseguiram fazer muito barulho, mas o filme solo do herói subaquático, metade humano e metade atlante, chegou para contrariar as previsões pessimistas e a interpretação monossilábica da estrela de Game of Thrones. Agora vestindo a clássica roupa laranja e verde, James Wan não desacelera um minuto sequer, e apesar de faltar meia dúzia de respostas, um bom vilão e uma narrativa menos truncada, o carismo e a energia de Momoa e o espírito despretensioso de Aquaman, que investe fortemente na diversão, fazem seus longos 143 minutos serem encarados com facilidade. Aquaman não salva apenas Atlantis, consegue salvar também o universo DC, embora não seja tão inovador quanto Mulher Maravilha - tendo ainda a seu favor (ou melhor, a nosso favor) aquele shape. IG @omelhordocinema
Na difícil arte de crescer sozinho, ninguém explica a Tomás o que ele mais quer saber: quem era o pai e como ele morreu. Agora, com sua MOCHILA DE CHUMBO (Mochila de Plomo, 2018), ele procura respostas, além da camisa de futebol, e o suposto assassino do pai. O peso simbólico que o pequeno protagonista de Darío Mascambroni carrega e esconde nas costas, a gente também sente, e à medida que as informações da trama são reveladas - tudo no seu devido tempo - a sensação de impotência em ampará-lo vem junto. É inevitável, mas há um porém: mesmo com toda naturalidade de uma história cotidiana e seus personagens, essa Mochila argentina emociona menos do que o esperado. IG @omelhordocinema
Há mais de 200 anos, Mary Wollstonecraft Godwin mostrava ao mundo o seu Frankenstein ou o Prometeu Moderno. Para uma jovem de 19 anos, na época, o macabro drama do doutor Victor Frankenstein, que criara um monstro em seu laboratório através de partes distintas de vários cadáveres, e depois o repugnara, era inapropriada - como leitora, e muito pior como autora. Contudo, Mary, desejosa de se libertar dos papéis convencionais do gênero, tinha talento suficiente para enfrentar o machismo do mundo literário e transformar o histórico de abandono que suportara até então em inspiração para a primeira obra de ficção científica da história. MARY SHELLEY (2017) pode não ser seu melhor retrato, mas tem uma Fanning à altura da biografada, além de ser um bom começo para quem ainda não conhece essa feminista pioneira, que alcançou a grandeza cedo demais e o reconhecimento tardio demais. IG @omelhordocinema
Baseado no livro de Meg Wolitzer, A ESPOSA (The Wife, 2017) talvez seja a melhor chance da Academia reconhecer o talento de Glenn Close. Ela simplesmente não faz o filme, ela é o filme. Dando uma aula de interpretação, Glenn é soberba como a fiel e dedicada esposa de Joe, um escritor prestes a ganhar o Nobel de Literatura. Orgulhosa de seu marido, a todo momento, ele também não se esquece de agradecer a mulher e exaltar sua importância em seu processo criativo. Mas o buraco é mais embaixo e agora Joan precisa pesar até onde ela perdeu com essa parceria. A Esposa trabalha em cima do "por trás de um grande homem, há sempre uma grande mulher" e abertamente critica o sexismo no mundo literário e a marginalização das esposas como "criadora de reis". Um drama relativamente simples que só ganha ares de plenitude pela carga emocional e as muitas camadas compostas por Glenn. Uma cereja do bolo rara que faz a gente só desejar ver ela em ação de novo. IG @omelhordocinema
Em uma cidade argentina, dois bandidos cometem a famosa saidinha de banco. Elena acabara de sacar dinheiro e ao ter sua bolsa arrancada, é gravemente ferida. Mas Miguel, o motoqueiro, se arrepende do assalto e tenta consertar o estrago, mal sabendo todas as consequências que o seu passado transgressor irá lhe causar. Fruto da realidade social de uma Argentina à beira da falência, EL MOTOARREBATADOR (2018) é construído em cima do dilema moral de seu personagem-título. Agustin Toscano, com isso, em seu segundo longa, questiona duas relações: remorso x reparação e vítima x vitimizador. E amparado pelo desempenho convincente de seus dois protagonistas e misturando drama e comédia, com credibilidade e fugindo do maniqueísmo, demonstra que ninguém é de todo bom, nem de todo mau. Igual ao seu El Motoarrebatador. IG @omelhordocinema
Sem saber como fui parar em TEMPO COMPARTILHADO (Tiempo Compartido, 2018), após assistir a ele, não consigo entender porque sua avaliação é tão alta. Tem muita coisa errada por aqui: tanto no filme de Sebastián Hofmann, quanto na história de Pedro, que se vê envolvido em uma série de tragédias sinistras ao chegar em um resort paradisíaco com sua família para passar férias. Paralelamente, nesse mesmo cenário de transformação de sonho em realidade (ou pesadelo), conhecemos Andres, um funcionário exemplar do hotel que sofre um colapso e perde o respeito até da mulher. Visões estranhas acontecem para os dois e o roteiro tenta, tenta e tenta vender uma paranoia sombria, mas Tempo Compartilhado, mesmo com esforço (nosso), não faz muito sentido e não deixa de ser tempo perdido. IG @omelhordocinema
Fui levada a CAM (2018) por uma enxurrada de indicações. E confesso que esperava bem mais da história da webcamer erótica que tem sua conta roubada por uma sósia. Indo além dos perigos da tecnologia tingidos de néon, o cyber-thriller de Daniel Goldhaber propõe um estudo de personagem mais complexo do que inicialmente imaginamos. Uma mistura de Dostoiévski com Black Mirror, Alice se funde a Lola, que passa a não saber mais quem é de verdade. E nesse ínterim, nós também nos perdemos e o que poderia ser bem mais interessante é insatisfatoriamente concluído. Além das divagações metafóricas (que particularmente gosto), a atuação de Madeline Brewer faz com que Cam não seja completo desperdício, e na mesma proporção da duplicidade de Dostô, Cam vai agradar e desagradar. Caberá a você decidir qual lado escolhe. Valendo! IG @omelhordocinema
Sigo me questionando como Jafar Panahi ainda consegue fazer filmes no Irã. E como consegue fazer filmes do jeito que faz. O cineasta iraniano, vencedor de Cannes em 1995, está impedido de deixar seu país desde 2010, acusado de conspirar contra o governo, mas essa proibição, no entanto, parece pouco afetar sua produção cinematográfica. 3 FACES (Se rokh, 2018) é o quarto filme do diretor em sete anos e significa, assim como Fora do Jogo, uma carta (relativamente) aberta às restrições impostas às mulheres na sociedade iraniana. Dessa vez, ele troca a cidade grande e o estádio de futebol pela zona rural do Irã e começa com um mistério central: o vídeo de uma jovem que aparentemente comete suicídio. Assim, Panahi e Behnaz Jafari, fazendo versões de si mesmos, partem para o interior para visitar a aldeia da garota e investigar a veracidade do caso. Não obstante, o tal vídeo é apenas uma desculpa para retratar o Irã de hoje, tão similar ao de ontem, com todas as suas barreiras culturais e conservadorismo tradicional. Em 3 Faces, Panahi nada mais que espelha - em suas três heroínas - o que é tentar levar a vida de artista diante de um Estado patriarcalmente intransigível. E assim lutemos, junto a ele, para que seus filmes não morram no Irã. IG @omelhordocinema
Conforme o enredo toma forma, os primeiros sinais de incômodo começam a surgir em A PROFESSORA DO JARDIM DE INFÂNCIA (The Kindergarten Teacher, 2018). A gente não sabe onde aquilo vai parar e a incerteza constante do que vai acontecer na próxima cena causa a sensação de que algo está desequilibrado na história da professora do jardim de infância que fica obcecada pelo talento poético de um de seus pequenos alunos. O remake do drama israelense de Nadav Lapid, lançado em 2014, nos consome rapidamente, assim como o entusiasmo de Lisa por Jimmy, e apesar da narrativa oferecer pouco material a Maggie Gyllenhaal, ela dá conta do recado e mostra tudo - que nos é permitido conhecer - diretamente em seu rosto. Ela faz dupla com o carismático (leia-se: fofo) Parker Sevak e juntos, tão hipnotizantes quanto inquietantes, nos levam a algo estranhamente bom de ver. IG @omelhordocinema
Inspirado em sua própria experiência, Sean Anders propõe uma comédia leve para dizer aos futuros pais de coração o que exatamente podem esperar de uma adoção. Sem floreios, somos apresentados a Pete e Ellie, um casal inscrito em um programa de treinamento para futuros pais adotivos e que acaba tendo a rotina sacudida pela chegada de um trio de irmãos. Dispostas a não facilitar para eles, as crianças vão testar os limites da vontade (de todos) na construção dessa família instantânea. Apostas confortáveis, Wahlberg e Byrne trazem seu habitual apelo em tela, e embora funcione mais pelo dramático do que pelo humor, não ficaremos incomodados por - quase sempre - estarem no mesmo tipo de papel. DE REPENTE UMA FAMÍLIA (Instant Family, 2018) pode não ser o veículo perfeito para a mensagem de que, na paternidade afetiva, nem tudo é um mar de rosas, mas é sincero ao mostrar que nenhum tipo de família assim será. IG @omelhordocinema
Vá para ver Viola (e somente ela) em AS VIÚVAS (Widows, 2108) e não sairá (tão) decepcionado. Como um dos mais superestimados do ano, há quem diga, inclusive, que vai rolar indicações ao Oscar aí. Duvido muito. O novo filme de Steve McQueen reinventa uma famosa série de TV dos anos 1980, em que um trio de viúvas resolve dar continuidade ao plano criminoso dos maridos mortos durante um assalto, mas, na real, quem sai se sentindo roubado é você. Primeiro, enganam a gente com um super elenco: totalmente desperdiçado. Depois somos ludibriados pelo peso do nome de Gillian Flynn no roteiro e do próprio McQueen na direção: olha o golpe aí de novo. Além disso, As Viúvas pretende acertar muita coisa (suspense, feminismo e questões sociais), mas o tiro acaba saindo pela culatra e esse crime, ops, esse filme acaba não compensando. IG @omelhordocinema
Em um bairro suburbano, um pai se senta à mesa com seus filhos e precocemente os alerta sobre o racismo sistêmico americano. São três crianças que ainda não possuem discernimento para entender o Programa dos 10 Pontos dos Panteras Negras, mas já sabem o peso que a cor de sua pele terá em suas vidas. É desse jeito que George Tillman Jr. inicia O ÓDIO QUE VOCÊ SEMEIA (The Hate U Give, 2018), uma adaptação do bestseller de Angie Thomas: dando um soco no nosso estômago. Se não nascemos odiando, como e quando aprendemos isso? É essa pergunta que martela a cabeça de sua heroína, Starr - com dois erres mesmo, a cada desdobramento ocorrido após presenciar a morte de um amigo por um policial. Ela tem apenas 16 anos e já viu muito mais do que seus colegas de escola, que vivem outra realidade. Entre esses dois mundos tão distantes e as duas versões de si mesma, Starr precisa encontrar o seu lugar e voz para que famílias como a sua não continuem sofrendo, geração a geração, com o sectarismo racial. O Ódio que Você Semeia deriva do acrônimo “Thug Life” do rapper Tupac e, embora tenha uma resolução relativamente simples e um pouco romântica, se transforma em uma mensagem poderosa e necessária em tempos tão difíceis: a mudança está dentro de nós e naquilo que passamos às nossas crianças. IG @omelhordocinema
Se o povo inglês do século XII dependesse desse Robin Hood de 2018, estaria ferrado. Já tivemos várias versões do herói encapuzado: umas ruins, outras estranhas; mas é difícil pensar em uma menos necessária do que a de Otto Bathurst. Bem que ROBIN HOOD - A ORIGEM (Robin Hood, 2018) se esforça para ser descolado e relevante, mas falha em todos os aspectos. Sobre a origem da famosa lenda do ladrão que rouba dos ricos para dar aos pobres, pouco há de interessante, e acaba sobrando confusão no roteiro e cenas de ação em câmera lenta sem emoção nenhuma. Assim, entre o trailer de Robin Hood - A Origem e o filme em si, não hesitaria, por um minuto sequer, em ficar com o primeiro. O segundo é só para jogar dinheiro fora. IG @omelhordocinema
Do pouco conhecido cinema peruano, não guardo lembrança de nenhuma obra. Eis que, por acaso, me deparo com RETABLO (2017), a história de um menino que tem seu pequeno e isolado mundo revirado depois da descoberta de um segredo do pai. O que resta a ele, agora, é decidir se segue o ofício da família de artesão de retábulos (pequenos santuários coloridos que retratam situações cotidianas) ou se foge dos olhos incompreensíveis da comunidade em que vive. Por entre portas, janelas e caixas, imitando os próprios retábulos, Delgado-Aparicio coloca suas câmeras e nos aprisiona à mesma sensação que confina seus personagens àquela realidade retrocessa. De outro lado, a cinematografia pinta os Andes como um belíssimo pano de fundo e o drama do menino, embora lento no início, suga o nosso emocional de tal maneira que, ao final, não sabemos se choramos de revolta ou de amor. O que tem de triste, tem de bonito em Retablo, e que os bons ventos continuem a trazer obras como essa, ou melhor, que não haja mais motivos para obras como essas serem feitas. IG @omelhordocinema
NADA A ESCONDER (Le Jeu, 2018) é para ganhar o dia, ou o jantar, se preferir. Mesmo diante de um elenco promissor e conhecedora da matriz, não estava preparada para me surpreender (o que me diz da cena da ponte?), afinal amigos reunidos ao redor de uma mesa comediando a vida privada em um cenário único não é das ideias mais originais (esse é o terceiro, por sinal) e nem sempre um remake francês dá certo. Pois bem, aconteceu. Se a ignorância é uma benção, em tempos de redes sociais, está cada vez mais difícil manter essa graça divina longe dos olhos e ouvidos alheios. O celular se tornou a caixa preta dos relacionamentos, não importando qual seja, e o seu rompimento, ou desbloqueio, pode gerar consequências inimagináveis. Cabe a nós, ou a eles, no caso, decidir se estão dispostos a revelar seus segredos mais íntimos. Como no amor e na amizade, muitas vezes é melhor não saber de tudo. E a única coisa aqui que você realmente precisa saber é que Nada a Esconder vale muita a pena ser assistido - junto, é lógico, aos outros dois Perfeitos Desconhecidos. IG @omelhordocinema
Com seis histórias rápidas e rasteiras sobre o Velho Oeste americano, projetadas como a adaptação cinematográfica de um livro, THE BALLAD OF BUSTER SCRUGGS (2018) é mais uma das chances da Netflix cruzar o tapete vermelho em 2019. Daqueles malucos dos Coen (que a gente tanto ama), cada uma é contada em separado sem perder o foco na descrença humana e o senso de humor distinto dos Irmãos. Tão capazes de surpreender, eles manjam - como ninguém - de dar e tirar o doce da nossa boca. E aqui não é exceção. Quando você menos espera, bingo! Tudo tem que ser processado rapidamente, pois mal termina uma, a outra já começa. Recolha seu queixo caído e as possiveis observações, e siga. Do cenário incrível e do figurino para o grande elenco e a bela trilha sonora, há somente duas "penas": pena que os capítulos são curtinhos e pena se tiver que escolher qual é o melhor. IG @omelhordocinema
Bumblebee
3.5 538BUMBLEBEE (2018) é, dos Transformers, o mais adorável. E isso se dá, diferentemente das versões anteriores, criadas com a finalidade de reproduzir robôs lutando, pelo arco dramático entre Charlie e Bee. A jovem está de luto pela morte de seu pai e encontra em um fusca amarelo abandonado, mais do que o tão sonhado veículo, um amigo. O elenco é pequeno (em tamanho, não em qualidade) e só contribui para a fluidez da narrativa com jeitinho de anos 80. Não há conspirações ou maldades em excesso e a simpatia pelo robô desajeitado que faz um barulhinho de abelha é imediata. Para todas as idades, vá sem medo de errar - e com garantia de diversão e fofura - assistir Bumblebee.
IG @omelhordocinema
O Retorno de Mary Poppins
3.5 343 Assista AgoraPosso dizer que estava mais receosa do que ansiosa para ver Mary Poppins novamente. Algumas coisas, para mim, são intocáveis, e ela é uma dessas. Ter a pretensão de se equiparar a um clássico tem se tornado comum no cinema atual - com muita quantidade e carente de originalidade; porém, dá para afirmar que, nessa missão, Emily Blunt (sem tentar imitar Julie Andrews e menos calorosa) e O RETORNO DE MARY POPPINS (Mary Poppins Returns, 2018) se saíram bem. Ambientado na década de 1930, na era de crise econômica londrina, Poppins retorna para ajudar Michael e Jane Banks, agora adultos, a redescobrir a magia de viver. Além deles, o acendedor de lampiões, os três filhos de Michael e os incríveis personagens animados embarcam de novo na aventura musical e dançante da babá da maleta misteriosa e guarda-chuva falante que sobe e desce dos céus. As músicas são boas, mas estão a colheradas de distância de adoçar nossa memória como “Supercalifragilisticexpialidocious” (nunca consegui pronunciar isso). Melhor do que elas são as cenas coreografadas e descobrir Van Dyke em um pequeno número e o paradeiro do certificado de ações do banco logo no início (presta atenção). Precisávamos de outra Poppins? Talvez não. Mas também não há como negar que, sem ambições além de entreter, vê-la mais uma vez (ainda que de outra forma), com aquele padrão Disney de produção, não deixa de ser nostálgico e agradável - mesmo lágrimas não tendo escorrido.
IG @omelhordocinema
A Pé Ele Não Vai Longe
3.5 122 Assista AgoraTá bom... eu não resisto a Joaquin Phoenix! E minhas 3 estrelas em A PÉ ELE NÃO VAI LONGE (Don’t Worry, He Won’t Get Far On Foot, 2018) são (quase que) exclusivamente por ele. O novo filme de Gus Van Sant, sobre a trajetória do cartunista John Callahan, conhecido por seus desenhos controversos, seria um verdadeiro pé no saco se não contasse com o próximo Coringa. Vestido de manual de autoajuda, acompanhamos a luta - em 12 etapas - de John para se livrar da bebida, que o deixou tetraplégico, e para perdoar tudo e todos que lhe fizeram mal, inclusive a si mesmo. Infelizmente, ao se preocupar menos com o seu trabalho do que com uma vida alcoolizada antes e depois da cadeira de rodas, A Pé Ele Não Vai Longe se torna uma busca enfadonha por redenção e mensagens positivas, e não iria muito longe se não fosse pelo “O cara”.
IG @omelhordocinema
Museu
3.5 20Bem que eu tentei, mas um dos filmes mexicanos mais populares nos festivais desse ano me pareceu um pouco vazio. Uma pena. MUSEU (Museo, 2018), apesar de ter um questionamento interessante (sobre a justa propriedade de achados arqueológicos) e a performance sempre agradável de Gael García Bernal, escorrega em uma narrativa sem vida. Como uma réplica da história original, o filme de assalto de Ruizpalacios usa o roubo de mais de cem peças do Museu Nacional de Antropologia na Cidade do México, ocorrido em 1985, para exagerar no drama dos amigos Juan e Wilson, que cansados da mesmice, resolvem fazer algo diferente. A câmera e os efeitos sonoros frenéticos também são uma boa tentativa de dar um gás a Museu, porém o peso documental e a discussão dos direitos de artefatos históricos são perdidos no meio do caminho - iguais a tantas antiguidades roubadas.
IG @omelhordocinema
A Vida em Si
4.0 338 Assista AgoraVou contra a maré de críticas negativas. A VIDA EM SI (Life Itself, 2018) conseguiu me agradar. Através de suas cinco histórias, o novo filme de Dan Fogelman (de This Is Us) engendra uma teia toda certinha de eventos inesperados (até certo ponto) para contar a história de Will e Abby, um casal apaixonado que dá o start a uma sucessão de dramas - que me fez chorar. É clichê? É sim. Contudo, a busca por heróis e por narradores confiáveis, sustentada por um elenco de respeito, torna suas duas horas bem satisfatórias. Começa melhor do que termina, é verdade. Mas nem a aposta pelo caminho mais fácil prejudica a jornada de A Vida em Si como um todo.
IG @omelhordocinema
Colette
3.7 171 Assista AgoraGostaria de compartilhar que COLETTE (2018) é muito parecido com outro filme que vi há pouco tempo e já postei por aqui, mas não quero dar spoiler. O que naquele é um trunfo a ser revelado mais ao final; nesse é escancarado logo de cara. Colette é uma romancista francesa bastante popular, cuja personagem Claudine habitou diversos livros seus, e o imaginário, a cabeça e a vestimenta de muita gente no início do século 20. Oprimida pelo machismo da época, ela escreve, porém quem deita na cama é o seu marido, Willy, um bon vivant que só sabe se apoderar do talento alheio. Colette nunca se torna um filme ruim, no entanto, ao se concentrar no período pré-emancipatório, dá um tom melancólico e não faz justiça à grandeza e importância (tanto para a literatura, quanto para o feminismo) dessa escritora. Esse é o risco da visão microscópica de uma biografia e caberá a você, caso se interesse, correr atrás do restante de sua história.
IG @omelhordocinema
Um Mar de Esperança
3.3 10 Assista AgoraPelo que eu me lembre, UM MAR DE ESPERANÇA (Pulang, 2018) foi a minha primeira experiência com o cinema malaio, e apesar de boas avaliações, não me agradou. Baseado em uma história real, durante seis décadas, uma mulher espera o retorno do marido, que saiu a navegar ao redor do mundo para ganhar dinheiro. A volta prometida do marinheiro não acontece e agora, em seu leito de morte, ela pede ao neto que descubra o paradeiro do avô. Um filme sem arcos dramáticos, que aparenta baixo orçamento e não decide entre o romance e o mistério, restando, por fim, tão perdido quanto seu personagem. A trama de Um Mar de Esperança pode até ter seu mérito na realidade, mas na ficção não é mais do que um arroz com feijão sem tempero que demora (muito) a passar.
IG @omelhordocinema
Caixa de Pássaros
3.4 2,3K Assista AgoraA ideia que parece idêntica a de Um Lugar Silencioso também funciona bem em CAIXA DE PÁSSAROS (Bird Box, 2018), o novo filme de Sandra Bullock. No entanto, assim como sua fonte de inspiração, há pontos mal contados que, em parte, prejudicam a credibilidade do romance de Josh Malerman, ao aterrorizar e dizimar a população que vê mais do que deveria ou gostaria. Esse gênero trabalha com experiências sensoriais altamente estimulantes e emocionais (aquele com a fala e audição, esse com a visão), e logo em seus primeiros minutos já nos arrancam de nossa zona de conforto. Em seu melhor papel em anos, Bullock tem total domínio das duas horas apocalípticas de Caixa de Pássaros e a narrativa alternando entre o passado e o presente de Malorie (igual a Um Lugar Silencioso) tenta explicar (e nem sempre consegue) que diabos ocorre ali. Você olha, você morre. O tic tac do thriller somente é suspenso por pouquíssimos segundos de afeto. E só. O perigo é iminente e eminente, e semelhante a O Enigma de Outro Mundo e outros exemplares do horror, a sobrevivência em dinâmica de grupo é muito bem explorada. É provável que você já tenha visto a premissa de Caixa de Pássaros de uma ou outra forma, isso, todavia, não significa dizer que não vale a pena ver de novo ou que sua respiração terminará a mesma.
IG @omelhordocinema
Aquaman
3.7 1,7K Assista AgoraEle ainda não vive debaixo d'água, mas finalmente aceita seus poderes, já fala com os peixes e está prestes a assumir o trono de Atlantis, depois que seu meio-irmão ameaça entrar em guerra com a superfície. As duas primeiras aparições de Jason Momoa em Batman vs Superman e Liga da Justiça não conseguiram fazer muito barulho, mas o filme solo do herói subaquático, metade humano e metade atlante, chegou para contrariar as previsões pessimistas e a interpretação monossilábica da estrela de Game of Thrones. Agora vestindo a clássica roupa laranja e verde, James Wan não desacelera um minuto sequer, e apesar de faltar meia dúzia de respostas, um bom vilão e uma narrativa menos truncada, o carismo e a energia de Momoa e o espírito despretensioso de Aquaman, que investe fortemente na diversão, fazem seus longos 143 minutos serem encarados com facilidade. Aquaman não salva apenas Atlantis, consegue salvar também o universo DC, embora não seja tão inovador quanto Mulher Maravilha - tendo ainda a seu favor (ou melhor, a nosso favor) aquele shape.
IG @omelhordocinema
Mochila de Chumbo
2.4 1Na difícil arte de crescer sozinho, ninguém explica a Tomás o que ele mais quer saber: quem era o pai e como ele morreu. Agora, com sua MOCHILA DE CHUMBO (Mochila de Plomo, 2018), ele procura respostas, além da camisa de futebol, e o suposto assassino do pai. O peso simbólico que o pequeno protagonista de Darío Mascambroni carrega e esconde nas costas, a gente também sente, e à medida que as informações da trama são reveladas - tudo no seu devido tempo - a sensação de impotência em ampará-lo vem junto. É inevitável, mas há um porém: mesmo com toda naturalidade de uma história cotidiana e seus personagens, essa Mochila argentina emociona menos do que o esperado.
IG @omelhordocinema
Mary Shelley
3.7 224Há mais de 200 anos, Mary Wollstonecraft Godwin mostrava ao mundo o seu Frankenstein ou o Prometeu Moderno. Para uma jovem de 19 anos, na época, o macabro drama do doutor Victor Frankenstein, que criara um monstro em seu laboratório através de partes distintas de vários cadáveres, e depois o repugnara, era inapropriada - como leitora, e muito pior como autora. Contudo, Mary, desejosa de se libertar dos papéis convencionais do gênero, tinha talento suficiente para enfrentar o machismo do mundo literário e transformar o histórico de abandono que suportara até então em inspiração para a primeira obra de ficção científica da história. MARY SHELLEY (2017) pode não ser seu melhor retrato, mas tem uma Fanning à altura da biografada, além de ser um bom começo para quem ainda não conhece essa feminista pioneira, que alcançou a grandeza cedo demais e o reconhecimento tardio demais.
IG @omelhordocinema
A Esposa
3.8 557 Assista AgoraBaseado no livro de Meg Wolitzer, A ESPOSA (The Wife, 2017) talvez seja a melhor chance da Academia reconhecer o talento de Glenn Close. Ela simplesmente não faz o filme, ela é o filme. Dando uma aula de interpretação, Glenn é soberba como a fiel e dedicada esposa de Joe, um escritor prestes a ganhar o Nobel de Literatura. Orgulhosa de seu marido, a todo momento, ele também não se esquece de agradecer a mulher e exaltar sua importância em seu processo criativo. Mas o buraco é mais embaixo e agora Joan precisa pesar até onde ela perdeu com essa parceria. A Esposa trabalha em cima do "por trás de um grande homem, há sempre uma grande mulher" e abertamente critica o sexismo no mundo literário e a marginalização das esposas como "criadora de reis". Um drama relativamente simples que só ganha ares de plenitude pela carga emocional e as muitas camadas compostas por Glenn. Uma cereja do bolo rara que faz a gente só desejar ver ela em ação de novo.
IG @omelhordocinema
El Motoarrebatador
3.6 1Em uma cidade argentina, dois bandidos cometem a famosa saidinha de banco. Elena acabara de sacar dinheiro e ao ter sua bolsa arrancada, é gravemente ferida. Mas Miguel, o motoqueiro, se arrepende do assalto e tenta consertar o estrago, mal sabendo todas as consequências que o seu passado transgressor irá lhe causar. Fruto da realidade social de uma Argentina à beira da falência, EL MOTOARREBATADOR (2018) é construído em cima do dilema moral de seu personagem-título. Agustin Toscano, com isso, em seu segundo longa, questiona duas relações: remorso x reparação e vítima x vitimizador. E amparado pelo desempenho convincente de seus dois protagonistas e misturando drama e comédia, com credibilidade e fugindo do maniqueísmo, demonstra que ninguém é de todo bom, nem de todo mau. Igual ao seu El Motoarrebatador.
IG @omelhordocinema
Tempo Compartilhado
2.9 42Sem saber como fui parar em TEMPO COMPARTILHADO (Tiempo Compartido, 2018), após assistir a ele, não consigo entender porque sua avaliação é tão alta. Tem muita coisa errada por aqui: tanto no filme de Sebastián Hofmann, quanto na história de Pedro, que se vê envolvido em uma série de tragédias sinistras ao chegar em um resort paradisíaco com sua família para passar férias. Paralelamente, nesse mesmo cenário de transformação de sonho em realidade (ou pesadelo), conhecemos Andres, um funcionário exemplar do hotel que sofre um colapso e perde o respeito até da mulher. Visões estranhas acontecem para os dois e o roteiro tenta, tenta e tenta vender uma paranoia sombria, mas Tempo Compartilhado, mesmo com esforço (nosso), não faz muito sentido e não deixa de ser tempo perdido.
IG @omelhordocinema
Cam
3.1 549 Assista AgoraFui levada a CAM (2018) por uma enxurrada de indicações. E confesso que esperava bem mais da história da webcamer erótica que tem sua conta roubada por uma sósia. Indo além dos perigos da tecnologia tingidos de néon, o cyber-thriller de Daniel Goldhaber propõe um estudo de personagem mais complexo do que inicialmente imaginamos. Uma mistura de Dostoiévski com Black Mirror, Alice se funde a Lola, que passa a não saber mais quem é de verdade. E nesse ínterim, nós também nos perdemos e o que poderia ser bem mais interessante é insatisfatoriamente concluído. Além das divagações metafóricas (que particularmente gosto), a atuação de Madeline Brewer faz com que Cam não seja completo desperdício, e na mesma proporção da duplicidade de Dostô, Cam vai agradar e desagradar. Caberá a você decidir qual lado escolhe. Valendo!
IG @omelhordocinema
3 Faces
3.7 39Sigo me questionando como Jafar Panahi ainda consegue fazer filmes no Irã. E como consegue fazer filmes do jeito que faz. O cineasta iraniano, vencedor de Cannes em 1995, está impedido de deixar seu país desde 2010, acusado de conspirar contra o governo, mas essa proibição, no entanto, parece pouco afetar sua produção cinematográfica. 3 FACES (Se rokh, 2018) é o quarto filme do diretor em sete anos e significa, assim como Fora do Jogo, uma carta (relativamente) aberta às restrições impostas às mulheres na sociedade iraniana. Dessa vez, ele troca a cidade grande e o estádio de futebol pela zona rural do Irã e começa com um mistério central: o vídeo de uma jovem que aparentemente comete suicídio. Assim, Panahi e Behnaz Jafari, fazendo versões de si mesmos, partem para o interior para visitar a aldeia da garota e investigar a veracidade do caso. Não obstante, o tal vídeo é apenas uma desculpa para retratar o Irã de hoje, tão similar ao de ontem, com todas as suas barreiras culturais e conservadorismo tradicional. Em 3 Faces, Panahi nada mais que espelha - em suas três heroínas - o que é tentar levar a vida de artista diante de um Estado patriarcalmente intransigível. E assim lutemos, junto a ele, para que seus filmes não morram no Irã.
IG @omelhordocinema
A Professora do Jardim de Infância
3.6 85 Assista AgoraConforme o enredo toma forma, os primeiros sinais de incômodo começam a surgir em A PROFESSORA DO JARDIM DE INFÂNCIA (The Kindergarten Teacher, 2018). A gente não sabe onde aquilo vai parar e a incerteza constante do que vai acontecer na próxima cena causa a sensação de que algo está desequilibrado na história da professora do jardim de infância que fica obcecada pelo talento poético de um de seus pequenos alunos. O remake do drama israelense de Nadav Lapid, lançado em 2014, nos consome rapidamente, assim como o entusiasmo de Lisa por Jimmy, e apesar da narrativa oferecer pouco material a Maggie Gyllenhaal, ela dá conta do recado e mostra tudo - que nos é permitido conhecer - diretamente em seu rosto. Ela faz dupla com o carismático (leia-se: fofo) Parker Sevak e juntos, tão hipnotizantes quanto inquietantes, nos levam a algo estranhamente bom de ver.
IG @omelhordocinema
De Repente uma Família
4.0 330 Assista AgoraInspirado em sua própria experiência, Sean Anders propõe uma comédia leve para dizer aos futuros pais de coração o que exatamente podem esperar de uma adoção. Sem floreios, somos apresentados a Pete e Ellie, um casal inscrito em um programa de treinamento para futuros pais adotivos e que acaba tendo a rotina sacudida pela chegada de um trio de irmãos. Dispostas a não facilitar para eles, as crianças vão testar os limites da vontade (de todos) na construção dessa família instantânea. Apostas confortáveis, Wahlberg e Byrne trazem seu habitual apelo em tela, e embora funcione mais pelo dramático do que pelo humor, não ficaremos incomodados por - quase sempre - estarem no mesmo tipo de papel. DE REPENTE UMA FAMÍLIA (Instant Family, 2018) pode não ser o veículo perfeito para a mensagem de que, na paternidade afetiva, nem tudo é um mar de rosas, mas é sincero ao mostrar que nenhum tipo de família assim será.
IG @omelhordocinema
As Viúvas
3.4 410Vá para ver Viola (e somente ela) em AS VIÚVAS (Widows, 2108) e não sairá (tão) decepcionado. Como um dos mais superestimados do ano, há quem diga, inclusive, que vai rolar indicações ao Oscar aí. Duvido muito. O novo filme de Steve McQueen reinventa uma famosa série de TV dos anos 1980, em que um trio de viúvas resolve dar continuidade ao plano criminoso dos maridos mortos durante um assalto, mas, na real, quem sai se sentindo roubado é você. Primeiro, enganam a gente com um super elenco: totalmente desperdiçado. Depois somos ludibriados pelo peso do nome de Gillian Flynn no roteiro e do próprio McQueen na direção: olha o golpe aí de novo. Além disso, As Viúvas pretende acertar muita coisa (suspense, feminismo e questões sociais), mas o tiro acaba saindo pela culatra e esse crime, ops, esse filme acaba não compensando.
IG @omelhordocinema
O Ódio que Você Semeia
4.3 457Em um bairro suburbano, um pai se senta à mesa com seus filhos e precocemente os alerta sobre o racismo sistêmico americano. São três crianças que ainda não possuem discernimento para entender o Programa dos 10 Pontos dos Panteras Negras, mas já sabem o peso que a cor de sua pele terá em suas vidas. É desse jeito que George Tillman Jr. inicia O ÓDIO QUE VOCÊ SEMEIA (The Hate U Give, 2018), uma adaptação do bestseller de Angie Thomas: dando um soco no nosso estômago. Se não nascemos odiando, como e quando aprendemos isso? É essa pergunta que martela a cabeça de sua heroína, Starr - com dois erres mesmo, a cada desdobramento ocorrido após presenciar a morte de um amigo por um policial. Ela tem apenas 16 anos e já viu muito mais do que seus colegas de escola, que vivem outra realidade. Entre esses dois mundos tão distantes e as duas versões de si mesma, Starr precisa encontrar o seu lugar e voz para que famílias como a sua não continuem sofrendo, geração a geração, com o sectarismo racial. O Ódio que Você Semeia deriva do acrônimo “Thug Life” do rapper Tupac e, embora tenha uma resolução relativamente simples e um pouco romântica, se transforma em uma mensagem poderosa e necessária em tempos tão difíceis: a mudança está dentro de nós e naquilo que passamos às nossas crianças.
IG @omelhordocinema
Robin Hood: A Origem
2.8 297 Assista AgoraSe o povo inglês do século XII dependesse desse Robin Hood de 2018, estaria ferrado. Já tivemos várias versões do herói encapuzado: umas ruins, outras estranhas; mas é difícil pensar em uma menos necessária do que a de Otto Bathurst. Bem que ROBIN HOOD - A ORIGEM (Robin Hood, 2018) se esforça para ser descolado e relevante, mas falha em todos os aspectos. Sobre a origem da famosa lenda do ladrão que rouba dos ricos para dar aos pobres, pouco há de interessante, e acaba sobrando confusão no roteiro e cenas de ação em câmera lenta sem emoção nenhuma. Assim, entre o trailer de Robin Hood - A Origem e o filme em si, não hesitaria, por um minuto sequer, em ficar com o primeiro. O segundo é só para jogar dinheiro fora.
IG @omelhordocinema
Caixa de Recordações
4.1 22Do pouco conhecido cinema peruano, não guardo lembrança de nenhuma obra. Eis que, por acaso, me deparo com RETABLO (2017), a história de um menino que tem seu pequeno e isolado mundo revirado depois da descoberta de um segredo do pai. O que resta a ele, agora, é decidir se segue o ofício da família de artesão de retábulos (pequenos santuários coloridos que retratam situações cotidianas) ou se foge dos olhos incompreensíveis da comunidade em que vive. Por entre portas, janelas e caixas, imitando os próprios retábulos, Delgado-Aparicio coloca suas câmeras e nos aprisiona à mesma sensação que confina seus personagens àquela realidade retrocessa. De outro lado, a cinematografia pinta os Andes como um belíssimo pano de fundo e o drama do menino, embora lento no início, suga o nosso emocional de tal maneira que, ao final, não sabemos se choramos de revolta ou de amor. O que tem de triste, tem de bonito em Retablo, e que os bons ventos continuem a trazer obras como essa, ou melhor, que não haja mais motivos para obras como essas serem feitas.
IG @omelhordocinema
Nada a Esconder
3.6 473 Assista AgoraNADA A ESCONDER (Le Jeu, 2018) é para ganhar o dia, ou o jantar, se preferir. Mesmo diante de um elenco promissor e conhecedora da matriz, não estava preparada para me surpreender (o que me diz da cena da ponte?), afinal amigos reunidos ao redor de uma mesa comediando a vida privada em um cenário único não é das ideias mais originais (esse é o terceiro, por sinal) e nem sempre um remake francês dá certo. Pois bem, aconteceu. Se a ignorância é uma benção, em tempos de redes sociais, está cada vez mais difícil manter essa graça divina longe dos olhos e ouvidos alheios. O celular se tornou a caixa preta dos relacionamentos, não importando qual seja, e o seu rompimento, ou desbloqueio, pode gerar consequências inimagináveis. Cabe a nós, ou a eles, no caso, decidir se estão dispostos a revelar seus segredos mais íntimos. Como no amor e na amizade, muitas vezes é melhor não saber de tudo. E a única coisa aqui que você realmente precisa saber é que Nada a Esconder vale muita a pena ser assistido - junto, é lógico, aos outros dois Perfeitos Desconhecidos.
IG @omelhordocinema
A Balada de Buster Scruggs
3.7 534 Assista AgoraCom seis histórias rápidas e rasteiras sobre o Velho Oeste americano, projetadas como a adaptação cinematográfica de um livro, THE BALLAD OF BUSTER SCRUGGS (2018) é mais uma das chances da Netflix cruzar o tapete vermelho em 2019. Daqueles malucos dos Coen (que a gente tanto ama), cada uma é contada em separado sem perder o foco na descrença humana e o senso de humor distinto dos Irmãos. Tão capazes de surpreender, eles manjam - como ninguém - de dar e tirar o doce da nossa boca. E aqui não é exceção. Quando você menos espera, bingo! Tudo tem que ser processado rapidamente, pois mal termina uma, a outra já começa. Recolha seu queixo caído e as possiveis observações, e siga. Do cenário incrível e do figurino para o grande elenco e a bela trilha sonora, há somente duas "penas": pena que os capítulos são curtinhos e pena se tiver que escolher qual é o melhor.
IG @omelhordocinema