Adoro dramas, só que às vezes não tenho paciência para aguentar a carga que o personagem insiste em carregar e se afundar (eu sei, é contraditório). No início, MADE IN ITALY (2018) vai na direção certa, abordando o colapso socioeconômico italiano e o machismo de Riko que sempre prefere os amigos, além de achar que pode trair a esposa e não suporta o contrário, mas do meio em diante se torna insuportável sustentar a crise existencial de um homem que já passou da hora de crescer. Como drama cotidiano, Made in Italy é um produto legitimamente italiano, e sua marca também está na música onipresente e nas maravilhosas locações que apresenta, porém, para mim, é válido apenas como uma bela homenagem à Cidade Eterna. IG @omelhordocinema
DURANTE A TORMENTA (Durante la Tormenta, 2018) seria melhor se não fosse tão previsível. Não dá para dizer que o novo trabalho do diretor espanhol Oriol Paulo - mestre das ilusões e pistas falsas - não segura o espectador até o fim, contudo essa proeza se dá mais pela intensidade de Adriana Ugarte do que pelo seu roteiro labiríntico. Onde nada é o que parece e o que parece não é real, Vera entra em um espiral de espaço e tempo para salvar a vida de um menino desconhecido e recuperar a existência da própria filha e de sua história. Só que, assim como em todos os outros filmes de looping, alterar o passado pode causar danos irreparáveis no futuro. Nesse jogo de idas e vindas, dá para matar a charada logo de cara e só nos resta esperar o final para confirmar aquilo que já sabemos: Durante a Tormenta é bom, mas não é o melhor que Oriol pode fazer. IG @omelhordocinema
ABZURDAH (2015) traz tantas cartas para serem usadas, mas infelizmente cai no erro de querer jogar todas de uma só vez. Relacionamentos tóxicos, negligência familiar, autodestruição e distúrbios alimentares: os assuntos da vez mal executados, tratados superficialmente e, algumas vezes, de forma imprudente. Baseado no romance autobiográfico de Cielo Latini, conta a história de uma adolescente de classe alta que oscila entre os caprichos de uma menina mimada e os problemas mais profundos de sua geração. De maneira rápida, tudo acontece e se repete, e facilmente se resolve, restando, assim, a nossa empatia pelo tema, e não pelos personagens. Para o catálogo da Netflix, Abzurdah está acima da média. Para o cinema argentino, está abaixo da expectativa e sem motivo para bater recordes de bilheteria. IG @omelhordocinema
UM BANHO DE VIDA (Le Grand Bain, 2018) é mais do que rir de um bando de homens de meia-idade, mal sucedidos e fora de forma, enfrentando seus monstros emocionais, que colocam uma sunga colorida e vão tentar sincronizar seus movimentos e suas vidas na piscina para representar a França no Campeonato Mundial. O trabalho de Gilles Lellouche é a demonstração de como o cinema francês consegue ser tão bom com pouca coisa. De grande, o elenco e um roteiro que escolhe nadar rumo à leveza da superação, ao invés de afundar na dureza dos problemas cotidianos. Alguns personagens exagerados, algumas situações forçadas, mas a mensagem é dada com a mesma naturalidade e alegria de uma conversa informal entre amigos. IG @omelhordocinema
Em NÓS (Us, 2019), uma família americana vai passar as férias em uma casa na praia e acaba enfrentando o horror quando versões macabras deles mesmos aparecem para atormentá-los. Mas como estamos falando de Jordan Peele, nada é tão simples quanto parece. Cheio de pistas a serem decodificadas, a segunda empreitada do diretor de Corra! persegue Adelaide e sua família, e centra seu mistério na natureza dos amarrados, seres idênticos a eles, vestidos de vermelho e portando uma tesoura dourada. Quem são e o que querem? Pouco a pouco, através de flashbacks, muitas referências e aquela trilha sonora marcante, as respostas tomam forma. Porém, nem todas. Peele vai deixar em sua mente mais do que responde e tem o cuidado de não exaltar nenhum dos seus heróis e nem punir seus vilões, afinal somos o resultado do meio em que vivemos e não dá para esconder que vivemos na hipocrisia. Coisa de gênio, sabe? Engana-se quem, ao final, achar que o maior enigma de Nós é quanto a sua história. Os seus questionamentos se voltam a nós mesmos: como se devêssemos encarar o espelho. E que comecem as interpretações. IG @omelhordocinema
O dilema que parece ser central na adaptação do romance de Ian McEwan esconde outro maior e mais polêmico. A proibição da transfusão de sangue em um jovem de 17 anos por ser Testemunha de Jeová vai parar nas mãos de uma juíza da Suprema Corte, no entanto, ela, acostumada a tantos outros casos difíceis, terá que tomar decisões que vão ultrapassar sua toga. UM ATO DE ESPERANÇA (The Children Act, 2017) tenta ser um drama além dos tribunais e passar uma seriedade que inexiste, usando Emma Thompson para salvar, em boa parte do tempo, da bobeira que o roteiro insiste em direcionar. A aleatoriedade dos desdobramentos frustra quem está assistindo e não conseguimos descobrir o que é ou o que quer dizer tudo aquilo que está acontecendo. Assim, exceto pelo desempenho sempre empático de Thompson, não vejo outro motivo para ir em busca de Um Ato de Esperança. IG @omelhordocinema
Seguindo a mesma linha do recente Querido Menino, O RETORNO DE BEN (Ben is Back, 2018) é outra representação do drama de milhares de famílias que sofrem com a epidemia americana do vício em opiáceos. Cada vez mais, essas histórias reais estão sendo contadas na tela e, em ambas, apesar do tema pesado, é o desempenho de seu elenco que o realiza. Aqui, especificamente de Julia Roberts, como a mãe de Ben, um viciado que de surpresa retorna para casa após uma temporada de internação e consegue desestabilizar toda a família. Não tão explícito, é aos poucos que Ben revela o que fez para sustentar o vício e a mãe se dá conta que não o conhece por inteiro e que nunca pode se confiar em um dependente. Dentro desse amor incondicional, Julia oscila entre a paixão pelo filho e a razão de fazer o certo: e é aí que ela se entrega de verdade e vai ganhar você. Pena que O Retorno de Ben, em meio às aventuras implausíveis de mãe e filho, cai na tentação do sentimentalismo excessivo. Fiquemos, então, com Roberts, que é o que o faz sobressair. IG @omelhordocinema
Clint Eastwood é “O” cara. No entanto, A MULA (The Mule, 2018) não é “O” filme. Em seu novo trabalho, como produtor, diretor e ator, ele transporta drogas para o cartel mexicano, faz sexo casual e encara a bandidagem na boa, mas nem com toda a admiração que tenho por ele, dá para defendê-lo. Apesar da lição que tenta passar de que a família deve estar sempre em primeiro lugar (uma escancarada autoanálise de sua trajetória profissional), A Mula não apresenta nada de interessante e descarta sem dó a presença de Bradley Cooper (para não dizer outros nomes). Duas horas intermináveis de um roteiro sem graça, sem surpresas e que me fizeram questionar o motivo de entrar no cinema: só por você mesmo, Clint. IG @omelhordocinema
É bem difícil desassociar a atuação de Victor Polster do drama vivido por Lara. O premiado GIRL (2018) é inspirado em uma história real e você acredita que está vivenciando aquilo com sua personagem, quase como em um documentário. Lara - antes também Victor - não quer ser exemplo ou inspiração para ninguém, apenas quer ser uma garota comum: frequentar a escola, dançar ballet, ter amigas e namorar, contudo, para sua infelicidade, nasceu no corpo errado. Ao mesmo tempo em que o filme de Lukas Dhont abraça através da delicadeza da menina e da doçura de seu pai, ele expurga toda a dor que Lara tenta esconder ao passar pelos desafios da puberdade e da adequação de gênero em uma sociedade aparentemente mais evoluída do que a nossa. Onde começa a história de Lara, não sabemos; mas que ela não está bem e que seus pés machucados suportam mais do que o peso de um corpo que não reconhece, disso teremos certeza. IG @omelhordocinema
Por que você acha que pode matar um homem? Porque eu sou o Liam Neeson e ninguém se atreve a mexer com a minha família. Você também terá a impressão de já ter visto esse cara por aí, mas agora em VINGANÇA A SANGUE FRIO (Cold Pursuit, 2019), a fúria dele é causada pela morte do seu filho. Ele - então e como sempre invencível e armado - vai atrás dos responsáveis pelo crime. Filmes de vingança de Liam Neeson já viraram um gênero próprio, como também já cansaram, e nesse aqui (um remake do norueguês O Cidadão do Ano) ele some boa parte do tempo, dando lugar a uma família rival de nativos americanos. Para alguns, as pitadas de humor negro até que divertem, mas com certeza você já deve ter visto Liam Neeson em coisa melhor. E tanto ele quanto nós merecemos mais. IG @omelhordocinema
O que sobra no elenco e na direção, falta nas supresas em OPERAÇÃO FRONTEIRA (Triple Frontier, 2019). Enquanto a ação explode desde o começo, seus personagens mal desenhados dificilmente mantém conexão com o espectador e a impressão é de que já sabemos o que vai acontecer adiante. As consequências do crime (o assalto ao cofre de um poderoso chefão da Tríplice Fronteira por ex-agentes especiais americanos) levam mais tempo em tela do que sua preparação e execução, e talvez por saber tão pouco sobre cada um deles, não torcemos tanto para que o final seja feliz. E não é - pelo menos para quem está assistindo. Diante desse bom quinteto (em todos os sentidos), esperamos mais, mas recebemos o suficiente para preencher uma tarde. IG @omelhordocinema
A estreia na direção de Chiwetel Ejiofor, sobre um menino simples no Malaui que constrói uma turbina eólica e transforma a vida de sua aldeia, dá aquele bem estar que as histórias de superação costumam causar, mas junto vem também a sensação de que poderia ser muito mais do que foi. Com raras surpresas, salvo o desempenho de Maxwell Simba, O MENINO QUE DESCOBRIU O VENTO (The Boy Who Harnessed the Wind, 2019) é todo didático e ensina o poder da educação como instrumento de libertação. Entretanto e estranhamente, o filme não explora nada em detalhes: nem a crise socioeconômica da região, nem a relação familiar, e muito menos a incrível descoberta do garoto. Do jeito que ficou, O Menino que Descobriu o Vento atinge algumas notas emocionais e inspiradoras; infelizmente, é na mesma proporção que a incompletude do seu roteiro. IG @omelhordocinema
Adaptar uma história verdadeira para o cinema requer equilíbrio. A obra deve permanecer fiel aos eventos reais, mas também precisa envolver ou divertir o espectador. SOMENTE O MAR SABE (The Mercy, 2017) não consegue cumprir nenhuma das duas coisas e se esquece de tornar um bom filme. Até começa bem, tem uma biografia em potencial e a expectativa é alta por causa de Colin Firth e Rachel Weisz no elenco, mas a trajetória ao redor do mundo de Donald Crowhurst se torna chata e morosa minutos após ele embarcar na aventura tão sonhada. Sem emoção, Somente o Mar Sabe é um barco furado que é melhor você pular fora o quanto antes ou ir direto ao final para saber o destino de seu navegante. IG @omelhordocinema
Como documentário de uma personalidade, FREE SOLO (2018) não convence tanto quanto a informação do acontecimento que agrega suas imagens. É indiscutível a grandiosidade do feito de Alex Honnold: o primeiro a escalar livre o paredão de El Capitan no Parque Nacional de Yosemite. O mesmo não pode ser dito de seu personagem. Sem nenhum carisma, ele está lá em cima por si só, sem cordas ou qualquer outra proteção, e não há espaço para erros - a consequência é a morte. Grande parte da ousada obra de outro expert dos picos é a preparação para a subida solo de Alex, incluindo a escolha da equipe que o acompanhará, o treinamento, as frustrações e os questionamentos sobre a sua incrível armadura emocional. No entanto, nada disso é tão fascinante quanto à captura de takes de causar vertigem até aos mais acostumados com altura. Subir solo já é algo extremamente perigoso e desafiador, imagina com câmeras e drones capturando cada movimento, cada respiração e possivelmente uma queda fatal. Mas a trajetória até o grand finale parece ser prolongada mais do que o devido e o que deveria ser 100% emocionante, chega apenas aos 70%. Sem dúvida, é um testemunho de técnica e insanidade que merece ser visto. Para ganhar um Oscar? Tenho lá minhas dúvidas. IG @omelhordocinema
Até onde vai o amor de um pai? É verdade que o fruto não cai muito longe da árvore? SEU FILHO (Tu Hijo, 2018) tenta responder essa pergunta. Ultrapassando os princípios pessoais e profissionais, Jaime leva a vingança pelo espancamento de seu filho em uma casa noturna até as últimas consequências. A história por trás da violência sofrida pelo rapaz é maior do que aparenta, mas nada de tão surpreso ou que já não tenhamos visto antes. José Coronado é a estrela absoluta dessa mistura de thriller e drama espanhol, em que verdades vão lentamente aparecendo e caberá a cada personagem tomar uma atitude ou simplesmente deletar o que viu. E, ao final, você também vai se perguntar: o que será que eu faria no lugar de cada um deles? IG @omelhordocinema
Performances sólidas (embora repetidas) e ação quase ininterrupta sustentam as duas horas de CAPITÃ MARVEL (Captain Marvel, 2019), uma das estreias mais aguardadas do ano. Não é spoiler dizer aqui que Carol, a futura Capitã Marvel, é uma ex-piloto da Força Aérea dos EUA; a diversão estará em descobrir como ela foi parar - com os seus superpoderes - na guerra intergalática entre os Krees e os Skrulls. Tinha lá minha dúvida se Brie era a escolha certa para o personagem (não por falta de talento, mas por preferir seus papéis dramáticos) e me enganei. Ela dá conta do recado e imprime uma poderosa presença como a maior super-heroína da Marvel. O mesmo não pode ser dito de seu adversário: como se apresenta um ícone feminino tão grande sem um vilão à altura? E é cada explicação mal contada. Boa trilha sonora com vários hits dos anos 90 e um felino misterioso fecham esse pontapé inicial de novas aventuras de Capitã Marvel, que realmente não é de cair o queixo, mas ainda tem o suficiente para manter o público interessado. E a expectativa só aumenta. IG @omelhordocinema
Demorei a reconhecer Mario Casas na pele d’O FOTÓGRAFO DE MAUTHAUSEN (El Fotógrafo de Mauthausen, 2018), centrado na figura de Francesc Boix, espanhol comunista preso entre 1941 e 1945, que usou sua câmera como arma contra o Terceiro Reich, fornecendo evidências e testemunhando nos julgamentos de Nuremberg. Clichês não faltam no filme de Mar Targarona, que também está longe de ser uma superprodução, mas seria injusto não destacar, diante do não conhecimento (meu, pelo menos), a relevância dessa fatia da história nazista - até porque o cinema vem exaurindo o tema sobre os mesmos protagonistas das mesmas nacionalidades. A narrativa é fluida e direta, sem rodeios e sem artifícios de câmera, porém, se compararmos com outras obras que ousaram retratar essa tragédia, O Fotógrafo de Mauthausen não emociona tanto e apenas se sobressai por se tratar de um ângulo diverso do que já foi exposto até então. IG @omelhordocinema
Steve Carell interpreta o jornalista David Sheff, cujo filho de 18 anos, Nic, se tornou dependente, principalmente em cristal, uma metanfetamina que vicia mais que heroína e destrói mais que o crack. Nic diz que a droga transforma sua vida preta e branca em cores, mas o reduziu de um promissor escritor a uma criatura mentirosa que a família dificilmente reconhece. Em grande parte, QUERIDO MENINO (Beautiful Boy, 2018) consiste na luta de um pai amoroso para entender o que aconteceu com o filho tão bem cuidado e com tudo que um lar de classe alta pode proporcionar, sempre tentando tirá-lo do seu estado catatônico, de mais baixos do que altos. Assim como a doença de Nic, a história de Van Groeningen tem muitas recaídas e infinitamente gira em torno do próprio eixo, porém as atuações de Carell e Chalamet transcendem qualquer crítica e lidam de forma sensível e sutil com a psique de seus dois protagonistas torturados por uma realidade sombria. Um destruidor de corações que vale pelo elenco; o restante nem tanto. IG @omelhordocinema
A CAMINHO DE CASA (A Dog's Way Home, 2019) é mais um do gênero em que um animal - quase inevitavelmente um cachorro - é separado de seu dono e tem uma série de aventuras ao tentar retornar para casa. Esses filmes de família atraem todas as idades, especialmente os amantes dos peludos, e pretendem dar a visão de mundo do animal. Aquela velha fórmula que muito depende da fofura canina e da edição de cenas para apoiar a perspectiva de quatro patas. A Caminho de Casa atende todos esses requisitos, mas com pouca emoção e esbanjando situações infundadas, não passa de um Sessão da Tarde para agradar a criançada. IG @omelhordocinema
TODOS JÁ SABEM (Todos lo Saben, 2018) não é exatamente o que todos esperam. Contando com um elenco (de língua espanhola) dos sonhos, Asghar Farhadi entrega mais um drama familiar onde um evento aparentemente regular vira de cabeça para baixo, quebra todos os conceitos preestabelecidos para os seus personagens e leva o público a uma jornada de reviravoltas. Diante de uma tragédia ocorrida na família de Laura, o filme foca nas consequências de suas decisões passadas e presentes e no fardo de conhecer a verdade. O problema é que tudo demora tanto para acontecer que vai desinteressando até culminar em um desfecho insatisfatório. O que facilmente poderia ser resolvido em 90 minutos, dura 40 a mais. A gente já sabe que Todos Já Sabem vale pelo quarteto de performances maravilhosas e variadas; enquanto isso o roteiro se arrasta e quase cruza as fronteiras da telenovela. IG @omelhordocinema
ÁRVORE DE SANGUE (El Árbol de la Sangre, 2018) é a história da história. Um jovem casal se muda para uma antiga casa em uma vila espanhola para escrever a história de suas famílias, entrelaçadas como as raízes de uma árvore ou seus próprios dedos que podem circundar o tronco. Mas durante a narrativa desse texto, alguns segredos são desenterrados e o final pode não ser tão feliz assim. Poético, não? Essa é a intenção de Árvore de Sangue, contudo, sem êxito, da cena inicial ao seu desfecho, nada parece ser feito naturalmente. Para aqueles que iniciaram, o desafio é continuar em frente. Confuso no começo, as peças são encaixadas a partir do segundo ato, no entanto, o que esperamos da terceira parte não vem e chega a ser cômico como tudo termina. Dá para assistir? Dá! Mas dava para fazer melhor do que isso também. IG @omelhordocinema
Com crianças furtando lojas e supermercados, ASSUNTO DE FAMÍLIA (Manbiki kazoku, 2018) levou o maior prêmio de Cannes no ano passado e combina sentimentalismo com uma crítica social contundente em um Japão contemporâneo e distante daquilo que pressupomos. O afeto pelos personagens de Kore-eda é imediato e nem por um momento repreendemos a forma como aquela família escolheu para sobreviver. Ao contrário, o que torna Assunto de Família tão arrebatador é outro tipo de escolha: de como eles se elegeram integrantes desse clã e a gratidão por ter um ao outro. Há coisas acontecendo entre os seus membros e eles serão ainda mais desafiados pela chegada de Yuri, uma menina adotada informalmente que encontra naquele ambiente apertado e promíscuo um lar que não teve em sua própria casa. O que eles têm de criminosos, têm de heróis, e nós encontramos – e nos reconfortamos – neles a graça de ser feliz em simples e pequenos momentos da vida cotidiana. Que delícia de assistir e de saber que filmes assim ainda são feitos. IG @omelhordocinema
A continuação da trajetória do ganhador do Oscar de 2017, Barry Jenkins, é um romance delicadamente imbuído de dignidade e inteligência. Tendo como pano de fundo o racismo institucionalizado, SE A RUA BEALE FALASSE (If Beale Street Could Talk, 2018) foi baseado na obra de James Baldwin, publicada em 1974, e tem uma mistura de personagens cativantes e uma trilha sonora magnífica. A saga de uma família em busca de justiça, no Harlem dos anos 1970, foi e continua sendo assunto sério, e Jenkins insiste em não abrir mão da delicadeza e da aura de sonho mesmo com temas tão enfurecedores e infelizmente com finais predefinidos. Esse tipo de abordagem deu certo em Moonlight, e funciona ainda mais em Rua Beale, que está muito longe de ser exclusiva de Nova Orleans. IG @omelhordocinema
Vamos combinar que o primeiro A Morte Te Dá Parabéns passava longe do terror, mas entre uma cena e outra, dava alguns pequenos sustos. Em A MORTE TE DÁ PARABÉNS 2 (Happy Death Day 2U, 2019), o medo é esquecido de vez para dar lugar à comédia e ao romance adolescente. Pegando o gancho de De Volta para o Futuro 2 e com uma explicação científica confusa, Tree é recolocada no mesmo loop de tempo de aniversário que é reiniciado a cada vez que ela é morta. Enquanto no antecessor ela tinha a missão de descobrir a identidade de seu assassino escondido atrás da máscara de bebê, desta vez não apenas um novo vilão está à solta, como também surge uma linha do tempo alternativa, onde sua mãe ainda está viva e o seu namorado está com outra. Jessica Rothe volta ao papel principal e vende (e vale) todos os momentos, mesmo os mais forçados. Mas A Morte Te Dá Parabéns 2 não se esforça para ser mais do que realmente é: o peso fica só no nome e se inclina ainda mais para a tolice. Sabendo disso, não há como se decepcionar e não se divertir. E para quem curtir: parte 3, aí vamos nós! IG @omelhordocinema
Made in Italy
3.1 6Adoro dramas, só que às vezes não tenho paciência para aguentar a carga que o personagem insiste em carregar e se afundar (eu sei, é contraditório). No início, MADE IN ITALY (2018) vai na direção certa, abordando o colapso socioeconômico italiano e o machismo de Riko que sempre prefere os amigos, além de achar que pode trair a esposa e não suporta o contrário, mas do meio em diante se torna insuportável sustentar a crise existencial de um homem que já passou da hora de crescer. Como drama cotidiano, Made in Italy é um produto legitimamente italiano, e sua marca também está na música onipresente e nas maravilhosas locações que apresenta, porém, para mim, é válido apenas como uma bela homenagem à Cidade Eterna.
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Durante a Tormenta
4.0 901 Assista AgoraDURANTE A TORMENTA (Durante la Tormenta, 2018) seria melhor se não fosse tão previsível. Não dá para dizer que o novo trabalho do diretor espanhol Oriol Paulo - mestre das ilusões e pistas falsas - não segura o espectador até o fim, contudo essa proeza se dá mais pela intensidade de Adriana Ugarte do que pelo seu roteiro labiríntico. Onde nada é o que parece e o que parece não é real, Vera entra em um espiral de espaço e tempo para salvar a vida de um menino desconhecido e recuperar a existência da própria filha e de sua história. Só que, assim como em todos os outros filmes de looping, alterar o passado pode causar danos irreparáveis no futuro. Nesse jogo de idas e vindas, dá para matar a charada logo de cara e só nos resta esperar o final para confirmar aquilo que já sabemos: Durante a Tormenta é bom, mas não é o melhor que Oriol pode fazer.
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Abzurdah
3.1 65 Assista AgoraABZURDAH (2015) traz tantas cartas para serem usadas, mas infelizmente cai no erro de querer jogar todas de uma só vez. Relacionamentos tóxicos, negligência familiar, autodestruição e distúrbios alimentares: os assuntos da vez mal executados, tratados superficialmente e, algumas vezes, de forma imprudente. Baseado no romance autobiográfico de Cielo Latini, conta a história de uma adolescente de classe alta que oscila entre os caprichos de uma menina mimada e os problemas mais profundos de sua geração. De maneira rápida, tudo acontece e se repete, e facilmente se resolve, restando, assim, a nossa empatia pelo tema, e não pelos personagens. Para o catálogo da Netflix, Abzurdah está acima da média. Para o cinema argentino, está abaixo da expectativa e sem motivo para bater recordes de bilheteria.
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Um Banho de Vida
3.9 114UM BANHO DE VIDA (Le Grand Bain, 2018) é mais do que rir de um bando de homens de meia-idade, mal sucedidos e fora de forma, enfrentando seus monstros emocionais, que colocam uma sunga colorida e vão tentar sincronizar seus movimentos e suas vidas na piscina para representar a França no Campeonato Mundial. O trabalho de Gilles Lellouche é a demonstração de como o cinema francês consegue ser tão bom com pouca coisa. De grande, o elenco e um roteiro que escolhe nadar rumo à leveza da superação, ao invés de afundar na dureza dos problemas cotidianos. Alguns personagens exagerados, algumas situações forçadas, mas a mensagem é dada com a mesma naturalidade e alegria de uma conversa informal entre amigos.
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Nós
3.8 2,3K Assista AgoraEm NÓS (Us, 2019), uma família americana vai passar as férias em uma casa na praia e acaba enfrentando o horror quando versões macabras deles mesmos aparecem para atormentá-los. Mas como estamos falando de Jordan Peele, nada é tão simples quanto parece. Cheio de pistas a serem decodificadas, a segunda empreitada do diretor de Corra! persegue Adelaide e sua família, e centra seu mistério na natureza dos amarrados, seres idênticos a eles, vestidos de vermelho e portando uma tesoura dourada. Quem são e o que querem? Pouco a pouco, através de flashbacks, muitas referências e aquela trilha sonora marcante, as respostas tomam forma. Porém, nem todas. Peele vai deixar em sua mente mais do que responde e tem o cuidado de não exaltar nenhum dos seus heróis e nem punir seus vilões, afinal somos o resultado do meio em que vivemos e não dá para esconder que vivemos na hipocrisia. Coisa de gênio, sabe? Engana-se quem, ao final, achar que o maior enigma de Nós é quanto a sua história. Os seus questionamentos se voltam a nós mesmos: como se devêssemos encarar o espelho. E que comecem as interpretações.
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Um Ato de Esperança
3.3 59 Assista AgoraO dilema que parece ser central na adaptação do romance de Ian McEwan esconde outro maior e mais polêmico. A proibição da transfusão de sangue em um jovem de 17 anos por ser Testemunha de Jeová vai parar nas mãos de uma juíza da Suprema Corte, no entanto, ela, acostumada a tantos outros casos difíceis, terá que tomar decisões que vão ultrapassar sua toga. UM ATO DE ESPERANÇA (The Children Act, 2017) tenta ser um drama além dos tribunais e passar uma seriedade que inexiste, usando Emma Thompson para salvar, em boa parte do tempo, da bobeira que o roteiro insiste em direcionar. A aleatoriedade dos desdobramentos frustra quem está assistindo e não conseguimos descobrir o que é ou o que quer dizer tudo aquilo que está acontecendo. Assim, exceto pelo desempenho sempre empático de Thompson, não vejo outro motivo para ir em busca de Um Ato de Esperança.
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O Retorno de Ben
3.4 175 Assista AgoraSeguindo a mesma linha do recente Querido Menino, O RETORNO DE BEN (Ben is Back, 2018) é outra representação do drama de milhares de famílias que sofrem com a epidemia americana do vício em opiáceos. Cada vez mais, essas histórias reais estão sendo contadas na tela e, em ambas, apesar do tema pesado, é o desempenho de seu elenco que o realiza. Aqui, especificamente de Julia Roberts, como a mãe de Ben, um viciado que de surpresa retorna para casa após uma temporada de internação e consegue desestabilizar toda a família. Não tão explícito, é aos poucos que Ben revela o que fez para sustentar o vício e a mãe se dá conta que não o conhece por inteiro e que nunca pode se confiar em um dependente. Dentro desse amor incondicional, Julia oscila entre a paixão pelo filho e a razão de fazer o certo: e é aí que ela se entrega de verdade e vai ganhar você. Pena que O Retorno de Ben, em meio às aventuras implausíveis de mãe e filho, cai na tentação do sentimentalismo excessivo. Fiquemos, então, com Roberts, que é o que o faz sobressair.
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A Mula
3.6 355 Assista AgoraClint Eastwood é “O” cara. No entanto, A MULA (The Mule, 2018) não é “O” filme. Em seu novo trabalho, como produtor, diretor e ator, ele transporta drogas para o cartel mexicano, faz sexo casual e encara a bandidagem na boa, mas nem com toda a admiração que tenho por ele, dá para defendê-lo. Apesar da lição que tenta passar de que a família deve estar sempre em primeiro lugar (uma escancarada autoanálise de sua trajetória profissional), A Mula não apresenta nada de interessante e descarta sem dó a presença de Bradley Cooper (para não dizer outros nomes). Duas horas intermináveis de um roteiro sem graça, sem surpresas e que me fizeram questionar o motivo de entrar no cinema: só por você mesmo, Clint.
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Girl
3.8 161 Assista AgoraÉ bem difícil desassociar a atuação de Victor Polster do drama vivido por Lara. O premiado GIRL (2018) é inspirado em uma história real e você acredita que está vivenciando aquilo com sua personagem, quase como em um documentário. Lara - antes também Victor - não quer ser exemplo ou inspiração para ninguém, apenas quer ser uma garota comum: frequentar a escola, dançar ballet, ter amigas e namorar, contudo, para sua infelicidade, nasceu no corpo errado. Ao mesmo tempo em que o filme de Lukas Dhont abraça através da delicadeza da menina e da doçura de seu pai, ele expurga toda a dor que Lara tenta esconder ao passar pelos desafios da puberdade e da adequação de gênero em uma sociedade aparentemente mais evoluída do que a nossa. Onde começa a história de Lara, não sabemos; mas que ela não está bem e que seus pés machucados suportam mais do que o peso de um corpo que não reconhece, disso teremos certeza.
IG @omelhordocinema
Vingança a Sangue Frio
2.7 219 Assista AgoraPor que você acha que pode matar um homem? Porque eu sou o Liam Neeson e ninguém se atreve a mexer com a minha família. Você também terá a impressão de já ter visto esse cara por aí, mas agora em VINGANÇA A SANGUE FRIO (Cold Pursuit, 2019), a fúria dele é causada pela morte do seu filho. Ele - então e como sempre invencível e armado - vai atrás dos responsáveis pelo crime. Filmes de vingança de Liam Neeson já viraram um gênero próprio, como também já cansaram, e nesse aqui (um remake do norueguês O Cidadão do Ano) ele some boa parte do tempo, dando lugar a uma família rival de nativos americanos. Para alguns, as pitadas de humor negro até que divertem, mas com certeza você já deve ter visto Liam Neeson em coisa melhor. E tanto ele quanto nós merecemos mais.
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Operação Fronteira
3.1 379 Assista AgoraO que sobra no elenco e na direção, falta nas supresas em OPERAÇÃO FRONTEIRA (Triple Frontier, 2019). Enquanto a ação explode desde o começo, seus personagens mal desenhados dificilmente mantém conexão com o espectador e a impressão é de que já sabemos o que vai acontecer adiante. As consequências do crime (o assalto ao cofre de um poderoso chefão da Tríplice Fronteira por ex-agentes especiais americanos) levam mais tempo em tela do que sua preparação e execução, e talvez por saber tão pouco sobre cada um deles, não torcemos tanto para que o final seja feliz. E não é - pelo menos para quem está assistindo. Diante desse bom quinteto (em todos os sentidos), esperamos mais, mas recebemos o suficiente para preencher uma tarde.
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O Menino que Descobriu o Vento
4.3 741A estreia na direção de Chiwetel Ejiofor, sobre um menino simples no Malaui que constrói uma turbina eólica e transforma a vida de sua aldeia, dá aquele bem estar que as histórias de superação costumam causar, mas junto vem também a sensação de que poderia ser muito mais do que foi. Com raras surpresas, salvo o desempenho de Maxwell Simba, O MENINO QUE DESCOBRIU O VENTO (The Boy Who Harnessed the Wind, 2019) é todo didático e ensina o poder da educação como instrumento de libertação. Entretanto e estranhamente, o filme não explora nada em detalhes: nem a crise socioeconômica da região, nem a relação familiar, e muito menos a incrível descoberta do garoto. Do jeito que ficou, O Menino que Descobriu o Vento atinge algumas notas emocionais e inspiradoras; infelizmente, é na mesma proporção que a incompletude do seu roteiro.
IG @omelhordocinema
Somente o Mar Sabe
2.7 29 Assista AgoraAdaptar uma história verdadeira para o cinema requer equilíbrio. A obra deve permanecer fiel aos eventos reais, mas também precisa envolver ou divertir o espectador. SOMENTE O MAR SABE (The Mercy, 2017) não consegue cumprir nenhuma das duas coisas e se esquece de tornar um bom filme. Até começa bem, tem uma biografia em potencial e a expectativa é alta por causa de Colin Firth e Rachel Weisz no elenco, mas a trajetória ao redor do mundo de Donald Crowhurst se torna chata e morosa minutos após ele embarcar na aventura tão sonhada. Sem emoção, Somente o Mar Sabe é um barco furado que é melhor você pular fora o quanto antes ou ir direto ao final para saber o destino de seu navegante.
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Free Solo
4.1 157 Assista AgoraComo documentário de uma personalidade, FREE SOLO (2018) não convence tanto quanto a informação do acontecimento que agrega suas imagens. É indiscutível a grandiosidade do feito de Alex Honnold: o primeiro a escalar livre o paredão de El Capitan no Parque Nacional de Yosemite. O mesmo não pode ser dito de seu personagem. Sem nenhum carisma, ele está lá em cima por si só, sem cordas ou qualquer outra proteção, e não há espaço para erros - a consequência é a morte. Grande parte da ousada obra de outro expert dos picos é a preparação para a subida solo de Alex, incluindo a escolha da equipe que o acompanhará, o treinamento, as frustrações e os questionamentos sobre a sua incrível armadura emocional. No entanto, nada disso é tão fascinante quanto à captura de takes de causar vertigem até aos mais acostumados com altura. Subir solo já é algo extremamente perigoso e desafiador, imagina com câmeras e drones capturando cada movimento, cada respiração e possivelmente uma queda fatal. Mas a trajetória até o grand finale parece ser prolongada mais do que o devido e o que deveria ser 100% emocionante, chega apenas aos 70%. Sem dúvida, é um testemunho de técnica e insanidade que merece ser visto. Para ganhar um Oscar? Tenho lá minhas dúvidas.
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Seu Filho
2.9 152 Assista AgoraAté onde vai o amor de um pai? É verdade que o fruto não cai muito longe da árvore? SEU FILHO (Tu Hijo, 2018) tenta responder essa pergunta. Ultrapassando os princípios pessoais e profissionais, Jaime leva a vingança pelo espancamento de seu filho em uma casa noturna até as últimas consequências. A história por trás da violência sofrida pelo rapaz é maior do que aparenta, mas nada de tão surpreso ou que já não tenhamos visto antes. José Coronado é a estrela absoluta dessa mistura de thriller e drama espanhol, em que verdades vão lentamente aparecendo e caberá a cada personagem tomar uma atitude ou simplesmente deletar o que viu. E, ao final, você também vai se perguntar: o que será que eu faria no lugar de cada um deles?
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Capitã Marvel
3.7 1,9K Assista AgoraPerformances sólidas (embora repetidas) e ação quase ininterrupta sustentam as duas horas de CAPITÃ MARVEL (Captain Marvel, 2019), uma das estreias mais aguardadas do ano. Não é spoiler dizer aqui que Carol, a futura Capitã Marvel, é uma ex-piloto da Força Aérea dos EUA; a diversão estará em descobrir como ela foi parar - com os seus superpoderes - na guerra intergalática entre os Krees e os Skrulls. Tinha lá minha dúvida se Brie era a escolha certa para o personagem (não por falta de talento, mas por preferir seus papéis dramáticos) e me enganei. Ela dá conta do recado e imprime uma poderosa presença como a maior super-heroína da Marvel. O mesmo não pode ser dito de seu adversário: como se apresenta um ícone feminino tão grande sem um vilão à altura? E é cada explicação mal contada. Boa trilha sonora com vários hits dos anos 90 e um felino misterioso fecham esse pontapé inicial de novas aventuras de Capitã Marvel, que realmente não é de cair o queixo, mas ainda tem o suficiente para manter o público interessado. E a expectativa só aumenta.
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O Fotógrafo de Mauthausen
3.8 127 Assista AgoraDemorei a reconhecer Mario Casas na pele d’O FOTÓGRAFO DE MAUTHAUSEN (El Fotógrafo de Mauthausen, 2018), centrado na figura de Francesc Boix, espanhol comunista preso entre 1941 e 1945, que usou sua câmera como arma contra o Terceiro Reich, fornecendo evidências e testemunhando nos julgamentos de Nuremberg. Clichês não faltam no filme de Mar Targarona, que também está longe de ser uma superprodução, mas seria injusto não destacar, diante do não conhecimento (meu, pelo menos), a relevância dessa fatia da história nazista - até porque o cinema vem exaurindo o tema sobre os mesmos protagonistas das mesmas nacionalidades. A narrativa é fluida e direta, sem rodeios e sem artifícios de câmera, porém, se compararmos com outras obras que ousaram retratar essa tragédia, O Fotógrafo de Mauthausen não emociona tanto e apenas se sobressai por se tratar de um ângulo diverso do que já foi exposto até então.
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Querido Menino
3.8 471 Assista AgoraSteve Carell interpreta o jornalista David Sheff, cujo filho de 18 anos, Nic, se tornou dependente, principalmente em cristal, uma metanfetamina que vicia mais que heroína e destrói mais que o crack. Nic diz que a droga transforma sua vida preta e branca em cores, mas o reduziu de um promissor escritor a uma criatura mentirosa que a família dificilmente reconhece. Em grande parte, QUERIDO MENINO (Beautiful Boy, 2018) consiste na luta de um pai amoroso para entender o que aconteceu com o filho tão bem cuidado e com tudo que um lar de classe alta pode proporcionar, sempre tentando tirá-lo do seu estado catatônico, de mais baixos do que altos. Assim como a doença de Nic, a história de Van Groeningen tem muitas recaídas e infinitamente gira em torno do próprio eixo, porém as atuações de Carell e Chalamet transcendem qualquer crítica e lidam de forma sensível e sutil com a psique de seus dois protagonistas torturados por uma realidade sombria. Um destruidor de corações que vale pelo elenco; o restante nem tanto.
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A Caminho de Casa
3.6 223 Assista AgoraA CAMINHO DE CASA (A Dog's Way Home, 2019) é mais um do gênero em que um animal - quase inevitavelmente um cachorro - é separado de seu dono e tem uma série de aventuras ao tentar retornar para casa. Esses filmes de família atraem todas as idades, especialmente os amantes dos peludos, e pretendem dar a visão de mundo do animal. Aquela velha fórmula que muito depende da fofura canina e da edição de cenas para apoiar a perspectiva de quatro patas. A Caminho de Casa atende todos esses requisitos, mas com pouca emoção e esbanjando situações infundadas, não passa de um Sessão da Tarde para agradar a criançada.
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Todos Já Sabem
3.4 216 Assista AgoraTODOS JÁ SABEM (Todos lo Saben, 2018) não é exatamente o que todos esperam. Contando com um elenco (de língua espanhola) dos sonhos, Asghar Farhadi entrega mais um drama familiar onde um evento aparentemente regular vira de cabeça para baixo, quebra todos os conceitos preestabelecidos para os seus personagens e leva o público a uma jornada de reviravoltas. Diante de uma tragédia ocorrida na família de Laura, o filme foca nas consequências de suas decisões passadas e presentes e no fardo de conhecer a verdade. O problema é que tudo demora tanto para acontecer que vai desinteressando até culminar em um desfecho insatisfatório. O que facilmente poderia ser resolvido em 90 minutos, dura 40 a mais. A gente já sabe que Todos Já Sabem vale pelo quarteto de performances maravilhosas e variadas; enquanto isso o roteiro se arrasta e quase cruza as fronteiras da telenovela.
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Árvore de Sangue
3.4 78 Assista AgoraÁRVORE DE SANGUE (El Árbol de la Sangre, 2018) é a história da história. Um jovem casal se muda para uma antiga casa em uma vila espanhola para escrever a história de suas famílias, entrelaçadas como as raízes de uma árvore ou seus próprios dedos que podem circundar o tronco. Mas durante a narrativa desse texto, alguns segredos são desenterrados e o final pode não ser tão feliz assim. Poético, não? Essa é a intenção de Árvore de Sangue, contudo, sem êxito, da cena inicial ao seu desfecho, nada parece ser feito naturalmente. Para aqueles que iniciaram, o desafio é continuar em frente. Confuso no começo, as peças são encaixadas a partir do segundo ato, no entanto, o que esperamos da terceira parte não vem e chega a ser cômico como tudo termina. Dá para assistir? Dá! Mas dava para fazer melhor do que isso também.
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Assunto de Família
4.2 400 Assista AgoraCom crianças furtando lojas e supermercados, ASSUNTO DE FAMÍLIA (Manbiki kazoku, 2018) levou o maior prêmio de Cannes no ano passado e combina sentimentalismo com uma crítica social contundente em um Japão contemporâneo e distante daquilo que pressupomos. O afeto pelos personagens de Kore-eda é imediato e nem por um momento repreendemos a forma como aquela família escolheu para sobreviver. Ao contrário, o que torna Assunto de Família tão arrebatador é outro tipo de escolha: de como eles se elegeram integrantes desse clã e a gratidão por ter um ao outro. Há coisas acontecendo entre os seus membros e eles serão ainda mais desafiados pela chegada de Yuri, uma menina adotada informalmente que encontra naquele ambiente apertado e promíscuo um lar que não teve em sua própria casa. O que eles têm de criminosos, têm de heróis, e nós encontramos – e nos reconfortamos – neles a graça de ser feliz em simples e pequenos momentos da vida cotidiana. Que delícia de assistir e de saber que filmes assim ainda são feitos.
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Se a Rua Beale Falasse
3.7 284 Assista AgoraA continuação da trajetória do ganhador do Oscar de 2017, Barry Jenkins, é um romance delicadamente imbuído de dignidade e inteligência. Tendo como pano de fundo o racismo institucionalizado, SE A RUA BEALE FALASSE (If Beale Street Could Talk, 2018) foi baseado na obra de James Baldwin, publicada em 1974, e tem uma mistura de personagens cativantes e uma trilha sonora magnífica. A saga de uma família em busca de justiça, no Harlem dos anos 1970, foi e continua sendo assunto sério, e Jenkins insiste em não abrir mão da delicadeza e da aura de sonho mesmo com temas tão enfurecedores e infelizmente com finais predefinidos. Esse tipo de abordagem deu certo em Moonlight, e funciona ainda mais em Rua Beale, que está muito longe de ser exclusiva de Nova Orleans.
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A Morte Te Dá Parabéns 2
3.0 714Vamos combinar que o primeiro A Morte Te Dá Parabéns passava longe do terror, mas entre uma cena e outra, dava alguns pequenos sustos. Em A MORTE TE DÁ PARABÉNS 2 (Happy Death Day 2U, 2019), o medo é esquecido de vez para dar lugar à comédia e ao romance adolescente. Pegando o gancho de De Volta para o Futuro 2 e com uma explicação científica confusa, Tree é recolocada no mesmo loop de tempo de aniversário que é reiniciado a cada vez que ela é morta. Enquanto no antecessor ela tinha a missão de descobrir a identidade de seu assassino escondido atrás da máscara de bebê, desta vez não apenas um novo vilão está à solta, como também surge uma linha do tempo alternativa, onde sua mãe ainda está viva e o seu namorado está com outra. Jessica Rothe volta ao papel principal e vende (e vale) todos os momentos, mesmo os mais forçados. Mas A Morte Te Dá Parabéns 2 não se esforça para ser mais do que realmente é: o peso fica só no nome e se inclina ainda mais para a tolice. Sabendo disso, não há como se decepcionar e não se divertir. E para quem curtir: parte 3, aí vamos nós!
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