Nunca entendi o que algumas pessoas querem dizer quando criticam um filme por ser 'arrastado', muito menos no caso de O Irlandês. Parece que não há espaço pra contemplação de nada, pra se imergir numa cena, ver as coisas de outro ponto de vista que não o imediatista, cheio de estímulos.
Esse filme não tem nada de arrastado, mas observo uma deliberada lentificação no ritmo no quarto final. Você começa a viver um pouco a perspectiva desse homem que ainda vive do passado, mesmo que o presente esteja voando diante de seus olhos. Um final soturno e reflexivo. Do que valeu?
"I-Doser: The Visual Version". Essa edição especial é acompanhada das faixas de bônus "Dope Russian Roulette (What Is Health So Good For Anyways)", "Stubborn Self-Boycotting Bad-Trip", "Out of Place Passive-Aggressiveness", "Vomiting Hungover" and "Actually Privileged".
Mesmo com todo exagero nos flashbacks, fumaça e chiaroscuro (ao ponto de não ser possível enxergar alguns dos cenários), não consegue esconder o vazio da trama e a futilidade de alguns dos dilemas apresentados, que só importam pra homens de uma geração que aos poucos deixa de existir antes mesmo de morrer.
O hiperrealismo do filme me lembrou Tony Erdmann. Os prolongamentos e interrupções durante as cenas (como quando o frisbee cai perto da Misaki) não se fazem presentes somente pra expor uma frase narrativa, que compõe a trama, pra compor os mundos subjetivos dos personagens ou a trama que se constrói entre eles: como na vida real, o mundo nos interrompe, e outras histórias estão acontecendo para além das nossas, nos lembrando que nossa história é apenas mais uma entre outras. O que quer dizer nossa história quando a de outra pessoa acaba? Faz sentido que nossa história se torna uma retrospectiva das histórias de quem se foi?
Um filme que começa todo saudosismo, numa viagem no tempo até um Brasil de trinta anos atrás: os comércios, as ruas, a decoração do interior da loja, da casa. Só a típica relação mãe-filho que não mudou.
As únicas boas atrizes são a menina e a Marisa Orth, mas a trilha sonora e o desenvolvimento surpreendente, praticamente um plot twist, fazem valer o filme. Recomendado.
Um retrato tão real e ao mesmo tempo tão artificial sobre um natal em família que poderia ser o natal de qualquer um de nós.
Artificial, por que todos envolvidos são admiráveis por serem poéticos, intelectuais, despojados, e não por suas fraquezas ou defeitos, a menos que tais fraquezas possam denotar profundidade ou complexidade em nossa era medicalizada.
A família refém da histérica psicótico-depressiva, a outra casada e com filhos tem uma crise por uma paixão da adolescência da qual ela nunca teve conhecimento, mas todo mundo ri de modo elegante do caldo perpétuo de ressentimentos cozidos por décadas em banho-maria, até mesmo quando o caldo entorna num espancamento em plena cozinha.
As diferenças culturais entre a classe média alta francesa e a família brasileira média são tão gritantes que os dramas representados chegam a soar caricatos. Só que o sofrimento não pode ser medido ou comparado. Mas que se fosse no Brasil já ia ter três tias gritando e chorando ao mesmo tempo em cima daquela porrada, a pulada de cerca da que quis reviver a adolescência tinha acabado em morte, a mãe ia sofrer calada o medo de morrer ou a família inteira já ia ter caminhado de joelhos em romaria pedindo um milagre, ô se ia! Mas não nessa elegante família francesa. Falo isso com ironia: mesmo as famílias francesas pobres e de classe média baixa certamente não reagiriam dessa maneira, e talvez nem os elegantes intelectualizados que corresponderiam aos retratados no filme. Talvez esse seja um retrato de como eles se veem, ou de como gostariam de ser vistos.
Por outro lado, real porque parece ser universal o drama contemporâneo das famílias que se forçam a se encontrar no natal, apesar de todas diferenças e rancores, pra celebrar e brigar juntos. Ouvi de um amigo alemão que o natal provavelmente é o motivo de ainda existirem famílias na Alemanha, porque as pessoas se forçam a se encontrar ao menos uma vez por ano. É certamente também o caso do Brasil.
Ao menos um aprendizado eu tive com esse filme: a gente leva a sério demais os dramas cotidianos e talvez devêssemos aprender a rir do parente que cai de bêbado no meio do jantar de família, ao invés de exaltar cada tropeço no palco da fofoca e da novela do jia-jia.
Um filme interessante e imprevisível sobre se tornar adulto, sobre nossa geração infantilizada, e sobre nossa criança interior que não merece ser deixada pra trás, ao menos não sem cumprir uma missão.
Um dos poucos filmes no meu Filmow que estão marcados como "Já Vi: Perdi a conta".
Road movie engraçado e muito poético e singelo sobre uma banda fictícia que acabou se tornou uma banda real a partir desse filme. Uma banda muito boa, por sinal, vale conferir. Um filme de finlandeses que revela muito sobre a Rússia e os EUA, apesar de ser um filme feito por finlandeses. Confira no YouTube "Leningrad Cowboys - What Is Love" e "Total Balalaika Show".
O filme de comédia romântica mais anime que um filme ocidental poderia ser sem querer. Difícil não ter sentimentos regressivos e não se sentir de volta à adolescência. Difícil também não se apaixonar pela Olivia Williams nesse filme. Imperdível.
Um filme importante pra pensar o Brasil, apesar de se passar em um país amazônico vizinho. Sobre o ciclo da borracha e sobre nossa herança indígena, estrelado por dois atores indígenas que não tinham qualquer experiência em atuação, teatro ou cinema, sendo que um deles não tinha sequer visto um único filme na vida, o outro só tinha visto um filme (outra obra-prima, Rambo - First Blood), apesar de suas atuações completamente impactantes.
O primeiro filme, e até hoje, talvez um dos poucos únicos, que contam a história de um homem negro de classe média alta e a verdade até hoje ignorada por tantos sobre como opera nossa "democracia racial".
Quando eu li um comentário sobre esse filme, dizendo que era uma verdadeira renovação no cinema, duvidei do alcance dessa afirmação ousada. Depois de vê-lo, não soube nem o que escrever aqui, pouco poderia ser dito a acrescentar a essa obra chocante e impressionante em seu hiperrealismo absurdista.
O Irlandês
4.0 1,5K Assista AgoraNunca entendi o que algumas pessoas querem dizer quando criticam um filme por ser 'arrastado', muito menos no caso de O Irlandês. Parece que não há espaço pra contemplação de nada, pra se imergir numa cena, ver as coisas de outro ponto de vista que não o imediatista, cheio de estímulos.
Esse filme não tem nada de arrastado, mas observo uma deliberada lentificação no ritmo no quarto final. Você começa a viver um pouco a perspectiva desse homem que ainda vive do passado, mesmo que o presente esteja voando diante de seus olhos. Um final soturno e reflexivo. Do que valeu?
A Transição
3.7 7Todos falam sobre "viver de luz" mas todos continuam comendo.
Cidade Perdida
3.0 295 Assista AgoraFantástico e divertido!
BERLIN CHAMISSOPLATZ
3.5 1Sensacional ver um retrato de época de Berlim em uma história que não tenha nada a ver com espionagem ou com a Segunda Guerra Mundial.
Desajustados
3.9 119 Assista AgoraUm singelo retrato de quem que passa desapercebido.
Me lembrou o uruguaio Gigante (2009).
The African Desperate
3.4 8 Assista Agora"I-Doser: The Visual Version". Essa edição especial é acompanhada das faixas de bônus "Dope Russian Roulette (What Is Health So Good For Anyways)", "Stubborn Self-Boycotting Bad-Trip", "Out of Place Passive-Aggressiveness", "Vomiting Hungover" and "Actually Privileged".
Efeitos não são garantidos.
PS - Quantas horas tem o dia nesse filme???
O Grande Mestre
3.4 175 Assista AgoraMesmo com todo exagero nos flashbacks, fumaça e chiaroscuro (ao ponto de não ser possível enxergar alguns dos cenários), não consegue esconder o vazio da trama e a futilidade de alguns dos dilemas apresentados, que só importam pra homens de uma geração que aos poucos deixa de existir antes mesmo de morrer.
Drive My Car
3.8 385 Assista AgoraO hiperrealismo do filme me lembrou Tony Erdmann. Os prolongamentos e interrupções durante as cenas (como quando o frisbee cai perto da Misaki) não se fazem presentes somente pra expor uma frase narrativa, que compõe a trama, pra compor os mundos subjetivos dos personagens ou a trama que se constrói entre eles: como na vida real, o mundo nos interrompe, e outras histórias estão acontecendo para além das nossas, nos lembrando que nossa história é apenas mais uma entre outras. O que quer dizer nossa história quando a de outra pessoa acaba? Faz sentido que nossa história se torna uma retrospectiva das histórias de quem se foi?
Conversando com o Tempo
3.3 1Quando o outro não é interessante em si mesmo, não há nada que possa haver em comum entre duas pessoas.
Quando o outro não é interessante em si mesmo, não há nada que possa haver em comum entre duas pessoas, a não ser interesses pessoais.
Pede-se um Marido
4.1 16Filme de desenvolvimento apressado, porém amável.
Durval Discos
3.7 336Um filme que começa todo saudosismo, numa viagem no tempo até um Brasil de trinta anos atrás: os comércios, as ruas, a decoração do interior da loja, da casa. Só a típica relação mãe-filho que não mudou.
As únicas boas atrizes são a menina e a Marisa Orth, mas a trilha sonora e o desenvolvimento surpreendente, praticamente um plot twist, fazem valer o filme. Recomendado.
Tudo Sobre Minha Mãe
4.2 1,3K Assista AgoraQuem duvida que uma novela mexicana poderia ser elevada ao status de uma obra de arte veja os filmes do Almodóvar!
Um Conto de Natal
3.8 22 Assista AgoraUm retrato tão real e ao mesmo tempo tão artificial sobre um natal em família que poderia ser o natal de qualquer um de nós.
Artificial, por que todos envolvidos são admiráveis por serem poéticos, intelectuais, despojados, e não por suas fraquezas ou defeitos, a menos que tais fraquezas possam denotar profundidade ou complexidade em nossa era medicalizada.
A família refém da histérica psicótico-depressiva, a outra casada e com filhos tem uma crise por uma paixão da adolescência da qual ela nunca teve conhecimento, mas todo mundo ri de modo elegante do caldo perpétuo de ressentimentos cozidos por décadas em banho-maria, até mesmo quando o caldo entorna num espancamento em plena cozinha.
As diferenças culturais entre a classe média alta francesa e a família brasileira média são tão gritantes que os dramas representados chegam a soar caricatos. Só que o sofrimento não pode ser medido ou comparado. Mas que se fosse no Brasil já ia ter três tias gritando e chorando ao mesmo tempo em cima daquela porrada, a pulada de cerca da que quis reviver a adolescência tinha acabado em morte, a mãe ia sofrer calada o medo de morrer ou a família inteira já ia ter caminhado de joelhos em romaria pedindo um milagre, ô se ia! Mas não nessa elegante família francesa. Falo isso com ironia: mesmo as famílias francesas pobres e de classe média baixa certamente não reagiriam dessa maneira, e talvez nem os elegantes intelectualizados que corresponderiam aos retratados no filme. Talvez esse seja um retrato de como eles se veem, ou de como gostariam de ser vistos.
Por outro lado, real porque parece ser universal o drama contemporâneo das famílias que se forçam a se encontrar no natal, apesar de todas diferenças e rancores, pra celebrar e brigar juntos. Ouvi de um amigo alemão que o natal provavelmente é o motivo de ainda existirem famílias na Alemanha, porque as pessoas se forçam a se encontrar ao menos uma vez por ano. É certamente também o caso do Brasil.
Ao menos um aprendizado eu tive com esse filme: a gente leva a sério demais os dramas cotidianos e talvez devêssemos aprender a rir do parente que cai de bêbado no meio do jantar de família, ao invés de exaltar cada tropeço no palco da fofoca e da novela do jia-jia.
A Espada Era a Lei
3.8 303 Assista AgoraO filme parece mais um mashup de episódios de desenhos animados de animais trapalhões do que uma história sobre o Rei Arthur e o Mago Merlin.
As Aventuras de Brigsby Bear
3.6 28 Assista AgoraUm filme interessante e imprevisível sobre se tornar adulto, sobre nossa geração infantilizada, e sobre nossa criança interior que não merece ser deixada pra trás, ao menos não sem cumprir uma missão.
O Homem ao Lado
3.6 125 Assista AgoraFilme hilariante e tenso sobre relações entre vizinhos que mostra o encontro de ricos merda com um homem rude. Quem é rude de verdade?
Celeste e Jesse Para Sempre
3.6 478 Assista AgoraUm filme que subverte totalmente as convenções do gênero comédia romântica. Falar qualquer coisa a mais seria spoiler. Recomendado.
Cowboys de Leningrado Vão Para a América
3.8 21 Assista AgoraUm dos poucos filmes no meu Filmow que estão marcados como "Já Vi: Perdi a conta".
Road movie engraçado e muito poético e singelo sobre uma banda fictícia que acabou se tornou uma banda real a partir desse filme. Uma banda muito boa, por sinal, vale conferir. Um filme de finlandeses que revela muito sobre a Rússia e os EUA, apesar de ser um filme feito por finlandeses. Confira no YouTube "Leningrad Cowboys - What Is Love" e "Total Balalaika Show".
Três é Demais
3.8 274 Assista AgoraO filme de comédia romântica mais anime que um filme ocidental poderia ser sem querer. Difícil não ter sentimentos regressivos e não se sentir de volta à adolescência. Difícil também não se apaixonar pela Olivia Williams nesse filme. Imperdível.
O Abraço da Serpente
4.4 237 Assista AgoraUm filme importante pra pensar o Brasil, apesar de se passar em um país amazônico vizinho. Sobre o ciclo da borracha e sobre nossa herança indígena, estrelado por dois atores indígenas que não tinham qualquer experiência em atuação, teatro ou cinema, sendo que um deles não tinha sequer visto um único filme na vida, o outro só tinha visto um filme (outra obra-prima, Rambo - First Blood), apesar de suas atuações completamente impactantes.
Joias Brutas
3.7 1,1K Assista AgoraFilme alucinado e tenso com o Adam Sandler mostrando mais uma vez que é um ator imenso.
Uma Simples Formalidade
4.0 74Um filme existencialista sobre transcendência e auto-conhecimento com um plot twist sensacional.
Compasso de Espera
4.3 16O primeiro filme, e até hoje, talvez um dos poucos únicos, que contam a história de um homem negro de classe média alta e a verdade até hoje ignorada por tantos sobre como opera nossa "democracia racial".
As Faces de Toni Erdmann
3.8 257 Assista AgoraQuando eu li um comentário sobre esse filme, dizendo que era uma verdadeira renovação no cinema, duvidei do alcance dessa afirmação ousada. Depois de vê-lo, não soube nem o que escrever aqui, pouco poderia ser dito a acrescentar a essa obra chocante e impressionante em seu hiperrealismo absurdista.