Um filme histórico, em vários sentidos: um filme antigo, feito em 1926, da primeira era do cinema, um filme sobre história, sobre a Guerra da Secessão, e um filme fundador de praticamente todas convenções de vários gêneros: histórico, ação, guerra, comédia. As manobras que o cara faz no filme, sem dublê, muito antes de Tom Cruise e Jackie Chan serem modinha ou até nascerem, são de arrancar o cabelo. É completamente impressionante ver esse filme e reconhecer nele fórmulas usadas à exaustão por centenas de filmes que vieram depois, e descobrir que esse filme já fez tudo antes, lá em 1926. Você se sente vendo um filme atual.
O engraçado é ver a maior parte dos admiradores do filme abrindo seus comentários com a mesma advertência "É original? Não é! Mas eu gostei mesmo assim!". xD
O filme mostra o que fazem quando se deparam com dilemas e situações limites agentes poderosos com capacidade de reflexão limitada, cujas características mais distintivas são seus poderes e não sua capacidade de tomar decisões refletidas: se comunicam com a linguagem que sabem usar, a de seus poderes. Antes de serem capazes de entender a situação, saem na porrada.
Num mundo em que o poder ainda for considerado virtude sempre haverá guerra. Que o digam Putin e os agentes públicos e privados que lutam pra controlar os EUA e o mundo.
A complexidade do filme está no fato do Capitão América, que quer ter permissão para intervir em conflitos internacionais sem ter nenhuma autoridade que questione ou limite essa intervenção, se mostra o único preocupado com os princípios que guiam as ações a serem tomadas.
Lamentavelmente, o que acontece no mundo é o contrário do mostrado no filme: o que guia o intervencionismo dos EUA no mundo são os interesses econômicos e o agente com o maior poder nos EUA atual não é o Capitão América, e sim o milionário filantropo e fabricante de armas Tony Stark, que em nosso mundo pensa o contrário do que o Homem de Ferro do filme, e até agora busca justificar intervenções dos EUA no mundo em nome da "segurança nacional" (quando é na verdade em nome do dinheiro). Exatamente como está fazendo Putin intervindo na Ucrânia para "garantir a paz" entre os "separatistas que declararam independência".
Precisamos de um Capitão América pra "trazer umas reflexões" para a cabeça do Tony Stark.
Inacreditável. Um épico de 1926 dando aula pros contemporâneos filmes de ação, suspense, aventura, romance, comédia, guerra... Impressionante constatar o quanto esse filme forjou fórmulas narrativas que até hoje são reproduzidas. Difícil não elencar entre os melhores filmes de todos os tempos.
E se você você fala coisas do tipo "tenho dó dos animais, mas as pessoas têm mais é que desaparecer mesmo" depois desse filme, o que mais será que os Mindies, Oglethorpes e Dibiaskys da vida têm que fazer pra você reconhecer sua própria responsabilidade como ser humano e ter empatia com seus semelhantes?
Um filme com um dilema político incrivelmente simplório e maniqueísta.
O pior? Os dilemas contemporâneos do mundo, ou ao menos, do Brasil, foram reduzidos a esses dilemas incrivelmente simplórios e maniqueístas. Será que a resposta ao conservadorismo, à preguiça estética e ao moralismo é realmente iconoclastia e auto-indulgência? Não, né. Chega de caricaturas.
Acho que o que a gente precisa é de uma paixão como o Johnny Depp. <3
Como um filme de comédia, é uma metanarrativa surreal sobre o racismo fundacional dos EUA. Não veja como uma comédia, veja como um filme *muito* doido e você não vai se arrepender.
O monotema imaturo de Woddy Allen do encontro da paixão da vida na grama do vizinho desenvolvido de forma apressada num filme visualmente deslumbrante sobre pessoas ricas e desocupadas flanando em paisagens maravilhosas e luxuosas enquanto discutem sobre paixão, ciência e os mistérios da vida de forma superficial e monótona. Literalmente com o mesmo tom, como quem discute amor da mesma forma que discute uma notícia lida numa revista de variedades. Às vezes me impressiona quão pouco progresso entusiastas de psicanálise podem fazer depois de tantos anos. Ou pode ser só falta de inspiração.
Um retrato completamente distorcido do que foram as cruzadas e o Reino de Jerusalém, com todas deturpações históricas mais comuns que pessoas que não se dão ao trabalho de estudar história pensam sobre a Idade Média: armaduras não oferecem qualquer proteção e espadas e lâminas atravessam cota de malha como se fosse bijuteria; as catapultas e trebuchets lançam pedras que explodem como mísseis de napalm; os templários são bandoleiros sanguinários sem honra; os europeus são uns bárbaros sectários sem higiene e noção ecológica nenhuma e vivem sujos e ranhentos, especialmente o General Cascão, Balian, que por algum motivo está sempre com a cara completamente imunda, mesmo quando até guerreiros e trabalhadores ao redor dele estão limpos.
Mesmo na versão mais longa de todas, os eventos finais do filme jamais aconteceram, Jerusalém não caiu do jeito representado pelo filme, nem são reais os eventos do início da vida de Balian.
A recusa de Bailian da mão de Sibylla não faz o menor sentido, nem com os fatos históricos, nem mesmo com o roteiro do filme. Oficializar um casamento que seria do maior interesse do reino, legitimando o romance extraconjugal com quem ele supostamente amava, e ainda realizar o desejo do rei. Não???
Mas, de todas as distorções históricas do filme, sem dúvida a mais absurda é supor que em pleno século XIII ninguém acreditava em Deus e todo mundo era cínico em relação à religião, principalmente os sacerdotes. Se, nos dias de hoje, depois da reforma, da imprensa, do iluminismo, da revolução industrial, do modernismo, do maio de 1968 e da Internet a maior parte do mundo vive em igrejas, templos e mesquitas, você realmente acha que as pessoas pensavam assim em plena Idade Média e iam atravessar milhares de quilômetros a pé, a cavalo e em navios precários em uma viagem que era caríssima e quase sempre paga com os próprios recursos por niilismo e oportunismo?
A única coisa mais próxima da verdade nesse filme é a representação do lendário Rei Leproso, magistralmente representado por Edward Norton, que realmente impôs suas primeiras vitórias militares aos 16 anos e chegava a virar o destino de um confronto só de chegar ao campo de batalha. Ele já chegou a comandar uma batalha em febre alta e completamente incapacitado, sendo carregado em uma liteira, e venceu.
O filme mais cínico, absurdo, belo e fantástico (em todos os sentidos) de que me recordo ter visto.
Cínico porque fundamentado sobre (ao menos) três grandes mentiras: 1. a sabedoria pode vencer o poder, a erudição pode capacitar no caminho do amadurecimento e do autoconhecimento e habilitar nos infinitamente complexos jogos sociais; 2. a experiência vivida de crianças não é diferente da de adultos; 3. não há transcendência.
Um questionamento da primeira falácia é ensaiado no próprio filme; mas, de forma covarde, o filme transforma a única possibilidade de questionamento e auto-superação que o protagonista teria em uma reafirmação dos seus próprios valores "tradicionais", ao
fazer os filhos fugirem da casa do avô e reafirmarem a meta de cumprir o testamento da falecida mãe, que só faria sentido se alguém ali acreditasse que a existência dela transcende a carne.
A crítica ao estilo de vida do protagonista anunciada até então é negada pela absolvição dos filhos, como se fosse razoável julgar os atos de um adulto a partir das mentes racionais de crianças, mesmo que fossem crianças com cérebros aditivados. Como se fosse o cérebro que julgasse a vida de qualquer pessoa, e não o coração.
Ao invés de julgar a racionalidade adulta pelo coração infantil, questionando a racionalidade sectária do pai, são crianças adultizadas que o redimem, ou melhor, reiteram. Ainda que, de fato, os corpos de crianças e adultos possam ser muito mais fortes e saudáveis do que são em nossa era doente, a equiparação do pensamento das crianças com o dos adultos sem diferença qualitativa é fantasiosa.
E o mais velho, que não é mais criança logo no início do filme (mas age como uma quando se depara com uma mulher), que questionava o despreparo social que aquele estilo de vida ensinou, e até então pretendia estudar em uma universidade, ao final do filme resolve ir para a Namíbia. Por quê? Por sorteio, por puro esnobismo, pra reafirmar que qualquer acaso aleatório é mais legítimo do que seguir os caminhos de empoderamento disponíveis na sociedade ocidental contemporânea.
Aí está um grande mérito do filme, o questionamento da legitimidade da autoridade familiar sobre a formação das crianças. Doutorados sobre Direito e Serviço Social poderiam ser feitos para discutir o mérito da guarda do protagonista. Você, psicólogo(a), assistente social, promotor(a): garantiria às crianças o direito fundamental ao convívio com o pai, que acredita que a paternidade é ser um tipo de agente da seleção natural? Qual dos estilos de vida mostrados no filme é mais perigoso e insalubre? Correr o risco de quebrar a mão (ou o pescoço) numa escalada no meio da floresta isolada ou viver se alimentando de violência midiática e comida viciante, cheia de açúcar, sal, gordura e agrotóxicos, cuidadosamente balanceada com remédios pra pressão, diabetes, ansiedade e quimioterapia, correndo o risco de ser brutalmente assassinado no trânsito ou nas mãos de homens violentos? As estatísticas de causas de mortalidade são bastante eloquentes nesse questionamento.
A menos que seja visto como uma fábula de apologia à contracultura dos EUA, tanto quanto são fábulas contemporâneas os filmes de super-heróis. Mas será que o filme pretende ser uma fábula? Me parece que não, por sua narrativa e seu discurso de "realismo". Esse pretenso realismo, antes de ser fruto de má-fé, é fruto da falta de fé, que frutifica a ideia fantasiosa de que há uma "realidade nua e crua", fruto da ideia ingênua de que há, para o humano, uma realidade em si mesma.
Ao expor "a vida como ela é" para as crianças (como naquela descrição médica e maquinal que ele faz sobre o sexo diante da pergunta "o que é sexo?", como se qualquer pessoa que não seja um robô visse o sexo daquele jeito), supõe estar contando a verdade sobre os fatos da vida, quando na verdade está contando *sua* versão dos fatos sobre como *ele* vê a vida, uma versão desencantada e mecanicista da vida. Mas ele não fala como quem fala de sua perspectiva, e sim como se falasse "a verdade", em contraste injusto com a visão subestimadora sobre a vida da família de mentalidade medíocre. A caricatura estereotipada da família não é uma comparação razoável, e só é exposta para refirmar os valores do protagonista. É fácil escolher pela floresta isolada diante de uma sociedade doente, obesa, ignorante e hipócrita. Mas não é possível que não haja nenhuma alternativa entre a mediocridade que justifica os vícios morais pela normalidade e o sectarismo autista e arrogante.
Nessa interação entre as famílias do protagonista e de sua irmã está o cerne do filme: a exposição da contracultura como uma mentalidade parasitária, que só existe em função daquilo a que se opõe, sem compreender o que se opõe, nem mesmo as armas intelectuais que supõe opor ao status quo. O que diabos quer dizer ser maoísta no meio da floresta? Como dizia um amigo meu, "um homem no meio da floresta não é um homem livre, é um homem sozinho". Um dos pensamentos centrais do filme ("Somos definidos por nossas ações, não por nossas palavras"), confluência entre o pensamento maoísta ("A prática é o critério da verdade") e o pensamento cristão ("É por seus frutos que os conhecereis"), expõe a hipocrisia do filme. A erudição que habilita a dissecar e analisar a sociedade como um todo ou as pessoas ao redor não é capacidade de compreender, alcançar a experiência do outro, conseguir se colocar no lugar do outro, ter empatia. Nem erudição, nem mesmo a sabedoria, jamais poderão se comparar ao amor.
Mas, como o próprio Ben deve saber, entendido que deve ser de psicanálise, ao falar sobre Paulo, Pedro fala mais sobre Pedro do que sobre Paulo. Por isso, justamente ao tentar expor os valores fracassados da cultura ocidental contemporânea, expõe seus próprios valores e as mentiras que os fundamentam a contracultura, e os vícios morais que são a base que não as sustentam: uma profunda arrogância e misantropia. E o faz de forma tão exposta, humana, e bela (com grande mérito para o elenco absolutamente incrível), que se desnuda sem saber. Ser arrogante é, afinal, expor suas fragilidades na vitrine. O filme acaba então, por contraste, nos lembrando de toda a beleza que a fraternidade universal pode exuberar, se nós nos entregarmos à busca pelo transcendente e desconhecido que começa com o mais humilhante gesto: a fé.
O Utopista (de Murillo Mendes)
"Ele acredita que o chão é duro Que todos os homens estão presos Que há limites para a poesia Que não há sorrisos nas crianças Nem amor nas mulheres Que só de pão vive o homem Que não há um outro mundo."
Apesar da ironia do Dustin Hoffman representar de forma empática alguém que sofre na pele algo que ele mesmo fez outras sofrerem, a narrativa e o excelente humor surge de nossa simpatia pelos personagens carismáticos e nosso envolvimento em seus dramas e relações, e não de uma zombaria, fazendo desse excelente filme mais do que um filme da indústria cultural sobre a própria indústria cultural. O que não está claro pra mim é se os envolvidos não se deram conta de que o filme tratava deles mesmos.
Troque a as naves por caminhões e o espaço sideral pelas estradas e você tem a busca de um filho por um pai caminhoneiro ausente que foge da família e da intimidade, contada de forma rebuscada por distrações visuais e sonoras.
Um tema melhor explorado por outros que não recearam se expor diante desse tema triste e sem glamour de forma mais corajosa e sincera, como A Mula, de Clint Eastwood.
Lamentável ver quão fácil é cooptar intelectualmente uma geração educada desde criança pela indústria cultural. Num mundo em que todo mundo é um público-alvo, é muito fácil comprar públicos-alvo particularmente suscetíveis a adulação. Poderia ser comprimido em 15 minutos de duração, e aí pareceria um vídeo feito pra ser exibido na abertura de uma palestra motivacional. Isso fora a protagonista quebrando a quarta parede e olhando pra gente de cinco em cinco minutos, forçando a amizade.
Apesar disso, os figurinos e cenários estão impecáveis.
Impressionante, é a primeira vez que vejo uma animação com atores ruins!
Parte de mim passou o filme constrangido com as expressões afetadas e repetitivas dos personagens, o resto passou o filme revoltado com o tanto de dinheiro jogado fora com uma animação tão incrível contando uma história tão fraca, covarde e calculista, tão meticulosamente criada pra não pisar um único passo em falso na era da mediocridade e do politicamente correto precário.
Uma história pouco original embrulhada em um worldbuilding preguiçoso e comercial. Um retrato sem questionamentos da mentalidade contemporânea sectária da racialização das identidades, que emula o universo imaginário dos jogos de videogame: cinco reinos-facções com particularidades, forças e fraquezas balanceadas fingindo não existir assimetrias entre as nações, para não insinuar qualquer metáfora de denúncia. As premissas simbólicas não são desenvolvidas, tornando artificial e superficial a construção cultural antropológica de cada reino. O pertencimento é reduzido a uma questão de consumo e preferências estéticas identitárias. A diferença e diversidade são representados a partir da mentalidade beligerante das disputas de times: #teamfulano vs. #teamciclano.
A solução proposta pro desafio do sectarismo, a confiança, é apresentada sem verdadeiros conflitos, esvaziando a vivência do clímax previsível. O tema da finitude e o horror da guerra são banalizados com a morte reduzida à metáfora da petrificação reversível. No final, ninguém chora nenhuma perda, como se uma guerra racista acabasse sem nunca ter tirado nada de ninguém. O dragão, o representante da transcendência, é representado de forma banal e dessacralizada, como só mais um personagem imaturo e de mal gosto.
São filmes como esse e a forma como a protagonista foi tratada por todos os homens do filme em várias cenas chocantes (e quantidade de comentários aqui de pessoas que não mostram o menor desconforto ou estranhamento) que nos lembram o porquê de ter surgido o feminismo no mundo.
A General
4.4 175 Assista AgoraUm filme histórico, em vários sentidos: um filme antigo, feito em 1926, da primeira era do cinema, um filme sobre história, sobre a Guerra da Secessão, e um filme fundador de praticamente todas convenções de vários gêneros: histórico, ação, guerra, comédia. As manobras que o cara faz no filme, sem dublê, muito antes de Tom Cruise e Jackie Chan serem modinha ou até nascerem, são de arrancar o cabelo. É completamente impressionante ver esse filme e reconhecer nele fórmulas usadas à exaustão por centenas de filmes que vieram depois, e descobrir que esse filme já fez tudo antes, lá em 1926. Você se sente vendo um filme atual.
No Ritmo do Coração
4.1 754 Assista AgoraO engraçado é ver a maior parte dos admiradores do filme abrindo seus comentários com a mesma advertência "É original? Não é! Mas eu gostei mesmo assim!". xD
Capitão América: Guerra Civil
3.9 2,4K Assista AgoraO filme mostra o que fazem quando se deparam com dilemas e situações limites agentes poderosos com capacidade de reflexão limitada, cujas características mais distintivas são seus poderes e não sua capacidade de tomar decisões refletidas: se comunicam com a linguagem que sabem usar, a de seus poderes. Antes de serem capazes de entender a situação, saem na porrada.
Num mundo em que o poder ainda for considerado virtude sempre haverá guerra. Que o digam Putin e os agentes públicos e privados que lutam pra controlar os EUA e o mundo.
A complexidade do filme está no fato do Capitão América, que quer ter permissão para intervir em conflitos internacionais sem ter nenhuma autoridade que questione ou limite essa intervenção, se mostra o único preocupado com os princípios que guiam as ações a serem tomadas.
Lamentavelmente, o que acontece no mundo é o contrário do mostrado no filme: o que guia o intervencionismo dos EUA no mundo são os interesses econômicos e o agente com o maior poder nos EUA atual não é o Capitão América, e sim o milionário filantropo e fabricante de armas Tony Stark, que em nosso mundo pensa o contrário do que o Homem de Ferro do filme, e até agora busca justificar intervenções dos EUA no mundo em nome da "segurança nacional" (quando é na verdade em nome do dinheiro). Exatamente como está fazendo Putin intervindo na Ucrânia para "garantir a paz" entre os "separatistas que declararam independência".
Precisamos de um Capitão América pra "trazer umas reflexões" para a cabeça do Tony Stark.
Ron Bugado
3.8 104 Assista AgoraPropaganda ideológica pró-tech disfarçada de crítica.
Ron Bugado
3.8 104 Assista AgoraPropaganda ideológica pró-tech disfarçada de crítica.
A General
4.4 175 Assista AgoraInacreditável. Um épico de 1926 dando aula pros contemporâneos filmes de ação, suspense, aventura, romance, comédia, guerra... Impressionante constatar o quanto esse filme forjou fórmulas narrativas que até hoje são reproduzidas. Difícil não elencar entre os melhores filmes de todos os tempos.
Não Olhe para Cima
3.7 1,9K Assista AgoraOscar de Melhor Documentário: já ganhou!
E se você você fala coisas do tipo "tenho dó dos animais, mas as pessoas têm mais é que desaparecer mesmo" depois desse filme, o que mais será que os Mindies, Oglethorpes e Dibiaskys da vida têm que fazer pra você reconhecer sua própria responsabilidade como ser humano e ter empatia com seus semelhantes?
Edward Mãos de Tesoura
4.2 3,0K Assista AgoraO filme mais Almodovar do Tim Burton, antes dele ser trocado por um replicante de sangue azul que faz filmes sem a menor graça.
Glitter: O Brilho de uma Estrela
2.0 153Você é fã da Mariah Carey? Então não perca tempo!
Agora, você quer ver um filme bom? Então não perca seu tempo...
Chocolate
3.7 773Um filme com um dilema político incrivelmente simplório e maniqueísta.
O pior? Os dilemas contemporâneos do mundo, ou ao menos, do Brasil, foram reduzidos a esses dilemas incrivelmente simplórios e maniqueístas. Será que a resposta ao conservadorismo, à preguiça estética e ao moralismo é realmente iconoclastia e auto-indulgência? Não, né. Chega de caricaturas.
Acho que o que a gente precisa é de uma paixão como o Johnny Depp. <3
Banzé no Oeste
3.7 117 Assista AgoraComo um filme de comédia, é uma metanarrativa surreal sobre o racismo fundacional dos EUA. Não veja como uma comédia, veja como um filme *muito* doido e você não vai se arrepender.
Magia ao Luar
3.4 569 Assista AgoraO monotema imaturo de Woddy Allen do encontro da paixão da vida na grama do vizinho desenvolvido de forma apressada num filme visualmente deslumbrante sobre pessoas ricas e desocupadas flanando em paisagens maravilhosas e luxuosas enquanto discutem sobre paixão, ciência e os mistérios da vida de forma superficial e monótona. Literalmente com o mesmo tom, como quem discute amor da mesma forma que discute uma notícia lida numa revista de variedades. Às vezes me impressiona quão pouco progresso entusiastas de psicanálise podem fazer depois de tantos anos. Ou pode ser só falta de inspiração.
Cruzada
3.4 633 Assista AgoraUm retrato completamente distorcido do que foram as cruzadas e o Reino de Jerusalém, com todas deturpações históricas mais comuns que pessoas que não se dão ao trabalho de estudar história pensam sobre a Idade Média: armaduras não oferecem qualquer proteção e espadas e lâminas atravessam cota de malha como se fosse bijuteria; as catapultas e trebuchets lançam pedras que explodem como mísseis de napalm; os templários são bandoleiros sanguinários sem honra; os europeus são uns bárbaros sectários sem higiene e noção ecológica nenhuma e vivem sujos e ranhentos, especialmente o General Cascão, Balian, que por algum motivo está sempre com a cara completamente imunda, mesmo quando até guerreiros e trabalhadores ao redor dele estão limpos.
Mesmo na versão mais longa de todas, os eventos finais do filme jamais aconteceram, Jerusalém não caiu do jeito representado pelo filme, nem são reais os eventos do início da vida de Balian.
A recusa de Bailian da mão de Sibylla não faz o menor sentido, nem com os fatos históricos, nem mesmo com o roteiro do filme. Oficializar um casamento que seria do maior interesse do reino, legitimando o romance extraconjugal com quem ele supostamente amava, e ainda realizar o desejo do rei. Não???
Mas, de todas as distorções históricas do filme, sem dúvida a mais absurda é supor que em pleno século XIII ninguém acreditava em Deus e todo mundo era cínico em relação à religião, principalmente os sacerdotes. Se, nos dias de hoje, depois da reforma, da imprensa, do iluminismo, da revolução industrial, do modernismo, do maio de 1968 e da Internet a maior parte do mundo vive em igrejas, templos e mesquitas, você realmente acha que as pessoas pensavam assim em plena Idade Média e iam atravessar milhares de quilômetros a pé, a cavalo e em navios precários em uma viagem que era caríssima e quase sempre paga com os próprios recursos por niilismo e oportunismo?
A única coisa mais próxima da verdade nesse filme é a representação do lendário Rei Leproso, magistralmente representado por Edward Norton, que realmente impôs suas primeiras vitórias militares aos 16 anos e chegava a virar o destino de um confronto só de chegar ao campo de batalha. Ele já chegou a comandar uma batalha em febre alta e completamente incapacitado, sendo carregado em uma liteira, e venceu.
Vale pela Eva Green e para ver o Rei Leproso.
Capitão Fantástico
4.4 2,7K Assista AgoraO filme mais cínico, absurdo, belo e fantástico (em todos os sentidos) de que me recordo ter visto.
Cínico porque fundamentado sobre (ao menos) três grandes mentiras: 1. a sabedoria pode vencer o poder, a erudição pode capacitar no caminho do amadurecimento e do autoconhecimento e habilitar nos infinitamente complexos jogos sociais; 2. a experiência vivida de crianças não é diferente da de adultos; 3. não há transcendência.
Um questionamento da primeira falácia é ensaiado no próprio filme; mas, de forma covarde, o filme transforma a única possibilidade de questionamento e auto-superação que o protagonista teria em uma reafirmação dos seus próprios valores "tradicionais", ao
fazer os filhos fugirem da casa do avô e reafirmarem a meta de cumprir o testamento da falecida mãe, que só faria sentido se alguém ali acreditasse que a existência dela transcende a carne.
A crítica ao estilo de vida do protagonista anunciada até então é negada pela absolvição dos filhos, como se fosse razoável julgar os atos de um adulto a partir das mentes racionais de crianças, mesmo que fossem crianças com cérebros aditivados. Como se fosse o cérebro que julgasse a vida de qualquer pessoa, e não o coração.
Ao invés de julgar a racionalidade adulta pelo coração infantil, questionando a racionalidade sectária do pai, são crianças adultizadas que o redimem, ou melhor, reiteram. Ainda que, de fato, os corpos de crianças e adultos possam ser muito mais fortes e saudáveis do que são em nossa era doente, a equiparação do pensamento das crianças com o dos adultos sem diferença qualitativa é fantasiosa.
E o mais velho, que não é mais criança logo no início do filme (mas age como uma quando se depara com uma mulher), que questionava o despreparo social que aquele estilo de vida ensinou, e até então pretendia estudar em uma universidade, ao final do filme resolve ir para a Namíbia. Por quê? Por sorteio, por puro esnobismo, pra reafirmar que qualquer acaso aleatório é mais legítimo do que seguir os caminhos de empoderamento disponíveis na sociedade ocidental contemporânea.
Aí está um grande mérito do filme, o questionamento da legitimidade da autoridade familiar sobre a formação das crianças. Doutorados sobre Direito e Serviço Social poderiam ser feitos para discutir o mérito da guarda do protagonista. Você, psicólogo(a), assistente social, promotor(a): garantiria às crianças o direito fundamental ao convívio com o pai, que acredita que a paternidade é ser um tipo de agente da seleção natural? Qual dos estilos de vida mostrados no filme é mais perigoso e insalubre? Correr o risco de quebrar a mão (ou o pescoço) numa escalada no meio da floresta isolada ou viver se alimentando de violência midiática e comida viciante, cheia de açúcar, sal, gordura e agrotóxicos, cuidadosamente balanceada com remédios pra pressão, diabetes, ansiedade e quimioterapia, correndo o risco de ser brutalmente assassinado no trânsito ou nas mãos de homens violentos? As estatísticas de causas de mortalidade são bastante eloquentes nesse questionamento.
A menos que seja visto como uma fábula de apologia à contracultura dos EUA, tanto quanto são fábulas contemporâneas os filmes de super-heróis. Mas será que o filme pretende ser uma fábula? Me parece que não, por sua narrativa e seu discurso de "realismo". Esse pretenso realismo, antes de ser fruto de má-fé, é fruto da falta de fé, que frutifica a ideia fantasiosa de que há uma "realidade nua e crua", fruto da ideia ingênua de que há, para o humano, uma realidade em si mesma.
Ao expor "a vida como ela é" para as crianças (como naquela descrição médica e maquinal que ele faz sobre o sexo diante da pergunta "o que é sexo?", como se qualquer pessoa que não seja um robô visse o sexo daquele jeito), supõe estar contando a verdade sobre os fatos da vida, quando na verdade está contando *sua* versão dos fatos sobre como *ele* vê a vida, uma versão desencantada e mecanicista da vida. Mas ele não fala como quem fala de sua perspectiva, e sim como se falasse "a verdade", em contraste injusto com a visão subestimadora sobre a vida da família de mentalidade medíocre. A caricatura estereotipada da família não é uma comparação razoável, e só é exposta para refirmar os valores do protagonista. É fácil escolher pela floresta isolada diante de uma sociedade doente, obesa, ignorante e hipócrita. Mas não é possível que não haja nenhuma alternativa entre a mediocridade que justifica os vícios morais pela normalidade e o sectarismo autista e arrogante.
Nessa interação entre as famílias do protagonista e de sua irmã está o cerne do filme: a exposição da contracultura como uma mentalidade parasitária, que só existe em função daquilo a que se opõe, sem compreender o que se opõe, nem mesmo as armas intelectuais que supõe opor ao status quo. O que diabos quer dizer ser maoísta no meio da floresta? Como dizia um amigo meu, "um homem no meio da floresta não é um homem livre, é um homem sozinho". Um dos pensamentos centrais do filme ("Somos definidos por nossas ações, não por nossas palavras"), confluência entre o pensamento maoísta ("A prática é o critério da verdade") e o pensamento cristão ("É por seus frutos que os conhecereis"), expõe a hipocrisia do filme. A erudição que habilita a dissecar e analisar a sociedade como um todo ou as pessoas ao redor não é capacidade de compreender, alcançar a experiência do outro, conseguir se colocar no lugar do outro, ter empatia. Nem erudição, nem mesmo a sabedoria, jamais poderão se comparar ao amor.
Mas, como o próprio Ben deve saber, entendido que deve ser de psicanálise, ao falar sobre Paulo, Pedro fala mais sobre Pedro do que sobre Paulo. Por isso, justamente ao tentar expor os valores fracassados da cultura ocidental contemporânea, expõe seus próprios valores e as mentiras que os fundamentam a contracultura, e os vícios morais que são a base que não as sustentam: uma profunda arrogância e misantropia. E o faz de forma tão exposta, humana, e bela (com grande mérito para o elenco absolutamente incrível), que se desnuda sem saber. Ser arrogante é, afinal, expor suas fragilidades na vitrine. O filme acaba então, por contraste, nos lembrando de toda a beleza que a fraternidade universal pode exuberar, se nós nos entregarmos à busca pelo transcendente e desconhecido que começa com o mais humilhante gesto: a fé.
O Utopista (de Murillo Mendes)
"Ele acredita que o chão é duro
Que todos os homens estão presos
Que há limites para a poesia
Que não há sorrisos nas crianças
Nem amor nas mulheres
Que só de pão vive o homem
Que não há um outro mundo."
Esqueceram de Mim
3.5 1,3K Assista AgoraUma obra-prima do entretenimento infantil.
Tootsie
3.8 266 Assista AgoraApesar da ironia do Dustin Hoffman representar de forma empática alguém que sofre na pele algo que ele mesmo fez outras sofrerem, a narrativa e o excelente humor surge de nossa simpatia pelos personagens carismáticos e nosso envolvimento em seus dramas e relações, e não de uma zombaria, fazendo desse excelente filme mais do que um filme da indústria cultural sobre a própria indústria cultural. O que não está claro pra mim é se os envolvidos não se deram conta de que o filme tratava deles mesmos.
Querida Vou Comprar Cigarros e Já Volto
3.8 172 Assista AgoraUma ótima premissa desperdiçada em uma execução niilista e de péssimo gosto, com um humor cínico e repleto de sexismo.
Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes
4.2 580 Assista AgoraO nome no Brasil deveria ser os Quatro Patetas e os 40 Gângsters Trapalhões, com o trailer narrado pelo narrador de trailers da sessão da tarde!
Ad Astra: Rumo às Estrelas
3.3 850 Assista AgoraTroque a as naves por caminhões e o espaço sideral pelas estradas e você tem a busca de um filho por um pai caminhoneiro ausente que foge da família e da intimidade, contada de forma rebuscada por distrações visuais e sonoras.
Um tema melhor explorado por outros que não recearam se expor diante desse tema triste e sem glamour de forma mais corajosa e sincera, como A Mula, de Clint Eastwood.
Enola Holmes
3.5 816 Assista AgoraLamentável ver quão fácil é cooptar intelectualmente uma geração educada desde criança pela indústria cultural. Num mundo em que todo mundo é um público-alvo, é muito fácil comprar públicos-alvo particularmente suscetíveis a adulação. Poderia ser comprimido em 15 minutos de duração, e aí pareceria um vídeo feito pra ser exibido na abertura de uma palestra motivacional. Isso fora a protagonista quebrando a quarta parede e olhando pra gente de cinco em cinco minutos, forçando a amizade.
Apesar disso, os figurinos e cenários estão impecáveis.
A Casa Caiu - Um Cassino na Vizinhança
2.8 107 Assista AgoraMe impressiona a grana que a nascente indústria da maconha dos Estados Unidos está investindo em propaganda em filmes.
Um Peixe Chamado Wanda
3.5 169 Assista AgoraSem graça, forçado e mal atuado.
Raya e o Último Dragão
4.0 646 Assista AgoraImpressionante, é a primeira vez que vejo uma animação com atores ruins!
Parte de mim passou o filme constrangido com as expressões afetadas e repetitivas dos personagens, o resto passou o filme revoltado com o tanto de dinheiro jogado fora com uma animação tão incrível contando uma história tão fraca, covarde e calculista, tão meticulosamente criada pra não pisar um único passo em falso na era da mediocridade e do politicamente correto precário.
Uma história pouco original embrulhada em um worldbuilding preguiçoso e comercial. Um retrato sem questionamentos da mentalidade contemporânea sectária da racialização das identidades, que emula o universo imaginário dos jogos de videogame: cinco reinos-facções com particularidades, forças e fraquezas balanceadas fingindo não existir assimetrias entre as nações, para não insinuar qualquer metáfora de denúncia. As premissas simbólicas não são desenvolvidas, tornando artificial e superficial a construção cultural antropológica de cada reino. O pertencimento é reduzido a uma questão de consumo e preferências estéticas identitárias. A diferença e diversidade são representados a partir da mentalidade beligerante das disputas de times: #teamfulano vs. #teamciclano.
A solução proposta pro desafio do sectarismo, a confiança, é apresentada sem verdadeiros conflitos, esvaziando a vivência do clímax previsível. O tema da finitude e o horror da guerra são banalizados com a morte reduzida à metáfora da petrificação reversível. No final, ninguém chora nenhuma perda, como se uma guerra racista acabasse sem nunca ter tirado nada de ninguém. O dragão, o representante da transcendência, é representado de forma banal e dessacralizada, como só mais um personagem imaturo e de mal gosto.
Aconteceu Naquela Noite
4.2 332 Assista AgoraSão filmes como esse e a forma como a protagonista foi tratada por todos os homens do filme em várias cenas chocantes (e quantidade de comentários aqui de pessoas que não mostram o menor desconforto ou estranhamento) que nos lembram o porquê de ter surgido o feminismo no mundo.