Obra-prima árdua e mui recompensante, que literalmente obriga os espectadores a repensarem e ressentirem a lógica reativa, tamanha a quantidade de experimentações inicialmente teatrais convertidas em puro cinema de vanguarda emotiva, demonstrando mais uma vez o quão político é o subgênero melodramático!
A protagonização do Gunter Lamprecht é absolutamente soberba em seu misto de repugnância factual e desamparo emocional, resultando num personagem tão complexo quanto situacionalmente previsível, um fantoche ditatorial convertido em medíocre sobrevivencial.
Infelizmente, precisei dividir os capítulos num punhado de dias, por conta de outras atividades pessoais, e talvez fosse melhor assim, de tão abalado que fiquei com a dramaticidade violenta da narrativa, com certeza muito expandida em relação ao romance original, que tenho a obrigação de ler o quanto antes.
Sempre reclamei de não compreender adequadamente a genialidade fassbinderiana, apesar de amar vários de seus filmes, mas, aqui, ele atinge o paroxismo do próprio "estilos" (no plural), tamanha a adoção inventiva em cada filigrana desta obra mui extensa e sublime em sua integralidade, por mais mundana que atreva-se em ser também.
Ainda estou recuperando-me da derradeira sessão (um epílogo quase feliz em seus respiros 'rockers'), depois de 13 episódios de intensa angústia. Filmaço. De primeira qualidade: experiência para a vida! <3 (WPC>)
Estava tão ansioso para ver este filme que submeti-me a ele sem legendas mesmo e sem ter acesso pleno ao terceiro episódio... Apesar da dificuldade de entendimento desencadeada (visto que quase todos os personagens falam como se tivessem alguma deformidade cerebral - o que é uma das denúncias críticas do roteiro, em termos de exposição do incesto contextual), a imersão foi total: gargalhei altissonantemente desde o início. A abordagem cômica e absurda é, aqui, ainda mais intensa que no anterior (e também brilhante) O PEQUENO QUINQUIN. A melhor maneira de definir esta obra de arte mui peculiar é comparando-a a outras obras: estamos aqui diante de uma regravação contemporânea e radicalmente anti-xenofóbica de VAMPIROS DE ALMAS, realizada por um imitador coeniano absolutamente devoto do estilo bressoniano e admirador confesso de Jacques Tati. Deu para sentir a envergadura do projeto?! (risos)
Pelo sim, pelo não, o elenco amadurecido e já conhecedor dos hábitos pitorescos de seus personagens está excelente, bem como o uso surpreendente da canção " 'Cause I Knew" como impressionante 'leitmotiv' [o desfecho é um clímax soberbo, uma obra-prima do nonsense, uma jóia indescritível, apenas sensível aplaudível ao extremo]. Não obstante o seu viés predominante engraçado (repito: gargalhei sozinho), a égide política do filme é intensa e muitíssimo direcionada em sua metralhadora de ataques: dos preconceitos contra homossexuais ou imigrantes até os maus tratos contra deficientes mentais e/ou animais, o filme elenca todos os comportamentos publicamente reprováveis da Comunidade Européia, conforme abundantemente noticiado nos últimos anos. Quando a gente pensa que encontrou algum defeito estrutural (pensemos no colóide negro que não pára de cair do céu), o filme serve-se do nonsese obsessivo como justifucativa de sua genialidade. Fiquei escandalizado com o brilhantismo insigne desta peça grandiloqüente de cinema. Soberbo! (WPC>)
Apesar da marcação e da cotação geral, analiso aqui o Piloto do seriado, lançado como filme avulso à época loquei inclusive o VHS, fiquei deslumbrado, mesmo com a trama inconclusa): brilhantes atuações, aparição encantatória da Julee Cruise no bar... Revi o episódio para buscar algumas conexões extras com a incoesa terceira temporada. Mas é um filme à parte este piloto magistralmente dirigido por David Lynch: dramático ao extremo! Fiquei positivamente escandalizado com tamanha beleza revivida. Obra-prima!
quanto ao restante do seriado, decai consideravelmente, mas... o Piloto é soberbo, insisto! (WPC>
Apesar da longa duração, temos que admitir que a narrativa pessoal do diretor a partir de um dos melhores livros de todos os tempos é deveras aplaudível: no início, chateei-me com a empostação das interpretações, com o uso "esperto" (no sentido mais planejado) da trilha cancional, com a montagem esquizofrênica... Mas, aos poucos, percebendo o tom íntimo do roteiro em comparação com o estilo dialógico do livro, todas as opções vão fazendo sentido, ao passo de se demonstrarem insignes no desfecho. Como não ficar perpetuamente deslumbrando sempre que ouvirmos os acordes iniciais de "Elephant Gun"? Como não?! Muito bom, tenho que dar a cara a tapa! (WPC>)
O fato de cada um dos episódios seguir exatamente a mesma estrutura (REALIDADE + TELEVISÃO + HISTÓRIA) faz com que o filme pareça um tanto cansativo quando visto em sua integralidade de mais de cinco horas, porém a proposta é genial, algumas das entrevistas com as crianças são geniais e as ficçõezinhas musicais são extraordinárias. Godard e sua esposa educam-nos deveras com esta série, em mais de um sentido, de maneira que, ainda que originariamente televisivo, é um filme sumamente cinematográfico, com tudo de meritório que o adjetivo deixa entrever: genial! (WPC>)
Num primeiro instante, estranhei deveras o filme... Mas todos os traços do diretor estão lá: parece que ele combina A VIDA DE JESUS (que não curto muito) com A HUMANIDADE (que eu acho soberbo), unindo todos os personagens no mesmo ambiente de FLANDRES (que eu também acho indistinto). Porém, em sua mistura de TWIN PEAKS com o universo dos irmãos Coen, o diretor Bruno Dumont revela uma mistura deveras original, própria, autoral, pós-bernanosiana... Quando a Lisa Hartmann entra em cena, o filme muda de tom, escandaliza, demonstra-se como s peça genial de suspense cômico que ele é, em que o essencial está nas entrelinhas, em que o que deve ser revelado não é expresso, mas escamoteado sob a máscara do motoqueiro, sob as roupas lascivas na igreja, sob a maquiagem bizarra antes do banho de mar, sob os ácidos gástricos de vacas, porcos e seres humanos imbuídos de uma maldade que talvez não seja inata... Um filme-tese, como todas as obras anteriores do diretor. Absolutamente genial e fascinante, sobretudo no uso inaudito de sua trilha musical, na eloqüência do olhar melancólico dos personagens infantis e na crença inequívoca no amor que o filme deixa transparecer em meio à chacina rural que nos apresenta. Filmaço! (WPC>)
Vi esta verdadeira saga ao longo de mais ou menos 3 dias e jamais esquecerei a música-tema, encantadora. Porém, o roteiro entulhado de preconceitos me incomodou bastante: o modo ridículo como os personagens africanos são retratados me irritou! E o modo como o coitado do Bonga é mostrado? Como um escravo feliz por sua condição de macaco subserviente, urgh! O aventureiro protagonista é muito ruim e o garotinho Baru é esquisitíssimo, sendo as ações e diálogos do filme constrangedoras. Mas os clímaxes de ação divertem, os homens-morcego são ótimos (amava cada revoada!) e, ao final, até que é divertido passar quatro horas e meia em companhia destes personagens (risos) - WPC>
Se fosse um pouquinho mais curta, funcionaria melhor... O começo não engrena de imediato, mas, quando a personagem-título mostra-se mais relevante que os casos amorosos sufocados do personagem de Richard Jenkins, aí o filme decola maravilhosamente, de modo que a meia-hora final é capaz de emocionar qualquer um... Juro que as lágrimas vieram à tona quando a música de Carter Burwell encontraram o rosto choroso da magnânima Frances McDormand. O desfecho é lindo! Aberto e certeiro, mas, até que este desfecho chegue, a diretora encheu muita lingüiça dramática, infelizmente. Mas merece ser conferido e divulgado! (WPC>)
Tive acesso a esta pérola na versão de 3h10' que a TV Bandeirantes exibiu - e fiquei absolutamente encantado! Além de o protagonista ser magnificamente interpretado, a devoção do cineasta às suas contradições político-ideológicas é absolutamente genial, antecipando o tom de intensa autocrítica que voltaria no também genial DEPOIS DE MAIO. É incrível o quanto o diretor consegue ser coerente e sutil em sua análise vigorosa dos sintomas decadentes da crise contemporânea da esquerda antiimperialista. O uso da trilha sonora é absolutamente magistral bem como a abundância de identificações de cargos estatais, que chafurdam em meio aos crimes quase eróticos do protagonista. E a montagem? Para além da longa duração do filme, é tudo muito elíptico, frenético, agitado como a vida do personagem real. Só não é uma obra-prima porque o ritmo sofreu uma queda em sua segunda parte, mas, mesmo assim, é avassalador! A melancolia do desfecho é angustiante! (WPC>)
É um décimo melhor que a primeira parte: o ritmo é muito melhor e o roteiro é cheio de rimas inteligentes, mas, infelizmente, o problema de forçar a barra para estender a narrativa incomoda muito (vide tudo o que é relacionado às corridas de ambulância, por exemplo). O mesmo pode ser reclamado acerca da participação falante de Udo Kier, mas não ao desempenho visceral e ótimo do protagonista Ernst-Hugo Järegård. Ele é fabuloso! Pena que repetem uma cena no interior de um arquivo similar à da primeira parte, que desperdiça o seu talento. Vale a pena ser visto e discutido, entretanto: todas as marcas registradas do Lars Von Trier estão lá: aliás, suas intervenções, ao final de cada episódio, são geniais! kkkkkk (WPC>)
Vi o filme inteiro de uma sentada só e, por mais que eu tenha apreciado os personagens, achei as situações forçadas e o desenvolvimento moroso. Sinceramente, lá pelas duas horas e meia, eu estava sentindo-me absolutamente claustrofóbico, o que talvez seja proposital, frente àquela fotografia estranhíssima. Além disso, não gostei muito de algumas soluções narrativas precipitadas, como a inserção da hipocondríaca espírita no hospital, por mais que sua participação seja capital para o desenvolvimento da narrativa e para a eclosão do extraordinário, genial e perturbador desfecho (inconcluso), que possui um magnífico clímax sardônico:
praticar um exorcismo com o auxílio de uma raquete foi um golpe de mestre! kkkkk Sem contar que aquele parto é violentíssimo, maravilhoso!
Como bem disse um articulista australiano impressionado com o que viu aqui, é um 'tour-de-farce' (com A mesmo) ousado e prepotente como só o Larsinho poderia compor. Aliás, as suas aparições ao final de cada episódio são soberbas: ri muito com o jeito macilento com que ele faz o sinal de malevolência demoníaca! [hehehehehe] - WPC>
O diretor assina a minissérie como 'a film by Todd Haynes' e, como tal, não duvido que ela seja lançada como filme em breve. Aliás, já o é e, portanto, sinto-me autorizado a avaliá-lo desta forma por aqui e, caramba, apesar das mais de 5 horas de duração, é um ótimo filme! Fica bastante arrastado (e um tanto cansativo) entre o terceiro e o quinto capítulo, mas é ótimo! Desgostei das interpretações de Evan Rachel Wood e Guy Pearce, mas o restante do elenco está extraordinário: Kate Winslet está divina, como era de se esperar! E a trilha sonora de Carter Burwell? um convite certeiro ao melodrama! E os créditos de abertura? Geniais e muito sintéticos em relação às diversas modificações de Todd Haynes em relação à versão anterior do Michael Curtiz: a trama é muito, muito diferente mesmo, tanto em condução narrativa quanto em conteúdo e gênero hollywoodiano! Preciso ler o romance original do James M. Cain! (WPC>)
Nenhuma, insisto, NENHUMA palavra que eu diga aqui será suficiente para transmitir o verdadeiro estupor e satisfação que eu experimentei durante os perfeitos 399 minutos de projeção deste filme! Gastei quase 7 horas de minha vida consumindo uma das mais geniais comunhões de drama, humor, romance, erotismo, tramóias policialescas e realismo poético de toda a História do Cinema - e isso num filme realizado há 95 anos! Absolutamente perfeito, com a diva Stacia Napierkowska eternizando-se numa seqüência brilhante de 5 minutos, enquanto Musidora rouba (literalmente, inclusive) todas as cenas que protagonista... Absolutamente genial! Durante a sessão, tive que ficar de pé várias vezes para louvar o talento infindável do supremo Louis Feuillade. Obra-prima - e nada do que eu diga conseguirá sequer chegar perto da emoção que sinto agora por finalmente ter visto esta preciosidade! (WPC>)
Admito que a longa duração e a aspereza do tema (o racismo administrativo que surge após um desastre natural de larguíssimas proporções) dificultam o acesso ao filme, mas quem se dispõe a navegar por este riacho transbordado de denúncias mui pertinentes de um dos mais geniais norte-americanos vivos ficará com o coração na boca, com os dentes trincados de raiva. É incrível como a realidade pode permitir tantos artifícios fílmicos inspirados (vide os surpreendentes créditos de encerramento) sem deixar de ser realidade! Absolutamente urgente e obrigatório a qualquer um que se pretenda antenado com as lutas por direitos humanos! (WPC>)
Recuso-me terminantemente a entender O DECÁLOGO como um filme apenas, mas sim como uma série de 10 filmes, interdependentes entre si, mas com especificidades técnicas e enredísticas que autorizam que, eventualmente, assistamos aos 10 capítulos em ordens variadas... Alguns são melhores do que outros, mas, no conjunto, minha nota é elevadíssima. os temas isolados do Zbigniew Preisner são executados 'ad extremis' na radiola daqui de casa. Maravilha de filmes. Repito: filmes, no plural! (WPC>)
Vi faz tempo (obrigado, SBT) em versão um pouco reduzida (acho que só tinha 180 minutos), mas com todas as suas limitações telefílmicas originais, prende a atenção e mantém o suspense e a qualidade mediana em alta. Stephen King costuma ser bem-adaptado nas telas, por sorte. Aliás, tenho certeza de que, se eu revê-lo agora, vou aumentar consideravelmente a nota! (WPC>)
A atriz Tabalipa quase põe a perder a sagacidade da trama com sua apatia interpretativa, mas a contenção do diretor-roteirista merece louvor, como sempre, e o ótimo uso da trilha sonora. Depois disso, o Furtado "surtou", mas... Isso já é outra história - bem menos metalingüística do que ele pretendia... (WPC>)
5 horas de filme que passam voando, num acúmulo surpreendente de ação, suspense, drama e sur-realismo tipicamente feuilladeanos... Impressionante como ele faz surgir inúmeros personagens a cada minuto e justifica a presença de todos! (*WPC>)
Berlin Alexanderplatz
4.5 29Obra-prima árdua e mui recompensante, que literalmente obriga os espectadores a repensarem e ressentirem a lógica reativa, tamanha a quantidade de experimentações inicialmente teatrais convertidas em puro cinema de vanguarda emotiva, demonstrando mais uma vez o quão político é o subgênero melodramático!
A protagonização do Gunter Lamprecht é absolutamente soberba em seu misto de repugnância factual e desamparo emocional, resultando num personagem tão complexo quanto situacionalmente previsível, um fantoche ditatorial convertido em medíocre sobrevivencial.
Infelizmente, precisei dividir os capítulos num punhado de dias, por conta de outras atividades pessoais, e talvez fosse melhor assim, de tão abalado que fiquei com a dramaticidade violenta da narrativa, com certeza muito expandida em relação ao romance original, que tenho a obrigação de ler o quanto antes.
Sempre reclamei de não compreender adequadamente a genialidade fassbinderiana, apesar de amar vários de seus filmes, mas, aqui, ele atinge o paroxismo do próprio "estilos" (no plural), tamanha a adoção inventiva em cada filigrana desta obra mui extensa e sublime em sua integralidade, por mais mundana que atreva-se em ser também.
Ainda estou recuperando-me da derradeira sessão (um epílogo quase feliz em seus respiros 'rockers'), depois de 13 episódios de intensa angústia. Filmaço. De primeira qualidade: experiência para a vida! <3 (WPC>)
CoinCoin e os Inumanos
4.4 2Estava tão ansioso para ver este filme que submeti-me a ele sem legendas mesmo e sem ter acesso pleno ao terceiro episódio... Apesar da dificuldade de entendimento desencadeada (visto que quase todos os personagens falam como se tivessem alguma deformidade cerebral - o que é uma das denúncias críticas do roteiro, em termos de exposição do incesto contextual), a imersão foi total: gargalhei altissonantemente desde o início. A abordagem cômica e absurda é, aqui, ainda mais intensa que no anterior (e também brilhante) O PEQUENO QUINQUIN. A melhor maneira de definir esta obra de arte mui peculiar é comparando-a a outras obras: estamos aqui diante de uma regravação contemporânea e radicalmente anti-xenofóbica de VAMPIROS DE ALMAS, realizada por um imitador coeniano absolutamente devoto do estilo bressoniano e admirador confesso de Jacques Tati. Deu para sentir a envergadura do projeto?! (risos)
Pelo sim, pelo não, o elenco amadurecido e já conhecedor dos hábitos pitorescos de seus personagens está excelente, bem como o uso surpreendente da canção " 'Cause I Knew" como impressionante 'leitmotiv' [o desfecho é um clímax soberbo, uma obra-prima do nonsense, uma jóia indescritível, apenas sensível aplaudível ao extremo]. Não obstante o seu viés predominante engraçado (repito: gargalhei sozinho), a égide política do filme é intensa e muitíssimo direcionada em sua metralhadora de ataques: dos preconceitos contra homossexuais ou imigrantes até os maus tratos contra deficientes mentais e/ou animais, o filme elenca todos os comportamentos publicamente reprováveis da Comunidade Européia, conforme abundantemente noticiado nos últimos anos. Quando a gente pensa que encontrou algum defeito estrutural (pensemos no colóide negro que não pára de cair do céu), o filme serve-se do nonsese obsessivo como justifucativa de sua genialidade. Fiquei escandalizado com o brilhantismo insigne desta peça grandiloqüente de cinema. Soberbo! (WPC>)
Twin Peaks (1ª Temporada)
4.5 523Apesar da marcação e da cotação geral, analiso aqui o Piloto do seriado, lançado como filme avulso à época loquei inclusive o VHS, fiquei deslumbrado, mesmo com a trama inconclusa): brilhantes atuações, aparição encantatória da Julee Cruise no bar... Revi o episódio para buscar algumas conexões extras com a incoesa terceira temporada. Mas é um filme à parte este piloto magistralmente dirigido por David Lynch: dramático ao extremo! Fiquei positivamente escandalizado com tamanha beleza revivida. Obra-prima!
quanto ao restante do seriado, decai consideravelmente, mas... o Piloto é soberbo, insisto! (WPC>
Capitu
4.5 629Apesar da longa duração, temos que admitir que a narrativa pessoal do diretor a partir de um dos melhores livros de todos os tempos é deveras aplaudível: no início, chateei-me com a empostação das interpretações, com o uso "esperto" (no sentido mais planejado) da trilha cancional, com a montagem esquizofrênica... Mas, aos poucos, percebendo o tom íntimo do roteiro em comparação com o estilo dialógico do livro, todas as opções vão fazendo sentido, ao passo de se demonstrarem insignes no desfecho. Como não ficar perpetuamente deslumbrando sempre que ouvirmos os acordes iniciais de "Elephant Gun"? Como não?! Muito bom, tenho que dar a cara a tapa! (WPC>)
France/Tour/Detour/Deux/Enfants
4.1 1O fato de cada um dos episódios seguir exatamente a mesma estrutura (REALIDADE + TELEVISÃO + HISTÓRIA) faz com que o filme pareça um tanto cansativo quando visto em sua integralidade de mais de cinco horas, porém a proposta é genial, algumas das entrevistas com as crianças são geniais e as ficçõezinhas musicais são extraordinárias. Godard e sua esposa educam-nos deveras com esta série, em mais de um sentido, de maneira que, ainda que originariamente televisivo, é um filme sumamente cinematográfico, com tudo de meritório que o adjetivo deixa entrever: genial! (WPC>)
O Pequeno Quinquin
4.0 14Num primeiro instante, estranhei deveras o filme... Mas todos os traços do diretor estão lá: parece que ele combina A VIDA DE JESUS (que não curto muito) com A HUMANIDADE (que eu acho soberbo), unindo todos os personagens no mesmo ambiente de FLANDRES (que eu também acho indistinto). Porém, em sua mistura de TWIN PEAKS com o universo dos irmãos Coen, o diretor Bruno Dumont revela uma mistura deveras original, própria, autoral, pós-bernanosiana... Quando a Lisa Hartmann entra em cena, o filme muda de tom, escandaliza, demonstra-se como s peça genial de suspense cômico que ele é, em que o essencial está nas entrelinhas, em que o que deve ser revelado não é expresso, mas escamoteado sob a máscara do motoqueiro, sob as roupas lascivas na igreja, sob a maquiagem bizarra antes do banho de mar, sob os ácidos gástricos de vacas, porcos e seres humanos imbuídos de uma maldade que talvez não seja inata... Um filme-tese, como todas as obras anteriores do diretor. Absolutamente genial e fascinante, sobretudo no uso inaudito de sua trilha musical, na eloqüência do olhar melancólico dos personagens infantis e na crença inequívoca no amor que o filme deixa transparecer em meio à chacina rural que nos apresenta. Filmaço! (WPC>)
A Deusa de Joba
2.8 1Vi esta verdadeira saga ao longo de mais ou menos 3 dias e jamais esquecerei a música-tema, encantadora. Porém, o roteiro entulhado de preconceitos me incomodou bastante: o modo ridículo como os personagens africanos são retratados me irritou! E o modo como o coitado do Bonga é mostrado? Como um escravo feliz por sua condição de macaco subserviente, urgh! O aventureiro protagonista é muito ruim e o garotinho Baru é esquisitíssimo, sendo as ações e diálogos do filme constrangedoras. Mas os clímaxes de ação divertem, os homens-morcego são ótimos (amava cada revoada!) e, ao final, até que é divertido passar quatro horas e meia em companhia destes personagens (risos) - WPC>
Olive Kitteridge
4.5 103 Assista AgoraSe fosse um pouquinho mais curta, funcionaria melhor... O começo não engrena de imediato, mas, quando a personagem-título mostra-se mais relevante que os casos amorosos sufocados do personagem de Richard Jenkins, aí o filme decola maravilhosamente, de modo que a meia-hora final é capaz de emocionar qualquer um... Juro que as lágrimas vieram à tona quando a música de Carter Burwell encontraram o rosto choroso da magnânima Frances McDormand. O desfecho é lindo! Aberto e certeiro, mas, até que este desfecho chegue, a diretora encheu muita lingüiça dramática, infelizmente. Mas merece ser conferido e divulgado! (WPC>)
Carlos, o Chacal
4.2 50 Assista AgoraTive acesso a esta pérola na versão de 3h10' que a TV Bandeirantes exibiu - e fiquei absolutamente encantado! Além de o protagonista ser magnificamente interpretado, a devoção do cineasta às suas contradições político-ideológicas é absolutamente genial, antecipando o tom de intensa autocrítica que voltaria no também genial DEPOIS DE MAIO. É incrível o quanto o diretor consegue ser coerente e sutil em sua análise vigorosa dos sintomas decadentes da crise contemporânea da esquerda antiimperialista. O uso da trilha sonora é absolutamente magistral bem como a abundância de identificações de cargos estatais, que chafurdam em meio aos crimes quase eróticos do protagonista. E a montagem? Para além da longa duração do filme, é tudo muito elíptico, frenético, agitado como a vida do personagem real. Só não é uma obra-prima porque o ritmo sofreu uma queda em sua segunda parte, mas, mesmo assim, é avassalador! A melancolia do desfecho é angustiante! (WPC>)
O Reino II
3.9 18É um décimo melhor que a primeira parte: o ritmo é muito melhor e o roteiro é cheio de rimas inteligentes, mas, infelizmente, o problema de forçar a barra para estender a narrativa incomoda muito (vide tudo o que é relacionado às corridas de ambulância, por exemplo). O mesmo pode ser reclamado acerca da participação falante de Udo Kier, mas não ao desempenho visceral e ótimo do protagonista Ernst-Hugo Järegård. Ele é fabuloso! Pena que repetem uma cena no interior de um arquivo similar à da primeira parte, que desperdiça o seu talento. Vale a pena ser visto e discutido, entretanto: todas as marcas registradas do Lars Von Trier estão lá: aliás, suas intervenções, ao final de cada episódio, são geniais! kkkkkk (WPC>)
O Reino
4.0 73 Assista AgoraVi o filme inteiro de uma sentada só e, por mais que eu tenha apreciado os personagens, achei as situações forçadas e o desenvolvimento moroso. Sinceramente, lá pelas duas horas e meia, eu estava sentindo-me absolutamente claustrofóbico, o que talvez seja proposital, frente àquela fotografia estranhíssima. Além disso, não gostei muito de algumas soluções narrativas precipitadas, como a inserção da hipocondríaca espírita no hospital, por mais que sua participação seja capital para o desenvolvimento da narrativa e para a eclosão do extraordinário, genial e perturbador desfecho (inconcluso), que possui um magnífico clímax sardônico:
praticar um exorcismo com o auxílio de uma raquete foi um golpe de mestre! kkkkk Sem contar que aquele parto é violentíssimo, maravilhoso!
1 Litro de Lágrimas
4.7 223Melodrama japonês com um título perfeito destes? A ser visto, com EMERGÊNCIA! (WPC>)
Ima Ai ni Yukimasu
4.2 11A trama me parece encantadora... Estes japoneses sabem lidar com a morte e com a perda: estou tentado, quero encontrá-los! (WPC>)
Mildred Pierce
4.2 168 Assista AgoraO diretor assina a minissérie como 'a film by Todd Haynes' e, como tal, não duvido que ela seja lançada como filme em breve. Aliás, já o é e, portanto, sinto-me autorizado a avaliá-lo desta forma por aqui e, caramba, apesar das mais de 5 horas de duração, é um ótimo filme! Fica bastante arrastado (e um tanto cansativo) entre o terceiro e o quinto capítulo, mas é ótimo! Desgostei das interpretações de Evan Rachel Wood e Guy Pearce, mas o restante do elenco está extraordinário: Kate Winslet está divina, como era de se esperar! E a trilha sonora de Carter Burwell? um convite certeiro ao melodrama! E os créditos de abertura? Geniais e muito sintéticos em relação às diversas modificações de Todd Haynes em relação à versão anterior do Michael Curtiz: a trama é muito, muito diferente mesmo, tanto em condução narrativa quanto em conteúdo e gênero hollywoodiano! Preciso ler o romance original do James M. Cain! (WPC>)
Os Vampiros
4.0 75Nenhuma, insisto, NENHUMA palavra que eu diga aqui será suficiente para transmitir o verdadeiro estupor e satisfação que eu experimentei durante os perfeitos 399 minutos de projeção deste filme! Gastei quase 7 horas de minha vida consumindo uma das mais geniais comunhões de drama, humor, romance, erotismo, tramóias policialescas e realismo poético de toda a História do Cinema - e isso num filme realizado há 95 anos! Absolutamente perfeito, com a diva Stacia Napierkowska eternizando-se numa seqüência brilhante de 5 minutos, enquanto Musidora rouba (literalmente, inclusive) todas as cenas que protagonista... Absolutamente genial! Durante a sessão, tive que ficar de pé várias vezes para louvar o talento infindável do supremo Louis Feuillade. Obra-prima - e nada do que eu diga conseguirá sequer chegar perto da emoção que sinto agora por finalmente ter visto esta preciosidade! (WPC>)
If God is Willing and Da Creek Don't Rise
3.7 3Admito que a longa duração e a aspereza do tema (o racismo administrativo que surge após um desastre natural de larguíssimas proporções) dificultam o acesso ao filme, mas quem se dispõe a navegar por este riacho transbordado de denúncias mui pertinentes de um dos mais geniais norte-americanos vivos ficará com o coração na boca, com os dentes trincados de raiva. É incrível como a realidade pode permitir tantos artifícios fílmicos inspirados (vide os surpreendentes créditos de encerramento) sem deixar de ser realidade! Absolutamente urgente e obrigatório a qualquer um que se pretenda antenado com as lutas por direitos humanos! (WPC>)
O Decálogo
4.7 108Recuso-me terminantemente a entender O DECÁLOGO como um filme apenas, mas sim como uma série de 10 filmes, interdependentes entre si, mas com especificidades técnicas e enredísticas que autorizam que, eventualmente, assistamos aos 10 capítulos em ordens variadas... Alguns são melhores do que outros, mas, no conjunto, minha nota é elevadíssima. os temas isolados do Zbigniew Preisner são executados 'ad extremis' na radiola daqui de casa. Maravilha de filmes. Repito: filmes, no plural! (WPC>)
A Tempestade do Século
3.9 317Vi faz tempo (obrigado, SBT) em versão um pouco reduzida (acho que só tinha 180 minutos), mas com todas as suas limitações telefílmicas originais, prende a atenção e mantém o suspense e a qualidade mediana em alta. Stephen King costuma ser bem-adaptado nas telas, por sorte. Aliás, tenho certeza de que, se eu revê-lo agora, vou aumentar consideravelmente a nota! (WPC>)
Luna Caliente
3.3 19A atriz Tabalipa quase põe a perder a sagacidade da trama com sua apatia interpretativa, mas a contenção do diretor-roteirista merece louvor, como sempre, e o ótimo uso da trilha sonora. Depois disso, o Furtado "surtou", mas... Isso já é outra história - bem menos metalingüística do que ele pretendia... (WPC>)
Twin Peaks (1ª Temporada)
4.5 523Bastam dois segundos de trilha sonora para que toda uma vida passe diante de meus olhos... Maravilha! (WPC>)
Judex
3.8 45 horas de filme que passam voando, num acúmulo surpreendente de ação, suspense, drama e sur-realismo tipicamente feuilladeanos... Impressionante como ele faz surgir inúmeros personagens a cada minuto e justifica a presença de todos! (*WPC>)