Um raro exemplo de suspense policial "made in Brazil". Não é um grande filme, mas vale pelo roteiro acima da média em relação ao que, tragicamente, vemos na recente produção cinematográfica brasileira, dominada pela absoluta boçalidade da já desgastada estética televisiva by "Globo Filmes". Em outras palavras, apesar de suas limitações, "O Lobo Atrás da Porta" é uma demonstração de que ainda há vida inteligente no cinema brasileiro em sua vertente mais comercial. Destaque p\ o ótimo elenco!
Um filme apenas mediano do grande Roman Polanski. O trabalho de direção é competente, mas não sei se realmente justificaria um Oscar na categoria... O fato é que, indiscutivelmente, o grande destaque do filme é a atuação de Adrien Brody que realmente é capaz de reproduzir o drama vivido por alguém completamente só em meio ao horror da guerra. De resto, algumas boas cenas, tais como aquela em que dois indivíduos disputam, quase a tapas, um prato de sopa. Mas é pouco p\ justificar todo o auê feito em torno de "O Pianista" na época de seu lançamento...
A estética "clean" caracterizada pelo uso de iluminação fria e uma paleta de cores quase que exclusivamente composta por preto e branco, é coerente c\ o estilo "modernoso" do diretor e semelhante ao que veríamos depois em outro filme seu: "Low Life"(2011). Klotz começa bem ao falar sobre um mundo globalizado, sem personalidade, caracterizado pela frieza do discurso científico e refém da tecnologia. Em outras palavras, eis o mundo das grandes corporações, onde eufemismos como "reestruturação" e "racionalização do processo produtivo", na verdade significam demissões em massa. No entanto, o roteiro se perde ao mudar de rumo e entrar na questão do neonazismo; um assunto que, além de incompatível e desnecessário à trama, já se tornou manjadíssimo e, por isso mesmo, irritante de se ver no cinema. Obs: nem mesmo a presença do ótimo ator, Mathieu Almaric (em momento pouco inspirado) é capaz de salvar essa trama "rocambolesca".
Neste belo filme, Rohmer até parece estar falando de si mesmo, visto que, assim como o protagonista de "Minha Noite com Ela", o célebre diretor era também um católico praticante... Aliás, temas constantes na obra de Rohmer, estão aqui presentes: o embate entre fé e materialismo, o eterno conflito entre prazer e moral, o misto de atração e repulsa que o indivíduo pequeno-burguês manifesta em relação ao sexo, etc. Merece destaque o ótimo trabalho de direção de atores que, a exemplo do que ocorre na cena do diálogo entre os personagens Jean-Louis e Maud; na qual, devido a constante movimentação dos atores, dá-se o ritmo correto a uma cena que, sem tal recurso, poderia soar monótona. Destaque também p\ o ótimo elenco, capitaneado pelo futuro astro do cinema francês, Jean-Louis Trintignant. Obs: a não utilização de música incidental (composta exclusivamente p\ o filme) que constitui outra marca do estilo do diretor, fica evidente na cena em que os amigos Jean-Louis e Vidal vão a um concerto, ou seja, quando há música num filme de Rohmer, ela (a música) é o próprio destaque, nunca sendo utilizada como "muleta" p\ encobrir uma cena ruim (como diria o próprio diretor). Em suma, eis um dos mais belos filmes de Eric Rohmer!
Costuma-se acusar o cinema de Rohmer de ser "excessivamente literário". Talvez ele até o seja, mas, uma coisa é fato: pode-se até não gostar do estilo do diretor, mas é impossível negar o fato de que ele (Rohmer) é um grande roteirista! E aqui em "O Raio Verde", embora, nesse caso específico, o roteiro seja de autoria da atriz Marie Rivière, o diretor continua mostrando-se hábil extremamente hábil no sentido de, a partir de fatos corriqueiros e aparentemente banais do cotidiano de todos nós, promover um debate de cunho filosófico a respeito das angústias e dúvidas que afligem qualquer ser humano dotado de um mínimo de inteligência. Obs: o trabalho de direção de arte, no que se refere à composição dos figurinos e cenários, é modesto, mas bastante coerente na escolha de sua paleta de cores que mescla tons pastéis c\ alguns tons mais fortes (de vermelho, sobretudo) dando um toque realmente oitentista ao filme. De resto, o estilo sempre "seco" e objetivo do diretor se faz presente, bem como a quase ausência de trilha sonora. Assim é Rohmer, um gênio da simplicidade!
É no mínimo surpreendente ver que o mesmo cineasta que um dia disse: "O cinema é a última arte clássica num mundo onde nada mais é clássico e, portanto, deve continuar sendo clássico"; acabou produzindo um filme (belíssimo, aliás) onde boa parte do que vemos, em termos de cenários, é trabalho de pós-produção, fazendo uso de computação gráfica. Merecem ainda destaque, a linda fotografia e o competente trabalho de direção de arte, tanto na composição dos figurinos quanto dos cenários, sejam eles reais ou virtuais. Alguns elementos característicos do estilo do diretor, tais como a total ausência de trilha sonora, bem como a "secura" e objetividade no desenvolvimento e apresentação da trama, se fazem aqui presentes. Obs: é visível o saudosismo em relação à aristocracia que Rohmer manifesta ao se posicionar claramente a favor da personagem Grace Elliot, nos eventos que se sucedem à Revolução Francesa. Até aí, nada mais coerente a um homem de posições conservadoras e defensor da monarquia como ele (Rohmer) sempre foi. Fato este que, de modo algum, diminui a genialidade deste remanescente da nouvelle vague que se mostrou ainda capaz de inovar em sua fase madura!
Não possui o mesmo charme do longa anterior da diretora ("Caramelo"), mas aborda de forma criativa a questão do eterno conflito motivado por questões religiosas no oriente médio. Tanto a cena na qual uma mãe esconde dos vizinhos a morte de seu filho, devido ao medo desse fato gerar outro conflito entre os homens da vila; como também o momento em que as mulheres do povoado resolvem servirem aos seus maridos bolinhos e esfihas recheadas c\ haxixe, buscando "acalmá-los", são dignas de nota! Obs: Nadine Labaki além de comprovar seu talento como diretora, continua sendo uma mulher muito bonita...
"Tudo que é sujo dá sorte"... Assim falou o impagável personagem vivido por Gerard Depardieu. A turma do politicamente correto e do patrulhamento ideológico, com certeza, tacharia esse filme como "machista", "sexista", etc. Mas isso é coisa de gente medíocre e incapaz de entender o verdadeiro potencial transgressor e provocador de "Corações Loucos". Bruno Nuytenn só comprova que era muito melhor como diretor de fotografia do que como diretor geral... Destaque p\ a pequena participação da ainda muito jovem Isabelle Huppert, futura melhor atriz de todos os tempos!
Está longe de ser um dos melhores filmes de Allen, mas faz uma inteligente sátira à mediocridade que, infelizmente, impera na Hollywood contemporânea. Merece destaque o impagável desfecho no qual se conclui que o mesmo diretor tido como um inútil no cinema norte-americano, passa a ser visto como um gênio na França! Fina ironia imediatamente compreensível pelos cinéfilos de plantão...
Eis um exemplo de que ter boas referências, nem sempre garantem um bom filme... O trabalho de direção, até que é competente e o elenco (embora desconhecido), dá conta do recado, etc. Mas é muito pouco... Ao menos duas referências, são explícitas: "Brinquedo Assassino"(1988) e "O Bebê de Rosemary"(1968). Por isso mesmo, era de se esperar que um filme que pretende reverenciar tais clássicos, fosse bem melhor do que isso que vemos em "Annabelle". O clima de terror psicológico que se tentou impor, é muito prejudicado pela absoluta precariedade dos "efeitos especiais" que tentam dar alguma vida à permanentemente estática boneca vilã. Ficou apenas na intenção...
Assim como já havia feito em clássicos como "Scanners" e "Videodrome", Cronenberg nos brinda c\ mais um filme visionário e premonitório quanto a um mundo refém da tecnologia e do discurso científico. No entanto, confesso que eu na qualidade de fã desse grande diretor, esperava mais de "Existenz" que, de certo modo, me pareceu não avançar muito em relação ao que já havia sido dito em "Videodrome" (seu melhor filme), quanto à tendência do homem moderno em preferir o universo virtual, ao invés de se contentar c\ uma existência real caracterizada pelo tédio e, muitas vezes, pela insegurança. Destaque p\ a eterna musa dos anos 90, Jennifer Jason Leigh, que está absolutamente maravilhosa (em todos os sentidos) como a designer de games, Allegra Geller.
A ideia aqui era falar sobre uma trupe teatral influenciada pelo "Teatro da Crueldade" de Antonin Artaud, mas, na prática, o que vi foi um amontoado de clichês característicos do universo adolescente, tais como a necessidade de autoafirmação por meio da pseudo-rebeldia. Além disso, o roteiro também erra ao utilizar, sem necessidade, a manjada questão da ditadura chilena como pano de fundo... Em suma, o único brilho do filme reside em seu talentoso elenco jovem, c\ destaque p\ a linda Isidora Urrejola.
O diretor utiliza planos fechados e linguagem semidocumental p\ retratar o cotidiano de um solitário adolescente paulista. Não é tão eficiente, em termos narrativos, quanto "A Casa de Alice", seu ótimo trabalho anterior, mas demonstra que Chico Teixeira, apesar de também levar em conta questões sociais na composição de seus personagens, continua a ser um dos raros cineastas que, aqui no Brasil, utilizam um viés existencial ao analisar os dramas pessoais de cada um de seus personagens. O filme peca em termos de direção de arte, por não ser capaz de compor uma paleta de cores que apresente uma real coerência; mas isso não chega a comprometer o resultado do todo. Destaque p\ o bom roteiro que não busca explicações fáceis p\ os problemas levantados...
"Serei um grande pianista. E se eu lhe cortar umas das mãos? Então, serei um grande pintor. E se eu lhe cortar a outra mão? Então, serei um famoso dançarino. E se eu lhe cortar as duas pernas? Então, serei um grande cantor. E se eu lhe cortar a garganta? Então, minha pele se transformará num lindo tambor. E seu eu destruir o tambor? Então, me tornarei uma nuvem"... Eis, "Fando y Lis", o ótimo primeiro longa de Jodorowsky. As referências aqui utilizadas, são bastante óbvias: Buñuel, a fase sessentista de Fellini, bem como a teoria psicanalítica de Freud, expressa na necessidade de o indivíduo (Fando), ao atingir a maturidade, "matar"(metaforicamente) as figuras paterna e materna. Além disso, a teoria freudiana também está presente no momento em que descobrimos que a repulsa ao sexo demonstrada por Lis, parece ser motivada por um trauma de infância. Em suma, eis uma autêntica obra-prima surrealista!
Mesmo tendo se afastado de sua fase mais autoral da época em que dirigiu filmes como "Exótica"(1994) e "O Doce Amanhã"(1997), Atom Egoyan ainda continua a surpreender... Quando comecei a assistir "Sem Evidências", me pareceu que lá vinha um filme ruim pela frente, um típico drama familiar choroso, daqueles que representam o que o cinema norte-americano já produziu de pior, etc; mas qual não foi minha surpresa ao me dar conta de que o filme em questão era bem mais do que isso, retratando, sem retoques, tudo aquilo que a hipocrisia do discurso religioso é capaz de gerar... Obs: eu fui adolescente nos anos 90 (época em que se passa a ação do filme) e, portanto, eu sei que naquela época, inclusive aqui no Brasil, as pessoas de fato acreditavam que um garoto fã de heavy metal e de filmes de terror, era um psicopata em potencial! Hoje em dia, chega a ser risível imaginar tal coisa... Mas sei que a história (baseada em fatos reais) descrita pelo diretor, se pensarmos num contexto de época, não tinha nada de absurda. Parabéns por sua inteligência, Egoyan!
Já que a mostra internacional de cinema não faz, eu mesmo faço a minha "Retrospectiva Jess Franco". E garanto que é muito mais divertido... "A Virgin Among the Living Dead" é um filme modesto em termos de produção, mas visualmente belo! Merecem destaque a presença do próprio Franco interpretando um hilário criado mudo (literalmente), bem como a participação das belas atrizes Christina von Blanc e Britt Nichols. Obs: a cena envolvendo o "grande falo de ébano" merece menção honrosa!
"Sou uma mentira que só diz a verdade" (Jean Cocteau). A diretora (Arielle Dombasle) utiliza planos fechados e um bom trabalho de cenografia p\ contar um episódio pouco conhecido da vida do poeta e cineasta, Jean Cocteau. O filme tem valor histórico, pois retrata importantes nomes da vanguarda artística e intelectual do início do século XX, tais como: André Breton, Tristan Tzara, Francis Picabia, etc. Obs: "Opium" pode até não ser um grande filme (inclusive por ser vago na forma como relata seu tema principal), mas já ajudou a elevar o nível da 38a. edição da mostra internacional de cinema que, na minha opinião, deve ser a mais fraca dos últimos 10 anos, ou seja, desde quando eu comecei a frequentar regularmente o evento.
"Você não é obrigado a ouvir música ruim, nem a ler um livro ruim; mas um prédio feio vai estar ali pra sempre e você vai ser obrigado a vê-lo todo dia. As pessoas não se dão conta, mas a feiura é um crime contra a humanidade". Assim falou Denys Arcand, em "O Reino da Beleza" que parece buscar satirizar o fascismo da beleza, sob o qual vivemos diariamente... Mas é pouco p\ aquele que já destilou sua ácida ironia em clássicos como "O Declínio do Império Americano"(1985) e "As Invasões Bárbaras"(2003). A boa atuação de Mélanie Thierry (que parece estar sufocada pela hipocrisia diária de todos que a cercam) é, praticamente, a única coisa que salva este filme de um absoluto marasmo. Monsieur Arcand já teve dias melhores...
É um filme tecnicamente bem realizado: boa direção, boa fotografia, competente direção de arte que faz uso de cores fortes (sobretudo vermelho e azul marinho); mas peca no desenvolvimento do roteiro que se prolonga em alguns momentos desnecessários... Vale uma conferida!
A parceria Huppert + Chabrol sempre rende bons frutos, mas aqui, em especial, a atuação de mademoiselle Huppert beira o sublime! E Chabrol, por sua vez, mostra-se, como sempre, afiado enquanto eterno crítico da hipocrisia característica da burguesia. Obs: nesta que é, provavelmente, a mais fraca edição nos últimos 10 anos da mostra internacional de cinema de SP, só mesmo um clássico absoluto p\ dar algum brilho a este tão tradicional evento que, infelizmente, já dá sinais de desgaste...
"Eu ouço os espasmos dos amantes, os ruídos noturnos, a descarga sendo acionada no meio da noite"... Assim falou mais um dos genialmente inconformados personagens de Bellocchio. Aliás, só mesmo a sagrada loucura do mestre italiano p\ salvar e dar algum brilho à fraquíssima 38a edição da mostra internacional de cinema. "Salto no Vazio" pode até não ser um dos melhores e mais criativos trabalhos de Bellocchio, mas, c\ certeza, já é superior a 80% do que vi até o momento em termos de cinema contemporâneo... Destaque p\ as presenças do sempre ótimo Michel Piccoli e da charmosíssima Anouk Aimée.
É no mínimo surpreendente ver Jess Franco dirigindo este épico medieval que, aliás, parece ter sido bastante caro (para os padrões da época). Merecem destaque o ótimo trabalho de direção, a ótima reconstituição de época e também a presença da belíssima atriz e musa do diretor, Maria Rohm. Obs: basta observar algumas sequências do filme p\ entender porque o grande Jess Franco, mesmo após viver seu momento áureo entre meados dos anos 60 e início dos 70, não conseguiu (ou não quis) se manter inserido no sistema de estúdios da indústria cinematográfica convencional. Pois a mediocridade e falso moralismo que caracterizam este meio, jamais seriam capazes de tolerar a rebeldia e ousadia que sempre caracterizaram o cinema verdadeiramente livre de mr. Franco.
Demonstra com clareza o modo como o país cujo lema é "liberdade, igualdade e fraternidade", na prática, trata os imigrantes ilegais. "Bem-vindo" pode não ser um filme que inova em termos narrativos, aliás, segue a estrutura básica de um típico filme norte-americano comercial, recusando-se apenas a fazer uso do tradicional "happy end"; no entanto, é bastante corajoso ao informar ao mundo sobre a pena de 5 anos de detenção destinada aos cidadãos franceses que ousarem abrigar imigrantes ilegais em suas casas! Vale uma conferida...
Estreia na direção da ótima atriz Fanny Ardant (a viúva de François Truffaut). Há elegância nos movimentos de câmera; a decupagem do filme, em termos gerais, é boa. No entanto, faltou uma melhor fluência narrativa e uma maior clareza no desenvolvimento da trama que, em alguns momentos, mostra-se um tanto confusa. Boa reconstituição de época, elenco razoável, etc. Melhor sorte em seu próximo trabalho, minha cara mademoiselle Ardant.
O Lobo Atrás da Porta
4.0 1,3K Assista AgoraUm raro exemplo de suspense policial "made in Brazil". Não é um grande filme, mas vale pelo roteiro acima da média em relação ao que, tragicamente, vemos na recente produção cinematográfica brasileira, dominada pela absoluta boçalidade da já desgastada estética televisiva by "Globo Filmes". Em outras palavras, apesar de suas limitações, "O Lobo Atrás da Porta" é uma demonstração de que ainda há vida inteligente no cinema brasileiro em sua vertente mais comercial. Destaque p\ o ótimo elenco!
O Pianista
4.4 1,8K Assista AgoraUm filme apenas mediano do grande Roman Polanski. O trabalho de direção é competente, mas não sei se realmente justificaria um Oscar na categoria... O fato é que, indiscutivelmente, o grande destaque do filme é a atuação de Adrien Brody que realmente é capaz de reproduzir o drama vivido por alguém completamente só em meio ao horror da guerra. De resto, algumas boas cenas, tais como aquela em que dois indivíduos disputam, quase a tapas, um prato de sopa. Mas é pouco p\ justificar todo o auê feito em torno de "O Pianista" na época de seu lançamento...
A Questão Humana
3.5 36A estética "clean" caracterizada pelo uso de iluminação fria e uma paleta de cores quase que exclusivamente composta por preto e branco, é coerente c\ o estilo "modernoso" do diretor e semelhante ao que veríamos depois em outro filme seu: "Low Life"(2011). Klotz começa bem ao falar sobre um mundo globalizado, sem personalidade, caracterizado pela frieza do discurso científico e refém da tecnologia. Em outras palavras, eis o mundo das grandes corporações, onde eufemismos como "reestruturação" e "racionalização do processo produtivo", na verdade significam demissões em massa. No entanto, o roteiro se perde ao mudar de rumo e entrar na questão do neonazismo; um assunto que, além de incompatível e desnecessário à trama, já se tornou manjadíssimo e, por isso mesmo, irritante de se ver no cinema. Obs: nem mesmo a presença do ótimo ator, Mathieu Almaric (em momento pouco inspirado) é capaz de salvar essa trama "rocambolesca".
Minha Noite com Ela
4.0 42 Assista AgoraNeste belo filme, Rohmer até parece estar falando de si mesmo, visto que, assim como o protagonista de "Minha Noite com Ela", o célebre diretor era também um católico praticante... Aliás, temas constantes na obra de Rohmer, estão aqui presentes: o embate entre fé e materialismo, o eterno conflito entre prazer e moral, o misto de atração e repulsa que o indivíduo pequeno-burguês manifesta em relação ao sexo, etc. Merece destaque o ótimo trabalho de direção de atores que, a exemplo do que ocorre na cena do diálogo entre os personagens Jean-Louis e Maud; na qual, devido a constante movimentação dos atores, dá-se o ritmo correto a uma cena que, sem tal recurso, poderia soar monótona. Destaque também p\ o ótimo elenco, capitaneado pelo futuro astro do cinema francês, Jean-Louis Trintignant. Obs: a não utilização de música incidental (composta exclusivamente p\ o filme) que constitui outra marca do estilo do diretor, fica evidente na cena em que os amigos Jean-Louis e Vidal vão a um concerto, ou seja, quando há música num filme de Rohmer, ela (a música) é o próprio destaque, nunca sendo utilizada como "muleta" p\ encobrir uma cena ruim (como diria o próprio diretor). Em suma, eis um dos mais belos filmes de Eric Rohmer!
O Raio Verde
4.1 87Costuma-se acusar o cinema de Rohmer de ser "excessivamente literário". Talvez ele até o seja, mas, uma coisa é fato: pode-se até não gostar do estilo do diretor, mas é impossível negar o fato de que ele (Rohmer) é um grande roteirista! E aqui em "O Raio Verde", embora, nesse caso específico, o roteiro seja de autoria da atriz Marie Rivière, o diretor continua mostrando-se hábil extremamente hábil no sentido de, a partir de fatos corriqueiros e aparentemente banais do cotidiano de todos nós, promover um debate de cunho filosófico a respeito das angústias e dúvidas que afligem qualquer ser humano dotado de um mínimo de inteligência. Obs: o trabalho de direção de arte, no que se refere à composição dos figurinos e cenários, é modesto, mas bastante coerente na escolha de sua paleta de cores que mescla tons pastéis c\ alguns tons mais fortes (de vermelho, sobretudo) dando um toque realmente oitentista ao filme. De resto, o estilo sempre "seco" e objetivo do diretor se faz presente, bem como a quase ausência de trilha sonora. Assim é Rohmer, um gênio da simplicidade!
A Inglesa e o Duque
3.6 14É no mínimo surpreendente ver que o mesmo cineasta que um dia disse: "O cinema é a última arte clássica num mundo onde nada mais é clássico e, portanto, deve continuar sendo clássico"; acabou produzindo um filme (belíssimo, aliás) onde boa parte do que vemos, em termos de cenários, é trabalho de pós-produção, fazendo uso de computação gráfica. Merecem ainda destaque, a linda fotografia e o competente trabalho de direção de arte, tanto na composição dos figurinos quanto dos cenários, sejam eles reais ou virtuais. Alguns elementos característicos do estilo do diretor, tais como a total ausência de trilha sonora, bem como a "secura" e objetividade no desenvolvimento e apresentação da trama, se fazem aqui presentes. Obs: é visível o saudosismo em relação à aristocracia que Rohmer manifesta ao se posicionar claramente a favor da personagem Grace Elliot, nos eventos que se sucedem à Revolução Francesa. Até aí, nada mais coerente a um homem de posições conservadoras e defensor da monarquia como ele (Rohmer) sempre foi. Fato este que, de modo algum, diminui a genialidade deste remanescente da nouvelle vague que se mostrou ainda capaz de inovar em sua fase madura!
E Agora, Aonde Vamos?
4.2 144Não possui o mesmo charme do longa anterior da diretora ("Caramelo"), mas aborda de forma criativa a questão do eterno conflito motivado por questões religiosas no oriente médio. Tanto a cena na qual uma mãe esconde dos vizinhos a morte de seu filho, devido ao medo desse fato gerar outro conflito entre os homens da vila; como também o momento em que as mulheres do povoado resolvem servirem aos seus maridos bolinhos e esfihas recheadas c\ haxixe, buscando "acalmá-los", são dignas de nota! Obs: Nadine Labaki além de comprovar seu talento como diretora, continua sendo uma mulher muito bonita...
Corações Loucos
3.8 25"Tudo que é sujo dá sorte"... Assim falou o impagável personagem vivido por Gerard Depardieu. A turma do politicamente correto e do patrulhamento ideológico, com certeza, tacharia esse filme como "machista", "sexista", etc. Mas isso é coisa de gente medíocre e incapaz de entender o verdadeiro potencial transgressor e provocador de "Corações Loucos". Bruno Nuytenn só comprova que era muito melhor como diretor de fotografia do que como diretor geral... Destaque p\ a pequena participação da ainda muito jovem Isabelle Huppert, futura melhor atriz de todos os tempos!
Dirigindo no Escuro
3.6 209 Assista AgoraEstá longe de ser um dos melhores filmes de Allen, mas faz uma inteligente sátira à mediocridade que, infelizmente, impera na Hollywood contemporânea. Merece destaque o impagável desfecho no qual se conclui que o mesmo diretor tido como um inútil no cinema norte-americano, passa a ser visto como um gênio na França! Fina ironia imediatamente compreensível pelos cinéfilos de plantão...
Annabelle
2.7 2,7K Assista AgoraEis um exemplo de que ter boas referências, nem sempre garantem um bom filme... O trabalho de direção, até que é competente e o elenco (embora desconhecido), dá conta do recado, etc. Mas é muito pouco... Ao menos duas referências, são explícitas: "Brinquedo Assassino"(1988) e "O Bebê de Rosemary"(1968). Por isso mesmo, era de se esperar que um filme que pretende reverenciar tais clássicos, fosse bem melhor do que isso que vemos em "Annabelle". O clima de terror psicológico que se tentou impor, é muito prejudicado pela absoluta precariedade dos "efeitos especiais" que tentam dar alguma vida à permanentemente estática boneca vilã. Ficou apenas na intenção...
eXistenZ
3.6 317Assim como já havia feito em clássicos como "Scanners" e "Videodrome", Cronenberg nos brinda c\ mais um filme visionário e premonitório quanto a um mundo refém da tecnologia e do discurso científico. No entanto, confesso que eu na qualidade de fã desse grande diretor, esperava mais de "Existenz" que, de certo modo, me pareceu não avançar muito em relação ao que já havia sido dito em "Videodrome" (seu melhor filme), quanto à tendência do homem moderno em preferir o universo virtual, ao invés de se contentar c\ uma existência real caracterizada pelo tédio e, muitas vezes, pela insegurança. Destaque p\ a eterna musa dos anos 90, Jennifer Jason Leigh, que está absolutamente maravilhosa (em todos os sentidos) como a designer de games, Allegra Geller.
Drama
3.0 243A ideia aqui era falar sobre uma trupe teatral influenciada pelo "Teatro da Crueldade" de Antonin Artaud, mas, na prática, o que vi foi um amontoado de clichês característicos do universo adolescente, tais como a necessidade de autoafirmação por meio da pseudo-rebeldia. Além disso, o roteiro também erra ao utilizar, sem necessidade, a manjada questão da ditadura chilena como pano de fundo... Em suma, o único brilho do filme reside em seu talentoso elenco jovem, c\ destaque p\ a linda Isidora Urrejola.
Ausência
3.4 71O diretor utiliza planos fechados e linguagem semidocumental p\ retratar o cotidiano de um solitário adolescente paulista. Não é tão eficiente, em termos narrativos, quanto "A Casa de Alice", seu ótimo trabalho anterior, mas demonstra que Chico Teixeira, apesar de também levar em conta questões sociais na composição de seus personagens, continua a ser um dos raros cineastas que, aqui no Brasil, utilizam um viés existencial ao analisar os dramas pessoais de cada um de seus personagens. O filme peca em termos de direção de arte, por não ser capaz de compor uma paleta de cores que apresente uma real coerência; mas isso não chega a comprometer o resultado do todo. Destaque p\ o bom roteiro que não busca explicações fáceis p\ os problemas levantados...
Fando e Lis
3.9 61"Serei um grande pianista. E se eu lhe cortar umas das mãos? Então, serei um grande pintor. E se eu lhe cortar a outra mão? Então, serei um famoso dançarino. E se eu lhe cortar as duas pernas? Então, serei um grande cantor. E se eu lhe cortar a garganta? Então, minha pele se transformará num lindo tambor. E seu eu destruir o tambor? Então, me tornarei uma nuvem"... Eis, "Fando y Lis", o ótimo primeiro longa de Jodorowsky. As referências aqui utilizadas, são bastante óbvias: Buñuel, a fase sessentista de Fellini, bem como a teoria psicanalítica de Freud, expressa na necessidade de o indivíduo (Fando), ao atingir a maturidade, "matar"(metaforicamente) as figuras paterna e materna. Além disso, a teoria freudiana também está presente no momento em que descobrimos que a repulsa ao sexo demonstrada por Lis, parece ser motivada por um trauma de infância. Em suma, eis uma autêntica obra-prima surrealista!
Sem Evidências
3.3 254 Assista AgoraMesmo tendo se afastado de sua fase mais autoral da época em que dirigiu filmes como "Exótica"(1994) e "O Doce Amanhã"(1997), Atom Egoyan ainda continua a surpreender... Quando comecei a assistir "Sem Evidências", me pareceu que lá vinha um filme ruim pela frente, um típico drama familiar choroso, daqueles que representam o que o cinema norte-americano já produziu de pior, etc; mas qual não foi minha surpresa ao me dar conta de que o filme em questão era bem mais do que isso, retratando, sem retoques, tudo aquilo que a hipocrisia do discurso religioso é capaz de gerar... Obs: eu fui adolescente nos anos 90 (época em que se passa a ação do filme) e, portanto, eu sei que naquela época, inclusive aqui no Brasil, as pessoas de fato acreditavam que um garoto fã de heavy metal e de filmes de terror, era um psicopata em potencial! Hoje em dia, chega a ser risível imaginar tal coisa... Mas sei que a história (baseada em fatos reais) descrita pelo diretor, se pensarmos num contexto de época, não tinha nada de absurda. Parabéns por sua inteligência, Egoyan!
A Virgem e os Mortos
3.0 20Já que a mostra internacional de cinema não faz, eu mesmo faço a minha "Retrospectiva Jess Franco". E garanto que é muito mais divertido... "A Virgin Among the Living Dead" é um filme modesto em termos de produção, mas visualmente belo! Merecem destaque a presença do próprio Franco interpretando um hilário criado mudo (literalmente), bem como a participação das belas atrizes Christina von Blanc e Britt Nichols. Obs: a cena envolvendo o "grande falo de ébano" merece menção honrosa!
Opium
2.1 6"Sou uma mentira que só diz a verdade" (Jean Cocteau). A diretora (Arielle Dombasle) utiliza planos fechados e um bom trabalho de cenografia p\ contar um episódio pouco conhecido da vida do poeta e cineasta, Jean Cocteau. O filme tem valor histórico, pois retrata importantes nomes da vanguarda artística e intelectual do início do século XX, tais como: André Breton, Tristan Tzara, Francis Picabia, etc. Obs: "Opium" pode até não ser um grande filme (inclusive por ser vago na forma como relata seu tema principal), mas já ajudou a elevar o nível da 38a. edição da mostra internacional de cinema que, na minha opinião, deve ser a mais fraca dos últimos 10 anos, ou seja, desde quando eu comecei a frequentar regularmente o evento.
O Reino da Beleza
2.7 18 Assista Agora"Você não é obrigado a ouvir música ruim, nem a ler um livro ruim; mas um prédio feio vai estar ali pra sempre e você vai ser obrigado a vê-lo todo dia. As pessoas não se dão conta, mas a feiura é um crime contra a humanidade". Assim falou Denys Arcand, em "O Reino da Beleza" que parece buscar satirizar o fascismo da beleza, sob o qual vivemos diariamente... Mas é pouco p\ aquele que já destilou sua ácida ironia em clássicos como "O Declínio do Império Americano"(1985) e "As Invasões Bárbaras"(2003). A boa atuação de Mélanie Thierry (que parece estar sufocada pela hipocrisia diária de todos que a cercam) é, praticamente, a única coisa que salva este filme de um absoluto marasmo. Monsieur Arcand já teve dias melhores...
Praia do Futuro
3.4 935 Assista AgoraÉ um filme tecnicamente bem realizado: boa direção, boa fotografia, competente direção de arte que faz uso de cores fortes (sobretudo vermelho e azul marinho); mas peca no desenvolvimento do roteiro que se prolonga em alguns momentos desnecessários... Vale uma conferida!
Um Assunto de Mulheres
4.2 77A parceria Huppert + Chabrol sempre rende bons frutos, mas aqui, em especial, a atuação de mademoiselle Huppert beira o sublime! E Chabrol, por sua vez, mostra-se, como sempre, afiado enquanto eterno crítico da hipocrisia característica da burguesia. Obs: nesta que é, provavelmente, a mais fraca edição nos últimos 10 anos da mostra internacional de cinema de SP, só mesmo um clássico absoluto p\ dar algum brilho a este tão tradicional evento que, infelizmente, já dá sinais de desgaste...
Salto no Vazio
3.4 1"Eu ouço os espasmos dos amantes, os ruídos noturnos, a descarga sendo acionada no meio da noite"... Assim falou mais um dos genialmente inconformados personagens de Bellocchio. Aliás, só mesmo a sagrada loucura do mestre italiano p\ salvar e dar algum brilho à fraquíssima 38a edição da mostra internacional de cinema. "Salto no Vazio" pode até não ser um dos melhores e mais criativos trabalhos de Bellocchio, mas, c\ certeza, já é superior a 80% do que vi até o momento em termos de cinema contemporâneo... Destaque p\ as presenças do sempre ótimo Michel Piccoli e da charmosíssima Anouk Aimée.
O Juiz Sanguinário
3.1 2É no mínimo surpreendente ver Jess Franco dirigindo este épico medieval que, aliás, parece ter sido bastante caro (para os padrões da época). Merecem destaque o ótimo trabalho de direção, a ótima reconstituição de época e também a presença da belíssima atriz e musa do diretor, Maria Rohm. Obs: basta observar algumas sequências do filme p\ entender porque o grande Jess Franco, mesmo após viver seu momento áureo entre meados dos anos 60 e início dos 70, não conseguiu (ou não quis) se manter inserido no sistema de estúdios da indústria cinematográfica convencional. Pois a mediocridade e falso moralismo que caracterizam este meio, jamais seriam capazes de tolerar a rebeldia e ousadia que sempre caracterizaram o cinema verdadeiramente livre de mr. Franco.
Bem-Vindo
4.0 46Demonstra com clareza o modo como o país cujo lema é "liberdade, igualdade e fraternidade", na prática, trata os imigrantes ilegais. "Bem-vindo" pode não ser um filme que inova em termos narrativos, aliás, segue a estrutura básica de um típico filme norte-americano comercial, recusando-se apenas a fazer uso do tradicional "happy end"; no entanto, é bastante corajoso ao informar ao mundo sobre a pena de 5 anos de detenção destinada aos cidadãos franceses que ousarem abrigar imigrantes ilegais em suas casas! Vale uma conferida...
Cinzas e Sangue
3.2 13Estreia na direção da ótima atriz Fanny Ardant (a viúva de François Truffaut). Há elegância nos movimentos de câmera; a decupagem do filme, em termos gerais, é boa. No entanto, faltou uma melhor fluência narrativa e uma maior clareza no desenvolvimento da trama que, em alguns momentos, mostra-se um tanto confusa. Boa reconstituição de época, elenco razoável, etc. Melhor sorte em seu próximo trabalho, minha cara mademoiselle Ardant.