Mais do que um conto de amor lésbico, Azul é a Cor Mais Quente é o retrato de uma geração, mais especificamente da atual geração francesa. Todas as nuances e inquietações desta geração são captadas com maestria pela câmera de Kechiche, que aposta em ângulos inusitados e na valorização da atuação das protagonistas através do uso de planos mais fechados. Falando nelas, é incrível a sinergia que existe entre elas, como se uma complementasse a outra em tela, tanto nas cenas em que as duas dialogam quanto em seus momentos mais íntimos não sendo por acaso as duas terem ido receber a Palma de Ouro junto com o diretor no Festival de Cannes, são dois de trabalho de atuação fantásticos que só dão força a esta grande obra. O defeito mais saliente que consigo pensar neste momento é a duração da projeção. Dava para condensá-lo em 2h30min facilmente ou até menos dependendo da boa vontade do montador. Para finalizar, Azul é a Cor Mais Quente nas palavras certeiras porcamente traduzidas por mim de Steven Spielberg, que presidiu o juri quando o filme saiu vitorioso em Cannes: "O filme é uma grande história de amor que nos fez sentir privilegiados por ser uma mosca na parede para poder presenciar esta história de amor e desgosto profundos evoluir desde o início. O diretor não colocou nenhuma restrição na narrativa e nós ficamos absolutamente enfeitiçados pela incríveis performances das duas atrizes, e especialmente pelo modo como o diretor observou seus personagens e apenas deixou-os respirar."
Um preciso documentário sobre a ascensão e queda de um artista e sobre como as pressões oriundas da fama podem levar este mesmo artista a travar uma guerra contra si mesmo, perdendo-a dolorosamente. Se ganhar o Oscar, será mais do que merecido.
Um espetáculo visual. Fotografia que exalta a beleza das paisagens e dos planos escolhidos pelo diretor, maquiagem oscarizada que só corrobora na construção do clima pré-histórico e até a direção de Annaud é eficiente ao movimentar sua câmera de maneira sutil e inteligentes em diversos pontos. O problema é que tudo isso está a serviço de uma película com seríssimos problemas de ritmo graças a um roteiro que poderia ser melhor conduzido pelo diretor que não soube tornar a narrativa mais dinâmica e nem evitar que ela caia em certos clichês desnecessários. Interessante esteticamente e relevante tematicamente, A Guerra do Fogo é uma obra que apesar de seus inúmeros defeitos continua a ser altamente recomendada em cursos de sociologia, antropologia e outras ciências humanas e com razão. Mesmo falhando enquanto espetáculo, é bem sucedida em trazer reflexões sobre nossa natureza.
Inverno da Alma é um típico filme de atuação, não que ele seja um desastre, longe disso. Possui um roteiro sensacional com linhas de diálogo cruas, sem falar que a direção de Debra Granik acerta em cheio ao não fazer julgamentos morais de seus personagens. Mas o filme,por ser pouco inspirado no uso de fotografia e outros aspectos técnicos para complementar a narrativa, é muito mais um demonstrativo do talento de Jennifer Lawrence e John Hawkes do que qualquer outra coisa. Uma experiência esquecível, porém deveras recompensadora e honesta em sua proposta.
Se O Substituto fosse simplesmente um filme-denúncia das falhas do sistema educacional americano, teríamos uma grande obra em mãos. Mas ele vai além disso, é antes de tudo um estudo de personagem ou melhor de um universo de personagens. Mesmo o enredo tendo como foco principal o personagem interpretado por Adrien Brody, é possível também acompanhar também as trajetórias de diversos outros personagens secundários, sendo que existem um sentimento em comum compartilhado por todos os integrantes da trama: o sentimento de infelicidade. Infelicidade derivada de desilusões amorosas, desilusões para com as pessoas ao redor, desilusões com a profissão; também oriunda de ausência, ausência de afeto, ausência de conciliação com o passado, ausência de compreensão do próximo. Isto faz com que O Substituto seja uma das experiências mais dolorosas da história recente da sétima arte, sendo um manifesto contra a atual situação da sociedade americana tão forte quanto A Outra História Americana, obra anterior do diretor Tony Kaye. Se existe algo próximo de ser um defeito e ao mesmo tempo um acerto no filme com certeza se trata da escolha dos planos. O uso de closes é didático, mas assustadoramente eficiente ao captar como nenhum outro diretor conseguiria performances de um elenco esforçado liderado por um Adrien Brody que dá saudade de ver em cena. Por outro lado, o uso de closes torna-se excessivo em alguns momentos, deixando transparecer as limitações de Kaye no que diz respeito a uso da linguagem cinematográfica, ainda que não impedindo O Substituto de ser um grande achievement na carreira do diretor. Enfim, é um filme que fala sobre temas relevantes e que faz o espectador não apenas mergulhar em seu universo melancólico e em seus personagens, como também nos faz mergulhar dentro de nós mesmos; deixando um amargo, mas inesquecível sabor ao final da projeção. E é assim que são as grandes obras de arte: inesquecíveis.
A estreia de Sofia Coppola no cinema é certeira ao lidar com temas tão sérios e pesados de uma maneira leve sem apelar para o didatismo. Do elenco, destaco Kirsten Dunst como a carismática Lux e o sempre competente, e subvalorizado, James Wood como o pai da família em uma performance sutil, mas eficaz em suas intenções. Um aspecto que não pode ser ignorado é o uso de trilha sonora que funciona perfeitamente tanto no que diz respeito à estética quanto na temática, exprimindo sentimentos que os personagens de Coppola por vezes não conseguem expressar. Virgens Suicidas é enfim uma estreia satisfatória de Sofia Coppola, uma das diretoras mais importantes do cinema atual, seja por uma questão de representatividade, considerando o número escasso de mulheres na cadeira de direção; seja por suas contribuições para o cinema independente americano, ainda que com uma filmografia curta, porém invejável em certos pontos.
Mesmo situado longe dos períodos mais férteis da carreira de Alfred Hitchcock, Frenesi é um belo exemplo do brilhantismo do diretor para criar tensão, além de criar e desenvolver personagens interessantes e divertidos de assistir-se. O principal problema do filme dá-se no ritmo, aparentemente ainda situado na década de 50, mas compensado pelos fatores acima e pela coragem da narrativa com cenas de violência que só seriam possíveis de concretizar em um filme do Hitchcock inserido no contexto do cinema pós-Nova Hollywood. Não é mais uma das obras-primas do diretor, mas ainda é uma excelente obra como todos os trejeitos do diretor: do MacGuffin, no caso a gravata de Rusk; passando pela aparição de Hitchie em tela até chegar no acusado injustamente que deve provar sua inocência.
A história real de Anne Sullivan e Helen Keller é uma daquelas de admirar o potencial que o ser humano pode ter e perceber o quanto subestimamos uns aos outros. E a obra em questão, O Milagre de Anne Sullivan consegue passar esta sensação com maestria. O filme começa introduzindo Helen Keller, menina que por ser cega, surda e muda é tratada pelos pais e pela sociedade como uma criatura incapaz de comportar-se com um legítimo ser humano capaz de aprender e relacionar-se com pessoas. Porém, a chegada da professora Anne Sullivan acaba por desafiar o status quo e então acompanhamos a trajetória de Anne em tentar educar Helen o significado das palavras, alimentar-se com talheres, etc. O sucesso do filme dá-se principalmente nas atuações das protagonistas: Anne Bancroft como Anne Sullivan é uma personagem que personifica a palavra disciplina e rigidez, seja em sua postura ou tom de voz, mas também uma figura que exala bondade e carinho para com o próximo quando necessário. E Patty Duke como Helen Keller parece interpretar realmente um animal doméstico travestido de humano, papel que poderia soar artificial, mas que aqui é realizado de maneira impressionante pela jovem atriz. Mais impressionante ainda é a sinergia que existe entre as duas, capaz de corrigir erros na direção de Arthur Penn, fato que o diretor parece saber da existência ao optar por utilizar de planos que valorizem as expressões e gestos das atrizes. O Milagre de Anne Sullivan é uma obra seminal não apenas para o cinema, mas em outras áreas como sociologia, antropologia e muitas outras; com atuações exemplares e uma atmosfera que tal qual sua protagonista transmite disciplina, mas empatia pelo ser humano acima de tudo.
2015 viu o retorno de dois cineastas veteranos há tempos sem uma grande realização cinematográfica: um foi George Miller, com o surpreendente Mad Max: Estrada da Fúria e outro foi Ridley Scott, com o sci-fi Perdido em Marte. O filme conta a trajetória do astronauta Mark Watney, interpretado por um inspiradíssimo Matt Damon, que acaba sendo deixado para trás por seus colegas após uma tempestade de areia em pleno solo marciano. A partir daí acompanhamos seu cotidiano tentando sobreviver no planeta vermelho enquanto a Nasa se esforça para elaborar um plano para resgatar Watney. A premissa boba de tão simples ganha força na direção de Ridley Scott, de volta com força total ao gênero que ele consagrou-se e tanto ajudou a moldar no cinema, e no roteiro de Drew Goddard, adaptado do livro homônimo de Andy Weir, e cujo tom bem-humorado também visto nos trabalhos anteriores de Goddard torna Perdido em Marte uma experiência capaz de entreter sem esquecer-se do fator qualidade. O filme pode não ser uma obra-prima da ficção científica, mas é um acerto como há muito não se vê de Ridley Scott e um bom argumento do porquê deve-se esperar com ansiedade os futuros lançamentos do diretor.
Como bom aracnofóbico que sou terei altos pesadelos com este filme. Mas concedo meu perdão ao Denis Villeneuve, já que O Homem Duplicado é um filmaço, um excelente thriller psicológico aberto a diversas interpretações e uma performance inspirada de Jake Gyllenhaal.
Tenho a honra de escrever o comentário de número 666 da página. Sobre o filme? Um legítimo Tarantino longe de ser o seu melhor, embora tenha o melhor trabalho de fotografia da filmografia do Tarantas e uma trilha fodástica de Morricone. Jennifer Jason Leigh rouba a cena.
De todos os diretores do novo cinema pernambucano, Cláudio Assis talvez seja o que mais divide opiniões. E com razão. Febre do Rato é, como todo filme de Assis, uma obra de difícil digestão, seja pela temática pesada, pelos diálogos ácidos ou pela subversão da linguagem cinematográfica. Até o uso da fotografia preto e branco parece ressaltar a proposta do filme de tentar fugir do lugar-comum. Ilustrando o cotidiano de Zizo, interpretado por Irandhir Santos, poeta e militante anarquista, e seu relacionamento com os habitantes de uma comunidade, Febre do Rato é antes de qualquer coisa um grito por liberdade de pensamento e uma carta de repúdio ao conservadorismo, com atmosfera carregada de eloquência e um realismo gritante. Destaque para a atuação de Irandhir e da surpreendente Nanda Costa, como interesse amoroso de Zizo. E para a câmera de Cláudio que, aliada com a fotografia traz a tona a verdadeira força de Febre do Rato: a poesia em forma de caos.
Tim Burton pode não ser nenhum gênio, mestre do cinema ou algo do gênero. Mas quando ele acerta a mão, pode ter certeza que um material criativo e original pode sair daí. Peixe Grande conta duas narrativas: uma no presente com Ed Bloom, interpretado por Albert Finney, um homem já em seus momentos finais que ganhou notoriedade por ser um contador de histórias que encantam todos à sua volta, exceto o seu filho, Will. A outra narrativa se dá no passado de Ed, que se trata de uma coletânea de histórias fantásticas vindas da cabeça do mesmo mostrando como ele veio conhecer sua futura esposa, seu envolvimento na Guerra da Coreia e outros causos recheados de criatividade e com o design de produção impecável característico dos filmes de Burton. Arrisco a dizer que, junto com Edward Mãos de Tesoura, é o filme mais belo de toda a filmografia de Burton, um filme não apenas sobre o ato de contar histórias, mas sobre relações familiares e como nossa percepção sobre a realidade pode tornar algo por vezes tão difícil de se lidar que é a vida em um universo fantástico capaz de transmitir um sentimento de esperança quase que infinito. Sentimento que pode parecer muito ingênuo, mas é necessário de vez em quando para seguir em frente.
Vencedor do Urso de Ouro no Festival de Berlim em 1961, ano em que produções de Godard e Kurosawa também concorriam, A Noite é uma típica obra do diretor italiano Michelangelo Antonioni, cineasta famoso por abordar temas existencialistas do ser humano pós-guerra desconstruindo o conceito de narrativa cinematográfica no processo. Segunda parte de uma trilogia temática do diretor, A Noite conta a trajetória de um casal, interpretados por Marcello Mastroianni e Jeanne Moreau, que passa por uma crise em seu casamento, condição que ainda é agravada por uma noitada de festa onde a angústia e a luxúria servem como anfitriões do evento. Interessante notar como este filme serve como contraponto ao primeiro da trilogia, A Aventura. Em A Aventura, vemos dois indivíduos que são impedidos de se relacionar amorosamente por conta da moralidade; em A Noite, vemos um casal já formado que deseja se separar, mas não conseguem por conta da moralidade, aliada a um jogo de aparências. Não apenas no desenvolvimento de personagens, mas na construção de planos é possível perceber a maestria de Antonioni, onde o storytelling visual é muito mais importante que os diálogos, marca do diretor, que desejava a cada filme redefinir o conceito de narrativa cinematográfica, algo que ele alcançou com sucesso na maioria das vezes. Destaque também ao roteiro do próprio Antonioni em parceria com Tonino Guerra e as atuações do trio Mastroianni-Moreau-Vitti, ingredientes fundamentais para o sucesso da obra.
Existem certos filmes que são graduais. Eles começam de maneira aparentemente inofensiva, sem mostrar muito a que vieram até que aos poucos são reveladas as reais intenções da obra. Lesson of the Evil, do polêmico diretor japonês Takashi Miike, é um deles. Acompanhamos a trajetória de Seiji Hasumi, professor de inglês carismático que aos poucos revela se tratar de um sociopata (ou psicopata, nunca lembro a diferença) que sofre ainda de uma espécie de transtorno esquizofrênico relativo a seu fanatismo pela cultura americana. E mais detalhes que eu revelar sobre o protagonista e o enredo do filme vai acabar sendo um spoiler. Tecnicamente o filme é impecável com cenas de violência gráfica que ao mesmo tempo que são perturbadoras e dão vontade de virar o rosto, também possuem alto valor estético, fazendo com que o espectador estranhamente resista à vontade de fugir o olhar das cenas e assista as mesmas sem conseguir piscar. Este fator é elevado ao máximo no último ato do filme em uma sequência que se trata de um verdadeiro pesadelo aterrorizante e hipnotizante, que dentre outros momentos de brilhantismo, tem uma cena em câmera lenta que é uma das melhores que eu já tive o prazer de assistir. Não conheço muito sobre Takashi Miike, mas vendo Lesson of theEvil é uma obra onde claramente a forma se sobrepõe ao conteúdo, onde a estética se sobrepõe à temática, não que a temática seja vazia, existem algumas críticas ao sistema educacional japonês e ao imperialismo americano (vide a esquizofrenia bizarra do protagonista), mas assistir Lesson of the Evil sem prestar atenção ao seu primor técnico/estético parece-me um desperdício de tempo.
Em tempos onde filmes de terror (aliás, filmes em geral, independente do gênero) estão cada vez mais sendo enlatados, se tornando muito mais filmes de susto que não se preocupam nem um pouco em respeitar o espectador com um entretenimento de qualidade, é muito gratificante ver produções como Corrente do Mal serem lançadas. Eu não conheço muito sobre este tal David Robert Mitchell, mas dá para perceber que ele não é um simples diretor de aluguel, ele é um amante do cinema, sobretudo de terror. Ela não apenas cita Paris, Texas como influência para o uso de planos abertos, muitos realmente dignos de serem emoldurados, como faz referência à O Exorcista, Halloween, O Iluminado, A Hora do Pesadelo e outros grandes clássicos do gênero. Não apenas referências como a atmosfera de tensão é típica de um horror da década de 70, onde a expectativa pelo que vai acontecer traz emoções muito mais intensas que sustos artificiais e desonestos que a maioria das produções atuais utilizam. A trilha sonora também é sensacional, contribuindo para pontuar o clima de tensão crescente, algo também utilizado em clássicos como Suspiria e o já citado O Iluminado. E Alien, porra, quase esqueci. E Tubarão. E Psicose. E vou parar por aqui se não vou passar o dia inteiro escrevendo. Para finalizar, gostaria de dar minhas impressões sobre o final do filme, que causou certa polêmica nos comentários:
O final é perfeito por ser totalmente contra o clichê do susto final. Ele deixa em aberto se a criatura vai ou não naquele momento conseguir matar o casal. Mas independente disso, se eles conseguirem fugir ou morrer naquele momento, não importa. A criatura é representação metafórica da morte, sendo uma entidade impossível de se parar e cada vez mais próxima de seu alvo, ou seja eles vão morrer de qualquer maneira, só não se sabe em qual momento. Mas acredito que seja melhor para o enredo eles morrerem naquele mesmo instante; por eles estarem de mão dadas, como se estivessem dispostos a enfrentar esta situação juntos e por estarem de costas para o monstro, ignorando o fim iminente e apenas aproveitando o pouco tempo de vida que resta a eles.
Snatch talvez seja a mais bem-sucedida cria de Pulp Fiction. A estrutura narrativa, os diálogos e o desenvolvimento dos personagens beberam diretamente da fonte do cinema de Tarantino. Mas ainda assim, Guy Ritchie consegue fazer uma obra de identidade própria; a montagem frenética, a palheta de cores mortas usadas na fotografia e o humor negro britânico fazem de Snatch um filme verdadeiramente autoral, um típico filme de Guy Ritchie e um dos seus melhores.
Azul é a Cor Mais Quente
3.7 4,3K Assista AgoraMais do que um conto de amor lésbico, Azul é a Cor Mais Quente é o retrato de uma geração, mais especificamente da atual geração francesa. Todas as nuances e inquietações desta geração são captadas com maestria pela câmera de Kechiche, que aposta em ângulos inusitados e na valorização da atuação das protagonistas através do uso de planos mais fechados. Falando nelas, é incrível a sinergia que existe entre elas, como se uma complementasse a outra em tela, tanto nas cenas em que as duas dialogam quanto em seus momentos mais íntimos não sendo por acaso as duas terem ido receber a Palma de Ouro junto com o diretor no Festival de Cannes, são dois de trabalho de atuação fantásticos que só dão força a esta grande obra. O defeito mais saliente que consigo pensar neste momento é a duração da projeção. Dava para condensá-lo em 2h30min facilmente ou até menos dependendo da boa vontade do montador. Para finalizar, Azul é a Cor Mais Quente nas palavras certeiras porcamente traduzidas por mim de Steven Spielberg, que presidiu o juri quando o filme saiu vitorioso em Cannes:
"O filme é uma grande história de amor que nos fez sentir privilegiados por ser uma mosca na parede para poder presenciar esta história de amor e desgosto profundos evoluir desde o início. O diretor não colocou nenhuma restrição na narrativa e nós ficamos absolutamente enfeitiçados pela incríveis performances das duas atrizes, e especialmente pelo modo como o diretor observou seus personagens e apenas deixou-os respirar."
Amy
4.4 1,0K Assista AgoraUm preciso documentário sobre a ascensão e queda de um artista e sobre como as pressões oriundas da fama podem levar este mesmo artista a travar uma guerra contra si mesmo, perdendo-a dolorosamente. Se ganhar o Oscar, será mais do que merecido.
A Guerra do Fogo
3.6 352Um espetáculo visual. Fotografia que exalta a beleza das paisagens e dos planos escolhidos pelo diretor, maquiagem oscarizada que só corrobora na construção do clima pré-histórico e até a direção de Annaud é eficiente ao movimentar sua câmera de maneira sutil e inteligentes em diversos pontos. O problema é que tudo isso está a serviço de uma película com seríssimos problemas de ritmo graças a um roteiro que poderia ser melhor conduzido pelo diretor que não soube tornar a narrativa mais dinâmica e nem evitar que ela caia em certos clichês desnecessários. Interessante esteticamente e relevante tematicamente, A Guerra do Fogo é uma obra que apesar de seus inúmeros defeitos continua a ser altamente recomendada em cursos de sociologia, antropologia e outras ciências humanas e com razão. Mesmo falhando enquanto espetáculo, é bem sucedida em trazer reflexões sobre nossa natureza.
Inverno da Alma
3.5 938Inverno da Alma é um típico filme de atuação, não que ele seja um desastre, longe disso. Possui um roteiro sensacional com linhas de diálogo cruas, sem falar que a direção de Debra Granik acerta em cheio ao não fazer julgamentos morais de seus personagens. Mas o filme,por ser pouco inspirado no uso de fotografia e outros aspectos técnicos para complementar a narrativa, é muito mais um demonstrativo do talento de Jennifer Lawrence e John Hawkes do que qualquer outra coisa. Uma experiência esquecível, porém deveras recompensadora e honesta em sua proposta.
O Substituto
4.4 1,7K Assista AgoraSe O Substituto fosse simplesmente um filme-denúncia das falhas do sistema educacional americano, teríamos uma grande obra em mãos. Mas ele vai além disso, é antes de tudo um estudo de personagem ou melhor de um universo de personagens.
Mesmo o enredo tendo como foco principal o personagem interpretado por Adrien Brody, é possível também acompanhar também as trajetórias de diversos outros personagens secundários, sendo que existem um sentimento em comum compartilhado por todos os integrantes da trama: o sentimento de infelicidade. Infelicidade derivada de desilusões amorosas, desilusões para com as pessoas ao redor, desilusões com a profissão; também oriunda de ausência, ausência de afeto, ausência de conciliação com o passado, ausência de compreensão do próximo. Isto faz com que O Substituto seja uma das experiências mais dolorosas da história recente da sétima arte, sendo um manifesto contra a atual situação da sociedade americana tão forte quanto A Outra História Americana, obra anterior do diretor Tony Kaye.
Se existe algo próximo de ser um defeito e ao mesmo tempo um acerto no filme com certeza se trata da escolha dos planos. O uso de closes é didático, mas assustadoramente eficiente ao captar como nenhum outro diretor conseguiria performances de um elenco esforçado liderado por um Adrien Brody que dá saudade de ver em cena. Por outro lado, o uso de closes torna-se excessivo em alguns momentos, deixando transparecer as limitações de Kaye no que diz respeito a uso da linguagem cinematográfica, ainda que não impedindo O Substituto de ser um grande achievement na carreira do diretor.
Enfim, é um filme que fala sobre temas relevantes e que faz o espectador não apenas mergulhar em seu universo melancólico e em seus personagens, como também nos faz mergulhar dentro de nós mesmos; deixando um amargo, mas inesquecível sabor ao final da projeção. E é assim que são as grandes obras de arte: inesquecíveis.
As Virgens Suicidas
3.8 1,4K Assista AgoraA estreia de Sofia Coppola no cinema é certeira ao lidar com temas tão sérios e pesados de uma maneira leve sem apelar para o didatismo. Do elenco, destaco Kirsten Dunst como a carismática Lux e o sempre competente, e subvalorizado, James Wood como o pai da família em uma performance sutil, mas eficaz em suas intenções.
Um aspecto que não pode ser ignorado é o uso de trilha sonora que funciona perfeitamente tanto no que diz respeito à estética quanto na temática, exprimindo sentimentos que os personagens de Coppola por vezes não conseguem expressar.
Virgens Suicidas é enfim uma estreia satisfatória de Sofia Coppola, uma das diretoras mais importantes do cinema atual, seja por uma questão de representatividade, considerando o número escasso de mulheres na cadeira de direção; seja por suas contribuições para o cinema independente americano, ainda que com uma filmografia curta, porém invejável em certos pontos.
Frenesi
3.9 272 Assista AgoraMesmo situado longe dos períodos mais férteis da carreira de Alfred Hitchcock, Frenesi é um belo exemplo do brilhantismo do diretor para criar tensão, além de criar e desenvolver personagens interessantes e divertidos de assistir-se. O principal problema do filme dá-se no ritmo, aparentemente ainda situado na década de 50, mas compensado pelos fatores acima e pela coragem da narrativa com cenas de violência que só seriam possíveis de concretizar em um filme do Hitchcock inserido no contexto do cinema pós-Nova Hollywood. Não é mais uma das obras-primas do diretor, mas ainda é uma excelente obra como todos os trejeitos do diretor: do MacGuffin, no caso a gravata de Rusk; passando pela aparição de Hitchie em tela até chegar no acusado injustamente que deve provar sua inocência.
O Milagre de Anne Sullivan
4.4 217 Assista AgoraA história real de Anne Sullivan e Helen Keller é uma daquelas de admirar o potencial que o ser humano pode ter e perceber o quanto subestimamos uns aos outros. E a obra em questão, O Milagre de Anne Sullivan consegue passar esta sensação com maestria.
O filme começa introduzindo Helen Keller, menina que por ser cega, surda e muda é tratada pelos pais e pela sociedade como uma criatura incapaz de comportar-se com um legítimo ser humano capaz de aprender e relacionar-se com pessoas. Porém, a chegada da professora Anne Sullivan acaba por desafiar o status quo e então acompanhamos a trajetória de Anne em tentar educar Helen o significado das palavras, alimentar-se com talheres, etc.
O sucesso do filme dá-se principalmente nas atuações das protagonistas: Anne Bancroft como Anne Sullivan é uma personagem que personifica a palavra disciplina e rigidez, seja em sua postura ou tom de voz, mas também uma figura que exala bondade e carinho para com o próximo quando necessário. E Patty Duke como Helen Keller parece interpretar realmente um animal doméstico travestido de humano, papel que poderia soar artificial, mas que aqui é realizado de maneira impressionante pela jovem atriz. Mais impressionante ainda é a sinergia que existe entre as duas, capaz de corrigir erros na direção de Arthur Penn, fato que o diretor parece saber da existência ao optar por utilizar de planos que valorizem as expressões e gestos das atrizes.
O Milagre de Anne Sullivan é uma obra seminal não apenas para o cinema, mas em outras áreas como sociologia, antropologia e muitas outras; com atuações exemplares e uma atmosfera que tal qual sua protagonista transmite disciplina, mas empatia pelo ser humano acima de tudo.
Closer: Perto Demais
3.9 3,3K Assista Agora"I can't take my eyes off this film
I can't take my mind off this film"
Ex Machina: Instinto Artificial
3.9 2,0K Assista AgoraViolou a regra do "bros before hoes" e não apenas com qualquer bro, e sim com o Poe Dameron. Mereceu se foder mesmo.
Perdido em Marte
4.0 2,3K Assista Agora2015 viu o retorno de dois cineastas veteranos há tempos sem uma grande realização cinematográfica: um foi George Miller, com o surpreendente Mad Max: Estrada da Fúria e outro foi Ridley Scott, com o sci-fi Perdido em Marte.
O filme conta a trajetória do astronauta Mark Watney, interpretado por um inspiradíssimo Matt Damon, que acaba sendo deixado para trás por seus colegas após uma tempestade de areia em pleno solo marciano. A partir daí acompanhamos seu cotidiano tentando sobreviver no planeta vermelho enquanto a Nasa se esforça para elaborar um plano para resgatar Watney.
A premissa boba de tão simples ganha força na direção de Ridley Scott, de volta com força total ao gênero que ele consagrou-se e tanto ajudou a moldar no cinema, e no roteiro de Drew Goddard, adaptado do livro homônimo de Andy Weir, e cujo tom bem-humorado também visto nos trabalhos anteriores de Goddard torna Perdido em Marte uma experiência capaz de entreter sem esquecer-se do fator qualidade.
O filme pode não ser uma obra-prima da ficção científica, mas é um acerto como há muito não se vê de Ridley Scott e um bom argumento do porquê deve-se esperar com ansiedade os futuros lançamentos do diretor.
Tropa de Elite 2: O Inimigo Agora é Outro
4.1 3,5K Assista AgoraRevigorante perceber que o Padilha conhece Costa-Gavras.
Sicario: Terra de Ninguém
3.7 943 Assista AgoraVai que é sua, Roger Deakins.
Desconstruindo Harry
4.0 335 Assista AgoraMorangos Silvestres + jump cuts + roteiro complexo, metalinguístico e de humor irreverente = Desconstruindo Harry
O Homem Duplicado
3.7 1,8K Assista AgoraComo bom aracnofóbico que sou terei altos pesadelos com este filme. Mas concedo meu perdão ao Denis Villeneuve, já que O Homem Duplicado é um filmaço, um excelente thriller psicológico aberto a diversas interpretações e uma performance inspirada de Jake Gyllenhaal.
Os Oito Odiados
4.1 2,4K Assista AgoraTenho a honra de escrever o comentário de número 666 da página. Sobre o filme? Um legítimo Tarantino longe de ser o seu melhor, embora tenha o melhor trabalho de fotografia da filmografia do Tarantas e uma trilha fodástica de Morricone. Jennifer Jason Leigh rouba a cena.
Star Wars, Episódio VII: O Despertar da Força
4.3 3,1K Assista AgoraDá um medo de entrar nesta página e receber um spoiler gigantesco.
Febre do Rato
4.0 657De todos os diretores do novo cinema pernambucano, Cláudio Assis talvez seja o que mais divide opiniões. E com razão. Febre do Rato é, como todo filme de Assis, uma obra de difícil digestão, seja pela temática pesada, pelos diálogos ácidos ou pela subversão da linguagem cinematográfica. Até o uso da fotografia preto e branco parece ressaltar a proposta do filme de tentar fugir do lugar-comum.
Ilustrando o cotidiano de Zizo, interpretado por Irandhir Santos, poeta e militante anarquista, e seu relacionamento com os habitantes de uma comunidade, Febre do Rato é antes de qualquer coisa um grito por liberdade de pensamento e uma carta de repúdio ao conservadorismo, com atmosfera carregada de eloquência e um realismo gritante.
Destaque para a atuação de Irandhir e da surpreendente Nanda Costa, como interesse amoroso de Zizo. E para a câmera de Cláudio que, aliada com a fotografia traz a tona a verdadeira força de Febre do Rato: a poesia em forma de caos.
Peixe Grande e Suas Histórias Maravilhosas
4.2 2,2K Assista AgoraTim Burton pode não ser nenhum gênio, mestre do cinema ou algo do gênero. Mas quando ele acerta a mão, pode ter certeza que um material criativo e original pode sair daí.
Peixe Grande conta duas narrativas: uma no presente com Ed Bloom, interpretado por Albert Finney, um homem já em seus momentos finais que ganhou notoriedade por ser um contador de histórias que encantam todos à sua volta, exceto o seu filho, Will. A outra narrativa se dá no passado de Ed, que se trata de uma coletânea de histórias fantásticas vindas da cabeça do mesmo mostrando como ele veio conhecer sua futura esposa, seu envolvimento na Guerra da Coreia e outros causos recheados de criatividade e com o design de produção impecável característico dos filmes de Burton.
Arrisco a dizer que, junto com Edward Mãos de Tesoura, é o filme mais belo de toda a filmografia de Burton, um filme não apenas sobre o ato de contar histórias, mas sobre relações familiares e como nossa percepção sobre a realidade pode tornar algo por vezes tão difícil de se lidar que é a vida em um universo fantástico capaz de transmitir um sentimento de esperança quase que infinito. Sentimento que pode parecer muito ingênuo, mas é necessário de vez em quando para seguir em frente.
A Noite
4.2 103Vencedor do Urso de Ouro no Festival de Berlim em 1961, ano em que produções de Godard e Kurosawa também concorriam, A Noite é uma típica obra do diretor italiano Michelangelo Antonioni, cineasta famoso por abordar temas existencialistas do ser humano pós-guerra desconstruindo o conceito de narrativa cinematográfica no processo.
Segunda parte de uma trilogia temática do diretor, A Noite conta a trajetória de um casal, interpretados por Marcello Mastroianni e Jeanne Moreau, que passa por uma crise em seu casamento, condição que ainda é agravada por uma noitada de festa onde a angústia e a luxúria servem como anfitriões do evento.
Interessante notar como este filme serve como contraponto ao primeiro da trilogia, A Aventura. Em A Aventura, vemos dois indivíduos que são impedidos de se relacionar amorosamente por conta da moralidade; em A Noite, vemos um casal já formado que deseja se separar, mas não conseguem por conta da moralidade, aliada a um jogo de aparências.
Não apenas no desenvolvimento de personagens, mas na construção de planos é possível perceber a maestria de Antonioni, onde o storytelling visual é muito mais importante que os diálogos, marca do diretor, que desejava a cada filme redefinir o conceito de narrativa cinematográfica, algo que ele alcançou com sucesso na maioria das vezes.
Destaque também ao roteiro do próprio Antonioni em parceria com Tonino Guerra e as atuações do trio Mastroianni-Moreau-Vitti, ingredientes fundamentais para o sucesso da obra.
Lição do Mal
3.7 84Existem certos filmes que são graduais. Eles começam de maneira aparentemente inofensiva, sem mostrar muito a que vieram até que aos poucos são reveladas as reais intenções da obra. Lesson of the Evil, do polêmico diretor japonês Takashi Miike, é um deles.
Acompanhamos a trajetória de Seiji Hasumi, professor de inglês carismático que aos poucos revela se tratar de um sociopata (ou psicopata, nunca lembro a diferença) que sofre ainda de uma espécie de transtorno esquizofrênico relativo a seu fanatismo pela cultura americana. E mais detalhes que eu revelar sobre o protagonista e o enredo do filme vai acabar sendo um spoiler.
Tecnicamente o filme é impecável com cenas de violência gráfica que ao mesmo tempo que são perturbadoras e dão vontade de virar o rosto, também possuem alto valor estético, fazendo com que o espectador estranhamente resista à vontade de fugir o olhar das cenas e assista as mesmas sem conseguir piscar. Este fator é elevado ao máximo no último ato do filme em uma sequência que se trata de um verdadeiro pesadelo aterrorizante e hipnotizante, que dentre outros momentos de brilhantismo, tem uma cena em câmera lenta que é uma das melhores que eu já tive o prazer de assistir.
Não conheço muito sobre Takashi Miike, mas vendo Lesson of theEvil é uma obra onde claramente a forma se sobrepõe ao conteúdo, onde a estética se sobrepõe à temática, não que a temática seja vazia, existem algumas críticas ao sistema educacional japonês e ao imperialismo americano (vide a esquizofrenia bizarra do protagonista), mas assistir Lesson of the Evil sem prestar atenção ao seu primor técnico/estético parece-me um desperdício de tempo.
Corrente do Mal
3.2 1,8K Assista AgoraEm tempos onde filmes de terror (aliás, filmes em geral, independente do gênero) estão cada vez mais sendo enlatados, se tornando muito mais filmes de susto que não se preocupam nem um pouco em respeitar o espectador com um entretenimento de qualidade, é muito gratificante ver produções como Corrente do Mal serem lançadas.
Eu não conheço muito sobre este tal David Robert Mitchell, mas dá para perceber que ele não é um simples diretor de aluguel, ele é um amante do cinema, sobretudo de terror. Ela não apenas cita Paris, Texas como influência para o uso de planos abertos, muitos realmente dignos de serem emoldurados, como faz referência à O Exorcista, Halloween, O Iluminado, A Hora do Pesadelo e outros grandes clássicos do gênero. Não apenas referências como a atmosfera de tensão é típica de um horror da década de 70, onde a expectativa pelo que vai acontecer traz emoções muito mais intensas que sustos artificiais e desonestos que a maioria das produções atuais utilizam. A trilha sonora também é sensacional, contribuindo para pontuar o clima de tensão crescente, algo também utilizado em clássicos como Suspiria e o já citado O Iluminado. E Alien, porra, quase esqueci. E Tubarão. E Psicose. E vou parar por aqui se não vou passar o dia inteiro escrevendo.
Para finalizar, gostaria de dar minhas impressões sobre o final do filme, que causou certa polêmica nos comentários:
O final é perfeito por ser totalmente contra o clichê do susto final. Ele deixa em aberto se a criatura vai ou não naquele momento conseguir matar o casal. Mas independente disso, se eles conseguirem fugir ou morrer naquele momento, não importa. A criatura é representação metafórica da morte, sendo uma entidade impossível de se parar e cada vez mais próxima de seu alvo, ou seja eles vão morrer de qualquer maneira, só não se sabe em qual momento. Mas acredito que seja melhor para o enredo eles morrerem naquele mesmo instante; por eles estarem de mão dadas, como se estivessem dispostos a enfrentar esta situação juntos e por estarem de costas para o monstro, ignorando o fim iminente e apenas aproveitando o pouco tempo de vida que resta a eles.
Snatch: Porcos e Diamantes
4.2 1,1K Assista AgoraSnatch talvez seja a mais bem-sucedida cria de Pulp Fiction. A estrutura narrativa, os diálogos e o desenvolvimento dos personagens beberam diretamente da fonte do cinema de Tarantino. Mas ainda assim, Guy Ritchie consegue fazer uma obra de identidade própria; a montagem frenética, a palheta de cores mortas usadas na fotografia e o humor negro britânico fazem de Snatch um filme verdadeiramente autoral, um típico filme de Guy Ritchie e um dos seus melhores.
Ensaio Sobre a Cegueira
4.0 2,5KDa cegueira literal surge a cegueira moral.