Filmes que utilizam a bicicleta para promover cenas de ação são pouco comuns no cinema. Uma referência disso é a fita oitentista "Quicksilver - O Prazer de Ganhar", com a então cara nova Kevin Bacon, longa que parece inspirar "Perigo por encomenda", uma produção que recicla clichês do estilo 'gato-e-rato' e surpreende pela eficiência narrativa.
A estória fala de Wilee (Joseph Gordon-Levitt), um 'biker boy' em Nova York que tem a tarefa de entregar um pedido em um no bairro de chineses. Ele é perseguido pelo policial corrupto e viciado em jogos clandestinos (Michael Shannon) que está interessado na encomenda que está com Wilee e fará de tudo para não deixar que a misteriosa entrega seja efetuada.
"Perigo por encomenda" é daqueles com premissa simples e previsível que tem o objetivo de distrair o espectador por 90 minutos sem apelar para argumentos dramáticos bobos. O longa cumpre sua proposta ao trazer ritmo ágil, bom roteiro ao estilo 'tempo real', esperta edição não linear (que dá a sensação de complexidade) e cenas bem montadas sobre duas rodas.
A maneira como os 'biker boys' enfrentam as perigosas avenidas de Nova York em alta velocidade e o objetivo do protagonista proporcionam boas doses de suspense. As sequências de perseguição também empolgam, ainda que merecessem um pouco mais de adrenalina.
Uma das sacadas interessantes é quando Wilee precisa atravessar um cruzamento movimentado, momento que vemos uma espécie de premonição de como tudo acontecerá caso ele opte por determinado caminho.
Todos os clichês funcionam em harmonia, desde o mocinho
que tem relações abaladas com a mocinha (que busca reconciliação por meio de ato heroico)
até as ambições do vilão que, diga-se de passagem, foi interpretado com carisma por Michael Shannon. Joseph Gordon-Levitt está a vontade no papel em mais uma boa atuação. Ele, inclusive, não precisou de dublê na maioria das cenas!
Enfim, o desfecho não surpreende, mas até chegar ao clímax o filme 'entrega a encomenda' ao espectador de maneira eficientemente contagiante. Pena não ter tido a chance de ser exibido nos cinemas brasileiros.
Muita expectativa foi criada em torno de "Homem de Ferro 3". Não só pelo personagem ter tido sucesso com os primeiros longas, mas em função do bem sucedido "Os Vingadores", em que Tony Stark rouba a cena. A terceira aventura é, de longe, a mais bem humorada, no entanto, é o capítulo mais fraco quando o assunto é roteiro.
O filme começa após os eventos de "Os vingadores", com Tony Stark tendo problemas emocionais por causa da batalha contra alienígenas em Nova York. Enquanto ele sofre com isso, um novo vilão, o Mandarim (Ben Kingsley, que faz uma referencia descarada ao Bin Laden, está mal aproveitado), promove atentados terroristas pelo mundo até que Tony o encara após seu fiel empregado (Jon Favreau) quase morrer em uma explosão e sua namorada Pepper Potts (Gwyneth Paltrow) ser sequestrada pelo malfeitor.
O problema que faz "Homem de Ferro 3" não decolar como deveria é que seu roteiro força situações que deixam a narrativa pouco convincente, a começar pelo fraco desenvolvimento do vilão
Há alguns detalhes que deixam o longa com ritmo irregular, como a lentidão no primeiro ato na intenção de dramatizar o momento de fraqueza de Stark, e equívocos que aparecem para promover algum tipo de sequência na trama, como a localização da casa do heroi (como ninguém sabia onde ele morava? Precisou de ele falar seu endereço para começar a ação?) e quando um garoto consegue facilmente quebrar o dedo da consistente armadura metálica (inclusive, essa relação é pouco explorada).
A troca de diretores - saiu o competente Jon Favreau e entrou o fraco Shane Black (fez o instável "Beijos e Tiros") - refletiu negativamente no ritmo e no desenvolvimento da narrativa, o que é uma pena.
Entretanto, a solução para tampar os furos foi investir forte no humor. O filme parece mais uma 'comédia de ação' que o tradicional 'ação com comédia'. Nesse quesito, "Homem de Ferro 3" é hilário ao extremo com boas tiradas do protagonista, as melhores de toda a série, em um show de irreverência do ótimo Robert Downey Jr. Algumas são 'tão cômicas' que parecem 'pegadinhas'!
Apesar de deslizes narrativos, a produção é um espetáculo visual de cair o queixo. Assim como os outros longas, há novas e divertidas tecnologias, principalmente quando se diz respeito a engenhosidade da armadura. As cenas ação, ainda que demorem para acontecer, são bem realizadas e com os melhores efeitos visuais da saga.
Se "Homem de Ferro 3" melhora em seu miolo, a conclusão deixa a desejar. O roteiro parece forçar um final e deixa várias interrogações no ar.
É difícil encontrar bons filmes que exploram o tema ‘exorcismo’. O melhor sobre o assunto ainda é “O exorcista”, de 1973, dirigido por William Friedkin. Depois do clássico, poucas produções emplacaram. Talvez, “Constantine” tenha sido o mais interessante e divertido. No entanto, eis que surge “O ritual”, longa que resgata a temática e surpreende por seu drama e por suas discussões.
O aprendiz de Padre Michael Novak (Colin O'Donoghue) pensa em desistir da formação, mas acaba se interessando por exorcismo. Ele é enviado ao Vaticano para participar de um seminário sobre o assunto e acaba conhecendo o Padre Lucas (Anthony Hopkins), um dos exorcistas mais influentes da igreja. Novak também topa com uma jornalista (Alice Braga) que, assim como ele, busca a verdade sobre ‘rituais antidemoníacos’.
Baseado em um livro não ficção “The Rite”, de Matt Baglio, e bem roteirizado por Michael Petroni, “O ritual” não pretende aterrorizar o espectador, embora tenha cenas assustadoras em determinados momentos, mas traz o tema para a atualidade e dialoga sobre a importância do destino e da fé. A preferência pelo suspense dramático ao invés do terror repugnante de fórmulas hollywoodianas é o que faz o longa ser melhor apreciado.
Com premissa e atmosfera curiosas, o filme é conduzido de forma burocrática por Mikael Håfström (“1408”) o que, de certa forma, favorece o roteiro que desenvolve bem a temática de maneira mais realista. Uns dos pontos atrativos da produção são os ótimos diálogos sobre teologia e ceticismo e elementos que contrastam entre o sobrenatural e o mistério, o que gera um suspense interessante.
O destaque é a atuação de Anthony Hopkins que está em uns de seus melhores momentos depois de “O silêncio dos inocentes”. No restante do elenco, há o desconhecido Colin O'Donoghue (apesar da falta de carisma, não incomoda) e a sempre competente Alice Braga, que poderia ter sido mais aproveitada. Enfim, ritmo intenso e boas doses de tensão neste filme que entretém com eficiência ao mostrar a eterna briga entre o bem e o mal.
Visionário. Esse foi o rótulo que “Tron: uma odisséia eletrônica”, de Steven Lisberger, ganhou em 1982 por se tornar um filme cult e visualmente ousado em sua época. Vinte e oito anos depois, “Tron: o legado”, ao mesmo tempo que é uma continuação por evoluir alguns detalhes narrativos é, também, uma reinvenção (superior ao seu antecessor) do conto de ficção.
O filme esclarece, logo nos primeiros minutos, algumas dúvidas que ficaram soltas no clássico e faz um apanhado geral da história, o que torna esta nova versão mais digerível sem a necessidade de rever o original. É curioso vermos a ideia de mundo virtual 17 anos antes do badalado “Matrix”.
A narrativa mostra Sam Flynn (Garrett Hedlund), filho do fundador de um poderoso império de games e softwares, que descobre um sistema criado pelo pai por meio de um antigo fliperama com o nome Tron. Ao ‘fuçar’ no tal sistema, Sam entra em um universo cibernético e reencontra seu pai Kevin Flynn (Jeff Bridges), desaparecido há 20 anos.
“Tron: o legado” mantém a alma, o convencionalismo temático (a busca pela perfeição e ‘bem versus o mau’) e a trama semelhante ao do longa oitentista. Entretanto, esta versão, assim como a anterior, também se atrapalha ao ter um fraco roteiro, o que prejudica o desenvolvimento de personagens e na condução da premissa, que ainda deixa muitas interrogações no ar.
Tecnicamente, “Tron: o legado” é uma experiência visual muito bem sucedida, estilosa e com cenas de ação bem dirigidas por Joseph Kosinski, que explorou bem os ótimos efeitos em CGI (inclusive, o vilão tem o rosto de Jeff Bridges rejuvenescido pela computação gráfica). Destaques para a trilha sonora do grupo Daft Punk, das cenas dos jogos com discos luminosos e perseguições entre veículos que deixam rastros de luz.
Baseado em livro homônimo da escritora irlandesa Cecelia Ahern, “P.S. Eu Te Amo” se revela um drama romântico pouco convencional. Isso, graças a sua narrativa que opta por trabalhar o ‘pós-tragédia’ ao invés de ‘açucarar sentimentos’ e emociona ao apresentar uma história de sofrimento e superação da perda de um grande amor.
Durante toda a projeção, Gerry (Gerard Butler), que sabia que iria morrer por causa de uma doença, deixa diversas cartas para sua esposa Holly (Hilary Swank) no intuito de motivá-la a continuar a viver sem sua presença e, principalmente, ajudá-la a não ter medo de amar outra pessoa. À medida que as cartas são reveladas, o filme exibe flashbacks com as principais lembranças do casal que o levaram a ter um laço afetivo.
O que torna “P.S. Eu Te Amo” atraente é a maneira ‘pouco hollywoodiana’ como a história é contada. O que seria melodramático em um romance tipicamente estadunidense já é descartado logo no começo, quando descobrimos que o mocinho morre e que sua doença não é pretexto para as lágrimas. E é por causa de sua morte que o filme ganha uma atmosfera amorosa simpática e de relações maternais interessantes. O longa não traz tantas discussões reflexivas e apenas revive bons e difíceis momentos vividos pelos protagonistas. Entretanto, as situações são contornadas com a essência do título, em que o amor, a saudade e a compreensão são os melhores remédios para curar feridas causadas pelas dificuldades que a vida nos impõe.
Apesar de ter alguns coadjuvantes mal trabalhados e um Gerard Butler com uma irreverência um pouco forçada, o roteiro acerta na presença de Kathy Bates (mãe de Holly) e valoriza o talento de Hilary Swank, que se sai melhor no drama do que no romance, vide seu desempenho no clímax extremamente emocionante.
P.S.: bom entretenimento que vale a pena dar uma conferida a dois, em nome do amor!
“Presságio” é o exemplo de filme que faz tudo certo durante quase toda a projeção e derrapa em sua conclusão. Entretanto, até antes do clímax, o diretor Alex Proyas ("Eu, Robô") comanda uma ficção científica de primeira com uma estória intrigante repleta de tragédias e profecias.
No fim dos anos 50, uma escola fez com que suas crianças desenhassem o futuro em papéis no intuito de guardá-los numa cápsula do tempo para serem revelados 50 anos depois. No presente, a tal cápsula é aberta e os desenhos são distribuídos para alunos e, entre os papéis, está o trabalho de uma misteriosa aluna que profetiza, por meio de códigos numéricos, grandes catástrofes na Terra.
O argumento é interessante e bem trabalhado pela narrativa que, embora se apresente de maneira pesada e triste, é bastante atraente pelo ritmo intenso e pelo tom enigmaticamente sobrenatural. A atmosfera densa sustenta bem o drama que transmite angústia por meio da fotografia avermelhada e da depressão do protagonista (interpretado por Nicolas Cage) que, a todo momento, demonstra desespero pela busca de informações.
O longa traz boas doses de suspense e efeitos visuais de qualidade. As catástrofes, que também referenciam o 11 de setembro, se destacam por suas proporções especialmente àquela em que mostra a queda de um avião filmado em plano sequência numas das cenas mais espetaculares que o cinema já criou.
Infelizmente, o ‘final surpresa’ não agradará a todos. Por mais que a trama inspire filosofia e soe de maneira esperançosa e teológica, ela se perde na conclusão dando a impressão de forçar um ponto final. Contudo, não podemos desmerecer a produção por causa desse detalhe, já que há mais pontos positivos que negativos em “Presságio”. Recomendo!
Sob a ótica do entretenimento para não se levar a sério, “Velozes e Furiosos 5” cumpre bem sua proposta, o de proporcionar muita ação e virilidade que lembram longas oitentistas do gênero. Sob a ótica da crítica cinematográfica, o filme apresenta falhas grotescas de ambientação e não segue a idéia ‘car porn’ do longa original, fatores que podem deixar os espectadores mais sérios decepcionados.
Depois que Brian (Paul Walker) e Mia (Jordana Brewster) ajudam a tirar Dom (Vin Diesel) da cadeia, o grupo se reúne no Rio de Janeiro, onde tramam um golpe milionário contra um poderoso traficante carioca. O problema é que a patota é procurada pelo agente Luke Hobbs (The Rock), que tem missão é capturar Dom.
“Velozes e Furiosos 5” é um filme divertido. Claro, é incomparável ao original, mas o longa utiliza clichês, bom humor e fórmulas convencionais de ação que, surpreendentemente, funcionam e empolgam. Ainda que o roteiro falhe na exposição de dramas pelo excesso de personagens, o ritmo nunca cansa, o que favorece o interesse de quem quer ver duas horas repletas de aventura ‘sem muitas perseguições’.
Sem muitas perseguições automobilísticas? Sim e isso faz parte dos erros do filme que pipocam na tela o tempo todo. Além de fugir cada vez mais da proposta da franquia, de desenvolver mal os novos personagens e deixar Paul Walker e os carros ‘tunados’ ainda mais figurantes, o longa se equivoca nesses aspectos originais da saga e peca, principalmente, na caracterização tupiniquim que é estereotipado por Hollywood (pelo menos não houve aparições de macacos).
No geral, os erros e a previsibilidade chamam a atenção, mas não incomodam, pelo contrário, divertem. Se o Rio de Janeiro não fosse uma 'cidade dublê' (a maior parte das filmagens aconteceu em Porto Rico), talvez esse fator não seria tão relevante. Destaque para o clímax ‘assalto espetacular’ e nas presenças de Vin Diesel e The Rock, que fazem do filme um produto viril e cool.
“Argo” não é original, não tem trama complexa e sua estória trivial só ganhou visibilidade por inspirar uma ação incrivelmente verdadeira. Sua notoriedade não se deu por sua receita, mas de quem colocou a mão na massa para fazer de um simples bolo uma torta saborosa. E é isso que o filme trás de melhor, um suspense irresistível como não se via há tempos e um Ben Affleck na direção que está cada vez mais em destaque no cargo.
Quando a embaixada dos Estados Unidos é invadida no Irã no final dos anos 70 por adeptos do líder aiatolá Khomeine, seis norte-americanos se refugiam na casa do embaixador canadense. Diante da situação, a CIA decidiu acionar o plano de resgate um tanto quanto curioso do espião Tony Mendez (Affleck), que diz ser “a melhor ideia ruim que temos”: inventar um filme de ficção científica à lá “Star Wars” com locações em terras iranianas em que os refugiados seriam membros da produção, o que serviria de disfarce para fugirem do país. A premissa só não é uma grande gafe da espionagem porque a tal ideia, inesperadamente cinematográfica e surrealista, existiu.
A previsibilidade narrativa e o clichê temático não tiram o brilho de “Argo”. A essência está no suspense que é pontual e envolvente, graças a ótima direção de Ben Affleck que conseguiu passar a ideia de que toda a projeção se parecesse com um extenso clímax, algo difícil de se ver no cinema. Talvez, “Apollo 13” tenha sido uma das produções que logo associei com a sensação de ‘ápice contínuo’.
A cada momento, há uma situação de urgência que deve ser resolvida, o que faz o espectador ficar cada vez mais tenso ao ver decisões rápidas para um problema que parece não ter solução. Isso favorece o ritmo intenso e, principalmente, o suspense que é orquestrado de forma objetiva por Affleck.
Além do ótimo roteiro (que trás críticas à ‘indústria da mentira’ Hollywood e pitadas de humor com os coadjuvantes Alan Arkin e John Goodman) e da ambientação realista, não se pode deixar de mencionar a competente e ágil edição, que articula bem as ações e deixa o longa ainda mais contagiante. “Argo” pode não ser inesquecível, mas é um exemplo de entretenimento de qualidade e, sobretudo, prova de que não se precisa de narrativas complexas para se fazer um bom filme.
Quem acompanha e gosta de X-Men no cinema não vai se decepcionar com o novo longa da saga. Depois do terceiro filme da série, os realizadores investiram, de maneira interessante, em contar o passado dos protagonistas da Marvel e, assim, saiu “X-Men Origens: Wolverine” e “X-Men – Primeira Classe”, que resgata ainda mais a história de suas ‘maiores lideranças’: Professor Charles Xavier e Erik Lehnsher, o Magneto.
Nos anos 60, enquanto o telepata Xavier (James McAvoy) tenta reunir uma equipe de mutantes para evitar que o mundo entre na 3ª Guerra, o mestre do magnetismo Magneto (Michael Fassbender) procura o assassino de sua mãe para se vingar. Quando eles se cruzam numa missão para interceptar o misterioso vilão Sebastian Shaw (Kevin Bacon), Magneto se alia a Xavier para conseguir atingir seu objetivo.
A estrutura narrativa, com trama sobre vingança em um cenário de Guerra Fria (com a Crise dos Mísseis de Cuba), não é ruim, mas a sensação é que ela poderia ter sido mais bem explorada. As origens de Professor Xavier e, principalmente, de Magneto e seu vilão mereciam retratos mais aprofundados (com mais psicologia nos dramas e explicações plausíveis sobre o surgimento de seus poderes), assim como a traição de Erik (se ambos foram ‘grandes amigos’ em um momento nas HQs, não é bem isso que vemos no filme) e sua tendência para o ‘lado negro da força’.
O grande furo da produção fica por conta de um detalhe na conexão entre os filmes. No “X-Men Origens”, há uma ponta em que Xavier aparece careca, mais velho e andando normalmente. Nesta produção, Xavier fica paraplégico já quando jovem. É de se estranhar a gafe, já que há Bryan Singer na produção e no roteiro, figura responsável pela adaptação cinematográfica de X-Men e que participou da realização de toda a franquia.
No geral, tecnicamente, “X-Men – Primeira Classe” mantém a qualidade dos filmes anteriores, como na atmosfera mutante repleta de muita ação e efeitos visuais competentes. Uma grata surpresa é o roteiro, que equilibra bem os clichês, o bom humor, as curiosidades sobre personagens e sobre ‘como tudo começou’, além de proporcionar um bom ritmo ao longa, o que mantém a atenção do espectador até o final.
Filmes que retratam o universo paranóico da mente humana, seja com delírios narcóticos ou pela insanidade mental, sempre me interessaram. O cinema já explorou bem essa temática e quando a produção e o roteiro são bem feitos, como o francês “Caixa preta”, o assunto é ainda mais atraente e curioso.
Depois de um acidente de carro, um homem profere frases incoerentes quando está no coma. Após acordar algumas horas depois no hospital, Arthur (muito bem interpretado por José Garcia) recebe de uma enfermeira um caderno com anotações de suas estranhas palavras e decide investigar o que havia dito em seu leito hospitalar, o que culmina em um perigoso exercício de autoconhecimento.
O tom paranóico é justamente as tais frases que remete o protagonista a um fato importante não resolvido em seu passado. O visual interessante e o bom roteiro, baseado na obra de mesmo nome de Tonino Benacquista, trabalham de forma eficiente a complexidade da psique fazendo com que o espectador entre na enigmática realidade do personagem principal.
A trama é dividida em duas partes: a primeira mostra as alucinações de Arthur, flash backs de sua infância e a frenética busca de informações; na segunda metade, as ‘peças de seu delírio’ vão se encaixando até que surge o clímax magistral, que coloca ainda mais mistério em relação a sua realidade.
Provavelmente, muitos vão interpretar o filme de diversas maneiras. E fazer pensar é o papel do longa que traz reflexões e conceitos sobre as verdades do subconsciente humano (ego, superego e como nos apresentamos no mundo) que são guardados em uma misteriosa e obscura ‘caixa’.
A novela gráfica “V de Vingança”, criada pelo inglês Alan Moore no final dos anos 80, um dos gênios das histórias em quadrinhos, ganha adaptação cinematográfica nas mãos dos realizadores de “Matrix”. Escrito e produzido pelos irmãos Andy e Larry (agora Lana) Wachowski e dirigido pelo então estreante James McTeigue (“Ninja Assassino”), “V de Vingança” é um entretenimento de qualidade que busca temas polêmicos do passado para criticar o presente. A apreciação pode ser perturbadora aos puristas, já que defende a ideia de que a violência é a única arma que combate o poder político.
A trama mostra uma sociedade dominada e oprimida pelo regime político inglês em um futuro não muito distante. Tudo e todos são controlados pelo governo. A censura é rígida e os meios de comunicação são manipulados a todo o momento. As sentinelas Homens-Dedo vigiam cada canto da cidade para manter a ordem social. Para combater essa ditadura surge um justiceiro, sob o codinome V (Hugo Weaving), que provoca ações terroristas com o objetivo de alertar a população sobre o governo ‘sujo’ que comanda a Inglaterra.
A história, permeada de flashbacks sobre o passado dos protagonistas, foi modernizada (pós 11 de setembro) pelos irmãos Wachowski. Por causa disso, há diversas modificações em relação à complexa história da HQ e à filosofia de Alan Moore. Entretanto, mesmo com algumas alterações ou contextualizações, o enredo mantém vivo o tom subversivo e as duras críticas moralistas sobre os sistemas ditatorialmente corruptos e sobre a passividade da sociedade moderna.
Um ponto alto no roteiro, além da referência ao clássico “1984”, de George Orwell, é o emaranhado de temas polêmicos. Dentre eles, há uma alusão ao fascismo referenciado por um governo tirânico, o controle das mídias como forma de transmitir medo à população, a anarquia e o terrorismo, ambas promovida por V, que legitima a violência para combater a tirania.
Outros aspectos positivos são a ótima atuação de Natalie Portman (interpreta uma jovem resgata por V que se torna uma aprendiza e aliada na luta contra o sistema) e as eficientes cenas de ação. As sequências, no entanto, não estão espalhadas por toda a projeção e isso causa certo desequilíbrio no ritmo narrativo – mas não atrapalha no resultado final notável, o que faz do miolo filme ficar lento durante alguns momentos.
Para não passar em branco, V foi inspirado em um revolucionário anarquista do século 17, Guy Fawkes (a máscara do filme é a reprodução de seu rosto), que tentou explodir o Parlamento inglês.
Esqueça a primeira versão de Dredd, aquela com Sylvester Stallone, de 1995, e conheça o poder empolgante da justiça em uma nova versão cinematográfica. “Dredd - O juiz do apocalipse” não se trata de uma refilmagem e muito menos de uma continuação, pelo contrário, é um filme que surge para ‘apagar’ seu antecessor e retratar o personagem da maneira que merece com violência e fidelidade à HQ.
Como a produção dos anos 90 não agradou tanto aos fãs em relação à narrativa (e também por outros motivos de caracterização), a aposta do novo Dredd foi em uma estória mais simples, objetiva e sem lengalenga. Além disso, a trama valoriza a violência estilizada dos quadrinhos e, claro, exibe um juiz mais durão e de personalidade ímpar.
Ambientado em um futuro desesperançoso, a missão de Dredd (em interpretação convincente de Karl Urban) é prender Ma-Ma (Lena Headey), uma traficante de narcóticos que está no último pavimento de um complexo de apartamentos gigantesco. O problema é que o tal prédio tem 200 andares e Dredd, com a ajuda de uma juíza novata (Lena Headey), que também é médium, deverá enfrentar os capangas de Ma-Ma que estão fortemente armados e espalhados por todo o local.
O longa possui um ritmo eficiente e a direção segura de Pete Travis (“Ponto de vista”) trabalha bem os clichês e as sequências de ação. Outros aspectos bem orquestrados por Travis é em algumas soluções visuais que deixaram o filme ainda mais atraente. É o caso das câmeras lentas que retratam o efeito da droga Slo-Mo (comercializada por Ma-Ma) e na boa utilização do 3D que enriquece a profundidade dos cenários (aparentemente parecem limitados) e espetaculariza a violência crua que espirra sangue e pequenos destroços para ‘fora da tela’.
Há quem diga que esse Dredd é um plágio do bom “Operação invasão”, que tem até uma premissa semelhante. Na verdade, a produção de Dredd se iniciou antes e o longa da Indonésia foi lançado primeiro. Ainda que ambos tenham a mesma proposta de ação, eles se diferenciam em suas entrelinhas e, claro, no apuro técnico.
Dredd termina com a sensação de ‘quero mais’ por contagiar o espectador que, certamente, refletirá sobre as ações de um ‘justiceiro legal’ que elimina a casta criminosa do mundo. Ele é um heroi que todos sonham ser ou, pelo menos, todos clamam por sua existência. Talvez, por isso, seu rosto não é revelado, o que subentende que ‘Dredds’ podem existir ou tentam existir, apenas não são percebidos ou apoiados como deveriam.
Invasões de alienígenas à Terra têm sido uma temática recorrente no cinema nos últimos anos. Confesso que curto esse tipo de produção, mas não são todos que apreciam o subgênero. “Invasão do Mundo: Batalha de Los Angeles” é mais um a figurar nesse segmento, mas esbarra por ‘ocultar’ demais a tal invasão para os espectadores.
O filme lembra muito o bom “Skyline – A invasão” e a narrativa mostra o ponto de vista de um sargento do exército quase aposentado (e de seus comandados) sobre a incursão que é semelhante àquela de “Skyline”. A trama coloca fuzileiros navais numa missão de resgate de civis em um bairro da ‘Cidade dos Anjos’ e acabam sendo emboscados pelos visitantes hostis.
Infelizmente, o longa é frustrante em relação ao ótimo trailer. Os conflitos bobos entre os personagens e os esperados clichês temáticos (corrida contra o tempo, heroísmo, superação e lembranças do passado) não incomodam tanto, mas o fraco roteiro que traz informações vazias e a ambientação empoeirada evitam que o espectador conheça os vilões que mal aparecem na tela.
Além disso, o ritmo ora acelerado demais na ação ora lento demais nos dramas, que não convencem, prejudicam ainda mais a narrativa. O que poderia ser um diferencial acaba não empolgando. É o caso das sequências de guerra que parecem ter sido compiladas de outros filmes e decepcionam por seu convencionalismo. A câmera sempre trêmula, o cenário esfumaçante de destruição e as cenas militares de fuga, tiroteios, resgate e sobrevivência nos remetem a “Falcão Negro em Perigo”.
Tecnicamente, a “Invasão do Mundo: Batalha de Los Angeles” tem suas qualidades, tem um elenco que poderia render melhor e até um suspense que funciona em alguns momentos, mas falta uma direção mais eficiente e uma estória mais ‘explicativa’. Talvez, por isso, não há uma cena de destaque. Da última safra sobre invasões alienígenas, o melhor ainda é “Distrito 9”.
Não tem como comparar os sucessos e brilhantismo dos dois primeiros filmes da saga “Exterminador do futuro”, que impressionam até hoje, com os dois últimos “A rebelião das máquinas” e “A salvação”. Apesar de não terem James Cameron nos comandos, essas continuações são esquecíveis, mas entretêm na medida certa e não comprometem a eficácia da história original.
Depois de “O julgamento final” (1991), não tinha como melhorar mais a arte que já era irretocável. Por isso, as sequências foram burocráticas na evolução dos fatos, como mostrar o domínio das máquinas, a destruição superficial do planeta à lá “Mad Max” e a vingança dos humanos.
Apesar da falta de qualidade dos roteiros em relação a furos e alguns erros de cronologia narrativa, ambos os longas apresentam os mesmos clichês (referências aos clássicos, um novo exterminador e um novo alvo), porém com tramas diferentes. “A rebelião das máquinas” investe na fórmula dos clássicos com viagem no tempo e fuga concentrada em áreas urbanas e “A salvação” foca na vingança e na guerra apocalíptica contra as máquinas no futuro.
Essas produções se tornam entretenimentos atrativos devido aos tons pré e pós-apocalípticos com ótimas cenas de ação repletas efeitos visuais eficientes. Enquanto um traz adrenalina com a figura emblemática de Arnold Schwarzenegger, o outro investe em bons planos-sequências em uma ambientação de pura destruição.
Só lamento a ausência de James Cameron como diretor nos últimos filmes da saga e também dos próximos, já que há projetos para as partes 5 e 6 da franquia.
Não é difícil encontrar filmes que apresentam invenções ou descobertas que causam transtornos ao fugir do controle de seus criadores. “O homem sem sombra”, do diretor holandês Paul Verhoeven (“Robocop”), parecia surpreender, mas acabou se entregando aos tradicionais clichês do suspense por, justamente, colocar a cria contra o seu 'progenitor'.
A trama mostra a façanha de um cientista que descobre a fórmula da invisibilidade. Depois de testar com sucesso em animais, o Dr. Sebastian Craine decide ser a própria cobaia para provar que sua fórmula funciona em seres humanos. Após ficar invisível, Craine sofre os efeitos colaterais do experimento e, aos poucos, fica sem domínio de suas ações.
“O homem sem sombra” perdeu a chance de entrar para a história da ficção científica. Teve de tudo para dar certo, como um diretor que entende do gênero, bons protagonistas (Elisabeth Shue e Kevin Bacon), temática curiosa e efeitos visuais incrivelmente espetaculares, porém a parte final frustrou minhas expectativas de ver algo menos convencional.
A autenticidade do longa durou até a primeira metade quando o roteiro trabalhou de forma magnífica a ideia da invisibilidade. Entretanto, do meio para o fim, o filme investiu nas manjadas cartilhas do suspense ‘gato-e-rato’ e se perdeu em uma conclusão vazia e sanguinolenta.
Analisando pelo ‘lado comercial’, “O homem sem sombra” é eficiente dentro da proposta de sua segunda metade. Apesar de não explorar o assunto de maneira mais científica, o longa merece ser visto pelo show de efeitos visuais utilizados de maneira interessante e criativa pela produção.
Pegue a essência de “Falcão - O campeão dos campeões”, misture com a ação de Rock Balboa e tempere com tecnologia robótica. Pronto, aí está “Gigantes de aço”, um filme sobre relacionamento paterno em meio a lutas de robôs com todos os clichês dramáticos e caricatos do boxe.
Charlie Kenton (Hugh Jackman), um ex-boxeador e controlador de robôs lutadores (perdedores), ganha a guarda do filho após a morte da ex-mulher. O problema é que ele nunca viu o garoto e aceita uma oferta em dinheiro para transferir a guarda da criança para a ex-cunhada. O que Charlie não esperava é que o garoto também é simpatizante das tais lutas e isso pode ser o ponto de partida para um relacionamento melhor entre eles.
A ficção, aqui, só fica dentro dos ringues e isso é o destaque que chama a atenção do espectador por algo aparentemente inédito. O resto da trama cai na previsibilidade temática e no convencionalismo de conflitos emocionais e comportamentais, como na aproximação entre pai e filho além, é claro, da moral repetitiva.
Entretanto, todo esse ‘lugar comum’ não cai na pieguice e, à medida que as bacanas lutas acontecem, sejam elas rinhas ilegais ou torneios oficiais, o filme torna-se contagiante e se revela um excelente entretenimento familiar. Os bons efeitos visuais e sonoros completam a aventura.
Ignore os furos de roteiro e divirta-se sem compromisso!
A metalinguagem no cinema sempre foi algo interessante. Filmes que retratam ‘ações dentro da ação’ podem dar boas perspectivas sobre determinados temas. E para o amante da sétima arte ver um longa que mostra os bastidores da maior indústria de entretenimento do mundo, qualquer produção se torna atraente e curiosa, como em “Fora de controle”.
O filme tem uma proposta simples: acompanhar o dia-a-dia da do produtor de cinema Ben (interpretado com competência por Robert DeNiro). Para da história dar liga, vemos diversas situações alheias e pequenos conflitos pessoais do protagonista, como ex-mulheres, filhos, desconfianças, egos de atores e realizadores, relacionamentos, entre outros.
O longa se destaca pelo excelente elenco e pelo tom metalinguístico da trama ao fazer um retrato da indústria do cinema, com o qual descobrimos detalhes sobre os bastidores da sétima arte e da crítica cinematográfica. O roteiro de Art Linson, embora merecesse mais acidez, amarra bem o teor subjetivo proposto que é conduzido de maneira burocrática por Barry Levinson.
A atmosfera trágica consiste em pequenas confusões do protagonista em lidar com alguns momentos caricatos de sua vida. É aí que o roteiro insere o humor rasteiro em meio ao drama, como nas discussões sobre a barba de Bruce Willis que interpreta ele mesmo, a revelação da filha mais velha, o tom satírico em um enterro, as conversas com o diretor de seu filme e até no desfecho.
“Fora de controle” não é só um retrato do cinema, mas uma crítica à sua indústria que é rodeada de hipocrisia e de capitalismo exacerbado. Além disso, a moral da história coloca Ben batendo de frente com o sistema que lhe dá o acesso ao poder e, ao mesmo tempo, a dificuldade de controlá-lo do jeito que lhe convém.
O diretor M. Night Shayamalan ficou conhecido com o memorável “O sexto sentido”. Em seguida, ele se firmou com o sensacional “Corpo Fechado”. Depois veio “Sinais”, que não decepcionou. Entretanto, daí em diante, sua carreira tem sido uma ladeira sem fim, fato comprovado no fraco “A vila”, no péssimo “A dama na água” e nos bobos “Fim dos tempos” e “O último mestre do ar”, este último não vem ao caso.
Não dá para entender como um diretor com futuro promissor, que demonstrou boas discussões entre ciência e fé nos primeiros longas não consegue emplacar mais um filme com bom conteúdo. Suas produções são de qualidade, tem sensibilidade de sobra na direção, porém a impressão que ele desaprendeu a escrever roteiros.
“Fim dos tempos” tinha tudo para se tornar uma referência sobre ‘futuros apocalípticos’, mas sua premissa o condenou ao fracasso. A história fala de uma possível epidemia que, espalhada pelo vento, vai matando as pessoas no interior dos Estados Unidos.
Há uma atmosfera bem construída para o suspense e sequências bem dirigidas, porém o argumento ‘ambiental’ que revela o ‘vilão’ soa de maneira boba e não convence. Isso, no entanto, ficou mal desenvolvido pelo roteiro assim como a ‘crítica ecológica’, a incongruência dos mistérios sobre a epidemia viral e a crise de relacionamento dos protagonistas, que é piegas ao extremo, em meio ao caos.
O filme equilibra momentos tensos e curiosos (como a maneira suicida e bizarra das mortes) com situações fúteis (como a cena em que o protagonista conversa com uma planta de plástico achando que fosse real). As explicações vagas, a causa das mortes e de sua ‘falta de critérios’ são inconvincentes e, por causa disso, o suspense perde seu impacto ao se apresentar de forma vazia, principalmente por seu clímax repentino e incoerentemente sem respostas.
Qual o adulto que não se lembra do encantador “A Fantástica Fábrica de Chocolate”? O clássico infantil de 1971, dirigido por Mel Stuart e protagonizado por Gene Wilder, ganhou traços exóticos em 2005 pelas mãos de Tim Burton. Não se trata somente de uma refilmagem, mas de uma interessante re-imaginação do livro escrito por Roald Dahl.
A história não é novidade. Willy Wonka (Johnny Depp) é o dono da maior fábrica de doces do mundo. Ele realiza um concurso mundial para que cinco crianças visitem sua fábrica e descubram as magias que suas portas escondem. Os guris mal sabem que essa aventura avaliará a qualidade do caráter de cada um, o que culminará em um belo prêmio para a criança que não for ‘penalizada’ na tal vista.
Esta nova versão de “A Fantástica Fábrica de Chocolate” é um espetáculo visual, tão fascinante como o original. Mesmo tendo uma beleza gráfica e efeitos digitais competentes, a genialidade artística de Tim Burton pesa neste conceito e deixa o longa mais curioso, como a bela direção de arte, as cores ora extravagantes ora 'melancólicas' e a estética caricaturada que brinca com referências cinematográficas.
O roteiro se sobressai ao contextualizar alguns detalhes, como os modernos números musicais, e ao inserir novas situações, como a caracterização dos Umpa-Lumpas, o retrato do passado de Willy Wonka e seu relacionamento com o pai. O resto, a narrativa mantém a alma da história original, como os diferentes perfis das crianças ‘asquerosas’ e seus destinos na fábrica, mensagens moralistas, a valorização da família e, claro, muito chocolate e bom humor.
Outros destaques são Johnny Depp (transmitiu com eficiência a excentricidade de Wonka) e a humildade ímpar do garoto Freddie Highmore (“Em Busca da Terra do Nunca”). Enfim, gostei mais desta versão, mas, cinematograficamente falando, o filme de 1971 é mais importante e teve mais força no retrato de uma geração, fato que a ‘Fábrica de Burton’ tem um peso menor nesse contexto histórico/midiático.
Não tem como comparar os sucessos e brilhantismo dos dois primeiros filmes da saga “Exterminador do futuro”, que impressionam até hoje, com os dois últimos “A rebelião das máquinas” e “A salvação”. Apesar de não terem James Cameron nos comandos, essas continuações são esquecíveis, mas entretêm na medida certa e não comprometem a eficácia da história original.
Depois de “O julgamento final” (1991), não tinha como melhorar mais a arte que já era irretocável. Por isso, as sequências foram burocráticas na evolução dos fatos, como mostrar o domínio das máquinas, a destruição superficial do planeta à lá “Mad Max” e a vingança dos humanos.
Apesar da falta de qualidade dos roteiros em relação a furos e alguns erros de cronologia narrativa, ambos os longas apresentam os mesmos clichês (referências aos clássicos, um novo exterminador e um novo alvo), porém com tramas diferentes. “A rebelião das máquinas” investe na fórmula dos clássicos com viagem no tempo e fuga concentrada em áreas urbanas e “A salvação” foca na vingança e na guerra apocalíptica contra as máquinas no futuro.
Essas produções se tornam entretenimentos atrativos devido aos tons pré e pós-apocalípticos com ótimas cenas de ação repletas efeitos visuais eficientes. Enquanto um traz adrenalina com a figura emblemática de Arnold Schwarzenegger, o outro investe em bons planos-sequências em uma ambientação de pura destruição.
Só lamento a ausência de James Cameron como diretor nos últimos filmes da saga e também dos próximos, já que há projetos para as partes 5 e 6 da franquia.
O longa de animação “Rio”, produzido pela mesma equipe de “A era do gelo” e dirigido pelo brasileiro Carlos Saldanha, segue a cartilha do bom filme infantil contemporâneo: causa ambiental como tema, romance, cenário conhecido, protagonista carismático, personagens secundários engraçadinhos, números musicais bacanas e muita aventura. Para a criançada, a produção está sob medida, para os adultos nem tanto.
A trama fala de Blu (voz original de Jesse Eisenberg), a última ararinha azul macho que mora no frio de Minnesota, nos EUA, com sua dona Linda (Leslie Mann). A ave é trazida ao Brasil pelo biólogo Túlio (Rodrigo Santoro) no intuito de Blu se acasalar com a fêmea Jade (Anne Hathaway) para, assim, salvarem a espécie. A aventura começa quando o casal de aves acaba sendo sequestrado por contrabandistas de animais e conseguem fugir do cativeiro, o que lhe proporciona uma divertida jornada pela cidade do Rio de Janeiro.
Uma das coisas que motivam o público a assistir ao longa é o fato de se ter uma cidade brasileira como cenário. E o filme não decepciona ao caracterizar a capital carioca, ambiente em que os protagonistas passeiam por seus principais pontos turísticos, como o Cristo Redentor, os arcos da Lapa, o bondinho de Santa Tereza, o Pão de Açúcar, a praia e o sambódromo.
A narrativa, em bom ritmo de ‘gato-e-rato’, é convencional, mas não cansa e há mais piadas voltadas ao público infantil, o que pode agradar menos aos adultos que estão acostumados com mais sagacidades no humor de animações. Apesar de “Rio” ser uma produção estadunidense, não teve como fugir de estereótipos hollywoodianos que soam como furos de roteiro (não se assuste com o inglês impecável dos brasileiros).
O fato é que “Rio” cumpre o prometido para com a garotada e diverte toda a família pela aventura hipercolorida (o gráfico é sensacional), com boa trilha sonora e com bela lição de moral em seu desfecho. Ainda há fotos divertidas nos créditos finais mostrando o futuro recente dos personagens após o filme.
O trailer prometeu e o filme cumpriu. “Esquadrão classe A” é um longa cool! Para que isso seja realmente divertido é preciso descartar qualquer situação que subestime a física ou, em outras palavras, não se leve sério esta adaptação cinematográfica de uma das mais badaladas séries de TV dos anos 80.
O esquadrão é um grupo de soldados norte-americanos divertidos e ‘despirocados’ que buscam muita aventura, ou melhor, procuram missões absurdas e quase impossíveis. No contexto do filme, a patota explosiva se torna lendária ao se transformar no melhor time das forças armadas.
Uma coisa atraente dessa adaptação é a fidelidade para com a série. Elenco carismático, trejeitos dos personagens, planos mirabolantes, situações bem humoradas (principalmente entre BA e Murdock) e a virilidade do esquadrão que foi sucesso na década de 80 estão no longa.
Para o cinema, não basta mostrar apenas as missões bem sucedidas do grupo, tem que se criar uma situação conspiratória para comprometer o caráter de toda a patota. A partir daí, entra a corriqueira estória de perseguição para que a equipe prove sua inocência.
“Esquadrão classe A” é repleto de efeitos visuais eficientes, clichês divertidíssimos e está recheado de exageradas cenas de ação, principalmente àquela em que envolve um o tanque de pára-quedas que é engraçada e, ao mesmo tempo, de tirar o fôlego. Que venha a continuação e viva a diversão!
Longas com temas que envolvem sistemas de controle social nos remetem ao romance "1984", de George Orwell (1949), que deu origem ao filme de mesmo nome e lançado no ano que deu nome à obra. De lá para cá, esse clássico tem sido bastante influente no cinema, principalmente quando o assunto expõe ideias de 'manipulação de realidade'.
Falando nisso, “Equilibrium”, que passou despercebido no início dos anos 2000, trouxe uma perspectiva interessante sobre governos manipuladores. O único problema é que ele foi lançado no rastro da ficção high-tech “Matrix”, com o qual se assemelha em diversos aspectos.
A premissa é atraente e curiosa: depois da Terceira Guerra Mundial, as autoridades forçam a população a consumir uma droga criada para inibir qualquer tipo de emoção humana no intuito de evitar a Quarta Guerra. A ideia de uma supressão de sentimentos num futuro apocalíptico abordando um sistema falho mascarado de sociedade perfeita é bem explorada pelo roteiro que trabalha o drama de maneira convincente.
O figurino, a contestação sobre a realidade, a vingança sobre o sistema, a rebelião em massa, as artes marciais e as habilidades absurdas são uma das semelhanças em relação à produção pirotécnica dos Irmãos Wachowski. O fato de “Equilibrium” fazer analogias com “Matrix” não o faz ficar desinteressante, pelo contrário, ele utiliza esses elementos parecidos para trazer uma visão pouco convencional de um sistema manipulador.
Apesar da trama trivial e alguns furos no roteiro, “Equilibrium” não decepciona no ‘conjunto da obra’, especialmente por oferecer um visual acinzentado bacana e tiroteios estilosos. Tecnicamente e filosoficamente falando, é incomparável com seu ‘irmão rico’, mas entretém e faz refletir com a mesma eficiência.
Perigo por Encomenda
3.3 492 Assista AgoraFilmes que utilizam a bicicleta para promover cenas de ação são pouco comuns no cinema. Uma referência disso é a fita oitentista "Quicksilver - O Prazer de Ganhar", com a então cara nova Kevin Bacon, longa que parece inspirar "Perigo por encomenda", uma produção que recicla clichês do estilo 'gato-e-rato' e surpreende pela eficiência narrativa.
A estória fala de Wilee (Joseph Gordon-Levitt), um 'biker boy' em Nova York que tem a tarefa de entregar um pedido em um no bairro de chineses. Ele é perseguido pelo policial corrupto e viciado em jogos clandestinos (Michael Shannon) que está interessado na encomenda que está com Wilee e fará de tudo para não deixar que a misteriosa entrega seja efetuada.
"Perigo por encomenda" é daqueles com premissa simples e previsível que tem o objetivo de distrair o espectador por 90 minutos sem apelar para argumentos dramáticos bobos. O longa cumpre sua proposta ao trazer ritmo ágil, bom roteiro ao estilo 'tempo real', esperta edição não linear (que dá a sensação de complexidade) e cenas bem montadas sobre duas rodas.
A maneira como os 'biker boys' enfrentam as perigosas avenidas de Nova York em alta velocidade e o objetivo do protagonista proporcionam boas doses de suspense. As sequências de perseguição também empolgam, ainda que merecessem um pouco mais de adrenalina.
Uma das sacadas interessantes é quando Wilee precisa atravessar um cruzamento movimentado, momento que vemos uma espécie de premonição de como tudo acontecerá caso ele opte por determinado caminho.
Todos os clichês funcionam em harmonia, desde o mocinho
que tem relações abaladas com a mocinha (que busca reconciliação por meio de ato heroico)
Enfim, o desfecho não surpreende, mas até chegar ao clímax o filme 'entrega a encomenda' ao espectador de maneira eficientemente contagiante. Pena não ter tido a chance de ser exibido nos cinemas brasileiros.
Homem de Ferro 3
3.5 3,4K Assista AgoraMuita expectativa foi criada em torno de "Homem de Ferro 3". Não só pelo personagem ter tido sucesso com os primeiros longas, mas em função do bem sucedido "Os Vingadores", em que Tony Stark rouba a cena. A terceira aventura é, de longe, a mais bem humorada, no entanto, é o capítulo mais fraco quando o assunto é roteiro.
O filme começa após os eventos de "Os vingadores", com Tony Stark tendo problemas emocionais por causa da batalha contra alienígenas em Nova York. Enquanto ele sofre com isso, um novo vilão, o Mandarim (Ben Kingsley, que faz uma referencia descarada ao Bin Laden, está mal aproveitado), promove atentados terroristas pelo mundo até que Tony o encara após seu fiel empregado (Jon Favreau) quase morrer em uma explosão e sua namorada Pepper Potts (Gwyneth Paltrow) ser sequestrada pelo malfeitor.
O problema que faz "Homem de Ferro 3" não decolar como deveria é que seu roteiro força situações que deixam a narrativa pouco convincente, a começar pelo fraco desenvolvimento do vilão
e de seu poder que parece se inspirar no Tocha Humana de "O Quarteto Fantástico".
Há alguns detalhes que deixam o longa com ritmo irregular, como a lentidão no primeiro ato na intenção de dramatizar o momento de fraqueza de Stark, e equívocos que aparecem para promover algum tipo de sequência na trama, como a localização da casa do heroi (como ninguém sabia onde ele morava? Precisou de ele falar seu endereço para começar a ação?) e quando um garoto consegue facilmente quebrar o dedo da consistente armadura metálica (inclusive, essa relação é pouco explorada).
Entretanto, a solução para tampar os furos foi investir forte no humor. O filme parece mais uma 'comédia de ação' que o tradicional 'ação com comédia'. Nesse quesito, "Homem de Ferro 3" é hilário ao extremo com boas tiradas do protagonista, as melhores de toda a série, em um show de irreverência do ótimo Robert Downey Jr. Algumas são 'tão cômicas' que parecem 'pegadinhas'!
Apesar de deslizes narrativos, a produção é um espetáculo visual de cair o queixo. Assim como os outros longas, há novas e divertidas tecnologias, principalmente quando se diz respeito a engenhosidade da armadura. As cenas ação, ainda que demorem para acontecer, são bem realizadas e com os melhores efeitos visuais da saga.
Se "Homem de Ferro 3" melhora em seu miolo, a conclusão deixa a desejar. O roteiro parece forçar um final e deixa várias interrogações no ar.
Uma das dúvidas é se o herói voltará para uma quarta aventura.
O Ritual
3.3 1,9K Assista AgoraÉ difícil encontrar bons filmes que exploram o tema ‘exorcismo’. O melhor sobre o assunto ainda é “O exorcista”, de 1973, dirigido por William Friedkin. Depois do clássico, poucas produções emplacaram. Talvez, “Constantine” tenha sido o mais interessante e divertido. No entanto, eis que surge “O ritual”, longa que resgata a temática e surpreende por seu drama e por suas discussões.
O aprendiz de Padre Michael Novak (Colin O'Donoghue) pensa em desistir da formação, mas acaba se interessando por exorcismo. Ele é enviado ao Vaticano para participar de um seminário sobre o assunto e acaba conhecendo o Padre Lucas (Anthony Hopkins), um dos exorcistas mais influentes da igreja. Novak também topa com uma jornalista (Alice Braga) que, assim como ele, busca a verdade sobre ‘rituais antidemoníacos’.
Baseado em um livro não ficção “The Rite”, de Matt Baglio, e bem roteirizado por Michael Petroni, “O ritual” não pretende aterrorizar o espectador, embora tenha cenas assustadoras em determinados momentos, mas traz o tema para a atualidade e dialoga sobre a importância do destino e da fé. A preferência pelo suspense dramático ao invés do terror repugnante de fórmulas hollywoodianas é o que faz o longa ser melhor apreciado.
Com premissa e atmosfera curiosas, o filme é conduzido de forma burocrática por Mikael Håfström (“1408”) o que, de certa forma, favorece o roteiro que desenvolve bem a temática de maneira mais realista. Uns dos pontos atrativos da produção são os ótimos diálogos sobre teologia e ceticismo e elementos que contrastam entre o sobrenatural e o mistério, o que gera um suspense interessante.
O destaque é a atuação de Anthony Hopkins que está em uns de seus melhores momentos depois de “O silêncio dos inocentes”. No restante do elenco, há o desconhecido Colin O'Donoghue (apesar da falta de carisma, não incomoda) e a sempre competente Alice Braga, que poderia ter sido mais aproveitada. Enfim, ritmo intenso e boas doses de tensão neste filme que entretém com eficiência ao mostrar a eterna briga entre o bem e o mal.
Tron: O Legado
3.2 1,8K Assista AgoraVisionário. Esse foi o rótulo que “Tron: uma odisséia eletrônica”, de Steven Lisberger, ganhou em 1982 por se tornar um filme cult e visualmente ousado em sua época. Vinte e oito anos depois, “Tron: o legado”, ao mesmo tempo que é uma continuação por evoluir alguns detalhes narrativos é, também, uma reinvenção (superior ao seu antecessor) do conto de ficção.
O filme esclarece, logo nos primeiros minutos, algumas dúvidas que ficaram soltas no clássico e faz um apanhado geral da história, o que torna esta nova versão mais digerível sem a necessidade de rever o original. É curioso vermos a ideia de mundo virtual 17 anos antes do badalado “Matrix”.
A narrativa mostra Sam Flynn (Garrett Hedlund), filho do fundador de um poderoso império de games e softwares, que descobre um sistema criado pelo pai por meio de um antigo fliperama com o nome Tron. Ao ‘fuçar’ no tal sistema, Sam entra em um universo cibernético e reencontra seu pai Kevin Flynn (Jeff Bridges), desaparecido há 20 anos.
“Tron: o legado” mantém a alma, o convencionalismo temático (a busca pela perfeição e ‘bem versus o mau’) e a trama semelhante ao do longa oitentista. Entretanto, esta versão, assim como a anterior, também se atrapalha ao ter um fraco roteiro, o que prejudica o desenvolvimento de personagens e na condução da premissa, que ainda deixa muitas interrogações no ar.
Tecnicamente, “Tron: o legado” é uma experiência visual muito bem sucedida, estilosa e com cenas de ação bem dirigidas por Joseph Kosinski, que explorou bem os ótimos efeitos em CGI (inclusive, o vilão tem o rosto de Jeff Bridges rejuvenescido pela computação gráfica). Destaques para a trilha sonora do grupo Daft Punk, das cenas dos jogos com discos luminosos e perseguições entre veículos que deixam rastros de luz.
P.S. Eu Te Amo
3.7 2,7K Assista AgoraBaseado em livro homônimo da escritora irlandesa Cecelia Ahern, “P.S. Eu Te Amo” se revela um drama romântico pouco convencional. Isso, graças a sua narrativa que opta por trabalhar o ‘pós-tragédia’ ao invés de ‘açucarar sentimentos’ e emociona ao apresentar uma história de sofrimento e superação da perda de um grande amor.
Durante toda a projeção, Gerry (Gerard Butler), que sabia que iria morrer por causa de uma doença, deixa diversas cartas para sua esposa Holly (Hilary Swank) no intuito de motivá-la a continuar a viver sem sua presença e, principalmente, ajudá-la a não ter medo de amar outra pessoa. À medida que as cartas são reveladas, o filme exibe flashbacks com as principais lembranças do casal que o levaram a ter um laço afetivo.
O que torna “P.S. Eu Te Amo” atraente é a maneira ‘pouco hollywoodiana’ como a história é contada. O que seria melodramático em um romance tipicamente estadunidense já é descartado logo no começo, quando descobrimos que o mocinho morre e que sua doença não é pretexto para as lágrimas. E é por causa de sua morte que o filme ganha uma atmosfera amorosa simpática e de relações maternais interessantes. O longa não traz tantas discussões reflexivas e apenas revive bons e difíceis momentos vividos pelos protagonistas. Entretanto, as situações são contornadas com a essência do título, em que o amor, a saudade e a compreensão são os melhores remédios para curar feridas causadas pelas dificuldades que a vida nos impõe.
Apesar de ter alguns coadjuvantes mal trabalhados e um Gerard Butler com uma irreverência um pouco forçada, o roteiro acerta na presença de Kathy Bates (mãe de Holly) e valoriza o talento de Hilary Swank, que se sai melhor no drama do que no romance, vide seu desempenho no clímax extremamente emocionante.
P.S.: bom entretenimento que vale a pena dar uma conferida a dois, em nome do amor!
Presságio
3.1 1,8K Assista Agora“Presságio” é o exemplo de filme que faz tudo certo durante quase toda a projeção e derrapa em sua conclusão. Entretanto, até antes do clímax, o diretor Alex Proyas ("Eu, Robô") comanda uma ficção científica de primeira com uma estória intrigante repleta de tragédias e profecias.
No fim dos anos 50, uma escola fez com que suas crianças desenhassem o futuro em papéis no intuito de guardá-los numa cápsula do tempo para serem revelados 50 anos depois. No presente, a tal cápsula é aberta e os desenhos são distribuídos para alunos e, entre os papéis, está o trabalho de uma misteriosa aluna que profetiza, por meio de códigos numéricos, grandes catástrofes na Terra.
O argumento é interessante e bem trabalhado pela narrativa que, embora se apresente de maneira pesada e triste, é bastante atraente pelo ritmo intenso e pelo tom enigmaticamente sobrenatural. A atmosfera densa sustenta bem o drama que transmite angústia por meio da fotografia avermelhada e da depressão do protagonista (interpretado por Nicolas Cage) que, a todo momento, demonstra desespero pela busca de informações.
O longa traz boas doses de suspense e efeitos visuais de qualidade. As catástrofes, que também referenciam o 11 de setembro, se destacam por suas proporções especialmente àquela em que mostra a queda de um avião filmado em plano sequência numas das cenas mais espetaculares que o cinema já criou.
Infelizmente, o ‘final surpresa’ não agradará a todos. Por mais que a trama inspire filosofia e soe de maneira esperançosa e teológica, ela se perde na conclusão dando a impressão de forçar um ponto final. Contudo, não podemos desmerecer a produção por causa desse detalhe, já que há mais pontos positivos que negativos em “Presságio”. Recomendo!
Velozes & Furiosos 5: Operação Rio
3.4 1,7K Assista AgoraSob a ótica do entretenimento para não se levar a sério, “Velozes e Furiosos 5” cumpre bem sua proposta, o de proporcionar muita ação e virilidade que lembram longas oitentistas do gênero. Sob a ótica da crítica cinematográfica, o filme apresenta falhas grotescas de ambientação e não segue a idéia ‘car porn’ do longa original, fatores que podem deixar os espectadores mais sérios decepcionados.
Depois que Brian (Paul Walker) e Mia (Jordana Brewster) ajudam a tirar Dom (Vin Diesel) da cadeia, o grupo se reúne no Rio de Janeiro, onde tramam um golpe milionário contra um poderoso traficante carioca. O problema é que a patota é procurada pelo agente Luke Hobbs (The Rock), que tem missão é capturar Dom.
“Velozes e Furiosos 5” é um filme divertido. Claro, é incomparável ao original, mas o longa utiliza clichês, bom humor e fórmulas convencionais de ação que, surpreendentemente, funcionam e empolgam. Ainda que o roteiro falhe na exposição de dramas pelo excesso de personagens, o ritmo nunca cansa, o que favorece o interesse de quem quer ver duas horas repletas de aventura ‘sem muitas perseguições’.
Sem muitas perseguições automobilísticas? Sim e isso faz parte dos erros do filme que pipocam na tela o tempo todo. Além de fugir cada vez mais da proposta da franquia, de desenvolver mal os novos personagens e deixar Paul Walker e os carros ‘tunados’ ainda mais figurantes, o longa se equivoca nesses aspectos originais da saga e peca, principalmente, na caracterização tupiniquim que é estereotipado por Hollywood (pelo menos não houve aparições de macacos).
No geral, os erros e a previsibilidade chamam a atenção, mas não incomodam, pelo contrário, divertem. Se o Rio de Janeiro não fosse uma 'cidade dublê' (a maior parte das filmagens aconteceu em Porto Rico), talvez esse fator não seria tão relevante. Destaque para o clímax ‘assalto espetacular’ e nas presenças de Vin Diesel e The Rock, que fazem do filme um produto viril e cool.
Argo
3.9 2,5K“Argo” não é original, não tem trama complexa e sua estória trivial só ganhou visibilidade por inspirar uma ação incrivelmente verdadeira. Sua notoriedade não se deu por sua receita, mas de quem colocou a mão na massa para fazer de um simples bolo uma torta saborosa. E é isso que o filme trás de melhor, um suspense irresistível como não se via há tempos e um Ben Affleck na direção que está cada vez mais em destaque no cargo.
Quando a embaixada dos Estados Unidos é invadida no Irã no final dos anos 70 por adeptos do líder aiatolá Khomeine, seis norte-americanos se refugiam na casa do embaixador canadense. Diante da situação, a CIA decidiu acionar o plano de resgate um tanto quanto curioso do espião Tony Mendez (Affleck), que diz ser “a melhor ideia ruim que temos”: inventar um filme de ficção científica à lá “Star Wars” com locações em terras iranianas em que os refugiados seriam membros da produção, o que serviria de disfarce para fugirem do país. A premissa só não é uma grande gafe da espionagem porque a tal ideia, inesperadamente cinematográfica e surrealista, existiu.
A previsibilidade narrativa e o clichê temático não tiram o brilho de “Argo”. A essência está no suspense que é pontual e envolvente, graças a ótima direção de Ben Affleck que conseguiu passar a ideia de que toda a projeção se parecesse com um extenso clímax, algo difícil de se ver no cinema. Talvez, “Apollo 13” tenha sido uma das produções que logo associei com a sensação de ‘ápice contínuo’.
A cada momento, há uma situação de urgência que deve ser resolvida, o que faz o espectador ficar cada vez mais tenso ao ver decisões rápidas para um problema que parece não ter solução. Isso favorece o ritmo intenso e, principalmente, o suspense que é orquestrado de forma objetiva por Affleck.
Além do ótimo roteiro (que trás críticas à ‘indústria da mentira’ Hollywood e pitadas de humor com os coadjuvantes Alan Arkin e John Goodman) e da ambientação realista, não se pode deixar de mencionar a competente e ágil edição, que articula bem as ações e deixa o longa ainda mais contagiante. “Argo” pode não ser inesquecível, mas é um exemplo de entretenimento de qualidade e, sobretudo, prova de que não se precisa de narrativas complexas para se fazer um bom filme.
X-Men: Primeira Classe
3.9 3,4K Assista AgoraQuem acompanha e gosta de X-Men no cinema não vai se decepcionar com o novo longa da saga. Depois do terceiro filme da série, os realizadores investiram, de maneira interessante, em contar o passado dos protagonistas da Marvel e, assim, saiu “X-Men Origens: Wolverine” e “X-Men – Primeira Classe”, que resgata ainda mais a história de suas ‘maiores lideranças’: Professor Charles Xavier e Erik Lehnsher, o Magneto.
Nos anos 60, enquanto o telepata Xavier (James McAvoy) tenta reunir uma equipe de mutantes para evitar que o mundo entre na 3ª Guerra, o mestre do magnetismo Magneto (Michael Fassbender) procura o assassino de sua mãe para se vingar. Quando eles se cruzam numa missão para interceptar o misterioso vilão Sebastian Shaw (Kevin Bacon), Magneto se alia a Xavier para conseguir atingir seu objetivo.
A estrutura narrativa, com trama sobre vingança em um cenário de Guerra Fria (com a Crise dos Mísseis de Cuba), não é ruim, mas a sensação é que ela poderia ter sido mais bem explorada. As origens de Professor Xavier e, principalmente, de Magneto e seu vilão mereciam retratos mais aprofundados (com mais psicologia nos dramas e explicações plausíveis sobre o surgimento de seus poderes), assim como a traição de Erik (se ambos foram ‘grandes amigos’ em um momento nas HQs, não é bem isso que vemos no filme) e sua tendência para o ‘lado negro da força’.
O grande furo da produção fica por conta de um detalhe na conexão entre os filmes. No “X-Men Origens”, há uma ponta em que Xavier aparece careca, mais velho e andando normalmente. Nesta produção, Xavier fica paraplégico já quando jovem. É de se estranhar a gafe, já que há Bryan Singer na produção e no roteiro, figura responsável pela adaptação cinematográfica de X-Men e que participou da realização de toda a franquia.
No geral, tecnicamente, “X-Men – Primeira Classe” mantém a qualidade dos filmes anteriores, como na atmosfera mutante repleta de muita ação e efeitos visuais competentes. Uma grata surpresa é o roteiro, que equilibra bem os clichês, o bom humor, as curiosidades sobre personagens e sobre ‘como tudo começou’, além de proporcionar um bom ritmo ao longa, o que mantém a atenção do espectador até o final.
Caixa Preta
3.1 35Filmes que retratam o universo paranóico da mente humana, seja com delírios narcóticos ou pela insanidade mental, sempre me interessaram. O cinema já explorou bem essa temática e quando a produção e o roteiro são bem feitos, como o francês “Caixa preta”, o assunto é ainda mais atraente e curioso.
Depois de um acidente de carro, um homem profere frases incoerentes quando está no coma. Após acordar algumas horas depois no hospital, Arthur (muito bem interpretado por José Garcia) recebe de uma enfermeira um caderno com anotações de suas estranhas palavras e decide investigar o que havia dito em seu leito hospitalar, o que culmina em um perigoso exercício de autoconhecimento.
O tom paranóico é justamente as tais frases que remete o protagonista a um fato importante não resolvido em seu passado. O visual interessante e o bom roteiro, baseado na obra de mesmo nome de Tonino Benacquista, trabalham de forma eficiente a complexidade da psique fazendo com que o espectador entre na enigmática realidade do personagem principal.
A trama é dividida em duas partes: a primeira mostra as alucinações de Arthur, flash backs de sua infância e a frenética busca de informações; na segunda metade, as ‘peças de seu delírio’ vão se encaixando até que surge o clímax magistral, que coloca ainda mais mistério em relação a sua realidade.
Provavelmente, muitos vão interpretar o filme de diversas maneiras. E fazer pensar é o papel do longa que traz reflexões e conceitos sobre as verdades do subconsciente humano (ego, superego e como nos apresentamos no mundo) que são guardados em uma misteriosa e obscura ‘caixa’.
Top Gun: Ases Indomáveis
3.5 922 Assista AgoraA versão 3D saiu melhor que eu imaginava! As sequências aéreas ficaram interessantes nesse formato com uma profundidade muito boa!
V de Vingança
4.3 3,0K Assista AgoraA novela gráfica “V de Vingança”, criada pelo inglês Alan Moore no final dos anos 80, um dos gênios das histórias em quadrinhos, ganha adaptação cinematográfica nas mãos dos realizadores de “Matrix”. Escrito e produzido pelos irmãos Andy e Larry (agora Lana) Wachowski e dirigido pelo então estreante James McTeigue (“Ninja Assassino”), “V de Vingança” é um entretenimento de qualidade que busca temas polêmicos do passado para criticar o presente. A apreciação pode ser perturbadora aos puristas, já que defende a ideia de que a violência é a única arma que combate o poder político.
A trama mostra uma sociedade dominada e oprimida pelo regime político inglês em um futuro não muito distante. Tudo e todos são controlados pelo governo. A censura é rígida e os meios de comunicação são manipulados a todo o momento. As sentinelas Homens-Dedo vigiam cada canto da cidade para manter a ordem social. Para combater essa ditadura surge um justiceiro, sob o codinome V (Hugo Weaving), que provoca ações terroristas com o objetivo de alertar a população sobre o governo ‘sujo’ que comanda a Inglaterra.
A história, permeada de flashbacks sobre o passado dos protagonistas, foi modernizada (pós 11 de setembro) pelos irmãos Wachowski. Por causa disso, há diversas modificações em relação à complexa história da HQ e à filosofia de Alan Moore. Entretanto, mesmo com algumas alterações ou contextualizações, o enredo mantém vivo o tom subversivo e as duras críticas moralistas sobre os sistemas ditatorialmente corruptos e sobre a passividade da sociedade moderna.
Um ponto alto no roteiro, além da referência ao clássico “1984”, de George Orwell, é o emaranhado de temas polêmicos. Dentre eles, há uma alusão ao fascismo referenciado por um governo tirânico, o controle das mídias como forma de transmitir medo à população, a anarquia e o terrorismo, ambas promovida por V, que legitima a violência para combater a tirania.
Outros aspectos positivos são a ótima atuação de Natalie Portman (interpreta uma jovem resgata por V que se torna uma aprendiza e aliada na luta contra o sistema) e as eficientes cenas de ação. As sequências, no entanto, não estão espalhadas por toda a projeção e isso causa certo desequilíbrio no ritmo narrativo – mas não atrapalha no resultado final notável, o que faz do miolo filme ficar lento durante alguns momentos.
Para não passar em branco, V foi inspirado em um revolucionário anarquista do século 17, Guy Fawkes (a máscara do filme é a reprodução de seu rosto), que tentou explodir o Parlamento inglês.
Dredd
3.6 1,4K Assista AgoraEsqueça a primeira versão de Dredd, aquela com Sylvester Stallone, de 1995, e conheça o poder empolgante da justiça em uma nova versão cinematográfica. “Dredd - O juiz do apocalipse” não se trata de uma refilmagem e muito menos de uma continuação, pelo contrário, é um filme que surge para ‘apagar’ seu antecessor e retratar o personagem da maneira que merece com violência e fidelidade à HQ.
Como a produção dos anos 90 não agradou tanto aos fãs em relação à narrativa (e também por outros motivos de caracterização), a aposta do novo Dredd foi em uma estória mais simples, objetiva e sem lengalenga. Além disso, a trama valoriza a violência estilizada dos quadrinhos e, claro, exibe um juiz mais durão e de personalidade ímpar.
Ambientado em um futuro desesperançoso, a missão de Dredd (em interpretação convincente de Karl Urban) é prender Ma-Ma (Lena Headey), uma traficante de narcóticos que está no último pavimento de um complexo de apartamentos gigantesco. O problema é que o tal prédio tem 200 andares e Dredd, com a ajuda de uma juíza novata (Lena Headey), que também é médium, deverá enfrentar os capangas de Ma-Ma que estão fortemente armados e espalhados por todo o local.
O longa possui um ritmo eficiente e a direção segura de Pete Travis (“Ponto de vista”) trabalha bem os clichês e as sequências de ação. Outros aspectos bem orquestrados por Travis é em algumas soluções visuais que deixaram o filme ainda mais atraente. É o caso das câmeras lentas que retratam o efeito da droga Slo-Mo (comercializada por Ma-Ma) e na boa utilização do 3D que enriquece a profundidade dos cenários (aparentemente parecem limitados) e espetaculariza a violência crua que espirra sangue e pequenos destroços para ‘fora da tela’.
Há quem diga que esse Dredd é um plágio do bom “Operação invasão”, que tem até uma premissa semelhante. Na verdade, a produção de Dredd se iniciou antes e o longa da Indonésia foi lançado primeiro. Ainda que ambos tenham a mesma proposta de ação, eles se diferenciam em suas entrelinhas e, claro, no apuro técnico.
Dredd termina com a sensação de ‘quero mais’ por contagiar o espectador que, certamente, refletirá sobre as ações de um ‘justiceiro legal’ que elimina a casta criminosa do mundo. Ele é um heroi que todos sonham ser ou, pelo menos, todos clamam por sua existência. Talvez, por isso, seu rosto não é revelado, o que subentende que ‘Dredds’ podem existir ou tentam existir, apenas não são percebidos ou apoiados como deveriam.
Invasão do Mundo: Batalha de Los Angeles
2.8 1,1K Assista AgoraInvasões de alienígenas à Terra têm sido uma temática recorrente no cinema nos últimos anos. Confesso que curto esse tipo de produção, mas não são todos que apreciam o subgênero. “Invasão do Mundo: Batalha de Los Angeles” é mais um a figurar nesse segmento, mas esbarra por ‘ocultar’ demais a tal invasão para os espectadores.
O filme lembra muito o bom “Skyline – A invasão” e a narrativa mostra o ponto de vista de um sargento do exército quase aposentado (e de seus comandados) sobre a incursão que é semelhante àquela de “Skyline”. A trama coloca fuzileiros navais numa missão de resgate de civis em um bairro da ‘Cidade dos Anjos’ e acabam sendo emboscados pelos visitantes hostis.
Infelizmente, o longa é frustrante em relação ao ótimo trailer. Os conflitos bobos entre os personagens e os esperados clichês temáticos (corrida contra o tempo, heroísmo, superação e lembranças do passado) não incomodam tanto, mas o fraco roteiro que traz informações vazias e a ambientação empoeirada evitam que o espectador conheça os vilões que mal aparecem na tela.
Além disso, o ritmo ora acelerado demais na ação ora lento demais nos dramas, que não convencem, prejudicam ainda mais a narrativa. O que poderia ser um diferencial acaba não empolgando. É o caso das sequências de guerra que parecem ter sido compiladas de outros filmes e decepcionam por seu convencionalismo. A câmera sempre trêmula, o cenário esfumaçante de destruição e as cenas militares de fuga, tiroteios, resgate e sobrevivência nos remetem a “Falcão Negro em Perigo”.
Tecnicamente, a “Invasão do Mundo: Batalha de Los Angeles” tem suas qualidades, tem um elenco que poderia render melhor e até um suspense que funciona em alguns momentos, mas falta uma direção mais eficiente e uma estória mais ‘explicativa’. Talvez, por isso, não há uma cena de destaque. Da última safra sobre invasões alienígenas, o melhor ainda é “Distrito 9”.
O Exterminador do Futuro 3: A Rebelião das Máquinas
3.1 565 Assista AgoraNão tem como comparar os sucessos e brilhantismo dos dois primeiros filmes da saga “Exterminador do futuro”, que impressionam até hoje, com os dois últimos “A rebelião das máquinas” e “A salvação”. Apesar de não terem James Cameron nos comandos, essas continuações são esquecíveis, mas entretêm na medida certa e não comprometem a eficácia da história original.
Depois de “O julgamento final” (1991), não tinha como melhorar mais a arte que já era irretocável. Por isso, as sequências foram burocráticas na evolução dos fatos, como mostrar o domínio das máquinas, a destruição superficial do planeta à lá “Mad Max” e a vingança dos humanos.
Apesar da falta de qualidade dos roteiros em relação a furos e alguns erros de cronologia narrativa, ambos os longas apresentam os mesmos clichês (referências aos clássicos, um novo exterminador e um novo alvo), porém com tramas diferentes. “A rebelião das máquinas” investe na fórmula dos clássicos com viagem no tempo e fuga concentrada em áreas urbanas e “A salvação” foca na vingança e na guerra apocalíptica contra as máquinas no futuro.
Essas produções se tornam entretenimentos atrativos devido aos tons pré e pós-apocalípticos com ótimas cenas de ação repletas efeitos visuais eficientes. Enquanto um traz adrenalina com a figura emblemática de Arnold Schwarzenegger, o outro investe em bons planos-sequências em uma ambientação de pura destruição.
Só lamento a ausência de James Cameron como diretor nos últimos filmes da saga e também dos próximos, já que há projetos para as partes 5 e 6 da franquia.
O Homem Sem Sombra
2.9 381Não é difícil encontrar filmes que apresentam invenções ou descobertas que causam transtornos ao fugir do controle de seus criadores. “O homem sem sombra”, do diretor holandês Paul Verhoeven (“Robocop”), parecia surpreender, mas acabou se entregando aos tradicionais clichês do suspense por, justamente, colocar a cria contra o seu 'progenitor'.
A trama mostra a façanha de um cientista que descobre a fórmula da invisibilidade. Depois de testar com sucesso em animais, o Dr. Sebastian Craine decide ser a própria cobaia para provar que sua fórmula funciona em seres humanos. Após ficar invisível, Craine sofre os efeitos colaterais do experimento e, aos poucos, fica sem domínio de suas ações.
“O homem sem sombra” perdeu a chance de entrar para a história da ficção científica. Teve de tudo para dar certo, como um diretor que entende do gênero, bons protagonistas (Elisabeth Shue e Kevin Bacon), temática curiosa e efeitos visuais incrivelmente espetaculares, porém a parte final frustrou minhas expectativas de ver algo menos convencional.
A autenticidade do longa durou até a primeira metade quando o roteiro trabalhou de forma magnífica a ideia da invisibilidade. Entretanto, do meio para o fim, o filme investiu nas manjadas cartilhas do suspense ‘gato-e-rato’ e se perdeu em uma conclusão vazia e sanguinolenta.
Analisando pelo ‘lado comercial’, “O homem sem sombra” é eficiente dentro da proposta de sua segunda metade. Apesar de não explorar o assunto de maneira mais científica, o longa merece ser visto pelo show de efeitos visuais utilizados de maneira interessante e criativa pela produção.
Gigantes de Aço
3.7 2,5KPegue a essência de “Falcão - O campeão dos campeões”, misture com a ação de Rock Balboa e tempere com tecnologia robótica. Pronto, aí está “Gigantes de aço”, um filme sobre relacionamento paterno em meio a lutas de robôs com todos os clichês dramáticos e caricatos do boxe.
Charlie Kenton (Hugh Jackman), um ex-boxeador e controlador de robôs lutadores (perdedores), ganha a guarda do filho após a morte da ex-mulher. O problema é que ele nunca viu o garoto e aceita uma oferta em dinheiro para transferir a guarda da criança para a ex-cunhada. O que Charlie não esperava é que o garoto também é simpatizante das tais lutas e isso pode ser o ponto de partida para um relacionamento melhor entre eles.
A ficção, aqui, só fica dentro dos ringues e isso é o destaque que chama a atenção do espectador por algo aparentemente inédito. O resto da trama cai na previsibilidade temática e no convencionalismo de conflitos emocionais e comportamentais, como na aproximação entre pai e filho além, é claro, da moral repetitiva.
Entretanto, todo esse ‘lugar comum’ não cai na pieguice e, à medida que as bacanas lutas acontecem, sejam elas rinhas ilegais ou torneios oficiais, o filme torna-se contagiante e se revela um excelente entretenimento familiar. Os bons efeitos visuais e sonoros completam a aventura.
Ignore os furos de roteiro e divirta-se sem compromisso!
Fora de Controle
2.7 104 Assista AgoraA metalinguagem no cinema sempre foi algo interessante. Filmes que retratam ‘ações dentro da ação’ podem dar boas perspectivas sobre determinados temas. E para o amante da sétima arte ver um longa que mostra os bastidores da maior indústria de entretenimento do mundo, qualquer produção se torna atraente e curiosa, como em “Fora de controle”.
O filme tem uma proposta simples: acompanhar o dia-a-dia da do produtor de cinema Ben (interpretado com competência por Robert DeNiro). Para da história dar liga, vemos diversas situações alheias e pequenos conflitos pessoais do protagonista, como ex-mulheres, filhos, desconfianças, egos de atores e realizadores, relacionamentos, entre outros.
O longa se destaca pelo excelente elenco e pelo tom metalinguístico da trama ao fazer um retrato da indústria do cinema, com o qual descobrimos detalhes sobre os bastidores da sétima arte e da crítica cinematográfica. O roteiro de Art Linson, embora merecesse mais acidez, amarra bem o teor subjetivo proposto que é conduzido de maneira burocrática por Barry Levinson.
A atmosfera trágica consiste em pequenas confusões do protagonista em lidar com alguns momentos caricatos de sua vida. É aí que o roteiro insere o humor rasteiro em meio ao drama, como nas discussões sobre a barba de Bruce Willis que interpreta ele mesmo, a revelação da filha mais velha, o tom satírico em um enterro, as conversas com o diretor de seu filme e até no desfecho.
“Fora de controle” não é só um retrato do cinema, mas uma crítica à sua indústria que é rodeada de hipocrisia e de capitalismo exacerbado. Além disso, a moral da história coloca Ben batendo de frente com o sistema que lhe dá o acesso ao poder e, ao mesmo tempo, a dificuldade de controlá-lo do jeito que lhe convém.
Fim dos Tempos
2.5 1,4K Assista AgoraO diretor M. Night Shayamalan ficou conhecido com o memorável “O sexto sentido”. Em seguida, ele se firmou com o sensacional “Corpo Fechado”. Depois veio “Sinais”, que não decepcionou. Entretanto, daí em diante, sua carreira tem sido uma ladeira sem fim, fato comprovado no fraco “A vila”, no péssimo “A dama na água” e nos bobos “Fim dos tempos” e “O último mestre do ar”, este último não vem ao caso.
Não dá para entender como um diretor com futuro promissor, que demonstrou boas discussões entre ciência e fé nos primeiros longas não consegue emplacar mais um filme com bom conteúdo. Suas produções são de qualidade, tem sensibilidade de sobra na direção, porém a impressão que ele desaprendeu a escrever roteiros.
“Fim dos tempos” tinha tudo para se tornar uma referência sobre ‘futuros apocalípticos’, mas sua premissa o condenou ao fracasso. A história fala de uma possível epidemia que, espalhada pelo vento, vai matando as pessoas no interior dos Estados Unidos.
Há uma atmosfera bem construída para o suspense e sequências bem dirigidas, porém o argumento ‘ambiental’ que revela o ‘vilão’ soa de maneira boba e não convence. Isso, no entanto, ficou mal desenvolvido pelo roteiro assim como a ‘crítica ecológica’, a incongruência dos mistérios sobre a epidemia viral e a crise de relacionamento dos protagonistas, que é piegas ao extremo, em meio ao caos.
O filme equilibra momentos tensos e curiosos (como a maneira suicida e bizarra das mortes) com situações fúteis (como a cena em que o protagonista conversa com uma planta de plástico achando que fosse real). As explicações vagas, a causa das mortes e de sua ‘falta de critérios’ são inconvincentes e, por causa disso, o suspense perde seu impacto ao se apresentar de forma vazia, principalmente por seu clímax repentino e incoerentemente sem respostas.
A Fantástica Fábrica de Chocolate
3.7 2,2K Assista AgoraQual o adulto que não se lembra do encantador “A Fantástica Fábrica de Chocolate”? O clássico infantil de 1971, dirigido por Mel Stuart e protagonizado por Gene Wilder, ganhou traços exóticos em 2005 pelas mãos de Tim Burton. Não se trata somente de uma refilmagem, mas de uma interessante re-imaginação do livro escrito por Roald Dahl.
A história não é novidade. Willy Wonka (Johnny Depp) é o dono da maior fábrica de doces do mundo. Ele realiza um concurso mundial para que cinco crianças visitem sua fábrica e descubram as magias que suas portas escondem. Os guris mal sabem que essa aventura avaliará a qualidade do caráter de cada um, o que culminará em um belo prêmio para a criança que não for ‘penalizada’ na tal vista.
Esta nova versão de “A Fantástica Fábrica de Chocolate” é um espetáculo visual, tão fascinante como o original. Mesmo tendo uma beleza gráfica e efeitos digitais competentes, a genialidade artística de Tim Burton pesa neste conceito e deixa o longa mais curioso, como a bela direção de arte, as cores ora extravagantes ora 'melancólicas' e a estética caricaturada que brinca com referências cinematográficas.
O roteiro se sobressai ao contextualizar alguns detalhes, como os modernos números musicais, e ao inserir novas situações, como a caracterização dos Umpa-Lumpas, o retrato do passado de Willy Wonka e seu relacionamento com o pai. O resto, a narrativa mantém a alma da história original, como os diferentes perfis das crianças ‘asquerosas’ e seus destinos na fábrica, mensagens moralistas, a valorização da família e, claro, muito chocolate e bom humor.
Outros destaques são Johnny Depp (transmitiu com eficiência a excentricidade de Wonka) e a humildade ímpar do garoto Freddie Highmore (“Em Busca da Terra do Nunca”). Enfim, gostei mais desta versão, mas, cinematograficamente falando, o filme de 1971 é mais importante e teve mais força no retrato de uma geração, fato que a ‘Fábrica de Burton’ tem um peso menor nesse contexto histórico/midiático.
O Exterminador do Futuro: A Salvação
3.3 769 Assista AgoraNão tem como comparar os sucessos e brilhantismo dos dois primeiros filmes da saga “Exterminador do futuro”, que impressionam até hoje, com os dois últimos “A rebelião das máquinas” e “A salvação”. Apesar de não terem James Cameron nos comandos, essas continuações são esquecíveis, mas entretêm na medida certa e não comprometem a eficácia da história original.
Depois de “O julgamento final” (1991), não tinha como melhorar mais a arte que já era irretocável. Por isso, as sequências foram burocráticas na evolução dos fatos, como mostrar o domínio das máquinas, a destruição superficial do planeta à lá “Mad Max” e a vingança dos humanos.
Apesar da falta de qualidade dos roteiros em relação a furos e alguns erros de cronologia narrativa, ambos os longas apresentam os mesmos clichês (referências aos clássicos, um novo exterminador e um novo alvo), porém com tramas diferentes. “A rebelião das máquinas” investe na fórmula dos clássicos com viagem no tempo e fuga concentrada em áreas urbanas e “A salvação” foca na vingança e na guerra apocalíptica contra as máquinas no futuro.
Essas produções se tornam entretenimentos atrativos devido aos tons pré e pós-apocalípticos com ótimas cenas de ação repletas efeitos visuais eficientes. Enquanto um traz adrenalina com a figura emblemática de Arnold Schwarzenegger, o outro investe em bons planos-sequências em uma ambientação de pura destruição.
Só lamento a ausência de James Cameron como diretor nos últimos filmes da saga e também dos próximos, já que há projetos para as partes 5 e 6 da franquia.
Rio
3.6 2,7K Assista AgoraO longa de animação “Rio”, produzido pela mesma equipe de “A era do gelo” e dirigido pelo brasileiro Carlos Saldanha, segue a cartilha do bom filme infantil contemporâneo: causa ambiental como tema, romance, cenário conhecido, protagonista carismático, personagens secundários engraçadinhos, números musicais bacanas e muita aventura. Para a criançada, a produção está sob medida, para os adultos nem tanto.
A trama fala de Blu (voz original de Jesse Eisenberg), a última ararinha azul macho que mora no frio de Minnesota, nos EUA, com sua dona Linda (Leslie Mann). A ave é trazida ao Brasil pelo biólogo Túlio (Rodrigo Santoro) no intuito de Blu se acasalar com a fêmea Jade (Anne Hathaway) para, assim, salvarem a espécie. A aventura começa quando o casal de aves acaba sendo sequestrado por contrabandistas de animais e conseguem fugir do cativeiro, o que lhe proporciona uma divertida jornada pela cidade do Rio de Janeiro.
Uma das coisas que motivam o público a assistir ao longa é o fato de se ter uma cidade brasileira como cenário. E o filme não decepciona ao caracterizar a capital carioca, ambiente em que os protagonistas passeiam por seus principais pontos turísticos, como o Cristo Redentor, os arcos da Lapa, o bondinho de Santa Tereza, o Pão de Açúcar, a praia e o sambódromo.
A narrativa, em bom ritmo de ‘gato-e-rato’, é convencional, mas não cansa e há mais piadas voltadas ao público infantil, o que pode agradar menos aos adultos que estão acostumados com mais sagacidades no humor de animações. Apesar de “Rio” ser uma produção estadunidense, não teve como fugir de estereótipos hollywoodianos que soam como furos de roteiro (não se assuste com o inglês impecável dos brasileiros).
O fato é que “Rio” cumpre o prometido para com a garotada e diverte toda a família pela aventura hipercolorida (o gráfico é sensacional), com boa trilha sonora e com bela lição de moral em seu desfecho. Ainda há fotos divertidas nos créditos finais mostrando o futuro recente dos personagens após o filme.
Esquadrão Classe A
3.6 959 Assista AgoraO trailer prometeu e o filme cumpriu. “Esquadrão classe A” é um longa cool! Para que isso seja realmente divertido é preciso descartar qualquer situação que subestime a física ou, em outras palavras, não se leve sério esta adaptação cinematográfica de uma das mais badaladas séries de TV dos anos 80.
O esquadrão é um grupo de soldados norte-americanos divertidos e ‘despirocados’ que buscam muita aventura, ou melhor, procuram missões absurdas e quase impossíveis. No contexto do filme, a patota explosiva se torna lendária ao se transformar no melhor time das forças armadas.
Uma coisa atraente dessa adaptação é a fidelidade para com a série. Elenco carismático, trejeitos dos personagens, planos mirabolantes, situações bem humoradas (principalmente entre BA e Murdock) e a virilidade do esquadrão que foi sucesso na década de 80 estão no longa.
Para o cinema, não basta mostrar apenas as missões bem sucedidas do grupo, tem que se criar uma situação conspiratória para comprometer o caráter de toda a patota. A partir daí, entra a corriqueira estória de perseguição para que a equipe prove sua inocência.
“Esquadrão classe A” é repleto de efeitos visuais eficientes, clichês divertidíssimos e está recheado de exageradas cenas de ação, principalmente àquela em que envolve um o tanque de pára-quedas que é engraçada e, ao mesmo tempo, de tirar o fôlego. Que venha a continuação e viva a diversão!
Equilibrium
3.5 601 Assista AgoraLongas com temas que envolvem sistemas de controle social nos remetem ao romance "1984", de George Orwell (1949), que deu origem ao filme de mesmo nome e lançado no ano que deu nome à obra. De lá para cá, esse clássico tem sido bastante influente no cinema, principalmente quando o assunto expõe ideias de 'manipulação de realidade'.
Falando nisso, “Equilibrium”, que passou despercebido no início dos anos 2000, trouxe uma perspectiva interessante sobre governos manipuladores. O único problema é que ele foi lançado no rastro da ficção high-tech “Matrix”, com o qual se assemelha em diversos aspectos.
A premissa é atraente e curiosa: depois da Terceira Guerra Mundial, as autoridades forçam a população a consumir uma droga criada para inibir qualquer tipo de emoção humana no intuito de evitar a Quarta Guerra. A ideia de uma supressão de sentimentos num futuro apocalíptico abordando um sistema falho mascarado de sociedade perfeita é bem explorada pelo roteiro que trabalha o drama de maneira convincente.
O figurino, a contestação sobre a realidade, a vingança sobre o sistema, a rebelião em massa, as artes marciais e as habilidades absurdas são uma das semelhanças em relação à produção pirotécnica dos Irmãos Wachowski. O fato de “Equilibrium” fazer analogias com “Matrix” não o faz ficar desinteressante, pelo contrário, ele utiliza esses elementos parecidos para trazer uma visão pouco convencional de um sistema manipulador.
Apesar da trama trivial e alguns furos no roteiro, “Equilibrium” não decepciona no ‘conjunto da obra’, especialmente por oferecer um visual acinzentado bacana e tiroteios estilosos. Tecnicamente e filosoficamente falando, é incomparável com seu ‘irmão rico’, mas entretém e faz refletir com a mesma eficiência.