O poder do documentado por Mekas em "Zefiro Torna" é o de transpôr uma carga afetiva de tal maneira, através de suas imagens e memórias, que nos iludimos como se tivéssemos conhecido George também e o víssemos partir à medida que os minutos se prolongam. Um filme doloroso em que as memórias felizes se intercalam com os relatos de um amigo que definha diante de nós.
Não sei que nota dar a este filme, pois me foi um martírio assisti-lo. Mas essa falta de ar, esse sofrimento em vê-lo não se dá por qualquer falha, mas justamente porque há algo ali que propicia uma imersão claustrofóbica, que traz à tona uma angústia aprisionante, um paradoxal "quero que acabe logo" ao mesmo tempo em que se reconhece a qualidade com que é feito para provocar estas emoções. É uma experiência pesada que vem do conjunto entre as expressões desnorteadas das personagens, filmadas de perto, especialmente Karin; vem dos diálogos que, mesmo no meu caso ateu, falam mais do que "apenas" metafísica; está presente também nos cenários, no papel de parede rasgado, na solidão da ilha e na deteriorização não só das relações, mas dos ambientes. Eu não saberia - ao menos por agora - dar nota a algo que me maltratou tanto justamente por ser tão bom.
Este é meu quinto Bergman, diretor com quem compartilho até então uma relação alinear: tive grandes decepções com Gritos e Sussuros e a fraqueza d'O Sétimo Selo, decepção média com A Paixão de Ana e admiração por Persona, mesmo que dele me recorde menos do que gostaria pelo tempo visto. Mas acredito que, por enquanto, é Através de um Espelho que me causou o baque definitivo. Não tenho coragem de ver os demais da trilogia agora.
Ainda não me recuperei da overdose perceptiva que esse filme me causou. ALIÁS, ainda tem ópera tocando na minha cabeça e, inclusive, não entendo como aqui só figuram comentários sóbrios. O filme me impressionou bastante pelo uso criativo de todo e qualquer elemento, além da mise en scène pictórica/teatral/surreal. É um caos imagético que produz uma sensação muito desnorteadora, seja visual, narrativa ou sonora. Tem seus méritos na ousadia, mas... cansa absurdamente. Realmente continuo aturdida, ou melhor, azuada - e com a maldita cantoria de agudos altíssimos na cabeça.
Em poucas palavras: visualmente bonito [tableau vivant, movimento de câmera impressionante, composições]; entretanto, decepciona um pouco por recorrer ao lugar-comum da pieguice. As sequências móveis possuem a mesma felicidade irreal e composição de um vídeo publicitário ou comercial de margarina. A clássica trilha sonora de "algumas notinhas ao piano" completa o rol de elementos apelativos -- no qual figura, inclusive, o componente epistolar. Parece mais um caso de bom diretor e mau roteirista.
Ainda assim, me emocionei e fiquei bem triste com o fato de ser uma história real.
"Desde 1895, The Kiss, o beijo filmado por Edison, entretanto em plano apenas 'aproximado', causou nojo, foi julgado obsceno. (Ele continua a ser, hoje, obsceno de outra maneira: não por abalar os bons costumes, e sim por exibir essa inverossímil feiúra dos corpos burgueses de 1900, sobre a qual Bataille tão bem falou)".
Poderia-se dizer que se trata de uma versão tcheca, separada apenas por três anos, d'A Infância de Ivan. Afinal, são muitos elementos em comum: o perspicaz garoto protagonista, a figura da mãe como principal laço afetivo (sempre presente nas memórias - aliás, este outro ponto em comum: o rememorar entre desejo, sonho e lembrança) e a guerra vista pelos olhos de uma criança. Temos também a diferença de tom que, ao marcar um contraste na oposição de atitudes, também aproxima as duas obras: Tarkovski opta por uma abordagem mais soturna, enquanto Kachyna permite alguma descontração; ambos, no entanto, convergem na questão de trauma. Mesmo a própria lógica das "brincadeiras" presentes em Republika segue um padrão de violência e embrutecimento, desde as atitudes infantis até o incidente do pastor alemão que puxa a saia, por exemplo. A guerra está presente nos pormenores.
Apesar da comparação, reduzir At' žije Republika à sua provável inspiração tarkovskiana seria tirar todo o mérito do filme. Kachyna cria o seu próprio "arquétipo" infantil, baseado em sua própria percepção, e nos traz o envolvente Olda. O trabalho de montagem não apenas fragmenta o tempo do filme numa lógica não-linear, mas também insere elementos que não estão situados em nenhuma cronologia, porém são retratos dos desejos/temores do protagonista na forma de sonho ou alegoria. A fronteira não é explícita, mas o rico mosaico que nos é apresentado cria uma coesão bastante agradável tanto aos olhos, quanto à narrativa.
Enfim, sem se alongar mais: bom trabalho de montagem e direção. Vale assistir.
Infelizmente, a fotografia belíssima e a boa condução não conseguem sustentar uma história rasa pela qual passamos quase indiferentes. Não fosse certo deleite estético e musical, eu teria desistido do filme logo no começo. O clima excessivamente "indie movie" - com a tradicional love story boba, inclusive - também incomoda. Acho que a protagonista se desenvolveria melhor sem o Arash como acessório, exceto se ele também fosse muito melhor desenvolvido: aí, talvez, o par romântico funcionasse.
Amirpour precisa (muito!) de bons roteiristas. O resto ela já tem.
Gosto da despretensiosidade desse filme, assim como da sua estética encantadora (o fato de ser ambientado majoritariamente num lugar ermo, rural, decrépito - e, ainda assim, bonito). Záhrada é envolto por um clima onírico que não permite muitas explicações: impera a atmosfera do realismo fantástico.
O filme também traz personagens-peregrinos que vão e vem ilogicamente, mas que parecem ter como função aguçar as reflexões do protagonista, sempre com discursos-quase monólogos que chamam a atenção do espectador; ou, se pensarmos de uma forma ainda mais livre, são frutos da sua própria consciência nos momentos em que está sozinho. Gosto, ainda, como eventos surreais ou mágicos não-explicados. Apesar de algumas diferenças estilísticas, não-uso do stop motion e mesmo não sendo sombrio, me lembrou um pouco as obras do Svankmajer por motivos que sequer sei discernir.
Resta agora ver os outros filmes do diretor, já que a curiosidade foi definitivamente atiçada.
Gosto de como o Satie se encaixa e traduz o sentimento do personagem. Nesse ponto, trata-se de uma escolha muito acertada de trilha sonora, que trouxe uma melancolia própria à história que se pretende contar. Obra bonita na fotografia, nos detalhes no quarto de Leroy, no olhar vago do ator e numa angústia que se faz tanta ao acometer também o espectador. Não dou nota máxima por ter ficado só um pouco enfadonho próximo do final, embora o encerramento seja pertinente.
Decepção. Bela fotografia e bom potencial de temas a serem abordados, mas perde a chance de mergulhar mais profundamente nas questões. O Sétimo Selo se torna quase superficial ao invés de arrebatador (como o próprio Bergman, aliás, fez no ótimo Persona). Acho que a certa "comicidade" (involuntária?) não combina com as questões levantadas pelo protagonista e suas agruras "existenciais" que poderiam ter sido o foco do filme.
Esperava mais profundidade, um tom mais sombrio e menos caricatura. Falta densidade. No mais, gostei da cena do "cortejo macabro" durante a apresentação de teatro.
Insuportavelmente longo, tedioso e arrastado. Demorei dias para conseguir vê-lo de tanto que me faltava a paciência para aguentar tanta afetação e pobreza numa história.
Tem seus méritos apenas pela dificuldade de filmar na ilha e por alguns acertos na fotografia. No mais, me impressionei em relação sobre como conseguiu ser tão ruim.
Infelizmente, nem o jazz ou o tímido e isolado "prenúncio de nouvelle vague" salvam este filme da decepção que ele é; tanto que me falta vontade de discorrer sobre ele.
Mesmo a suposta inovação dos temas abordados (racismo, delinquência e autonomia feminina) é perdida: tudo é superficial e até mesmo a independência da mulher ainda é condicionada pelos homens da família que resolvem seus problemas. O clima inverossímil de afetação e as atuações péssimas, aliados à construção de personagens meramente irritantes... tudo isso só contribui para não trazer empatia alguma ao filme. Falta sutileza e verdade - mesmo se tratando de uma ficção.
Também tive agonia das citações pedantes, como a cena em que falam do Sartre. Me senti num indie movie retrô, que coleciona referências para ser "cult" e travestir-se de "genialidade".
Interessante pela estranheza, enredo atípico, boas atuações e pela distorção bonita das imagens. Gostei também das reflexões sobre a morte e do sentimento geral presente no enredo.
Peca um pouco por ser excessivamente contemplativo, tornando-se sonífero em alguns momentos, com cenas que são quase fotografias de tão estáticas. O problema não é exatamente a falta de diálogos (já que Béla Tarr é tão contemplativo quanto, mas apresenta algum movimento), mas a falta de ação - é um filme parado, no sentido literal da palavra. Também houve cerca pela perda da oportunidade de abordar as questões com maior profundidade.
No mais, uma boa película. Pretendo ver novamente, com mais paciência e familiaridade com o estilo sokuroviano.
Um deleite estético muito bem pensado e dirigido. Gosto muito de como a estrutura do filme remete ao movimento da própria memória, com seus retornos, idas-vindas e até mesmo as imprecisões.
O único defeito é a chatice da personagem principal (laissez moi! laissez moi!), que por vezes tira um pouco a paciência do espectador.
Tem alguns momentos isolados de boa fotografia e uso da câmera, mas estes são quase ínfimos em toda a duração do filme. As atuações fracas (com exceção da atriz principal) e o roteiro superficial dão a sensação de uma obra que é artificial demais, que não consegue transmitir a ilusão de verossimilhança necessária ao cinema.
Melodrama novelesco imensamente arrastado, mas ainda assim, superficial e repetitivo. Tão esquecível que nem vale a pena gastar muitas palavras com ele.
Dois pontos positivos: polonês e alguns (bem) raros momentos de boa fotografia.
Complicado amar Boy Meets Girl e... odiar Mauvais Sang. Preciso ver mais um do Carax pra decidir finalmente se gosto dele ou não.
Mauvais Sang é terrivelmente entediante e perde a oportunidade de desenvolver um enredo que tinha ótimas chances de originar um filme incrível. Movida pelo meu encantamento pelo primeiro filme do diretor, acreditei que fosse me deparar com mais um filme maravilhoso. Ao contrário do que esperava, nem os próprios diálogos ou o silêncio fluem aqui. Tanto Alex quanto Anna, personagens principais, não conseguem causar empatia; opostamente, me davam agonia: um pela prepotência, outra pela fraqueza. (Aliás, é incrível ver o mal aproveitamento da Binoche aqui, que se torna um fantoche apático. Estava acostumada a ver interpretações bem melhores dela e foi um choque).
Nem mesmo a estética salva o filme, visto que são raros os momentos de apreciação. Acho que só posso destacar duas cenas: o diálogo com o amigo (quase no final) e a famosa corrida ao som de "Modern Love", que foi replicada em Frances Ha. O resto é esquecível ou ruim.
Nem poético, nem boa ficção científica. Um filme que se perde no limbo.
Filme interessantíssimo, daqueles que merecem ser vistos mais de uma vez.
A primeira parte é a minha preferida: fotografia linda, cenas inusitadas, e uma série mais vasta de simbolismos. Gosto da crueldade e da frieza de algumas cenas, assim como das cores vivas que as permeiam. Um ponto que não me agrada muito foi a representação da mulher, já mencionada em algum comentário abaixo, mas foi um fato que consegui relevar no decorrer do filme. Em suma, achei bastante agradável observar El Topo pelo deserto - e gostaria que o longa tivesse seguido um raciocínio semelhante na sua outra hora de duração, sinceramente.
A partir da segunda metade do filme temos uma narrativa mais linear e comum, de certa forma, o que tira um pouco do encantamento do início. Esteticamente, não é mais um filme tão bonito. Particularmente, eu preferiria um final
mais anárquico, sem redenções, mas gostei da referência ao Thích Quảng Ðức - que cometeu suicídio ao queimar o próprio corpo, sete anos antes, e virou um símbolo de revolução. Não sou contra a redenção de El Topo, mas me soa conservador demais, de certa forma. Opinião pessoal, claro.
Enfim, também ainda não sei dizer se Jodorowsky é ateísta e religioso. Mas, sem dúvida, irei querer ver as outras obras dele.
Uma idéia que poderia render uma boa história, mas que foi pessimamente executada. Alguns momentos são tão vergonhosos que beiram o ridículo e a única coisa que tive a fazer foi rir, já que não dava mais pra ter o meu dinheiro de volta.
Fazia bastante tempo que eu não via um filme tão.. ruim.
Perde um pouco da poesia e do encantamento um pouco depois da metade - quando se torna mais político - mas ainda assim, é um bom filme e mantém certa fluidez. Gosto especialmente da narrativa em primeira pessoa e das referências literárias/artísticas em geral.
Engraçado o personagem de Bruno citar que não gosta de Albert Camus quando ele mesmo lembra tanto o Mersault e o "absurdismo".
Movie Guide for Young People
3.2 2https://www.youtube.com/watch?v=zQKPF1Wxsk0
A Casa é Escura
4.2 37 Assista AgoraOs corpos deformados que louvam um deus misericordioso são a imagem mais impactante desse curta.
Zefiro Torna ou Cenas da Vida de George Maciunas
4.1 1 Assista AgoraO poder do documentado por Mekas em "Zefiro Torna" é o de transpôr uma carga afetiva de tal maneira, através de suas imagens e memórias, que nos iludimos como se tivéssemos conhecido George também e o víssemos partir à medida que os minutos se prolongam. Um filme doloroso em que as memórias felizes se intercalam com os relatos de um amigo que definha diante de nós.
Através de um Espelho
4.3 249Não sei que nota dar a este filme, pois me foi um martírio assisti-lo. Mas essa falta de ar, esse sofrimento em vê-lo não se dá por qualquer falha, mas justamente porque há algo ali que propicia uma imersão claustrofóbica, que traz à tona uma angústia aprisionante, um paradoxal "quero que acabe logo" ao mesmo tempo em que se reconhece a qualidade com que é feito para provocar estas emoções. É uma experiência pesada que vem do conjunto entre as expressões desnorteadas das personagens, filmadas de perto, especialmente Karin; vem dos diálogos que, mesmo no meu caso ateu, falam mais do que "apenas" metafísica; está presente também nos cenários, no papel de parede rasgado, na solidão da ilha e na deteriorização não só das relações, mas dos ambientes. Eu não saberia - ao menos por agora - dar nota a algo que me maltratou tanto justamente por ser tão bom.
Este é meu quinto Bergman, diretor com quem compartilho até então uma relação alinear: tive grandes decepções com Gritos e Sussuros e a fraqueza d'O Sétimo Selo, decepção média com A Paixão de Ana e admiração por Persona, mesmo que dele me recorde menos do que gostaria pelo tempo visto. Mas acredito que, por enquanto, é Através de um Espelho que me causou o baque definitivo. Não tenho coragem de ver os demais da trilogia agora.
A Última Tempestade
3.9 19 Assista AgoraAinda não me recuperei da overdose perceptiva que esse filme me causou. ALIÁS, ainda tem ópera tocando na minha cabeça e, inclusive, não entendo como aqui só figuram comentários sóbrios. O filme me impressionou bastante pelo uso criativo de todo e qualquer elemento, além da mise en scène pictórica/teatral/surreal. É um caos imagético que produz uma sensação muito desnorteadora, seja visual, narrativa ou sonora. Tem seus méritos na ousadia, mas... cansa absurdamente. Realmente continuo aturdida, ou melhor, azuada - e com a maldita cantoria de agudos altíssimos na cabeça.
Se você quer ENDOIDAR UM esse é o filme certo.
Na Ventania
3.9 25 Assista AgoraEm poucas palavras: visualmente bonito [tableau vivant, movimento de câmera impressionante, composições]; entretanto, decepciona um pouco por recorrer ao lugar-comum da pieguice. As sequências móveis possuem a mesma felicidade irreal e composição de um vídeo publicitário ou comercial de margarina. A clássica trilha sonora de "algumas notinhas ao piano" completa o rol de elementos apelativos -- no qual figura, inclusive, o componente epistolar. Parece mais um caso de bom diretor e mau roteirista.
Ainda assim, me emocionei e fiquei bem triste com o fato de ser uma história real.
O Beijo
3.6 28"Desde 1895, The Kiss, o beijo filmado por Edison, entretanto em plano apenas 'aproximado', causou nojo, foi julgado obsceno. (Ele continua a ser, hoje, obsceno de outra maneira: não por abalar os bons costumes, e sim por exibir essa inverossímil feiúra dos corpos burgueses de 1900, sobre a qual Bataille tão bem falou)".
[AUMONT. O Olho Interminável]
Viva a República
4.1 3Poderia-se dizer que se trata de uma versão tcheca, separada apenas por três anos, d'A Infância de Ivan. Afinal, são muitos elementos em comum: o perspicaz garoto protagonista, a figura da mãe como principal laço afetivo (sempre presente nas memórias - aliás, este outro ponto em comum: o rememorar entre desejo, sonho e lembrança) e a guerra vista pelos olhos de uma criança. Temos também a diferença de tom que, ao marcar um contraste na oposição de atitudes, também aproxima as duas obras: Tarkovski opta por uma abordagem mais soturna, enquanto Kachyna permite alguma descontração; ambos, no entanto, convergem na questão de trauma. Mesmo a própria lógica das "brincadeiras" presentes em Republika segue um padrão de violência e embrutecimento, desde as atitudes infantis até o incidente do pastor alemão que puxa a saia, por exemplo. A guerra está presente nos pormenores.
Apesar da comparação, reduzir At' žije Republika à sua provável inspiração tarkovskiana seria tirar todo o mérito do filme. Kachyna cria o seu próprio "arquétipo" infantil, baseado em sua própria percepção, e nos traz o envolvente Olda. O trabalho de montagem não apenas fragmenta o tempo do filme numa lógica não-linear, mas também insere elementos que não estão situados em nenhuma cronologia, porém são retratos dos desejos/temores do protagonista na forma de sonho ou alegoria. A fronteira não é explícita, mas o rico mosaico que nos é apresentado cria uma coesão bastante agradável tanto aos olhos, quanto à narrativa.
Enfim, sem se alongar mais: bom trabalho de montagem e direção. Vale assistir.
Garota Sombria Caminha Pela Noite
3.7 343 Assista AgoraInfelizmente, a fotografia belíssima e a boa condução não conseguem sustentar uma história rasa pela qual passamos quase indiferentes. Não fosse certo deleite estético e musical, eu teria desistido do filme logo no começo. O clima excessivamente "indie movie" - com a tradicional love story boba, inclusive - também incomoda. Acho que a protagonista se desenvolveria melhor sem o Arash como acessório, exceto se ele também fosse muito melhor desenvolvido: aí, talvez, o par romântico funcionasse.
Amirpour precisa (muito!) de bons roteiristas. O resto ela já tem.
O Jardim
4.2 28Gosto da despretensiosidade desse filme, assim como da sua estética encantadora (o fato de ser ambientado majoritariamente num lugar ermo, rural, decrépito - e, ainda assim, bonito). Záhrada é envolto por um clima onírico que não permite muitas explicações: impera a atmosfera do realismo fantástico.
O filme também traz personagens-peregrinos que vão e vem ilogicamente, mas que parecem ter como função aguçar as reflexões do protagonista, sempre com discursos-quase monólogos que chamam a atenção do espectador; ou, se pensarmos de uma forma ainda mais livre, são frutos da sua própria consciência nos momentos em que está sozinho. Gosto, ainda, como eventos surreais ou mágicos não-explicados. Apesar de algumas diferenças estilísticas, não-uso do stop motion e mesmo não sendo sombrio, me lembrou um pouco as obras do Svankmajer por motivos que sequer sei discernir.
Resta agora ver os outros filmes do diretor, já que a curiosidade foi definitivamente atiçada.
O Serviço de Entregas da Kiki
4.3 776 Assista AgoraO amor por esse filme transborda pelos olhos.
Trinta Anos Esta Noite
4.3 142Gosto de como o Satie se encaixa e traduz o sentimento do personagem. Nesse ponto, trata-se de uma escolha muito acertada de trilha sonora, que trouxe uma melancolia própria à história que se pretende contar. Obra bonita na fotografia, nos detalhes no quarto de Leroy, no olhar vago do ator e numa angústia que se faz tanta ao acometer também o espectador. Não dou nota máxima por ter ficado só um pouco enfadonho próximo do final, embora o encerramento seja pertinente.
O Sétimo Selo
4.4 1,0KDecepção. Bela fotografia e bom potencial de temas a serem abordados, mas perde a chance de mergulhar mais profundamente nas questões. O Sétimo Selo se torna quase superficial ao invés de arrebatador (como o próprio Bergman, aliás, fez no ótimo Persona). Acho que a certa "comicidade" (involuntária?) não combina com as questões levantadas pelo protagonista e suas agruras "existenciais" que poderiam ter sido o foco do filme.
Esperava mais profundidade, um tom mais sombrio e menos caricatura. Falta densidade. No mais, gostei da cena do "cortejo macabro" durante a apresentação de teatro.
A Aventura
4.1 113 Assista AgoraInsuportavelmente longo, tedioso e arrastado. Demorei dias para conseguir vê-lo de tanto que me faltava a paciência para aguentar tanta afetação e pobreza numa história.
Tem seus méritos apenas pela dificuldade de filmar na ilha e por alguns acertos na fotografia. No mais, me impressionei em relação sobre como conseguiu ser tão ruim.
Sombras
3.8 50Infelizmente, nem o jazz ou o tímido e isolado "prenúncio de nouvelle vague" salvam este filme da decepção que ele é; tanto que me falta vontade de discorrer sobre ele.
Mesmo a suposta inovação dos temas abordados (racismo, delinquência e autonomia feminina) é perdida: tudo é superficial e até mesmo a independência da mulher ainda é condicionada pelos homens da família que resolvem seus problemas. O clima inverossímil de afetação e as atuações péssimas, aliados à construção de personagens meramente irritantes... tudo isso só contribui para não trazer empatia alguma ao filme. Falta sutileza e verdade - mesmo se tratando de uma ficção.
Também tive agonia das citações pedantes, como a cena em que falam do Sartre. Me senti num indie movie retrô, que coleciona referências para ser "cult" e travestir-se de "genialidade".
A Pedra
3.9 6Interessante pela estranheza, enredo atípico, boas atuações e pela distorção bonita das imagens. Gostei também das reflexões sobre a morte e do sentimento geral presente no enredo.
Peca um pouco por ser excessivamente contemplativo, tornando-se sonífero em alguns momentos, com cenas que são quase fotografias de tão estáticas. O problema não é exatamente a falta de diálogos (já que Béla Tarr é tão contemplativo quanto, mas apresenta algum movimento), mas a falta de ação - é um filme parado, no sentido literal da palavra. Também houve cerca pela perda da oportunidade de abordar as questões com maior profundidade.
No mais, uma boa película. Pretendo ver novamente, com mais paciência e familiaridade com o estilo sokuroviano.
O Ano Passado em Marienbad
4.2 156 Assista AgoraUm deleite estético muito bem pensado e dirigido. Gosto muito de como a estrutura do filme remete ao movimento da própria memória, com seus retornos, idas-vindas e até mesmo as imprecisões.
O único defeito é a chatice da personagem principal (laissez moi! laissez moi!), que por vezes tira um pouco a paciência do espectador.
No mais, é uma obra ímpar.
A Ascensão
4.3 61Uma das fotografias mais bonitas que já vi, sem dúvida. Incrível.
Quando Voam as Cegonhas
4.3 72Tem alguns momentos isolados de boa fotografia e uso da câmera, mas estes são quase ínfimos em toda a duração do filme. As atuações fracas (com exceção da atriz principal) e o roteiro superficial dão a sensação de uma obra que é artificial demais, que não consegue transmitir a ilusão de verossimilhança necessária ao cinema.
Era Uma Vez em Nova York
3.5 295 Assista AgoraMelodrama novelesco imensamente arrastado, mas ainda assim, superficial e repetitivo. Tão esquecível que nem vale a pena gastar muitas palavras com ele.
Dois pontos positivos: polonês e alguns (bem) raros momentos de boa fotografia.
Sangue Ruim
4.0 83 Assista AgoraComplicado amar Boy Meets Girl e... odiar Mauvais Sang. Preciso ver mais um do Carax pra decidir finalmente se gosto dele ou não.
Mauvais Sang é terrivelmente entediante e perde a oportunidade de desenvolver um enredo que tinha ótimas chances de originar um filme incrível. Movida pelo meu encantamento pelo primeiro filme do diretor, acreditei que fosse me deparar com mais um filme maravilhoso. Ao contrário do que esperava, nem os próprios diálogos ou o silêncio fluem aqui. Tanto Alex quanto Anna, personagens principais, não conseguem causar empatia; opostamente, me davam agonia: um pela prepotência, outra pela fraqueza. (Aliás, é incrível ver o mal aproveitamento da Binoche aqui, que se torna um fantoche apático. Estava acostumada a ver interpretações bem melhores dela e foi um choque).
Nem mesmo a estética salva o filme, visto que são raros os momentos de apreciação. Acho que só posso destacar duas cenas: o diálogo com o amigo (quase no final) e a famosa corrida ao som de "Modern Love", que foi replicada em Frances Ha. O resto é esquecível ou ruim.
Nem poético, nem boa ficção científica. Um filme que se perde no limbo.
El Topo
4.0 219Filme interessantíssimo, daqueles que merecem ser vistos mais de uma vez.
A primeira parte é a minha preferida: fotografia linda, cenas inusitadas, e uma série mais vasta de simbolismos. Gosto da crueldade e da frieza de algumas cenas, assim como das cores vivas que as permeiam. Um ponto que não me agrada muito foi a representação da mulher, já mencionada em algum comentário abaixo, mas foi um fato que consegui relevar no decorrer do filme. Em suma, achei bastante agradável observar El Topo pelo deserto - e gostaria que o longa tivesse seguido um raciocínio semelhante na sua outra hora de duração, sinceramente.
A partir da segunda metade do filme temos uma narrativa mais linear e comum, de certa forma, o que tira um pouco do encantamento do início. Esteticamente, não é mais um filme tão bonito. Particularmente, eu preferiria um final
mais anárquico, sem redenções, mas gostei da referência ao Thích Quảng Ðức - que cometeu suicídio ao queimar o próprio corpo, sete anos antes, e virou um símbolo de revolução. Não sou contra a redenção de El Topo, mas me soa conservador demais, de certa forma. Opinião pessoal, claro.
Enfim, também ainda não sei dizer se Jodorowsky é ateísta e religioso. Mas, sem dúvida, irei querer ver as outras obras dele.
Transcendence: A Revolução
3.2 1,1K Assista AgoraUma idéia que poderia render uma boa história, mas que foi pessimamente executada. Alguns momentos são tão vergonhosos que beiram o ridículo e a única coisa que tive a fazer foi rir, já que não dava mais pra ter o meu dinheiro de volta.
Fazia bastante tempo que eu não via um filme tão.. ruim.
O Pequeno Soldado
3.8 57Perde um pouco da poesia e do encantamento um pouco depois da metade - quando se torna mais político - mas ainda assim, é um bom filme e mantém certa fluidez. Gosto especialmente da narrativa em primeira pessoa e das referências literárias/artísticas em geral.
Engraçado o personagem de Bruno citar que não gosta de Albert Camus quando ele mesmo lembra tanto o Mersault e o "absurdismo".