Excelente curta do Hirszman, ele é o único cineasta que até hoje não me decepcionei com algo que ele fez. É incrível como ele tinha uma capacidade excepcional para, mesmo que pareça uma trama simples, conseguir colocar elementos que constroem uma narrativa que cativa o público, que delineia seu pensamento e sua visão de mundo, e isso sem ser como um militante político que tenta impor, ele não, ao contrário, retrata, e tal como os naturalistas faziam na literatura, consegue atingir um patamar elevado.
Aqui ele mostra uma realidade trágica passível de ser mudada através da união das pessoas, são trabalhadores que se conscientizam de que podem se unir aos habitantes do favela para impedir que a ganância se sobreponha às vidas daquelas pessoas.
O curta tem uma bela fotografia, a câmera consegue captar muito bem as feições das pessoas, e mostram seus semblantes mudando, assim como conseguiu criar um paralelo entre trabalhadores e os escravizados, é uma insinuação bem delicada, assim como quando mostra a máquina a tragar e destroçar as pedras, como que se fosse um monstro. E o detalhe grandioso é que me fez lembrar Eisenstein quando cria tensão atmosférica mostrando os rostos humanos com suas expressões.
E pensar que toda essa construção cinematográfica alguns anos depois poderia ser comprometida por seu alto teor politizante e conscientizador e ser censurada.
Apesar de ser datado de 1975 há muita relevância no que se diz neste documentário perdido sobre o porquê dos problemas do cinema brasileiro se consolidar. Hoje o curta pode ser incompleto, mas isso de uma forma superficial, pois ele já apontava um conluio entre as empresas cinematográficas estadunidenses para monopolizar este mercado, e mesmo com leis de incentivo ainda assim o resultado não era satisfatório.
A televisão teve impacto direto sobre o que é o cinema no Brasil, principalmente porque o público brasileiro é mais acostumado (ou foi) com novelas que não ousam muito além do lugar comum, e monopolizadas pela Rede Globo, que monopoliza o cinema nacional. Há até uma entrevista com o Vincent Cassel sobre o papel da Globo no controle do cinema nacional.
Quem detém o controle são organizações Globo, e as empresas ligadas ao cinema que são companhias que abarcam os estúdios, salas de exibição, distribuidoras, etc. Não é mero acaso a infantilização do público que vai ao cinema de consumo hoje em dia, onde se abarrotam as superproduções cheias de efeitos especiais, os famigerados filmes de super-heróis, que ironicamente não salvam, mas destroem o cinema. Ou os filmes padrão Globo que passam na televisão para cumprir essa regra, e quase que sempre produções para lá de questionáveis, sem nenhuma audácia na maior parte das vezes, e que são exibidas em horários com menos públicos.
Há agora outro movimento para destruir esse monopólio, e assim consolidar uma narrativa que tem forte impacto político, é uma briga entre emissoras agora, visto que a Rede Record apadrinhou um presidente, e pouco antes, lançou um filme bem visto no cinema, filme religioso, e como tal, permeado por uma aura sobrenatural, já que, houve milagres nas salas, mais ingressos vendidos do que pessoas assistindo, é muita benção para esse tal de Edir Macedo... uau!
Do renascimento meio capenga do cinema nacional poucos coisas se destacam realmente, e recentemente gostei do que tenho visto de animações. Ainda há salvação!
Ideia bem desenvolvida, apesar de ser bem curto, dá pra se ter uma dimensão do drama psicológico da personagem, eis que em mim me causou ansiedade, e penso esta ser a pior consequência, pois se espera que algo aconteça, há expectativas a serem consideradas, e como a vida num geral, possa nunca acontecer, a ansiedade e a espera não são uma morte, mas um desespero antes da morte e isto é o maior desconforto. A morte quando uma certeza imediata e repentina é uma salvação para alguns. E há um paralelo com o que podemos pensar acerca do mundo contemporâneo, vivemos esperando sermos salvos, mas vivemos neste estado paralisado e reféns deste desespero.
O curta tem uma abordagem que poderia ser estendida, poderia ser uma média metragem, pois aquilo que a personagem pensa não se esgota em suas peculiaridades, e poderia dar uma margem maior em pôr o cotidiano de uma perspectiva mais poética quando se está a beira do abismo. Enfim, o curta me surpreendeu, até porque conheço pessoas que morreram desta mesma forma com pessoas ao lado dormindo, que sequer puderam ajudá-las, e é algo trágico, não tanto para quem vai, mas para quem fica, e a expectativa dos "e se" é maior para quem poderia impedir a tragédia, mas por um acaso, não o fizeram por descuido ou qualquer outra eventualidade que seja.
Simplesmente o conteúdo deste curta educacional não se perdeu no tempo, tem muita relevância na atualidade, e mesmo sobre ecologia coloca-se sempre a questão do tipo de sistema vivido, que o consumo massivo é uma das contradições dele. E sutilmente o curta sugere que o uso dos recursos para gerar energia é o mesmo que deu origem a divisão do trabalho, portanto, quando mais se energia ou mais se explora as riquezas naturais mais a concentração de renda vai existir, porque é o funcionamento de um sistema irracional.
Leon Hirzsman é um dos maiores cineastas que este país teve, e é uma pena que não seja reconhecido pela imensa parcela da população.
A tristeza cantada de uma forma alegre e bonita na mais singela humildade. Isso que a lente captou foi passado, porque essa simplicidade, tanto da música, do samba, das casas, do modo de viver do povo em comunidade hoje se perde com um aburguesamento mesmo das classes mais baixas. É notável ver isso e pregado em muito tempo pela própria esquerda governista, que de mãos dadas com o capitalismo, quis desmembrar esta peculiaridade tão brasileira de ser das comunidades.
E hoje se abarrotam-se aos montes nas mais diversas periferias os "minha casa minha vida" que sofrem da síndrome de serem condomínios, e nestes, com regras rígidas, nem espaço para um samba existe. É um cotidiano que se vive, e se nota essa mudança, sem contar, é claro, da demonização dos evangélicos pela música de raiz negra quanto ao gesto mais racista de uma parcela da população que rebaixa o samba a uma categoria de música que não presta. E, quando não só isso, hoje com a mercantilização massiva da música, a indústria cultural gerou monstros a serem consumidos, e esta simplicidade é mesmo passado, basta ver que não há mais músicas tristes, as que mais chegam a isso são as músicas ditas "de corno" dos sertanejos modernos. Sem qualquer originalidade, e com traços roubados de outros ritmos.
Não sou estudioso do samba e muito menos conhecedor da sua história, mas é visível que é uma herança africana vinda com os escravizados, e pode ser que o samba surja como diversão no momento que se perseguiam seguidores das religiões afro-brasileiras. É bem interessante quando o povo negro e seus descendentes tiveram que improvisar para sobreviver. Desde à música, à marginalidade nas favelas - que são moradias improvisadas - e até hoje isto é assim, e como o documentário relata, que aquilo é um momento de alegria, de desfrute, de liberdade extrema, tanta que a música era tocada e a improvisação da letra vinha à tona de acordo com a criatividade.
Assim como tudo que o Hirzsman produziu, há um conteúdo que sempre culmina na luta de classes, mesmo que sútil, sua visão de mundo é moldada ali pelas câmeras, é isto o torna genial, um diretor necessário, que agora deve ser reconhecido pelas próximas gerações. E essa visão do Hirzsman não é encenada, é a própria história se concretizando, o interessante é que é preciso as ferramentas certas para compreender o mundo e transformá-lo. Assim como estes sambas são feitos, improvisados, mas há claramente uma regra que se consolida através do tempo e quase que inconsciente daquele que canta.
A montagem é bem ousada, principalmente porque mostra duas figuras misticas religiosas, e ao passo que em certo momento há uma dançarina dançando ao som de cordas, e ela está nua, é sensual, e aí quebra toda aquela sacralidade pressuposta. O feminino entra como um contraponto, e nos faz lembrar que o pecado original segundo as religiões monoteístas proveio da mulher, então, fala-se de fanatismo, mas a própria religião é o cerne dele em certo sentido.
Assim como essa ideia do ecumenismo entre ocidente e oriente é imprudente de se pensar que um dia exista, até porque não faz sentido se apegar com coisas velhas e trazê-las à tona usando uma outra roupagem. Pareceu um tom meio conciliador do diretor querer apontar que no fundo tudo que buscamos é transcendental...e o que ficou fora isso. Não é uma das melhores experiências com um filme dele, ao contrário do que tive com Sangue Corsário.
Depois de ver Errementari, o primeiro longa em língua basca que vi na vida, fiquei encantado pela ousadia, e por ser um da Netflix, contém uma qualidade muita alta. Mas aqui o diretor não usa o basco como língua, é uma pena, porque a língua basca é bem diferente das demais e bem incompreensível a não ser que você seja basco.
Eis-me aqui com este curta acima da média do gênero, mas que pecou (e considerei isso fator principal) usando a famigerada câmera tremida dos filmes de ação hollywoodianos, mesmo que pudesse ser parodiando, não vejo isso com bons olhos, pois é um sinal de fraqueza e de uma certa preguiça em elaborar uma coreografia que valha o filme. Sem contar que o uso das cenas em câmera lenta e aquelas outras onde o sangue espirra são muito clichês. Apesar de o gênero ser construído em clichês, aqui estes clichês são de outros gêneros, e poderiam ter sido eliminados. Mas a história de um certo ponto já dá pra ser sacada, e o desfecho é bem previsível.
Mas dou destaque para a excelente fotografia, da maquiagem, efeitos especiais, figurino, cenário. Esse diretor mostrou que tem um potencial imenso que deve ser bem explorado.
Terrível por mostrar trabalhadores tendo que construir máquinas de guerras que irão matar outros trabalhadores, civis, crianças, gente da mesma classe social em sua maioria. Que irão matar pessoas, ou seja, pessoas confeccionando coisas que poderiam ser usadas contra elas próprias...
Interessante as formas e as cores serem quase que as mesma que Rotkho usaria em suas obras, embora Rotkho seja posterior, e usado como contraponto ao realismo soviético, para minar a arte realista como forma de ideologia de forte teor marxista e de mudança radical da sociedade. Já as animações abstratas, que não necessitam de estarem postas em um museu para serem apreciadas nas suas peculiaridades, ao contrário, os filmes são melhor reproduzidos, tem movimento, som, mas mesmo assim não atingem uma categoria de arte mais alta, devido ao fator mercadológico.
Outra coisa interessante é que o abstracionismo não era tido com bons olhos pelos nazistas, que vinham nas vanguardas o oposto do resgate ao belo e ao que propunha os ideias nazistas de um resgate da alta cultura, tal como Nietzsche propôs, e nisso tem paralelo com Rotkho, que assume justamente uma posição de arte apolítica, mas baseado em Nietzsche, ou seja, o apoliticismo nada mais é que um politicismo disfarçado de neutro mas tem um intuito bem claro.
E, Ruttman mesmo tendo tudo para ser ignorado e perseguido, ainda roteirizou o Triunfo da Vontade, uma propaganda claramente nazista. E isto tudo não pode passar despercebido, porque no entendimento mais esclarecedor, a arte nunca é apolítica de fato.
Interessante e importante a brincadeira lúdica, o roteiro é legal, mas é chato, não tem aquele encanto que deveria, a história em si é boa, mas a execução deixou a desejar, poderia ter trabalhado mais nas atuações e na captura dos enigmas.
Curta interessante enquanto experiência cinematográfica que usa um argumento da teoria do conhecimento de Kant, mas é confuso (ainda mais para quem não tem conhecimento da filosofia de Kant ou de outros pressupostos), usa de uma linguagem simbólica em vez de uma explicação. E é bem subjetiva, ao meu ver pareceu ser mais com o mito da Caverna de Platão. Até porque não há como fugir disso, mas é interessante, porque coloca o sujeito como receptor dos fenômenos, mas é problemático porque há uma redução a nós como apenas meros receptores, e aí parece ser mais o idealismo de Berkeley do que a filosofia do próprio Kant.
Confusão total, documentário muito vago, com pesquisas rasas, e conceitos não bem esclarecidos, sem contar que inferem vários erros, confundem surrealismo de Magritte com anarquismo, e tentam colocar o surrealismo como só parte do anarquismo, visto que o surrealismo fora ligado mais claramente com o marxismo, embora tivessem muitas divergências entre eles. O futuro por exemplo, o italiano, era partidário do fascismo, e dizia que era necessário a guerra para dar origem à uma nova sociedade, são ideias bem nietzschianas estas, e o dadaísmo ao negar tudo, não nega nada. Apesar de gostar das vanguardas, principalmente o surrealismo, não vejo tanta base teórica para uma mudança da sociedade através daquele arte, e isso fica evidente, aliás, toda as vanguardas se tornaram peças nas coleções dos burgueses. Mas não é nem isso, o problema maior é o documentário mesmo, que é um apanhado de coisas sem delinear claramente o que quer retratar, e não fazer um recorte para que tenha uma melhor dilapidação.
Até me identifiquei, mas o clichê é tão enorme que não tem como alguém não se sentir identificado. A direção é boa, a montagem, a trilha sonora (principalmente quando toca o inconfundível som da banda Explosions in the Sky - Its natural to be afraid - e o nome da música dá um certo sentido ao curta), mas só fica nisso, de resto é aquela coisa sussurrada, aquela coisa adolescente, meio brega, cenas bobas, o ar alienado do um cidadão com a vida ganha, que o maior desafio da vida é o que tá no curta...
Perturbador de saber que uma coisa tão destrutiva assim é tão chamativa, e nos fascina, que uma coisa assim de tão poderosa que é, ainda assim alguns não pensariam duas vezes antes de usá-la.
Se não fosse pelo meu gosto e um certo conhecimento pela arte, talvez, essa animação me impactaria e chocaria mais, mas não, achei bem fidedigna às imagens do Bosh. Em certo ponto parecia um Hora da Aventura antigo... mas não deixa de ser bizarro e desconfortável às vezes, principalmente causado pela trilha sonora atormentadora.
As animações canadenses são ótimas, fogem ao lugar comum que se alojou nos EUA com as CGI, lá é uma coisa mais ligado com a própria arte do que com o interesse de entreter e lucrar muito em cima disso. Neste curta de uma simplicidade tremenda, chegando a ser bem infantil às vezes, um menino vive seu mundo cotidiano, mas vai aos poucos percebendo as coisas como elas de fato são. Os adultos como corvos ou gralhas, e falam, e vão atrás daquilo que brilha, que pode ser ostentado... é bem bonito, e o melhor é a não linguagem que certos curtas usam para tornar ainda mais simples e universais.
E o gesto de pôr moedas para o trem amassá-las... quem nunca fez isso?! O ruim é procurar a moeda amassada... porque muitas vezes elas se perdem.
Como não conheci isso antes?! A técnica mistura animação com fotografias, os traços são simples, mas não deixam de dar um toque maior para que se mostre a situação precária da vila. As personagens são bem caricaturais, o sotaque usado é entendível mesmo, e não necessariamente se necessita de muitos recursos para poder fazer uma animação de ótima qualidade.
Quando a história é boa e há uma ótima direção se consegue criar algo hilário mas mesmo assim fabuloso, fantástico no sentido literário da palavra, mesmo (talvez) que não o seja de fato. O que dá uma exatidão é o título do curta, e portanto, podemos pontuar estas considerações, e mesmo sendo uma história bem simples é empolgante, envolvente.
Não tinha conhecimento desse conto folclórico, mas aqui ele foi bem ambientado, bem realizado.
Snowballs
3.4 10bem nada a ver com nada, e sem qualquer sentido, mas isso nem é pior, o pior é que é chato...
Pedreira de São Diogo
4.2 3Excelente curta do Hirszman, ele é o único cineasta que até hoje não me decepcionei com algo que ele fez. É incrível como ele tinha uma capacidade excepcional para, mesmo que pareça uma trama simples, conseguir colocar elementos que constroem uma narrativa que cativa o público, que delineia seu pensamento e sua visão de mundo, e isso sem ser como um militante político que tenta impor, ele não, ao contrário, retrata, e tal como os naturalistas faziam na literatura, consegue atingir um patamar elevado.
Aqui ele mostra uma realidade trágica passível de ser mudada através da união das pessoas, são trabalhadores que se conscientizam de que podem se unir aos habitantes do favela para impedir que a ganância se sobreponha às vidas daquelas pessoas.
O curta tem uma bela fotografia, a câmera consegue captar muito bem as feições das pessoas, e mostram seus semblantes mudando, assim como conseguiu criar um paralelo entre trabalhadores e os escravizados, é uma insinuação bem delicada, assim como quando mostra a máquina a tragar e destroçar as pedras, como que se fosse um monstro. E o detalhe grandioso é que me fez lembrar Eisenstein quando cria tensão atmosférica mostrando os rostos humanos com suas expressões.
E pensar que toda essa construção cinematográfica alguns anos depois poderia ser comprometida por seu alto teor politizante e conscientizador e ser censurada.
Cinema Brasileiro, Mercado Ocupado
4.2 1Apesar de ser datado de 1975 há muita relevância no que se diz neste documentário perdido sobre o porquê dos problemas do cinema brasileiro se consolidar. Hoje o curta pode ser incompleto, mas isso de uma forma superficial, pois ele já apontava um conluio entre as empresas cinematográficas estadunidenses para monopolizar este mercado, e mesmo com leis de incentivo ainda assim o resultado não era satisfatório.
A televisão teve impacto direto sobre o que é o cinema no Brasil, principalmente porque o público brasileiro é mais acostumado (ou foi) com novelas que não ousam muito além do lugar comum, e monopolizadas pela Rede Globo, que monopoliza o cinema nacional. Há até uma entrevista com o Vincent Cassel sobre o papel da Globo no controle do cinema nacional.
Quem detém o controle são organizações Globo, e as empresas ligadas ao cinema que são companhias que abarcam os estúdios, salas de exibição, distribuidoras, etc.
Não é mero acaso a infantilização do público que vai ao cinema de consumo hoje em dia, onde se abarrotam as superproduções cheias de efeitos especiais, os famigerados filmes de super-heróis, que ironicamente não salvam, mas destroem o cinema. Ou os filmes padrão Globo que passam na televisão para cumprir essa regra, e quase que sempre produções para lá de questionáveis, sem nenhuma audácia na maior parte das vezes, e que são exibidas em horários com menos públicos.
Há agora outro movimento para destruir esse monopólio, e assim consolidar uma narrativa que tem forte impacto político, é uma briga entre emissoras agora, visto que a Rede Record apadrinhou um presidente, e pouco antes, lançou um filme bem visto no cinema, filme religioso, e como tal, permeado por uma aura sobrenatural, já que, houve milagres nas salas, mais ingressos vendidos do que pessoas assistindo, é muita benção para esse tal de Edir Macedo... uau!
Do renascimento meio capenga do cinema nacional poucos coisas se destacam realmente, e recentemente gostei do que tenho visto de animações. Ainda há salvação!
O Lobinho Nunca Mente
4.0 50Ideia bem desenvolvida, apesar de ser bem curto, dá pra se ter uma dimensão do drama psicológico da personagem, eis que em mim me causou ansiedade, e penso esta ser a pior consequência, pois se espera que algo aconteça, há expectativas a serem consideradas, e como a vida num geral, possa nunca acontecer, a ansiedade e a espera não são uma morte, mas um desespero antes da morte e isto é o maior desconforto. A morte quando uma certeza imediata e repentina é uma salvação para alguns. E há um paralelo com o que podemos pensar acerca do mundo contemporâneo, vivemos esperando sermos salvos, mas vivemos neste estado paralisado e reféns deste desespero.
O curta tem uma abordagem que poderia ser estendida, poderia ser uma média metragem, pois aquilo que a personagem pensa não se esgota em suas peculiaridades, e poderia dar uma margem maior em pôr o cotidiano de uma perspectiva mais poética quando se está a beira do abismo. Enfim, o curta me surpreendeu, até porque conheço pessoas que morreram desta mesma forma com pessoas ao lado dormindo, que sequer puderam ajudá-las, e é algo trágico, não tanto para quem vai, mas para quem fica, e a expectativa dos "e se" é maior para quem poderia impedir a tragédia, mas por um acaso, não o fizeram por descuido ou qualquer outra eventualidade que seja.
Ecologia
3.8 5Simplesmente o conteúdo deste curta educacional não se perdeu no tempo, tem muita relevância na atualidade, e mesmo sobre ecologia coloca-se sempre a questão do tipo de sistema vivido, que o consumo massivo é uma das contradições dele. E sutilmente o curta sugere que o uso dos recursos para gerar energia é o mesmo que deu origem a divisão do trabalho, portanto, quando mais se energia ou mais se explora as riquezas naturais mais a concentração de renda vai existir, porque é o funcionamento de um sistema irracional.
Leon Hirzsman é um dos maiores cineastas que este país teve, e é uma pena que não seja reconhecido pela imensa parcela da população.
Nelson Cavaquinho
4.4 13 Assista AgoraA tristeza cantada de uma forma alegre e bonita na mais singela humildade. Isso que a lente captou foi passado, porque essa simplicidade, tanto da música, do samba, das casas, do modo de viver do povo em comunidade hoje se perde com um aburguesamento mesmo das classes mais baixas. É notável ver isso e pregado em muito tempo pela própria esquerda governista, que de mãos dadas com o capitalismo, quis desmembrar esta peculiaridade tão brasileira de ser das comunidades.
E hoje se abarrotam-se aos montes nas mais diversas periferias os "minha casa minha vida" que sofrem da síndrome de serem condomínios, e nestes, com regras rígidas, nem espaço para um samba existe. É um cotidiano que se vive, e se nota essa mudança, sem contar, é claro, da demonização dos evangélicos pela música de raiz negra quanto ao gesto mais racista de uma parcela da população que rebaixa o samba a uma categoria de música que não presta. E, quando não só isso, hoje com a mercantilização massiva da música, a indústria cultural gerou monstros a serem consumidos, e esta simplicidade é mesmo passado, basta ver que não há mais músicas tristes, as que mais chegam a isso são as músicas ditas "de corno" dos sertanejos modernos. Sem qualquer originalidade, e com traços roubados de outros ritmos.
Partido Alto
4.4 15Não sou estudioso do samba e muito menos conhecedor da sua história, mas é visível que é uma herança africana vinda com os escravizados, e pode ser que o samba surja como diversão no momento que se perseguiam seguidores das religiões afro-brasileiras. É bem interessante quando o povo negro e seus descendentes tiveram que improvisar para sobreviver. Desde à música, à marginalidade nas favelas - que são moradias improvisadas - e até hoje isto é assim, e como o documentário relata, que aquilo é um momento de alegria, de desfrute, de liberdade extrema, tanta que a música era tocada e a improvisação da letra vinha à tona de acordo com a criatividade.
Assim como tudo que o Hirzsman produziu, há um conteúdo que sempre culmina na luta de classes, mesmo que sútil, sua visão de mundo é moldada ali pelas câmeras, é isto o torna genial, um diretor necessário, que agora deve ser reconhecido pelas próximas gerações. E essa visão do Hirzsman não é encenada, é a própria história se concretizando, o interessante é que é preciso as ferramentas certas para compreender o mundo e transformá-lo. Assim como estes sambas são feitos, improvisados, mas há claramente uma regra que se consolida através do tempo e quase que inconsciente daquele que canta.
Equilíbrio & Graça
3.6 5A montagem é bem ousada, principalmente porque mostra duas figuras misticas religiosas, e ao passo que em certo momento há uma dançarina dançando ao som de cordas, e ela está nua, é sensual, e aí quebra toda aquela sacralidade pressuposta. O feminino entra como um contraponto, e nos faz lembrar que o pecado original segundo as religiões monoteístas proveio da mulher, então, fala-se de fanatismo, mas a própria religião é o cerne dele em certo sentido.
Assim como essa ideia do ecumenismo entre ocidente e oriente é imprudente de se pensar que um dia exista, até porque não faz sentido se apegar com coisas velhas e trazê-las à tona usando uma outra roupagem. Pareceu um tom meio conciliador do diretor querer apontar que no fundo tudo que buscamos é transcendental...e o que ficou fora isso. Não é uma das melhores experiências com um filme dele, ao contrário do que tive com Sangue Corsário.
Communism
0.5 1Propaganda que até hoje funciona para alguns, principalmente no Brasil, que pensam que ainda existe até a URSS...
El bosque negro
3.5 1Depois de ver Errementari, o primeiro longa em língua basca que vi na vida, fiquei encantado pela ousadia, e por ser um da Netflix, contém uma qualidade muita alta. Mas aqui o diretor não usa o basco como língua, é uma pena, porque a língua basca é bem diferente das demais e bem incompreensível a não ser que você seja basco.
Eis-me aqui com este curta acima da média do gênero, mas que pecou (e considerei isso fator principal) usando a famigerada câmera tremida dos filmes de ação hollywoodianos, mesmo que pudesse ser parodiando, não vejo isso com bons olhos, pois é um sinal de fraqueza e de uma certa preguiça em elaborar uma coreografia que valha o filme. Sem contar que o uso das cenas em câmera lenta e aquelas outras onde o sangue espirra são muito clichês. Apesar de o gênero ser construído em clichês, aqui estes clichês são de outros gêneros, e poderiam ter sido eliminados. Mas a história de um certo ponto já dá pra ser sacada, e o desfecho é bem previsível.
Mas dou destaque para a excelente fotografia, da maquiagem, efeitos especiais, figurino, cenário. Esse diretor mostrou que tem um potencial imenso que deve ser bem explorado.
German Tanks
3.0 1Terrível por mostrar trabalhadores tendo que construir máquinas de guerras que irão matar outros trabalhadores, civis, crianças, gente da mesma classe social em sua maioria. Que irão matar pessoas, ou seja, pessoas confeccionando coisas que poderiam ser usadas contra elas próprias...
O Vencedor
3.1 2Não de todo abstrato, mas muito interessante, a trilha contribui e muito;
Lichtspiel: Opus I
3.8 3Muito exuberante, hipnótico, lindo!
Lichtspiel: Opus III
4.0 2Interessante as formas e as cores serem quase que as mesma que Rotkho usaria em suas obras, embora Rotkho seja posterior, e usado como contraponto ao realismo soviético, para minar a arte realista como forma de ideologia de forte teor marxista e de mudança radical da sociedade. Já as animações abstratas, que não necessitam de estarem postas em um museu para serem apreciadas nas suas peculiaridades, ao contrário, os filmes são melhor reproduzidos, tem movimento, som, mas mesmo assim não atingem uma categoria de arte mais alta, devido ao fator mercadológico.
Outra coisa interessante é que o abstracionismo não era tido com bons olhos pelos nazistas, que vinham nas vanguardas o oposto do resgate ao belo e ao que propunha os ideias nazistas de um resgate da alta cultura, tal como Nietzsche propôs, e nisso tem paralelo com Rotkho, que assume justamente uma posição de arte apolítica, mas baseado em Nietzsche, ou seja, o apoliticismo nada mais é que um politicismo disfarçado de neutro mas tem um intuito bem claro.
E, Ruttman mesmo tendo tudo para ser ignorado e perseguido, ainda roteirizou o Triunfo da Vontade, uma propaganda claramente nazista. E isto tudo não pode passar despercebido, porque no entendimento mais esclarecedor, a arte nunca é apolítica de fato.
Tratado de Liligrafia
4.4 5Interessante e importante a brincadeira lúdica, o roteiro é legal, mas é chato, não tem aquele encanto que deveria, a história em si é boa, mas a execução deixou a desejar, poderia ter trabalhado mais nas atuações e na captura dos enigmas.
I... Dreaming
3.8 3i'm bored... não foi dessa vez, achei por demais entendiante.
A Bicicleta de Kant
4.0 2Curta interessante enquanto experiência cinematográfica que usa um argumento da teoria do conhecimento de Kant, mas é confuso (ainda mais para quem não tem conhecimento da filosofia de Kant ou de outros pressupostos), usa de uma linguagem simbólica em vez de uma explicação. E é bem subjetiva, ao meu ver pareceu ser mais com o mito da Caverna de Platão. Até porque não há como fugir disso, mas é interessante, porque coloca o sujeito como receptor dos fenômenos, mas é problemático porque há uma redução a nós como apenas meros receptores, e aí parece ser mais o idealismo de Berkeley do que a filosofia do próprio Kant.
Arte e Anarquia
3.8 3Confusão total, documentário muito vago, com pesquisas rasas, e conceitos não bem esclarecidos, sem contar que inferem vários erros, confundem surrealismo de Magritte com anarquismo, e tentam colocar o surrealismo como só parte do anarquismo, visto que o surrealismo fora ligado mais claramente com o marxismo, embora tivessem muitas divergências entre eles. O futuro por exemplo, o italiano, era partidário do fascismo, e dizia que era necessário a guerra para dar origem à uma nova sociedade, são ideias bem nietzschianas estas, e o dadaísmo ao negar tudo, não nega nada. Apesar de gostar das vanguardas, principalmente o surrealismo, não vejo tanta base teórica para uma mudança da sociedade através daquele arte, e isso fica evidente, aliás, toda as vanguardas se tornaram peças nas coleções dos burgueses.
Mas não é nem isso, o problema maior é o documentário mesmo, que é um apanhado de coisas sem delinear claramente o que quer retratar, e não fazer um recorte para que tenha uma melhor dilapidação.
Uma Vida Inteira
4.2 180Até me identifiquei, mas o clichê é tão enorme que não tem como alguém não se sentir identificado. A direção é boa, a montagem, a trilha sonora (principalmente quando toca o inconfundível som da banda Explosions in the Sky - Its natural to be afraid - e o nome da música dá um certo sentido ao curta), mas só fica nisso, de resto é aquela coisa sussurrada, aquela coisa adolescente, meio brega, cenas bobas, o ar alienado do um cidadão com a vida ganha, que o maior desafio da vida é o que tá no curta...
Morte dos Primogênitos Egípcios
3.6 2 Assista AgoraMeio bobo, mas tem um visual legalzinho.
A Short Vision
4.0 9Perturbador de saber que uma coisa tão destrutiva assim é tão chamativa, e nos fascina, que uma coisa assim de tão poderosa que é, ainda assim alguns não pensariam duas vezes antes de usá-la.
The Midnight Parasites
3.2 2Se não fosse pelo meu gosto e um certo conhecimento pela arte, talvez, essa animação me impactaria e chocaria mais, mas não, achei bem fidedigna às imagens do Bosh. Em certo ponto parecia um Hora da Aventura antigo... mas não deixa de ser bizarro e desconfortável às vezes, principalmente causado pela trilha sonora atormentadora.
Dimanche
3.1 19As animações canadenses são ótimas, fogem ao lugar comum que se alojou nos EUA com as CGI, lá é uma coisa mais ligado com a própria arte do que com o interesse de entreter e lucrar muito em cima disso.
Neste curta de uma simplicidade tremenda, chegando a ser bem infantil às vezes, um menino vive seu mundo cotidiano, mas vai aos poucos percebendo as coisas como elas de fato são. Os adultos como corvos ou gralhas, e falam, e vão atrás daquilo que brilha, que pode ser ostentado... é bem bonito, e o melhor é a não linguagem que certos curtas usam para tornar ainda mais simples e universais.
E o gesto de pôr moedas para o trem amassá-las... quem nunca fez isso?! O ruim é procurar a moeda amassada... porque muitas vezes elas se perdem.
Village of Idiots
3.3 1Como não conheci isso antes?!
A técnica mistura animação com fotografias, os traços são simples, mas não deixam de dar um toque maior para que se mostre a situação precária da vila. As personagens são bem caricaturais, o sotaque usado é entendível mesmo, e não necessariamente se necessita de muitos recursos para poder fazer uma animação de ótima qualidade.
Quando a história é boa e há uma ótima direção se consegue criar algo hilário mas mesmo assim fabuloso, fantástico no sentido literário da palavra, mesmo (talvez) que não o seja de fato. O que dá uma exatidão é o título do curta, e portanto, podemos pontuar estas considerações, e mesmo sendo uma história bem simples é empolgante, envolvente.
Não tinha conhecimento desse conto folclórico, mas aqui ele foi bem ambientado, bem realizado.