Não tem como não notar que o ano do curta é 1964, aquele famigerado ano, onde a roda da história avançou para trás. Hirszman impactou e ainda impacta com esse curta documental de tão forte teor, é impossível assisti-lo sem sair perplexo pelo que é mostrado, uma realidade tão dura, tão brutal, tão... tão comum, que é preciso salientá-la de sua existência para os muitos que aqui vivem.
Um dos curtas mais sensacionais que pude ver, vai direto ao ponto, põe o dedo na ferida dessa sociedade tão arcaica como a nossa, e que infelizmente, ainda é assim. O destaque (para meu espanto) fica a cargo das celebridades e reacionários como Arnaldo Jabor e Ferreira Gullar, que participam da confecção deste filme. E para entender melhor o que se tornaram estes, melhor ir a outro filme do Hirszman - Eles não usam Black Tie - e lá está um prenúncio dos traidores.
A mesma burguesia que construiu essa rua é a mesma que acabou com ela, mas ainda assim ali é um marco da cidade, nunca pensei que abaixo daquele asfalto haveria paralelepípedos tão encaixados como um mosaico.
O tempo transforma as pessoas, aqueles que permanecem fiéis às suas posições ou são loucos ou são burros, será? São Paulo, como sempre caótica, funcionando como uma engrenagem que esmaga as pessoas, assim como a poesia que liberta os poucos que conseguem escutá-la, entendê-la e senti-la. Citar Lautréamont, o mais maldito dos malditos não é pra qualquer um...
A sinopse faz sentido, mas se ver o filme sem lê-la você provavelmente ficará perdido na aleatoriedade das imagens. Considerei muito experimental e amador por demais.
O destroçamento do homem nas gravuras é excepcional, são lindas, incômodas, porque embora pareçam oníricas soam por noutras horas muito verdadeiras, e em outras a própria realidade, tem um simbolismo bem definido, e pela simplicidade dos traços nos consegue prender e passar clara uma mensagem, assim como as cenas (que gosto bastante) de crianças reproduzindo violência, é interessante, no mínimo questionador, o porquê das brincadeiras lúdicas das crianças serem assim tão violentas. Não creio que somos isso enquanto espécie, biologicamente falando, mas socialmente somos embalados nessa canção da violência desde cedo.
O problema do documentário é que é curto demais, haveria muito mais pra se explorar do Farnese, mas nesse pouco já basta para se ter uma ideia básica sobre sua concepção de arte. Focada na corruptibilidade da vida humana, com uma dose bem alta de um pessimismo que por vezes ao menos para mim soou um pouco contraditório. Como quando Farnese é taxativo em dizer que a morte é a única certeza e mesmo assim ainda consegue crer em vida após a morte (como quando recebe uma entidade).
Mas sua arte é deslumbrante, por utilizar do lixo, da morte, dos restos como inspiração. Mais irônico é que grande parte dela é composto por bonecas que foram de alguma forma de alguma criança, e o artista também diz que crianças são insuportáveis, e que é uma tragédia colocar uma criança no mundo, que nunca teria uma criança. Eis que nestas contradições que sua arte se alicerça, num tom bizarro, poético, macabro, sinistro, chocante, mas que não deixa nunca de ser belo e muito diferente do que podemos já te visto.
A diretora tem uma visão bem artística sobre os símbolos sagrados islâmicos, muitos deles derivados da corrente do sufismo, são um tipo de arte abstrata que tem significados sagrados numéricos, parecem pequenas ornamentações, mas não são, e a civilização islâmica buscou criar uma arte para sua religião que não permitia a figuração humana (há algumas exceções), porém, a arte não é menor nesse sentido, mas adquire um sentido religioso, coisa que no Ocidente se perde com o tempo.
Ao contrário do o senso comum propaga ou pensa, a civilização islâmica era bem avançada frente ao cristianismo nas eras medievais, estavam à frente quanto ao conhecimento e a ciência, e grandes feitos do dito Ocidente se devem ao fato de que foram primeiro feito por pioneiros do Oriente.
Hoje estes arabescos que tem uma conotação meio errônea, pois não são somente árabes, mas islâmicos, principalmente da vertente sufista, são encontrados em muitas casas brasileiras (pelo menos nas mais antigas), eram herança trazida de Portugal, fácil encontrar esta geometria em pisos, azulejos, calçadas, vitrais, etc, mas aí se perderam todo seu significado sagrado.
Peter Greenaway pensa num objeto, e a partir disso talvez tenha uma ideia em torno dele, consegue desdobrar e desenvolver uma temática sobre este objeto, numa desenvoltura bem elegante mas que não deixa de ser engraçada, e soa por vezes quase que absurda, mas não deixa de carecer de fatos, e em torno destes fatos será recortado algo para fazer uma análise quase que científica, tentando classificar, desvendar, considerar suposições, etc. Muito interessante porque ele, como um artista, brinca com o próprio conhecimento humano e com a arte.
Hipnótico! Gosto de abstrações, principalmente quando há uma contestação sobre obras de arte serem ou não arte, a abstração é sempre tida como uma coisa sem sentido para algumas pessoas leigas. Mas talvez para estas, se puderem ver o curta, poderão se encantar com a beleza desta obra.
As obras são retratadas não num todo, mas fragmentadas, em seus pormenores e em seus detalhes, pois é isso que nos foge aos olhos quando estamos num museu por exemplo, não podemos e não temos esse olhar mecânico da câmera para captura de certas coisas. O diretor dá um destaque meio especial as mãos, conferindo uma certa vitalidade, parecem serem vivas, são retratadas bem realistas, as pinturas com as mãos eram mais caras, demonstravam poder aquisitivo, pois eram um elemento mais trabalhoso.
É interessante que mesmo sendo um filme incompleto consegue sugerir muitas coisas a nossa cabeça, principalmente devido à época de sua feitura, onde mostrar um ícone religioso não deveria ser muito bem visto aos olhos dos sensores, ainda mais num filme que carece de qualquer coerência lógica e racional, não era um filme militante, e nestes aspectos podemos ver o porquê de sua obra ser realmente censurada. Há diversas cenas que remetem ao seu A Cor da Romã. É um encantamento ver as cenas deste curta, e do pouco que vi (e estou caçando) a obra de Paradajov, ele integra seu cinema com um diálogo entre a cultura de seu país; o passado religioso do país, a música, os trovadores, etc. É interessante essa tentativa, pois não era universalizante, era o oposto, era regionalizante, e mais um demonstrativo de que sua arte evocava tudo aquilo que os censores pediam para poder censurá-la.
As vanguardas artísticas sempre me encantaram, e nunca deixarão de me impactar com suas propostas. E aqui, nesse filme cubista e dadaísta, encontramos também tons de surrealismo (como quando na escada se repetindo freneticamente como se nunca terminasse e a mulher tentasse mas não conseguisse sair dos mesmos degraus) e também do futurismo.
A montagem encaixando as máquinas com suas engrenagens rítmicas igual a uma encenação de balé, mas do futurismo, que propunha um mundo ordenado pelas máquinas, era apologético dos benefícios da industrialização e coadunou com o fascismo, pois pregava a guerra como uma benesse para um novo porvir de uma melhor sociedade, aqui há apenas insinuações de que tal como o homem as máquinas também realizam seu balé, que a cenografia é por nós imposta, mas por vezes, o homem é que foi imposto nesse novo ritmo que a industrialização causou.
Man Ray participa do curta, mas por desentendimentos entre seus realizadores quis que seu nome não fosse nele divulgado, deveria, pois, se vê nitidamente que ali tem o seu toque peculiar de olhar as coisas, como nas aparições dos olhos, quando estes mesmos viram de ponta cabeça, nas aparições dos sorrisos da mulher (Kiki de Montparnasse). Vi sem saber disso, mas mentalmente fiz essa ligação, depois soube que de fato era Man Ray que também estava ali realizando este filme.
Genial! Pena que é bem curto, e porém de 1979 a abordagem da arte do Cildo ainda hoje é polêmica se for feita em seu intuito conceitual; utilizar dos objetos de consumo ou coisas do mundo capitalista para criticar o próprio sistema e propagar mensagens. Ele é bem conhecido por ter feito a intervenção nas notas de 1 cruzeiro (talvez sua obra mais famosa) onde carimbou a frase "QUEM MATOU HERZOG?".
O Avião de Papel
4.4 756 Assista AgoraChato... piegas...
Maioria Absoluta
4.4 29 Assista AgoraNão tem como não notar que o ano do curta é 1964, aquele famigerado ano, onde a roda da história avançou para trás. Hirszman impactou e ainda impacta com esse curta documental de tão forte teor, é impossível assisti-lo sem sair perplexo pelo que é mostrado, uma realidade tão dura, tão brutal, tão... tão comum, que é preciso salientá-la de sua existência para os muitos que aqui vivem.
Um dos curtas mais sensacionais que pude ver, vai direto ao ponto, põe o dedo na ferida dessa sociedade tão arcaica como a nossa, e que infelizmente, ainda é assim.
O destaque (para meu espanto) fica a cargo das celebridades e reacionários como Arnaldo Jabor e Ferreira Gullar, que participam da confecção deste filme. E para entender melhor o que se tornaram estes, melhor ir a outro filme do Hirszman - Eles não usam Black Tie - e lá está um prenúncio dos traidores.
Symmetry
4.4 22Chato, e não achei nada diferente e muito menos criativo...
Esta Rua Tão Augusta
3.7 17A mesma burguesia que construiu essa rua é a mesma que acabou com ela, mas ainda assim ali é um marco da cidade, nunca pensei que abaixo daquele asfalto haveria paralelepípedos tão encaixados como um mosaico.
Sangue Corsário
4.1 12O tempo transforma as pessoas, aqueles que permanecem fiéis às suas posições ou são loucos ou são burros, será? São Paulo, como sempre caótica, funcionando como uma engrenagem que esmaga as pessoas, assim como a poesia que liberta os poucos que conseguem escutá-la, entendê-la e senti-la.
Citar Lautréamont, o mais maldito dos malditos não é pra qualquer um...
A Pequena Vendedora de Fósforos
4.2 504Piegas demais, chato, não sei porque essa nota tão alta!
Alicia
3.2 38Incrível! O preto e branco e a não linguagem falada nesse curta o torna ainda mais sombrio!
The Ethereal Melancholy of Seeing Horses in the Cold
3.7 5Nem pra ter um grilinho no fundo cantando "cri cri cri"...
Sentença de Deus
3.0 9A sinopse faz sentido, mas se ver o filme sem lê-la você provavelmente ficará perdido na aleatoriedade das imagens. Considerei muito experimental e amador por demais.
Os Tempos Mortos
4.2 12O destroçamento do homem nas gravuras é excepcional, são lindas, incômodas, porque embora pareçam oníricas soam por noutras horas muito verdadeiras, e em outras a própria realidade, tem um simbolismo bem definido, e pela simplicidade dos traços nos consegue prender e passar clara uma mensagem, assim como as cenas (que gosto bastante) de crianças reproduzindo violência, é interessante, no mínimo questionador, o porquê das brincadeiras lúdicas das crianças serem assim tão violentas. Não creio que somos isso enquanto espécie, biologicamente falando, mas socialmente somos embalados nessa canção da violência desde cedo.
Farnese
4.2 7O problema do documentário é que é curto demais, haveria muito mais pra se explorar do Farnese, mas nesse pouco já basta para se ter uma ideia básica sobre sua concepção de arte. Focada na corruptibilidade da vida humana, com uma dose bem alta de um pessimismo que por vezes ao menos para mim soou um pouco contraditório. Como quando Farnese é taxativo em dizer que a morte é a única certeza e mesmo assim ainda consegue crer em vida após a morte (como quando recebe uma entidade).
Mas sua arte é deslumbrante, por utilizar do lixo, da morte, dos restos como inspiração. Mais irônico é que grande parte dela é composto por bonecas que foram de alguma forma de alguma criança, e o artista também diz que crianças são insuportáveis, e que é uma tragédia colocar uma criança no mundo, que nunca teria uma criança. Eis que nestas contradições que sua arte se alicerça, num tom bizarro, poético, macabro, sinistro, chocante, mas que não deixa nunca de ser belo e muito diferente do que podemos já te visto.
Arabesque for Kenneth Anger
3.2 1A diretora tem uma visão bem artística sobre os símbolos sagrados islâmicos, muitos deles derivados da corrente do sufismo, são um tipo de arte abstrata que tem significados sagrados numéricos, parecem pequenas ornamentações, mas não são, e a civilização islâmica buscou criar uma arte para sua religião que não permitia a figuração humana (há algumas exceções), porém, a arte não é menor nesse sentido, mas adquire um sentido religioso, coisa que no Ocidente se perde com o tempo.
Ao contrário do o senso comum propaga ou pensa, a civilização islâmica era bem avançada frente ao cristianismo nas eras medievais, estavam à frente quanto ao conhecimento e a ciência, e grandes feitos do dito Ocidente se devem ao fato de que foram primeiro feito por pioneiros do Oriente.
Hoje estes arabescos que tem uma conotação meio errônea, pois não são somente árabes, mas islâmicos, principalmente da vertente sufista, são encontrados em muitas casas brasileiras (pelo menos nas mais antigas), eram herança trazida de Portugal, fácil encontrar esta geometria em pisos, azulejos, calçadas, vitrais, etc, mas aí se perderam todo seu significado sagrado.
Janelas
3.5 5Peter Greenaway pensa num objeto, e a partir disso talvez tenha uma ideia em torno dele, consegue desdobrar e desenvolver uma temática sobre este objeto, numa desenvoltura bem elegante mas que não deixa de ser engraçada, e soa por vezes quase que absurda, mas não deixa de carecer de fatos, e em torno destes fatos será recortado algo para fazer uma análise quase que científica, tentando classificar, desvendar, considerar suposições, etc. Muito interessante porque ele, como um artista, brinca com o próprio conhecimento humano e com a arte.
Arabian Gun Twirler
3.4 1No último frame achei que ele tinha estourados os miolos. rs
Komposition in Blau
3.7 2Hipnótico! Gosto de abstrações, principalmente quando há uma contestação sobre obras de arte serem ou não arte, a abstração é sempre tida como uma coisa sem sentido para algumas pessoas leigas. Mas talvez para estas, se puderem ver o curta, poderão se encantar com a beleza desta obra.
Hakob Hovnatanyan
3.6 3As obras são retratadas não num todo, mas fragmentadas, em seus pormenores e em seus detalhes, pois é isso que nos foge aos olhos quando estamos num museu por exemplo, não podemos e não temos esse olhar mecânico da câmera para captura de certas coisas. O diretor dá um destaque meio especial as mãos, conferindo uma certa vitalidade, parecem serem vivas, são retratadas bem realistas, as pinturas com as mãos eram mais caras, demonstravam poder aquisitivo, pois eram um elemento mais trabalhoso.
Afrescos de Kiev
3.9 5 Assista AgoraÉ interessante que mesmo sendo um filme incompleto consegue sugerir muitas coisas a nossa cabeça, principalmente devido à época de sua feitura, onde mostrar um ícone religioso não deveria ser muito bem visto aos olhos dos sensores, ainda mais num filme que carece de qualquer coerência lógica e racional, não era um filme militante, e nestes aspectos podemos ver o porquê de sua obra ser realmente censurada. Há diversas cenas que remetem ao seu A Cor da Romã.
É um encantamento ver as cenas deste curta, e do pouco que vi (e estou caçando) a obra de Paradajov, ele integra seu cinema com um diálogo entre a cultura de seu país; o passado religioso do país, a música, os trovadores, etc. É interessante essa tentativa, pois não era universalizante, era o oposto, era regionalizante, e mais um demonstrativo de que sua arte evocava tudo aquilo que os censores pediam para poder censurá-la.
Balé Mecânico
3.9 20As vanguardas artísticas sempre me encantaram, e nunca deixarão de me impactar com suas propostas. E aqui, nesse filme cubista e dadaísta, encontramos também tons de surrealismo (como quando na escada se repetindo freneticamente como se nunca terminasse e a mulher tentasse mas não conseguisse sair dos mesmos degraus) e também do futurismo.
A montagem encaixando as máquinas com suas engrenagens rítmicas igual a uma encenação de balé, mas do futurismo, que propunha um mundo ordenado pelas máquinas, era apologético dos benefícios da industrialização e coadunou com o fascismo, pois pregava a guerra como uma benesse para um novo porvir de uma melhor sociedade, aqui há apenas insinuações de que tal como o homem as máquinas também realizam seu balé, que a cenografia é por nós imposta, mas por vezes, o homem é que foi imposto nesse novo ritmo que a industrialização causou.
Man Ray participa do curta, mas por desentendimentos entre seus realizadores quis que seu nome não fosse nele divulgado, deveria, pois, se vê nitidamente que ali tem o seu toque peculiar de olhar as coisas, como nas aparições dos olhos, quando estes mesmos viram de ponta cabeça, nas aparições dos sorrisos da mulher (Kiki de Montparnasse). Vi sem saber disso, mas mentalmente fiz essa ligação, depois soube que de fato era Man Ray que também estava ali realizando este filme.
Cildo Meireles
4.0 2Genial! Pena que é bem curto, e porém de 1979 a abordagem da arte do Cildo ainda hoje é polêmica se for feita em seu intuito conceitual; utilizar dos objetos de consumo ou coisas do mundo capitalista para criticar o próprio sistema e propagar mensagens. Ele é bem conhecido por ter feito a intervenção nas notas de 1 cruzeiro (talvez sua obra mais famosa) onde carimbou a frase "QUEM MATOU HERZOG?".
Chicago Défilé de Policemen
3.2 3Quantos destes participaram da Revolta de Reymarket?!
Danse fleur de lotus
3.9 4Hipnótico!
Saída do Pessoal Operário da Fábrica Confiança
3.4 6Eu sempre pensei que carros de boi eram coisa somente do Brasil.
Avestruzes
3.2 5Só aparece um avestruz no começo, aparece um camelo ou dromedário e um elefante.
Upside Down; or, The Human Flies
4.1 3Esse diretor era muito criativo!