CASAL IMPROVÁVEL (Long Shot, 2019) é um filme que provavelmente não me interessaria se não fosse pela presença de Charlize Theron. Não que seja um trabalho a sua altura, mas assistir a ele não é das piores ideias. Sua primeira hora se desenrola de forma interessante, como uma forte sátira das principais questões políticas e sociais estampadas nas páginas dos jornais norte-americanos de hoje. O problema é que depois disso, Jonathan Levine o transforma em uma comédia romântica estereotipada contaminada pelo clichê e pela vulgaridade. A parceria entre o desengonçado e fracassado Fred, jornalista da esquerda, e a elegante e poderosa Charlotte, candidata à Casa Branca, exige mais do que boa vontade nossa. Mais do que improvável, mais do que uma Cinderela às avessas, é preciso ter muita fé no incrível, e apenas se salva em alguns poucos momentos fofos. Esse Casal Improvável não tem liga. É uma obra que se espera de Seth Rogen, não de Charlize. E, de fato, são as piadas acidamente apropriadas ao mundo atual que são dignas de uma chance. IG @omelhordocinema
ROCKETMAN (2019) conta a história dos primeiros anos do ícone da música Sir Elton John. O filme dá uma olhada em seu talento nato, sua vida familiar conturbada e sua jornada artística nos altos e baixos da fama e da fortuna. É uma parte pouco conhecida de um dos maiores astros do showbusiness, que teve seus anos mais impactantes nos anos 70 e 80. O nível de crueza mostrado em Rocketman impressiona por dois motivos: pela entrega deTaron Egerton e ainda mais pela permissão de Elton em muito mostrar de sua vida. Ele é o produtor executivo e o nível de informação compartilhada realmente nos coloca dentro de seus dramas pessoais mais profundos. Misturando biografia e musical, Dexter Fletcher acerta nas sequências dançantes, extremamente bem executadas e contagiantes, contudo, por vezes, a música tem precedência sobre a narrativa, e isso prejudica em parte o desenvolvimento do roteiro. No geral e no comparativo, Rocketman supera Bohemian Rhapsody, é mais honesto aos fãs e agradável aos demais; uma ode digna de uma lenda. IG @omelhordocinema
Diga-me... como avaliar mal um filme de Isabelle Huppert? Não que OBSESSÃO (Greta, 2018) seja uma obra-prima, mas vale ser visto por ela. Ela alucina, persegue, mata, dança, toca piano e até cospe chiclete como ninguém. Perdoemos o roteiro clichê e que tira uma com nossa inteligência e restará a boa parceria de Huppert e Moretz para ser apreciada na estranha e tensa amizade formada entre uma jovem garçonete e uma viúva solitária depois que uma bolsa é esquecida no metrô. Com toques hitchcockianos, Obsessão não deve ser levado a sério. É mais cômico do que assustador, é mais por Huppert do que por qualquer outra coisa. IG @omelhordocinema
I AM MOTHER (2019) consegue bem equilibrar uma intrigante ficção científica pós-apocalíptica, um estudo de caráter que explora os perigos da tecnologia e como ela se relaciona com a humanidade diante dos avanços na automação e nas ciências eletrônicas. E o melhor? Está ao alcance do controle remoto. Em um mundo onde os homens foram (quase) aniquilados, dentro de um bunker remoto, um robô altamente evoluído, chamado Mother, gera uma nova vida através de um enorme banco de embriões. É uma menina, que cresce obedientemente aprendendo tudo o que a máquina lhe ensina, até a chegada de uma misteriosa mulher que questionará seu conhecimento sobre o lado de dentro e de fora daquela fortaleza. Enquanto o filme do novato Grant Sputore começa lento e constante, é apenas no terceiro ato que ele se amplia para algo maior e complexo, indo além da sinopse e daquilo que imaginamos. Visualmente estimulante, o cenário é praticamente o mesmo e o elenco (seu ponto forte) é formado somente por duas pessoas e um dróide, ora gentil e desajeitado, ora sombrio. I Am Mother nunca excede o timing das reviravoltas, nem o ritmo de sua tensão, além de justificar o pagamento da assinatura desse mês da Netflix. IG @omelhordocinema
Se você não se importar com os problemas narrativos, nem com a ausência daquilo que atraiu no primeiro filme (descobrir a vida secreta dos animais quando seus donos não estão em casa), PETS - A VIDA SECRETA DOS BICHOS 2 (The Secret Life of Pets 2, 2019) pode até valer a pena. São apenas 86 minutos de duração acompanhando três frentes distintas. A primeira é Max e Duke lidando com o fato de que seus donos se tornaram pais. Na segunda, Snowball está em uma missão para resgatar um tigre de um cruel dono de circo. Além disso, Gidget terá que se disfarçar de gato para recuperar o brinquedo preferido do seu melhor amigo que lhe foi dado em confiança. As histórias depois se juntam para uma conclusão apressada, porém divertida. Se pensarmos bem, Pets nada mais do que copia a ideia de Toy Story, de ser uma espécie de câmera escondida dos melhores amigos dos humanos enquanto eles estão por perto, e foi mais eficiente em sua primeira edição. Sendo assim, tendo as duas opções em cartaz, fico com a versão dos brinquedos. IG @omelhordocinema
Mais sombria e educativa do que as demais, TOY STORY 4 (2019) talvez não seja a animação que queremos, mas a que precisamos. O grupo agora vive com Bonnie. Estão todos lá, mas alguns dos nossos velhos conhecidos estão sendo trocados por novas caras. O fiel Woody se vê cada vez mais juntando poeira no armário; então que ele resolve encontrar outras maneiras de se tornar útil à sua criança. E nessa nova aventura, ele reencontra brinquedos que se perderam no caminho e outros que podem levá-lo a uma direção completamente diferente e inesperada. Não há como negar o inchaço da franquia e a dúvida na possibilidade de superar a qualidade da terceira edição, no entanto, a Pixar se aprofunda ainda mais e consegue novamente oferecer uma narrativa de forte peso emocional, deixando o público em lágrimas plenamente merecidas e com muitas lições morais a tiracolo. Toy Story 4 cresce junto com seus fãs e acena lindamente para algo novo. Existe mais história para contar? Existe. Pode acreditar. Enquanto nossos brinquedos continuarem "vivos", sendo ferramentas essenciais para a construção de nossa imaginação e caráter, e nos confortando nos piores momentos, Toy Story fará todo sentido. Ao infinito e além! IG @omelhordocinema
Quando o primeiro Homens de Preto foi lançado em 1997, a combinação de um roteiro divertido e conspiratório, efeitos especiais elaborados e a química invejável entre Will Smith e Tommy Lee Jones transformou o filme em um blockbuster raro, com um nível perceptível de inteligência, charme e originalidade que apenas alguns conseguem atingir. Com as sequências de 2002 e 2012, as estrelas da franquia foram aos poucos sendo apagadas, mas como somente vinham repetindo a fórmula que tinha dado certo na matriz, o estrago não parecia ser dos maiores. O mesmo não se pode dizer de MIB: HOMENS DE PRETO - INTERNACIONAL (Men In Black: International, 2019), o quarto deles e que não conta com nada e nem ninguém do original. Substituindo o dueto engravatado por Chris Hemsworth e Tessa Thompson, MIB Internacional une um elenco forte, mas sem química o bastante para superar o roteiro chato e previsível que investiga a possibilidade de um espião dentro da agência supersecreta. Com exceção de um pequeno alienígena que agora se dedica a sua nova rainha, as criaturas de CGI, assim como as cenas de ação, soam falsas e preguiçosas. Por isso, como fã da saga intergaláctica, queria muito poder dizer o contrário, mas não há muitos motivos para recomendar MIB Internacional. IG @omelhordocinema
MISTÉRIO NO MEDITERRÂNEO (Murder Mystery, 2019) não faz ideia do potencial cômico que tem em mãos e joga fora. Tanto de elenco, como de roteiro, a segunda parceria entre Sandler e Aniston poderia ser melhor aproveitada, mas cai na facilidade da bobagem gratuita e sem sentido. A história em si não é nada de especial ou nova. No entanto, o que eleva é a química entre a dupla que deu super certo em Esposa de Mentirinha. Aqui, eles se reencontram para capturar a realidade de um casal de longa data que se vê metido em um mistério após o assassinato em um luxuoso iate na Europa. Quanto ao crime? Não compensa e passa a quilômetros de distância de Agatha Christie. Mistério no Mediterrâneo, que de misterioso não tem nada, começa melhor do que termina, rende apenas algumas risadas e se encaixa perfeitamente no tipo de filme-conforto para um domingo à tarde. IG @omelhordocinema
O trabalho mais pessoal e nostálgico de Almodóvar é também o seu menos enérgico e louco. DOR E GLÓRIA (Dolor y Gloria, 2019) oferece um olhar confessional sobre a trajetória de um dos maiores e mais queridos cineastas. Não é um filme dele, e sim para ele, para sua auto-satisfação. Há o que se admirar, como o desempenho excepcional de Antonio Banderas e algumas passagens emocionantes, no entanto, nada que se eleve ao pedestal dos marcantes. Ali estão todos seus amores e dores, mas sentimos falta daquela sua provocação explícita e típica. Parece até ser dirigido por outra pessoa. Dor e Glória, apesar de extenso e lento, está longe de ser doloroso de assistir, porém também não é para toda essa glória alcançada nos tapetes vermelhos, exceto por Banderas. IG @omelhordocinema
Quer arrancar lágrimas facilmente do espectador? Uma trágica morte canina é mais do que suficiente para inundar uma sala de cinema. Mas apesar de JUNTOS PARA SEMPRE (A Dog's Journey, 2019) estar abarrotado delas, meus olhos nem sequer marejaram. A citada manipulação emocional de quatro patas continua na sequência de Quatro Vidas de um Cachorro, graças ao conceito de reencarnação sucessiva da alma de um cachorro em novos corpos, sempre dedicado a ser o melhor companheiro humano. Só que dessa vez, ao invés de Ethan, o cão está determinado a encontrar - e proteger - CJ, uma menina negligenciada pela mãe. Se você for mais amanteigado ou estiver contando com uma Sessão da Tarde bobinha, Juntos Para Sempre vai dar para o gasto, no entanto, para mim, não passou de um melodrama incoerente e que força a barra para convencer. IG @omelhordocinema
JOY (2018) é tão real que voltei para a sinopse para verificar se era um documentário aquilo que estava assistindo. Centrado nas mulheres nigerianas traficadas para a Áustria para serem trabalhadoras sexuais, o título, assim como o nome de sua protagonista, é irônico. Não há nada de alegre na vida dessas jovens exploradas e controladas por uma temível "madame" a quem devem pagar uma infinita dívida pela imigração ilegal. Além disso, uma mistura de crença com subordinação familiar mostra outra camada entrelaçada de aprisionamento. O preço da desobediência é alto e logo também é esfregado na nossa cara. O clima sombrio e claustrofóbico de Joy vai com a gente até o final e será difícil terminar essa visão horrenda de exploração capitalista incólume. IG @omelhordocinema
Odette, igual ao Cisne Branco d'O Lago dos Cisnes, foi abusada a infância toda pelo melhor amigo de seus pais. Agora com 30 anos e a ajuda de uma terapeuta e da dança, ela passa a enfrentar o trauma e revive com raiva e graça a sua INOCÊNCIA ROUBADA (Les Chatouilles, 2018). Odette é de verdade. Ela é a própria Andréa Bescond, a vítima que dirige e atua a adaptação cinematográfica da peça de teatro de 2014. Ela suportou quieta por muito tempo as cócegas que não a fazem rir e isso sempre refletiu no equilíbrio de sua vida e de sua família. Mas não dá mais. O que vemos de diferente aqui é a ideia de transpor o tabu de um tema tão indigesto e adotar um ângulo tão intenso quanto humorístico. É fazer piada com a própria desgraça? De jeito nenhum. Trata-se da reconstrução de uma infância interrompida pelo horror e o silêncio da pedofilia através da mistura de personagens humanos e assustadoramente críveis. É simplesmente o jeito dela de virar a página e nos deixar sem palavras. IG @omelhordocinema
Quer originalidade? Então passe longe de THE SILENCE (2019). A adaptação do romance de horror de Tim Lebbon, publicada em 2015, é uma mistura de Um Lugar Silencioso com Bird Box. Com o primeiro, assemelha-se pelo mundo invadido por criaturas que caçam pelo som e a presença de uma menina surda como um dos personagens principais. Com o segundo, por ser mais uma aposta da Netflix. E é aí que essencialmente as comparações terminam, para pior. O produto final de The Silence não corresponde a nenhuma das duas expectativas e, apesar de alguns momentos de tensão e a reflexão da capacidade/necessidade da humanidade em se adaptar, deixa muita pergunta sem resposta e um desfecho insosso, ainda mais depois de já ter visto os outros dois sucessos calibrados por estrelas hollywoodianas. IG @omelhordocinema
Em um ano cheio de live-actions de desenhos animados da Disney, ALADDIN (2019) se destaca. Ao contrário de Dumbo, Aladdin é uma releitura fiel do filme original. Isso significa que o enredo está intacto e as boas músicas ainda estão lá. Caso você não se lembre mais, ou não tenha idade para isso, Aladdin é um dos muitos cidadãos pobres do reino de Agrabah, que sobrevive através de pequenos furtos e divide a comida que consegue com outros famintos. Junto de seu fiel amigo, o macaquinho muito do fofo Abu, em uma dessas "empreitadas", ele encontra Jasmine, a princesa disfarçada de plebeia. Os dois logo se conectam, mas Aladdin não é o suficiente para se casar com alguém tão nobre. Ele precisará então da ajuda de um gênio preso em uma lâmpada mágica para se tornar um príncipe de contos de fada. O ritmo acelerado empregado por Guy Ritchie agrada e aproxima ainda mais seu trabalho do desenho. Tudo bem que as coisas não parecem tão animadoras no começo; até que de repente o curso é corrigido e os três queridos personagens nos (re)conquistam, demonstrando uma química impressionante. Mérito maior de Will Smith, que apesar de desafinar, não esconde a grandeza de seu talento para atuar, e de Jasmine, que deixa de ser mais uma donzela à espera do crush encantado e se salva por conta própria de sua torre, tornando-se inspiração para as meninas de hoje. Diante do inevitável comparativo dos remakes animados, Aladdin não é o melhor deles, mas cumpre seu papel e a minha expectativa. Agora... Rei Leão, aí vamos nós! IG @omelhordocinema
Que bela surpresa a Netflix guarda em THE PERFECTION (2019). No mundo da música clássica, Richard Shepard estrutura sua história macabra em quatro capítulos, cada um marcando sua própria estética, identidade pessoal, missão e explicação, e assim consegue facilmente despertar uma mistura de emoções e penetrar o espectador nos seus 90 minutos. Embora nem tudo pareça tão interessante e razoável à primeira vista, o thriller erótico e de humor negro de duas prodígios de violoncelo se torna muito mais excitante quando todos os segredos são revelados através de zigue-zagues temporais. Ou seja, quanto menos você souber de antemão, melhor. Diferentemente da massa disponível, The Perfection atinge um acorde maior e mais inteligente do que estamos acostumados a encontrar na plataforma. Até que enfim! IG @melhordocinema
É uma pena, mas um dos maiores contadores de história de todos os tempos tem uma história tão ruim sobre sua vida. Mais preocupado com seu período de estudo em Oxford e as trincheiras da Primeira Guerra Mundial, TOLKIEN (2019) é um filme biográfico apático e cheio de defeitos. O J.R.R. Tolkien da ficção é um personagem que não empolga, nem na irmandade que cria desde a infância com um grupo de amigos, menos ainda no romance com a doce Edith Bratt. Muito diferente de suas narrrativas cheias de emoção e magia, fica difícil imaginar que o autor de O Senhor dos Anéis e O Hobbit seja qualquer coisa parecida com que vemos em Tolkien. IG @omelhordocinema
Ainda mais preparado para a guerra, JOHN WICK 3: PARABELLUM (John Wick: Chapter 3 - Parabellum, 2019) é a sinfonia do caos. Da última confusão em que se enfiou no filme passado, a cabeça de John Wick, o assassino mais perigoso e respeitado do mundo, agora está valendo 14 milhões de dólares no luxuoso e organizado mercado do crime, e toda uma bela Manhattan se prepara para abocanhar essa pequena fortuna em poucos minutos. O filme começa assim, no tic-tac do relógio, e continua eletrizante numa cascata de eventos e cenas de ação de embasbacar. Essa luta para se esquivar da morte o leva a antigos conhecidos e inimigos, e nos leva a duas horas de emoção sempre banhada no excesso e no sangue. Perde-se a conta de quanto corpos ficaram (até o momento) no chão de John Wick, assim como perdemos a noção de tempo ao se deliciar com mais esse capítulo da saga, que não se leva tão a sério e parece não terminar por aqui. IG @omelhordocinema
Ainda aguardando o impacto prometido (e que achei que teria) em ATENTADO AO HOTEL TAJ MAHAL (Hotel Mumbai, 2018). Sem desmerecer o empenho de Anthony Maras de tentar tornar os ataques terroristas de 2008 em Mumbai tão autenticamente quanto pôde, fazendo uma extensa pesquisa sobre a tragédia, não dá para dizer que sua obra cria tensão ou emoção suficiente para se tornar inesquecível. Mais do que oferecer uma representação milimétrica dos fatos, um filme precisa causar algum tipo de reação em quem está assistindo, e o que Atentado ao Hotel Taj Mahal transmite é apatia. Quando uma organização terrorista extremista paquistanesa realizou uma emboscada no hotel mais luxuoso da Índia e matou mais de uma centena de pessoas, sem dúvida, o cenário que se perpetuou por dias até o resgate chegar foi de horror. O que acontece aqui (e é o seu maior problema, além do desperdício de Armie Hammer) é que não foi descoberto um jeito de apresentar esse material de carnificina extremamente autêntico funcionando em termos dramáticos. Ou seja, seu tempo pode ser muito melhor aproveitado com uma simples pesquisa dos eventos no Google. IG @omelhordocinema
Quase morri para terminar de assistir O OUTRO PAI (A pesar de todo, 2019), mas agora passo bem. A comédia espanhola produzida pela Netflix, apesar de desfrutar de um bom elenco, é fraca demais para esboçar qualquer tipo de reação de seu espectador, exceto a vontade de pausar no controle remoto e tentar a sorte em outra produção da plataforma. A saga de quatro irmãs tentando descobrir seus respectivos pais depois do falecimento e revelação da mãe é menos do mesmo e gradualmente piora até chegar ao clímax digno de novela mexicana. O que salva? Ter David Bowie na trilha sonora. IG @omelhordocinema
Acerca da polêmica cura gay em menores de idade, hoje proibida nos Estados Unidos, BOY ERASED: UMA VERDADE ANULADA (Boy Erased, 2018) se parece muito com O Mau Exemplo de Cameron Post, lançado na mesma época. Ambos precedidos de livros de experiências pessoais, a terapia de conversão sexual, que exila, através da religião, os adolescentes de sua família, amigos e escola, visa corrigir os comportamentos pecaminosos dos jovens Jared e Cam, respectivamente. Naquele, Cam é enviada a um centro cristão pela tia após a morte dos pais e lá ela cria vínculos de amizade e fica ainda mais convicta de sua sexualidade. Nesse, ao contrário, Jared aceita o tratamento para acalmar o pai, um pastor da igreja Batista, influenciado pelos líderes da congregação, e a princípio acredita em sua transgressão mental, a punição divina e finalmente sua transformação. O filme de Joel Edgerton prefere ser mais sóbrio, menos explícito nas cenas gráficas e apenas dramatizar o peso das relações familiares e da fé na busca da identidade sexual do indivíduo, sem demonizar a conduta dos pais, que buscam o melhor para os seus filhos, ao menos segundo sua convicção. Quanto ao elenco, não há o que reclamar de Boy Erased: somos recompensados com atuações de forte carga emocional e sensibilidade. Mas como qualquer um que tenha vista O Mau Exemplo pode atestar, Boy Erased, apesar de não cair na "facilidade" da caricatura, torna-se menos impactante e deixa no ar aquela sensação de que ficou faltando algo. IG @omelhordocinema
Apesar da mensagem de A MENINA E O LEÃO (Mia et le Lion Blanc, 2018) ser preocupante, a história da jovem rebelde que forma uma amizade não convencional e inabalável com um leão branco só se torna interessante quando sabemos que as filmagens duraram alguns anos (no estilo de Boyhood) para que a atriz pudesse se familiarizar com o animal, dispensando maiores cortes e montagens nas cenas de convívio entre eles. Tirando isso, a mistura de entretenimento familiar e denúncia à caça legalizada no território africano é bem parecida com outras produções do gênero e bem morna para satisfazer tanto um lado quanto o outro. O que sobra é apenas o alerta de quão longe pode chegar a estupidez humana. IG @omelhordocinema
Como demora para acabar UM HOMEM DE SORTE (Lykke-Per, 2018). Pretensioso, a adaptação do romance dinamarquês de Henrik Pontoppidan tenta resumir oito volumes em um filme de quase três horas, mas gasta tempo demais batendo em algumas teclas sem dizer nada profundo o suficiente para justificar seu alcance visualmente suntuoso. Per é um jovem inteligente e ambicioso que deixa para trás a família fervorosamente religiosa para tirar do papel seus projetos de engenharia. Na Capital, ele encontra seu brilhante futuro no casamento com uma rica judia, contudo sua intransigência fechará algumas portas e abrirá outras para uma trajetória de redescoberta pessoal. Tão difícil quanto aguentar até o final, é simpatizar com o drama de Per, porque embora a duração seja longa, muito não vemos em tela, e temos que, por conta própria, preencher as lacunas deixadas no roteiro. Por bem menos, o diretor ganhador de um Oscar poderia ter feito bem mais com essa obra-prima literária do que um trabalho bonito, porém superficial. IG @omelhordocinema
A adaptação do romance de Alissa Walser conta uma pequena parte da história da pianista cega Maria Theresia von Paradis, além de refletir a cruel desigualdade social e de gênero na sociedade europeia do século XVIII. Todo o mérito de MADEMOISELLE PARADIS (Licht, 2017) começa e termina na atuação mais do que realista de Maria-Victoria Dragus, que dá vida a uma outra Maria que oscila entre os risos da corte, o desprezo dos próprios pais e a esperança que vislumbra no médico Franz Mesmer. Cega desde criança, Maria Theresia agora passa a enxergar as belezas que apenas ouvia e tocava, mas também vê a crueldade do mundo ao seu redor, e percebe que talvez a visão não seja o melhor dos sentidos. Apesar de verdadeiro, Mademoiselle Paradis parece fraco em termos biográficos, porém sua força estética e a sensibilidade de sua protagonista garantem o velho ensinamento de aquilo que os olhos não veem, o coração não sente. IG @omelhordocinema
Incêndios
4.5 1,9KTem como dar 10 estrelas?
Casal Improvável
3.4 290 Assista AgoraCASAL IMPROVÁVEL (Long Shot, 2019) é um filme que provavelmente não me interessaria se não fosse pela presença de Charlize Theron. Não que seja um trabalho a sua altura, mas assistir a ele não é das piores ideias. Sua primeira hora se desenrola de forma interessante, como uma forte sátira das principais questões políticas e sociais estampadas nas páginas dos jornais norte-americanos de hoje. O problema é que depois disso, Jonathan Levine o transforma em uma comédia romântica estereotipada contaminada pelo clichê e pela vulgaridade. A parceria entre o desengonçado e fracassado Fred, jornalista da esquerda, e a elegante e poderosa Charlotte, candidata à Casa Branca, exige mais do que boa vontade nossa. Mais do que improvável, mais do que uma Cinderela às avessas, é preciso ter muita fé no incrível, e apenas se salva em alguns poucos momentos fofos. Esse Casal Improvável não tem liga. É uma obra que se espera de Seth Rogen, não de Charlize. E, de fato, são as piadas acidamente apropriadas ao mundo atual que são dignas de uma chance.
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Rocketman
4.0 922 Assista AgoraROCKETMAN (2019) conta a história dos primeiros anos do ícone da música Sir Elton John. O filme dá uma olhada em seu talento nato, sua vida familiar conturbada e sua jornada artística nos altos e baixos da fama e da fortuna. É uma parte pouco conhecida de um dos maiores astros do showbusiness, que teve seus anos mais impactantes nos anos 70 e 80. O nível de crueza mostrado em Rocketman impressiona por dois motivos: pela entrega deTaron Egerton e ainda mais pela permissão de Elton em muito mostrar de sua vida. Ele é o produtor executivo e o nível de informação compartilhada realmente nos coloca dentro de seus dramas pessoais mais profundos. Misturando biografia e musical, Dexter Fletcher acerta nas sequências dançantes, extremamente bem executadas e contagiantes, contudo, por vezes, a música tem precedência sobre a narrativa, e isso prejudica em parte o desenvolvimento do roteiro. No geral e no comparativo, Rocketman supera Bohemian Rhapsody, é mais honesto aos fãs e agradável aos demais; uma ode digna de uma lenda.
IG @omelhordocinema
Obsessão
2.9 482 Assista AgoraDiga-me... como avaliar mal um filme de Isabelle Huppert? Não que OBSESSÃO (Greta, 2018) seja uma obra-prima, mas vale ser visto por ela. Ela alucina, persegue, mata, dança, toca piano e até cospe chiclete como ninguém. Perdoemos o roteiro clichê e que tira uma com nossa inteligência e restará a boa parceria de Huppert e Moretz para ser apreciada na estranha e tensa amizade formada entre uma jovem garçonete e uma viúva solitária depois que uma bolsa é esquecida no metrô. Com toques hitchcockianos, Obsessão não deve ser levado a sério. É mais cômico do que assustador, é mais por Huppert do que por qualquer outra coisa.
IG @omelhordocinema
I Am Mother
3.4 495 Assista AgoraI AM MOTHER (2019) consegue bem equilibrar uma intrigante ficção científica pós-apocalíptica, um estudo de caráter que explora os perigos da tecnologia e como ela se relaciona com a humanidade diante dos avanços na automação e nas ciências eletrônicas. E o melhor? Está ao alcance do controle remoto. Em um mundo onde os homens foram (quase) aniquilados, dentro de um bunker remoto, um robô altamente evoluído, chamado Mother, gera uma nova vida através de um enorme banco de embriões. É uma menina, que cresce obedientemente aprendendo tudo o que a máquina lhe ensina, até a chegada de uma misteriosa mulher que questionará seu conhecimento sobre o lado de dentro e de fora daquela fortaleza. Enquanto o filme do novato Grant Sputore começa lento e constante, é apenas no terceiro ato que ele se amplia para algo maior e complexo, indo além da sinopse e daquilo que imaginamos. Visualmente estimulante, o cenário é praticamente o mesmo e o elenco (seu ponto forte) é formado somente por duas pessoas e um dróide, ora gentil e desajeitado, ora sombrio. I Am Mother nunca excede o timing das reviravoltas, nem o ritmo de sua tensão, além de justificar o pagamento da assinatura desse mês da Netflix.
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Pets - A Vida Secreta dos Bichos 2
3.5 262Se você não se importar com os problemas narrativos, nem com a ausência daquilo que atraiu no primeiro filme (descobrir a vida secreta dos animais quando seus donos não estão em casa), PETS - A VIDA SECRETA DOS BICHOS 2 (The Secret Life of Pets 2, 2019) pode até valer a pena. São apenas 86 minutos de duração acompanhando três frentes distintas. A primeira é Max e Duke lidando com o fato de que seus donos se tornaram pais. Na segunda, Snowball está em uma missão para resgatar um tigre de um cruel dono de circo. Além disso, Gidget terá que se disfarçar de gato para recuperar o brinquedo preferido do seu melhor amigo que lhe foi dado em confiança. As histórias depois se juntam para uma conclusão apressada, porém divertida. Se pensarmos bem, Pets nada mais do que copia a ideia de Toy Story, de ser uma espécie de câmera escondida dos melhores amigos dos humanos enquanto eles estão por perto, e foi mais eficiente em sua primeira edição. Sendo assim, tendo as duas opções em cartaz, fico com a versão dos brinquedos.
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Toy Story 4
4.1 1,4K Assista AgoraMais sombria e educativa do que as demais, TOY STORY 4 (2019) talvez não seja a animação que queremos, mas a que precisamos. O grupo agora vive com Bonnie. Estão todos lá, mas alguns dos nossos velhos conhecidos estão sendo trocados por novas caras. O fiel Woody se vê cada vez mais juntando poeira no armário; então que ele resolve encontrar outras maneiras de se tornar útil à sua criança. E nessa nova aventura, ele reencontra brinquedos que se perderam no caminho e outros que podem levá-lo a uma direção completamente diferente e inesperada. Não há como negar o inchaço da franquia e a dúvida na possibilidade de superar a qualidade da terceira edição, no entanto, a Pixar se aprofunda ainda mais e consegue novamente oferecer uma narrativa de forte peso emocional, deixando o público em lágrimas plenamente merecidas e com muitas lições morais a tiracolo. Toy Story 4 cresce junto com seus fãs e acena lindamente para algo novo. Existe mais história para contar? Existe. Pode acreditar. Enquanto nossos brinquedos continuarem "vivos", sendo ferramentas essenciais para a construção de nossa imaginação e caráter, e nos confortando nos piores momentos, Toy Story fará todo sentido. Ao infinito e além!
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MIB: Homens de Preto - Internacional
2.8 458Quando o primeiro Homens de Preto foi lançado em 1997, a combinação de um roteiro divertido e conspiratório, efeitos especiais elaborados e a química invejável entre Will Smith e Tommy Lee Jones transformou o filme em um blockbuster raro, com um nível perceptível de inteligência, charme e originalidade que apenas alguns conseguem atingir. Com as sequências de 2002 e 2012, as estrelas da franquia foram aos poucos sendo apagadas, mas como somente vinham repetindo a fórmula que tinha dado certo na matriz, o estrago não parecia ser dos maiores. O mesmo não se pode dizer de MIB: HOMENS DE PRETO - INTERNACIONAL (Men In Black: International, 2019), o quarto deles e que não conta com nada e nem ninguém do original. Substituindo o dueto engravatado por Chris Hemsworth e Tessa Thompson, MIB Internacional une um elenco forte, mas sem química o bastante para superar o roteiro chato e previsível que investiga a possibilidade de um espião dentro da agência supersecreta. Com exceção de um pequeno alienígena que agora se dedica a sua nova rainha, as criaturas de CGI, assim como as cenas de ação, soam falsas e preguiçosas. Por isso, como fã da saga intergaláctica, queria muito poder dizer o contrário, mas não há muitos motivos para recomendar MIB Internacional.
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Mistério no Mediterrâneo
3.0 619 Assista AgoraMISTÉRIO NO MEDITERRÂNEO (Murder Mystery, 2019) não faz ideia do potencial cômico que tem em mãos e joga fora. Tanto de elenco, como de roteiro, a segunda parceria entre Sandler e Aniston poderia ser melhor aproveitada, mas cai na facilidade da bobagem gratuita e sem sentido. A história em si não é nada de especial ou nova. No entanto, o que eleva é a química entre a dupla que deu super certo em Esposa de Mentirinha. Aqui, eles se reencontram para capturar a realidade de um casal de longa data que se vê metido em um mistério após o assassinato em um luxuoso iate na Europa. Quanto ao crime? Não compensa e passa a quilômetros de distância de Agatha Christie. Mistério no Mediterrâneo, que de misterioso não tem nada, começa melhor do que termina, rende apenas algumas risadas e se encaixa perfeitamente no tipo de filme-conforto para um domingo à tarde.
IG @omelhordocinema
Dor e Glória
4.2 619 Assista AgoraO trabalho mais pessoal e nostálgico de Almodóvar é também o seu menos enérgico e louco. DOR E GLÓRIA (Dolor y Gloria, 2019) oferece um olhar confessional sobre a trajetória de um dos maiores e mais queridos cineastas. Não é um filme dele, e sim para ele, para sua auto-satisfação. Há o que se admirar, como o desempenho excepcional de Antonio Banderas e algumas passagens emocionantes, no entanto, nada que se eleve ao pedestal dos marcantes. Ali estão todos seus amores e dores, mas sentimos falta daquela sua provocação explícita e típica. Parece até ser dirigido por outra pessoa. Dor e Glória, apesar de extenso e lento, está longe de ser doloroso de assistir, porém também não é para toda essa glória alcançada nos tapetes vermelhos, exceto por Banderas.
IG @omelhordocinema
Juntos Para Sempre
4.0 187Quer arrancar lágrimas facilmente do espectador? Uma trágica morte canina é mais do que suficiente para inundar uma sala de cinema. Mas apesar de JUNTOS PARA SEMPRE (A Dog's Journey, 2019) estar abarrotado delas, meus olhos nem sequer marejaram. A citada manipulação emocional de quatro patas continua na sequência de Quatro Vidas de um Cachorro, graças ao conceito de reencarnação sucessiva da alma de um cachorro em novos corpos, sempre dedicado a ser o melhor companheiro humano. Só que dessa vez, ao invés de Ethan, o cão está determinado a encontrar - e proteger - CJ, uma menina negligenciada pela mãe. Se você for mais amanteigado ou estiver contando com uma Sessão da Tarde bobinha, Juntos Para Sempre vai dar para o gasto, no entanto, para mim, não passou de um melodrama incoerente e que força a barra para convencer.
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Joy
3.6 34 Assista AgoraJOY (2018) é tão real que voltei para a sinopse para verificar se era um documentário aquilo que estava assistindo. Centrado nas mulheres nigerianas traficadas para a Áustria para serem trabalhadoras sexuais, o título, assim como o nome de sua protagonista, é irônico. Não há nada de alegre na vida dessas jovens exploradas e controladas por uma temível "madame" a quem devem pagar uma infinita dívida pela imigração ilegal. Além disso, uma mistura de crença com subordinação familiar mostra outra camada entrelaçada de aprisionamento. O preço da desobediência é alto e logo também é esfregado na nossa cara. O clima sombrio e claustrofóbico de Joy vai com a gente até o final e será difícil terminar essa visão horrenda de exploração capitalista incólume.
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Inocência Roubada
4.0 65 Assista AgoraOdette, igual ao Cisne Branco d'O Lago dos Cisnes, foi abusada a infância toda pelo melhor amigo de seus pais. Agora com 30 anos e a ajuda de uma terapeuta e da dança, ela passa a enfrentar o trauma e revive com raiva e graça a sua INOCÊNCIA ROUBADA (Les Chatouilles, 2018). Odette é de verdade. Ela é a própria Andréa Bescond, a vítima que dirige e atua a adaptação cinematográfica da peça de teatro de 2014. Ela suportou quieta por muito tempo as cócegas que não a fazem rir e isso sempre refletiu no equilíbrio de sua vida e de sua família. Mas não dá mais. O que vemos de diferente aqui é a ideia de transpor o tabu de um tema tão indigesto e adotar um ângulo tão intenso quanto humorístico. É fazer piada com a própria desgraça? De jeito nenhum. Trata-se da reconstrução de uma infância interrompida pelo horror e o silêncio da pedofilia através da mistura de personagens humanos e assustadoramente críveis. É simplesmente o jeito dela de virar a página e nos deixar sem palavras.
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O Silêncio
2.5 612 Assista AgoraQuer originalidade? Então passe longe de THE SILENCE (2019). A adaptação do romance de horror de Tim Lebbon, publicada em 2015, é uma mistura de Um Lugar Silencioso com Bird Box. Com o primeiro, assemelha-se pelo mundo invadido por criaturas que caçam pelo som e a presença de uma menina surda como um dos personagens principais. Com o segundo, por ser mais uma aposta da Netflix. E é aí que essencialmente as comparações terminam, para pior. O produto final de The Silence não corresponde a nenhuma das duas expectativas e, apesar de alguns momentos de tensão e a reflexão da capacidade/necessidade da humanidade em se adaptar, deixa muita pergunta sem resposta e um desfecho insosso, ainda mais depois de já ter visto os outros dois sucessos calibrados por estrelas hollywoodianas.
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Aladdin
3.9 1,3K Assista AgoraEm um ano cheio de live-actions de desenhos animados da Disney, ALADDIN (2019) se destaca. Ao contrário de Dumbo, Aladdin é uma releitura fiel do filme original. Isso significa que o enredo está intacto e as boas músicas ainda estão lá. Caso você não se lembre mais, ou não tenha idade para isso, Aladdin é um dos muitos cidadãos pobres do reino de Agrabah, que sobrevive através de pequenos furtos e divide a comida que consegue com outros famintos. Junto de seu fiel amigo, o macaquinho muito do fofo Abu, em uma dessas "empreitadas", ele encontra Jasmine, a princesa disfarçada de plebeia. Os dois logo se conectam, mas Aladdin não é o suficiente para se casar com alguém tão nobre. Ele precisará então da ajuda de um gênio preso em uma lâmpada mágica para se tornar um príncipe de contos de fada. O ritmo acelerado empregado por Guy Ritchie agrada e aproxima ainda mais seu trabalho do desenho. Tudo bem que as coisas não parecem tão animadoras no começo; até que de repente o curso é corrigido e os três queridos personagens nos (re)conquistam, demonstrando uma química impressionante. Mérito maior de Will Smith, que apesar de desafinar, não esconde a grandeza de seu talento para atuar, e de Jasmine, que deixa de ser mais uma donzela à espera do crush encantado e se salva por conta própria de sua torre, tornando-se inspiração para as meninas de hoje. Diante do inevitável comparativo dos remakes animados, Aladdin não é o melhor deles, mas cumpre seu papel e a minha expectativa. Agora... Rei Leão, aí vamos nós!
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The Perfection
3.3 720 Assista AgoraQue bela surpresa a Netflix guarda em THE PERFECTION (2019). No mundo da música clássica, Richard Shepard estrutura sua história macabra em quatro capítulos, cada um marcando sua própria estética, identidade pessoal, missão e explicação, e assim consegue facilmente despertar uma mistura de emoções e penetrar o espectador nos seus 90 minutos. Embora nem tudo pareça tão interessante e razoável à primeira vista, o thriller erótico e de humor negro de duas prodígios de violoncelo se torna muito mais excitante quando todos os segredos são revelados através de zigue-zagues temporais. Ou seja, quanto menos você souber de antemão, melhor. Diferentemente da massa disponível, The Perfection atinge um acorde maior e mais inteligente do que estamos acostumados a encontrar na plataforma. Até que enfim!
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Tolkien
3.5 162 Assista AgoraÉ uma pena, mas um dos maiores contadores de história de todos os tempos tem uma história tão ruim sobre sua vida. Mais preocupado com seu período de estudo em Oxford e as trincheiras da Primeira Guerra Mundial, TOLKIEN (2019) é um filme biográfico apático e cheio de defeitos. O J.R.R. Tolkien da ficção é um personagem que não empolga, nem na irmandade que cria desde a infância com um grupo de amigos, menos ainda no romance com a doce Edith Bratt. Muito diferente de suas narrrativas cheias de emoção e magia, fica difícil imaginar que o autor de O Senhor dos Anéis e O Hobbit seja qualquer coisa parecida com que vemos em Tolkien.
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John Wick 3: Parabellum
3.9 1,0K Assista AgoraAinda mais preparado para a guerra, JOHN WICK 3: PARABELLUM (John Wick: Chapter 3 - Parabellum, 2019) é a sinfonia do caos. Da última confusão em que se enfiou no filme passado, a cabeça de John Wick, o assassino mais perigoso e respeitado do mundo, agora está valendo 14 milhões de dólares no luxuoso e organizado mercado do crime, e toda uma bela Manhattan se prepara para abocanhar essa pequena fortuna em poucos minutos. O filme começa assim, no tic-tac do relógio, e continua eletrizante numa cascata de eventos e cenas de ação de embasbacar. Essa luta para se esquivar da morte o leva a antigos conhecidos e inimigos, e nos leva a duas horas de emoção sempre banhada no excesso e no sangue. Perde-se a conta de quanto corpos ficaram (até o momento) no chão de John Wick, assim como perdemos a noção de tempo ao se deliciar com mais esse capítulo da saga, que não se leva tão a sério e parece não terminar por aqui.
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Atentado ao Hotel Taj Mahal
4.0 257 Assista AgoraAinda aguardando o impacto prometido (e que achei que teria) em ATENTADO AO HOTEL TAJ MAHAL (Hotel Mumbai, 2018). Sem desmerecer o empenho de Anthony Maras de tentar tornar os ataques terroristas de 2008 em Mumbai tão autenticamente quanto pôde, fazendo uma extensa pesquisa sobre a tragédia, não dá para dizer que sua obra cria tensão ou emoção suficiente para se tornar inesquecível. Mais do que oferecer uma representação milimétrica dos fatos, um filme precisa causar algum tipo de reação em quem está assistindo, e o que Atentado ao Hotel Taj Mahal transmite é apatia. Quando uma organização terrorista extremista paquistanesa realizou uma emboscada no hotel mais luxuoso da Índia e matou mais de uma centena de pessoas, sem dúvida, o cenário que se perpetuou por dias até o resgate chegar foi de horror. O que acontece aqui (e é o seu maior problema, além do desperdício de Armie Hammer) é que não foi descoberto um jeito de apresentar esse material de carnificina extremamente autêntico funcionando em termos dramáticos. Ou seja, seu tempo pode ser muito melhor aproveitado com uma simples pesquisa dos eventos no Google.
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O Outro Pai
2.7 90 Assista AgoraQuase morri para terminar de assistir O OUTRO PAI (A pesar de todo, 2019), mas agora passo bem. A comédia espanhola produzida pela Netflix, apesar de desfrutar de um bom elenco, é fraca demais para esboçar qualquer tipo de reação de seu espectador, exceto a vontade de pausar no controle remoto e tentar a sorte em outra produção da plataforma. A saga de quatro irmãs tentando descobrir seus respectivos pais depois do falecimento e revelação da mãe é menos do mesmo e gradualmente piora até chegar ao clímax digno de novela mexicana. O que salva? Ter David Bowie na trilha sonora.
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Boy Erased: Uma Verdade Anulada
3.6 402 Assista AgoraAcerca da polêmica cura gay em menores de idade, hoje proibida nos Estados Unidos, BOY ERASED: UMA VERDADE ANULADA (Boy Erased, 2018) se parece muito com O Mau Exemplo de Cameron Post, lançado na mesma época. Ambos precedidos de livros de experiências pessoais, a terapia de conversão sexual, que exila, através da religião, os adolescentes de sua família, amigos e escola, visa corrigir os comportamentos pecaminosos dos jovens Jared e Cam, respectivamente. Naquele, Cam é enviada a um centro cristão pela tia após a morte dos pais e lá ela cria vínculos de amizade e fica ainda mais convicta de sua sexualidade. Nesse, ao contrário, Jared aceita o tratamento para acalmar o pai, um pastor da igreja Batista, influenciado pelos líderes da congregação, e a princípio acredita em sua transgressão mental, a punição divina e finalmente sua transformação. O filme de Joel Edgerton prefere ser mais sóbrio, menos explícito nas cenas gráficas e apenas dramatizar o peso das relações familiares e da fé na busca da identidade sexual do indivíduo, sem demonizar a conduta dos pais, que buscam o melhor para os seus filhos, ao menos segundo sua convicção. Quanto ao elenco, não há o que reclamar de Boy Erased: somos recompensados com atuações de forte carga emocional e sensibilidade. Mas como qualquer um que tenha vista O Mau Exemplo pode atestar, Boy Erased, apesar de não cair na "facilidade" da caricatura, torna-se menos impactante e deixa no ar aquela sensação de que ficou faltando algo.
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A Menina e o Leão
3.5 90 Assista AgoraApesar da mensagem de A MENINA E O LEÃO (Mia et le Lion Blanc, 2018) ser preocupante, a história da jovem rebelde que forma uma amizade não convencional e inabalável com um leão branco só se torna interessante quando sabemos que as filmagens duraram alguns anos (no estilo de Boyhood) para que a atriz pudesse se familiarizar com o animal, dispensando maiores cortes e montagens nas cenas de convívio entre eles. Tirando isso, a mistura de entretenimento familiar e denúncia à caça legalizada no território africano é bem parecida com outras produções do gênero e bem morna para satisfazer tanto um lado quanto o outro. O que sobra é apenas o alerta de quão longe pode chegar a estupidez humana.
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Um Homem de Sorte
3.5 77Como demora para acabar UM HOMEM DE SORTE (Lykke-Per, 2018). Pretensioso, a adaptação do romance dinamarquês de Henrik Pontoppidan tenta resumir oito volumes em um filme de quase três horas, mas gasta tempo demais batendo em algumas teclas sem dizer nada profundo o suficiente para justificar seu alcance visualmente suntuoso. Per é um jovem inteligente e ambicioso que deixa para trás a família fervorosamente religiosa para tirar do papel seus projetos de engenharia. Na Capital, ele encontra seu brilhante futuro no casamento com uma rica judia, contudo sua intransigência fechará algumas portas e abrirá outras para uma trajetória de redescoberta pessoal. Tão difícil quanto aguentar até o final, é simpatizar com o drama de Per, porque embora a duração seja longa, muito não vemos em tela, e temos que, por conta própria, preencher as lacunas deixadas no roteiro. Por bem menos, o diretor ganhador de um Oscar poderia ter feito bem mais com essa obra-prima literária do que um trabalho bonito, porém superficial.
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Mademoiselle Paradis
3.2 10 Assista AgoraA adaptação do romance de Alissa Walser conta uma pequena parte da história da pianista cega Maria Theresia von Paradis, além de refletir a cruel desigualdade social e de gênero na sociedade europeia do século XVIII. Todo o mérito de MADEMOISELLE PARADIS (Licht, 2017) começa e termina na atuação mais do que realista de Maria-Victoria Dragus, que dá vida a uma outra Maria que oscila entre os risos da corte, o desprezo dos próprios pais e a esperança que vislumbra no médico Franz Mesmer. Cega desde criança, Maria Theresia agora passa a enxergar as belezas que apenas ouvia e tocava, mas também vê a crueldade do mundo ao seu redor, e percebe que talvez a visão não seja o melhor dos sentidos. Apesar de verdadeiro, Mademoiselle Paradis parece fraco em termos biográficos, porém sua força estética e a sensibilidade de sua protagonista garantem o velho ensinamento de aquilo que os olhos não veem, o coração não sente.
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