"Não, eu não quero destruir a moral vigente, até porque, num mundo perfeito, onde não houvesse preconceito em relação às minorias ou qualquer tipo de desigualdade, eu perderia meu ganha-pão, pois não teria matéria-prima p\ meu trabalho"... Assim falou (ironicamente) Lenny Bruce. Embora pouco conhecido em terras tupiniquins, Bruce nos demonstra que as origens da hoje tão comentada (e já desgastada) "stand up comedy", remontam a um período histórico bem anterior ao que muitos imaginam... Também é interessante notar que o "stand up" produziu desde um gênio transgressor como Lenny Bruce, até o insuportável Rafinha Bastos! Obs: ao contrário do que diz o famoso verso do hino norte-americano, a "doce terra da liberdade" não costuma ser muita hospitaleira e compreensiva c\ aqueles que desafiam seu falso-moralismo característico...
Um típico representante da irritante tendência "pseudo-indie" ou até mesmo "pseudo-autoral" que invadiu o cinema internacional (sobretudo o norte-americano) contemporâneo. O que vemos aqui, é ausência de conteúdo disfarçada de "experimentalismo". Eu tinha ao menos a esperança de que a trilha sonora de "Frank", pudesse compensar a quase nulidade do filme, mas... Talvez a única coisa digna de nota no filme, seja a leve sátira que ele parece fazer, em alguns momentos, em relação ao egocentrismo exacerbado das jovens estrelas do pop contemporâneo: um universo no qual (não é segredo), muitas vezes, sobra arrogância e pretensão, mas falta talento... Obs: no momento em que vejo até mesmo um ator consagrado como Michael Fassbender participando deste tipo de filme, chego à triste conclusão de que a estética "pseudo-indie" realmente tomou conta do cinema atual...
Quem só conhece a obra de Preminger (como era o meu caso) a partir de dramas densos como "O Homem do Braço de Ouro"(1955) e "Bom Dia, Tristeza"(1958), pode se surpreender c\ o convencionalismo deste western por ele dirigido. Obs: talvez o que mais chame a atenção no filme (quando o vemos c\ os olhos de hoje) é a total ausência de preocupações c\ questões ecológicas ou "politicamente corretas". Ex: o filme já começa c\ o protagonista botando à baixo uma frondosa árvore e, pouco tempo depois, ensina o filho (um garotinho) a manusear um rifle, "por questões de sobrevivência". Além disso, há a cena em que a inusitada família que involuntariamente se forma, captura, dentro do rio, um alce p\ se alimentarem! Obs2: Espero que fique claro que o tom aqui não é de crítica ao filme, pois tenho total consciência que tal roteiro apenas orienta-se pela mentalidade vigente na época em que a trama em questão é ambientada... Obs3: destaque absoluta p\ a presença da deusa, Marilyn Monroe, que simplesmente ilumina a tela a cada vez que entra em cena...
"Às vezes, tenho vontade de dizer à Joey: case-se logo c\ o Michael e desista de tentar ser uma pessoa criativa"... Eis apenas uma amostra acerca da indiscutível genialidade de Allen p\ escrever diálogos acidamente irônicos. Em "Interiores", vemos um dos mais bergmanianos trabalhos de Allen que, em determinados momentos, chega a lembrar "Gritos e Sussurros" do grande mestre sueco, pois também aborda uma complicada convivência entre irmãs, permeada por inveja, frustração, competividade e recalque, mas tudo isso apresentado c\ muita sutileza e amargura. Embora o ritmo do filme seja relativamente lento p\ os padrões norte-americanos, a decupagem é bastante clássica, tanto na escolha dos planos como na montagem utilizada. Obs: quem me dera eu tivesse metade do talento de Allen p\ escrever diálogos que funcionam tão bem ao serem encenados. Ao tentar escrever meus próprios roteiros, posso garantir que isso não é mesmo uma tarefa fácil...
Como sempre ocorre na obra de Jane Campion, o feminismo se faz presente nas entrelinhas, mas, felizmente, não de forma afetada e hipócrita como normalmente ocorre nos filmes contemporâneos ditos "feministas". O trabalho de direção é bastante competente, demonstrando muito bom gosto na escolha dos planos e movimentos de câmera. John Malkovich está bem (como sempre), Nicole Kidman também dá conta do recado, pois ainda não tinha adquirido certos vícios de atuação (como o ato de falar sussurrando) que hoje tanto prejudicam suas performances... No entanto, "Retrato de uma Mulher" erra ao prolongar-se excessivamente no desenvolvimento da trama, tornando-a um tanto cansativa... Destaque p\ a pequena participação do então ainda desconhecido, Christian Bale.
Belíssima fotografia em PB de inspiração nórdica, sim, pois é evidente que tanto a estética quanto a temática de "Ida" assemelham-se à clássica obra de Carl Dreyer. Merece também destaque o competente trabalho de direção. Com exceção do fato de ser "mais um filme cujo roteiro fala sobre o holocausto e o consequente drama judaico", não há mais críticas relevantes a serem feitas ao belo "Ida". A personagem "Wanda" (tia da protagonista) em sua condição de "amiga do povo polonês", pode ser vista como uma metáfora sobre a morte da utopia socialista. Em contrapartida (viagens à parte), a protagonista, em sua condição de "noviça em crise de fé", pode ser vista como a metáfora da "morte de Deus" (no sentido nietzschiano). Obs1: a onipresença da mais bela canção já composta em toda a história da humanidade ("Naima" de John Coltrane), é digna de nota! Obs2: num ano que, indiscutivelmente, foi fraquíssimo p\ o cinema norte-americano, acho até que "Ida" poderia ter concorrido à categoria principal do Oscar, mas já que a caquética academia hollywoodiana prefere premiar a mentira chamada "Birdman"... Fazer o quê?
"Abomino o instinto maternal e tudo o que dele resulta". Assim falou a pouco convencional mãe da protagonista de "Vidas Nuas", filme da fase inicial da carreira do grande Ody Fraga, bem antes dele tornar-se o autêntico intelectual do cinema da Boca. É interessante notar que a estética do filme, ora assemelha-se a das clássicas produções da Vera Cruz; ora assemelha-se a das produções norte-americanas ou européias do subgênero "exploitation", inclusive, por conta da trilha sonora que vai desde o rock instrumental da banda "Os 4 Fugitivos" até John Coltrane! Há marxismo nas entrelinhas do roteiro, bem como questionamento de caráter existencial. E como não poderia deixar de ocorrer numa obra de Ody Fraga, há evidentes críticas à hipocrisia característica do classe medianismo nosso de cada dia...
"É da merda que nasce a epopeia, é deste estado larval que nascem os deuses!" Assim falaram Carlos Reichenbach e Inácio Araújo neste roteiro livremente inspirado em "Fausto" de Goethe. A citação a Eric von Stroheim durante uma inusitada aula de "Simbologia", ministrada pelo sempre ótimo Benjamin Cattan, por si só, já valeria o filme! O roteiro é permeado por diálogos quase "godardianos" fazendo, durante a hilária participação de John Doo na trama, uma clara citação à "A Chinesa" do velho mestre francês. Destaque para as pequenas, mas sempre luminosas participações de Vanessa Alves, Orlando Parolini, Jairo Ferreira e John Doo.
"O sujeito trabalha feito um condenado, ganha uma merreca, paga taxa de proteção pra bandido e tem medo da polícia. Eis o povo: um bando de cagões". Assim falou Reichenbach, em "Garotas do ABC". O filme possui boas ideias e bons personagens: o sindicalista oportunista, as operárias que discriminam suas colegas que buscam "fontes alternativas" de renda, etc. No entanto, nada rende (em termos narrativos) o que poderia render... É visível que o cinema comercial não era mesmo a praia do Carlão... O diretor\roteirista mostra-se um tanto "desengonçado" no desenvolvimento da trama. Obs: o sr. Selton Melo está muito bem na pele do líder neonazista, c\ uma atuação bastante competente que eu já não o via ter há anos! Obs2: as citações a "Zombi" de Lucio Fulci e "M - O Vampiro de Dusseldorf" de Fritz Lang (somente identificáveis por cinéfilos), por si só, já valeriam o filme. Mas é pouco em se tratando de Reichenbach...
Uma agradável surpresa partindo de um filme que, na época de seu lançamento, passou totalmente batido e, provavelmente, nem chegou a ser exibido nos cinemas. Tanto a fotografia de inspiração barroca, como também o estilo de câmera praticamente estático, chegam a lembrar o estilo do cinema de Manoel de Oliveira (será viagem minha pensar isso?). Alessandra Negrini está muito bem em cena, c\ um desempenho bem superior ao de sua equivocada atuação no filme anterior de Bressane ("Cleópatra"); Já o onipresente Selton Melo, tem um desempenho apenas correto... Destaque p\ a singela homenagem indiretamente feita, logo no início do filme, a uma das mais emblemáticas figuras do cinema marginal: o lendário,Guará. Obs: Roman Polanski deveria assistir a este filme p\ aprender como se faz um bom trabalho utilizando apenas 1 locação e 2 atores em cena. Obs2: o dinheiro público destinado aos editais da Petrobrás, deve ser utilizado p\ financiar projetos de caráter experimental (como é o caso de "A Erva do Rato") e não p\ promover filmes de apelo comercial, por razões que julgo serem um tanto óbvias... E tenho dito!
É interessante notar que, embora pareçam serem almas gêmeas, Sganzerla e Bressane possuem lá suas diferenças: Por mais que o cinema do primeiro (Sganzerla) possuísse um caráter bastante experimental, havia um evidente e confesso interesse comercial em sua produções (ainda que nem sempre tal objetivo fosse alcançado); já no caso do segundo (Bressane), não havia qualquer preocupação c\ a viabilidade comercial de seus projetos (fato comprovado, inclusive, pelo crítico Inácio Araújo). Em "Cuidado, Madame", por exemplo, vemos um filme totalmente rodado c\ câmera na mão e sem qualquer preocupação c\ a linearidade ou mesmo verossimilhança da trama, afinal, a figura de Helena Ignez "ressuscita" diversas vezes no decorrer do filme, sempre na pele de diferentes personagens. O frequente diálogo c\ a música popular, bem como a crítica debochada ao autoritarismo característico da sociedade brasileira, como sempre ocorreu na obra de Bressane, se faz aqui presente. Obs: em determinados momentos do filme, a inexperiência técnica do diretor é visível, mas é compensada por muita ousadia e criatividade. Obs2: Helena Ignez acabou se tornando a musa eterna do cinema marginal, mas, Maria Gladys (também presente no filme) não teve menor importância ao movimento, no entanto, acabou migrando p\ a televisão e, dentro de pouco tempo, caiu no esquecimento...
É fato que Braz Chediak obteve resultados bem melhores ao adaptar p\ o cinema peças de Nelson Rodrigues ("Bonitinha, mas Ordinária", "Perdoa-me por me Traíres", etc) do que ao adaptar esse romance de José Mauro de Vasconcelos (em parceria c\ Nelson Xavier). Nem mesmo o tema choque cultural X interação entre brancos e índios é bem aproveitado na trama... Com exceção do belo trabalho de fotografia e da linda trilha sonora composta por Egberto Gismonti, pouco se destaca... É também louvável a boa atuação de Norma Bengell (que só se manifesta de fato, nos momentos finais do filme). É também curioso notar as funções exercidas pelo ator Nelson Xavier (assistente de direção), pelo cineasta Victor Lima (cenografia) e pelo cineasta Domingos de Oliveira (maquinista).
A primeira pergunta que surge após assistir "Relatos Selvagens" é: Por que o cinema brasileiro contemporâneo não é capaz de produzir algo assim? O filme pode até ser um tanto irregular, há episódios excelentes, tais como o protagonizado por Ricardo Darín (o "engenheiro bomba") e também aquele no qual um humilde empregado é contratado p\ assumir a culpa por um acidente cometido por seu patrão; outros episódios, não são tão bons, mas em termos gerais, o filme é bem interessante e muito bem executado em termos técnicos. Num ano que, indiscutivelmente, foi fraquíssimo p\ o cinema norte-americano, creio até que "Relatos Selvagens" poderia tranquilamente ter concorrido ao Oscar de melhor filme, mas na categoria principal! Obs: o "filme de gênero" praticamente inexiste no cinema brasileiro contemporâneo, c\ exceção daquela versão deturpada e estereotipada produzida pela "monopolizações Globo". É mesmo uma pena que em terras tupiniquins o ato de fazer cinema tenha se tornado uma coisa destinada apenas aos bem-nascidos que fazem cinema, unicamente, p\ alimentar seus egos inflados... Para aqueles que, assim como eu, ainda se perguntam por que o cinema argentino possui tanta vitalidade e diversidade em termos de produção, farei minhas as palavras do diretor, Pablo Trapero, pronunciadas durante um debate organizado pelo Cinesesc: "Porque o povo argentino possui cultura cinematográfica; o cineclubismo sempre fez parte da história da Argentina, não por acaso, somente em Buenos Aires, há dezenas de escolas de cinema"... É preciso dizer mais alguma coisa?
Luís Sérgio Person, uma figura ímpar no cinema brasileiro: seus primeiros filmes "São Paulo S.A."(1965) e "O Caso dos Irmãos Naves"(1967), devido ao seu evidente teor político, o aproximaram do Cinema Novo (embora o diretor nunca tenha se filiado oficialmente ao movimento), por outro lado, Person foi um dos precursores do cinema publicitário no Brasil. O jovem diretor encerrou prematuramente sua carreira c\ "Cassy Jones, o Magnífico Sedutor"(1971), um trabalho bem mais experimental, psicodélico, c\ uma narrativa não necessariamente linear, fazendo uso de metalinguagem ao parodiar clássicos (até então recentes) do cinema internacional: "Psicose", Fellini Oito e Meio", etc. Tanto a estética quanto a linguagem que caracterizam "Cassy Jones" assemelham-se aos filmes do chamado "Free Cinema" britânico, produzidos em meados dos anos 60. No entanto, as cenas de nudez (ousadas p\ os padrões da época), bem como o humor chanchadesco do filme, fazem de "Cassy Jones" quase que um precursor involuntário das pornochanchadas que se tornariam populares em meados dos anos 70. Merecem destaque a bela fotografia (a cargo do futuro cineasta Oswaldo de Oliveira) explorando a saturação característica do technicolor; a criativa montagem fazendo uso, pioneiro no Brasil, do "falso movimento" dos personagens; e também a presença da charmosíssima Sandra Bréa, ainda muito jovem...
Iñarritu passou de sua fase chorosa ("21 Gramas", "Babel") p\ esta espécie de "comédia-dramática" onde pouca coisa funciona ou se destaca... Mas "Birdman" tem lá seus méritos: o trabalho de direção é competente, caracterizado por uma câmera onipresente por meio de vários pseudo-plano-sequências (graças a truques de edição). É também fato que Edward Norton está muito bem (quase que interpretando a si mesmo) e a novata, Emma Stone, também não faz feio... Michael Keaton está bem como protagonista, mas não sei se vejo aqui uma atuação digna de um Oscar... Já Naomi Watts (que um dia já foi boa atriz), nos últimos anos, desenvolveu um estilo de "atuação genérica" que eu considero insuportável! Em suma, o humor que se tenta imprimir ao roteiro, poucas vezes funciona... A ideia central da trama é boa, mas mal desenvolvida, pois o diretor\ roteirista parece padecer de "complexo de culpa" ao estar satirizando a mesma indústria da qual ele (Iñarritu) hoje faz parte...
Assemelha-se bastante ao estilo de Sergei Loznitsa (tanto pelo tema abordado como também pelo estilo de direção). "Leviatã" fala sobre uma Rússia contemporânea (pós-socialista) dominada por autoritarismo político e corrupção. Obs: qualquer semelhança c\ um certo país ao qual conhecemos bem, não é mera coincidência... (risos). O estilo de direção é tipicamente europeu, caracterizado por planos longos e sutis movimentos de câmera. Obs2: num ano que foi fraquíssimo para o cinema norte-americano (vide os indicados ao Oscar 2015), acho até que Leviatã deveria estar entre os indicados a melhor filme, mas na categoria principal, e não apenas na categoria de filme estrangeiro. Obs3: "Leviatã" não é um filme perfeito, peca, inclusive, pela duração excessiva, mas é superior a 90% dos indicados ao Oscar de melhor filme. Alguém aí duvida?
Um bom trabalho de José Miziara (uma impagável figura a quem tive o prazer de entrevistar recentemente). Filme de gênero (comédia) que se assume como tal e que, apesar de seu humor de extremo apelo popular, consegue mostrar inteligência ao retratar e satirizar os mais característicos tipos da classe média brasileira (sobretudo a paulista) e sua hipocrisia cotidiana. O filme é politicamente incorreto no modo como retrata os homossexuais e machista em relação às mulheres? Sim, mas as telenovelas também não o são na forma como representam tais grupos sociais? Aliás, Deus me livre de viver sob a ditadura do politicamente correto que impera nos dias de hoje! Obs: é interessante observar como as aberrações hoje produzidas pela monopolizações Globo (que até já receberam o sugestivo apelido de "globochanchadas"), embora custem muito mais caro, não são capazes de alcançar um terço da eficiência e criatividade (em termos de humor) das boas e velhas pornochanchadas do cinema da Boca...
Nem mesmo o grande Roman Polanski foi capaz de produzir um grande filme utilizando apenas 1 locação e 2 atores em cena. O que se vê em "A Pele de Vênus" é o desperdício de dois ótimos atores num exercício de erudição vazia. Obs: Jess Franco e Joseph Marzano fizeram coisas bem mais interessantes tendo como base o texto de Masoch...
Há grandes furos no roteiro, isto é inegável, a começar pela mal explicada sobrevivência do garoto (vivido por Fabrício Cavalcanti) após o assassinato de seu pai. Algumas atuações são sofríveis, etc. No entanto, o trabalho de direção é competente, a fotografia é ok, etc. Obs: é preciso dar um desconto às limitações e falhas presentes em "O Porão das Condenadas", pois é preciso lembrar que trata-se de um trabalho executado por autodidatas e o que é mais louvável: produzido c\ recursos próprios, sem a mamata oferecida a cineastas bem nascidos pela "vovó" Embrafilme e, muito menos, pela "mamãe" Petrobrás. Trata-se de um filme de gênero (policial) c\ claras referências aos violentos faroestes italianos, a começar pela trilha sonora. Ah que saudade da época em que o cinema brasileiro não era dominado por cineastas pseudo-engajados (milionários que falam sobre miséria) que desprezam totalmente o bom e velho "cinema de gênero" em favor de projetos "autorais" (alguns muito bons: "Amarelo Manga", outros péssimos: "Eles Voltam"). Vaidade e oportunismo: eis o karma do cinema brasileiro contemporâneo...
A máfia sempre atuou (e ainda atua) nos bastidores da vida política italiana. E, por isso mesmo, sobretudo na época aqui retratada, a sociedade italiana se vê refém de uma mentalidade conservadora, autoritária e machista. É antológica nesse sentido a cena em que até mesmo o padre da igreja local, mostra-se conivente à ideia de que o importante é manter as aparências por meio do matrimônio e, quando questionado pela jovem garota sobre a impossibilidade da felicidade conjugal, rebate: "E quem aqui está falando em felicidade? Eu falo em manutenção da família!" Destaque p\ a presença da jovem e bela Ornella Muti, um verdadeiro objeto de fetiche...
Claramente influenciado pela estética da nouvelle vague francesa. Não chega a ser uma obra-prima se comparado aos melhores trabalhos da fase experimental e psicodélica de Tinto Brass: "Com o Coração na Garganta"(1967) e "Nerosubianco"(1969). No entanto, o estilo que caracterizaria a melhor fase do grande Tinto, já começa a ser aqui desenhada, por meio de uma verdadeira aula de direção pontuada por lindos planos fechados e enquadramentos perfeitos! Destaque também p\ o ótimo trabalho de montagem a cargo do próprio diretor. Obs: um filme no qual a igreja católica é descrita como "a sede da polícia religiosa", só por isso, já mereceria o meu respeito!
Belíssima fotografia de inspiração barroca (sobretudo nas cenas iniciais) e que explora a saturação característica do technicolor. Recadinho p\ os adeptos do patrulhamento ideológico que, normalmente, não fazem ideia do que seja cinema em termos técnicos e, por isso, mesmo veem em "Rastros de Ódio" apenas "um velho filme fascista": os norte-americanos não inventaram o maniqueísmo e nem mesmo a parcialidade na observação da realidade. Pensem nisso...
"Estou cansada de atuar sobre um fundo verde e suspensa por cabos"... Assim falou a pretensiosa estrela de cinema, vivida por Juliette Binoche, em "Acima das Nuvens". Aliás, o filme de monsieur Assayas, caracteriza-se por pretensão e ambiguidade, o tempo todo... É difícil saber até que ponto o diretor\roteirista de fato concorda c\ a visão extremamente desdenhosa que sua protagonista manifesta em relação ao cinema comercial. Poderia ele (o diretor), na verdade, estar satirizando tal postura de total desprezo pelo cinema de entretenimento, manifesto na fala de sua personagem? Afinal, ele próprio já dirigiu um filme (bem ruim, aliás) de evidente caráter comercial: "Traição em Hong Kong". De resto, dizer que Juliette Binoche é mesmo uma grande atriz, seria chover no molhado, pois disso, até o mais boçal dos seres vivos já está cansado de saber... Portanto, talvez o grande mérito de "Acima das Nuvens" seja mesmo o de provar que Kristen Stewart pode, sim, ser uma atriz de verdade! Obs: a jovem Chloe Grace Moretz também não faz feio...
O comentário que mais tenho ouvido por parte de colegas meus (fãs de Tim Burton) é que "o filme não tem a cara do Tim Burton". Ao que eu responderia: Sim, é verdade, mas e daí? Acho até bem saudável que o velho Tim tenha se libertado (temporariamente) da manjada estética pseudo-expressionista pasteurizada que caracteriza a maior parte de sua filmografia. Mas no que se refere ao filme "Grandes Olhos" propriamente dito, fiquei pasmo ao saber que a caquética "academia" hollywoodiana nem mesmo o indicou à categoria de melhor direção de arte. Como isso é possível? O fato é que, logo nos primeiros 5 minutos de filme, fiquei embasbacado c\ a extrema qualidade e bom gosto na escolha da paleta de cores em tons pastéis que compõe a cenografia e os figurinos do filme. Aliás, os méritos do filme não se restringem ao seu belíssimo trabalho de direção de arte, pois o bom roteiro aborda temas importantíssimos, tais como: emancipação feminina, transformação da arte em mercadoria, etc. Obs: adorei aquela cena na qual o dono de uma esnobe galeria de arte, diz ao personagem vivido por Christoph Waltz: "tire logo isso daqui, antes que a patrulha do bom gosto apareça". Afinal, tal cena ilustra c\ a perfeição a ideia de que uma obra de arte, só é de fato reconhecida como obra de arte, quando situada numa esnobe galeria e, em seguida, legitimada pelo aval de um crítico renomado. Em outras palavras, tanto no período retratado como nos dias de hoje, somente a ditadura do "bom gosto" pode dizer o que é bom em termos de arte. Lamentável...
Lenny
4.0 45"Não, eu não quero destruir a moral vigente, até porque, num mundo perfeito, onde não houvesse preconceito em relação às minorias ou qualquer tipo de desigualdade, eu perderia meu ganha-pão, pois não teria matéria-prima p\ meu trabalho"... Assim falou (ironicamente) Lenny Bruce. Embora pouco conhecido em terras tupiniquins, Bruce nos demonstra que as origens da hoje tão comentada (e já desgastada) "stand up comedy", remontam a um período histórico bem anterior ao que muitos imaginam... Também é interessante notar que o "stand up" produziu desde um gênio transgressor como Lenny Bruce, até o insuportável Rafinha Bastos! Obs: ao contrário do que diz o famoso verso do hino norte-americano, a "doce terra da liberdade" não costuma ser muita hospitaleira e compreensiva c\ aqueles que desafiam seu falso-moralismo característico...
Frank
3.7 599 Assista AgoraUm típico representante da irritante tendência "pseudo-indie" ou até mesmo "pseudo-autoral" que invadiu o cinema internacional (sobretudo o norte-americano) contemporâneo. O que vemos aqui, é ausência de conteúdo disfarçada de "experimentalismo". Eu tinha ao menos a esperança de que a trilha sonora de "Frank", pudesse compensar a quase nulidade do filme, mas... Talvez a única coisa digna de nota no filme, seja a leve sátira que ele parece fazer, em alguns momentos, em relação ao egocentrismo exacerbado das jovens estrelas do pop contemporâneo: um universo no qual (não é segredo), muitas vezes, sobra arrogância e pretensão, mas falta talento... Obs: no momento em que vejo até mesmo um ator consagrado como Michael Fassbender participando deste tipo de filme, chego à triste conclusão de que a estética "pseudo-indie" realmente tomou conta do cinema atual...
O Rio das Almas Perdidas
3.5 86Quem só conhece a obra de Preminger (como era o meu caso) a partir de dramas densos como "O Homem do Braço de Ouro"(1955) e "Bom Dia, Tristeza"(1958), pode se surpreender c\ o convencionalismo deste western por ele dirigido. Obs: talvez o que mais chame a atenção no filme (quando o vemos c\ os olhos de hoje) é a total ausência de preocupações c\ questões ecológicas ou "politicamente corretas". Ex: o filme já começa c\ o protagonista botando à baixo uma frondosa árvore e, pouco tempo depois, ensina o filho (um garotinho) a manusear um rifle, "por questões de sobrevivência". Além disso, há a cena em que a inusitada família que involuntariamente se forma, captura, dentro do rio, um alce p\ se alimentarem! Obs2: Espero que fique claro que o tom aqui não é de crítica ao filme, pois tenho total consciência que tal roteiro apenas orienta-se pela mentalidade vigente na época em que a trama em questão é ambientada... Obs3: destaque absoluta p\ a presença da deusa, Marilyn Monroe, que simplesmente ilumina a tela a cada vez que entra em cena...
Interiores
4.0 230"Às vezes, tenho vontade de dizer à Joey: case-se logo c\ o Michael e desista de tentar ser uma pessoa criativa"... Eis apenas uma amostra acerca da indiscutível genialidade de Allen p\ escrever diálogos acidamente irônicos. Em "Interiores", vemos um dos mais bergmanianos trabalhos de Allen que, em determinados momentos, chega a lembrar "Gritos e Sussurros" do grande mestre sueco, pois também aborda uma complicada convivência entre irmãs, permeada por inveja, frustração, competividade e recalque, mas tudo isso apresentado c\ muita sutileza e amargura. Embora o ritmo do filme seja relativamente lento p\ os padrões norte-americanos, a decupagem é bastante clássica, tanto na escolha dos planos como na montagem utilizada. Obs: quem me dera eu tivesse metade do talento de Allen p\ escrever diálogos que funcionam tão bem ao serem encenados. Ao tentar escrever meus próprios roteiros, posso garantir que isso não é mesmo uma tarefa fácil...
Retratos de Uma Mulher
3.1 29Como sempre ocorre na obra de Jane Campion, o feminismo se faz presente nas entrelinhas, mas, felizmente, não de forma afetada e hipócrita como normalmente ocorre nos filmes contemporâneos ditos "feministas". O trabalho de direção é bastante competente, demonstrando muito bom gosto na escolha dos planos e movimentos de câmera. John Malkovich está bem (como sempre), Nicole Kidman também dá conta do recado, pois ainda não tinha adquirido certos vícios de atuação (como o ato de falar sussurrando) que hoje tanto prejudicam suas performances... No entanto, "Retrato de uma Mulher" erra ao prolongar-se excessivamente no desenvolvimento da trama, tornando-a um tanto cansativa... Destaque p\ a pequena participação do então ainda desconhecido, Christian Bale.
Ida
3.7 439Belíssima fotografia em PB de inspiração nórdica, sim, pois é evidente que tanto a estética quanto a temática de "Ida" assemelham-se à clássica obra de Carl Dreyer. Merece também destaque o competente trabalho de direção. Com exceção do fato de ser "mais um filme cujo roteiro fala sobre o holocausto e o consequente drama judaico", não há mais críticas relevantes a serem feitas ao belo "Ida". A personagem "Wanda" (tia da protagonista) em sua condição de "amiga do povo polonês", pode ser vista como uma metáfora sobre a morte da utopia socialista. Em contrapartida (viagens à parte), a protagonista, em sua condição de "noviça em crise de fé", pode ser vista como a metáfora da "morte de Deus" (no sentido nietzschiano). Obs1: a onipresença da mais bela canção já composta em toda a história da humanidade ("Naima" de John Coltrane), é digna de nota! Obs2: num ano que, indiscutivelmente, foi fraquíssimo p\ o cinema norte-americano, acho até que "Ida" poderia ter concorrido à categoria principal do Oscar, mas já que a caquética academia hollywoodiana prefere premiar a mentira chamada "Birdman"... Fazer o quê?
Vidas Nuas
2.5 8"Abomino o instinto maternal e tudo o que dele resulta". Assim falou a pouco convencional mãe da protagonista de "Vidas Nuas", filme da fase inicial da carreira do grande Ody Fraga, bem antes dele tornar-se o autêntico intelectual do cinema da Boca. É interessante notar que a estética do filme, ora assemelha-se a das clássicas produções da Vera Cruz; ora assemelha-se a das produções norte-americanas ou européias do subgênero "exploitation", inclusive, por conta da trilha sonora que vai desde o rock instrumental da banda "Os 4 Fugitivos" até John Coltrane! Há marxismo nas entrelinhas do roteiro, bem como questionamento de caráter existencial. E como não poderia deixar de ocorrer numa obra de Ody Fraga, há evidentes críticas à hipocrisia característica do classe medianismo nosso de cada dia...
Filme Demência
4.0 43 Assista Agora"É da merda que nasce a epopeia, é deste estado larval que nascem os deuses!" Assim falaram Carlos Reichenbach e Inácio Araújo neste roteiro livremente inspirado em "Fausto" de Goethe. A citação a Eric von Stroheim durante uma inusitada aula de "Simbologia", ministrada pelo sempre ótimo Benjamin Cattan, por si só, já valeria o filme! O roteiro é permeado por diálogos quase "godardianos" fazendo, durante a hilária participação de John Doo na trama, uma clara citação à "A Chinesa" do velho mestre francês. Destaque para as pequenas, mas sempre luminosas participações de Vanessa Alves, Orlando Parolini, Jairo Ferreira e John Doo.
Garotas do ABC
3.3 31"O sujeito trabalha feito um condenado, ganha uma merreca, paga taxa de proteção pra bandido e tem medo da polícia. Eis o povo: um bando de cagões". Assim falou Reichenbach, em "Garotas do ABC". O filme possui boas ideias e bons personagens: o sindicalista oportunista, as operárias que discriminam suas colegas que buscam "fontes alternativas" de renda, etc. No entanto, nada rende (em termos narrativos) o que poderia render... É visível que o cinema comercial não era mesmo a praia do Carlão... O diretor\roteirista mostra-se um tanto "desengonçado" no desenvolvimento da trama. Obs: o sr. Selton Melo está muito bem na pele do líder neonazista, c\ uma atuação bastante competente que eu já não o via ter há anos! Obs2: as citações a "Zombi" de Lucio Fulci e "M - O Vampiro de Dusseldorf" de Fritz Lang (somente identificáveis por cinéfilos), por si só, já valeriam o filme. Mas é pouco em se tratando de Reichenbach...
A Erva do Rato
3.2 96 Assista AgoraUma agradável surpresa partindo de um filme que, na época de seu lançamento, passou totalmente batido e, provavelmente, nem chegou a ser exibido nos cinemas. Tanto a fotografia de inspiração barroca, como também o estilo de câmera praticamente estático, chegam a lembrar o estilo do cinema de Manoel de Oliveira (será viagem minha pensar isso?). Alessandra Negrini está muito bem em cena, c\ um desempenho bem superior ao de sua equivocada atuação no filme anterior de Bressane ("Cleópatra"); Já o onipresente Selton Melo, tem um desempenho apenas correto... Destaque p\ a singela homenagem indiretamente feita, logo no início do filme, a uma das mais emblemáticas figuras do cinema marginal: o lendário,Guará. Obs: Roman Polanski deveria assistir a este filme p\ aprender como se faz um bom trabalho utilizando apenas 1 locação e 2 atores em cena. Obs2: o dinheiro público destinado aos editais da Petrobrás, deve ser utilizado p\ financiar projetos de caráter experimental (como é o caso de "A Erva do Rato") e não p\ promover filmes de apelo comercial, por razões que julgo serem um tanto óbvias... E tenho dito!
Cuidado, Madame
3.8 14É interessante notar que, embora pareçam serem almas gêmeas, Sganzerla e Bressane possuem lá suas diferenças: Por mais que o cinema do primeiro (Sganzerla) possuísse um caráter bastante experimental, havia um evidente e confesso interesse comercial em sua produções (ainda que nem sempre tal objetivo fosse alcançado); já no caso do segundo (Bressane), não havia qualquer preocupação c\ a viabilidade comercial de seus projetos (fato comprovado, inclusive, pelo crítico Inácio Araújo). Em "Cuidado, Madame", por exemplo, vemos um filme totalmente rodado c\ câmera na mão e sem qualquer preocupação c\ a linearidade ou mesmo verossimilhança da trama, afinal, a figura de Helena Ignez "ressuscita" diversas vezes no decorrer do filme, sempre na pele de diferentes personagens. O frequente diálogo c\ a música popular, bem como a crítica debochada ao autoritarismo característico da sociedade brasileira, como sempre ocorreu na obra de Bressane, se faz aqui presente. Obs: em determinados momentos do filme, a inexperiência técnica do diretor é visível, mas é compensada por muita ousadia e criatividade. Obs2: Helena Ignez acabou se tornando a musa eterna do cinema marginal, mas, Maria Gladys (também presente no filme) não teve menor importância ao movimento, no entanto, acabou migrando p\ a televisão e, dentro de pouco tempo, caiu no esquecimento...
As Confissões de Frei Abóbora
2.7 3É fato que Braz Chediak obteve resultados bem melhores ao adaptar p\ o cinema peças de Nelson Rodrigues ("Bonitinha, mas Ordinária", "Perdoa-me por me Traíres", etc) do que ao adaptar esse romance de José Mauro de Vasconcelos (em parceria c\ Nelson Xavier). Nem mesmo o tema choque cultural X interação entre brancos e índios é bem aproveitado na trama... Com exceção do belo trabalho de fotografia e da linda trilha sonora composta por Egberto Gismonti, pouco se destaca... É também louvável a boa atuação de Norma Bengell (que só se manifesta de fato, nos momentos finais do filme). É também curioso notar as funções exercidas pelo ator Nelson Xavier (assistente de direção), pelo cineasta Victor Lima (cenografia) e pelo cineasta Domingos de Oliveira (maquinista).
Relatos Selvagens
4.4 2,9K Assista AgoraA primeira pergunta que surge após assistir "Relatos Selvagens" é: Por que o cinema brasileiro contemporâneo não é capaz de produzir algo assim? O filme pode até ser um tanto irregular, há episódios excelentes, tais como o protagonizado por Ricardo Darín (o "engenheiro bomba") e também aquele no qual um humilde empregado é contratado p\ assumir a culpa por um acidente cometido por seu patrão; outros episódios, não são tão bons, mas em termos gerais, o filme é bem interessante e muito bem executado em termos técnicos. Num ano que, indiscutivelmente, foi fraquíssimo p\ o cinema norte-americano, creio até que "Relatos Selvagens" poderia tranquilamente ter concorrido ao Oscar de melhor filme, mas na categoria principal! Obs: o "filme de gênero" praticamente inexiste no cinema brasileiro contemporâneo, c\ exceção daquela versão deturpada e estereotipada produzida pela "monopolizações Globo". É mesmo uma pena que em terras tupiniquins o ato de fazer cinema tenha se tornado uma coisa destinada apenas aos bem-nascidos que fazem cinema, unicamente, p\ alimentar seus egos inflados... Para aqueles que, assim como eu, ainda se perguntam por que o cinema argentino possui tanta vitalidade e diversidade em termos de produção, farei minhas as palavras do diretor, Pablo Trapero, pronunciadas durante um debate organizado pelo Cinesesc: "Porque o povo argentino possui cultura cinematográfica; o cineclubismo sempre fez parte da história da Argentina, não por acaso, somente em Buenos Aires, há dezenas de escolas de cinema"... É preciso dizer mais alguma coisa?
Cassy Jones, o Magnífico Sedutor
3.1 15 Assista AgoraLuís Sérgio Person, uma figura ímpar no cinema brasileiro: seus primeiros filmes "São Paulo S.A."(1965) e "O Caso dos Irmãos Naves"(1967), devido ao seu evidente teor político, o aproximaram do Cinema Novo (embora o diretor nunca tenha se filiado oficialmente ao movimento), por outro lado, Person foi um dos precursores do cinema publicitário no Brasil. O jovem diretor encerrou prematuramente sua carreira c\ "Cassy Jones, o Magnífico Sedutor"(1971), um trabalho bem mais experimental, psicodélico, c\ uma narrativa não necessariamente linear, fazendo uso de metalinguagem ao parodiar clássicos (até então recentes) do cinema internacional: "Psicose", Fellini Oito e Meio", etc. Tanto a estética quanto a linguagem que caracterizam "Cassy Jones" assemelham-se aos filmes do chamado "Free Cinema" britânico, produzidos em meados dos anos 60. No entanto, as cenas de nudez (ousadas p\ os padrões da época), bem como o humor chanchadesco do filme, fazem de "Cassy Jones" quase que um precursor involuntário das pornochanchadas que se tornariam populares em meados dos anos 70. Merecem destaque a bela fotografia (a cargo do futuro cineasta Oswaldo de Oliveira) explorando a saturação característica do technicolor; a criativa montagem fazendo uso, pioneiro no Brasil, do "falso movimento" dos personagens; e também a presença da charmosíssima Sandra Bréa, ainda muito jovem...
Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)
3.8 3,4K Assista AgoraIñarritu passou de sua fase chorosa ("21 Gramas", "Babel") p\ esta espécie de "comédia-dramática" onde pouca coisa funciona ou se destaca... Mas "Birdman" tem lá seus méritos: o trabalho de direção é competente, caracterizado por uma câmera onipresente por meio de vários pseudo-plano-sequências (graças a truques de edição). É também fato que Edward Norton está muito bem (quase que interpretando a si mesmo) e a novata, Emma Stone, também não faz feio... Michael Keaton está bem como protagonista, mas não sei se vejo aqui uma atuação digna de um Oscar... Já Naomi Watts (que um dia já foi boa atriz), nos últimos anos, desenvolveu um estilo de "atuação genérica" que eu considero insuportável! Em suma, o humor que se tenta imprimir ao roteiro, poucas vezes funciona... A ideia central da trama é boa, mas mal desenvolvida, pois o diretor\ roteirista parece padecer de "complexo de culpa" ao estar satirizando a mesma indústria da qual ele (Iñarritu) hoje faz parte...
Leviatã
3.8 299Assemelha-se bastante ao estilo de Sergei Loznitsa (tanto pelo tema abordado como também pelo estilo de direção). "Leviatã" fala sobre uma Rússia contemporânea (pós-socialista) dominada por autoritarismo político e corrupção. Obs: qualquer semelhança c\ um certo país ao qual conhecemos bem, não é mera coincidência... (risos). O estilo de direção é tipicamente europeu, caracterizado por planos longos e sutis movimentos de câmera. Obs2: num ano que foi fraquíssimo para o cinema norte-americano (vide os indicados ao Oscar 2015), acho até que Leviatã deveria estar entre os indicados a melhor filme, mas na categoria principal, e não apenas na categoria de filme estrangeiro. Obs3: "Leviatã" não é um filme perfeito, peca, inclusive, pela duração excessiva, mas é superior a 90% dos indicados ao Oscar de melhor filme. Alguém aí duvida?
Os Rapazes da Difícil Vida Fácil
2.5 6Um bom trabalho de José Miziara (uma impagável figura a quem tive o prazer de entrevistar recentemente). Filme de gênero (comédia) que se assume como tal e que, apesar de seu humor de extremo apelo popular, consegue mostrar inteligência ao retratar e satirizar os mais característicos tipos da classe média brasileira (sobretudo a paulista) e sua hipocrisia cotidiana. O filme é politicamente incorreto no modo como retrata os homossexuais e machista em relação às mulheres? Sim, mas as telenovelas também não o são na forma como representam tais grupos sociais? Aliás, Deus me livre de viver sob a ditadura do politicamente correto que impera nos dias de hoje! Obs: é interessante observar como as aberrações hoje produzidas pela monopolizações Globo (que até já receberam o sugestivo apelido de "globochanchadas"), embora custem muito mais caro, não são capazes de alcançar um terço da eficiência e criatividade (em termos de humor) das boas e velhas pornochanchadas do cinema da Boca...
A Pele de Vênus
4.0 218 Assista AgoraNem mesmo o grande Roman Polanski foi capaz de produzir um grande filme utilizando apenas 1 locação e 2 atores em cena. O que se vê em "A Pele de Vênus" é o desperdício de dois ótimos atores num exercício de erudição vazia. Obs: Jess Franco e Joseph Marzano fizeram coisas bem mais interessantes tendo como base o texto de Masoch...
O Porão das Condenadas
2.9 10Há grandes furos no roteiro, isto é inegável, a começar pela mal explicada sobrevivência do garoto (vivido por Fabrício Cavalcanti) após o assassinato de seu pai. Algumas atuações são sofríveis, etc. No entanto, o trabalho de direção é competente, a fotografia é ok, etc. Obs: é preciso dar um desconto às limitações e falhas presentes em "O Porão das Condenadas", pois é preciso lembrar que trata-se de um trabalho executado por autodidatas e o que é mais louvável: produzido c\ recursos próprios, sem a mamata oferecida a cineastas bem nascidos pela "vovó" Embrafilme e, muito menos, pela "mamãe" Petrobrás. Trata-se de um filme de gênero (policial) c\ claras referências aos violentos faroestes italianos, a começar pela trilha sonora. Ah que saudade da época em que o cinema brasileiro não era dominado por cineastas pseudo-engajados (milionários que falam sobre miséria) que desprezam totalmente o bom e velho "cinema de gênero" em favor de projetos "autorais" (alguns muito bons: "Amarelo Manga", outros péssimos: "Eles Voltam"). Vaidade e oportunismo: eis o karma do cinema brasileiro contemporâneo...
Por Amor ou Vingança
3.4 5A máfia sempre atuou (e ainda atua) nos bastidores da vida política italiana. E, por isso mesmo, sobretudo na época aqui retratada, a sociedade italiana se vê refém de uma mentalidade conservadora, autoritária e machista. É antológica nesse sentido a cena em que até mesmo o padre da igreja local, mostra-se conivente à ideia de que o importante é manter as aparências por meio do matrimônio e, quando questionado pela jovem garota sobre a impossibilidade da felicidade conjugal, rebate: "E quem aqui está falando em felicidade? Eu falo em manutenção da família!" Destaque p\ a presença da jovem e bela Ornella Muti, um verdadeiro objeto de fetiche...
Quem Trabalha está Perdido
3.4 4Claramente influenciado pela estética da nouvelle vague francesa. Não chega a ser uma obra-prima se comparado aos melhores trabalhos da fase experimental e psicodélica de Tinto Brass: "Com o Coração na Garganta"(1967) e "Nerosubianco"(1969). No entanto, o estilo que caracterizaria a melhor fase do grande Tinto, já começa a ser aqui desenhada, por meio de uma verdadeira aula de direção pontuada por lindos planos fechados e enquadramentos perfeitos! Destaque também p\ o ótimo trabalho de montagem a cargo do próprio diretor. Obs: um filme no qual a igreja católica é descrita como "a sede da polícia religiosa", só por isso, já mereceria o meu respeito!
Rastros de Ódio
4.1 266 Assista AgoraBelíssima fotografia de inspiração barroca (sobretudo nas cenas iniciais) e que explora a saturação característica do technicolor. Recadinho p\ os adeptos do patrulhamento ideológico que, normalmente, não fazem ideia do que seja cinema em termos técnicos e, por isso, mesmo veem em "Rastros de Ódio" apenas "um velho filme fascista": os norte-americanos não inventaram o maniqueísmo e nem mesmo a parcialidade na observação da realidade. Pensem nisso...
Acima das Nuvens
3.6 400"Estou cansada de atuar sobre um fundo verde e suspensa por cabos"... Assim falou a pretensiosa estrela de cinema, vivida por Juliette Binoche, em "Acima das Nuvens". Aliás, o filme de monsieur Assayas, caracteriza-se por pretensão e ambiguidade, o tempo todo... É difícil saber até que ponto o diretor\roteirista de fato concorda c\ a visão extremamente desdenhosa que sua protagonista manifesta em relação ao cinema comercial. Poderia ele (o diretor), na verdade, estar satirizando tal postura de total desprezo pelo cinema de entretenimento, manifesto na fala de sua personagem? Afinal, ele próprio já dirigiu um filme (bem ruim, aliás) de evidente caráter comercial: "Traição em Hong Kong". De resto, dizer que Juliette Binoche é mesmo uma grande atriz, seria chover no molhado, pois disso, até o mais boçal dos seres vivos já está cansado de saber... Portanto, talvez o grande mérito de "Acima das Nuvens" seja mesmo o de provar que Kristen Stewart pode, sim, ser uma atriz de verdade! Obs: a jovem Chloe Grace Moretz também não faz feio...
Grandes Olhos
3.8 1,1K Assista grátisO comentário que mais tenho ouvido por parte de colegas meus (fãs de Tim Burton) é que "o filme não tem a cara do Tim Burton". Ao que eu responderia: Sim, é verdade, mas e daí? Acho até bem saudável que o velho Tim tenha se libertado (temporariamente) da manjada estética pseudo-expressionista pasteurizada que caracteriza a maior parte de sua filmografia. Mas no que se refere ao filme "Grandes Olhos" propriamente dito, fiquei pasmo ao saber que a caquética "academia" hollywoodiana nem mesmo o indicou à categoria de melhor direção de arte. Como isso é possível? O fato é que, logo nos primeiros 5 minutos de filme, fiquei embasbacado c\ a extrema qualidade e bom gosto na escolha da paleta de cores em tons pastéis que compõe a cenografia e os figurinos do filme. Aliás, os méritos do filme não se restringem ao seu belíssimo trabalho de direção de arte, pois o bom roteiro aborda temas importantíssimos, tais como: emancipação feminina, transformação da arte em mercadoria, etc. Obs: adorei aquela cena na qual o dono de uma esnobe galeria de arte, diz ao personagem vivido por Christoph Waltz: "tire logo isso daqui, antes que a patrulha do bom gosto apareça". Afinal, tal cena ilustra c\ a perfeição a ideia de que uma obra de arte, só é de fato reconhecida como obra de arte, quando situada numa esnobe galeria e, em seguida, legitimada pelo aval de um crítico renomado. Em outras palavras, tanto no período retratado como nos dias de hoje, somente a ditadura do "bom gosto" pode dizer o que é bom em termos de arte. Lamentável...