"O Rei de Nova York", dirigido por Abel Ferrara e lançado em 1990, filme que eu via direto no saudoso Intercine da Globo, logo após o Programa do Jô, e sempre ficava fascinado com a estética estilizada, quase cyberpunk, como já mencionado, e a sua atmosfera crua e visceral. É um filme que mergulha nas profundezas do submundo do crime da cidade de Nova York. O que o Abel Ferrara faz aqui é nos apresentar uma visão sombria e implacável do poder, da ganância e da corrupção que permeiam a vida dos protagonistas.
Christopher Walken entrega uma atuação magnética como Frank White, parece o cocheiro do Drácula, caso ele fosse da máfia. Trata-se de um chefão do crime recém-libertado da prisão que tenta reafirmar seu domínio sobre o cenário criminal e sobre as atividades espúrias e obscuras realizadas no interior do submundo de Nova York. A performance de Walken é hipnotizante, transmitindo a complexidade e a frieza do personagem de maneira impressionante, que ator maravilhoso! É sempre uma felicidade revisitar alguns de seus filmes.
Além disso, a direção do Abel Ferrara cria uma atmosfera crua e perturbadora, retratando a violência de maneira visceral e gráfica. A cinematografia e a trilha sonora intensificam a sensação de decadência e desespero que permeia o filme, através da atmosfera pesada, sombria, suja, lúgubre e obscura, da Nova York dos anos 90.
No entanto, "O Rei de Nova York" também recebe críticas por sua narrativa um pouco fragmentada e pela falta de desenvolvimento de alguns personagens secundários, que muitas vezes parecem estar lá apenas para servir ao enredo principal ou somente pra dar risada e ficar acenando com a cabeça e ser completamente inútil para o desenvolvimento da narrativa. Além disso, o filme não poupa o espectador de cenas brutais e chocantes, um tipo de abordagem que, para mim, é muito bem-vinda, mas pode ser um obstáculo para aqueles que não estão acostumados com essa pegada.
No meu ponto de vista, "O Rei de Nova York" é um filme polarizador que cativa pela sua energia crua e performances marcantes, mas também pode alienar alguns espectadores pelo seu retrato implacável e estilizado da violência que permeia o submundo do crime. É um filme que oferece uma visão sombria e realista da vida nas sombras da cidade, que nos faz questionar os limites da moralidade e do poder.
"Night on Earth", lançado em 1991 e dirigido por Jim Jarmusch, é uma obra cinematográfica intrigante, peculiar, marcante e única que retrata uma série de histórias interligadas que ocorrem durante viagens de táxi em diferentes cidades ao redor do mundo. Com seu estilo característico e narrativa fragmentada, o filme nos leva a uma jornada noturna pelas ruas de cinco cidades diferentes ao redor do mundo, explorando os encontros e as histórias dos taxistas e passageiros durante uma única noite. No entanto, apesar da premissa interessante, o filme pode deixar o público dividido.
Uma das características distintivas do Jim Jarmusch, em "Night on Earth", é a sua habilidade de capturar a essência e a diversidade das cidades em que se passa. Desde Los Angeles até Nova Iorque, de Paris a Roma, de Helsinque a uma sombria noite de inverno em uma pequena cidade do interior dos Estados Unidos, Jarmusch consegue transportar o espectador para cada uma dessas localidades com autenticidade e uma sensação de realismo pungente.
O elenco é uma das grandes forças do filme, com atores como Winona Ryder, Gena Rowlands, Armin Mueller-Stahl, Isaach De Bankolé e Roberto Benigni, que entregam performances marcantes e convincentes. A habilidade de Jarmusch em dirigir seu elenco, juntamente com seu roteiro afiado, proporciona momentos de humor, melancolia e reflexão ao longo da narrativa.
Além disso, a cinematografia de Frederick Elmes complementa perfeitamente a atmosfera noturna do filme, capturando a beleza e a solidão das cidades enquanto os táxis cruzam ruas vazias e iluminadas apenas pelos faróis dos carros. A trilha sonora de Tom Waits também é um elemento crucial para criar a ambientação única de cada cena.
Jarmusch tem um estilo distintivo e minimalista, e isso se reflete em "Night on Earth". O filme apresenta diálogos sutis e uma abordagem contemplativa, permitindo que o espectador mergulhe na atmosfera das cidades retratadas. Essa abordagem é refrescante e proporciona momentos de reflexão, mas também pode ser frustrante para aqueles que buscam uma trama mais tradicional e envolvente.
É possível argumentar que a narrativa fragmentada do filme pode não agradar a todos os espectadores. Com cinco histórias distintas acontecendo simultaneamente, algumas delas podem parecer mais envolventes do que outras, levando a uma sensação de desconexão. No entanto, essa abordagem também pode ser interpretada como uma representação da diversidade e da imprevisibilidade da vida urbana.
Embora as histórias sejam interessantes por si só e os atores entreguem performances convincentes, a narrativa fragmentada e episódica pode dificultar a conexão emocional com os personagens. Além disso, a falta de um fio condutor claro pode deixar alguns espectadores desorientados e em busca de uma estrutura mais coesa.
Apesar desses pontos considerados negativos no interior da experiência de alguns expectadores, "Night on Earth" é uma experiência visualmente cativante, com uma cinematografia impressionante que captura as nuances e os contrastes das diferentes cidades. A trilha sonora também desempenha um papel importante na criação da atmosfera, adicionando uma camada essencial de imersão.
No geral, "Night on Earth" é um filme que certamente apela para os fãs do estilo autoral de Jarmusch e para aqueles que procuram uma experiência cinematográfica contemplativa. No entanto, para os espectadores que preferem uma narrativa mais convencional e uma conexão emocional mais profunda, o filme pode deixar a desejar.
Em resumo, Jim Jarmusch nos agracia com uma obra que mergulha nas nuances da vida noturna e nos convida a conhecer personagens peculiares e complexos em diferentes partes do mundo. Com sua atmosfera única, performances memoráveis e uma visão de mundo ímpar, Jim Jarmusch nos presenteia com uma obra cinematográfica que permanece relevante e cativante até os dias de hoje. Com um elenco talentoso, humor sutil e uma cinematografia evocativa, o filme nos oferece uma visão intrigante da humanidade em suas várias facetas e emoções. É um convite para embarcar nessa jornada noturna pela humanidade, explorando a solidão e a conexão que coexistem nas metrópoles do mundo.
"Videodrome", dirigido por David Cronenberg, é um filme de 1983, considerado uma viagem perturbadora pela obscuridade tecnológica, que mergulha profundamente na relação entre tecnologia, voyeurismo e distorção da realidade. Com uma abordagem perturbadora e visualmente impactante, o filme se destaca por sua atmosfera opressiva e visão distópica da sociedade contemporânea.
Um dos pontos positivos de "Videodrome" é a habilidade de Cronenberg em criar uma experiência sensorial intensa. A direção de arte, com seu uso de cores sombrias e tons frios, contribui para a construção de uma atmosfera claustrofóbica e desconcertante. O diretor também usa de maneira brilhante efeitos práticos para retratar a transformação física dos personagens, criando imagens grotescas e perturbadoras que ficam gravadas na memória do espectador.
Outro aspecto positivo é a crítica social abordada no filme. "Videodrome" questiona a influência dos meios de comunicação de massa e como eles podem moldar nossa percepção da realidade. Através da trama, Cronenberg expõe os perigos da obsessão pelo voyeurismo e pela violência televisiva, antecipando questões relevantes na era digital em que vivemos atualmente. Essa abordagem profética e provocativa faz com que o filme mantenha sua relevância mesmo décadas após seu lançamento.
No entanto, "Videodrome" também apresenta alguns pontos que, para quem não conhece o cinema de Cronenberg, podem ser considerados muito confusos. A narrativa, embora rica em simbolismo e conceitos intrigantes, pode ser confusa e difícil de seguir em certos momentos. Uma das características mais marcantes do diretor, representada com maestria aqui, se relaciona à habilidade incrível que Cronenberg tem de construir camadas de realidade que se misturam, fazendo com que as linhas entre a fantasia e a realidade, o delírio e a sanidade, se tornem turvas, o que pode alienar parte do público e causar certa frustração.
Além disso, algumas cenas de violência explícita e imagens perturbadoras podem ser excessivas para alguns espectadores mais sensíveis. Embora esses elementos tenham um propósito dentro do contexto do filme, eles podem dificultar a apreciação da obra por um público mais amplo.
No geral, "Videodrome" é um filme provocador que desafia as convenções narrativas e explora temas pertinentes à nossa relação com a tecnologia e a mídia, de maneira fulminante e, ainda, tão atual. Embora possa ser uma experiência desconfortável e desconcertante, a visão distópica de Cronenberg e a atmosfera opressiva do filme o tornam uma obra singular e inesquecível para os amantes do cinema de horror e ficção científica. Vale demais a revisita!
"O Clã das Adagas Voadoras", dirigido por Zhang Yimou, um filme que eu assisti lá nos idos de 2005 e não entendi p0rr4 nenhuma, só fiquei deslumbrado e fascinado mesmo com a estética espetacular da sequências de luta e com a direção de arte formidável e grandiosa que esse filme tem. Revendo hoje, sentindo o peso da bagagem composta por tantas (res)significações que realizei ao longo do tempo, que me permitiu atribuir à arte um olhar mais atento, percebo que é um filme que apresenta tanto pontos positivos quanto negativos, resultando em uma experiência cinematográfica ambígua e curiosa.
Um dos pontos fortes do filme é a sua estética visual impressionante. Zhang Yimou é conhecido por sua habilidade em criar imagens deslumbrantes e esse filme não é exceção. A direção de arte é impecável, com figurinos exuberantes, cenários detalhados e uma paleta de cores vibrantes que contribuem para uma atmosfera mágica e envolvente. As sequências de luta são coreografadas com maestria, combinando movimentos elegantes e acrobáticos, e são um verdadeiro deleite para os nossos olhos.
Outro aspecto positivo é a trilha sonora marcante, que complementa perfeitamente as cenas e intensifica as emoções transmitidas. A música é utilizada de forma eficaz para criar tensão, romantismo e ação, aprimorando a experiência do espectador e dando vida às cenas.
No entanto, o filme apresenta algumas falhas que afetam sua qualidade geral. Uma delas é a falta de desenvolvimento dos personagens. Embora os atores entreguem boas performances, os personagens principais são pouco explorados em termos de motivações e complexidade emocional. Isso limita a capacidade do espectador de se conectar emocionalmente com eles e reduz o impacto emocional das reviravoltas da trama.
Outra crítica válida é a previsibilidade do enredo. Desde o início, é possível antecipar o desfecho da história, deixando pouco espaço para surpresas ou reviravoltas emocionantes. Isso compromete a tensão narrativa e a capacidade do filme de prender a atenção do espectador ao longo da projeção.
Além disso, alguns aspectos da trama podem parecer simplistas ou pouco explorados. Questões como traição, amor proibido e lealdade são abordadas, porém de maneira superficial, deixando o público com a sensação de que há potencial para um aprofundamento maior desses temas.
Apesar desses pontos negativos, "O Clã das Adagas Voadoras" ainda oferece uma experiência visualmente impactante, com uma direção de arte espetacular e sequências de luta impressionantes. É um filme que pode ser apreciado e revisto inúmeras vezes pelo seu apelo estético, mas que deixa a desejar em termos de desenvolvimento de personagens e narrativa.
"O Expresso da Meia-Noite", lançado em 1978 e dirigido por Alan Parker, é um filme impactante e sombrio que retrata a dura realidade do sistema prisional turco. Inspirado em eventos reais, o longa-metragem aborda a história de Billy Hayes, interpretado brilhantemente por Brad Davis, um jovem americano preso por tráfico de drogas enquanto tentava sair do país.
O filme apresenta uma narrativa intensa e envolvente, que mergulha profundamente nos horrores e nas injustiças do sistema penitenciário. A jornada de Billy é retratada com realismo cru, capturando a desesperança e a brutalidade da prisão de uma maneira perturbadora. A atuação de Brad Davis é excepcional, transmitindo a angústia e a agonia de seu personagem de forma convincente.
No entanto, apesar da força do enredo e das performances, "O Expresso da Meia-Noite" às vezes se perde em sua própria escuridão. O filme tende a se concentrar tanto nos aspectos brutais da prisão que acaba perdendo a oportunidade de explorar mais profundamente a psicologia dos personagens. Além disso, a falta de um ritmo consistente em certos momentos pode prejudicar o envolvimento do espectador.
Outro ponto a ser destacado é a abordagem cultural. Embora o filme tenha sido aclamado internacionalmente, algumas críticas argumentam que ele retrata a Turquia de forma estereotipada, enfatizando excessivamente os aspectos negativos do país. Essa visão unidimensional pode reduzir a complexidade da realidade turca e promover uma perspectiva enviesada.
Apesar de suas falhas, "O Expresso da Meia-Noite" continua sendo uma obra relevante que confronta o espectador com questões de justiça, sobrevivência e a essência humana em condições extremas. É um retrato poderoso e perturbador, embora com algumas limitações, que merece ser visto e discutido como uma reflexão sobre o sistema prisional e as injustiças enfrentadas pelos detentos.
"Marcas da Violência", dirigido por David Cronenberg em 2005, é um filme que mergulha nas profundezas da violência humana e suas consequências devastadoras. Com uma narrativa visceral e uma abordagem crua, o diretor entrega uma obra que perturba e provoca reflexões sobre os limites da moralidade e da natureza humana.
Uma das principais conquistas do filme é a habilidade de Cronenberg em retratar a violência de forma autêntica e realista. Ele evita qualquer romantização ou glamurização dos atos violentos, mostrando-os em toda a sua brutalidade e crueldade. Essa abordagem direta e honesta pode ser desconfortável para alguns espectadores, mas é justamente essa sensação de desconforto que torna o filme tão poderoso.
Além disso, o elenco entrega atuações de alto nível. Viggo Mortensen se destaca como Tom Stall, um homem comum que é forçado a confrontar seu passado violento. Mortensen transmite uma mistura intrigante de vulnerabilidade e força, cativando o público e tornando-se o centro emocional do filme. Maria Bello também merece elogios pela sua interpretação de Edie Stall, esposa de Tom, que passa por uma jornada intensa de descoberta e sobrevivência.
Outro aspecto notável é a habilidade de Cronenberg em explorar as camadas psicológicas dos personagens. O filme questiona a natureza da identidade e a influência do ambiente na formação de indivíduos violentos. Ele nos faz refletir sobre como as experiências passadas e a pressão social moldam nossa personalidade e até que ponto podemos escapar desse ciclo de violência.
No entanto, apesar de suas qualidades indiscutíveis, "Marcas da Violência" pode não ser para todos. Sua natureza perturbadora e gráfica pode alienar espectadores mais sensíveis ou que não estejam preparados para encarar a brutalidade retratada na tela. Além disso, o filme pode parecer lento em certos momentos, especialmente para aqueles que buscam uma experiência mais dinâmica.
Em suma, "Marcas da Violência" é um filme corajoso que desafia convenções e nos faz confrontar os aspectos mais sombrios da condição humana. Com uma direção habilidosa de David Cronenberg, performances excepcionais e uma exploração profunda da violência e de suas consequências, este filme de 2005 continua sendo um retrato impactante e provocativo dos limites éticos e morais que enfrentamos como sociedade.
"Vidas Sem Rumo", dirigido por Francis Ford Coppola e lançado em 1983, é um filme que retrata a vida de jovens marginalizados em uma sociedade desolada. Embora seja considerado um clássico do cinema, não posso deixar de expressar minha crítica em relação à sua abordagem superficial e estereotipada dos personagens e temas que aborda.
Um dos principais problemas do filme é sua representação estereotipada dos jovens envolvidos em gangues. Embora a intenção do diretor fosse mostrar a falta de perspectiva e a violência presentes na vida desses adolescentes, a abordagem acaba se tornando simplista e caricatural. Os personagens são reduzidos a estereótipos unidimensionais, sem profundidade emocional ou motivações claras além de uma sede por rebelião e destruição.
Além disso, o roteiro não oferece uma narrativa consistente para sustentar as ações dos personagens. As cenas parecem desconectadas e fragmentadas, deixando o espectador com a sensação de que falta coesão e desenvolvimento adequado dos arcos dos personagens. Os diálogos também não ajudam a construir uma empatia genuína com os protagonistas, pois muitas vezes caem em clichês e frases de efeito vazias.
Embora "Vidas Sem Rumo" tente explorar temas relevantes, como a alienação juvenil e a busca por identidade, sua abordagem é excessivamente melodramática e exagerada. A trilha sonora, apesar de ser um dos aspectos mais memoráveis do filme, muitas vezes parece excessivamente manipulativa, tentando forçar uma emoção que não é genuinamente construída pelas cenas.
Apesar de suas falhas, o filme conta com uma direção competente e algumas performances sólidas, destacando-se principalmente a atuação de Matt Dillon como o rebelde e carismático Dallas. A cinematografia também merece elogios pela forma como retrata as paisagens urbanas e a atmosfera sombria que permeia a história.
No entanto, esses aspectos positivos não são suficientes para compensar as deficiências de "Vidas Sem Rumo". A falta de complexidade nos personagens e a narrativa fragmentada acabam prejudicando a capacidade do filme de transmitir uma mensagem significativa sobre a condição humana e a desesperança da juventude desamparada.
Em suma, "Vidas Sem Rumo" é um filme que, pelo menos PRA MIM, falha em sua tentativa de retratar de maneira autêntica a vida dos jovens marginalizados. Sua abordagem superficial e estereotipada, aliada a uma narrativa fragmentada, representaram obstáculos impeditivos para que eu me envolvesse verdadeiramente com a história e os personagens. Embora seja um marco cultural da década de 1980, é importante analisar criticamente suas falhas para uma compreensão mais completa do filme.
"Serpico" (1973) é uma obra-prima do cinema que aborda corajosamente a corrupção policial em uma época em que a questão era pouco discutida. O filme brilha ao retratar a jornada de Frank Serpico, interpretado de maneira excepcional por Al Pacino, enquanto ele se torna cada vez mais isolado e desiludido em um sistema corrupto. A direção habilidosa de Sidney Lumet capta de forma contundente a tensão e a atmosfera sombria da Nova York dos anos 1970. No entanto, apesar de seu poderoso retrato, "Serpico" às vezes pode ser excessivamente longo e lento, com momentos que parecem arrastar-se desnecessariamente. Apesar disso, o filme permanece como uma crítica atemporal à corrupção e serve como um lembrete do valor da honestidade e da luta por justiça.
"Mulheres Diabólicas", lançado em 1995, é um filme que merece reconhecimento por sua abordagem ousada e sua capacidade de criar uma atmosfera intensa e envolvente. Com uma trama cheia de reviravoltas e ótimas atuações, o filme se destaca como um exemplo de suspense psicológico que mantém o espectador à beira do assento.
Uma das maiores forças de "Mulheres Diabólicas" é o seu roteiro engenhoso. A história se desdobra gradualmente, revelando camadas intrigantes e complexas que mantêm o espectador intrigado do início ao fim. Os diálogos bem escritos aprofundam os personagens e suas motivações, proporcionando um enredo envolvente que desafia as expectativas e mantém o suspense até o último momento.
O elenco talentoso de "Mulheres Diabólicas" merece aplausos por suas atuações convincentes. Cada atriz entrega performances poderosas e carismáticas, elevando o nível do filme. A química entre Sandrine Bonnaire, Isabelle Huppert, Jacqueline Bisset e Jean-Pierre Cassel, é palpável, criando um fascinante jogo de gato e rato que mantém a tensão e o interesse do público. Suas interpretações multifacetadas acrescentam profundidade aos personagens e tornam suas ações e motivações ainda mais fascinantes.
A direção habilidosa de "Mulheres Diabólicas" contribui para a atmosfera misteriosa do filme, apesar de ser bem menos sinistra do que eu imaginava. A escolha de ângulos de câmera e a cinematografia fria ajudam a criar uma sensação de suspense e incômodo constantes, aumentando a tensão em cada cena. A trilha sonora sutil, mas eficaz, complementa perfeitamente as imagens na tela, inserindo um elemento adicional de imersão e intensidade.
Além disso, "Mulheres Diabólicas" se destaca por suas reviravoltas inteligentes e bem executadas. O filme brinca com as expectativas do público, desafiando-o a decifrar os segredos ocultos e a verdade por trás das ações das personagens. Essas reviravoltas mantêm o interesse ao longo da narrativa, mantendo o espectador completamente envolvido na história.
Em resumo, "Mulheres Diabólicas" é um thriller psicológico envolvente que não apenas entretém, mas também desafia a mente do espectador. Com seu roteiro inteligente, atuações competentes e direção habilidosa, o filme oferece uma experiência cinematográfica satisfatória apenas. Mais do que isso seria exagero da minha parte. Se você procura por um filme que mergulha fundo na mente humana e mantém você intrigado do começo ao fim, "Mulheres Diabólicas" certamente é o filme certo pra você.
Bad Boy Bubby, dirigido por Rolf de Heer, é um daqueles filmes que desafia as convenções cinematográficas e mergulha nas profundezas da psique humana de uma maneira desconfortável e perturbadora. Embora seja elogiado por sua abordagem audaciosa e ousada, é difícil negar que este filme não seja para os fracos de coração.
A história segue Bubby, um homem que foi mantido em confinamento durante toda a sua vida por sua mãe abusiva e doente. Quando finalmente é libertado do seu mundo claustrofóbico, Bubby é lançado em um ambiente estranho e confuso, onde a violência, o abuso e a exploração parecem ser a norma. Através dos olhos ingênuos de Bubby, somos confrontados com a natureza sombria da humanidade e os limites da nossa própria compreensão.
O que torna Bad Boy Bubby tão difícil de digerir é a sua representação crua e visceral da violência e da depravação humana. O filme nos obriga a confrontar o lado mais obscuro da sociedade e nos desafia a questionar nossos próprios valores e moralidade. No entanto, essa abordagem é frequentemente levada ao extremo, resultando em cenas perturbadoras que, consideradas por mim, gratuitas e desnecessárias.
O ritmo lento e a narrativa fragmentada tornam o filme uma experiência desafiadora. A falta de uma estrutura clara e a progressão narrativa inconsistente podem deixar os espectadores confusos e desconectados da história. Embora esse estilo não convencional possa ser apreciado por alguns, para outros pode se tornar tedioso e frustrante.
Além disso, a falta de um desenvolvimento sólido dos personagens contribui para a superficialidade do filme. Bubby é retratado como um ser ingênuo e simplório, mas sua jornada não parece trazer uma evolução significativa ou uma compreensão mais profunda de sua própria condição. As interações de Bubby com outros personagens são frequentemente caricaturais, não permitindo uma verdadeira empatia ou conexão emocional.
A estética visual do filme, embora seja intencionalmente crua e desagradável, não é o suficiente para sustentar uma experiência cinematográfica gratificante. A cinematografia e a trilha sonora, embora demonstrem habilidade técnica, não conseguem compensar a falta de uma narrativa envolvente e personagens bem desenvolvidos.
Apesar desses pontos negativos, Bad Boy Bubby é inegavelmente uma obra corajosa e única, que desafia os limites do que o cinema pode realizar. A performance de Nicholas Hope como Bubby é notável, capturando a inocência e a vulnerabilidade do personagem de uma forma genuína e perturbadora. Além disso, a cinematografia e a trilha sonora criam uma atmosfera claustrofóbica que reflete a condição mental do protagonista.
Por conseguinte, Bad Boy Bubby é um filme que divide opiniões. Sua abordagem audaciosa e provocativa é tanto sua maior força quanto sua maior fraqueza. Enquanto alguns podem admirar sua coragem em desafiar as convenções, outros podem se sentir alienados e perturbados pela violência explícita e pela narrativa fragmentada. Independentemente disso, é inegável que este filme é uma experiência cinematográfica única e impactante.
"Mystery Train", dirigido por Jim Jarmusch em 1989, é um fascinante conto interligado que captura a essência única do estilo do diretor. Com seu olhar poético e melancólico, Jarmusch cria uma atmosfera hipnótica ao explorar as interações entre personagens estranhamente cativantes.
O filme se passa em Memphis e entrelaça três histórias separadas, que se entrelaçam no mesmo local: um casal japonês obcecado por Elvis Presley, um italiano em busca de sua identidade e uma mulher fugindo de um crime. Todas as histórias aparecem conectadas pelo misterioso trem que atravessa a cidade. Jarmusch consegue capturar a essência da cidade, sua atmosfera enigmática e a cultura do blues de maneira autêntica. A cinematografia em preto e branco acentua a sensação de nostalgia e melancolia, adicionando uma camada adicional de charme ao filme.
Com um estilo visual elegante e uma trilha sonora marcante, "Mystery Train" é uma obra que exala charme e originalidade, repleta de diálogos inteligentes e situações inesperadas. A direção de Jarmusch é habilidosa ao equilibrar o humor sutil e a reflexão profunda, enquanto constrói personagens cativantes e autênticos. Jarmusch nos leva a um passeio pelo submundo de Memphis, explorando temas como solidão, alienação e a conexão humana. A atmosfera melancólica e ao mesmo tempo romântica do filme nos transporta para um lugar onde sonhos e realidade se encontram, e onde personagens desajustados encontram refúgio.
A escolha do elenco também merece destaque. Com atuações notáveis de músicos como Joe Strummer, do The Clash, e Screamin' Jay Hawkins, o filme ganha uma autenticidade extra. Os atores entregam performances marcantes, explorando as nuances de seus personagens de forma envolvente e engraçada. O elenco de "Mystery Train" entrega performances excepcionais, cada um com sua própria história intrigante e peculiar. O humor sutil e os diálogos minimalistas de Jarmusch se combinam perfeitamente com a trilha sonora eclética e evocativa, reforçando a experiência única do filme.
Embora "Mystery Train" possa não agradar aos fãs de narrativas lineares tradicionais, aqueles que apreciam o estilo distinto de Jarmusch e sua abordagem contemplativa encontrarão neste filme uma obra-prima cinematográfica, é um dos meus favoritos do diretor. É uma jornada encantadora e imersiva pelo coração de Memphis, onde o real e o surreal se entrelaçam de forma poética e intrigante.
Ao explorar o amor, a morte e a cultura pop de maneira única, "Mystery Train" se estabelece como um clássico do cinema independente. É um filme que deixa uma impressão duradoura, convidando o espectador a refletir sobre os mistérios da vida e a importância dos encontros fortuitos. Para os fãs de Jarmusch e do cinema alternativo, este é um filme que certamente deve ser apreciado.
A obra-prima cinematográfica "8 e Meio", dirigida por Federico Fellini, é uma jornada fascinante, íntima e extremamente pessoal em direção à criatividade. É uma experiência transcendental que mergulha nas profundezas da mente de um diretor de cinema em crise, proporcionando uma exploração rica e complexa da criatividade, da arte e da própria existência humana. Lançado em 1963, o filme continua sendo uma referência icônica na história do cinema, mantendo sua relevância e impacto até os dias de hoje.
No centro da trama está Guido Anselmi, interpretado magnificamente por Marcello Mastroianni, um diretor de renome que se vê preso em um bloqueio criativo. Fellini habilmente guia os espectadores por uma jornada interior, através dos sonhos, das memórias e das fantasias de Guido, enquanto ele luta para encontrar inspiração e dar sentido ao seu próximo projeto. A narrativa do filme é habilmente construída, alternando entre o mundo real e as paisagens oníricas, fundindo passado e presente, verdade e ilusão, de uma maneira que desafia as convenções cinematográficas.
Uma das conquistas mais notáveis de "8 e Meio" é a forma como Fellini mescla a realidade e a imaginação, criando um universo cinematográfico único. As sequências de sonho e fantasia são visualmente deslumbrantes, repletas de simbolismo e surrealismo, permitindo ao público se perder nos labirintos da mente de Guido. A direção de arte é magistral, com figurinos extravagantes e cenários exuberantes, destacando-se a icônica cena do carnaval, que transborda energia e excentricidade.
A atuação de Marcello Mastroianni é nada menos que brilhante. Ele retrata de forma convincente a complexidade e a angústia de Guido, capturando a luta interior e a vulnerabilidade emocional do personagem. O elenco de apoio também merece aplausos, com atuações memoráveis de Anouk Aimée, Claudia Cardinale e Sandra Milo, que desempenham papéis importantes na vida de Guido e contribuem para a trama com suas próprias camadas de significado.
Além do aspecto visual e da atuação extraordinária, "8 e Meio" apresenta uma reflexão profunda sobre o papel do artista na sociedade e a natureza da criatividade. Fellini aborda as pressões e as expectativas enfrentadas pelos artistas, questionando o propósito da arte e a busca pela autenticidade. Por meio de Guido, o diretor explora temas universais como identidade, amor, morte e redenção, conectando-se com o público em um nível emocional e intelectual.
No entanto, é preciso mencionar que "8 e Meio" pode ser desafiador para alguns espectadores menos familiarizados com o estilo de Fellini. A narrativa fragmentada e a abundância de metáforas podem tornar a compreensão do filme um tanto exigente. No entanto, essa complexidade também é uma das maiores forças do filme, pois permite diferentes interpretações e abre espaço para discussões e reflexões sobre uma ampla gama de temas.
Em resumo, "8 e Meio" é uma obra-prima atemporal que cativa e estimula os sentidos. Com sua estética visual impressionante, performances magistrais e uma narrativa intrincada, Federico Fellini criou um filme que vai além da simples experiência cinematográfica, explorando as profundezas da alma humana. "8 e Meio" é um convite para explorar os mistérios da criação artística e mergulhar em um mundo de imaginação, sonhos e autodescoberta.
O diretor italiano Dario Argento é conhecido por suas contribuições únicas e distintas para o gênero do horror, e seu filme "Suspiria" certamente não é exceção. Lançado em 1977, o filme conquistou um status cult ao longo dos anos, e sua influência pode ser sentida em muitas obras do cinema de terror que se seguiram. Com sua abordagem visual ousada e trilha sonora icônica, "Suspiria" é uma experiência cinematográfica hipnotizante e inesquecível.
Desde os primeiros momentos do filme, fica claro que Argento está interessado em criar uma atmosfera de pesadelo. A história se passa em uma renomada academia de dança na Alemanha, onde uma jovem bailarina americana, interpretada por Jessica Harper, começa a descobrir os terríveis segredos ocultos entranhados nas paredes do lugar. A trama em si não é particularmente complexa, mas é através da direção de Argento que ela ganha vida e se torna uma experiência sensorial única.
O aspecto mais impressionante de "Suspiria" é, sem dúvida, a direção de arte e a cinematografia. Argento mergulha o espectador em um mundo de cores vibrantes e exageradas, criando uma paleta visual que é tanto bela quanto perturbadora. Cada cena é meticulosamente composta, com uma atenção aos detalhes que ressalta o estilo expressionista e surreal do diretor. Os cenários se tornam personagens por si só, com seu design elaborado e uso de luz e sombra, criando uma sensação de claustrofobia e desconforto constantes.
A trilha sonora de "Suspiria", composta pela banda progressiva italiana Goblin, é igualmente icônica. Com suas melodias sinistras e repetitivas, a música adiciona uma camada essencial e enervante de tensão e estranheza ao filme. Cada nota se une perfeitamente à narrativa visual, aumentando a sensação de medo e angústia do espectador. A combinação da trilha sonora com as imagens poderosas e a atmosfera criada pelo diretor resulta em uma experiência que é tanto arrepiante quanto fascinante.
Embora "Suspiria" seja, sem dúvida, uma obra-prima visual, alguns espectadores podem achar a história subdesenvolvida ou até mesmo confusa em certos momentos. No entanto, é importante lembrar que o filme é mais sobre a experiência sensorial do que sobre uma narrativa linear. É uma jornada surreal e emocionalmente intensa que busca invocar emoções e sensações perturbadoras, em vez de contar uma história convencional.
Em última análise, "Suspiria" é um exemplo impressionante do talento e da visão singular de Dario Argento. Seu estilo único e inovador influenciou gerações de cineastas de terror, e o filme continua a ser uma referência no gênero até hoje. Para os amantes do cinema de terror e da arte cinematográfica como um todo, "Suspiria" é uma experiência que merece ser apreciada pelo seu poder visual e atmosfera angustiante. Prepare-se para ser absorvido.
'Cidade Baixa' é um filme que deve ter, por baixo, uns 15 anos que eu assisti e, desde então, eu adiei por muito tempo uma revisita a essa obra maravilhosa e ora porque não dizer gloriosa. Não me lembrava com muita clareza da trama. Entretanto, revendo o filme agora, fica evidente que o roteiro do Karim Aïnouz e do Sérgio Machado nos insere no epicentro de uma trama situada num contexto suburbano, na periferia de Salvador, coordenada pela direção crua, rústica e praticamente artesanal do Sérgio Machado. Não é atoa que 'Cidade Baixa' foi selecionado para a mostra Um Certo Olhar, do Festival de Cannes, em 2005. O diretor baiano conduz uma trama suburbana, através de uma perspectiva muito íntima e particular, sem muita firula e sofisticação, justamente para privilegiar a crueza da realidade dos ambientes pouco asseados que nos são apresentados ao longo da trama.
Em 'Cidade Baixa', acompanhamos a construção de um trisal maravilhoso e ora porque não dizer glorioso, cheio de sentimento e tensão sexual, e muito bem construído, aliás, graças à química e ao entrosamento extremamente orgânico, emocional, visceral e cheio de sensibilidade entre o Lázaro Ramos, o Wagner Moura e a Alice Braga. A câmera do Sérgio Machado conecta o espectador com o que há de mais íntimo, sensível e pessoal nas pessoas, nas coisas e na arquitetura daquela região de Salvador, que é quase um personagem à parte. 'Cidade Baixa' é Cinema com 'C' maiúsculo mesmo, que entrega um resultado absurdamente satisfatório e conseguindo até superar as minhas expectativas, com destaque para as excelentes atuações, a ambientação e o desenvolvimento impecável dos arcos dramáticos apresentados em seu roteiro.
Fui cheio de expectativas para 'Miracle Mile' e, infelizmente, esse foi um dos problemas. Um sujeito recebe uma informação duvidosa e questionável a respeito de um (im)provável desastre nuclear em Los Angeles, através do telefone de uma cafeteria no meio da madrugada e pronto, isso é suficiente para estabelecer o clima de paranoia que envolve todos os desdobramentos seguintes apontados pelo roteiro. Entretanto, é, no máximo, interessante acompanhar a jornada do Harry, interpretado pelo Anthony Edwards, numa atuação apenas esforçada.
Gostei muito do romance que se estabelece logo no início do filme, entre o Harry e a Julie. A estética noturna oitentista explorada pelo Steve De Jarnatt, aliada aos sintetizadores quase hipnóticos do Tangerine Dream, permitem a construção de um clima sonhante/onírico e auxilia, de maneira bem competente, na consolidação de uma atmosfera de paranoia que cresce gradualmente ao longo da trama, colocando-a em suspensão num lugar específico entre o real e o fantasioso, entre a sanidade e o delírio.
Todavia, o próprio roteiro de ‘Miracle Mile’ se superestima ao construir acontecimentos e situações absurdas, com um clima de catástrofe e atuações sofríveis, pra tentar se orientar, pretensiosamente, a um desfecho que possa puxar o tapete sob os pés do espectador. Confesso que em alguns momentos fiquei me perguntando se tudo aquilo não passava de um delírio e de um sonho mesmo do Harry, a ponto de me manter investido de forma curiosa na narrativa, pra ver se tudo aquilo iria dar em alguma coisa ou não. Apesar disso, ao mesmo tempo, fica óbvio que todos os desdobramentos subsequentes ao telefonema coadunam com o final do filme, sobretudo no que diz respeito ao fato de todos os personagens comprarem o suposto “delírio” do Harry, se comportando como se já tivessem tomado aquilo como verdade e buscarem meios pra tentar escapar do suposto desastre.
Por fim, 'Miracle Mile' é apenas um filme Cult que até consegue tirar leite de pedra, tendo em vista o seu orçamento limitado. Contudo, mesmo com a crescente tensão, com as dúvidas (transitórias, vale destacar), suscitadas ao longo do filme, aliadas a bons momentos salpicados aqui e ali, 'Miracle Mile' entrega um final previsível, pra não dizer óbvio, não superando (e nem sequer atingindo) as minhas expectativas, tornando, pra mim, a experiência insatisfatória em certos níveis.
Me arrependo amargamente de ter procrastinado tanto a missão de começar a conferir a filmografia do Jim Jarmusch, um diretor com identidade única, muito pessoal e uma visão de mundo extremamente particular. Comecei com 'Sobre Café e Cigarros', filme de 2003 do diretor, com momentos deliciosos de conversas aparentemente banais, embaladas pela ingestão de cafeína e nicotina, que torna quase impossível a tarefa de não acender um cigarro e fumar junto com os personagens ao longo do desenvolvimento das pequenas tramas.
Em 'Stranger Than Paradise', Jim Jarmusch estreia a sua produção de longas-metragens com um filme que nos faz perceber que não há nada melhor e mais eficiente para individualizar o sujeito do que pequenas dozes de grandes metrópoles. O tédio funciona aqui não só como um recurso narrativo para desenvolvimento da trama, mas como um sentimento inerente ao homem comum, cuja rotina se encontra pulverizada em torno de um tédio comum e acentuado, que parece ser compartilhado por todos os personagens apresentados na trama.
Acompanhamos, aqui, a rotina trivial e aparentemente inócua de dois malandros, interpretados por John Lurie e Richard Edson, convergida com a vida da prima Húngara de um deles, interpretada pela belíssima Eszter Balint. A trama de 'Stranger Than Paradise' é simples e contida, mas eficiente em apresentar as intenções de seus personagens. Falo com tranquilidade que 'Stranger Than Paradise' superou minhas expectativas, principalmente ao apresentar uma situação que ninguém espera que aconteça com um malandro inato, em seu desfecho. Chame do que quiser: de destino, acaso ou carma, mas qualquer um desses três elementos dão conta de explicar a imprevisibilidade das coisas. É realmente um marco do cinema independente norte-americano.
Les Diaboliques' um filme que eu assisti há muitos anos, quando criança ainda, e sempre me lembrava vagamente de algumas cenas e imagens sem qualquer tipo de coerência na minha mente. Como eu sou um autosabotador clássico, adiei anos pra rever esse filme enquanto priorizava obras de qualidade inferior, embora do mesmo gênero.
Não é em vão que o Henri-Georges Clouzot é considerado o Hitchcock francês. O grande trunfo e mola motriz de 'As Diabólicas' é o modo como o Clouzot conduz a trama e a forma charmosa como ele orienta a construção gradual do suspense. Tal como (e tanto quanto) o diretor de 'Disk M Para Matar' e 'Psicose', Clouzot é um verdadeiro mestre do suspense, aos pés e ao nível do Hitchcock mesmo. É fato que a comparação com o Clouzot promoveu um sentimento de animosidade e desconforto no Hitchcock, a ponto deste se sentir ameaçado criativamente pelo gênio Clouzot, verdadeiramente reconhecendo-o como rival após assistir obras memoráveis dele, como 'O Salário do Medo'.
Contudo, esse sentimento de rivalidade era justificável: 'As Diabólicas' é um filme de trama envolvente e imersiva, com um mistério intrigante, personagens enigmáticos, de moral questionável e ambígua, com um suspense muito bem construído, através de uma tensão psicológica enervante e desconfortável, e uma trama coerente de natureza conspiratória, culminando num plot twist crível e impactante, permitindo amarrar um mistério construído de maneira criativa e muito inteligente. Adjetivar o plot twist de 'As Diabólicas' como 'previsível' pode ser até considerado anacronismo, visto que é um plot twist surpreendente e muito bom, considerado de alto padrão para o cinema da época. Além disso, muitas obras de suspense do cinema moderno e até mesmo alguns dos filmes de suspense noir produzidos por diretores estadunidenses, como William Castle, não seriam uma possibilidade, se não fosse por filmes como 'As Diabólicas'.
Todas as pistas que levam aos desdobramentos da trama e revelação do plot twist estão ali jogadas desde o início. Embora tais pistas não sejam óbvias, não é preciso pensar muito pra entender o que está acontecendo e quais são as reais intenções da personagem da Vera Clouzot. Até isso é proposital aqui, mas mesmo sendo dessa forma, o suspense não deixa de ser instigante e o clímax não deixa de ser surpreendente. Vale muito a pena a experiência de assistir 'As Diabólicas'.
Rua do Medo me lembrou Verão de 84 (2018) nesse aspecto que envolve o agrupamento de jovens para resolução de um mistério, só que em Verão de 84, o serial killer é mortal, de carne e osso, e pode ser até seu vizinho.
Verão de 84 é muito divertido, intrigante, tem uma atmosfera tensa e também resgata essa vibe de mistério e suspense dos anos 80 quando coloca um grupo de crianças para investigar uma série de assassinatos que estão ocorrendo no interior do subúrbio norte-americano, a partir do momento que começam a suspeitar dos comportamentos questionáveis de um vizinho.
As referências a Contatos Imediatos de Terceiro Grau (1977), ET (1982), Goonies (1985) e a qualquer coisa que o Robert Zemeckis, Spielberg, Richard Donner, Chris Columbus e Stephen King tenham feito na década de 80 são nítidas desde o início quando nos deparamos com a narrativa em off de um dos personagens, com o figurino e design de produção oitentistas e o princípio de desenvolvimento de uma trama de suspense e investigação, situada num espaço distante das atribulações dos grandes centros urbanos, tendo um grupo clássico de crianças dos anos 80 como figuras principais da trama.
Obras como Stranger Things já surfaram na onda dos anos 80 e já deram conta de usar, abusar e esgotar todas as referências possíveis aos filmes dessa década, até saturando um pouco esse estilo de narrativa e fazendo com que qualquer coisa que viesse depois parecesse um deja vu ou só um mix genérico de qualquer coisa que eu já tenha visto nesse estilo, mas Verão de 84 tem uma trama intrigante, com uma narrativa clássica de filmes de aventura e investigação, e um mistério & suspense que se intensificam de forma gradativa ao longo do filme.
Por mim o filme poderia ter acabado ali logo após a resolução do mistério. O segundo plot twist é bem desnecessário, mas puxa o tapete debaixo dos pés do espectador ao apresentar um desfecho imprevisível, meio triste e até um pouco indigesto e incômodo, mas mesmo assim, Verão de 84 equilibra humor, aventura, mistério e suspense com uma fluidez extremamente orgânica, tornando a narrativa envolvente, intrigante e bem imersiva.
Baseado numa série literária homônima do R.L. Stine, Rua do Medo: Parte 1 mistura elementos clássicos dos filmes de Terror, Horror e Slasher da década de 80 (e 90), com um roteiro que não se leva a sério em nenhum momento e nem tenta reinventar a roda, mas com uma trama divertida, tensa e intrigante na medida certa.
Se você assistiu filmes como Halloween (1978), Sexta-feira 13 (1980), Sleepaway Camp (1983) e Scream (1996), a identificação de signos peculiares dessas franquias é imediata, desde o assassino encapuzado com uma faca, ao maníaco que persegue suas vítimas com um machado nas mãos. Entretanto, um dos pontos positivos da trama é que, ao invés de tradicionalmente apresentar um casal heterossexual sendo metaforicamente punidos por fazerem sexo, Rua do Medo inova ao desenvolver um casal constituído por duas mulheres como par romântico situado no interior do protagonismo da trama. Todos os elementos da adolescência estão aqui: o medo pela busca por aceitação, a ingenuidade, a ressignificação identitária e a descoberta da sexualidade.
O filme também acena pra Goonies (1985) e para as obras dos anos 80 do Stephen King, como Stand By Me e IT, apresentando a possibilidade do agrupamento de adolescentes com um objetivo em comum: resolver o mistério sobrenatural por trás de uma série de assassinatos que estão ocorrendo numa típica cidadezinha do subúrbio norte-americano.
Apesar do filme se perder em meio a um pastiche de inúmeras referências, Rua do Medo apresenta uma narrativa clássica de terror com doses bem equilibradas de humor, trash e horror, bom ritmo e uma tecnologia nostálgica, que pode passar despercebida pra quem nasceu nos anos 2000. A trilha sonora é primorosa: começa com Nine Inch Nails e termina com Pixies e Alice Cooper, pra quebrar as perna do pai.
A trama é desenvolvida com a mesma simplicidade que sua premissa. Assistir esperando sentir medo ou ficar minimamente aterrorizado é colocar as expectativas no lugar errado. Contudo, Rua do Medo se torna uma boa opção para aplacar o tédio noturno de um final de semana enclausurado dentro de casa.
Se você tiver um amigo drogado que esteja precisando de ajuda profissional, é menos tedioso e menos trabalhoso amarrá-lo e levá-lo direto para um centro especializado de reabilitação do que prendê-lo no interior de uma cabana velha, no meio do nada, por uma semana, e esperar as substâncias psicotrópicas saírem do corpo dele.
Esse filme não tem razão ou necessidade nenhuma de existir.
The Vast Of Night mexeu tanto comigo, de maneira que eu fico ainda mais maravilhado com esse filme a cada instante em que penso sobre ele. Em sua estreia como diretor, Andrew Patterson nos presenteia com um filme que é uma espécie de joia dourada, de narrativa incrivelmente simples, porém, carregado, enigmático e atmosférico em seus diálogos. A química entre os dois protagonistas é incrível! Essa sensação é reforçada pelos diálogos vigorosos, repletos de pistas e significados para se entender SOBRE O QUÊ que o roteiro quer falar (e não, não é só sobre EXTRATERRESTRES!!!). . A personagem da Sierra McCormick é extremamente inteligente, e é através da naturalidade e dinamicidade de sua atuação a trama vai ganhando força, elevando os índices de tensão da narrativa, à medida que os acontecimentos vão sendo postos em cena, o que possibilita a construção de uma intensidade narrativa absurdamente inquietante. O poder dos diálogos é fundamental aqui pra construção da trama e o baixo orçamento do filme é facilmente driblado pelos tracking shots inventivos do Andrew Patterson, aliado ao seu senso de urgência, espaço e realidade. . The Vast Of Night pode ser um filme simples, de orçamento limitado, mas tem um roteiro extremamente forte e significativo, que se vale de alegorias e metáforas fortes através desse pano de fundo de ficção científica, discutindo muito mais sobre questões que dizem respeito à nossa sociedade, como mídia, propaganda e ALIENação do que sobre os ETs. A gente já tá bem saturado de filme blockbuster maquiado com CGI milionário, recursos visuais fantásticos e um orçamento absurdo, porém vazio, insosso e superficial em sua HISTÓRIA (que é o que realmente importa no cinema). . The Vast Of Night é um filme que segue totalmente na contramão desses parâmetros. Totalmente simples, pequeno, limitado em seus recursos e elementos, The Vast Of Night é a materialização máxima daquele mote clássico do cinema: “conte-me uma boa história”. O filme é repleto de referências pontuais às revistas Pulp e à clássica 'Twilight Zone' da década de 50, e se constitui como uma Ode à comunicação, ao Rádio e uma crítica à política terrorista de guerra e medo dos Estados Unidos, que sempre enviaram um determinado grupo de pessoas para lutar uma guerra que não era deles. O filme é de 2020, mas, não por acaso, se passa bem na época da Guerra Fria e me deixou naquela fase de ‘reflexibilidade obsessiva’ que, em primeiro lugar, é o que fez com que eu me apaixonasse e amasse a sétima arte.
Então, é assim que são as raves que o jovem tanto gosta? Fiquei na dúvida se eu estava assistindo a um filme ou a uma rave de algum curso de humanas de qualquer universidade do mundo. O roteiro desse filme parece o testemunho da Andressa Urach: uma situação improvável e tediosa atrás da outra. Que droga é essa que faz o jovem xingar o outro de “cadela” simplesmente do nada e ficar puto e proferir outros impropérios pueris um pro outro e sair gritando parecendo um maníaco retardado? Desconheço tal efeito entre as substâncias ilícitas das quais se tem notícia. Cuidado com os jovens do grupo de jovens descolados pseudo-controversos dos quais você faz parte. Nunca se sabe quando alguém vai decidir tocar fogo em você ou cometer um auto-aborto com socos no próprio útero depois de tomar uma garrafa de Cantina da Serra ou Pérgola suave.
Alguns filmes do Gaspar Noé são intragavelmente detestáveis e desconfortáveis, devido ao tédio que me causam, e com Climax não poderia ter sido diferente. Ingenuidade minha em continuar dando chances para o trabalho de um diretor que raramente conseguiu me fisgar. Se você começar a assistir a partir da METADE do filme, vc não terá perdido nada, só alguns jovens retardados drogados se mexendo e se contorcendo de maneira extremamente aleatória e bizarra, enquanto conversam bosta e coisas tão triviais e desinteressantes, que beira ao tédio extremo e incontornável. Se você assistir o restante, aí você terá perdido 1 hora e 36 minutos irrecuperáveis da sua vida. Isso sem falar que mais pro final, você só conseguirá assistir ao filme se você estiver plantando bananeira, porque o diretor tem a brilhante ideia de virar a câmera de cabeça para baixo, um recurso #super inovador... Na cabeça dele.
Se o seu remédio pra insônia acabou, a recomendação é assistir esse filme um pouco depois das 22:00h, porque nos primeiros 60 minutos você já entra em estado de coma profundo. Se não quiser dormir e chegar até o final pra ver se a película pode lhe proporcionar alguma surpresa, aí você assiste com uma jarra de café do lado. “Viver é uma impossibilidade coletiva”. Assistir a esse filme é que é uma impossibilidade coletiva! Me senti mais torturado do que os jovens que preenchem a narrativa com seus ataques histéricos e inexplicáveis de insanidade. Meia estrela só pela tentativa de recriação de uma peça de teatro gótica nonsense e experimental, que resultou numa overdose... de TÉDIO.
E você, fanzoca do Gaspar Noé, não precisa se ofender com o meu comentário. Leave me alone, please! Já basta a raiva que eu passei com esse filme.
Terrorzinho bem morno do Ari Aster, com uma história insossa e atuações fraquíssimas. Entretanto, pra quem curte estudar os aspectos técnicos relacionados à produção áudio_visual, esse filme é uma aula de cinema. A câmera do Ari Aster tem personalidade, parece que ela flutua no ar, com uma sutileza muito impressionante, típica desses diretores dessa nova safra do pós-terror hollywoodiano. A transição entre os planos que ele faz é super fluida e perspicaz. É absurdo em termos de linguagem cinematográfica. Quem assistiu Hereditário mesmo sabe que ele tem uma identidade visual muito forte e peculiar. A estética do filme é fabulosa, estilosa, e o uso que ele faz das grande angulares é fantástico, cara! Isso permite uma visão mais ampla da cena e o funcionamento de uma dinâmica maior entre vários personagens dentro de um mesmo plano.
Mas como nem só de masturbação visual e estética vive o cinema (cujo mote é “conte-me uma boa história”), a história de Midsommar fica um pouco a desejar nessa parte de contar uma boa história. A história é fraca e desinteressantíssima, se estendendo por desnecessárias 2 horas e 30 minutos. Parece mais um filminho desses de terror hipster com um visualzinho bonito e alguns takes maravilhooosos, feitos só pra dizer "olha, gente, eu sei usar grande angular, eu sei fazer planos incríveis", mas que aparentam ser algo mais significativo do que realmente são. Só que isso tudo parece ser só uma espuma que serve pra esconder uma história fraca, sem conteúdo e sem sal nem por cima e nem por baixo.
Isso sem falar nas decisões que certos personagens tomam e que ninguém tomaria em situações bizarras, estranhas e incômodas como as que o filme apresenta. Mas o filme tem seus méritos, além da parte visual. Em tempos de Anabelle 65 e outras bostas do tipo, é muito bom existirem diretores como Ari Aster, que apostam num terror mais psicológico, no oculto, naquilo que tá fora de foco, naquilo que está extra plano, e isso ele faz de maneira exemplar, pq ele sugere as coisas e lhe permite preencher o resto com a sua mente, com a sua imaginação, e são essas coisas que me dão medo.
Portanto, minha nota pra Midsommar é 3 estrelas de 5 mesmo: uma estrela pela estética, outra pela direção ousada que entrega um terror psicológico funcional até certo ponto, e outra estrela pelos primeiros 30 minutos, que realmente são muito bons. É uma pena que depois o filme deixa alguns temas de lado, como o luto da protagonista e esse lance de ‘intolerância religiosa’, ‘xenofobia’ ou ‘aversão ao que é estranho à minha cultura’, pra tomar caminhos que não me agradaram nem um pouco.
Depois de alguns anos desde a primeira vez que assisti Febre do Rato, decidi revisitar essa joia rara e especial do cinema nacional. O resultado foi que os pontos que eu considero ruins no filme ficaram ainda piores e os pontos positivos se tornaram ainda mais incríveis. Não é nenhum equívoco dizer que Cláudio Assis nos apresenta aqui um filme desconcertante e incômodo. A nudez exacerbada conflui num quadro naturalista e banal, justamente pela exagero com que é abordada. Em determinado momento a nudez passa despercebida, devido a detalhes realmente relevantes. Irandhir Santos é um monstro do cinema nacional... Intensidade, poesia e sensibilidade em cada gesto e cada palavra que sai da sua boca. É um filme que transpira poesia, sujeira, libertinagem, ousadia e vulgaridade por todos os poros. Um retrato suburbano cru, cruel e visceral de atmosfera tóxica, suja, opressora e quase lúgubre e da poesia marginal pernambucana, muito bem representada aqui.
O Rei de Nova York
3.7 87"O Rei de Nova York", dirigido por Abel Ferrara e lançado em 1990, filme que eu via direto no saudoso Intercine da Globo, logo após o Programa do Jô, e sempre ficava fascinado com a estética estilizada, quase cyberpunk, como já mencionado, e a sua atmosfera crua e visceral. É um filme que mergulha nas profundezas do submundo do crime da cidade de Nova York. O que o Abel Ferrara faz aqui é nos apresentar uma visão sombria e implacável do poder, da ganância e da corrupção que permeiam a vida dos protagonistas.
Christopher Walken entrega uma atuação magnética como Frank White, parece o cocheiro do Drácula, caso ele fosse da máfia. Trata-se de um chefão do crime recém-libertado da prisão que tenta reafirmar seu domínio sobre o cenário criminal e sobre as atividades espúrias e obscuras realizadas no interior do submundo de Nova York. A performance de Walken é hipnotizante, transmitindo a complexidade e a frieza do personagem de maneira impressionante, que ator maravilhoso! É sempre uma felicidade revisitar alguns de seus filmes.
Além disso, a direção do Abel Ferrara cria uma atmosfera crua e perturbadora, retratando a violência de maneira visceral e gráfica. A cinematografia e a trilha sonora intensificam a sensação de decadência e desespero que permeia o filme, através da atmosfera pesada, sombria, suja, lúgubre e obscura, da Nova York dos anos 90.
No entanto, "O Rei de Nova York" também recebe críticas por sua narrativa um pouco fragmentada e pela falta de desenvolvimento de alguns personagens secundários, que muitas vezes parecem estar lá apenas para servir ao enredo principal ou somente pra dar risada e ficar acenando com a cabeça e ser completamente inútil para o desenvolvimento da narrativa. Além disso, o filme não poupa o espectador de cenas brutais e chocantes, um tipo de abordagem que, para mim, é muito bem-vinda, mas pode ser um obstáculo para aqueles que não estão acostumados com essa pegada.
No meu ponto de vista, "O Rei de Nova York" é um filme polarizador que cativa pela sua energia crua e performances marcantes, mas também pode alienar alguns espectadores pelo seu retrato implacável e estilizado da violência que permeia o submundo do crime. É um filme que oferece uma visão sombria e realista da vida nas sombras da cidade, que nos faz questionar os limites da moralidade e do poder.
Uma Noite Sobre a Terra
3.8 88 Assista Agora"Night on Earth", lançado em 1991 e dirigido por Jim Jarmusch, é uma obra cinematográfica intrigante, peculiar, marcante e única que retrata uma série de histórias interligadas que ocorrem durante viagens de táxi em diferentes cidades ao redor do mundo. Com seu estilo característico e narrativa fragmentada, o filme nos leva a uma jornada noturna pelas ruas de cinco cidades diferentes ao redor do mundo, explorando os encontros e as histórias dos taxistas e passageiros durante uma única noite. No entanto, apesar da premissa interessante, o filme pode deixar o público dividido.
Uma das características distintivas do Jim Jarmusch, em "Night on Earth", é a sua habilidade de capturar a essência e a diversidade das cidades em que se passa. Desde Los Angeles até Nova Iorque, de Paris a Roma, de Helsinque a uma sombria noite de inverno em uma pequena cidade do interior dos Estados Unidos, Jarmusch consegue transportar o espectador para cada uma dessas localidades com autenticidade e uma sensação de realismo pungente.
O elenco é uma das grandes forças do filme, com atores como Winona Ryder, Gena Rowlands, Armin Mueller-Stahl, Isaach De Bankolé e Roberto Benigni, que entregam performances marcantes e convincentes. A habilidade de Jarmusch em dirigir seu elenco, juntamente com seu roteiro afiado, proporciona momentos de humor, melancolia e reflexão ao longo da narrativa.
Além disso, a cinematografia de Frederick Elmes complementa perfeitamente a atmosfera noturna do filme, capturando a beleza e a solidão das cidades enquanto os táxis cruzam ruas vazias e iluminadas apenas pelos faróis dos carros. A trilha sonora de Tom Waits também é um elemento crucial para criar a ambientação única de cada cena.
Jarmusch tem um estilo distintivo e minimalista, e isso se reflete em "Night on Earth". O filme apresenta diálogos sutis e uma abordagem contemplativa, permitindo que o espectador mergulhe na atmosfera das cidades retratadas. Essa abordagem é refrescante e proporciona momentos de reflexão, mas também pode ser frustrante para aqueles que buscam uma trama mais tradicional e envolvente.
É possível argumentar que a narrativa fragmentada do filme pode não agradar a todos os espectadores. Com cinco histórias distintas acontecendo simultaneamente, algumas delas podem parecer mais envolventes do que outras, levando a uma sensação de desconexão. No entanto, essa abordagem também pode ser interpretada como uma representação da diversidade e da imprevisibilidade da vida urbana.
Embora as histórias sejam interessantes por si só e os atores entreguem performances convincentes, a narrativa fragmentada e episódica pode dificultar a conexão emocional com os personagens. Além disso, a falta de um fio condutor claro pode deixar alguns espectadores desorientados e em busca de uma estrutura mais coesa.
Apesar desses pontos considerados negativos no interior da experiência de alguns expectadores, "Night on Earth" é uma experiência visualmente cativante, com uma cinematografia impressionante que captura as nuances e os contrastes das diferentes cidades. A trilha sonora também desempenha um papel importante na criação da atmosfera, adicionando uma camada essencial de imersão.
No geral, "Night on Earth" é um filme que certamente apela para os fãs do estilo autoral de Jarmusch e para aqueles que procuram uma experiência cinematográfica contemplativa. No entanto, para os espectadores que preferem uma narrativa mais convencional e uma conexão emocional mais profunda, o filme pode deixar a desejar.
Em resumo, Jim Jarmusch nos agracia com uma obra que mergulha nas nuances da vida noturna e nos convida a conhecer personagens peculiares e complexos em diferentes partes do mundo. Com sua atmosfera única, performances memoráveis e uma visão de mundo ímpar, Jim Jarmusch nos presenteia com uma obra cinematográfica que permanece relevante e cativante até os dias de hoje. Com um elenco talentoso, humor sutil e uma cinematografia evocativa, o filme nos oferece uma visão intrigante da humanidade em suas várias facetas e emoções. É um convite para embarcar nessa jornada noturna pela humanidade, explorando a solidão e a conexão que coexistem nas metrópoles do mundo.
Videodrome: A Síndrome do Vídeo
3.7 545 Assista Agora"Videodrome", dirigido por David Cronenberg, é um filme de 1983, considerado uma viagem perturbadora pela obscuridade tecnológica, que mergulha profundamente na relação entre tecnologia, voyeurismo e distorção da realidade. Com uma abordagem perturbadora e visualmente impactante, o filme se destaca por sua atmosfera opressiva e visão distópica da sociedade contemporânea.
Um dos pontos positivos de "Videodrome" é a habilidade de Cronenberg em criar uma experiência sensorial intensa. A direção de arte, com seu uso de cores sombrias e tons frios, contribui para a construção de uma atmosfera claustrofóbica e desconcertante. O diretor também usa de maneira brilhante efeitos práticos para retratar a transformação física dos personagens, criando imagens grotescas e perturbadoras que ficam gravadas na memória do espectador.
Outro aspecto positivo é a crítica social abordada no filme. "Videodrome" questiona a influência dos meios de comunicação de massa e como eles podem moldar nossa percepção da realidade. Através da trama, Cronenberg expõe os perigos da obsessão pelo voyeurismo e pela violência televisiva, antecipando questões relevantes na era digital em que vivemos atualmente. Essa abordagem profética e provocativa faz com que o filme mantenha sua relevância mesmo décadas após seu lançamento.
No entanto, "Videodrome" também apresenta alguns pontos que, para quem não conhece o cinema de Cronenberg, podem ser considerados muito confusos. A narrativa, embora rica em simbolismo e conceitos intrigantes, pode ser confusa e difícil de seguir em certos momentos. Uma das características mais marcantes do diretor, representada com maestria aqui, se relaciona à habilidade incrível que Cronenberg tem de construir camadas de realidade que se misturam, fazendo com que as linhas entre a fantasia e a realidade, o delírio e a sanidade, se tornem turvas, o que pode alienar parte do público e causar certa frustração.
Além disso, algumas cenas de violência explícita e imagens perturbadoras podem ser excessivas para alguns espectadores mais sensíveis. Embora esses elementos tenham um propósito dentro do contexto do filme, eles podem dificultar a apreciação da obra por um público mais amplo.
No geral, "Videodrome" é um filme provocador que desafia as convenções narrativas e explora temas pertinentes à nossa relação com a tecnologia e a mídia, de maneira fulminante e, ainda, tão atual. Embora possa ser uma experiência desconfortável e desconcertante, a visão distópica de Cronenberg e a atmosfera opressiva do filme o tornam uma obra singular e inesquecível para os amantes do cinema de horror e ficção científica. Vale demais a revisita!
O Clã das Adagas Voadoras
3.8 367 Assista Agora"O Clã das Adagas Voadoras", dirigido por Zhang Yimou, um filme que eu assisti lá nos idos de 2005 e não entendi p0rr4 nenhuma, só fiquei deslumbrado e fascinado mesmo com a estética espetacular da sequências de luta e com a direção de arte formidável e grandiosa que esse filme tem. Revendo hoje, sentindo o peso da bagagem composta por tantas (res)significações que realizei ao longo do tempo, que me permitiu atribuir à arte um olhar mais atento, percebo que é um filme que apresenta tanto pontos positivos quanto negativos, resultando em uma experiência cinematográfica ambígua e curiosa.
Um dos pontos fortes do filme é a sua estética visual impressionante. Zhang Yimou é conhecido por sua habilidade em criar imagens deslumbrantes e esse filme não é exceção. A direção de arte é impecável, com figurinos exuberantes, cenários detalhados e uma paleta de cores vibrantes que contribuem para uma atmosfera mágica e envolvente. As sequências de luta são coreografadas com maestria, combinando movimentos elegantes e acrobáticos, e são um verdadeiro deleite para os nossos olhos.
Outro aspecto positivo é a trilha sonora marcante, que complementa perfeitamente as cenas e intensifica as emoções transmitidas. A música é utilizada de forma eficaz para criar tensão, romantismo e ação, aprimorando a experiência do espectador e dando vida às cenas.
No entanto, o filme apresenta algumas falhas que afetam sua qualidade geral. Uma delas é a falta de desenvolvimento dos personagens. Embora os atores entreguem boas performances, os personagens principais são pouco explorados em termos de motivações e complexidade emocional. Isso limita a capacidade do espectador de se conectar emocionalmente com eles e reduz o impacto emocional das reviravoltas da trama.
Outra crítica válida é a previsibilidade do enredo. Desde o início, é possível antecipar o desfecho da história, deixando pouco espaço para surpresas ou reviravoltas emocionantes. Isso compromete a tensão narrativa e a capacidade do filme de prender a atenção do espectador ao longo da projeção.
Além disso, alguns aspectos da trama podem parecer simplistas ou pouco explorados. Questões como traição, amor proibido e lealdade são abordadas, porém de maneira superficial, deixando o público com a sensação de que há potencial para um aprofundamento maior desses temas.
Apesar desses pontos negativos, "O Clã das Adagas Voadoras" ainda oferece uma experiência visualmente impactante, com uma direção de arte espetacular e sequências de luta impressionantes. É um filme que pode ser apreciado e revisto inúmeras vezes pelo seu apelo estético, mas que deixa a desejar em termos de desenvolvimento de personagens e narrativa.
O Expresso da Meia-Noite
4.1 476 Assista Agora"O Expresso da Meia-Noite", lançado em 1978 e dirigido por Alan Parker, é um filme impactante e sombrio que retrata a dura realidade do sistema prisional turco. Inspirado em eventos reais, o longa-metragem aborda a história de Billy Hayes, interpretado brilhantemente por Brad Davis, um jovem americano preso por tráfico de drogas enquanto tentava sair do país.
O filme apresenta uma narrativa intensa e envolvente, que mergulha profundamente nos horrores e nas injustiças do sistema penitenciário. A jornada de Billy é retratada com realismo cru, capturando a desesperança e a brutalidade da prisão de uma maneira perturbadora. A atuação de Brad Davis é excepcional, transmitindo a angústia e a agonia de seu personagem de forma convincente.
No entanto, apesar da força do enredo e das performances, "O Expresso da Meia-Noite" às vezes se perde em sua própria escuridão. O filme tende a se concentrar tanto nos aspectos brutais da prisão que acaba perdendo a oportunidade de explorar mais profundamente a psicologia dos personagens. Além disso, a falta de um ritmo consistente em certos momentos pode prejudicar o envolvimento do espectador.
Outro ponto a ser destacado é a abordagem cultural. Embora o filme tenha sido aclamado internacionalmente, algumas críticas argumentam que ele retrata a Turquia de forma estereotipada, enfatizando excessivamente os aspectos negativos do país. Essa visão unidimensional pode reduzir a complexidade da realidade turca e promover uma perspectiva enviesada.
Apesar de suas falhas, "O Expresso da Meia-Noite" continua sendo uma obra relevante que confronta o espectador com questões de justiça, sobrevivência e a essência humana em condições extremas. É um retrato poderoso e perturbador, embora com algumas limitações, que merece ser visto e discutido como uma reflexão sobre o sistema prisional e as injustiças enfrentadas pelos detentos.
Marcas da Violência
3.8 399 Assista Agora"Marcas da Violência", dirigido por David Cronenberg em 2005, é um filme que mergulha nas profundezas da violência humana e suas consequências devastadoras. Com uma narrativa visceral e uma abordagem crua, o diretor entrega uma obra que perturba e provoca reflexões sobre os limites da moralidade e da natureza humana.
Uma das principais conquistas do filme é a habilidade de Cronenberg em retratar a violência de forma autêntica e realista. Ele evita qualquer romantização ou glamurização dos atos violentos, mostrando-os em toda a sua brutalidade e crueldade. Essa abordagem direta e honesta pode ser desconfortável para alguns espectadores, mas é justamente essa sensação de desconforto que torna o filme tão poderoso.
Além disso, o elenco entrega atuações de alto nível. Viggo Mortensen se destaca como Tom Stall, um homem comum que é forçado a confrontar seu passado violento. Mortensen transmite uma mistura intrigante de vulnerabilidade e força, cativando o público e tornando-se o centro emocional do filme. Maria Bello também merece elogios pela sua interpretação de Edie Stall, esposa de Tom, que passa por uma jornada intensa de descoberta e sobrevivência.
Outro aspecto notável é a habilidade de Cronenberg em explorar as camadas psicológicas dos personagens. O filme questiona a natureza da identidade e a influência do ambiente na formação de indivíduos violentos. Ele nos faz refletir sobre como as experiências passadas e a pressão social moldam nossa personalidade e até que ponto podemos escapar desse ciclo de violência.
No entanto, apesar de suas qualidades indiscutíveis, "Marcas da Violência" pode não ser para todos. Sua natureza perturbadora e gráfica pode alienar espectadores mais sensíveis ou que não estejam preparados para encarar a brutalidade retratada na tela. Além disso, o filme pode parecer lento em certos momentos, especialmente para aqueles que buscam uma experiência mais dinâmica.
Em suma, "Marcas da Violência" é um filme corajoso que desafia convenções e nos faz confrontar os aspectos mais sombrios da condição humana. Com uma direção habilidosa de David Cronenberg, performances excepcionais e uma exploração profunda da violência e de suas consequências, este filme de 2005 continua sendo um retrato impactante e provocativo dos limites éticos e morais que enfrentamos como sociedade.
Vidas Sem Rumo
3.8 259 Assista Agora"Vidas Sem Rumo", dirigido por Francis Ford Coppola e lançado em 1983, é um filme que retrata a vida de jovens marginalizados em uma sociedade desolada. Embora seja considerado um clássico do cinema, não posso deixar de expressar minha crítica em relação à sua abordagem superficial e estereotipada dos personagens e temas que aborda.
Um dos principais problemas do filme é sua representação estereotipada dos jovens envolvidos em gangues. Embora a intenção do diretor fosse mostrar a falta de perspectiva e a violência presentes na vida desses adolescentes, a abordagem acaba se tornando simplista e caricatural. Os personagens são reduzidos a estereótipos unidimensionais, sem profundidade emocional ou motivações claras além de uma sede por rebelião e destruição.
Além disso, o roteiro não oferece uma narrativa consistente para sustentar as ações dos personagens. As cenas parecem desconectadas e fragmentadas, deixando o espectador com a sensação de que falta coesão e desenvolvimento adequado dos arcos dos personagens. Os diálogos também não ajudam a construir uma empatia genuína com os protagonistas, pois muitas vezes caem em clichês e frases de efeito vazias.
Embora "Vidas Sem Rumo" tente explorar temas relevantes, como a alienação juvenil e a busca por identidade, sua abordagem é excessivamente melodramática e exagerada. A trilha sonora, apesar de ser um dos aspectos mais memoráveis do filme, muitas vezes parece excessivamente manipulativa, tentando forçar uma emoção que não é genuinamente construída pelas cenas.
Apesar de suas falhas, o filme conta com uma direção competente e algumas performances sólidas, destacando-se principalmente a atuação de Matt Dillon como o rebelde e carismático Dallas. A cinematografia também merece elogios pela forma como retrata as paisagens urbanas e a atmosfera sombria que permeia a história.
No entanto, esses aspectos positivos não são suficientes para compensar as deficiências de "Vidas Sem Rumo". A falta de complexidade nos personagens e a narrativa fragmentada acabam prejudicando a capacidade do filme de transmitir uma mensagem significativa sobre a condição humana e a desesperança da juventude desamparada.
Em suma, "Vidas Sem Rumo" é um filme que, pelo menos PRA MIM, falha em sua tentativa de retratar de maneira autêntica a vida dos jovens marginalizados. Sua abordagem superficial e estereotipada, aliada a uma narrativa fragmentada, representaram obstáculos impeditivos para que eu me envolvesse verdadeiramente com a história e os personagens. Embora seja um marco cultural da década de 1980, é importante analisar criticamente suas falhas para uma compreensão mais completa do filme.
Serpico
4.1 275 Assista Agora"Serpico" (1973) é uma obra-prima do cinema que aborda corajosamente a corrupção policial em uma época em que a questão era pouco discutida. O filme brilha ao retratar a jornada de Frank Serpico, interpretado de maneira excepcional por Al Pacino, enquanto ele se torna cada vez mais isolado e desiludido em um sistema corrupto. A direção habilidosa de Sidney Lumet capta de forma contundente a tensão e a atmosfera sombria da Nova York dos anos 1970. No entanto, apesar de seu poderoso retrato, "Serpico" às vezes pode ser excessivamente longo e lento, com momentos que parecem arrastar-se desnecessariamente. Apesar disso, o filme permanece como uma crítica atemporal à corrupção e serve como um lembrete do valor da honestidade e da luta por justiça.
Mulheres Diabólicas
4.0 86 Assista Agora"Mulheres Diabólicas", lançado em 1995, é um filme que merece reconhecimento por sua abordagem ousada e sua capacidade de criar uma atmosfera intensa e envolvente. Com uma trama cheia de reviravoltas e ótimas atuações, o filme se destaca como um exemplo de suspense psicológico que mantém o espectador à beira do assento.
Uma das maiores forças de "Mulheres Diabólicas" é o seu roteiro engenhoso. A história se desdobra gradualmente, revelando camadas intrigantes e complexas que mantêm o espectador intrigado do início ao fim. Os diálogos bem escritos aprofundam os personagens e suas motivações, proporcionando um enredo envolvente que desafia as expectativas e mantém o suspense até o último momento.
O elenco talentoso de "Mulheres Diabólicas" merece aplausos por suas atuações convincentes. Cada atriz entrega performances poderosas e carismáticas, elevando o nível do filme. A química entre Sandrine Bonnaire, Isabelle Huppert, Jacqueline Bisset e Jean-Pierre Cassel, é palpável, criando um fascinante jogo de gato e rato que mantém a tensão e o interesse do público. Suas interpretações multifacetadas acrescentam profundidade aos personagens e tornam suas ações e motivações ainda mais fascinantes.
A direção habilidosa de "Mulheres Diabólicas" contribui para a atmosfera misteriosa do filme, apesar de ser bem menos sinistra do que eu imaginava. A escolha de ângulos de câmera e a cinematografia fria ajudam a criar uma sensação de suspense e incômodo constantes, aumentando a tensão em cada cena. A trilha sonora sutil, mas eficaz, complementa perfeitamente as imagens na tela, inserindo um elemento adicional de imersão e intensidade.
Além disso, "Mulheres Diabólicas" se destaca por suas reviravoltas inteligentes e bem executadas. O filme brinca com as expectativas do público, desafiando-o a decifrar os segredos ocultos e a verdade por trás das ações das personagens. Essas reviravoltas mantêm o interesse ao longo da narrativa, mantendo o espectador completamente envolvido na história.
Em resumo, "Mulheres Diabólicas" é um thriller psicológico envolvente que não apenas entretém, mas também desafia a mente do espectador. Com seu roteiro inteligente, atuações competentes e direção habilidosa, o filme oferece uma experiência cinematográfica satisfatória apenas. Mais do que isso seria exagero da minha parte. Se você procura por um filme que mergulha fundo na mente humana e mantém você intrigado do começo ao fim, "Mulheres Diabólicas" certamente é o filme certo pra você.
Bad Boy Bubby
4.0 142Bad Boy Bubby, dirigido por Rolf de Heer, é um daqueles filmes que desafia as convenções cinematográficas e mergulha nas profundezas da psique humana de uma maneira desconfortável e perturbadora. Embora seja elogiado por sua abordagem audaciosa e ousada, é difícil negar que este filme não seja para os fracos de coração.
A história segue Bubby, um homem que foi mantido em confinamento durante toda a sua vida por sua mãe abusiva e doente. Quando finalmente é libertado do seu mundo claustrofóbico, Bubby é lançado em um ambiente estranho e confuso, onde a violência, o abuso e a exploração parecem ser a norma. Através dos olhos ingênuos de Bubby, somos confrontados com a natureza sombria da humanidade e os limites da nossa própria compreensão.
O que torna Bad Boy Bubby tão difícil de digerir é a sua representação crua e visceral da violência e da depravação humana. O filme nos obriga a confrontar o lado mais obscuro da sociedade e nos desafia a questionar nossos próprios valores e moralidade. No entanto, essa abordagem é frequentemente levada ao extremo, resultando em cenas perturbadoras que, consideradas por mim, gratuitas e desnecessárias.
O ritmo lento e a narrativa fragmentada tornam o filme uma experiência desafiadora. A falta de uma estrutura clara e a progressão narrativa inconsistente podem deixar os espectadores confusos e desconectados da história. Embora esse estilo não convencional possa ser apreciado por alguns, para outros pode se tornar tedioso e frustrante.
Além disso, a falta de um desenvolvimento sólido dos personagens contribui para a superficialidade do filme. Bubby é retratado como um ser ingênuo e simplório, mas sua jornada não parece trazer uma evolução significativa ou uma compreensão mais profunda de sua própria condição. As interações de Bubby com outros personagens são frequentemente caricaturais, não permitindo uma verdadeira empatia ou conexão emocional.
A estética visual do filme, embora seja intencionalmente crua e desagradável, não é o suficiente para sustentar uma experiência cinematográfica gratificante. A cinematografia e a trilha sonora, embora demonstrem habilidade técnica, não conseguem compensar a falta de uma narrativa envolvente e personagens bem desenvolvidos.
Apesar desses pontos negativos, Bad Boy Bubby é inegavelmente uma obra corajosa e única, que desafia os limites do que o cinema pode realizar. A performance de Nicholas Hope como Bubby é notável, capturando a inocência e a vulnerabilidade do personagem de uma forma genuína e perturbadora. Além disso, a cinematografia e a trilha sonora criam uma atmosfera claustrofóbica que reflete a condição mental do protagonista.
Por conseguinte, Bad Boy Bubby é um filme que divide opiniões. Sua abordagem audaciosa e provocativa é tanto sua maior força quanto sua maior fraqueza. Enquanto alguns podem admirar sua coragem em desafiar as convenções, outros podem se sentir alienados e perturbados pela violência explícita e pela narrativa fragmentada. Independentemente disso, é inegável que este filme é uma experiência cinematográfica única e impactante.
Trem Mistério
4.0 51 Assista Agora"Mystery Train", dirigido por Jim Jarmusch em 1989, é um fascinante conto interligado que captura a essência única do estilo do diretor. Com seu olhar poético e melancólico, Jarmusch cria uma atmosfera hipnótica ao explorar as interações entre personagens estranhamente cativantes.
O filme se passa em Memphis e entrelaça três histórias separadas, que se entrelaçam no mesmo local: um casal japonês obcecado por Elvis Presley, um italiano em busca de sua identidade e uma mulher fugindo de um crime. Todas as histórias aparecem conectadas pelo misterioso trem que atravessa a cidade. Jarmusch consegue capturar a essência da cidade, sua atmosfera enigmática e a cultura do blues de maneira autêntica. A cinematografia em preto e branco acentua a sensação de nostalgia e melancolia, adicionando uma camada adicional de charme ao filme.
Com um estilo visual elegante e uma trilha sonora marcante, "Mystery Train" é uma obra que exala charme e originalidade, repleta de diálogos inteligentes e situações inesperadas. A direção de Jarmusch é habilidosa ao equilibrar o humor sutil e a reflexão profunda, enquanto constrói personagens cativantes e autênticos. Jarmusch nos leva a um passeio pelo submundo de Memphis, explorando temas como solidão, alienação e a conexão humana. A atmosfera melancólica e ao mesmo tempo romântica do filme nos transporta para um lugar onde sonhos e realidade se encontram, e onde personagens desajustados encontram refúgio.
A escolha do elenco também merece destaque. Com atuações notáveis de músicos como Joe Strummer, do The Clash, e Screamin' Jay Hawkins, o filme ganha uma autenticidade extra. Os atores entregam performances marcantes, explorando as nuances de seus personagens de forma envolvente e engraçada. O elenco de "Mystery Train" entrega performances excepcionais, cada um com sua própria história intrigante e peculiar. O humor sutil e os diálogos minimalistas de Jarmusch se combinam perfeitamente com a trilha sonora eclética e evocativa, reforçando a experiência única do filme.
Embora "Mystery Train" possa não agradar aos fãs de narrativas lineares tradicionais, aqueles que apreciam o estilo distinto de Jarmusch e sua abordagem contemplativa encontrarão neste filme uma obra-prima cinematográfica, é um dos meus favoritos do diretor. É uma jornada encantadora e imersiva pelo coração de Memphis, onde o real e o surreal se entrelaçam de forma poética e intrigante.
Ao explorar o amor, a morte e a cultura pop de maneira única, "Mystery Train" se estabelece como um clássico do cinema independente. É um filme que deixa uma impressão duradoura, convidando o espectador a refletir sobre os mistérios da vida e a importância dos encontros fortuitos. Para os fãs de Jarmusch e do cinema alternativo, este é um filme que certamente deve ser apreciado.
8½
4.3 409 Assista AgoraA obra-prima cinematográfica "8 e Meio", dirigida por Federico Fellini, é uma jornada fascinante, íntima e extremamente pessoal em direção à criatividade. É uma experiência transcendental que mergulha nas profundezas da mente de um diretor de cinema em crise, proporcionando uma exploração rica e complexa da criatividade, da arte e da própria existência humana. Lançado em 1963, o filme continua sendo uma referência icônica na história do cinema, mantendo sua relevância e impacto até os dias de hoje.
No centro da trama está Guido Anselmi, interpretado magnificamente por Marcello Mastroianni, um diretor de renome que se vê preso em um bloqueio criativo. Fellini habilmente guia os espectadores por uma jornada interior, através dos sonhos, das memórias e das fantasias de Guido, enquanto ele luta para encontrar inspiração e dar sentido ao seu próximo projeto. A narrativa do filme é habilmente construída, alternando entre o mundo real e as paisagens oníricas, fundindo passado e presente, verdade e ilusão, de uma maneira que desafia as convenções cinematográficas.
Uma das conquistas mais notáveis de "8 e Meio" é a forma como Fellini mescla a realidade e a imaginação, criando um universo cinematográfico único. As sequências de sonho e fantasia são visualmente deslumbrantes, repletas de simbolismo e surrealismo, permitindo ao público se perder nos labirintos da mente de Guido. A direção de arte é magistral, com figurinos extravagantes e cenários exuberantes, destacando-se a icônica cena do carnaval, que transborda energia e excentricidade.
A atuação de Marcello Mastroianni é nada menos que brilhante. Ele retrata de forma convincente a complexidade e a angústia de Guido, capturando a luta interior e a vulnerabilidade emocional do personagem. O elenco de apoio também merece aplausos, com atuações memoráveis de Anouk Aimée, Claudia Cardinale e Sandra Milo, que desempenham papéis importantes na vida de Guido e contribuem para a trama com suas próprias camadas de significado.
Além do aspecto visual e da atuação extraordinária, "8 e Meio" apresenta uma reflexão profunda sobre o papel do artista na sociedade e a natureza da criatividade. Fellini aborda as pressões e as expectativas enfrentadas pelos artistas, questionando o propósito da arte e a busca pela autenticidade. Por meio de Guido, o diretor explora temas universais como identidade, amor, morte e redenção, conectando-se com o público em um nível emocional e intelectual.
No entanto, é preciso mencionar que "8 e Meio" pode ser desafiador para alguns espectadores menos familiarizados com o estilo de Fellini. A narrativa fragmentada e a abundância de metáforas podem tornar a compreensão do filme um tanto exigente. No entanto, essa complexidade também é uma das maiores forças do filme, pois permite diferentes interpretações e abre espaço para discussões e reflexões sobre uma ampla gama de temas.
Em resumo, "8 e Meio" é uma obra-prima atemporal que cativa e estimula os sentidos. Com sua estética visual impressionante, performances magistrais e uma narrativa intrincada, Federico Fellini criou um filme que vai além da simples experiência cinematográfica, explorando as profundezas da alma humana. "8 e Meio" é um convite para explorar os mistérios da criação artística e mergulhar em um mundo de imaginação, sonhos e autodescoberta.
Suspiria
3.8 979 Assista AgoraO diretor italiano Dario Argento é conhecido por suas contribuições únicas e distintas para o gênero do horror, e seu filme "Suspiria" certamente não é exceção. Lançado em 1977, o filme conquistou um status cult ao longo dos anos, e sua influência pode ser sentida em muitas obras do cinema de terror que se seguiram. Com sua abordagem visual ousada e trilha sonora icônica, "Suspiria" é uma experiência cinematográfica hipnotizante e inesquecível.
Desde os primeiros momentos do filme, fica claro que Argento está interessado em criar uma atmosfera de pesadelo. A história se passa em uma renomada academia de dança na Alemanha, onde uma jovem bailarina americana, interpretada por Jessica Harper, começa a descobrir os terríveis segredos ocultos entranhados nas paredes do lugar. A trama em si não é particularmente complexa, mas é através da direção de Argento que ela ganha vida e se torna uma experiência sensorial única.
O aspecto mais impressionante de "Suspiria" é, sem dúvida, a direção de arte e a cinematografia. Argento mergulha o espectador em um mundo de cores vibrantes e exageradas, criando uma paleta visual que é tanto bela quanto perturbadora. Cada cena é meticulosamente composta, com uma atenção aos detalhes que ressalta o estilo expressionista e surreal do diretor. Os cenários se tornam personagens por si só, com seu design elaborado e uso de luz e sombra, criando uma sensação de claustrofobia e desconforto constantes.
A trilha sonora de "Suspiria", composta pela banda progressiva italiana Goblin, é igualmente icônica. Com suas melodias sinistras e repetitivas, a música adiciona uma camada essencial e enervante de tensão e estranheza ao filme. Cada nota se une perfeitamente à narrativa visual, aumentando a sensação de medo e angústia do espectador. A combinação da trilha sonora com as imagens poderosas e a atmosfera criada pelo diretor resulta em uma experiência que é tanto arrepiante quanto fascinante.
Embora "Suspiria" seja, sem dúvida, uma obra-prima visual, alguns espectadores podem achar a história subdesenvolvida ou até mesmo confusa em certos momentos. No entanto, é importante lembrar que o filme é mais sobre a experiência sensorial do que sobre uma narrativa linear. É uma jornada surreal e emocionalmente intensa que busca invocar emoções e sensações perturbadoras, em vez de contar uma história convencional.
Em última análise, "Suspiria" é um exemplo impressionante do talento e da visão singular de Dario Argento. Seu estilo único e inovador influenciou gerações de cineastas de terror, e o filme continua a ser uma referência no gênero até hoje. Para os amantes do cinema de terror e da arte cinematográfica como um todo, "Suspiria" é uma experiência que merece ser apreciada pelo seu poder visual e atmosfera angustiante. Prepare-se para ser absorvido.
Cidade Baixa
3.4 356 Assista Agora'Cidade Baixa' é um filme que deve ter, por baixo, uns 15 anos que eu assisti e, desde então, eu adiei por muito tempo uma revisita a essa obra maravilhosa e ora porque não dizer gloriosa. Não me lembrava com muita clareza da trama. Entretanto, revendo o filme agora, fica evidente que o roteiro do Karim Aïnouz e do Sérgio Machado nos insere no epicentro de uma trama situada num contexto suburbano, na periferia de Salvador, coordenada pela direção crua, rústica e praticamente artesanal do Sérgio Machado. Não é atoa que 'Cidade Baixa' foi selecionado para a mostra Um Certo Olhar, do Festival de Cannes, em 2005. O diretor baiano conduz uma trama suburbana, através de uma perspectiva muito íntima e particular, sem muita firula e sofisticação, justamente para privilegiar a crueza da realidade dos ambientes pouco asseados que nos são apresentados ao longo da trama.
Em 'Cidade Baixa', acompanhamos a construção de um trisal maravilhoso e ora porque não dizer glorioso, cheio de sentimento e tensão sexual, e muito bem construído, aliás, graças à química e ao entrosamento extremamente orgânico, emocional, visceral e cheio de sensibilidade entre o Lázaro Ramos, o Wagner Moura e a Alice Braga. A câmera do Sérgio Machado conecta o espectador com o que há de mais íntimo, sensível e pessoal nas pessoas, nas coisas e na arquitetura daquela região de Salvador, que é quase um personagem à parte. 'Cidade Baixa' é Cinema com 'C' maiúsculo mesmo, que entrega um resultado absurdamente satisfatório e conseguindo até superar as minhas expectativas, com destaque para as excelentes atuações, a ambientação e o desenvolvimento impecável dos arcos dramáticos apresentados em seu roteiro.
Miracle Mile
3.9 40Fui cheio de expectativas para 'Miracle Mile' e, infelizmente, esse foi um dos problemas. Um sujeito recebe uma informação duvidosa e questionável a respeito de um (im)provável desastre nuclear em Los Angeles, através do telefone de uma cafeteria no meio da madrugada e pronto, isso é suficiente para estabelecer o clima de paranoia que envolve todos os desdobramentos seguintes apontados pelo roteiro. Entretanto, é, no máximo, interessante acompanhar a jornada do Harry, interpretado pelo Anthony Edwards, numa atuação apenas esforçada.
Gostei muito do romance que se estabelece logo no início do filme, entre o Harry e a Julie. A estética noturna oitentista explorada pelo Steve De Jarnatt, aliada aos sintetizadores quase hipnóticos do Tangerine Dream, permitem a construção de um clima sonhante/onírico e auxilia, de maneira bem competente, na consolidação de uma atmosfera de paranoia que cresce gradualmente ao longo da trama, colocando-a em suspensão num lugar específico entre o real e o fantasioso, entre a sanidade e o delírio.
Todavia, o próprio roteiro de ‘Miracle Mile’ se superestima ao construir acontecimentos e situações absurdas, com um clima de catástrofe e atuações sofríveis, pra tentar se orientar, pretensiosamente, a um desfecho que possa puxar o tapete sob os pés do espectador. Confesso que em alguns momentos fiquei me perguntando se tudo aquilo não passava de um delírio e de um sonho mesmo do Harry, a ponto de me manter investido de forma curiosa na narrativa, pra ver se tudo aquilo iria dar em alguma coisa ou não. Apesar disso, ao mesmo tempo, fica óbvio que todos os desdobramentos subsequentes ao telefonema coadunam com o final do filme, sobretudo no que diz respeito ao fato de todos os personagens comprarem o suposto “delírio” do Harry, se comportando como se já tivessem tomado aquilo como verdade e buscarem meios pra tentar escapar do suposto desastre.
Por fim, 'Miracle Mile' é apenas um filme Cult que até consegue tirar leite de pedra, tendo em vista o seu orçamento limitado. Contudo, mesmo com a crescente tensão, com as dúvidas (transitórias, vale destacar), suscitadas ao longo do filme, aliadas a bons momentos salpicados aqui e ali, 'Miracle Mile' entrega um final previsível, pra não dizer óbvio, não superando (e nem sequer atingindo) as minhas expectativas, tornando, pra mim, a experiência insatisfatória em certos níveis.
Estranhos no Paraíso
3.9 113 Assista AgoraMe arrependo amargamente de ter procrastinado tanto a missão de começar a conferir a filmografia do Jim Jarmusch, um diretor com identidade única, muito pessoal e uma visão de mundo extremamente particular. Comecei com 'Sobre Café e Cigarros', filme de 2003 do diretor, com momentos deliciosos de conversas aparentemente banais, embaladas pela ingestão de cafeína e nicotina, que torna quase impossível a tarefa de não acender um cigarro e fumar junto com os personagens ao longo do desenvolvimento das pequenas tramas.
Em 'Stranger Than Paradise', Jim Jarmusch estreia a sua produção de longas-metragens com um filme que nos faz perceber que não há nada melhor e mais eficiente para individualizar o sujeito do que pequenas dozes de grandes metrópoles. O tédio funciona aqui não só como um recurso narrativo para desenvolvimento da trama, mas como um sentimento inerente ao homem comum, cuja rotina se encontra pulverizada em torno de um tédio comum e acentuado, que parece ser compartilhado por todos os personagens apresentados na trama.
Acompanhamos, aqui, a rotina trivial e aparentemente inócua de dois malandros, interpretados por John Lurie e Richard Edson, convergida com a vida da prima Húngara de um deles, interpretada pela belíssima Eszter Balint. A trama de 'Stranger Than Paradise' é simples e contida, mas eficiente em apresentar as intenções de seus personagens. Falo com tranquilidade que 'Stranger Than Paradise' superou minhas expectativas, principalmente ao apresentar uma situação que ninguém espera que aconteça com um malandro inato, em seu desfecho. Chame do que quiser: de destino, acaso ou carma, mas qualquer um desses três elementos dão conta de explicar a imprevisibilidade das coisas. É realmente um marco do cinema independente norte-americano.
As Diabólicas
4.2 208 Assista AgoraLes Diaboliques' um filme que eu assisti há muitos anos, quando criança ainda, e sempre me lembrava vagamente de algumas cenas e imagens sem qualquer tipo de coerência na minha mente. Como eu sou um autosabotador clássico, adiei anos pra rever esse filme enquanto priorizava obras de qualidade inferior, embora do mesmo gênero.
Não é em vão que o Henri-Georges Clouzot é considerado o Hitchcock francês. O grande trunfo e mola motriz de 'As Diabólicas' é o modo como o Clouzot conduz a trama e a forma charmosa como ele orienta a construção gradual do suspense. Tal como (e tanto quanto) o diretor de 'Disk M Para Matar' e 'Psicose', Clouzot é um verdadeiro mestre do suspense, aos pés e ao nível do Hitchcock mesmo. É fato que a comparação com o Clouzot promoveu um sentimento de animosidade e desconforto no Hitchcock, a ponto deste se sentir ameaçado criativamente pelo gênio Clouzot, verdadeiramente reconhecendo-o como rival após assistir obras memoráveis dele, como 'O Salário do Medo'.
Contudo, esse sentimento de rivalidade era justificável: 'As Diabólicas' é um filme de trama envolvente e imersiva, com um mistério intrigante, personagens enigmáticos, de moral questionável e ambígua, com um suspense muito bem construído, através de uma tensão psicológica enervante e desconfortável, e uma trama coerente de natureza conspiratória, culminando num plot twist crível e impactante, permitindo amarrar um mistério construído de maneira criativa e muito inteligente. Adjetivar o plot twist de 'As Diabólicas' como 'previsível' pode ser até considerado anacronismo, visto que é um plot twist surpreendente e muito bom, considerado de alto padrão para o cinema da época. Além disso, muitas obras de suspense do cinema moderno e até mesmo alguns dos filmes de suspense noir produzidos por diretores estadunidenses, como William Castle, não seriam uma possibilidade, se não fosse por filmes como 'As Diabólicas'.
Todas as pistas que levam aos desdobramentos da trama e revelação do plot twist estão ali jogadas desde o início. Embora tais pistas não sejam óbvias, não é preciso pensar muito pra entender o que está acontecendo e quais são as reais intenções da personagem da Vera Clouzot. Até isso é proposital aqui, mas mesmo sendo dessa forma, o suspense não deixa de ser instigante e o clímax não deixa de ser surpreendente. Vale muito a pena a experiência de assistir 'As Diabólicas'.
Verão de 84
3.4 411 Assista AgoraRua do Medo me lembrou Verão de 84 (2018) nesse aspecto que envolve o agrupamento de jovens para resolução de um mistério, só que em Verão de 84, o serial killer é mortal, de carne e osso, e pode ser até seu vizinho.
Verão de 84 é muito divertido, intrigante, tem uma atmosfera tensa e também resgata essa vibe de mistério e suspense dos anos 80 quando coloca um grupo de crianças para investigar uma série de assassinatos que estão ocorrendo no interior do subúrbio norte-americano, a partir do momento que começam a suspeitar dos comportamentos questionáveis de um vizinho.
As referências a Contatos Imediatos de Terceiro Grau (1977), ET (1982), Goonies (1985) e a qualquer coisa que o Robert Zemeckis, Spielberg, Richard Donner, Chris Columbus e Stephen King tenham feito na década de 80 são nítidas desde o início quando nos deparamos com a narrativa em off de um dos personagens, com o figurino e design de produção oitentistas e o princípio de desenvolvimento de uma trama de suspense e investigação, situada num espaço distante das atribulações dos grandes centros urbanos, tendo um grupo clássico de crianças dos anos 80 como figuras principais da trama.
Obras como Stranger Things já surfaram na onda dos anos 80 e já deram conta de usar, abusar e esgotar todas as referências possíveis aos filmes dessa década, até saturando um pouco esse estilo de narrativa e fazendo com que qualquer coisa que viesse depois parecesse um deja vu ou só um mix genérico de qualquer coisa que eu já tenha visto nesse estilo, mas Verão de 84 tem uma trama intrigante, com uma narrativa clássica de filmes de aventura e investigação, e um mistério & suspense que se intensificam de forma gradativa ao longo do filme.
Por mim o filme poderia ter acabado ali logo após a resolução do mistério. O segundo plot twist é bem desnecessário, mas puxa o tapete debaixo dos pés do espectador ao apresentar um desfecho imprevisível, meio triste e até um pouco indigesto e incômodo, mas mesmo assim, Verão de 84 equilibra humor, aventura, mistério e suspense com uma fluidez extremamente orgânica, tornando a narrativa envolvente, intrigante e bem imersiva.
Rua do Medo: 1994 - Parte 1
3.1 773 Assista AgoraBaseado numa série literária homônima do R.L. Stine, Rua do Medo: Parte 1 mistura elementos clássicos dos filmes de Terror, Horror e Slasher da década de 80 (e 90), com um roteiro que não se leva a sério em nenhum momento e nem tenta reinventar a roda, mas com uma trama divertida, tensa e intrigante na medida certa.
Se você assistiu filmes como Halloween (1978), Sexta-feira 13 (1980), Sleepaway Camp (1983) e Scream (1996), a identificação de signos peculiares dessas franquias é imediata, desde o assassino encapuzado com uma faca, ao maníaco que persegue suas vítimas com um machado nas mãos. Entretanto, um dos pontos positivos da trama é que, ao invés de tradicionalmente apresentar um casal heterossexual sendo metaforicamente punidos por fazerem sexo, Rua do Medo inova ao desenvolver um casal constituído por duas mulheres como par romântico situado no interior do protagonismo da trama. Todos os elementos da adolescência estão aqui: o medo pela busca por aceitação, a ingenuidade, a ressignificação identitária e a descoberta da sexualidade.
O filme também acena pra Goonies (1985) e para as obras dos anos 80 do Stephen King, como Stand By Me e IT, apresentando a possibilidade do agrupamento de adolescentes com um objetivo em comum: resolver o mistério sobrenatural por trás de uma série de assassinatos que estão ocorrendo numa típica cidadezinha do subúrbio norte-americano.
Apesar do filme se perder em meio a um pastiche de inúmeras referências, Rua do Medo apresenta uma narrativa clássica de terror com doses bem equilibradas de humor, trash e horror, bom ritmo e uma tecnologia nostálgica, que pode passar despercebida pra quem nasceu nos anos 2000. A trilha sonora é primorosa: começa com Nine Inch Nails e termina com Pixies e Alice Cooper, pra quebrar as perna do pai.
A trama é desenvolvida com a mesma simplicidade que sua premissa. Assistir esperando sentir medo ou ficar minimamente aterrorizado é colocar as expectativas no lugar errado. Contudo, Rua do Medo se torna uma boa opção para aplacar o tédio noturno de um final de semana enclausurado dentro de casa.
Resolution
3.4 81Se você tiver um amigo drogado que esteja precisando de ajuda profissional, é menos tedioso e menos trabalhoso amarrá-lo e levá-lo direto para um centro especializado de reabilitação do que prendê-lo no interior de uma cabana velha, no meio do nada, por uma semana, e esperar as substâncias psicotrópicas saírem do corpo dele.
Esse filme não tem razão ou necessidade nenhuma de existir.
A Vastidão da Noite
3.5 574 Assista AgoraThe Vast Of Night mexeu tanto comigo, de maneira que eu fico ainda mais maravilhado com esse filme a cada instante em que penso sobre ele. Em sua estreia como diretor, Andrew Patterson nos presenteia com um filme que é uma espécie de joia dourada, de narrativa incrivelmente simples, porém, carregado, enigmático e atmosférico em seus diálogos. A química entre os dois protagonistas é incrível! Essa sensação é reforçada pelos diálogos vigorosos, repletos de pistas e significados para se entender SOBRE O QUÊ que o roteiro quer falar (e não, não é só sobre EXTRATERRESTRES!!!).
.
A personagem da Sierra McCormick é extremamente inteligente, e é através da naturalidade e dinamicidade de sua atuação a trama vai ganhando força, elevando os índices de tensão da narrativa, à medida que os acontecimentos vão sendo postos em cena, o que possibilita a construção de uma intensidade narrativa absurdamente inquietante. O poder dos diálogos é fundamental aqui pra construção da trama e o baixo orçamento do filme é facilmente driblado pelos tracking shots inventivos do Andrew Patterson, aliado ao seu senso de urgência, espaço e realidade.
.
The Vast Of Night pode ser um filme simples, de orçamento limitado, mas tem um roteiro extremamente forte e significativo, que se vale de alegorias e metáforas fortes através desse pano de fundo de ficção científica, discutindo muito mais sobre questões que dizem respeito à nossa sociedade, como mídia, propaganda e ALIENação do que sobre os ETs. A gente já tá bem saturado de filme blockbuster maquiado com CGI milionário, recursos visuais fantásticos e um orçamento absurdo, porém vazio, insosso e superficial em sua HISTÓRIA (que é o que realmente importa no cinema).
.
The Vast Of Night é um filme que segue totalmente na contramão desses parâmetros. Totalmente simples, pequeno, limitado em seus recursos e elementos, The Vast Of Night é a materialização máxima daquele mote clássico do cinema: “conte-me uma boa história”. O filme é repleto de referências pontuais às revistas Pulp e à clássica 'Twilight Zone' da década de 50, e se constitui como uma Ode à comunicação, ao Rádio e uma crítica à política terrorista de guerra e medo dos Estados Unidos, que sempre enviaram um determinado grupo de pessoas para lutar uma guerra que não era deles. O filme é de 2020, mas, não por acaso, se passa bem na época da Guerra Fria e me deixou naquela fase de ‘reflexibilidade obsessiva’ que, em primeiro lugar, é o que fez com que eu me apaixonasse e amasse a sétima arte.
Clímax
3.6 1,1K Assista AgoraEntão, é assim que são as raves que o jovem tanto gosta? Fiquei na dúvida se eu estava assistindo a um filme ou a uma rave de algum curso de humanas de qualquer universidade do mundo. O roteiro desse filme parece o testemunho da Andressa Urach: uma situação improvável e tediosa atrás da outra. Que droga é essa que faz o jovem xingar o outro de “cadela” simplesmente do nada e ficar puto e proferir outros impropérios pueris um pro outro e sair gritando parecendo um maníaco retardado? Desconheço tal efeito entre as substâncias ilícitas das quais se tem notícia. Cuidado com os jovens do grupo de jovens descolados pseudo-controversos dos quais você faz parte. Nunca se sabe quando alguém vai decidir tocar fogo em você ou cometer um auto-aborto com socos no próprio útero depois de tomar uma garrafa de Cantina da Serra ou Pérgola suave.
Alguns filmes do Gaspar Noé são intragavelmente detestáveis e desconfortáveis, devido ao tédio que me causam, e com Climax não poderia ter sido diferente. Ingenuidade minha em continuar dando chances para o trabalho de um diretor que raramente conseguiu me fisgar. Se você começar a assistir a partir da METADE do filme, vc não terá perdido nada, só alguns jovens retardados drogados se mexendo e se contorcendo de maneira extremamente aleatória e bizarra, enquanto conversam bosta e coisas tão triviais e desinteressantes, que beira ao tédio extremo e incontornável. Se você assistir o restante, aí você terá perdido 1 hora e 36 minutos irrecuperáveis da sua vida. Isso sem falar que mais pro final, você só conseguirá assistir ao filme se você estiver plantando bananeira, porque o diretor tem a brilhante ideia de virar a câmera de cabeça para baixo, um recurso #super inovador... Na cabeça dele.
Se o seu remédio pra insônia acabou, a recomendação é assistir esse filme um pouco depois das 22:00h, porque nos primeiros 60 minutos você já entra em estado de coma profundo. Se não quiser dormir e chegar até o final pra ver se a película pode lhe proporcionar alguma surpresa, aí você assiste com uma jarra de café do lado. “Viver é uma impossibilidade coletiva”. Assistir a esse filme é que é uma impossibilidade coletiva! Me senti mais torturado do que os jovens que preenchem a narrativa com seus ataques histéricos e inexplicáveis de insanidade. Meia estrela só pela tentativa de recriação de uma peça de teatro gótica nonsense e experimental, que resultou numa overdose... de TÉDIO.
E você, fanzoca do Gaspar Noé, não precisa se ofender com o meu comentário. Leave me alone, please! Já basta a raiva que eu passei com esse filme.
Midsommar: O Mal Não Espera a Noite
3.6 2,8K Assista AgoraTerrorzinho bem morno do Ari Aster, com uma história insossa e atuações fraquíssimas. Entretanto, pra quem curte estudar os aspectos técnicos relacionados à produção áudio_visual, esse filme é uma aula de cinema. A câmera do Ari Aster tem personalidade, parece que ela flutua no ar, com uma sutileza muito impressionante, típica desses diretores dessa nova safra do pós-terror hollywoodiano. A transição entre os planos que ele faz é super fluida e perspicaz. É absurdo em termos de linguagem cinematográfica.
Quem assistiu Hereditário mesmo sabe que ele tem uma identidade visual muito forte e peculiar. A estética do filme é fabulosa, estilosa, e o uso que ele faz das grande angulares é fantástico, cara! Isso permite uma visão mais ampla da cena e o funcionamento de uma dinâmica maior entre vários personagens dentro de um mesmo plano.
Mas como nem só de masturbação visual e estética vive o cinema (cujo mote é “conte-me uma boa história”), a história de Midsommar fica um pouco a desejar nessa parte de contar uma boa história. A história é fraca e desinteressantíssima, se estendendo por desnecessárias 2 horas e 30 minutos. Parece mais um filminho desses de terror hipster com um visualzinho bonito e alguns takes maravilhooosos, feitos só pra dizer "olha, gente, eu sei usar grande angular, eu sei fazer planos incríveis", mas que aparentam ser algo mais significativo do que realmente são. Só que isso tudo parece ser só uma espuma que serve pra esconder uma história fraca, sem conteúdo e sem sal nem por cima e nem por baixo.
Isso sem falar nas decisões que certos personagens tomam e que ninguém tomaria em situações bizarras, estranhas e incômodas como as que o filme apresenta. Mas o filme tem seus méritos, além da parte visual. Em tempos de Anabelle 65 e outras bostas do tipo, é muito bom existirem diretores como Ari Aster, que apostam num terror mais psicológico, no oculto, naquilo que tá fora de foco, naquilo que está extra plano, e isso ele faz de maneira exemplar, pq ele sugere as coisas e lhe permite preencher o resto com a sua mente, com a sua imaginação, e são essas coisas que me dão medo.
Portanto, minha nota pra Midsommar é 3 estrelas de 5 mesmo: uma estrela pela estética, outra pela direção ousada que entrega um terror psicológico funcional até certo ponto, e outra estrela pelos primeiros 30 minutos, que realmente são muito bons. É uma pena que depois o filme deixa alguns temas de lado, como o luto da protagonista e esse lance de ‘intolerância religiosa’, ‘xenofobia’ ou ‘aversão ao que é estranho à minha cultura’, pra tomar caminhos que não me agradaram nem um pouco.
Febre do Rato
4.0 657Depois de alguns anos desde a primeira vez que assisti Febre do Rato, decidi revisitar essa joia rara e especial do cinema nacional. O resultado foi que os pontos que eu considero ruins no filme ficaram ainda piores e os pontos positivos se tornaram ainda mais incríveis. Não é nenhum equívoco dizer que Cláudio Assis nos apresenta aqui um filme desconcertante e incômodo. A nudez exacerbada conflui num quadro naturalista e banal, justamente pela exagero com que é abordada. Em determinado momento a nudez passa despercebida, devido a detalhes realmente relevantes. Irandhir Santos é um monstro do cinema nacional... Intensidade, poesia e sensibilidade em cada gesto e cada palavra que sai da sua boca. É um filme que transpira poesia, sujeira, libertinagem, ousadia e vulgaridade por todos os poros. Um retrato suburbano cru, cruel e visceral de atmosfera tóxica, suja, opressora e quase lúgubre e da poesia marginal pernambucana, muito bem representada aqui.