"Acho que eu poderia voltar e viver com os animais. Eles são tão tranquilos e independentes. Não acordam no escuro chorando por seus pecados. Não me deixam enjoado discutindo suas obrigações à Deus. Nenhum deles se ajoelha para o outro ou para seu semelhante que viveu à milhares de anos atrás. Nenhum deles é amargo ou infeliz por toda a terra como nós..."
Uma fábula sobre a aceitação consigo mesmo. Luz Besson coloca a trajetória do indivíduo com baixa aito-estima, carente afetivamente e sem perspectivas (não é à toa que a fotografia monocromática surge como representação de sua persistente melancolia). É quando conhece Angela - anjo, divindade, humana como ele? A provocação óbvia é perceptível: nada mais é que o seu outro eu, a extensão psicológica, o anima, o alter-ego. Seu lado mais permissivo, livre de amarras e também feminino. Interessante alguns diálogos e insinuações psicológicas que o roteiro estabelece. Ainda mais que o tom verborrágico induz mensagens claras: é preciso se olhar no espelho e se enxergar como é, aceitando-se e amando a si mesmo. Só assim passamos a ver o mundo como algo mais acolhedor também. Ainda que trate de situações que possam soar como "auto-ajuda" e mesmo com uma atuação frágil de Rie Rasmussen (que contrasta com sua beleza física em cena), Besson extrai uma atuação com muita propriedade do Jamel Debbouze, através desse homem tão errático e cheio de defeitos. O apuro técnico se sobressai e torna a apreciação mais interessante, ainda que o filme seja menor do que deveria.
A hipocrisia religiosa e a dissimulação de uma sociedade de máscaras que pune a liberdade alheia. A representação da mulher e do seu direito de viver com suas escolhas, ânsias e dilemas. Como ser você mesma se sua própria respiração é motivo para ser condenada à fogueira das vaidades e opressões? Um tratado simples, mas, eficiente sobre as caças às bruxas no século XVII em que o feminino já sentia que precisava ser o verbo de um sistema machista e agressivo.
Aventura capa-espada e arco-e-flecha que resume o mito Robin Hood, através do sorriso largo, carisma e imponência de um Errol Flynn bastante à vontade em cena defendendo esse mito heróico. O formato narrativo favorece mais o tom leve e com um humor leve, já que traça a trajetória deste revolucionário homem de forma mais marota. Mas, o roteiro costura bem o terreno político, ao colocar a situação crítica do Rei Richard que é capturado e colocado o seu irmão no post, o príncipe John (um cínico Claude Rains em cena). É claro que o filme coloca cenas onde o Hood combate esse sistema e parte em busca de justiça contra a desleal coroa. Questionando impostos absurdos, desigualdade e este poder do novo Rei tão errático e firmado em traições. É quando o roteiro incita, também, o romance, já que coloca Flynn em nítida sintonia sentimental com Olivia de Havilland (a astuta Lady Marian). Ambos garantem bons diálogos emotivos. Destaque para o colorido figurino detalhado e a direção de arte que levou um dos 3 Oscar. "Sou estranho por ter compaixão dos pobres? Quero que entenda que minha recompensa é ajudar o próximo para um mundo melhor".
Quase 100 anos de lançado, preservado como um exercício expressivo no qual a narrativa encontra o seu fundamento de horror no imagético. Como tal filme mudo, F.W. Murnau concebe a adaptação gótica do complexo "Drácula de Bram Stocker" com a personalidade, até então, à frente do seu tempo. Interessante observar como a narrativa é fluida e moderna para aquele momento, em que seus cinco atos expõem a personalidade lúgubre deste ser tão icônico hoje em dia. Aqui temos o encontro do agente imobiliário (o expressivo Gustav von Wangenheim) que tenta fazer negócio com o conde Graf Orlock, cuja natureza dissimulada esconde o astuto bebedor de sangue milenar. Deve ser ressaltado a força interpretativa de Max Schreck que externa em olhares, caretas e gestos as possibilidades tenebrosas que habitam esse vampiro - sem dizer uma única palavra, compreendemos essa figura tão mórbida e envolto em sombras. Com uma paleta de cores significativa em três tons - amarelo para as cenas de dia; preto e branco em sequências isoladas e um estonteante vermelho em momentos noturnos. Grande parte do efeito de atmosfera e envolvimento, também, reside na presença da trilha sonora com flautas e violinos, nos colocando neste terreno tão assombroso e misterioso. A música é uma orquestra sobre o horror. Murnau realizou um trabalho impecável expressionista onde seus ecos ainda verbalizam tantas décadas após, impossível não se arrepiar com as sequências da figura do vampiro se arrastando, ou mesmo projetando suas sombras em escadas, em imagens em que inquietam e também nos promovem o delírio, já que transpiram como uma poesia-viva. Puramente, necessária obra cinematográfica.
Em tempos onde a sociedade tende a lidar com mais distúrbios, instabilidades e fragilidades emocionais - temos um filme que também procura aprofundar-se na extremidade do inconsciente. E se o transtorno dissociativo de identidade é exposto, através de uma narrativa que coloca seu protagonista em constantes construções e desconstruções, é porque há uma forma de trazer à tona essa realidade tão mórbida e presente. Shyamalan entende dos meandros e da crueldade que reinam na natureza humana, aquela referente à complexidade da personalidade e do que fica oculto à aparente normalidade social, onde nem mesmo a ciência consegue ir a fundo, apesar de compreender e diagnosticar situações deste porte.
Por isso mesmo, a linguagem das cenas surge em distintas personalidades, através de um atuação provocativa de James McAvoy que sabe o quanto complexo pode ser a natureza do ser que pensa e também segue instintos tão irracionais. Como ser coerente com tantas personalidades distintas? Ora sutil, ora animalesco. A narrativa segue esses fluxos das personalidades que, por sua vez, exibem uma situação de tensão: a crueldade com o próximo.
As personalidades constroem a noção do medo e também do espiral de loucura em que este indivíduo se encontra: preso em suas próprias fragmentações. Não é a toa que temos a estética sombria de uma fotografia envolta em sombras e um cenário de claustrofobia onde a ação se desenvolve fria como um palco de horror.
Nada é mais violento que mostrar o quanto a mente cria e transfigura o que é tido como normalidade - este homem mantém suas reféns, em uma espécie de local degradado e corrosivo, como uma ruínas cheia de labirintos, tal qual a representação psicológica deste indivíduo tão marcado por traumas e doenças da mente. Há vários filmes do gênero que já abordaram situações semelhantes - ecos de O Silêncio dos Inocentes? O que surge como atrativo, é como um homem envolto em suas inúmeras personalidades acaba por criar a própria condição de sua ilusão existencial.
Mais que um thriller representativo de tensão crescente: eis, também, um indicativo sobre a psicose ou transtorno psíquico; exposição de algo presente no mundo: a imprevisibilidade do caráter e também das intenções do ser humano. Por isso mesmo, o terço final situa o psicológico e a ótica deste ser envolto em suas próprias sombras. Shyamalan destranca o animal por trás da pele de cordeiro e expõe o quanto bestiais somos.
É cada vez mais difícil identificar as intenções de alguém diante do medo e opressão que pode nos ocasionar. Não sabemos ao certo onde um transtorno deste nível pode ser ocasionado ou colocado em prática. Tanto em casa quanto através de um desconhecido, podemos ser reféns do medo e da doença de uma sociedade viciada em transtornos e angústias por conta de, por sua vez, situações cada vez mais abusivas.
Não só por transmitir bem a aura do fim da década de 1970 com seus anseios e perspectivas femininas - através da tríade em cena: A mãe (Bening) solitária que cria o filho (Zumann) sem a figura paterna que divide o teto, à sua maneira, com a punk inquilina e libertária que não se enquadra ao sistema social (Gerwig) e a jovem amiga do filho, a descolada no aflorar da libido (Fanning).
Mas, o excelente roteiro de Mike Mills vai além: o que parece, apenas, uma razão para determinar as vocações e diálogos sobre as representações da identidade e busca do papel feminino, em uma década de afirmação, é mais um complexo estudo de personalidades. Conforme a narrativa avança, cada um em cena é desconstruído com suas idealizações e contextos próprios. Um misto de sensibilidade e humanidade em tratar de questões tão próximas e ainda atuais, já que Mills investe em criar ações narrativas para que cada um dos personagens sejam "descascados" aos nossos olhos com seus passados e indagações.
Paralelo a isso, temos a metáfora da casa da personagem de Bening que é construída em meio ao metabolismo e amadurecimento desses personagens que buscam o encontro com a felicidade e a aceitação consigo mesmo. O roteiro, além de prestativo e inteligente com o lado humano, traça contextualizações sobre as mudanças sociais enfrentadas pelos Estados Unidos - liberação sexual, movimentos hippies, formação do punk e as marchas de Direito Civis são pinceladas em uma orgânica narrativa bem delineada. O que dizer dos efeitos psicodélicos e multicoloridos que estilizam a edição? Afinal, era a época do amor-livre e do uso do LSD. O formato do filme transmite essa atmosfera de uma época.
Como ser mulher numa época em que a opressão era violenta? Como se mostrar autêntica e dona do nariz? E como externar o próprio direito do sexo onde é condenado pelo tabu? Curioso como de alguma forma, os personagens dialogam sobre situações da sexualidade e as contradições do sentimento. Três mulheres de diferentes gerações na mesma realidade. E Mills garante que o espaço sobre essas pessoas sejam valorizadas em cena.
As vozes dos personagens se mesclam e cada um tem espaço para verbalizar sobre um e o outro em pontuais colocações em off. E ainda que o tom sutil tente criar algo leve, é um filme muito melancólico e que trata de dores íntimas. Retrato sobre o "gente como a gente", aprendizado coletivo, laços que encontram por um fio que se conecta: o amparo no outro. "I just think that, you know, having your heart broken is a tremendous way to learn about the world." Merecida indicação ao Oscar de roteiro original, mas a Academia precisava reconhecê-lo com mais nomeações.
"Deus nos testa e tudo o que ele promove é bom. Mas, por que as provações devem ser tão terríveis? E por que, quando busco em meu coração, as respostas que lhe entrego parecem tão frágeis? Sinto-me tão tentado a desesperar. Tenho medo diante do desconhecido. Sim, o peso do Seu silêncio é terrível. Mesmo rezando, me sinto perdido. Ou estou, apenas, rezando para o nada?"
Pratos na mesa. Ou a desconstrução do álbum de família. Como cicatrizar as feridas emocionais? A imersão nas profundezas das dores, através da personagem-título que retorna ao seio familiar, após anos de distanciamento. O que parece ser uma reunião do dia da Ação de Graça, descortina as aparências da harmonia e promove o encontro com as verbalizações das mágoas.
"Você é a encarnação do desastre". Krisha (defendida por uma transparente e intensa Krisha Fairchild) acentua o tom da narrativa naturalista com muita precisão, pois mostra o quanto complexa e vulnerável é essa mulher que, em algum momento da vida, precisou partir e abandonar os entes queridos - inclusive seu único filho - para fugir de certas responsabilidades como a materna.
O arrependimento é aqui colocado como um fastasma em cena, diante do rancor que precisa ser exorcizado, já que a excelente direção de Trey Edward Shults não nos poupa da intimidade e das situações mais extremas onde a protagonista lida com o seu desajuste e a interação diante de uma família que parece não estabelecer um contato. Inicia a jornada com a fotografia clara, o formato de tela aberto, para posteriormente fechar os planos em uma tela de 4:3 que oprime os personagens - e exibe a face cheia de lágrima e atormentada desta mulher que precisa retomar as rédeas da vida.
Tenta destrancar as perspectivas sobre a polêmica trajetória da figura de Madalyn Murray O'Hair. A ativista que obteve na década de 60 da Suprema Corte uma sentença que quebrou as leis estaduais que tinham como imposição a leitura da Bíblia nas escolas pública. Melissa Leo assume a defesa interpretativa desta mulher, em seu processo de "mulher-comum" até a "mais odiada da América", título colocado pela Revista Life. Ainda que o filme coloque as situações mais famosas e provocadoras na relação da Madalyn com seus filhos e também na fundação da "American Atheists", da qual foi presidente por mais de vinte anos - infelizmente, o tom narrativo é fragilizado no formato episódico. Vemos as ações do trajeto desta mulher que tecia uma fervorosa crítica à religião e também aos padrões e efeitos destes dogmas, como também acompanhamos a situação do seu sequestro em 1995. A narrativa vai e volta no tempo para tentar desconstruir a personagem com seus protestos e anseios. Entretanto, a direção de Tommy O'Haver é sem personalidade e permite que o filme só atue no formato televisivo, sem maiores possibilidades, tornando o resultado superficial. Há uma sensação de falha na técnica, como a maquiagem ruim e a escolha do elenco - Vincent Kartheiser faz o filho mais velho da Leo dos vinte e poucos anos até os cinquenta, sem convencer tanto no físico quanto na atuação. Pra completar, temos um tom maniqueísta que faz com que a inserção do Josh Lucas em cenas de confronto com a Leo soem vilanescas em excesso. Um trabalho que merecia maior cuidado e desenvolvimento, visto que é um tema contestador de uma figura que mexeu no senso "American Way of Life". O resultado é formato quadrado.
A transmissão da maldade. Rob Zombie busca no folclore da história das bruxas de salém para recriar sua narrativa de horror. A radialista que recebe um som bizarro e misterioso de autoria dos "lords". Uma espécie de música que faz com que leve uma maldição à pessoa que escute. Uma mensagem transmitida por pactos de bruxaria há séculos. É quando o elemento de transformação da personalidade é colocada na narrativa, já que temos uma protagonista que adentra à zona do oculto, fragmentando-se em novo comportamento e vitimizada pelo sobrenatural que destrói seu senso de harmonia. Do profano ao satânico. Zombie não recorre a sustos fáceis, temos a transformação da persona - de mulher aparente comum à uma conturbada psicótica. E se a narrativa evita os tons fáceis para emular o certo apreço pela tensão, há um mergulho de cunho psicológico e até intimista. São cenas que exploram as perspectivas, a imersão ao "outro mundo", como um pesadelo bruto. A narrativa recorre a uma edição bastante frenética que nos transmite algo como um alucinógeno visual-sensorial. As referências são perceptíveis, como as cores e direção de arte que nos remete aos filmes da Hammer; a cama da protagonista decorada com um quadro de "Viagem à Lua" de George Meliés; certos enquadramentos e concepção de planos amplos e fechados que se assemelha do exercício utilizado por Stanley Kubrick em "O Iluminado". Por sinal, há sequências bastante formadas em ações visuais que diálogos, apoiados pela sinistra trilha que concebe a atmosfera exata do horror. Psicodélico, psicótico e psicológico.
O macabro que se manifesta? A figura feminina que surge em uma aldeia nos Alpes Suíços na década de 70. A narrativa exibe a propensa sensualidade e o comportamento dúbio desta estranha "mulher muda" e de aparência animalesca em meio aos receios dos pastores da região e do interesse de um policial que tenta desvendar a sua natureza. O clima de horror funciona mais para o lado psicológico do que a um exercício mais propenso à insinuações óbvias de terror. De acordo com o mistério da personalidade desta mulher em cena, presenciamos situações que pontuam a relação da fé, crença e convicções que se confrontam com dúvidas, máscaras e hipocrisia da tal aldeia vulnerável à proporção e probabilidade de algo sobrenatural que parece atingir o local. Então, o palco de ação transcorre com situações que até nos remete a alguns livros de Stephen King.
O que está por trás dessa persona que surgiu para provocar o caos numa pacata aldeia? É quando algumas questões são desconstruídas pouco a pouco no roteiro. A direção de Michael Steiner exibe diálogos que comungam com a relação católica e também flerta com os sensos satânicos, tornando a abordagem tensa em diversas sequências onde ficamos em dúvida sobre as intenções da protagonista. Ademais, a fita ainda provoca o público com a verbalização machista dos personagens homens que mantém um domínio abusivo sobre a garota, em momentos que o desconforto é evidente por conta de cenas mais agressivas. E um filme que se propõe a falar de estupro, elementos do sobrenatural e sensos do oculto, promove alguma reflexão também.
Terceiro episódio da Hammer do bebedor de sangue, a representação do Drácula através do Christopher Lee - que aqui surge com o mesmo aspecto imponente, misterioso e lúgubre em cena. Com olhos sanguinários, só que, diferente da caracterização interpretativa do filme anterior (Drácula, O Príncipe das Trevas), há linhas de diálogos ditas em suas aparições. A direção de Freddie Francis (do ótimo O Monstro de Frankestein) é eficiente em criar cenas mórbidas e de apreço sombrio. Temos a situação em que vemos o vilarejo amedrontado após eventos dos filmes anteriores, preocupados com a possível ressurreição da criatura das trevas. É quando um monsenhor (Rupert Davies) decide exorcizar o castelo do conde vampiresco que a tensão se estabelece. Novamente, o foco é mais nos personagens secundários (moradores, padres e donzelas) que se deparam com a presença do Drácula. Lee aparece, se contabilizar, em uns 15 minutos de cena! A dramatização foca mais nos conflitos dos padres diante do temor sobrenatural que assola e desestabiliza o poder do catolicismo; a transformação da pueril Maria (Veronica Carlson que indica este como seu favorito trabalho na Hammer) em alguém diabólica por conta da dominação do Drácula; e o jovem atlético empregado de uma estalagem, namorado de Maria, que busca combater esse domínio trevoso que condena a harmonia do local. Ainda que com situações que se resolvem muito rápidas, o clima aqui atinge maior sensualidade na colocação das jovens com seus decotes, corpetes e cinta-ligas e insinuações libidinais. Lee em pouco tempo de cena, exibe seus caninos e tem olhos vermelhos que tentam dominar suas vítimas, em uma composição assustadora.
Mórbido desejo. Representando o universo gótico dos bebedores de sangue, temos uma produção da Hammer que traz a figura do ser da noite: Christopher Lee personifica o Dracula, também com Terrence Fisher no comando e com o auxílio de James Bernard na concepção artística da trilha sonora. A trama se passa dez anos após a destruição do vampiro, situação exposta em "O Vampiro da Noite" de 1958. Interessante que a produção revela uma curiosidade: Lee teria detestado o script, só aceitou participar se o filme não tivesse uma linha de diálogo - é como o formato da narrativa condiciona seu personagem em cena. Não há falas, apenas grunhidos e a presença do indivíduo vampiresco que ameaça e promove o horror na tela, através de expressões corporais e caretas de acordo com o estereótipo do gênero de horror da época. Tal situação enfraquece a narrativa, já que a ausência de diálogos deixa o personagem mais coadjuvante e fora de foco, já que Lee, com sua voz sepulcral e grave, tornaria a obra mais tensa e substancial se pudesse ter seu personagem mais delineado. Entretanto, a fita explora a "ressuscitação" do Drácula e promove a ação lúgubre: ele atormenta e coloca como reféns jovens casais que viajavam na região das Montanhas Carpathias e por acaso encontraram o seu castelo. Lee com seus olhos vermelhos, sanguinários, coloca o senso do medo no público. O adorno da direção de arte caprichada, a trilha sonora atmosférica e a sequência em que o vampiro surge das cinzas são pontos atrativos.
Percebo o quanto temos um exercício de narrativa bem executado pelos irmãos Cohen. A forma como as três camadas cênicas de narrativas que se unem em um só núcleo. Uma construção dramática cruel, violenta crônica sobre a ganância humana, a índole da maldade e o exercício da falta de imoralidade num Texas opressor do começo da década de 80.
A ausência de trilha sonora só pontua o tom seco que a ação se desenvolve - tal qual o olhar gélido e a voz mansa que a figura psicótica do Javier Bardem representa na obra, um indivíduo que não polpa sua personalidade sombria em cenas em que demonstram sua natureza sem qualquer indício de afetividade ou conexão com o humano. Um assassino que promove o sangue na tela. O Oscar de coadjuvante foi um prêmio justo à altura de uma composição tão transparente e cuidada em cena. Suas sequências colocam a narrativa em ponto de maior tensão por conta do medo que transmite - aos personagens e ao público.
"Essa sociedade vai te matar. Mas, você não vai desistir". O roteiro articula a situação do homem disposto a mudar de vida de qualquer forma, através do exercício de sua ganância - Josh Broslin defende bem essa persona em cena, contrapondo-se a Tommy Lee Jones que questiona essa terra “Sem país para homens velhos”, representando o homem cansado, um policial que ainda acredita na retratação de uma sociedade insana e caótica, mas que não vê alternativas para transformar o caos.
Mas, temos a ganância também expressa na imagem do assassino psicopata que permanece no encalço e acentua a noção de violência na narrativa: são inúmeros os momentos em que vemos esse personagem agir com brutalidade sem medo de qualquer retaliação. A dureza na fria atuação de Bardem simboliza essa noção crua de um cinema que quer dialogar sobre o humano, sem estereótipos e cacoetes, através de possíveis reflexos de um mundo sem sentimentos, mas brutal.
"Claro que se matam gado hoje em dia. Eles nem sabem que foram abatidos". A direção perfeccionista dos Cohen é exata aqui, alguns cenas se desdobram com bastante traquejo cênico - como o jogo de "gato é rato" que se estabelece entre Bardem e Broslin por conta da maleta de dinheiro. "O lobo é o lobo do homem": Dois seres de uma civilização decadente que sangra e vai com muita sede ao pote de água. Puta obra-prima de violência seminal e representação do instinto brutal humano. Um trabalho cinematográfico inteligente e autêntico em tempos em que as chacinas são tão presentes quanto atos de solidariedade.
Segue a fórmula padrão de trabalhos do gênero. Um Serial-Killer atormenta a comunidade na capital da Coreia do Sul. Temos uma narrativa que exibe a figura do indivíduo psicótico que atrai as vitimas, tal qual uma aranha pronta para envolvê-las em seu ninho, em bueiros enlameados. Vemos as vítimas em suas vidas individuais até que são capturadas pelo assassino que as mantém como refém. É então que rituais sádicos são exercidos em cenas de violências amenas, nada tão explícito. Entretanto, ainda que a direção se esforce em tornar a atmosfera mais mórbida e até claustrofóbica, os inúmeros plots-twists e insinuações de suspense soam batidas. Não há grandes surpresas dentro do formato do esqueleto narrativo, tornando a fita mais um tipo genérico já articulado em tantas obras semelhantes.
É tempo de sombras. 2029 nos reserva a dissolução social, a ausência de confiança entre povos, a dúvida quanto ao direito da idealização da liberdade. O que resta diante da insegurança e de um clima de desesperança? Além do senso da humanidade, existem os indivíduos que permanecem na degradação, já que são minorias condenadas e vivem sob pressão punitiva: mutantes não tem mais opções, são erradicados. Só a sobrevivência, o dia de cada vez, no limiar entre a angústia e a exclusão, parecem condicionar os que ainda restam em uma prisão.
É nesse terreno hostil, onde percebemos os ecos de uma política errônea, excludente e opressora, que o discurso do filme exercita sua ação desenfreada: o encontro de um Logan - fragilizado e fragmentado pelo tempo, declínio emocional e físico, abandonado pelas consequências de um mundo que não foi capaz de protegê-lo - com uma garota de 11 anos. X23 tem seu mesmo DNA e habilidades tão semelhantes quanto ameaçadoras que o tornaram o mito que é. Através do encontro dessas duas almas que a narrativa exibe as duas tônicas: a articulação de cenas de ação com bastante violência gráfica, apoiado pelo rigor técnico e de encenações coreográficas perfeitas, em que vemos o extinto de sobrevivência que parece tomar fôlego e desperta na figura atormentada e abandonada do Logan, a atitude da sua antiga persona ressurgir: o Wolverine.
E as perspectivas em que X23 exibe suas habilidades, promove o combate cênico. Dafne Keen defende a persona com silêncios e olhares, sem dizer muito, mas que sob a aparente fragilidade de menina, habita uma frieza nos olhos e movimentos letais quando ameaçada. A garota que fora criada em laboratório como arma, se transforma com a convivência com a figura masculina próxima a sua existência. A narrativa explora o despertar de Logan enquanto assume, no encalço frenético de ações sangrentas e dramáticas, a sua proteção à jovem garota que estabelece com uma conexão que vai além do afeto.
James Mangold tem o mérito de desconstruir a estilização tão habitual em filmes de heróis, acentuando, com personalidade e domínio, a transparente personalidade de seres reais com habilidades extra-humanas, sem estereótipos. O tom aqui é de muita urgência, cru e também melancólico. Não há piadas ou sopros de humor, o drama é delineado sobre essa situação caótica que precisa ser refletida. Um filme soturno e sobre desolação.
Não é a toa que surge em cena um Hugh Jackman selvagem, na composição interpretativa de um homem com cicatrizes no corpo e também na alma - seu olhar é feito de grande força, sentimos em seus gestos e expressões a velhice e cansaço de seu Logan. Tão embrutecido por traumas e acúmulos de fracassos. Heróis podem errar? Jackman interpreta com brutalidade seu anti-herói que sua dor parece palpável. A desconstrução também surge na presença de Patrick Stewart que traz o peso do cansaço, Charles Xavier, que um dia coordenou uma escola para mutantes, e hoje amarga a sua velhice debilitado e dependente de cuidados. Sua ligação com Logan também é um arco bem construído no roteiro. São indivíduos à margem da sociedade. Limados dos olhos sociais.
Antes de ser visto como uma mera adaptação de HQ, temos um drama que usa de situações até intimistas, visto que percorre as dores e dilemas dos personagens enquanto estabelece o "palco de violência". Não temos uma narrativa que soa didática e explora o universo dos mutante no futuro-próximo, a intenção é mostrar uma ação diante de uma situação de risco. Muitas são as tomadas de ação, mas o foco na discussão vem dessa relação que é construída entre mutantes que buscam, dentro tantas questões, a humanidade neles que parecia perdida.
A classificação de 16 anos promove, em termos de impacto visual e emocional, uma maior transparência na forma. O sangue é verdadeiro pois não é poupado, assim como o grito de angústia de Logan o assim faz valer. Um protesto a sua redenção. Mangold exibe as garras desse ser animalesco sem pudores, definidamente. Tão desnudo e real aos nossos olhos que se chocam com o que capta em 140 minutos de projeção. Um conto de opressão contra a minoria em tempos de ausência de acolhimento social, nada mais cruel que ver que há reflexos que podemos identificar na condução de nossa realidade tão desigual e excludente com o que é considerado "anormal".
Por trás das máscaras. O esqueleto psicológico sobre as perspectivas de um psicopata. Intrigante como a narrativa procura destrancar o que se esconde por trás das sombras de uma personalidade tão complexa, enigmática, dúbia. A figura social e a íntima: um policial renomado e em seu exercício perfeito profissional, mas que esconde o seu lado mais vulnerável: a frieza. Quem personifica a disfunção psicológica, o errático fora da órbita moral, através de uma precisa composição: Guillaume Canet, que exibe a faceta dissimulada e privada de qualquer emoção real. E aqui o papel deste serial-killer, que mata mulheres sem mesmo tocá-las, é transmitido a nós sem indício de caricatura tão padrão em filmes do gênero. A sóbria direção de Cédric Anger cola a câmera na nuca, no olhar gélido, na movimentação humana desse homem firmado numa máscara que criou. Entretanto, o roteiro ainda converte indagações maiores - como a sexualidade deste indivíduo, talvez uma problemática que o tornou chegar ao ponto do desequilíbrio. E um filme que exibe as facetas de um ser tão moralmente colocado à prova, é mais que interessante refletir. Pontos para Canet que traz essa caracterização tão próxima, inclusive exibindo certas fragilidades de seu personagem, onde não esperamos encontrar em alguém tão propenso à maldade.
"Não pretendo ser compreendido. Meus atos são fruto de um estado de espírito diferente, engendrado por reflexões maduras. Não sou um demente. Estou perfeitamente consciente e controlo cada movimento meu. Não ignoro que meus atos parecem monstruosos para um público mergulhado na letargia. Hipocrisia, egoísmo, indiferença e crueldade formam um amálgama que caracteriza o ser humano. E eu odeio o ser humano. Esse ódio transformou alguém sensível e calmo num monstro implacável, sedento de vingança e sangue..."
A desconstrução do cotidiano islâmico. O olhar de Asghar Farhadi exibe o que permanece por baixo de tetos familiares, da zona doméstica, do cultural humano. Um trabalho que trata de intimidades. O que reflete em seus filmes é forma naturalista, a transparência do "gente como a gente" retratado. Interessante observar a catarse emotiva vivenciada pelo casal iraniano, que se deparam com algumas situações desconfortáveis que acabam por fragilizar a sua relação - elementos bem delineados, de forma até melhores, em seus trabalhos anteriores, como "A Separação" ou "O Passado". Nos atos, primeiramente acompanhamos a mudança do casal que precisa se estabelecer em um novo ambiente, já que a antiga morada, ironicamente, tem o risco de ruir. Metáfora perfeita para o que podemos presenciar em cena, já no segundo ato, no qual a protagonista desestrutura-se emocionalmente após ser atacada em seu novo apartamento. A relação das dores e dilemas dos personagens se sobrepõem à encenação da "A Morte de um Caixeiro Viajante", de Arthur Miller, já que Farhadi estabelece um elo de diálogo entre "a vida real" e "encenação teatral". No terceiro ato, temos o confronto em que a dramatização se intensifica - e, infelizmente, se prolonga em excesso sentimentalista -, colocando os personagens, tão humanos e imperfeitos, em estado limite e em busca de resoluções.
Um flerte com as perspectivas do medo, já que temos a Mia Farrow como a protagonista limitada por sua condição, uma cegueira. O medo, muitas vezes, se fundamental por aquilo que também não conseguimos enxergar à nossa frente - mas, sentir. É justamente isso que a narrativa se preocupa em seguir as noções perceptivas desta mulher que tem que se readaptar ao morar com seus tios, quando acaba por confrontar os próprios limites quando é vítima de um maníaco. Por mais que correta seja a direção de Richard Fleischer na condução dos planos de maiores suspense cênicos, há uma boa atmosfera enérgica que faz com que o filme brinque com nossas sensações. A aparente serenidade no cotidiano dessa protagonista se torna claustrofóbica quando as cenas investem em seu pânico e desespero. Tal obra dialoga com outro, "Um Clarão nas Treva" (com Audrey Hepburn na defesa de uma personagem semelhante e também cega), pois induz o publico na desorganização da mulher que precisa se defender diante da presença de alguém perigoso sob o mesmo teto. Farrow transmite bem a ansiedade e medo, nas sequências que mesclam suas movimentações pela casa e exibem a misteriosa figura masculina que não vemos o rosto - sempre filmado da cintura pra baixo ou em planos próximos aos pés.
Tenta desvendar distúrbios emocionais através das perspectivas de Amanda Seyfried que é a jovem na atualidade, viciada no sexo e no desprendimento afetivo, sem criar laços e relações formais com ninguém. É quando a narrativa intercala sua atual trajetória com o traço do passado para compreendermos suas motivações. Na infância, sua convivência com um pai mentalmente instável e também com problemas psicológicos, um Russel Crowe no piloto automático. A temática seria até interessante, se ao menos promovesse uma relação de diálogo e teor existencial entre "causas e consequências" e situações de traumas que geram feridas. Só que temos um roteiro enfadonho, formulaico em diálogos e cenas piegas, sob uma intrusiva trilha sonora antipática de Paolo Buonvino que força a mão nas cenas que tentam provocar em nós uma emoção barata que não surge. Pra completar, as cenas da atualidade reforçam o quanto Seyfried precisa crescer como interpretação, sem dar muita chance à protagonista. A nota só não é menor, por conta da breve participação de Aaron Paul que atua como se fosse num importante filme - e faz as melhores sequências, como no plano-sequencia em que seu personagem discute com Seyfried em uma Nova York nublada.
Macon Blair estreia neste trabalho, vencedor do júri no Festibal de Sundance, produzido pela Netflix. Destranca, através de uma narrativa por vezes irônica e propensa ao humor negro, a inadequação social: temos a protagonista, uma auxiliar de enfermeira, depressiva e frustrada, que não se encaixa nos meios sociais e vê a humanidade como a simples representação da mediocridade. "São todos idiotas", profere em dado momento, verbalizando a sua insatisfação em não conseguir se relacionar e também ser vista. É quando sua casa é alvo de assaltantes que a sua tediosa vida converte a aparente normalidade em uma imersão à adrenalina. Melanie Lynskey defende bem essa personagem tão humana e irônica, que se rebela com os efeitos da marginalização que a atinge e parte para rastrear os ladrões - é quando recebe a inusitada ajuda do seu vizinho, um excêntrico Elijah Wood, estereótipo rocker que veste camisas do Judas Priest e Saxon. A narrativa coloca a protagonista em uma sucessão de situações inusitadas que culminam nos 20 minutos finais de insanidade que potencializa a violência já insinuada no começo.
"Às vezes, o toque dele me queimava. Às vezes, o abraço dele me cortava". Irônico como tal recorte sobre o âmbito social da família negra da década de 50 ainda permanece como diálogo atual. Temos o foco no autoritarismo masculino, o machismo comportamental e a rigidez que oprime a mulher. Não é à toa que tal microcosmo racial é destrancado, aos poucos, na inicial camaradagem que verbaliza o forte teor angustiado da relação de 18 anos - aí reside o duelo entre Washington e Davis em cena. Se ele verbaliza a sua atitude seca e cruel, temos nela a fragilidade e protesto por ser vítima de uma submissão persistente. Há a exibição das feridas e traumas de uma relação conturbada, o papel do autoritarismo de um homem que, por sua vez, aprendeu a ser o que sua autoritária educação permitiu. Uma criação do sistema. Já nela, a sabedoria de saber onde questionar e aceitar. Tal qual a cerca que Troy tenta construir ao longo da narrativa, temos aí o símbolo da distância que se estabelece com a sua esposa Rose. Um ao lado do outro, mas separados por barreiras intransponíveis. A metáfora não poderia ser mais evidente. Como quebrar os limites em que a intolerância parece coexistir com a incompreensão? E não temos um roteiro que se intimida, vai fundo na intimidade do casal e traz à tona seus medos e rancores. Por vezes, nos aproximamos daquele quintal e assistimos ao duelo como se fossemos espectadores do momento "entre quatro paredes". O que fica visível é que existe um forte apelo interpretativo, mas que, não é suficiente para sanar o tom engessado da veia teatral que condiciona e limita esta obra como proposta cinematográfica. O uso da verborragia (principalmente nos 40 minutos inicias) são desgastantes, a câmera muito estática em planos fechados, a rigidez nas cenas com marcações tão duras de palco - fragiliza a produção. A variação mínima de cenários e movimentações de cenas, além de extensos monólogos, mostram a origem do texto do dramaturgo August Wilson. Entretanto, em termos de proporção dramática e qualidade interpretativa, temos um resultado bem intenso: se Washington flerta com o uma composição mais enérgica, temos em Davis a atuação emocional diante desta mulher tão representativa da época, a mulher que suporta e também arca com as dores por apoiar o homem diante de suas atitudes opressoras e inconsequentes. E tais atuações assumem tons admiráveis de entrega, tornando a apreciação mais fluida
A situação de risco em que temos a figura solitária do homem que sai do estado de hibernação e confronta com a amplitude do silêncio e da falta de comunicação, numa "nave" à deriva, no espaço. É quando seu lado mais egoísta traz à tona: quem há de culpar suas decisões? O indivíduo que não consegue permanecer na angústia, no tédio, na falta de interação afetiva. Então, recorre ao ato descabido e traz a figura de uma outra pessoa que vai compartilhar, com ele, o elo de diálogo e provável desejo. O que há de mais interessante, dentro do formato padronizado e formulaico, é como podemos refletir se estivéssemos em tal situação. Não há possibilidades pare vivermos condicionados à um papel de vida que não seja para construir algo - tanto físico quanto emocional - em conjunto. Não vivemos bem sozinhos. E o filme reforça esse sentido, através da aproximação de dois indivíduos em meio ao vazio diante da irônica vastidão do espaço. Morten Ttyldum extrai visível química em cena entre Chris Pratt e Jeniffer Lawrence, que convencem na relação a dois que buscam pela sobrevivência. Não há uma indução sci-fi, nem mesmo um roteiro que estabeleça uma percepção maior sobre o processo de colonização e o povoamento das 5 mil pessoas que hibernam na nave para o planeta-colônia. O exercício narrativo simplifica e reduz as situações entre os dois, sob um apelo emotivo e até romântico, mas que soa piegas. Ainda que o casal em cena esteja bem, há várias falhas no roteiro, ainda mais na colocação da nave com tantas pessoas hibernando e sem uma supervisão mais adequada e um sistema de inteligência artificial tão precário. Dispensando isso, é um leve entretenimento, bem produzido e com uma excelente trilha sonora de Thomas Newman, além da bem cuidada direção de arte. Mas, são fatores insuficientes pra tornar o resultado interessante.
O Homem de Palha
4.0 483 Assista Agora"Acho que eu poderia voltar e viver com os animais. Eles são tão tranquilos e independentes. Não acordam no escuro chorando por seus pecados. Não me deixam enjoado discutindo suas obrigações à Deus. Nenhum deles se ajoelha para o outro ou para seu semelhante que viveu à milhares de anos atrás. Nenhum deles é amargo ou infeliz por toda a terra como nós..."
Angel-A
3.7 141 Assista AgoraUma fábula sobre a aceitação consigo mesmo. Luz Besson coloca a trajetória do indivíduo com baixa aito-estima, carente afetivamente e sem perspectivas (não é à toa que a fotografia monocromática surge como representação de sua persistente melancolia). É quando conhece Angela - anjo, divindade, humana como ele? A provocação óbvia é perceptível: nada mais é que o seu outro eu, a extensão psicológica, o anima, o alter-ego. Seu lado mais permissivo, livre de amarras e também feminino. Interessante alguns diálogos e insinuações psicológicas que o roteiro estabelece. Ainda mais que o tom verborrágico induz mensagens claras: é preciso se olhar no espelho e se enxergar como é, aceitando-se e amando a si mesmo. Só assim passamos a ver o mundo como algo mais acolhedor também. Ainda que trate de situações que possam soar como "auto-ajuda" e mesmo com uma atuação frágil de Rie Rasmussen (que contrasta com sua beleza física em cena), Besson extrai uma atuação com muita propriedade do Jamel Debbouze, através desse homem tão errático e cheio de defeitos. O apuro técnico se sobressai e torna a apreciação mais interessante, ainda que o filme seja menor do que deveria.
A Noiva do Diabo
3.2 72 Assista AgoraA hipocrisia religiosa e a dissimulação de uma sociedade de máscaras que pune a liberdade alheia. A representação da mulher e do seu direito de viver com suas escolhas, ânsias e dilemas. Como ser você mesma se sua própria respiração é motivo para ser condenada à fogueira das vaidades e opressões? Um tratado simples, mas, eficiente sobre as caças às bruxas no século XVII em que o feminino já sentia que precisava ser o verbo de um sistema machista e agressivo.
As Aventuras de Robin Hood
3.8 69 Assista AgoraAventura capa-espada e arco-e-flecha que resume o mito Robin Hood, através do sorriso largo, carisma e imponência de um Errol Flynn bastante à vontade em cena defendendo esse mito heróico. O formato narrativo favorece mais o tom leve e com um humor leve, já que traça a trajetória deste revolucionário homem de forma mais marota. Mas, o roteiro costura bem o terreno político, ao colocar a situação crítica do Rei Richard que é capturado e colocado o seu irmão no post, o príncipe John (um cínico Claude Rains em cena). É claro que o filme coloca cenas onde o Hood combate esse sistema e parte em busca de justiça contra a desleal coroa. Questionando impostos absurdos, desigualdade e este poder do novo Rei tão errático e firmado em traições. É quando o roteiro incita, também, o romance, já que coloca Flynn em nítida sintonia sentimental com Olivia de Havilland (a astuta Lady Marian). Ambos garantem bons diálogos emotivos. Destaque para o colorido figurino detalhado e a direção de arte que levou um dos 3 Oscar. "Sou estranho por ter compaixão dos pobres? Quero que entenda que minha recompensa é ajudar o próximo para um mundo melhor".
Nosferatu
4.1 628 Assista AgoraQuase 100 anos de lançado, preservado como um exercício expressivo no qual a narrativa encontra o seu fundamento de horror no imagético. Como tal filme mudo, F.W. Murnau concebe a adaptação gótica do complexo "Drácula de Bram Stocker" com a personalidade, até então, à frente do seu tempo. Interessante observar como a narrativa é fluida e moderna para aquele momento, em que seus cinco atos expõem a personalidade lúgubre deste ser tão icônico hoje em dia. Aqui temos o encontro do agente imobiliário (o expressivo Gustav von Wangenheim) que tenta fazer negócio com o conde Graf Orlock, cuja natureza dissimulada esconde o astuto bebedor de sangue milenar. Deve ser ressaltado a força interpretativa de Max Schreck que externa em olhares, caretas e gestos as possibilidades tenebrosas que habitam esse vampiro - sem dizer uma única palavra, compreendemos essa figura tão mórbida e envolto em sombras. Com uma paleta de cores significativa em três tons - amarelo para as cenas de dia; preto e branco em sequências isoladas e um estonteante vermelho em momentos noturnos. Grande parte do efeito de atmosfera e envolvimento, também, reside na presença da trilha sonora com flautas e violinos, nos colocando neste terreno tão assombroso e misterioso. A música é uma orquestra sobre o horror. Murnau realizou um trabalho impecável expressionista onde seus ecos ainda verbalizam tantas décadas após, impossível não se arrepiar com as sequências da figura do vampiro se arrastando, ou mesmo projetando suas sombras em escadas, em imagens em que inquietam e também nos promovem o delírio, já que transpiram como uma poesia-viva. Puramente, necessária obra cinematográfica.
Fragmentado
3.9 3,0K Assista AgoraEm tempos onde a sociedade tende a lidar com mais distúrbios, instabilidades e fragilidades emocionais - temos um filme que também procura aprofundar-se na extremidade do inconsciente. E se o transtorno dissociativo de identidade é exposto, através de uma narrativa que coloca seu protagonista em constantes construções e desconstruções, é porque há uma forma de trazer à tona essa realidade tão mórbida e presente. Shyamalan entende dos meandros e da crueldade que reinam na natureza humana, aquela referente à complexidade da personalidade e do que fica oculto à aparente normalidade social, onde nem mesmo a ciência consegue ir a fundo, apesar de compreender e diagnosticar situações deste porte.
Por isso mesmo, a linguagem das cenas surge em distintas personalidades, através de um atuação provocativa de James McAvoy que sabe o quanto complexo pode ser a natureza do ser que pensa e também segue instintos tão irracionais. Como ser coerente com tantas personalidades distintas? Ora sutil, ora animalesco. A narrativa segue esses fluxos das personalidades que, por sua vez, exibem uma situação de tensão: a crueldade com o próximo.
As personalidades constroem a noção do medo e também do espiral de loucura em que este indivíduo se encontra: preso em suas próprias fragmentações. Não é a toa que temos a estética sombria de uma fotografia envolta em sombras e um cenário de claustrofobia onde a ação se desenvolve fria como um palco de horror.
Nada é mais violento que mostrar o quanto a mente cria e transfigura o que é tido como normalidade - este homem mantém suas reféns, em uma espécie de local degradado e corrosivo, como uma ruínas cheia de labirintos, tal qual a representação psicológica deste indivíduo tão marcado por traumas e doenças da mente. Há vários filmes do gênero que já abordaram situações semelhantes - ecos de O Silêncio dos Inocentes? O que surge como atrativo, é como um homem envolto em suas inúmeras personalidades acaba por criar a própria condição de sua ilusão existencial.
Mais que um thriller representativo de tensão crescente: eis, também, um indicativo sobre a psicose ou transtorno psíquico; exposição de algo presente no mundo: a imprevisibilidade do caráter e também das intenções do ser humano. Por isso mesmo, o terço final situa o psicológico e a ótica deste ser envolto em suas próprias sombras. Shyamalan destranca o animal por trás da pele de cordeiro e expõe o quanto bestiais somos.
É cada vez mais difícil identificar as intenções de alguém diante do medo e opressão que pode nos ocasionar. Não sabemos ao certo onde um transtorno deste nível pode ser ocasionado ou colocado em prática. Tanto em casa quanto através de um desconhecido, podemos ser reféns do medo e da doença de uma sociedade viciada em transtornos e angústias por conta de, por sua vez, situações cada vez mais abusivas.
Mulheres do Século XX
4.0 415 Assista AgoraNão só por transmitir bem a aura do fim da década de 1970 com seus anseios e perspectivas femininas - através da tríade em cena: A mãe (Bening) solitária que cria o filho (Zumann) sem a figura paterna que divide o teto, à sua maneira, com a punk inquilina e libertária que não se enquadra ao sistema social (Gerwig) e a jovem amiga do filho, a descolada no aflorar da libido (Fanning).
Mas, o excelente roteiro de Mike Mills vai além: o que parece, apenas, uma razão para determinar as vocações e diálogos sobre as representações da identidade e busca do papel feminino, em uma década de afirmação, é mais um complexo estudo de personalidades. Conforme a narrativa avança, cada um em cena é desconstruído com suas idealizações e contextos próprios. Um misto de sensibilidade e humanidade em tratar de questões tão próximas e ainda atuais, já que Mills investe em criar ações narrativas para que cada um dos personagens sejam "descascados" aos nossos olhos com seus passados e indagações.
Paralelo a isso, temos a metáfora da casa da personagem de Bening que é construída em meio ao metabolismo e amadurecimento desses personagens que buscam o encontro com a felicidade e a aceitação consigo mesmo. O roteiro, além de prestativo e inteligente com o lado humano, traça contextualizações sobre as mudanças sociais enfrentadas pelos Estados Unidos - liberação sexual, movimentos hippies, formação do punk e as marchas de Direito Civis são pinceladas em uma orgânica narrativa bem delineada. O que dizer dos efeitos psicodélicos e multicoloridos que estilizam a edição? Afinal, era a época do amor-livre e do uso do LSD. O formato do filme transmite essa atmosfera de uma época.
Como ser mulher numa época em que a opressão era violenta? Como se mostrar autêntica e dona do nariz? E como externar o próprio direito do sexo onde é condenado pelo tabu? Curioso como de alguma forma, os personagens dialogam sobre situações da sexualidade e as contradições do sentimento. Três mulheres de diferentes gerações na mesma realidade. E Mills garante que o espaço sobre essas pessoas sejam valorizadas em cena.
As vozes dos personagens se mesclam e cada um tem espaço para verbalizar sobre um e o outro em pontuais colocações em off. E ainda que o tom sutil tente criar algo leve, é um filme muito melancólico e que trata de dores íntimas. Retrato sobre o "gente como a gente", aprendizado coletivo, laços que encontram por um fio que se conecta: o amparo no outro. "I just think that, you know, having your heart broken is a tremendous way to learn about the world." Merecida indicação ao Oscar de roteiro original, mas a Academia precisava reconhecê-lo com mais nomeações.
Silêncio
3.8 576"Deus nos testa e tudo o que ele promove é bom. Mas, por que as provações devem ser tão terríveis? E por que, quando busco em meu coração, as respostas que lhe entrego parecem tão frágeis? Sinto-me tão tentado a desesperar. Tenho medo diante do desconhecido. Sim, o peso do Seu silêncio é terrível. Mesmo rezando, me sinto perdido. Ou estou, apenas, rezando para o nada?"
Krisha
3.7 83Pratos na mesa. Ou a desconstrução do álbum de família. Como cicatrizar as feridas emocionais? A imersão nas profundezas das dores, através da personagem-título que retorna ao seio familiar, após anos de distanciamento. O que parece ser uma reunião do dia da Ação de Graça, descortina as aparências da harmonia e promove o encontro com as verbalizações das mágoas.
"Você é a encarnação do desastre". Krisha (defendida por uma transparente e intensa Krisha Fairchild) acentua o tom da narrativa naturalista com muita precisão, pois mostra o quanto complexa e vulnerável é essa mulher que, em algum momento da vida, precisou partir e abandonar os entes queridos - inclusive seu único filho - para fugir de certas responsabilidades como a materna.
O arrependimento é aqui colocado como um fastasma em cena, diante do rancor que precisa ser exorcizado, já que a excelente direção de Trey Edward Shults não nos poupa da intimidade e das situações mais extremas onde a protagonista lida com o seu desajuste e a interação diante de uma família que parece não estabelecer um contato. Inicia a jornada com a fotografia clara, o formato de tela aberto, para posteriormente fechar os planos em uma tela de 4:3 que oprime os personagens - e exibe a face cheia de lágrima e atormentada desta mulher que precisa retomar as rédeas da vida.
A Mulher Mais Odiada dos Estados Unidos
3.1 104Tenta destrancar as perspectivas sobre a polêmica trajetória da figura de Madalyn Murray O'Hair. A ativista que obteve na década de 60 da Suprema Corte uma sentença que quebrou as leis estaduais que tinham como imposição a leitura da Bíblia nas escolas pública. Melissa Leo assume a defesa interpretativa desta mulher, em seu processo de "mulher-comum" até a "mais odiada da América", título colocado pela Revista Life. Ainda que o filme coloque as situações mais famosas e provocadoras na relação da Madalyn com seus filhos e também na fundação da "American Atheists", da qual foi presidente por mais de vinte anos - infelizmente, o tom narrativo é fragilizado no formato episódico. Vemos as ações do trajeto desta mulher que tecia uma fervorosa crítica à religião e também aos padrões e efeitos destes dogmas, como também acompanhamos a situação do seu sequestro em 1995. A narrativa vai e volta no tempo para tentar desconstruir a personagem com seus protestos e anseios. Entretanto, a direção de Tommy O'Haver é sem personalidade e permite que o filme só atue no formato televisivo, sem maiores possibilidades, tornando o resultado superficial. Há uma sensação de falha na técnica, como a maquiagem ruim e a escolha do elenco - Vincent Kartheiser faz o filho mais velho da Leo dos vinte e poucos anos até os cinquenta, sem convencer tanto no físico quanto na atuação. Pra completar, temos um tom maniqueísta que faz com que a inserção do Josh Lucas em cenas de confronto com a Leo soem vilanescas em excesso. Um trabalho que merecia maior cuidado e desenvolvimento, visto que é um tema contestador de uma figura que mexeu no senso "American Way of Life". O resultado é formato quadrado.
As Senhoras de Salem
2.5 405A transmissão da maldade. Rob Zombie busca no folclore da história das bruxas de salém para recriar sua narrativa de horror. A radialista que recebe um som bizarro e misterioso de autoria dos "lords". Uma espécie de música que faz com que leve uma maldição à pessoa que escute. Uma mensagem transmitida por pactos de bruxaria há séculos. É quando o elemento de transformação da personalidade é colocada na narrativa, já que temos uma protagonista que adentra à zona do oculto, fragmentando-se em novo comportamento e vitimizada pelo sobrenatural que destrói seu senso de harmonia. Do profano ao satânico. Zombie não recorre a sustos fáceis, temos a transformação da persona - de mulher aparente comum à uma conturbada psicótica. E se a narrativa evita os tons fáceis para emular o certo apreço pela tensão, há um mergulho de cunho psicológico e até intimista. São cenas que exploram as perspectivas, a imersão ao "outro mundo", como um pesadelo bruto. A narrativa recorre a uma edição bastante frenética que nos transmite algo como um alucinógeno visual-sensorial. As referências são perceptíveis, como as cores e direção de arte que nos remete aos filmes da Hammer; a cama da protagonista decorada com um quadro de "Viagem à Lua" de George Meliés; certos enquadramentos e concepção de planos amplos e fechados que se assemelha do exercício utilizado por Stanley Kubrick em "O Iluminado". Por sinal, há sequências bastante formadas em ações visuais que diálogos, apoiados pela sinistra trilha que concebe a atmosfera exata do horror. Psicodélico, psicótico e psicológico.
A Boneca do Diabo
3.3 50O macabro que se manifesta? A figura feminina que surge em uma aldeia nos Alpes Suíços na década de 70. A narrativa exibe a propensa sensualidade e o comportamento dúbio desta estranha "mulher muda" e de aparência animalesca em meio aos receios dos pastores da região e do interesse de um policial que tenta desvendar a sua natureza. O clima de horror funciona mais para o lado psicológico do que a um exercício mais propenso à insinuações óbvias de terror. De acordo com o mistério da personalidade desta mulher em cena, presenciamos situações que pontuam a relação da fé, crença e convicções que se confrontam com dúvidas, máscaras e hipocrisia da tal aldeia vulnerável à proporção e probabilidade de algo sobrenatural que parece atingir o local. Então, o palco de ação transcorre com situações que até nos remete a alguns livros de Stephen King.
O que está por trás dessa persona que surgiu para provocar o caos numa pacata aldeia? É quando algumas questões são desconstruídas pouco a pouco no roteiro. A direção de Michael Steiner exibe diálogos que comungam com a relação católica e também flerta com os sensos satânicos, tornando a abordagem tensa em diversas sequências onde ficamos em dúvida sobre as intenções da protagonista. Ademais, a fita ainda provoca o público com a verbalização machista dos personagens homens que mantém um domínio abusivo sobre a garota, em momentos que o desconforto é evidente por conta de cenas mais agressivas. E um filme que se propõe a falar de estupro, elementos do sobrenatural e sensos do oculto, promove alguma reflexão também.
Drácula: O Perfil do Diabo
3.5 32Terceiro episódio da Hammer do bebedor de sangue, a representação do Drácula através do Christopher Lee - que aqui surge com o mesmo aspecto imponente, misterioso e lúgubre em cena. Com olhos sanguinários, só que, diferente da caracterização interpretativa do filme anterior (Drácula, O Príncipe das Trevas), há linhas de diálogos ditas em suas aparições. A direção de Freddie Francis (do ótimo O Monstro de Frankestein) é eficiente em criar cenas mórbidas e de apreço sombrio. Temos a situação em que vemos o vilarejo amedrontado após eventos dos filmes anteriores, preocupados com a possível ressurreição da criatura das trevas. É quando um monsenhor (Rupert Davies) decide exorcizar o castelo do conde vampiresco que a tensão se estabelece. Novamente, o foco é mais nos personagens secundários (moradores, padres e donzelas) que se deparam com a presença do Drácula. Lee aparece, se contabilizar, em uns 15 minutos de cena! A dramatização foca mais nos conflitos dos padres diante do temor sobrenatural que assola e desestabiliza o poder do catolicismo; a transformação da pueril Maria (Veronica Carlson que indica este como seu favorito trabalho na Hammer) em alguém diabólica por conta da dominação do Drácula; e o jovem atlético empregado de uma estalagem, namorado de Maria, que busca combater esse domínio trevoso que condena a harmonia do local. Ainda que com situações que se resolvem muito rápidas, o clima aqui atinge maior sensualidade na colocação das jovens com seus decotes, corpetes e cinta-ligas e insinuações libidinais. Lee em pouco tempo de cena, exibe seus caninos e tem olhos vermelhos que tentam dominar suas vítimas, em uma composição assustadora.
Drácula: O Príncipe das Trevas
3.6 60 Assista AgoraMórbido desejo. Representando o universo gótico dos bebedores de sangue, temos uma produção da Hammer que traz a figura do ser da noite: Christopher Lee personifica o Dracula, também com Terrence Fisher no comando e com o auxílio de James Bernard na concepção artística da trilha sonora. A trama se passa dez anos após a destruição do vampiro, situação exposta em "O Vampiro da Noite" de 1958. Interessante que a produção revela uma curiosidade: Lee teria detestado o script, só aceitou participar se o filme não tivesse uma linha de diálogo - é como o formato da narrativa condiciona seu personagem em cena. Não há falas, apenas grunhidos e a presença do indivíduo vampiresco que ameaça e promove o horror na tela, através de expressões corporais e caretas de acordo com o estereótipo do gênero de horror da época. Tal situação enfraquece a narrativa, já que a ausência de diálogos deixa o personagem mais coadjuvante e fora de foco, já que Lee, com sua voz sepulcral e grave, tornaria a obra mais tensa e substancial se pudesse ter seu personagem mais delineado. Entretanto, a fita explora a "ressuscitação" do Drácula e promove a ação lúgubre: ele atormenta e coloca como reféns jovens casais que viajavam na região das Montanhas Carpathias e por acaso encontraram o seu castelo. Lee com seus olhos vermelhos, sanguinários, coloca o senso do medo no público. O adorno da direção de arte caprichada, a trilha sonora atmosférica e a sequência em que o vampiro surge das cinzas são pontos atrativos.
Onde os Fracos Não Têm Vez
4.1 2,4K Assista AgoraPercebo o quanto temos um exercício de narrativa bem executado pelos irmãos Cohen. A forma como as três camadas cênicas de narrativas que se unem em um só núcleo. Uma construção dramática cruel, violenta crônica sobre a ganância humana, a índole da maldade e o exercício da falta de imoralidade num Texas opressor do começo da década de 80.
A ausência de trilha sonora só pontua o tom seco que a ação se desenvolve - tal qual o olhar gélido e a voz mansa que a figura psicótica do Javier Bardem representa na obra, um indivíduo que não polpa sua personalidade sombria em cenas em que demonstram sua natureza sem qualquer indício de afetividade ou conexão com o humano. Um assassino que promove o sangue na tela. O Oscar de coadjuvante foi um prêmio justo à altura de uma composição tão transparente e cuidada em cena. Suas sequências colocam a narrativa em ponto de maior tensão por conta do medo que transmite - aos personagens e ao público.
"Essa sociedade vai te matar. Mas, você não vai desistir". O roteiro articula a situação do homem disposto a mudar de vida de qualquer forma, através do exercício de sua ganância - Josh Broslin defende bem essa persona em cena, contrapondo-se a Tommy Lee Jones que questiona essa terra “Sem país para homens velhos”, representando o homem cansado, um policial que ainda acredita na retratação de uma sociedade insana e caótica, mas que não vê alternativas para transformar o caos.
Mas, temos a ganância também expressa na imagem do assassino psicopata que permanece no encalço e acentua a noção de violência na narrativa: são inúmeros os momentos em que vemos esse personagem agir com brutalidade sem medo de qualquer retaliação. A dureza na fria atuação de Bardem simboliza essa noção crua de um cinema que quer dialogar sobre o humano, sem estereótipos e cacoetes, através de possíveis reflexos de um mundo sem sentimentos, mas brutal.
"Claro que se matam gado hoje em dia. Eles nem sabem que foram abatidos". A direção perfeccionista dos Cohen é exata aqui, alguns cenas se desdobram com bastante traquejo cênico - como o jogo de "gato é rato" que se estabelece entre Bardem e Broslin por conta da maleta de dinheiro. "O lobo é o lobo do homem": Dois seres de uma civilização decadente que sangra e vai com muita sede ao pote de água. Puta obra-prima de violência seminal e representação do instinto brutal humano. Um trabalho cinematográfico inteligente e autêntico em tempos em que as chacinas são tão presentes quanto atos de solidariedade.
Manhole
2.8 26Segue a fórmula padrão de trabalhos do gênero. Um Serial-Killer atormenta a comunidade na capital da Coreia do Sul. Temos uma narrativa que exibe a figura do indivíduo psicótico que atrai as vitimas, tal qual uma aranha pronta para envolvê-las em seu ninho, em bueiros enlameados. Vemos as vítimas em suas vidas individuais até que são capturadas pelo assassino que as mantém como refém. É então que rituais sádicos são exercidos em cenas de violências amenas, nada tão explícito. Entretanto, ainda que a direção se esforce em tornar a atmosfera mais mórbida e até claustrofóbica, os inúmeros plots-twists e insinuações de suspense soam batidas. Não há grandes surpresas dentro do formato do esqueleto narrativo, tornando a fita mais um tipo genérico já articulado em tantas obras semelhantes.
Logan
4.3 2,6K Assista AgoraÉ tempo de sombras. 2029 nos reserva a dissolução social, a ausência de confiança entre povos, a dúvida quanto ao direito da idealização da liberdade. O que resta diante da insegurança e de um clima de desesperança? Além do senso da humanidade, existem os indivíduos que permanecem na degradação, já que são minorias condenadas e vivem sob pressão punitiva: mutantes não tem mais opções, são erradicados. Só a sobrevivência, o dia de cada vez, no limiar entre a angústia e a exclusão, parecem condicionar os que ainda restam em uma prisão.
É nesse terreno hostil, onde percebemos os ecos de uma política errônea, excludente e opressora, que o discurso do filme exercita sua ação desenfreada: o encontro de um Logan - fragilizado e fragmentado pelo tempo, declínio emocional e físico, abandonado pelas consequências de um mundo que não foi capaz de protegê-lo - com uma garota de 11 anos. X23 tem seu mesmo DNA e habilidades tão semelhantes quanto ameaçadoras que o tornaram o mito que é. Através do encontro dessas duas almas que a narrativa exibe as duas tônicas: a articulação de cenas de ação com bastante violência gráfica, apoiado pelo rigor técnico e de encenações coreográficas perfeitas, em que vemos o extinto de sobrevivência que parece tomar fôlego e desperta na figura atormentada e abandonada do Logan, a atitude da sua antiga persona ressurgir: o Wolverine.
E as perspectivas em que X23 exibe suas habilidades, promove o combate cênico. Dafne Keen defende a persona com silêncios e olhares, sem dizer muito, mas que sob a aparente fragilidade de menina, habita uma frieza nos olhos e movimentos letais quando ameaçada. A garota que fora criada em laboratório como arma, se transforma com a convivência com a figura masculina próxima a sua existência. A narrativa explora o despertar de Logan enquanto assume, no encalço frenético de ações sangrentas e dramáticas, a sua proteção à jovem garota que estabelece com uma conexão que vai além do afeto.
James Mangold tem o mérito de desconstruir a estilização tão habitual em filmes de heróis, acentuando, com personalidade e domínio, a transparente personalidade de seres reais com habilidades extra-humanas, sem estereótipos. O tom aqui é de muita urgência, cru e também melancólico. Não há piadas ou sopros de humor, o drama é delineado sobre essa situação caótica que precisa ser refletida. Um filme soturno e sobre desolação.
Não é a toa que surge em cena um Hugh Jackman selvagem, na composição interpretativa de um homem com cicatrizes no corpo e também na alma - seu olhar é feito de grande força, sentimos em seus gestos e expressões a velhice e cansaço de seu Logan. Tão embrutecido por traumas e acúmulos de fracassos. Heróis podem errar? Jackman interpreta com brutalidade seu anti-herói que sua dor parece palpável. A desconstrução também surge na presença de Patrick Stewart que traz o peso do cansaço, Charles Xavier, que um dia coordenou uma escola para mutantes, e hoje amarga a sua velhice debilitado e dependente de cuidados. Sua ligação com Logan também é um arco bem construído no roteiro. São indivíduos à margem da sociedade. Limados dos olhos sociais.
Antes de ser visto como uma mera adaptação de HQ, temos um drama que usa de situações até intimistas, visto que percorre as dores e dilemas dos personagens enquanto estabelece o "palco de violência". Não temos uma narrativa que soa didática e explora o universo dos mutante no futuro-próximo, a intenção é mostrar uma ação diante de uma situação de risco. Muitas são as tomadas de ação, mas o foco na discussão vem dessa relação que é construída entre mutantes que buscam, dentro tantas questões, a humanidade neles que parecia perdida.
A classificação de 16 anos promove, em termos de impacto visual e emocional, uma maior transparência na forma. O sangue é verdadeiro pois não é poupado, assim como o grito de angústia de Logan o assim faz valer. Um protesto a sua redenção. Mangold exibe as garras desse ser animalesco sem pudores, definidamente. Tão desnudo e real aos nossos olhos que se chocam com o que capta em 140 minutos de projeção. Um conto de opressão contra a minoria em tempos de ausência de acolhimento social, nada mais cruel que ver que há reflexos que podemos identificar na condução de nossa realidade tão desigual e excludente com o que é considerado "anormal".
Na Próxima, Acerto o Coração
3.2 80 Assista AgoraPor trás das máscaras. O esqueleto psicológico sobre as perspectivas de um psicopata. Intrigante como a narrativa procura destrancar o que se esconde por trás das sombras de uma personalidade tão complexa, enigmática, dúbia. A figura social e a íntima: um policial renomado e em seu exercício perfeito profissional, mas que esconde o seu lado mais vulnerável: a frieza. Quem personifica a disfunção psicológica, o errático fora da órbita moral, através de uma precisa composição: Guillaume Canet, que exibe a faceta dissimulada e privada de qualquer emoção real. E aqui o papel deste serial-killer, que mata mulheres sem mesmo tocá-las, é transmitido a nós sem indício de caricatura tão padrão em filmes do gênero. A sóbria direção de Cédric Anger cola a câmera na nuca, no olhar gélido, na movimentação humana desse homem firmado numa máscara que criou. Entretanto, o roteiro ainda converte indagações maiores - como a sexualidade deste indivíduo, talvez uma problemática que o tornou chegar ao ponto do desequilíbrio. E um filme que exibe as facetas de um ser tão moralmente colocado à prova, é mais que interessante refletir. Pontos para Canet que traz essa caracterização tão próxima, inclusive exibindo certas fragilidades de seu personagem, onde não esperamos encontrar em alguém tão propenso à maldade.
"Não pretendo ser compreendido. Meus atos são fruto de um estado de espírito diferente, engendrado por reflexões maduras. Não sou um demente. Estou perfeitamente consciente e controlo cada movimento meu. Não ignoro que meus atos parecem monstruosos para um público mergulhado na letargia. Hipocrisia, egoísmo, indiferença e crueldade formam um amálgama que caracteriza o ser humano. E eu odeio o ser humano. Esse ódio transformou alguém sensível e calmo num monstro implacável, sedento de vingança e sangue..."
O Apartamento
3.9 258 Assista AgoraA desconstrução do cotidiano islâmico. O olhar de Asghar Farhadi exibe o que permanece por baixo de tetos familiares, da zona doméstica, do cultural humano. Um trabalho que trata de intimidades. O que reflete em seus filmes é forma naturalista, a transparência do "gente como a gente" retratado. Interessante observar a catarse emotiva vivenciada pelo casal iraniano, que se deparam com algumas situações desconfortáveis que acabam por fragilizar a sua relação - elementos bem delineados, de forma até melhores, em seus trabalhos anteriores, como "A Separação" ou "O Passado". Nos atos, primeiramente acompanhamos a mudança do casal que precisa se estabelecer em um novo ambiente, já que a antiga morada, ironicamente, tem o risco de ruir. Metáfora perfeita para o que podemos presenciar em cena, já no segundo ato, no qual a protagonista desestrutura-se emocionalmente após ser atacada em seu novo apartamento. A relação das dores e dilemas dos personagens se sobrepõem à encenação da "A Morte de um Caixeiro Viajante", de Arthur Miller, já que Farhadi estabelece um elo de diálogo entre "a vida real" e "encenação teatral". No terceiro ato, temos o confronto em que a dramatização se intensifica - e, infelizmente, se prolonga em excesso sentimentalista -, colocando os personagens, tão humanos e imperfeitos, em estado limite e em busca de resoluções.
Terror Cego
3.5 39 Assista AgoraUm flerte com as perspectivas do medo, já que temos a Mia Farrow como a protagonista limitada por sua condição, uma cegueira. O medo, muitas vezes, se fundamental por aquilo que também não conseguimos enxergar à nossa frente - mas, sentir. É justamente isso que a narrativa se preocupa em seguir as noções perceptivas desta mulher que tem que se readaptar ao morar com seus tios, quando acaba por confrontar os próprios limites quando é vítima de um maníaco. Por mais que correta seja a direção de Richard Fleischer na condução dos planos de maiores suspense cênicos, há uma boa atmosfera enérgica que faz com que o filme brinque com nossas sensações. A aparente serenidade no cotidiano dessa protagonista se torna claustrofóbica quando as cenas investem em seu pânico e desespero. Tal obra dialoga com outro, "Um Clarão nas Treva" (com Audrey Hepburn na defesa de uma personagem semelhante e também cega), pois induz o publico na desorganização da mulher que precisa se defender diante da presença de alguém perigoso sob o mesmo teto. Farrow transmite bem a ansiedade e medo, nas sequências que mesclam suas movimentações pela casa e exibem a misteriosa figura masculina que não vemos o rosto - sempre filmado da cintura pra baixo ou em planos próximos aos pés.
Pais & Filhas
3.8 221 Assista AgoraTenta desvendar distúrbios emocionais através das perspectivas de Amanda Seyfried que é a jovem na atualidade, viciada no sexo e no desprendimento afetivo, sem criar laços e relações formais com ninguém. É quando a narrativa intercala sua atual trajetória com o traço do passado para compreendermos suas motivações. Na infância, sua convivência com um pai mentalmente instável e também com problemas psicológicos, um Russel Crowe no piloto automático. A temática seria até interessante, se ao menos promovesse uma relação de diálogo e teor existencial entre "causas e consequências" e situações de traumas que geram feridas. Só que temos um roteiro enfadonho, formulaico em diálogos e cenas piegas, sob uma intrusiva trilha sonora antipática de Paolo Buonvino que força a mão nas cenas que tentam provocar em nós uma emoção barata que não surge. Pra completar, as cenas da atualidade reforçam o quanto Seyfried precisa crescer como interpretação, sem dar muita chance à protagonista. A nota só não é menor, por conta da breve participação de Aaron Paul que atua como se fosse num importante filme - e faz as melhores sequências, como no plano-sequencia em que seu personagem discute com Seyfried em uma Nova York nublada.
Já Não Me Sinto em Casa Nesse Mundo
3.3 382 Assista AgoraMacon Blair estreia neste trabalho, vencedor do júri no Festibal de Sundance, produzido pela Netflix. Destranca, através de uma narrativa por vezes irônica e propensa ao humor negro, a inadequação social: temos a protagonista, uma auxiliar de enfermeira, depressiva e frustrada, que não se encaixa nos meios sociais e vê a humanidade como a simples representação da mediocridade. "São todos idiotas", profere em dado momento, verbalizando a sua insatisfação em não conseguir se relacionar e também ser vista. É quando sua casa é alvo de assaltantes que a sua tediosa vida converte a aparente normalidade em uma imersão à adrenalina. Melanie Lynskey defende bem essa personagem tão humana e irônica, que se rebela com os efeitos da marginalização que a atinge e parte para rastrear os ladrões - é quando recebe a inusitada ajuda do seu vizinho, um excêntrico Elijah Wood, estereótipo rocker que veste camisas do Judas Priest e Saxon. A narrativa coloca a protagonista em uma sucessão de situações inusitadas que culminam nos 20 minutos finais de insanidade que potencializa a violência já insinuada no começo.
Um Limite Entre Nós
3.8 1,1K Assista Agora"Às vezes, o toque dele me queimava. Às vezes, o abraço dele me cortava". Irônico como tal recorte sobre o âmbito social da família negra da década de 50 ainda permanece como diálogo atual. Temos o foco no autoritarismo masculino, o machismo comportamental e a rigidez que oprime a mulher. Não é à toa que tal microcosmo racial é destrancado, aos poucos, na inicial camaradagem que verbaliza o forte teor angustiado da relação de 18 anos - aí reside o duelo entre Washington e Davis em cena. Se ele verbaliza a sua atitude seca e cruel, temos nela a fragilidade e protesto por ser vítima de uma submissão persistente. Há a exibição das feridas e traumas de uma relação conturbada, o papel do autoritarismo de um homem que, por sua vez, aprendeu a ser o que sua autoritária educação permitiu. Uma criação do sistema. Já nela, a sabedoria de saber onde questionar e aceitar. Tal qual a cerca que Troy tenta construir ao longo da narrativa, temos aí o símbolo da distância que se estabelece com a sua esposa Rose. Um ao lado do outro, mas separados por barreiras intransponíveis. A metáfora não poderia ser mais evidente. Como quebrar os limites em que a intolerância parece coexistir com a incompreensão? E não temos um roteiro que se intimida, vai fundo na intimidade do casal e traz à tona seus medos e rancores. Por vezes, nos aproximamos daquele quintal e assistimos ao duelo como se fossemos espectadores do momento "entre quatro paredes". O que fica visível é que existe um forte apelo interpretativo, mas que, não é suficiente para sanar o tom engessado da veia teatral que condiciona e limita esta obra como proposta cinematográfica. O uso da verborragia (principalmente nos 40 minutos inicias) são desgastantes, a câmera muito estática em planos fechados, a rigidez nas cenas com marcações tão duras de palco - fragiliza a produção. A variação mínima de cenários e movimentações de cenas, além de extensos monólogos, mostram a origem do texto do dramaturgo August Wilson. Entretanto, em termos de proporção dramática e qualidade interpretativa, temos um resultado bem intenso: se Washington flerta com o uma composição mais enérgica, temos em Davis a atuação emocional diante desta mulher tão representativa da época, a mulher que suporta e também arca com as dores por apoiar o homem diante de suas atitudes opressoras e inconsequentes. E tais atuações assumem tons admiráveis de entrega, tornando a apreciação mais fluida
Passageiros
3.3 1,5K Assista AgoraA situação de risco em que temos a figura solitária do homem que sai do estado de hibernação e confronta com a amplitude do silêncio e da falta de comunicação, numa "nave" à deriva, no espaço. É quando seu lado mais egoísta traz à tona: quem há de culpar suas decisões? O indivíduo que não consegue permanecer na angústia, no tédio, na falta de interação afetiva. Então, recorre ao ato descabido e traz a figura de uma outra pessoa que vai compartilhar, com ele, o elo de diálogo e provável desejo. O que há de mais interessante, dentro do formato padronizado e formulaico, é como podemos refletir se estivéssemos em tal situação. Não há possibilidades pare vivermos condicionados à um papel de vida que não seja para construir algo - tanto físico quanto emocional - em conjunto. Não vivemos bem sozinhos. E o filme reforça esse sentido, através da aproximação de dois indivíduos em meio ao vazio diante da irônica vastidão do espaço. Morten Ttyldum extrai visível química em cena entre Chris Pratt e Jeniffer Lawrence, que convencem na relação a dois que buscam pela sobrevivência. Não há uma indução sci-fi, nem mesmo um roteiro que estabeleça uma percepção maior sobre o processo de colonização e o povoamento das 5 mil pessoas que hibernam na nave para o planeta-colônia. O exercício narrativo simplifica e reduz as situações entre os dois, sob um apelo emotivo e até romântico, mas que soa piegas. Ainda que o casal em cena esteja bem, há várias falhas no roteiro, ainda mais na colocação da nave com tantas pessoas hibernando e sem uma supervisão mais adequada e um sistema de inteligência artificial tão precário. Dispensando isso, é um leve entretenimento, bem produzido e com uma excelente trilha sonora de Thomas Newman, além da bem cuidada direção de arte. Mas, são fatores insuficientes pra tornar o resultado interessante.