O acompanhamento da rotina estava se tornando um pouco cansativo, mas quando a sobrinha entra no filme, a coisa se torna aconchegante e emocional de uma forma gostosa. A cena final de Koji Yakusho é a melhor de 2023 com facilidade. Wim Wenders não sabe deixar de ser mestre no que faz.
Dos jogos políticos feitos em segredo do primeiro filme, temos uma continuação que foca mais no confronto direto. As cenas das batalhas e lutas estão impecáveis, assim como tudo relativo à técnica e estética do filme. Por investir ainda mais no deserto, a fotografia sobe um degrau a mais, e ainda impressiona o quanto os efeitos especiais são orgânicos, pois é impossível pensar que as máquinas e naves de proporções colossais são feitas em CGI. O trabalho de som e a trilha sonora também conseguem superar o antecessor, novamente devido à maior ambientação no deserto, que traz todo o peso do som dos vermes gigantes, além da trilha se tornar ainda mais imponente. O elenco está todo muito bom, com destaque para Rebecca Ferguson (no pique joga y joga), Austin Butler (Feyd-Rautha de respeito) e Chalamet (incrível pensar que ele pôde passar tanta imponência como no ato final). Não li o livro para comparar, mas gostei de como o roteiro se construiu. Há algumas quedas de ritmo, mas isso é bem entrecortado pelos momentos de ação. A construção do romance foi sutil, mas funcional, e o destaque fica para o terceiro ato frenético. Um belo conto sobre como déspotas nascem e se desenvolvem. Que venha Messias de Duna.
Não sei se entendi todas as intenções, mas sei que senti tudo que o filme quis passar. Uma experiência muito íntima e profunda, um desnudamento da vida do protagonista que nos deixa cada vez mais conectados a ele. Um drama de toques surrealistas que encontra caminhos diferentes para ser o mais honesto possível sobre amor, traumas, solidão, luto, isolamento. Incrível como o elenco, sem exceções, se sai de forma excepcional e a direção dá ao filme uma atmosfera própria, atemporal, magnética. A trilha sonora é um aconchego e, apesar de muito triste, tudo é muito bonito e poético. A cena final é de deixar sem palavras.
Não pensava que um filme repleto de caras malhados ia me fazer chorar. Que história dolorosa - e pensar que ainda teve o Chris von Erich que nem foi adicionado ao filme e teve destino semelhante a alguns dos seus irmãos -, é muito difícil pensar como Kevin e a mãe conseguiram (o pai não, esse era um desgraçado que só sabia colocar pressão nas costas dos filhos). Atuações no ponto, mas o trio Zac Efron, Jeremy Allen White e Harris Dickinson brilham um pouco mais. O momento do reencontro de Kerry com David, Mike e Jack Jr., além da cena final, me derrubaram. E ainda por cima as cenas de luta ficaram todas muito boas. Bela fotografia e belo trabalho de Sean Durkin roteirizando e dirigindo.
Impactante. De uma forma distinta do que é habitual no cinema, sem apelar à espetacularização da violência e ao melodrama, Glazer traz a normalização da barbárie com os algozes em foco. A beleza dos cenários verdes e floridos da casa e dos arredores bucólicos contrastam com as chaminés expelindo cinzas e fumaça dos mortos nos campos de concentração, dos prédios opacos e opressivos de Auschwitz e, principalmente, dos sons sórdidos de gritos, tiros, latidos, choros e todo tipo de expressão sonora que representa os sofrimentos vividos pelas vítimas do Holocausto - um mérito ímpar da equipe responsável pelo som no filme, que é basicamente um personagem. É uma experiência desconfortável, porque ver aquela família vivendo tranquilamente, conversando sobre como matar mais pessoas e ameaçando a vida de quem está dentro de sua própria casa é constatar não só que o passado é cruel, mas o presente também, pois vivemos rodeados de sordidez e crueldade e encaramos de forma semelhante, às vezes incomodados, mas quase sempre apáticos ou indiferentes. A sequência final, nas escadas e no museu, é muito marcante.
Poderia ser um filme qualquer, cheio de saídas fáceis e invencionices, mas tudo muda de figura quando os elementos metalinguísticos entram em cena. O teor infantil, fantasioso e conveniente do filme se explica de uma forma muito satisfatória, pois coloca a história como uma narrativa em construção pelos próprios personagens, que a cada nova adição se expande e mostra como uma história não precisa ter um fim, fazer sentido ou ser simples. Charlie Kaufman diferente do habitual, mas se saindo bem.
Bonitinho, caloroso e bem padrão. Diverte e traz a velha história de amor familiar, superar diferenças e correr atrás de objetivos que já cansamos de ver nos filmes americanos, mas não ofende nem incomoda em momento algum. O carisma dos pais da protagonista e as escaramuças entre as avós deixam tudo mais divertido.
Achei que foi o filme mais feliz que vi do Lanthimos até hoje (provavelmente só não vi um ou dois, então é quase certeza que é o filme mais "alto astral" do cara). É um filme fora da caixinha e que põe em questão - como bem pontuado no próprio roteiro - a polidez social, os contratos estabelecidos e as relações intra e interpessoais. Com exceção de Bella, todos são estereótipos, enquanto a protagonista é uma folha em branco pronta a ser preenchida, que parte de um contexto baseado no empirismo e livre de amarras emocionais ou sociais. Por isso, a descoberta do sexo e a relação íntima com isso é tão presente no filme e é retratada de várias formas, pois o nosso incômodo com o sexo é um construto moral que nos é inserido desde que nascemos. E o filme deixa bem claro quem são os indivíduos que oferecem somente isso a Bella, e não são os melhores exemplos. É cinema de Lanthimos como esperado, e me impressiona ver tanta gente chocada quando o diretor nunca foi diferente disso, e sempre lidou com sexo, absurdo e amoralidade de forma crua. Aqui, ele conseguiu ser ainda mais poético, mas também divertidíssimo. O elenco está incrível, mas Emma Stone com facilidade é o destaque, e a disputa entre ela e Lily Gladstone no Oscar vai ser acirrada. Mais uma vez Lanthimos acerta em incomodar, mas também em fazer refletir e, por que não, se divertir.
Parece que a música e o clipe ganham um peso novo ao ver esse documentário. Entender o processo de composição e gravação, os esforços e a dedicação dos envolvidos, especialmente de Quincy Jones, Lionel Richie e Michael Jackson, além das particularidades de cada um ali que foram respeitadas ou deixadas de lado, é o que torna esse projeto maior do que ele mesmo. É isso que faz falta na música pop de hoje em dia, esse tipo de comunhão em prol de.um objetivo maior. Grande momento da história da música pop.
Pungente, belo e doloroso. Cada parte da história te faz acreditar em um culpado diferente, para no final a coisa ser muito diferente do que se pode acreditar vendo somente as partes, e não o todo. Toda história é feita de várias partes, e toda vida tem seus segredos. Há realmente um monstro? Ou nós precisamos criá-los? O final é dolorosamente poético.
Uma delícia de animação, com cores vivas, traços cartunescos e um universo diferente, mas muito igual ao nosso. Os caminhos do cão e do robô, formados pelos encontros e desencontros, acabam funcionando como um grande reflexo da vida comum, e o final do filme é lindo por trazer tão bem isso, sobre saber amar, saber deixar ir e saber aproveitar os bons momentos e as boas lembranças. Fiquei muito surpreso, pois não esperava nada e veio uma animação belíssima.
Nem filme-legado, nem filme-homenagem, porque falta tudo dos dois. É uma produção sem alma e sem carisma que inicia, desenvolve e conclui no automático, a ponto de ter o desmérito de conseguir fazer todas as músicas serem esquecíveis (tentava lembrar delas na cena seguinte e não consegui nenhuma, impressionante). A estrela é a única coisa que ainda diverte e tem algum carisma, mas de resto é corrido, raso e apático. A qualidade da animação é boa, mas não se sobressai a algo do nível de um grande estúdio como a Disney. O que não se sobressai mesmo é o próprio produto final. As imagens dos filmes de animação do estúdio nos créditos e a cena pós-crédito com When You Wish Upon a Star poderiam valar de algo se o filme fizesse o mínimo esforço para honrar os 100 anos da empresa.
Um daqueles dramas de romances reais que nunca aconteceram e ficam marcados durante toda a vida pelas circunstâncias. O fato de ser tão próximo da realidade torna o filme mais aconchegante, bonito e, de certo modo, doloroso. O personagem de Arthur é um elemento que adiciona uma problemática distinta a esse tipo de abordagem pela maturidade como é adicionada. Sem maneirismos, sem clichês e sem apelar ao que queremos ver, Celine Song entrega uma obra belíssima sobre os caminhos e desencontros do amor e da vida. Greta Lee e Teo Yoo estão apaixonantes.
Um filme que se sobressai por um roteiro sólido e de múltiplas leituras para além da resolução de um caso possivelmente criminal. O que importa aqui é desvelar partes da verdade reconstituíveis que desnudam a protagonista frente a um tribunal, ao mundo e ao seu próprio filho, mostrando que toda família tem seus segredos. O diálogo sobre a mescla de ficção e realidade que a literatura e o julgamento são, ou a subjetividade das escolhas, ou o quanto a arte e a vida são inseparáveis, mas não equivalentes, são alguns temas que tornam esse filme ainda mais atraente. Sandra Huller e Milo Machado Graner dominam o filme em atuações incríveis, e Messi faz um trabalho igualmente incrível como Snoop. Triet mostra quão grande é como cineasta nesse drama de tribunal que vai muito além disso, mas não deixa de ter muitos de seus melhores momentos no ambiente do julgamento. Por fim, como não odiar o promotor e o terapeuta?
Ricky Gervais leva suas piadas ao extremo nesse especial que é de humor, mas também sobre humor e os limites (ou não) dele. Ele consegue trazer tiradas super pesadas sem ser algo gratuitamente ofensivo a certos grupos, o que só mostra o quanto ele é excelente no que faz. As passagens metalinguísticas são o que torna a experiência mais intrigante e dão muito a pensar. Nem todas as piadas são engraçadas, mas nenhuma delas é por algo que soe uma ofensa (incrível como ele é "ofensivo" sem ser), mas por haver alguns timing cômicos, que Gervais encontra geralmente muito bem, que não se encaixam. Um dos melhores comediantes da atualidade com facilidade.
Diferente do humor dos Wayans, é um terrir que usa o humor escrachado com bastante economia e investe num humor mais baseado nos estereótipos negros, que traz os melhores momentos. A trama em si não é tão atrativa, mas os personagens e suas interações é o que sustenta o interesse no filme até o fim. A cena pra definir quem era o mais negro foi uma das melhores do filme.
Mesmo não sendo tão longo, é cansativo porque é igual a tantos outros filmes de herói e sempre recorre ao caminho mais óbvio. Quando o filme parece que vai ter alguma seriedade ou um drama mais forte, rola uma piadinha ou se parte pra ação, e isso acabou incomodando porque nenhum personagem ao não ser o Orm tem qualquer nuance ou muda sua postura de forma convincente, porque o roteiro não quer deixar ninguém evoluir de forma perceptível. A cena final chega a ser vergonhosa com o Jason Momoa sendo Jason Momoa durante uma coletiva. Apesar disso, ainda entretém com as cenas de ação, mas o resultado final é meia boca.
Incrível como em três minutos, e sem nem ter um plot estabelecido, o filme conseguiu me prender. Scorsese simplesmente brincou de dirigir e se divertiu fazendo uma comédia de erros, muito bem encabeçada pelo azarado Griffin Dine e com um ótimo elenco de apoio. A história se passar no SoHo, bairro que se tornou concentração de artistas e figuras marginais da sociedade americana, permite o encontro com vários tipos únicos desse lugar durante a projeção, que se desdobra em desencontros e carrega várias críticas ao momento social e político de Nova York e dos Estados Unidos, com o neoliberalismo destrutivo de Reagan em voga e a criminalidade tomando conta das ruas. No fim das contas, é o anti-sonho do trabalhador comum, que mesmo no seu tempo livre, ao tentar viver, sofre as consequências disso para depois retornar à mesma rotina monótona de todos os dias. E só para não deixar passar, que felicidade a cena em que toca Pay to Cum e ainda conta com o Scorsese fazendo uma ponta.
Realização técnica impressionante para fazer o homem invisível, e gostei de ser um vilão meio que "sem objetivo", só alguém que ficou maluco devido às consequências da experiência e virou um ser violento e com ganas de poder. A mescla com a comédia pelas reações das pessoas e da própria polícia não atrapalha em nada o filme, deixando na verdade ele mais divertido e prendendo a atenção até o fim. Ótima direção de James Whale.
O plot é tão promissor quanto o filme é mal feito. Se temos um argumento que parte de uma premissa bizarra com promessa de enredo tenso, a realização é pobre, com atuações terríveis, direção ruim e roteiro mal feito, dependendo da burrice tremenda da personagem principal. Nem sei o que pensei do final, só sei que ele não tem qualquer peso dado o que o filme apresentou antes.
Tão bom, ou, na verdade, até um pouco superior que o primeiro. A qualidade da filmagem melhora, a produção também e o time de atores envolvidos é igualmente bom. A trama começa de forma frenética e pesada, se desenvolve infelizmente dependendo de atitudes extremamente burras dos personagens, mas depois consegue se sustentar muito bem, com tensão, violência e desespero bem realizados. Dá continuidade às críticas que o primeiro filme fez às forças armadas, só que agora de forma muito mais incisiva.
Filme insano, que investe numa trasheira de primeira. Não se leva a sério, mas consegue ser mais impactante e sólido que muitos filmes do gênero feitos para serem sérios. Os zumbis imortais e inteligentes trazem um elemento diferente ao cinema do gênero e garante cenas tão engraçadas quanto tenebrosas. Além disso, tem umas questões morais pesadas e umas críticas pesadíssimas à forma como o Estado lida com problemas sérios, tudo sem perder o bom humor e a diversão. Os efeitos práticos são simplesmente maravilhosos e a trilha sonora é uma deleite à parte.
A troca de direção é muito sentida, especialmente pela oscilação de atmosfera, que às vezes parece muito infantilizada, e pelas cenas de ação, que não empolgam mais. Apesar disso, finalmente Ripchip tem o destaque que merece e a adição de Will Poulter como Eustáquio é um acerto e tanto. Mesmo sendo o mais fraco da trilogia, o final é melhor e mais bonito dos três, acertando em cheio no teor emocional da conclusão de ciclo e início de uma nova jornada.
Diferente de quando vi na época em que foi lançado, em que me desagradou pelas mudanças em relação à história original, rever agora foi uma experiência melhor, pois esse segundo filme traz mais batalhas e uma participação maior de Pedro na trama. Ainda vejo com problemas a forçada em colocar novamente a Feiticeira Branca e o pouco desenvolvimento de Caspian, que não tem tempo de tela suficiente para que torçamos ou nos apeguemos a ele, mas, enquanto o primeiro é um filme de fantasia completo, o segundo é praticamente um filme de guerra, bem produzido e divertido, que mesmo tendo uma duração relativamente longa, não se torna nada cansativo.
Dias Perfeitos
4.2 282 Assista AgoraO acompanhamento da rotina estava se tornando um pouco cansativo, mas quando a sobrinha entra no filme, a coisa se torna aconchegante e emocional de uma forma gostosa. A cena final de Koji Yakusho é a melhor de 2023 com facilidade. Wim Wenders não sabe deixar de ser mestre no que faz.
Duna: Parte 2
4.4 631Dos jogos políticos feitos em segredo do primeiro filme, temos uma continuação que foca mais no confronto direto. As cenas das batalhas e lutas estão impecáveis, assim como tudo relativo à técnica e estética do filme. Por investir ainda mais no deserto, a fotografia sobe um degrau a mais, e ainda impressiona o quanto os efeitos especiais são orgânicos, pois é impossível pensar que as máquinas e naves de proporções colossais são feitas em CGI. O trabalho de som e a trilha sonora também conseguem superar o antecessor, novamente devido à maior ambientação no deserto, que traz todo o peso do som dos vermes gigantes, além da trilha se tornar ainda mais imponente. O elenco está todo muito bom, com destaque para Rebecca Ferguson (no pique joga y joga), Austin Butler (Feyd-Rautha de respeito) e Chalamet (incrível pensar que ele pôde passar tanta imponência como no ato final). Não li o livro para comparar, mas gostei de como o roteiro se construiu. Há algumas quedas de ritmo, mas isso é bem entrecortado pelos momentos de ação. A construção do romance foi sutil, mas funcional, e o destaque fica para o terceiro ato frenético. Um belo conto sobre como déspotas nascem e se desenvolvem. Que venha Messias de Duna.
Todos Nós Desconhecidos
3.9 181 Assista AgoraNão sei se entendi todas as intenções, mas sei que senti tudo que o filme quis passar. Uma experiência muito íntima e profunda, um desnudamento da vida do protagonista que nos deixa cada vez mais conectados a ele. Um drama de toques surrealistas que encontra caminhos diferentes para ser o mais honesto possível sobre amor, traumas, solidão, luto, isolamento. Incrível como o elenco, sem exceções, se sai de forma excepcional e a direção dá ao filme uma atmosfera própria, atemporal, magnética. A trilha sonora é um aconchego e, apesar de muito triste, tudo é muito bonito e poético. A cena final é de deixar sem palavras.
Garra de Ferro
3.9 114Não pensava que um filme repleto de caras malhados ia me fazer chorar. Que história dolorosa - e pensar que ainda teve o Chris von Erich que nem foi adicionado ao filme e teve destino semelhante a alguns dos seus irmãos -, é muito difícil pensar como Kevin e a mãe conseguiram (o pai não, esse era um desgraçado que só sabia colocar pressão nas costas dos filhos). Atuações no ponto, mas o trio Zac Efron, Jeremy Allen White e Harris Dickinson brilham um pouco mais. O momento do reencontro de Kerry com David, Mike e Jack Jr., além da cena final, me derrubaram. E ainda por cima as cenas de luta ficaram todas muito boas. Bela fotografia e belo trabalho de Sean Durkin roteirizando e dirigindo.
Zona de Interesse
3.6 594 Assista AgoraImpactante. De uma forma distinta do que é habitual no cinema, sem apelar à espetacularização da violência e ao melodrama, Glazer traz a normalização da barbárie com os algozes em foco. A beleza dos cenários verdes e floridos da casa e dos arredores bucólicos contrastam com as chaminés expelindo cinzas e fumaça dos mortos nos campos de concentração, dos prédios opacos e opressivos de Auschwitz e, principalmente, dos sons sórdidos de gritos, tiros, latidos, choros e todo tipo de expressão sonora que representa os sofrimentos vividos pelas vítimas do Holocausto - um mérito ímpar da equipe responsável pelo som no filme, que é basicamente um personagem. É uma experiência desconfortável, porque ver aquela família vivendo tranquilamente, conversando sobre como matar mais pessoas e ameaçando a vida de quem está dentro de sua própria casa é constatar não só que o passado é cruel, mas o presente também, pois vivemos rodeados de sordidez e crueldade e encaramos de forma semelhante, às vezes incomodados, mas quase sempre apáticos ou indiferentes. A sequência final, nas escadas e no museu, é muito marcante.
Orion e o Escuro
3.3 72 Assista AgoraPoderia ser um filme qualquer, cheio de saídas fáceis e invencionices, mas tudo muda de figura quando os elementos metalinguísticos entram em cena. O teor infantil, fantasioso e conveniente do filme se explica de uma forma muito satisfatória, pois coloca a história como uma narrativa em construção pelos próprios personagens, que a cada nova adição se expande e mostra como uma história não precisa ter um fim, fazer sentido ou ser simples. Charlie Kaufman diferente do habitual, mas se saindo bem.
Uma Família Extraordinária
3.6 45Bonitinho, caloroso e bem padrão. Diverte e traz a velha história de amor familiar, superar diferenças e correr atrás de objetivos que já cansamos de ver nos filmes americanos, mas não ofende nem incomoda em momento algum. O carisma dos pais da protagonista e as escaramuças entre as avós deixam tudo mais divertido.
Pobres Criaturas
4.1 1,2K Assista AgoraAchei que foi o filme mais feliz que vi do Lanthimos até hoje (provavelmente só não vi um ou dois, então é quase certeza que é o filme mais "alto astral" do cara). É um filme fora da caixinha e que põe em questão - como bem pontuado no próprio roteiro - a polidez social, os contratos estabelecidos e as relações intra e interpessoais. Com exceção de Bella, todos são estereótipos, enquanto a protagonista é uma folha em branco pronta a ser preenchida, que parte de um contexto baseado no empirismo e livre de amarras emocionais ou sociais. Por isso, a descoberta do sexo e a relação íntima com isso é tão presente no filme e é retratada de várias formas, pois o nosso incômodo com o sexo é um construto moral que nos é inserido desde que nascemos. E o filme deixa bem claro quem são os indivíduos que oferecem somente isso a Bella, e não são os melhores exemplos. É cinema de Lanthimos como esperado, e me impressiona ver tanta gente chocada quando o diretor nunca foi diferente disso, e sempre lidou com sexo, absurdo e amoralidade de forma crua. Aqui, ele conseguiu ser ainda mais poético, mas também divertidíssimo. O elenco está incrível, mas Emma Stone com facilidade é o destaque, e a disputa entre ela e Lily Gladstone no Oscar vai ser acirrada. Mais uma vez Lanthimos acerta em incomodar, mas também em fazer refletir e, por que não, se divertir.
A Noite que Mudou o Pop
4.2 160 Assista AgoraParece que a música e o clipe ganham um peso novo ao ver esse documentário. Entender o processo de composição e gravação, os esforços e a dedicação dos envolvidos, especialmente de Quincy Jones, Lionel Richie e Michael Jackson, além das particularidades de cada um ali que foram respeitadas ou deixadas de lado, é o que torna esse projeto maior do que ele mesmo. É isso que faz falta na música pop de hoje em dia, esse tipo de comunhão em prol de.um objetivo maior. Grande momento da história da música pop.
Monstro
4.3 272 Assista AgoraPungente, belo e doloroso. Cada parte da história te faz acreditar em um culpado diferente, para no final a coisa ser muito diferente do que se pode acreditar vendo somente as partes, e não o todo. Toda história é feita de várias partes, e toda vida tem seus segredos. Há realmente um monstro? Ou nós precisamos criá-los? O final é dolorosamente poético.
Meu Amigo Robô
4.0 84Uma delícia de animação, com cores vivas, traços cartunescos e um universo diferente, mas muito igual ao nosso. Os caminhos do cão e do robô, formados pelos encontros e desencontros, acabam funcionando como um grande reflexo da vida comum, e o final do filme é lindo por trazer tão bem isso, sobre saber amar, saber deixar ir e saber aproveitar os bons momentos e as boas lembranças. Fiquei muito surpreso, pois não esperava nada e veio uma animação belíssima.
Wish: O Poder dos Desejos
3.0 169 Assista AgoraNem filme-legado, nem filme-homenagem, porque falta tudo dos dois. É uma produção sem alma e sem carisma que inicia, desenvolve e conclui no automático, a ponto de ter o desmérito de conseguir fazer todas as músicas serem esquecíveis (tentava lembrar delas na cena seguinte e não consegui nenhuma, impressionante). A estrela é a única coisa que ainda diverte e tem algum carisma, mas de resto é corrido, raso e apático. A qualidade da animação é boa, mas não se sobressai a algo do nível de um grande estúdio como a Disney. O que não se sobressai mesmo é o próprio produto final. As imagens dos filmes de animação do estúdio nos créditos e a cena pós-crédito com When You Wish Upon a Star poderiam valar de algo se o filme fizesse o mínimo esforço para honrar os 100 anos da empresa.
Vidas Passadas
4.2 752 Assista AgoraUm daqueles dramas de romances reais que nunca aconteceram e ficam marcados durante toda a vida pelas circunstâncias. O fato de ser tão próximo da realidade torna o filme mais aconchegante, bonito e, de certo modo, doloroso. O personagem de Arthur é um elemento que adiciona uma problemática distinta a esse tipo de abordagem pela maturidade como é adicionada. Sem maneirismos, sem clichês e sem apelar ao que queremos ver, Celine Song entrega uma obra belíssima sobre os caminhos e desencontros do amor e da vida. Greta Lee e Teo Yoo estão apaixonantes.
Anatomia de uma Queda
4.0 808 Assista AgoraUm filme que se sobressai por um roteiro sólido e de múltiplas leituras para além da resolução de um caso possivelmente criminal. O que importa aqui é desvelar partes da verdade reconstituíveis que desnudam a protagonista frente a um tribunal, ao mundo e ao seu próprio filho, mostrando que toda família tem seus segredos. O diálogo sobre a mescla de ficção e realidade que a literatura e o julgamento são, ou a subjetividade das escolhas, ou o quanto a arte e a vida são inseparáveis, mas não equivalentes, são alguns temas que tornam esse filme ainda mais atraente. Sandra Huller e Milo Machado Graner dominam o filme em atuações incríveis, e Messi faz um trabalho igualmente incrível como Snoop. Triet mostra quão grande é como cineasta nesse drama de tribunal que vai muito além disso, mas não deixa de ter muitos de seus melhores momentos no ambiente do julgamento. Por fim, como não odiar o promotor e o terapeuta?
Ricky Gervais: Armageddon
3.5 15Ricky Gervais leva suas piadas ao extremo nesse especial que é de humor, mas também sobre humor e os limites (ou não) dele. Ele consegue trazer tiradas super pesadas sem ser algo gratuitamente ofensivo a certos grupos, o que só mostra o quanto ele é excelente no que faz. As passagens metalinguísticas são o que torna a experiência mais intrigante e dão muito a pensar. Nem todas as piadas são engraçadas, mas nenhuma delas é por algo que soe uma ofensa (incrível como ele é "ofensivo" sem ser), mas por haver alguns timing cômicos, que Gervais encontra geralmente muito bem, que não se encaixam. Um dos melhores comediantes da atualidade com facilidade.
Jogo Mortal
3.2 111 Assista AgoraDiferente do humor dos Wayans, é um terrir que usa o humor escrachado com bastante economia e investe num humor mais baseado nos estereótipos negros, que traz os melhores momentos. A trama em si não é tão atrativa, mas os personagens e suas interações é o que sustenta o interesse no filme até o fim. A cena pra definir quem era o mais negro foi uma das melhores do filme.
Aquaman 2: O Reino Perdido
2.9 296 Assista AgoraMesmo não sendo tão longo, é cansativo porque é igual a tantos outros filmes de herói e sempre recorre ao caminho mais óbvio. Quando o filme parece que vai ter alguma seriedade ou um drama mais forte, rola uma piadinha ou se parte pra ação, e isso acabou incomodando porque nenhum personagem ao não ser o Orm tem qualquer nuance ou muda sua postura de forma convincente, porque o roteiro não quer deixar ninguém evoluir de forma perceptível. A cena final chega a ser vergonhosa com o Jason Momoa sendo Jason Momoa durante uma coletiva. Apesar disso, ainda entretém com as cenas de ação, mas o resultado final é meia boca.
Depois de Horas
4.0 457 Assista AgoraIncrível como em três minutos, e sem nem ter um plot estabelecido, o filme conseguiu me prender. Scorsese simplesmente brincou de dirigir e se divertiu fazendo uma comédia de erros, muito bem encabeçada pelo azarado Griffin Dine e com um ótimo elenco de apoio. A história se passar no SoHo, bairro que se tornou concentração de artistas e figuras marginais da sociedade americana, permite o encontro com vários tipos únicos desse lugar durante a projeção, que se desdobra em desencontros e carrega várias críticas ao momento social e político de Nova York e dos Estados Unidos, com o neoliberalismo destrutivo de Reagan em voga e a criminalidade tomando conta das ruas. No fim das contas, é o anti-sonho do trabalhador comum, que mesmo no seu tempo livre, ao tentar viver, sofre as consequências disso para depois retornar à mesma rotina monótona de todos os dias. E só para não deixar passar, que felicidade a cena em que toca Pay to Cum e ainda conta com o Scorsese fazendo uma ponta.
O Homem Invisível
3.9 156 Assista AgoraRealização técnica impressionante para fazer o homem invisível, e gostei de ser um vilão meio que "sem objetivo", só alguém que ficou maluco devido às consequências da experiência e virou um ser violento e com ganas de poder. A mescla com a comédia pelas reações das pessoas e da própria polícia não atrapalha em nada o filme, deixando na verdade ele mais divertido e prendendo a atenção até o fim. Ótima direção de James Whale.
Bom Garoto
2.5 166 Assista AgoraO plot é tão promissor quanto o filme é mal feito. Se temos um argumento que parte de uma premissa bizarra com promessa de enredo tenso, a realização é pobre, com atuações terríveis, direção ruim e roteiro mal feito, dependendo da burrice tremenda da personagem principal. Nem sei o que pensei do final, só sei que ele não tem qualquer peso dado o que o filme apresentou antes.
Extermínio 2
3.5 628 Assista AgoraTão bom, ou, na verdade, até um pouco superior que o primeiro. A qualidade da filmagem melhora, a produção também e o time de atores envolvidos é igualmente bom. A trama começa de forma frenética e pesada, se desenvolve infelizmente dependendo de atitudes extremamente burras dos personagens, mas depois consegue se sustentar muito bem, com tensão, violência e desespero bem realizados. Dá continuidade às críticas que o primeiro filme fez às forças armadas, só que agora de forma muito mais incisiva.
A Volta dos Mortos Vivos
3.6 536 Assista AgoraFilme insano, que investe numa trasheira de primeira. Não se leva a sério, mas consegue ser mais impactante e sólido que muitos filmes do gênero feitos para serem sérios. Os zumbis imortais e inteligentes trazem um elemento diferente ao cinema do gênero e garante cenas tão engraçadas quanto tenebrosas. Além disso, tem umas questões morais pesadas e umas críticas pesadíssimas à forma como o Estado lida com problemas sérios, tudo sem perder o bom humor e a diversão. Os efeitos práticos são simplesmente maravilhosos e a trilha sonora é uma deleite à parte.
As Crônicas de Nárnia: A Viagem do Peregrino da Alvorada
3.5 1,4K Assista AgoraA troca de direção é muito sentida, especialmente pela oscilação de atmosfera, que às vezes parece muito infantilizada, e pelas cenas de ação, que não empolgam mais. Apesar disso, finalmente Ripchip tem o destaque que merece e a adição de Will Poulter como Eustáquio é um acerto e tanto. Mesmo sendo o mais fraco da trilogia, o final é melhor e mais bonito dos três, acertando em cheio no teor emocional da conclusão de ciclo e início de uma nova jornada.
As Crônicas de Nárnia: Príncipe Caspian
3.5 791 Assista AgoraDiferente de quando vi na época em que foi lançado, em que me desagradou pelas mudanças em relação à história original, rever agora foi uma experiência melhor, pois esse segundo filme traz mais batalhas e uma participação maior de Pedro na trama. Ainda vejo com problemas a forçada em colocar novamente a Feiticeira Branca e o pouco desenvolvimento de Caspian, que não tem tempo de tela suficiente para que torçamos ou nos apeguemos a ele, mas, enquanto o primeiro é um filme de fantasia completo, o segundo é praticamente um filme de guerra, bem produzido e divertido, que mesmo tendo uma duração relativamente longa, não se torna nada cansativo.