Lanthimos traz em seu bojo teórico obviamente referências gregas - e são elas, contudo, desde a antiguidade, que irão influenciar, mais tarde, as demais ciências. Desta forma, Lanthimos ao trazer referências gregas, também traz referências aos mais diversos campos artísticos, desde a filosofia à, por que não, religião cristã; o que possibilita, portanto, uma gama de interpretações em seus filmes. Nota-se a narrativa de Eurípides enquanto basilar para o enredo, assim como a direção particular do diretor - extremamente racionalizada e inexpressiva - traduz a essência da sociedade burguesa, e nos faz, de forma incômoda e trágica, rir de nervoso diante da identificação com as personagens. Traduz, já de imediato - assim como em Dente Canino e O Lagosta - a percepção platônica e rousseauniana de Lanthimos. Mais tarde vemos a necessidade do sacrifício posto em voga enquanto mote do filme, o que caracteriza a segunda parte. O cervo sagrado é Ifigênia, mas também é Cristo. A figura de Martin é Ártemis, mas traz em si o devido maniqueísmo da eterna batalha entre Lucifer e Deus. Nota-se em Kim, ao oferecer-se voluntariamente à morte, Ifigênia; ao mesmo tempo em que, ao ter os braços ensanguentados e enaltecer a personagem de Steven enquanto o seu mestre, a personificação bíblica de Cristo perante seu Pai.
Ademais, as atuações são particularmente interessantes, e a construção da trama enriquece-se enquanto um suspense altamente psicológico do começo ao fim, ao sermos, desde sua gênese, contagiados com o sentimento permanente da dúvida. Lanthimos é redondo em sua proposta: desde as atuações - como já mencionado - à linguagem que concerne a forma: a postura física de Anna, por exemplo, modifica-se a partir da segunda parte da trama, assim como radicaliza-se na forma corpórea, como os cabelos desgrenhados da mesma. O horror dos elementos externos que se apresentam e a crueza do tema é tratado de forma direta e objetiva - exaltando a racionalidade, mais uma vez - na épica cena em que Martin morde o braço de Steve e o seu próprio, trazendo uma ideia simbólica que acarreta, também, num estado político do código de hamurábi.
Apresenta um roteiro bastante modificado, apesar de conter o esqueleto completo da peça, além de inserir a cena da floresta com Abigail e Proctor que muitas companhias cortaram em suas adaptações. Mesmo assim o roteiro do filme apresenta cortes que, pessoalmente, julgo crassos para um maior aprofundamento de determinados personagens. A própria Abby neste filme pareceu-me deixada de lado. O foco, de fato, é a questão mais política, mas acredito que o ponto chave de Miller ao escrever a peça tenha sido, decerto, a crítica política concomitante à realidade das crianças sem voz da época e, claro, à personagem extremamente ardilosa de Abigail Williams. A genialidade da peça é exatamente encaixar todos esses conflitos de diferentes gêneros e graus colaborando para um propósito maior. A família Putnam - e a loucura protagonista de Ann Putnam - foi deixada totalmente de lado e a própria Rebecca Nurse não ganha o protagonismo necessário que faz seu fim simbolizar tão extremoso abalo e suscitar revolta na vila. Até o reverendo Parris perdeu a voz e pareceu menos odioso e asqueroso do que na obra escrita por Miller.
No mais, Daniel Day Lewis carrega o filme nas costas, e a cena final me arrancou umas lágrimas apesar da narrativa arrastada.
Uma passagem bonita quando conta o momento em que fumou maconha pela segunda vez, nos alerta para algo imprescindível em sua vida e obra: a necessidade particular de reter-se em si mesmo; a negação do outro; a negação da necessidade de compartilhar a vida do outro. Lynch estava muito ocupado em viver seu próprio mundo, o que o torna um eremita em essência. Sinto que seu corpo vivia momentos que eram obrigados socialmente, enquanto sua alma verdadeiramente só queria continuar brincando no retrato nostálgico - e eternamente ensolarado - de sua infância. E assim, criando. Permanecer criando era sua única preocupação; não havia a necessidade de a pintura, por exemplo - como tantos outros veículos de expressão que Lynch utiliza - servir como simbologia de fuga, quando era simplesmente uma necessidade. O permanente estado de felicidade e prazer reunidos num só ato. Deste modo, em seu documentário, sobre seu mundo e sua voz, não sabemos sobre Peggy ou até mesmo Lula Lynch. O mundo de Lynch não comporta ninguém além de suas próprias criações. A cena final de David relembrando e repetindo em off o quanto os tempos foram bons em Eraserhead é ter a certeza de que o diretor, naquele momento completamente intenso e mágico de criação, atingiu o limiar de sua felicidade em vida.
Uma temática semelhante à Cidade dos Sonhos no que concerne a crítica à Hollywood; contudo, com uma particularidade e senso metafórico característicos de Lynch, Império dos Sonhos retrata especificamente a mulher. A figura feminina frágil e doce - vejo, desta forma, uma tara específica de Lynch por personificar a pureza em estado de corrupção, como a personagem Betty em Cidade dos Sonhos, Laura Palmer (e tantas outras) em Twin Peaks, e Dorothy em Veludo Azul - sendo violentada em suas mais variadas significações. Digo isto literalmente, já que Império dos Sonhos carrega consigo duas narrativas: a história de uma mulher que foi drogada e estuprada por seu colega de cena no quarto 47 de um hotel, como as mulheres que aparecem na trama enquanto um vislumbre lúcido de Nikki - daí a necessidade do estado de comunhão entre as vítimas que Lynch propõe: "olhe para mim e diga que me conheça" - o que mais tarde acarretará em sua gravidez, desprezo pelo marido, e consequentemente sua morte ocasionada por um aborto com uma chave de fenda. E uma segunda história, onírica, onde tudo, minuciosamente, é dotado de simbologia. A história de uma Hollywood que deslumbra e alicia as jovens mulheres. A violência e a agressão da sociedade perante o gênero feminino. O abandono. A prostituição. A ideia de ciclo sendo representada não só pela aniquilação do tempo, onde a história é contada sem necessariamente uma ordem cronológica dos fatos, mas a constante repetição de mulheres que passaram pela mesma situação de Nikki. O tipo de violência que independe de tempo, lugar, época histórica, idioma. O tipo de violência ocasionada por homens que se comportam de forma animalesca, como os cavalos e macacos mencionados no filme. "Tem gente que se acostuma a viver com animais", é um trecho do diálogo entre a asiática e a mulher negra diante da morte de Nikki, que está, por sua vez, banhada de sangue diante da calçada da fama.
Importante também ressaltar que as duas (e tantas outras) histórias ocorrem concomitantemente no filme, o que não impede que Lynch fale de tantas coisas ao mesmo tempo utilizando-se de uma linguagem literal e subjetiva para cultivar diversas interpretações, assim como torna-se metalinguístico ao utilizar uma estética semelhante a de um filme pornô para causar a sensação e a crítica propostas. Percebo que essa necessidade de representar com a estética também iria inspirar tantos outros cineastas.
Os créditos ainda trazem Nina Simone, grande representante da luta feminina enquanto viveu.
A gente não capta tudo de Lynch assistindo uma única vez. Daqui a alguns anos eu reassisto. No mais, genial mesmo. O terror de David Lynch é o real acontecendo aqui e agora. Soco no estômago.
Através de uma delicadeza extrema, Greta conseguiu me arrancar lágrimas e sorrisos com uma identificação tão sincera quanto catártica com a simbologia da adolescência que Lady Bird representa: crises existenciais, modos de pensar, sensação de deslocamento sobre a cidade e as pessoas, além da personalidade exótica e a relação conturbada com a mãe foram os elementos que mais me contemplaram enquanto adolescente. De forma singela, a direção de Greta e a belíssima atuação de Saoirse conseguiram me teletransportar para meus dezessete sem maiores esforços. Lindo.
"Pouco a pouco, o homem mediatizou sua experiência e, em suas representações como em sua existência prática, triunfou o princípio masculino. O Espírito superou a Vida; a transcendência, a imanência; a técnica, a magia; e a razão, a superstição. A desvalorização da mulher representa uma etapa necessária na história da humanidade, porque não era de seu valor positivo, mas de sua fraqueza que ela tirava seu prestígio; nela encarnavam-se os inquietantes mistérios naturais: o homem escapa de seu domínio quando se liberta da natureza. Foi a passagem da pedra ao bronze que lhe permitiu realizar, com seu trabalho, a conquista do solo e de si próprio. O agricultor está sujeito aos acasos da terra, das germinações, das estações, é passivo, conjura e espera. Eis por que os espíritos totêmicos povoavam o mundo humano; o camponês sofria os caprichos dessas potências que o assediavam. O operário, ao contrário, molda a ferramenta de acordo com seu objetivo, impõe-lhe com as mãos a forma de seu projeto; diante da natureza inerte, que lhe resiste, mas que ele vence, afirma-se como vontade soberana; se acelera os golpes sobre a bigorna, acelera o acabamento da ferramenta, ao passo que nada pode apressar o amadurecimento das espigas. Ele aprende sua responsabilidade com a coisa fabricada, um gesto hábil ou desastrado dá-lhe forma ou a destroi. Prudente, hábil, ele a conduz ao ponto de perfeição de que se orgulha: seu êxito não depende de favores dos deuses, e sim de si mesmo. Desafia seus companheiros, jacta-se de suas realizações e, se ainda atém a alguns ritos, as técnicas precisas parecem-lhe bem mais importantes; os valores místicos passam para o segundo plano e os práticos, para o primeiro. Não se liberta inteiramente dos deuses, mas separa-os de si separando-se deles; relega-os a seu céu olímpico e guarda para si o domínio terrestre; o frande Pã começa a estiolar-se quando ecoa a primeira martelada, e o reinado do homem inicia-se. Ele descobre seu poder. Na relação entre o braço criador e o objeto fabricado, experimenta a causalidade: o grão semeado germina ou não, ao passo que o metal reage sempre da mesma maneira ao fogo, à têmpera, à ação mecânica. Esse mundo de utensílios deixa-se encerrar em conceitos claros: o pensamento racional, a lógica e a matemática podem então aparecer. Toda imagem do universo acha-se transformada. A religião da mulher estava ligada ao reinado da agricultura, reinado da duração irredutível, da contingência, do acaso, da espera, do mistério; o do homo faber é o reinado do tempo que se pode vencer tal como o espaço, da necessidade, do projeto, da ação, da razão. Mesmo quando enfrenta a terra, o homem a enfrenta desde então como operário; ele descobre que pode enriquecer o solo, que convém deixá-lo descansar, que tal ou qual semente deve ser tratada de tal ou qual maneira; ele é quem faz a sagra; abre canais, irriga ou seca o solo, constrói estradas, ergue templos, recria o mundo. Os povos que permaneceram sob a férula da deusa-mãe, aqueles entre os quais se perpetuou a filiação uterina, detiveram-se também num estágio de civilização primitiva. Isso porque a mulher só era venerada na medida em que o homem se fazia escravo de seus próprios temores, cúmplice de sua própria impotência. Era no terror e não no amor que ele lhe rendia um culto. Só podia realizar-se começando por destroná-la. É o princípio masculino de força criadora, de luz, de inteligência, de ordem que ele reconhece então como soberano. Junto da deusa-mãe surge um deus, filho ou amante, que lhe é inferior ainda, mas que se assemelha a ela, traço por traço, e lhe está associado. Ele encarna também um princípio da fecundidade; é um touro, é o Minotauro, é o Nilo fertilizando as planícies do Egito. Morre no outono e renasce na primavera depois de ter a esposa-mãe invulnerável, mas banhada em pranto, consagrado suas forças a procurar-lhe o corpo e a reanimá-lo. Vê-se então aparecer em Creta esse casal que se encontra em todas as margens do Mediterrâneo: Ísis e Horo no Egito, Astarté e Adônis na Fenícia, Cibele e Átis na Ásia Menor e, na Grécia Helênica, Reia e Zeus."
O começo me remeteu bastante à Paris, Texas, tanto pela plasticidade da cena - no caso, o cenário de ambos ser praticamente o mesmo inicialmente -, e o tema da busca pela identidade. Obviamente de naturezas distintas, mas não consegui deixar de associar.
Gosto do quanto Robertson precisou morrer duas vezes, e o quanto Locke precisava criar o estádio do espelho de Lacan na vida adulta como uma falha da infância, ou mais ou menos isso... preciso pensar mais sobre.
No impacto inicial pós termino eu gostei bastante. Esteticamente agradável, maçante em algumas partes, mas ainda assim instigante. Confesso, ainda, que o que mais me despertou atenção foi a personagem da garota sem nome, sedenta por aventuras, como toda boa leitora. Mesmo marcando presença apenas na segunda parte do filme, pra mim tudo não deixa de girar em torno dela. Estou apaixonadíssima. No mais, estou começando com Antonioni por esse. Sigamos em frente.
Para mim, de fato, Aronofsky conseguiu transmitir a criação/apocalipse da mãe-natureza numa roupagem completamente original e característica de seu trabalho. O enfoque repetitivo e angustiante da câmera no rosto de Lawrence nos transmite a sensação exata de pânico que a personagem transmite. É a mesma história da origem do mundo em cenário de completo suspense metafórico e poético. Gostei bastante.
E, claro, não poderia ter homem mais adequado que Bardem pra fazer o próprio Deus. Taí um homem que só melhora com a idade. No mais, achei Lawrence meio robótica, mas acredito ter sido intencionalidade do diretor para dar o toque mais lúdico e surreal à personagem.
Ainda trêmula, o rosto ainda banhado em lágrimas, me permito capturar a emoção e tentar descrever em palavras essa experiência.
Vivien Leigh está, evidentemente, deslumbrante. Ela é quem eu imaginei ao ler a peça: capturou exatamente a essência da personagem de uma forma tão verdadeira, tão visceral. Tão impactante quanto Martha (Quem tem medo de Virginia Woolf?), essas personagens encantadoramente loucas são o retrato cru da essência feminina. Vamos assistindo e entendendo a beleza reluzente de Blanche que não se permite ser limitada ao físico ser destruída e deturpada por todos os monstros que estão tão personificados quanto enraizados em nós. Um Bonde Chamado Desejo é um filme completamente feminino; infelizmente há sempre uma Stella e uma Blanche dentro de nós.
Ainda preciso de mais um tempinho pra digerir esse término - minhas mãos ainda tremulam.
Um gênio da direção no que concerne decadência entre amantes, a metalinguagem autoral e marcante em cada obra. Minha tríade de filmes favoritos - no quesito soco no estômago, inclusive - são filhos de Nichols. Um dia espero assistir a filmografia desse homem.
Gostei do modo como Wenders trata a figura infantil. Em nenhum momento ele subestima a criança, e a trata individualmente como um ser complexo que, imerso no universo particular infantil, transita entre os seus sentimentos e o dos adultos sem traçar uma linha de interrupção. O diretor consegue transmitir a essência particular de cada personagem (salvo mérito à atuação de todos os envolvidos), e o tempo que passa em cada um é ao mesmo tempo que rápido, muito intenso. De certo modo é a mesma medida que traça em cada um, pois o tempo que passamos acompanhando Travis iguala-se a todo os dos outros no que concerne a idiossincrasia e história de cada personagem; mistério esse que é o cerne do filme. Calculadamente, ele passou o tempo certo em cada personagem, e neste breve tempo conseguimos formular uma empatia com cada indivíduo. Gostei de como a história começa, tem seu ápice, e termina tendo Jane enquanto centro; o filme é um círculo e ela é a figura central, que sustenta o filme e nos provoca todos os tipos de sentimentos ao longo da trajetória para encontrá-la. E até encontrá-la. E quando encontramos. E após a abandonarmos.
Um filme redondo; o roteiro se liga do começo ao fim, e não há margem pra cansaço (apesar das imperceptíveis duas horas e meia). Muito bom, de verdade. Me arrependo por ter demorado tanto tempo pra ter assistido.
Filme extremamente sensorial, com atuações impecáveis. Amo as mulheres de Carax, mas mais que isso, amo o quanto Denis Lavant é bem explorado pelo diretor, que nos mostra o quanto este ator é incrível. Em parceria com Binoche, que, pra variar, está divina, este filme é um deleite visual. Com maestria, Carax dá uma aula de direção de fotografia e inunda todos os nossos sentidos de emoção: visão, olfato, tato...
Incrível. Me arrisco ainda a dizer que é o melhor da trilogia.
Acabei de assistir. Simplesmente não tenho condições de relatar o quanto esse filme me destraçou do início ao fim - literalmente, desde a primeira cena -, e me deixou assim, mal mesmo, com o estômago na garganta...
A introdução que enfiaram pra, claramente, encher linguiça é totalmente desnecessária. Cria-se um mote, um ápice, e então tudo evapora no espaço tornando-se, assim, absolutamente descartável. O Coringa, que desde o início deveria ser o personagem central do filme, acabou como alguém bem secundário na estória original. O personagem do Batman nessa animação não carrega emoção, e se torna apenas uma esfera nebulosa e apática, reforçando esse estigma caricato e apelativo que o Batman carrega; diferentemente da HQ, onde há um Batman sutilmente desequilibrado, tentando entender o seu suposto antagonista, que acaba se mostrando como seu igual. Nessa animação, enquanto há a narrativa "em off" da vida antiga do Coringa, vemos um exemplo de uma forçação de barra que tenta, a todo custo, empurrar uma empatia goela à baixo do espectador. Perdeu muito da narrativa taciturna e sombria que a HQ carrega, o que me surpreendeu por ser uma animação da DC. Se mostrou recheada de estereótipos já exaustivamente repetidos nos filmes do Batman, com uma pegada extremamente comercial e vazia, não conseguiu me convencer de muita coisa. Sem querer atrelar a análise exclusivamente à HQ - que conseguiu me passar toda essa neblina mórbida e caótica intencionalmente causada pelo Alan Moore -, Piada Mortal pode ser uma animação isoladamente reconhecida enquanto inferior. É triste como tentaram forçar uma relação amorosa entre Barbara e o Batman, com a única intenção de encher tempo e apelar pra um viés mais pseudo-erótico e sentimental; de forma que o fato realmente pesado e importante que a afeta - o tiro e estupro - são deixados completamente de lado. Sem falar, claro, dessa cena final tentando, mais uma vez, forçar uma barra imensa e tentando excluir o fato monstruoso que ela carrega nas costas antes de, enfim, se recuperar mental e psicologicamente, e se tornar Oráculo.
O adjetivo certeiro pra essa adaptação é um só: vazio. Decepcionada com Azzarello, reitero: faltou profundidade!
Tecnicamente, eu só tenho a lamentar por não ter assistido esse filme antes. É uma aula de direção de fotografia: a cena da piscina se contrapondo com a noite de Benjamin e Ms. Robinson é incrível. As atuações são maravilhosas, e a trilha sonora marcante e devidamente melancólica foi o toque necessário pra dar o ar que o filme precisava. Sem falar na beleza doce e hipnotizante de Katharine Ross, que a todo momento me deixava boquiaberta.
Emocionalmente, estou em frangalhos. Esse filme não é sobre amor; não chega nem perto disso. É um filme sobre obsessão, sobre medo do futuro, sobre desejo. A empatia com Elaine me deixou dolorida, nauseada, angustiada. Esse final foi uma facada no meu peito...
Sonata de Outono
4.5 492Estou embasbacada.
Coerência
4.0 1,3K Assista AgoraExcessivamente didático - subestima o espectador.
O Que Terá Acontecido a Baby Jane?
4.4 830 Assista AgoraQue atuações!!!!!!!!!!!!!
Bette Davis está incrível
O Sacrifício do Cervo Sagrado
3.7 1,2K Assista AgoraLanthimos traz em seu bojo teórico obviamente referências gregas - e são elas, contudo, desde a antiguidade, que irão influenciar, mais tarde, as demais ciências. Desta forma, Lanthimos ao trazer referências gregas, também traz referências aos mais diversos campos artísticos, desde a filosofia à, por que não, religião cristã; o que possibilita, portanto, uma gama de interpretações em seus filmes.
Nota-se a narrativa de Eurípides enquanto basilar para o enredo, assim como a direção particular do diretor - extremamente racionalizada e inexpressiva - traduz a essência da sociedade burguesa, e nos faz, de forma incômoda e trágica, rir de nervoso diante da identificação com as personagens. Traduz, já de imediato - assim como em Dente Canino e O Lagosta - a percepção platônica e rousseauniana de Lanthimos.
Mais tarde vemos a necessidade do sacrifício posto em voga enquanto mote do filme, o que caracteriza a segunda parte. O cervo sagrado é Ifigênia, mas também é Cristo. A figura de Martin é Ártemis, mas traz em si o devido maniqueísmo da eterna batalha entre Lucifer e Deus. Nota-se em Kim, ao oferecer-se voluntariamente à morte, Ifigênia; ao mesmo tempo em que, ao ter os braços ensanguentados e enaltecer a personagem de Steven enquanto o seu mestre, a personificação bíblica de Cristo perante seu Pai.
Ademais, as atuações são particularmente interessantes, e a construção da trama enriquece-se enquanto um suspense altamente psicológico do começo ao fim, ao sermos, desde sua gênese, contagiados com o sentimento permanente da dúvida. Lanthimos é redondo em sua proposta: desde as atuações - como já mencionado - à linguagem que concerne a forma: a postura física de Anna, por exemplo, modifica-se a partir da segunda parte da trama, assim como radicaliza-se na forma corpórea, como os cabelos desgrenhados da mesma. O horror dos elementos externos que se apresentam e a crueza do tema é tratado de forma direta e objetiva - exaltando a racionalidade, mais uma vez - na épica cena em que Martin morde o braço de Steve e o seu próprio, trazendo uma ideia simbólica que acarreta, também, num estado político do código de hamurábi.
As Bruxas de Salém
3.6 332Apresenta um roteiro bastante modificado, apesar de conter o esqueleto completo da peça, além de inserir a cena da floresta com Abigail e Proctor que muitas companhias cortaram em suas adaptações. Mesmo assim o roteiro do filme apresenta cortes que, pessoalmente, julgo crassos para um maior aprofundamento de determinados personagens. A própria Abby neste filme pareceu-me deixada de lado. O foco, de fato, é a questão mais política, mas acredito que o ponto chave de Miller ao escrever a peça tenha sido, decerto, a crítica política concomitante à realidade das crianças sem voz da época e, claro, à personagem extremamente ardilosa de Abigail Williams. A genialidade da peça é exatamente encaixar todos esses conflitos de diferentes gêneros e graus colaborando para um propósito maior. A família Putnam - e a loucura protagonista de Ann Putnam - foi deixada totalmente de lado e a própria Rebecca Nurse não ganha o protagonismo necessário que faz seu fim simbolizar tão extremoso abalo e suscitar revolta na vila. Até o reverendo Parris perdeu a voz e pareceu menos odioso e asqueroso do que na obra escrita por Miller.
No mais, Daniel Day Lewis carrega o filme nas costas, e a cena final me arrancou umas lágrimas apesar da narrativa arrastada.
David Lynch: A Vida de Um Artista
4.0 45Uma passagem bonita quando conta o momento em que fumou maconha pela segunda vez, nos alerta para algo imprescindível em sua vida e obra: a necessidade particular de reter-se em si mesmo; a negação do outro; a negação da necessidade de compartilhar a vida do outro. Lynch estava muito ocupado em viver seu próprio mundo, o que o torna um eremita em essência. Sinto que seu corpo vivia momentos que eram obrigados socialmente, enquanto sua alma verdadeiramente só queria continuar brincando no retrato nostálgico - e eternamente ensolarado - de sua infância. E assim, criando. Permanecer criando era sua única preocupação; não havia a necessidade de a pintura, por exemplo - como tantos outros veículos de expressão que Lynch utiliza - servir como simbologia de fuga, quando era simplesmente uma necessidade. O permanente estado de felicidade e prazer reunidos num só ato. Deste modo, em seu documentário, sobre seu mundo e sua voz, não sabemos sobre Peggy ou até mesmo Lula Lynch. O mundo de Lynch não comporta ninguém além de suas próprias criações.
A cena final de David relembrando e repetindo em off o quanto os tempos foram bons em Eraserhead é ter a certeza de que o diretor, naquele momento completamente intenso e mágico de criação, atingiu o limiar de sua felicidade em vida.
Império dos Sonhos
3.8 433Uma temática semelhante à Cidade dos Sonhos no que concerne a crítica à Hollywood; contudo, com uma particularidade e senso metafórico característicos de Lynch, Império dos Sonhos retrata especificamente a mulher. A figura feminina frágil e doce - vejo, desta forma, uma tara específica de Lynch por personificar a pureza em estado de corrupção, como a personagem Betty em Cidade dos Sonhos, Laura Palmer (e tantas outras) em Twin Peaks, e Dorothy em Veludo Azul - sendo violentada em suas mais variadas significações. Digo isto literalmente, já que Império dos Sonhos carrega consigo duas narrativas: a história de uma mulher que foi drogada e estuprada por seu colega de cena no quarto 47 de um hotel, como as mulheres que aparecem na trama enquanto um vislumbre lúcido de Nikki - daí a necessidade do estado de comunhão entre as vítimas que Lynch propõe: "olhe para mim e diga que me conheça" - o que mais tarde acarretará em sua gravidez, desprezo pelo marido, e consequentemente sua morte ocasionada por um aborto com uma chave de fenda.
E uma segunda história, onírica, onde tudo, minuciosamente, é dotado de simbologia. A história de uma Hollywood que deslumbra e alicia as jovens mulheres. A violência e a agressão da sociedade perante o gênero feminino. O abandono. A prostituição. A ideia de ciclo sendo representada não só pela aniquilação do tempo, onde a história é contada sem necessariamente uma ordem cronológica dos fatos, mas a constante repetição de mulheres que passaram pela mesma situação de Nikki. O tipo de violência que independe de tempo, lugar, época histórica, idioma. O tipo de violência ocasionada por homens que se comportam de forma animalesca, como os cavalos e macacos mencionados no filme. "Tem gente que se acostuma a viver com animais", é um trecho do diálogo entre a asiática e a mulher negra diante da morte de Nikki, que está, por sua vez, banhada de sangue diante da calçada da fama.
Importante também ressaltar que as duas (e tantas outras) histórias ocorrem concomitantemente no filme, o que não impede que Lynch fale de tantas coisas ao mesmo tempo utilizando-se de uma linguagem literal e subjetiva para cultivar diversas interpretações, assim como torna-se metalinguístico ao utilizar uma estética semelhante a de um filme pornô para causar a sensação e a crítica propostas. Percebo que essa necessidade de representar com a estética também iria inspirar tantos outros cineastas.
Os créditos ainda trazem Nina Simone, grande representante da luta feminina enquanto viveu.
A gente não capta tudo de Lynch assistindo uma única vez. Daqui a alguns anos eu reassisto. No mais, genial mesmo. O terror de David Lynch é o real acontecendo aqui e agora. Soco no estômago.
Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)
3.8 3,4K Assista AgoraOBRA DE ARTE.
Enquanto atriz me sinto absolutamente contemplada por Iñarritu. Obra de arte do mais alto nível.
Lady Bird: A Hora de Voar
3.8 2,1K Assista AgoraAtravés de uma delicadeza extrema, Greta conseguiu me arrancar lágrimas e sorrisos com uma identificação tão sincera quanto catártica com a simbologia da adolescência que Lady Bird representa: crises existenciais, modos de pensar, sensação de deslocamento sobre a cidade e as pessoas, além da personalidade exótica e a relação conturbada com a mãe foram os elementos que mais me contemplaram enquanto adolescente. De forma singela, a direção de Greta e a belíssima atuação de Saoirse conseguiram me teletransportar para meus dezessete sem maiores esforços. Lindo.
Mãe!
4.0 3,9K Assista Agora"Pouco a pouco, o homem mediatizou sua experiência e, em suas representações como em sua existência prática, triunfou o princípio masculino. O Espírito superou a Vida; a transcendência, a imanência; a técnica, a magia; e a razão, a superstição. A desvalorização da mulher representa uma etapa necessária na história da humanidade, porque não era de seu valor positivo, mas de sua fraqueza que ela tirava seu prestígio; nela encarnavam-se os inquietantes mistérios naturais: o homem escapa de seu domínio quando se liberta da natureza. Foi a passagem da pedra ao bronze que lhe permitiu realizar, com seu trabalho, a conquista do solo e de si próprio. O agricultor está sujeito aos acasos da terra, das germinações, das estações, é passivo, conjura e espera. Eis por que os espíritos totêmicos povoavam o mundo humano; o camponês sofria os caprichos dessas potências que o assediavam. O operário, ao contrário, molda a ferramenta de acordo com seu objetivo, impõe-lhe com as mãos a forma de seu projeto; diante da natureza inerte, que lhe resiste, mas que ele vence, afirma-se como vontade soberana; se acelera os golpes sobre a bigorna, acelera o acabamento da ferramenta, ao passo que nada pode apressar o amadurecimento das espigas. Ele aprende sua responsabilidade com a coisa fabricada, um gesto hábil ou desastrado dá-lhe forma ou a destroi. Prudente, hábil, ele a conduz ao ponto de perfeição de que se orgulha: seu êxito não depende de favores dos deuses, e sim de si mesmo. Desafia seus companheiros, jacta-se de suas realizações e, se ainda atém a alguns ritos, as técnicas precisas parecem-lhe bem mais importantes; os valores místicos passam para o segundo plano e os práticos, para o primeiro. Não se liberta inteiramente dos deuses, mas separa-os de si separando-se deles; relega-os a seu céu olímpico e guarda para si o domínio terrestre; o frande Pã começa a estiolar-se quando ecoa a primeira martelada, e o reinado do homem inicia-se. Ele descobre seu poder. Na relação entre o braço criador e o objeto fabricado, experimenta a causalidade: o grão semeado germina ou não, ao passo que o metal reage sempre da mesma maneira ao fogo, à têmpera, à ação mecânica. Esse mundo de utensílios deixa-se encerrar em conceitos claros: o pensamento racional, a lógica e a matemática podem então aparecer. Toda imagem do universo acha-se transformada. A religião da mulher estava ligada ao reinado da agricultura, reinado da duração irredutível, da contingência, do acaso, da espera, do mistério; o do homo faber é o reinado do tempo que se pode vencer tal como o espaço, da necessidade, do projeto, da ação, da razão. Mesmo quando enfrenta a terra, o homem a enfrenta desde então como operário; ele descobre que pode enriquecer o solo, que convém deixá-lo descansar, que tal ou qual semente deve ser tratada de tal ou qual maneira; ele é quem faz a sagra; abre canais, irriga ou seca o solo, constrói estradas, ergue templos, recria o mundo. Os povos que permaneceram sob a férula da deusa-mãe, aqueles entre os quais se perpetuou a filiação uterina, detiveram-se também num estágio de civilização primitiva. Isso porque a mulher só era venerada na medida em que o homem se fazia escravo de seus próprios temores, cúmplice de sua própria impotência. Era no terror e não no amor que ele lhe rendia um culto. Só podia realizar-se começando por destroná-la. É o princípio masculino de força criadora, de luz, de inteligência, de ordem que ele reconhece então como soberano. Junto da deusa-mãe surge um deus, filho ou amante, que lhe é inferior ainda, mas que se assemelha a ela, traço por traço, e lhe está associado. Ele encarna também um princípio da fecundidade; é um touro, é o Minotauro, é o Nilo fertilizando as planícies do Egito. Morre no outono e renasce na primavera depois de ter a esposa-mãe invulnerável, mas banhada em pranto, consagrado suas forças a procurar-lhe o corpo e a reanimá-lo. Vê-se então aparecer em Creta esse casal que se encontra em todas as margens do Mediterrâneo: Ísis e Horo no Egito, Astarté e Adônis na Fenícia, Cibele e Átis na Ásia Menor e, na Grécia Helênica, Reia e Zeus."
BEAUVOIR, S. O Segundo Sexo. 1949.
Profissão: Repórter
4.0 90O começo me remeteu bastante à Paris, Texas, tanto pela plasticidade da cena - no caso, o cenário de ambos ser praticamente o mesmo inicialmente -, e o tema da busca pela identidade. Obviamente de naturezas distintas, mas não consegui deixar de associar.
Gosto do quanto Robertson precisou morrer duas vezes, e o quanto Locke precisava criar o estádio do espelho de Lacan na vida adulta como uma falha da infância, ou mais ou menos isso... preciso pensar mais sobre.
No mais, estou começando com Antonioni por esse. Sigamos em frente.
Mãe!
4.0 3,9K Assista AgoraPara mim, de fato, Aronofsky conseguiu transmitir a criação/apocalipse da mãe-natureza numa roupagem completamente original e característica de seu trabalho. O enfoque repetitivo e angustiante da câmera no rosto de Lawrence nos transmite a sensação exata de pânico que a personagem transmite.
É a mesma história da origem do mundo em cenário de completo suspense metafórico e poético. Gostei bastante.
E, claro, não poderia ter homem mais adequado que Bardem pra fazer o próprio Deus. Taí um homem que só melhora com a idade. No mais, achei Lawrence meio robótica, mas acredito ter sido intencionalidade do diretor para dar o toque mais lúdico e surreal à personagem.
Eva Não Dorme
3.2 13 Assista AgoraDenis Lavant, não é de hoje que te venero
Uma Rua Chamada Pecado
4.3 454 Assista AgoraAinda trêmula, o rosto ainda banhado em lágrimas, me permito capturar a emoção e tentar descrever em palavras essa experiência.
Vivien Leigh está, evidentemente, deslumbrante. Ela é quem eu imaginei ao ler a peça: capturou exatamente a essência da personagem de uma forma tão verdadeira, tão visceral. Tão impactante quanto Martha (Quem tem medo de Virginia Woolf?), essas personagens encantadoramente loucas são o retrato cru da essência feminina. Vamos assistindo e entendendo a beleza reluzente de Blanche que não se permite ser limitada ao físico ser destruída e deturpada por todos os monstros que estão tão personificados quanto enraizados em nós. Um Bonde Chamado Desejo é um filme completamente feminino; infelizmente há sempre uma Stella e uma Blanche dentro de nós.
Ainda preciso de mais um tempinho pra digerir esse término - minhas mãos ainda tremulam.
Quem Tem Medo de Virginia Woolf?
4.3 498 Assista AgoraComo não idolatrar Mike Nichols?!
Um gênio da direção no que concerne decadência entre amantes, a metalinguagem autoral e marcante em cada obra. Minha tríade de filmes favoritos - no quesito soco no estômago, inclusive - são filhos de Nichols. Um dia espero assistir a filmografia desse homem.
Que filmão!
Paris, Texas
4.3 698 Assista AgoraGostei do modo como Wenders trata a figura infantil. Em nenhum momento ele subestima a criança, e a trata individualmente como um ser complexo que, imerso no universo particular infantil, transita entre os seus sentimentos e o dos adultos sem traçar uma linha de interrupção. O diretor consegue transmitir a essência particular de cada personagem (salvo mérito à atuação de todos os envolvidos), e o tempo que passa em cada um é ao mesmo tempo que rápido, muito intenso. De certo modo é a mesma medida que traça em cada um, pois o tempo que passamos acompanhando Travis iguala-se a todo os dos outros no que concerne a idiossincrasia e história de cada personagem; mistério esse que é o cerne do filme. Calculadamente, ele passou o tempo certo em cada personagem, e neste breve tempo conseguimos formular uma empatia com cada indivíduo. Gostei de como a história começa, tem seu ápice, e termina tendo Jane enquanto centro; o filme é um círculo e ela é a figura central, que sustenta o filme e nos provoca todos os tipos de sentimentos ao longo da trajetória para encontrá-la. E até encontrá-la. E quando encontramos. E após a abandonarmos.
Um filme redondo; o roteiro se liga do começo ao fim, e não há margem pra cansaço (apesar das imperceptíveis duas horas e meia). Muito bom, de verdade. Me arrependo por ter demorado tanto tempo pra ter assistido.
Demônio de Neon
3.2 1,2K Assista AgoraEstética, e apenas isso.
Os Amantes de Pont Neuf
4.2 129 Assista AgoraFilme extremamente sensorial, com atuações impecáveis. Amo as mulheres de Carax, mas mais que isso, amo o quanto Denis Lavant é bem explorado pelo diretor, que nos mostra o quanto este ator é incrível. Em parceria com Binoche, que, pra variar, está divina, este filme é um deleite visual. Com maestria, Carax dá uma aula de direção de fotografia e inunda todos os nossos sentidos de emoção: visão, olfato, tato...
Incrível. Me arrisco ainda a dizer que é o melhor da trilogia.
Frances Ha
4.1 1,5K Assista Agorae essa referência a Mauvais Sang? <3
Investigação Sobre um Cidadão Acima de Qualquer Suspeita
4.2 45o filme é italiano e de 1970, mas nunca vi diálogo tão direto com nosso cenário brasileiro político atual...
Namorados para Sempre
3.6 2,5K Assista AgoraAcabei de assistir. Simplesmente não tenho condições de relatar o quanto esse filme me destraçou do início ao fim - literalmente, desde a primeira cena -, e me deixou assim, mal mesmo, com o estômago na garganta...
Batman: A Piada Mortal
3.3 495 Assista AgoraA introdução que enfiaram pra, claramente, encher linguiça é totalmente desnecessária. Cria-se um mote, um ápice, e então tudo evapora no espaço tornando-se, assim, absolutamente descartável.
O Coringa, que desde o início deveria ser o personagem central do filme, acabou como alguém bem secundário na estória original. O personagem do Batman nessa animação não carrega emoção, e se torna apenas uma esfera nebulosa e apática, reforçando esse estigma caricato e apelativo que o Batman carrega; diferentemente da HQ, onde há um Batman sutilmente desequilibrado, tentando entender o seu suposto antagonista, que acaba se mostrando como seu igual. Nessa animação, enquanto há a narrativa "em off" da vida antiga do Coringa, vemos um exemplo de uma forçação de barra que tenta, a todo custo, empurrar uma empatia goela à baixo do espectador.
Perdeu muito da narrativa taciturna e sombria que a HQ carrega, o que me surpreendeu por ser uma animação da DC. Se mostrou recheada de estereótipos já exaustivamente repetidos nos filmes do Batman, com uma pegada extremamente comercial e vazia, não conseguiu me convencer de muita coisa.
Sem querer atrelar a análise exclusivamente à HQ - que conseguiu me passar toda essa neblina mórbida e caótica intencionalmente causada pelo Alan Moore -, Piada Mortal pode ser uma animação isoladamente reconhecida enquanto inferior.
É triste como tentaram forçar uma relação amorosa entre Barbara e o Batman, com a única intenção de encher tempo e apelar pra um viés mais pseudo-erótico e sentimental; de forma que o fato realmente pesado e importante que a afeta - o tiro e estupro - são deixados completamente de lado. Sem falar, claro, dessa cena final tentando, mais uma vez, forçar uma barra imensa e tentando excluir o fato monstruoso que ela carrega nas costas antes de, enfim, se recuperar mental e psicologicamente, e se tornar Oráculo.
O adjetivo certeiro pra essa adaptação é um só: vazio. Decepcionada com Azzarello, reitero: faltou profundidade!
Antes do Pôr-do-Sol
4.2 1,5K Assista Agora:')
A Primeira Noite de Um Homem
4.1 809 Assista AgoraTecnicamente, eu só tenho a lamentar por não ter assistido esse filme antes. É uma aula de direção de fotografia: a cena da piscina se contrapondo com a noite de Benjamin e Ms. Robinson é incrível. As atuações são maravilhosas, e a trilha sonora marcante e devidamente melancólica foi o toque necessário pra dar o ar que o filme precisava. Sem falar na beleza doce e hipnotizante de Katharine Ross, que a todo momento me deixava boquiaberta.
Emocionalmente, estou em frangalhos. Esse filme não é sobre amor; não chega nem perto disso. É um filme sobre obsessão, sobre medo do futuro, sobre desejo. A empatia com Elaine me deixou dolorida, nauseada, angustiada. Esse final foi uma facada no meu peito...