Entrando na sala escura, pega de surpresa: hum, tanto João e Maria, tem cheiro de Dalton Trevisan. Um pornochanchada peculiar; angustiante em dados momentos de extrema empatia. Dá pra sentir uma dose de pavor e dó de Amália e até do escroto do Nelsinho. Joaquim de Andrade é show! Pegou esses froufrous todos e com o pior do humano, mostrou a carne frouxa da banha dos demônios humanos rebolando no meu bucho!
Assisti este filme ainda muito novinha, e lembro da sensação mista de espanto com encantamento. A partir daquele momento realizei que The Red Shoes, no auge de sua perfeição, seria meu filme favorito. Decerto o filme se faz ao redor da grandiosidade de Moira Shearer, que, obviamente, encaixou-se com primazia neste papel. Deslumbrante, Moira faz o filme acontecer.
Revendo depois de alguns anos é impossível não encher os olhos de lágrimas na apresentação final. Meu corpo amoleceu diante de tanta emoção.
Talvez metáfora aos sentimentos de Marie, o berço aquático em que é construído o filme é a minha falta de fôlego.
O olhar que Marie depositou em mim de início me sufocou. Procurando entender o significado daqueles olhos, me arrebentou por dentro, e quase chorei junto com a personagem. Todas as personagens paulatinamente construídas em suas miudezas foram os tijolos desta obra emocionante. Me arrebentou. A dor de Floriane, a insegurança de Marie.
A direção me pegou desprevenida, e tratando de um assunto tão belo quanto a inocência e a descoberta da sexualidade, sufocantemente, me arrebentou.
Engraçado encontrar o Joseph Gordon-Levitt de cabelão, trash tattoo, cigarro à tiracolo e coturno ensopado de lama; mais ainda por encontrar ao lado dele uma Natalie Portman bebê de óculos e perninhas magrelas.
Confesso que pra mim surgiu uma imensa dificuldade em sentir empatia com Hesher, o que ocorreu de forma diferente com TJ. Por tão fácil empatia, acabei me colocando no lugar do protagonista. Me senti invadida: entrou em minha casa, usou minha máquina de lavar. Comeu da minha comida e da minha paixão platônica. Me comeu, e esqueceu de me digerir. Hesher me mastigou, me triturou e sem rodeios, me cuspiu no chão, como se eu não fosse digna de seus dentes. Talvez esse tenha sido o maior desafio de Susser: colocar uma criatura tão peculiar e egoísta como alvo de empatia tanto do protagonista, quanto do telespectador. Talvez a problemática em alcançar a empatia com Hesher seja, outrossim, a rispidez com a qual ele joga a verdade em minha cara. Hesher não poupa eufemismos ou elogios: ele é bruto, rude, cruel. Diante de toda a muralha que há entre Hesher e minha empatia, afirmo que esse final ainda me fez soltar um suspiro de alívio.
Diante de toda a melancolia que o filme traz, dar de cara com um Hesher indo embora ainda me quebrou as pernas. Há o anseio em expulsá-lo dali, ao mesmo tempo em que culmina-se a necessidade de tê-lo por perto.
Talvez Susser tenha apostado alto em devolver algo notável: Hesher representa drasticamente a sucinta relação de amo ou odeio.
É inegável a presença de uma belíssima fotografia. É possível sentir o frio que as ondas exalam ao tocarem em gotas a ponta de meus pés. Há de ser impossível, por intermédio de tal fotografia, não permitir que os olhos, capturados, não deslumbrem minuciosamente a extensa beleza de Dandara de Morais. Seja Shirley levando a colher à boca, segurando à seu modo particular o dorso do instrumento, nos fazendo vislumbrar o encanto no estalido do aço entre os dentes, como a resignação presente nos olhos da protagonista, seja a mítica cena da coca-cola. Não há como negar que o espetáculo fotográfico não pausa por aí. Mascaro faz seu filme com belíssima fotografia; sua linguagem cinematográfica resume-se a esta graciosidade, e com isto, peca.
Dentro da sala de cinema, sinto um vazio ao terminar o filme. Uma espécie de espera enlaça todo o seu corpo. As fotografias de Mascaro, por mais que belas, não me preencheram.
É compreensível o retrato paisagístico do diretor resumir-se a isto - há, decerto, a inegável constatação de que a única ponte entre o contraste dos dois protagonistas (a moça da cidade, o rapaz do interior), seja, ela mesma, a paisagem. O vento, o céu, o mar. E disso arranca-se a beleza e o devido ócio que Mascaro deseja transmitir em seu filme. Porém, com isto peca: peca em roteiro, peca em enredo.
A sensação que sinto é resoluta: com tanto, Mascaro se fez pouco.
Sinto traços de Nouvelle Vague nas atuações das personagens, e isso me encanta. Antes de mais nada, há de se destacar as grandes mulheres desta época, que compõem o filme nos dando um deslumbre de deleite aos olhos; seja a ninfeta Binoche, nos causando torpor, ou simplesmente a delicadeza dessa parceria à Juliet Berto, que ainda me pego, incansavelmente, admirando sua beleza que culmina em força, desbocando nas lembranças de sua jornada ao lado de Glauber Rocha. No mais, Sami Frey mostra-se a única personagem masculina da trama, contracenando com a maravilhosa Mara Goyet que, com sua genialidade infantil, nos faz ater da mente aos pés as devidas atenções à sua brilhante atuação. Bem que Doillon disse que as mulheres e crianças já presenciam na carne esse dom da atuação... Grande Jacques!
Doillon foi fundo nesse roteiro, não deixa nada de fora - há, desde o princípio, um entrelaçamento muito claro entre todas as mulheres da vida do protagonista, e de todas as mulheres com a sua única filha, Elise. Elise funciona como o ponto forte (e por isso, fraco) da vida de Emmanuel. Ao longo do filme, vamos presenciando uma relação complicada entre pai e filha, que nos remete à um certo desconforto. Ao nos colocarmos no lugar de Emmanuel, sentimos a necessidade de sentir um sorriso no rosto de Elise, e isso nos perturba. A imagem do interlocutor presente na cena de Doillon é muito intensa. Viramos, decerto, protagonistas, pais, filhas e amantes. Viramos, dentro daquele quadro que Elise não quer pertencer, a figura desconfortável e desconcertante da cena principal. Há, pois, em suas curtas locações e extensos diálogos, fortes motivos que me remetam às lágrimas. Dado momento, sentimos a necessidade de que esse companheirismo entre os dois seja verdadeiro, e a menina sentada em seu colo ouse lhe permitir um abraço sincero, e com toda a narração poética (privada de música) que Doillon nos oferece, não há outro motivo para desviar os olhos da carne principal do filme: as conturbadas relações com as mulheres da vida de Emmanuel. Talvez Elise seja a metáfora de todas elas. A metáfora que circunda todas em uma só; a única que nunca sairá de sua vida, a única que ele precisa (e sente a necessidade) de implorar o amor.
As imensas famílias de Emmanuel postas em voga em uma única (e belíssima!) menina, nos fazem encher o peito de ar antes do suspiro final. Há de se sentir tenebroso com o sorriso do homem, há de se sentir tristonho com a ausência no rosto da criança. Ainda sinto essa pulga atrás do coração desde a filmagem final, e Elise ainda repete em meus ouvidos: "Não precisamos de uma máquina para conversar".
Sem delongas, como é de praxe, há de se destacar a magistral fotografia deste filme. Seja o contraste entre as locações (simples, tais quarto de hotel - Alpes), ou simplesmente o close no rosto de Lisa Loven, de onde podemos presenciar a fragilidade feminina sendo arrancada, gotejante, em seus olhos lacrimosos. Um drama psicológico, um tanto quanto cômico, que em dados momentos se predispõe a nos agonizar com o desconforto que é imposto em nós, como espectadores, ao nos colocarmos no lugar dos protagonistas, cujo cada um há de escandalizar uma mazela a ser discutida. No fim, há de pertencer o jogo de expressões a dois focos: a necessidade de se sentir seguro dentro de um relacionamento, e a necessidade de auto-afirmação do homem como o macho-alfa, como a personificação viril do patriarcado. Um filme muito bem construído - cada cena tem algo a dizer, por vezes, gritar. Sendo composto por apenas duas locações e poucos atores, podemos centrar nosso ponto de foco em cada história paralela, que automaticamente cruza-se à principal. Tudo age como uma cadeia de efeitos, procurando sempre destacar os dois pontos principais, e sempre demonstrando em como num relacionamento (seja o livre, como o da sua melhor amiga; ou um amor de verão, como o do casal mais jovem) é presente a insegurança de ambos os lados, onde o homem precisa encontrar um posto de afirmação [principalmente, ao longo da idade], e a mulher deseja encontrar um lugar na qual se sentir protegida, onde, assim, gera o conflito interno entre o seu lugar de segurança, e a necessidade de manter a família em segurança. É muito latente a forma como o diretor mostra que a vida do casal gira em torno dos filhos; seja impedindo o diálogo em particular do casal, ou havendo a cena constrangedora do choro em conjunto. E são essas particularidades que constituem o filme: uma série de momentos em que se há de inferir no psicológico de quem assiste, por horas nos fazendo suspirar (seja de alívio ou tensão), em outras nos fazendo cair na risada.
Dentro de um jogo psicológico um tanto quanto desesperador, Östlund também nos cega dentro de tanta neve, nos provoca, e nos intimida. Sensacional.
Esse documentário é uma brecha curta na vida de Manoel. Nesse trechinho minúsculo, a gente sente, de imediato, uma eferverscência subindo pelas canelas. Parece que, dado o fim, me tornei de imediato ser lúdico, metafórico, feliz em ser inútil, e me satisfazer com isso. Manoel acariciou minha cabeça deitada em seu colo, e explicou, calmamente, que poesia é aquilo que goteja, menina. E isso me quebrou as pernas.
Ao falar de literatura, há quem esqueça o sentido do nada. Vulgariza o ócio, reclama à inutilidade. E foi assim, acariciando minha cabeça, que Manoel deu um tapa na minha consciência e me fez acordar pra a vida. Esse ser adormecido dentro de mim, agora desperta. Crente, hoje, que inútil é essa busca pela razão. Crente, hoje, que o fogaréu que interage com meus dedos também é poesia. Desconstruiu isso que se estuda nas universidades, ele desconstruiu o estudo da palavra como significado - me desconstruiu. Não há, deveras, que preocupar-se com estilo. Aqui a gente inventa. E tudo o que não for invenção, já faz parte do falso.
Obrigada, Manoel. Obrigada, Pedro Cezar. Essas imagens das palavras do mestre, com sons e chiados ao fundo, fomentaram essa criança dentro do meu peito. O parto é natural, dolorido, intenso, mas sai, levemente, da pluma da caneta. E escorre.
Despretensiosamente, assisti a este filme num fim de tarde, namorado e batata-frita do lado. Eis que ele me surpreende. Claro que todos já conhecíamos - mesmo antes de assistir ao filme - a famosa cruzada de pernas de Sharon Stone, e depois de uma hora de filme você já percebe que ele é daqueles que se atém ao íntimo e te prende até o final. Verhoeven utilizou-se da sacada de mestre em utilizar-se do suspense psicológico; pois, não obstante, quando digo que prende até o fim, me remeto, fielmente, até os últimos segundos de filme, quando o mistério é solucionado.
Com atuações incríveis (foco para Stone com suas lágrimas de crocodilo), roteiro e pernas como as da protagonista, só posso ter um resultado de cinco estrelas pra tamanho espetáculo.
Só com tanta poesia pra tratar de um assunto tão delicado de uma forma tão bela. Com um jogo de fotografia belíssimo, a atuação dos atores nos remete à atmosfera do filme, seja na sequência de frases, ou em pequenos gestos como um olhar vazio e uma mordida entre lábios. Parecendo insignificante, há algumas imagens que não conseguem esvaziar minha mente; seja Julia Lemmertz descascando a laranja durante o começo de seu discurso, ou Letícia Colin embaixo d'água dando sequência à fala de Mariana Lima. Não obstante, a atuação de Silvia Lourenço mais uma vez (como segue seu histórico de boas atuações) nos fascina e apieda por todo esse fascínio ao outro. Talvez este ensaio de João Jardim sobre o amor seja uma volta pela veracidade obscura do outro lado da moeda. Dando um contorno à inocência, pairando na sombria incerteza da definição do amor, paixão e insegurança misturam-se, mostrando não apenas o ciúmes tornando-se violentamente doentio, como o início de uma doença que alastra-se da mente ao corpo. Bonito também o modo como João Jardim mostrou o passado do agressor, o passado daquela agressão. As voltas, as idas. Isso me encantou. Dando mais uma vez um destaque magistral à fotografia, este é um filme difícil de ser esquecido. "Amor?" é um filme imortal. Talvez, ouso eu dizer, pois carrega em si a certeza veemente de que todos possuímos, querendo ou não, essa falta de segurança quando nos prostramos diante de algo tão imenso. É difícil ser saudável quando o amor entra em cena.
Is It Fall Yet?
4.4 20essa sensação dolorida de se apaixonar por um personagem de desenho...
ah, Tom...
Guerra Conjugal
3.4 14Entrando na sala escura, pega de surpresa: hum, tanto João e Maria, tem cheiro de Dalton Trevisan. Um pornochanchada peculiar; angustiante em dados momentos de extrema empatia. Dá pra sentir uma dose de pavor e dó de Amália e até do escroto do Nelsinho. Joaquim de Andrade é show! Pegou esses froufrous todos e com o pior do humano, mostrou a carne frouxa da banha dos demônios humanos rebolando no meu bucho!
Vrá! Muito bom! Lima Duarte tá bom demais!
Meninas Malvadas
3.7 2,1K Assista AgoraClaramente um clássico.
Nina Simone: The Legend
4.2 18alguém sabe onde eu posso encontrar legendado?
Os Sapatinhos Vermelhos
4.3 171 Assista AgoraAssisti este filme ainda muito novinha, e lembro da sensação mista de espanto com encantamento. A partir daquele momento realizei que The Red Shoes, no auge de sua perfeição, seria meu filme favorito. Decerto o filme se faz ao redor da grandiosidade de Moira Shearer, que, obviamente, encaixou-se com primazia neste papel. Deslumbrante, Moira faz o filme acontecer.
Revendo depois de alguns anos é impossível não encher os olhos de lágrimas na apresentação final. Meu corpo amoleceu diante de tanta emoção.
Tá Chovendo Hambúrguer
3.3 830 Assista Agoraque filme nojento, meu deus.
Clube dos Cinco
4.2 2,6K Assista Agoraum pé no saco.
Lírios D'Água
3.1 159Talvez metáfora aos sentimentos de Marie, o berço aquático em que é construído o filme é a minha falta de fôlego.
O olhar que Marie depositou em mim de início me sufocou. Procurando entender o significado daqueles olhos, me arrebentou por dentro, e quase chorei junto com a personagem. Todas as personagens paulatinamente construídas em suas miudezas foram os tijolos desta obra emocionante.
Me arrebentou.
A dor de Floriane, a insegurança de Marie.
A direção me pegou desprevenida, e tratando de um assunto tão belo quanto a inocência e a descoberta da sexualidade, sufocantemente, me arrebentou.
Ainda estou sem fôlego.
Depois da Chuva
2.9 50Pior experiência cinematográfica desde Eles Voltam.
Ainda solto essa meia estrela em prol da trilha sonora; no mais, Cláudio Marques e Marília Hughes deram um espetáculo no quesito filme ruim.
Proposta Indecente
3.3 421 Assista AgoraO Grande Gatsby encontrou mais uma nova obsessão, afinal...
A Rotina Tem Seu Encanto
4.2 29 Assista AgoraUma belíssima ode à solidão. Só Ozu pra tratar de tanta dor sem deixar de nos encantar com tamanha beleza.
Lindo.
A Última Tentação de Cristo
4.0 297 Assista AgoraJesus com uma pitada de Fausto.
Whiplash: Em Busca da Perfeição
4.4 4,1K Assista AgoraEsse solo ainda tá ecoando na minha cabeça...
Juventude em Fúria
3.8 855 Assista AgoraEngraçado encontrar o Joseph Gordon-Levitt de cabelão, trash tattoo, cigarro à tiracolo e coturno ensopado de lama; mais ainda por encontrar ao lado dele uma Natalie Portman bebê de óculos e perninhas magrelas.
Confesso que pra mim surgiu uma imensa dificuldade em sentir empatia com Hesher, o que ocorreu de forma diferente com TJ. Por tão fácil empatia, acabei me colocando no lugar do protagonista. Me senti invadida: entrou em minha casa, usou minha máquina de lavar. Comeu da minha comida e da minha paixão platônica. Me comeu, e esqueceu de me digerir. Hesher me mastigou, me triturou e sem rodeios, me cuspiu no chão, como se eu não fosse digna de seus dentes.
Talvez esse tenha sido o maior desafio de Susser: colocar uma criatura tão peculiar e egoísta como alvo de empatia tanto do protagonista, quanto do telespectador. Talvez a problemática em alcançar a empatia com Hesher seja, outrossim, a rispidez com a qual ele joga a verdade em minha cara. Hesher não poupa eufemismos ou elogios: ele é bruto, rude, cruel. Diante de toda a muralha que há entre Hesher e minha empatia, afirmo que esse final ainda me fez soltar um suspiro de alívio.
Diante de toda a melancolia que o filme traz, dar de cara com um Hesher indo embora ainda me quebrou as pernas. Há o anseio em expulsá-lo dali, ao mesmo tempo em que culmina-se a necessidade de tê-lo por perto.
Ventos de Agosto
3.3 73 Assista AgoraÉ inegável a presença de uma belíssima fotografia. É possível sentir o frio que as ondas exalam ao tocarem em gotas a ponta de meus pés. Há de ser impossível, por intermédio de tal fotografia, não permitir que os olhos, capturados, não deslumbrem minuciosamente a extensa beleza de Dandara de Morais. Seja Shirley levando a colher à boca, segurando à seu modo particular o dorso do instrumento, nos fazendo vislumbrar o encanto no estalido do aço entre os dentes, como a resignação presente nos olhos da protagonista, seja a mítica cena da coca-cola. Não há como negar que o espetáculo fotográfico não pausa por aí. Mascaro faz seu filme com belíssima fotografia; sua linguagem cinematográfica resume-se a esta graciosidade, e com isto, peca.
Dentro da sala de cinema, sinto um vazio ao terminar o filme. Uma espécie de espera enlaça todo o seu corpo. As fotografias de Mascaro, por mais que belas, não me preencheram.
É compreensível o retrato paisagístico do diretor resumir-se a isto - há, decerto, a inegável constatação de que a única ponte entre o contraste dos dois protagonistas (a moça da cidade, o rapaz do interior), seja, ela mesma, a paisagem. O vento, o céu, o mar. E disso arranca-se a beleza e o devido ócio que Mascaro deseja transmitir em seu filme. Porém, com isto peca: peca em roteiro, peca em enredo.
A sensação que sinto é resoluta: com tanto, Mascaro se fez pouco.
Céline e Julie Vão de Barco
3.9 28 Assista AgoraUma lombra gostosíssima.
Vida de Família
3.8 1Sinto traços de Nouvelle Vague nas atuações das personagens, e isso me encanta.
Antes de mais nada, há de se destacar as grandes mulheres desta época, que compõem o filme nos dando um deslumbre de deleite aos olhos; seja a ninfeta Binoche, nos causando torpor, ou simplesmente a delicadeza dessa parceria à Juliet Berto, que ainda me pego, incansavelmente, admirando sua beleza que culmina em força, desbocando nas lembranças de sua jornada ao lado de Glauber Rocha. No mais, Sami Frey mostra-se a única personagem masculina da trama, contracenando com a maravilhosa Mara Goyet que, com sua genialidade infantil, nos faz ater da mente aos pés as devidas atenções à sua brilhante atuação. Bem que Doillon disse que as mulheres e crianças já presenciam na carne esse dom da atuação... Grande Jacques!
Doillon foi fundo nesse roteiro, não deixa nada de fora - há, desde o princípio, um entrelaçamento muito claro entre todas as mulheres da vida do protagonista, e de todas as mulheres com a sua única filha, Elise. Elise funciona como o ponto forte (e por isso, fraco) da vida de Emmanuel. Ao longo do filme, vamos presenciando uma relação complicada entre pai e filha, que nos remete à um certo desconforto. Ao nos colocarmos no lugar de Emmanuel, sentimos a necessidade de sentir um sorriso no rosto de Elise, e isso nos perturba. A imagem do interlocutor presente na cena de Doillon é muito intensa. Viramos, decerto, protagonistas, pais, filhas e amantes. Viramos, dentro daquele quadro que Elise não quer pertencer, a figura desconfortável e desconcertante da cena principal. Há, pois, em suas curtas locações e extensos diálogos, fortes motivos que me remetam às lágrimas. Dado momento, sentimos a necessidade de que esse companheirismo entre os dois seja verdadeiro, e a menina sentada em seu colo ouse lhe permitir um abraço sincero, e com toda a narração poética (privada de música) que Doillon nos oferece, não há outro motivo para desviar os olhos da carne principal do filme: as conturbadas relações com as mulheres da vida de Emmanuel. Talvez Elise seja a metáfora de todas elas. A metáfora que circunda todas em uma só; a única que nunca sairá de sua vida, a única que ele precisa (e sente a necessidade) de implorar o amor.
As imensas famílias de Emmanuel postas em voga em uma única (e belíssima!) menina, nos fazem encher o peito de ar antes do suspiro final. Há de se sentir tenebroso com o sorriso do homem, há de se sentir tristonho com a ausência no rosto da criança.
Ainda sinto essa pulga atrás do coração desde a filmagem final, e Elise ainda repete em meus ouvidos: "Não precisamos de uma máquina para conversar".
Simples e forte, como Mara Goyet.
Força Maior
3.6 241Sem delongas, como é de praxe, há de se destacar a magistral fotografia deste filme. Seja o contraste entre as locações (simples, tais quarto de hotel - Alpes), ou simplesmente o close no rosto de Lisa Loven, de onde podemos presenciar a fragilidade feminina sendo arrancada, gotejante, em seus olhos lacrimosos.
Um drama psicológico, um tanto quanto cômico, que em dados momentos se predispõe a nos agonizar com o desconforto que é imposto em nós, como espectadores, ao nos colocarmos no lugar dos protagonistas, cujo cada um há de escandalizar uma mazela a ser discutida. No fim, há de pertencer o jogo de expressões a dois focos: a necessidade de se sentir seguro dentro de um relacionamento, e a necessidade de auto-afirmação do homem como o macho-alfa, como a personificação viril do patriarcado.
Um filme muito bem construído - cada cena tem algo a dizer, por vezes, gritar. Sendo composto por apenas duas locações e poucos atores, podemos centrar nosso ponto de foco em cada história paralela, que automaticamente cruza-se à principal. Tudo age como uma cadeia de efeitos, procurando sempre destacar os dois pontos principais, e sempre demonstrando em como num relacionamento (seja o livre, como o da sua melhor amiga; ou um amor de verão, como o do casal mais jovem) é presente a insegurança de ambos os lados, onde o homem precisa encontrar um posto de afirmação [principalmente, ao longo da idade], e a mulher deseja encontrar um lugar na qual se sentir protegida, onde, assim, gera o conflito interno entre o seu lugar de segurança, e a necessidade de manter a família em segurança. É muito latente a forma como o diretor mostra que a vida do casal gira em torno dos filhos; seja impedindo o diálogo em particular do casal, ou havendo a cena constrangedora do choro em conjunto. E são essas particularidades que constituem o filme: uma série de momentos em que se há de inferir no psicológico de quem assiste, por horas nos fazendo suspirar (seja de alívio ou tensão), em outras nos fazendo cair na risada.
Dentro de um jogo psicológico um tanto quanto desesperador, Östlund também nos cega dentro de tanta neve, nos provoca, e nos intimida. Sensacional.
Só Dez Por Cento é Mentira
4.6 144Esse documentário é uma brecha curta na vida de Manoel. Nesse trechinho minúsculo, a gente sente, de imediato, uma eferverscência subindo pelas canelas. Parece que, dado o fim, me tornei de imediato ser lúdico, metafórico, feliz em ser inútil, e me satisfazer com isso. Manoel acariciou minha cabeça deitada em seu colo, e explicou, calmamente, que poesia é aquilo que goteja, menina. E isso me quebrou as pernas.
Ao falar de literatura, há quem esqueça o sentido do nada. Vulgariza o ócio, reclama à inutilidade. E foi assim, acariciando minha cabeça, que Manoel deu um tapa na minha consciência e me fez acordar pra a vida. Esse ser adormecido dentro de mim, agora desperta. Crente, hoje, que inútil é essa busca pela razão. Crente, hoje, que o fogaréu que interage com meus dedos também é poesia. Desconstruiu isso que se estuda nas universidades, ele desconstruiu o estudo da palavra como significado - me desconstruiu. Não há, deveras, que preocupar-se com estilo. Aqui a gente inventa. E tudo o que não for invenção, já faz parte do falso.
Obrigada, Manoel. Obrigada, Pedro Cezar. Essas imagens das palavras do mestre, com sons e chiados ao fundo, fomentaram essa criança dentro do meu peito. O parto é natural, dolorido, intenso, mas sai, levemente, da pluma da caneta. E escorre.
Instinto Selvagem
3.6 556 Assista AgoraDespretensiosamente, assisti a este filme num fim de tarde, namorado e batata-frita do lado. Eis que ele me surpreende. Claro que todos já conhecíamos - mesmo antes de assistir ao filme - a famosa cruzada de pernas de Sharon Stone, e depois de uma hora de filme você já percebe que ele é daqueles que se atém ao íntimo e te prende até o final.
Verhoeven utilizou-se da sacada de mestre em utilizar-se do suspense psicológico; pois, não obstante, quando digo que prende até o fim, me remeto, fielmente, até os últimos segundos de filme, quando o mistério é solucionado.
Com atuações incríveis (foco para Stone com suas lágrimas de crocodilo), roteiro e pernas como as da protagonista, só posso ter um resultado de cinco estrelas pra tamanho espetáculo.
Amor?
3.8 102 Assista AgoraSó com tanta poesia pra tratar de um assunto tão delicado de uma forma tão bela. Com um jogo de fotografia belíssimo, a atuação dos atores nos remete à atmosfera do filme, seja na sequência de frases, ou em pequenos gestos como um olhar vazio e uma mordida entre lábios. Parecendo insignificante, há algumas imagens que não conseguem esvaziar minha mente; seja Julia Lemmertz descascando a laranja durante o começo de seu discurso, ou Letícia Colin embaixo d'água dando sequência à fala de Mariana Lima.
Não obstante, a atuação de Silvia Lourenço mais uma vez (como segue seu histórico de boas atuações) nos fascina e apieda por todo esse fascínio ao outro.
Talvez este ensaio de João Jardim sobre o amor seja uma volta pela veracidade obscura do outro lado da moeda. Dando um contorno à inocência, pairando na sombria incerteza da definição do amor, paixão e insegurança misturam-se, mostrando não apenas o ciúmes tornando-se violentamente doentio, como o início de uma doença que alastra-se da mente ao corpo.
Bonito também o modo como João Jardim mostrou o passado do agressor, o passado daquela agressão. As voltas, as idas. Isso me encantou.
Dando mais uma vez um destaque magistral à fotografia, este é um filme difícil de ser esquecido. "Amor?" é um filme imortal. Talvez, ouso eu dizer, pois carrega em si a certeza veemente de que todos possuímos, querendo ou não, essa falta de segurança quando nos prostramos diante de algo tão imenso. É difícil ser saudável quando o amor entra em cena.
Contra Todos
3.4 88Pesado.
E, claro, não é à toa que Silvia Lourenço ganhou tantos prêmios com essa atuação...
Peppermint Frappé
3.9 8Geraldine Chaplin é rainha. Sem mais.
Deus e o Diabo na Terra do Sol
4.1 430 Assista AgoraE vale ressaltar que, putz, que arte de capa linda.