Só vim aqui avisar que essa preciosidade está disponível on-line gratuitamente no site da Cinemateca Pernambucana durante a pandemia. Vai em Acervo que lá tem esse e diversos outros títulos do cinema pernambucano! Apreciem sem moderação!
Achei encantador! Cresci lendo os gibis da Turma da Mônica e agora dei uma chance para esse filme, por estar buscando conhecer mais o trabalho do Daniel Rezende. Assisti uma entrevista em que ele comenta que não se preocupou tanto com a semelhança fisíca dos personagens, mas em contar essa história. Acredito que o único problema foi o Cascão não ter o trejeito caipira, mas como estamos falando de uma adaptação, é importante fazer concessões, pois não tem de ser uma cópia. O desfecho da aventura foi legal, mas o final com as famílias reunidas achei bem comercial de margarina. Na verdade, as locações não parecem ser no Brasil. Há toda uma intenção em criar um mundo para a história, e isso foi bem construído do início ao fim através da direção de arte e fotografia. Rodrigo Santoro faz uma belíssima participação, nos levando à fantasia e à inocência das crianças. É um filme lindo de ver! Mesmo não sendo perfeito, é um marco para o cinema brasileiro, assim como as histórias da Turma da Mônica são na vida de tantas crianças.
Dei 5 estrelas, mas achei que caiu um pouco no final, apesar de entender que se trata de uma cinebiografia e tal, criei muita expectativa... Eu nasci em 96, não acompanhei o auge do Bozo e realmente não conhecia a história do Arlindo Barreto, então o filme foi uma grande surpresa e descoberta em todos os sentidos. Daí esperava algo mais subversivo (a la Coringa) no final, porém vou me conformar e aceitar que é um FILMAÇO independente disso. Que baita direção do Daniel Rezende!!! Que baita atuação do Vladmir e da Leandra! Não deixa a desejar em nada. É um filme catártico. Demorei bastante para assistir mas acredito que foi bom ter esperado, porque tenho buscado compreender mais da arte cinematográfica, então se eu tivesse visto antes talvez não tivesse captado a grandeza dessa obra. Fantástico! Viva o cinema nacional!!
Para quem conheceu a Anya Taylor-Joy em "A Bruxa", é bem difícil vê-la interpretar personagens tão doces e sutis. Todavia, a forma como se encaixa em qualquer um dos extremos demonstra seu domínio de personagem. A ambientação é belíssima, figurino também, mas a história foi bem cansativa para mim.
Vários mini-ataques cardíacos mas tudo bem. Ô disgraça pra ter sorte! Tinha tudo pra dar errado, mas que plot twist! rsrsrs rindo de nervoso rsrsrs Viva o cinema brasileiro!
Desidratei. Wagner Moura, você quer o mundo? É teu. Mas agora falando sério, adorei o roteiro, que intercalou a atuação do Sergio na ONU com cenas da vida pessoal, com destaque ao romance com a belíssima e carismática Carolina. Obviamente o filme tem uma proposta mais mercadológica (Netflix, né gente), com um apelo emocional grande, mas isso não tira o mérito de uma boa direção. Fotografia impecável, com cenas de tirar o fôlego, como as da praia. A pluralidade de idiomas também é um ponto forte do filme, mostrando a diversidade e a riqueza das línguas além do inglês. Por fim, é a história de um brasileiro. É tão bonito de ver nosso país bem representado, em meio à crise moral e ética que vivemos. Sergio fez brotar uma esperança. Tenhamos esperança.
Quando a conexão acontece, é inevitável. Felizes os que já tiveram encontros como esse que o filme retrata. Todavia, os desencontros também ocorrem e são dolorosos. No momento, sinto-me feliz de ter encontrado esse filme.
Intenso, poético, reflexivo. Pensei que ia me deparar com algo bem cliché, mas me surpreendi. Se tivesse ficado apenas no romance entre Julia e Antônia teria caído na mesmice, mas o roteiro acabou desencadeando outras questões muito importantes, e isso enriqueceu a narrativa. Excelentes atuações, linda fotografia e direção bem executada. Entrou para a lista de favoritos nacionais!
Um salve pra poesia popular nordestina, muito bem representada e colocada no seu devido lugar: resistência cultural!
Apesar de ser necessário fazer algumas concessões de época para os comentários acerca da sexualidade dos personagens, não tinha como ser diferente. O machismo e a xenofobia estão enraizados na cultura brasileira e são nocivos para os próprios homens.
Quanto à crítica ao capitalismo e a exploração dos trabalhadores, achei bastante contundente e clara. O mundo capitalista é de poucos! Tem seus benefícios, claramente, mas toda ascensão tem um custo, e quem paga é quem menos tem. Triste realidade que nos acompanha por toda a história do país.
Vivemos esperando dias melhores - não só para alguns, mas para todos. Por enquanto, só nos resta fazer poesia! Viva Cancão! Viva Zé Limeira! Viva a Paraíba e todas as suas riquezas - que não são nem ouro nem prata!
Um filme-poema que diz muito no não-dito, não à toa seu ápice se dá na performance do Irandhir Santos de "Fala", de Secos e Molhados. Fala, mas também escuta. Fala, mas também repara, "mire veja", como dizia Rosa no seu Grande Sertão: Veredas. E sim, é um filme sobre o sertão, sobre a dureza da vida, as relações familiares, as relações de poder e opressão, sobre masculinidades e, sobretudo, três mulheres: Alfonsina, Querência e Dona das Dores.
Entendo que algumas pessoas não compreendam a narrativa e achem que é um filme sobre nada, mas não é. Tudo está posto, como numa mesa ou num jogo, mas cabe ao espectador juntar as peças.
Alfonsina é uma adolescente, descobrindo o mundo e a si mesma. Encontra no tio Joo um homem sensível, diferente do jeito autoritário e opressor do pai e, por isso, transfere todo o afeto que não podia expressar em casa e idealiza um romance com o tio.
Querência é uma mulher adulta, de luto por um filho perdido, e não quer se envolver sentimentalmente por medo de sofrer ainda mais. Até que acaba cedendo e reconstruindo sua vida no vilarejo.
Dona das Dores é uma senhora solitária, vive sozinha até a chegada do neto. Ao encontrar nas coisas do rapaz uma revista pornográfica, ela revive seus desejos e se autoflagela por isso. Psicanálise pura. A cena final, com o neto, é muito simbólica. Mais do que uma conotação puramente sexual, há um instinto de maternagem muito forte. Creio que esses episódios que soam como incesto são os que mais incomodam o público em geral, mas não são cenas que estão ali por acaso. Querendo ou não, tudo começa no sexo. Nossas vidas são originadas nele, e as relações familiares são construídas através dele, seja de maneira direta ou indireta. O incesto é uma questão moral, enquanto que o sexo é uma questão vital. É importante separar os dois, sem cair em apologias ao primeiro, mas também sem condenar sem compreender o enredo.
Temos três mulheres que se encontram na dor. Possuem histórias diferentes mas assumem a mesma condição: a repressão do corpo feminino em busca do prazer. Lembrou-me bastante "O livro dos prazeres", de Clarice Lispector, por retratar essa jornada dolosora até encontrar o prazer.
Por mais que pareça que Joo é o protagonista, ele divide esse papel com essas mulheres. Mesmo não havendo uma opressão direta da parte dele, percebam que ele fica sem camisa a maior parte do tempo, sempre expressando uma liberdade sem rédeas, enquanto que as mulheres precisam percorrer um caminho bem mais longo para atingir esse grau de liberdade. É complexo, mas também é simples.
É a dor e a poesia do cotidiano. É o sufocamento das pessoas pelo patriarcado e a libertação pela arte. É o estranhamento e o acolhimento. É a possibilidade de ver mesmo de olhos fechados. É a antítese do mar no sertão, chegando como chuva que molha e limpa o sangue. É a eternidade como a repetição dos ciclos da vida.
Esse filme não pode ser reduzido a nada, quando diz tantas coisas preciosas. Eu teria mil coisas mais pra falar aqui, mas acho que ele toca cada pessoa de um jeito diferente. Doeu. Foi bom. É a vida.
A verdadeira protagonista desse filme é a fotografia. É ela quem conta a história de Shirley, através de um trabalho impecável com as luzes e as sombras, numa narrativa intimista e melancólica. O sentimento de vagueza, de deslocamento da realidade, de distanciamento social, são todos construídos no silêncio-grito dos fluxos de pensamento de Shriley. Ela é apenas uma parte da composição, que busca, o tempo inteiro, se encaixar no enquadramento perfeito da visão do seu companheiro Stephen, dos quadros de Hopper e, sobretudo, da sociedade. A trilha sonora também é importante nessa composição. O diretor combina técnica e arte de maneira magistral. Assisti-lo foi um deleite.
Surpreendente! Elenco de peso, impecável. Murilo Benício fez um magistral trabalho na direção e a metalinguagem foi muito bem articulada. Ousadia e brilhantismo para um texto sensacional. Fotografia de Walter Carvalho é também certeza que não tem como dar errado. Esse filme já se tornou uma obra prima do cinema nacional, mas uma pena que seja de tão limitado acesso. Tive que alugar no Youtube, mas valeu muito a pena. É um retrato do Brasil desde, sei lá, alguns séculos. Assistam e se deixem envolver com essa obra de arte!
Vale pela experiência visual e pelas questões sociais que aborda. Peca no ritmo do início (muito lento) e tenta elevar a atmosfera no final, mas não surpreende.
É o que o "Nó do diabo" tentou ser, mas ainda poderia ser melhor.
Filmes dirigidos por mulheres me deixam, quase sempre, sem palavras. É que elas dizem tudo, até quando silenciam.
Adam nos despedaça, assim como o machismo e o patriarcado despedaçam todas as mulheres, em qualquer lugar do mundo. Somente nos unindo é possível nos recompor, juntar os pedaços que vagam por aí.
O cinema alternativo e independente precisa ser visto, apreciado e guardado em nossas mentes e corações.
Samia e Abla são duas protagonistas fortes, endurecidas pela vida, mas que carregam dentro de si a gentileza e a sororidade, pois há coisas que somente as mulheres são capazes de compreender.
Adam é um presente. Mulheres, assistam! Homens também!
Surpreendente. Vale uma análise pelo viés psicanalista, sem dúvidas. Mas não serei eu quem farei rsrs.
Os elementos chaves do enredo são: masculinidade (quase sempre tóxica), conservardorismo, transgressão, memória.
Boas atuações, linda fotografia e roteiro emocionante. Valeu demais a experiência e a reflexão! Creio que o que é narrado no terceiro ato do filme acontece com mais frequência do que parece.
Só vou dar um pequeno spoiler, que na verdade é um conselho para quem tem/pretende ter filhos/as:
Esse filme me enganou... Comecei rindo e batendo palmas pelas sacadas geniais... Acabei chorando.
A trama sai da comédia para o drama de maneira brusca, mas isso não é um defeito, necessariamente. A naturalidade com que o nazismo é representado permite uma verdadeira irmersão no delírio coletivo dos "arianos"... O triste é perceber como os absurdos permanecem atuais.
O final é de arrancar risos e lágrimas, mas a reflexão fica. É um filme obrigatório para os dias de hoje... E creio que para muitos anos à frente.
Quem puder, veja no cinema. Foi das melhores experiências que já tive. 1917 é um filme que esbanja qualidade técnica e artística. A escolha de parecer um plano-sequência do início ao fim foi essencial, pois conduz o espectador à tensão da trama. As atuações também são muito boas, e a fotografia é belíssima. O ritmo cai no segundo ato, mas logo recupera-se, e mesmo sem um grand finale, termina deixando o espectador extasiado. Portanto, só vim aqui exaltar essa obra de arte!
Subversivo ao extremo! Um filme sobre cu que consegue surpreender. Há momentos bem incômodos, cenas que muita gente tapou os olhos na hora na sala do cinema, mas também há reflexões válidas. Perde quem só vê a erotização. Quanto aos aspectos técnicos, o roteiro é bom, brinca com os conceitos de ficção e realidade e traz uma teatralidade muito bem bolada; a fotografia é boa, e a câmera trêmula ou dando zoom na maior parte do tempo comunica o que o filme quer passar; a edição/montagem acho que foi o que mais gostei. Vale a pena ver antes de vir aqui criticar. É, sem dúvidas, um filme chocante, nem todo mundo vai entender ou gostar.
Acabei de assistir e vim aqui procurar alguma análise que fizesse sentido. Encontrei o comentário do Rômulo lá embaixo e foi a melhor coisa que li até o momento.
Viajo Porque Preciso, Volto Porque Te Amo
3.9 502 Assista AgoraIrandhir Santos é o dono da voz mais gostosa do Brasil. Ponto.
Sobre o filme: Hibridismo, poesia e road movie. 💜
O Silêncio da Noite é Que Tem Sido Testemunha das …
4.4 10Só vim aqui avisar que essa preciosidade está disponível on-line gratuitamente no site da Cinemateca Pernambucana durante a pandemia. Vai em Acervo que lá tem esse e diversos outros títulos do cinema pernambucano!
Apreciem sem moderação!
Cinema, Aspirinas e Urubus
3.9 364 Assista AgoraMelhor road movie que já vi!
O que o sertão tem de duro tbm tem de poético e encantador.
Turma da Mônica: Laços
3.6 607 Assista AgoraAchei encantador! Cresci lendo os gibis da Turma da Mônica e agora dei uma chance para esse filme, por estar buscando conhecer mais o trabalho do Daniel Rezende. Assisti uma entrevista em que ele comenta que não se preocupou tanto com a semelhança fisíca dos personagens, mas em contar essa história. Acredito que o único problema foi o Cascão não ter o trejeito caipira, mas como estamos falando de uma adaptação, é importante fazer concessões, pois não tem de ser uma cópia. O desfecho da aventura foi legal, mas o final com as famílias reunidas achei bem comercial de margarina. Na verdade, as locações não parecem ser no Brasil. Há toda uma intenção em criar um mundo para a história, e isso foi bem construído do início ao fim através da direção de arte e fotografia. Rodrigo Santoro faz uma belíssima participação, nos levando à fantasia e à inocência das crianças. É um filme lindo de ver! Mesmo não sendo perfeito, é um marco para o cinema brasileiro, assim como as histórias da Turma da Mônica são na vida de tantas crianças.
Bingo - O Rei das Manhãs
4.1 1,1K Assista AgoraDei 5 estrelas, mas achei que caiu um pouco no final, apesar de entender que se trata de uma cinebiografia e tal, criei muita expectativa... Eu nasci em 96, não acompanhei o auge do Bozo e realmente não conhecia a história do Arlindo Barreto, então o filme foi uma grande surpresa e descoberta em todos os sentidos. Daí esperava algo mais subversivo (a la Coringa) no final, porém vou me conformar e aceitar que é um FILMAÇO independente disso. Que baita direção do Daniel Rezende!!! Que baita atuação do Vladmir e da Leandra! Não deixa a desejar em nada. É um filme catártico. Demorei bastante para assistir mas acredito que foi bom ter esperado, porque tenho buscado compreender mais da arte cinematográfica, então se eu tivesse visto antes talvez não tivesse captado a grandeza dessa obra.
Fantástico! Viva o cinema nacional!!
Emma.
3.4 290 Assista AgoraPara quem conheceu a Anya Taylor-Joy em "A Bruxa", é bem difícil vê-la interpretar personagens tão doces e sutis. Todavia, a forma como se encaixa em qualquer um dos extremos demonstra seu domínio de personagem.
A ambientação é belíssima, figurino também, mas a história foi bem cansativa para mim.
O Homem Que Copiava
3.5 901 Assista AgoraVários mini-ataques cardíacos mas tudo bem. Ô disgraça pra ter sorte! Tinha tudo pra dar errado, mas que plot twist! rsrsrs rindo de nervoso rsrsrs Viva o cinema brasileiro!
Sérgio
3.2 222Desidratei.
Wagner Moura, você quer o mundo? É teu.
Mas agora falando sério, adorei o roteiro, que intercalou a atuação do Sergio na ONU com cenas da vida pessoal, com destaque ao romance com a belíssima e carismática Carolina. Obviamente o filme tem uma proposta mais mercadológica (Netflix, né gente), com um apelo emocional grande, mas isso não tira o mérito de uma boa direção. Fotografia impecável, com cenas de tirar o fôlego, como as da praia. A pluralidade de idiomas também é um ponto forte do filme, mostrando a diversidade e a riqueza das línguas além do inglês.
Por fim, é a história de um brasileiro. É tão bonito de ver nosso país bem representado, em meio à crise moral e ética que vivemos. Sergio fez brotar uma esperança. Tenhamos esperança.
Retrato de uma Jovem em Chamas
4.4 899 Assista AgoraUm lindo e envolvente poema.
Encontros e Desencontros
3.8 1,7K Assista AgoraQuando a conexão acontece, é inevitável. Felizes os que já tiveram encontros como esse que o filme retrata. Todavia, os desencontros também ocorrem e são dolorosos.
No momento, sinto-me feliz de ter encontrado esse filme.
Como Esquecer
3.6 659 Assista AgoraIntenso, poético, reflexivo.
Pensei que ia me deparar com algo bem cliché, mas me surpreendi. Se tivesse ficado apenas no romance entre Julia e Antônia teria caído na mesmice, mas o roteiro acabou desencadeando outras questões muito importantes, e isso enriqueceu a narrativa.
Excelentes atuações, linda fotografia e direção bem executada. Entrou para a lista de favoritos nacionais!
O Homem que Virou Suco
4.1 185Um salve pra poesia popular nordestina, muito bem representada e colocada no seu devido lugar: resistência cultural!
Apesar de ser necessário fazer algumas concessões de época para os comentários acerca da sexualidade dos personagens, não tinha como ser diferente. O machismo e a xenofobia estão enraizados na cultura brasileira e são nocivos para os próprios homens.
Quanto à crítica ao capitalismo e a exploração dos trabalhadores, achei bastante contundente e clara. O mundo capitalista é de poucos! Tem seus benefícios, claramente, mas toda ascensão tem um custo, e quem paga é quem menos tem. Triste realidade que nos acompanha por toda a história do país.
Vivemos esperando dias melhores - não só para alguns, mas para todos. Por enquanto, só nos resta fazer poesia! Viva Cancão! Viva Zé Limeira! Viva a Paraíba e todas as suas riquezas - que não são nem ouro nem prata!
Os Últimos Românticos do Mundo
4.3 16Que beleza de filme! Que roteiro lindo! Direção de arte impecável!!
A História da Eternidade
4.3 448Um filme-poema que diz muito no não-dito, não à toa seu ápice se dá na performance do Irandhir Santos de "Fala", de Secos e Molhados. Fala, mas também escuta. Fala, mas também repara, "mire veja", como dizia Rosa no seu Grande Sertão: Veredas. E sim, é um filme sobre o sertão, sobre a dureza da vida, as relações familiares, as relações de poder e opressão, sobre masculinidades e, sobretudo, três mulheres: Alfonsina, Querência e Dona das Dores.
Entendo que algumas pessoas não compreendam a narrativa e achem que é um filme sobre nada, mas não é. Tudo está posto, como numa mesa ou num jogo, mas cabe ao espectador juntar as peças.
Alfonsina é uma adolescente, descobrindo o mundo e a si mesma. Encontra no tio Joo um homem sensível, diferente do jeito autoritário e opressor do pai e, por isso, transfere todo o afeto que não podia expressar em casa e idealiza um romance com o tio.
Querência é uma mulher adulta, de luto por um filho perdido, e não quer se envolver sentimentalmente por medo de sofrer ainda mais. Até que acaba cedendo e reconstruindo sua vida no vilarejo.
Dona das Dores é uma senhora solitária, vive sozinha até a chegada do neto. Ao encontrar nas coisas do rapaz uma revista pornográfica, ela revive seus desejos e se autoflagela por isso. Psicanálise pura. A cena final, com o neto, é muito simbólica. Mais do que uma conotação puramente sexual, há um instinto de maternagem muito forte. Creio que esses episódios que soam como incesto são os que mais incomodam o público em geral, mas não são cenas que estão ali por acaso. Querendo ou não, tudo começa no sexo. Nossas vidas são originadas nele, e as relações familiares são construídas através dele, seja de maneira direta ou indireta. O incesto é uma questão moral, enquanto que o sexo é uma questão vital. É importante separar os dois, sem cair em apologias ao primeiro, mas também sem condenar sem compreender o enredo.
Temos três mulheres que se encontram na dor. Possuem histórias diferentes mas assumem a mesma condição: a repressão do corpo feminino em busca do prazer. Lembrou-me bastante "O livro dos prazeres", de Clarice Lispector, por retratar essa jornada dolosora até encontrar o prazer.
Por mais que pareça que Joo é o protagonista, ele divide esse papel com essas mulheres. Mesmo não havendo uma opressão direta da parte dele, percebam que ele fica sem camisa a maior parte do tempo, sempre expressando uma liberdade sem rédeas, enquanto que as mulheres precisam percorrer um caminho bem mais longo para atingir esse grau de liberdade. É complexo, mas também é simples.
É a dor e a poesia do cotidiano. É o sufocamento das pessoas pelo patriarcado e a libertação pela arte. É o estranhamento e o acolhimento. É a possibilidade de ver mesmo de olhos fechados. É a antítese do mar no sertão, chegando como chuva que molha e limpa o sangue. É a eternidade como a repetição dos ciclos da vida.
Esse filme não pode ser reduzido a nada, quando diz tantas coisas preciosas. Eu teria mil coisas mais pra falar aqui, mas acho que ele toca cada pessoa de um jeito diferente. Doeu. Foi bom. É a vida.
Shirley - Visões da Realidade
3.7 12 Assista AgoraA verdadeira protagonista desse filme é a fotografia. É ela quem conta a história de Shirley, através de um trabalho impecável com as luzes e as sombras, numa narrativa intimista e melancólica. O sentimento de vagueza, de deslocamento da realidade, de distanciamento social, são todos construídos no silêncio-grito dos fluxos de pensamento de Shriley. Ela é apenas uma parte da composição, que busca, o tempo inteiro, se encaixar no enquadramento perfeito da visão do seu companheiro Stephen, dos quadros de Hopper e, sobretudo, da sociedade.
A trilha sonora também é importante nessa composição. O diretor combina técnica e arte de maneira magistral. Assisti-lo foi um deleite.
O Beijo no Asfalto
4.1 95Surpreendente!
Elenco de peso, impecável. Murilo Benício fez um magistral trabalho na direção e a metalinguagem foi muito bem articulada. Ousadia e brilhantismo para um texto sensacional. Fotografia de Walter Carvalho é também certeza que não tem como dar errado. Esse filme já se tornou uma obra prima do cinema nacional, mas uma pena que seja de tão limitado acesso. Tive que alugar no Youtube, mas valeu muito a pena.
É um retrato do Brasil desde, sei lá, alguns séculos. Assistam e se deixem envolver com essa obra de arte!
Açúcar
3.2 25 Assista AgoraVale pela experiência visual e pelas questões sociais que aborda. Peca no ritmo do início (muito lento) e tenta elevar a atmosfera no final, mas não surpreende.
É o que o "Nó do diabo" tentou ser, mas ainda poderia ser melhor.
Adam
4.1 22Filmes dirigidos por mulheres me deixam, quase sempre, sem palavras. É que elas dizem tudo, até quando silenciam.
Adam nos despedaça, assim como o machismo e o patriarcado despedaçam todas as mulheres, em qualquer lugar do mundo. Somente nos unindo é possível nos recompor, juntar os pedaços que vagam por aí.
O cinema alternativo e independente precisa ser visto, apreciado e guardado em nossas mentes e corações.
Samia e Abla são duas protagonistas fortes, endurecidas pela vida, mas que carregam dentro de si a gentileza e a sororidade, pois há coisas que somente as mulheres são capazes de compreender.
Adam é um presente. Mulheres, assistam! Homens também!
Caixa de Recordações
4.1 22Surpreendente. Vale uma análise pelo viés psicanalista, sem dúvidas. Mas não serei eu quem farei rsrs.
Os elementos chaves do enredo são: masculinidade (quase sempre tóxica), conservardorismo, transgressão, memória.
Boas atuações, linda fotografia e roteiro emocionante. Valeu demais a experiência e a reflexão! Creio que o que é narrado no terceiro ato do filme acontece com mais frequência do que parece.
Só vou dar um pequeno spoiler, que na verdade é um conselho para quem tem/pretende ter filhos/as:
Por favor, não transem perto dos seus filhos. Não deixem que seus filhos ouçam vocês. Vocês podem desgraçar a mente deles.
Jojo Rabbit
4.2 1,6K Assista AgoraEsse filme me enganou... Comecei rindo e batendo palmas pelas sacadas geniais... Acabei chorando.
A trama sai da comédia para o drama de maneira brusca, mas isso não é um defeito, necessariamente. A naturalidade com que o nazismo é representado permite uma verdadeira irmersão no delírio coletivo dos "arianos"... O triste é perceber como os absurdos permanecem atuais.
O final é de arrancar risos e lágrimas, mas a reflexão fica. É um filme obrigatório para os dias de hoje... E creio que para muitos anos à frente.
Joias Brutas
3.7 1,1K Assista AgoraA melhor parte desse filme é quando ele acaba. Que agonia. Que estresse. Prefiro o Adam Sandler fazendo coméda romântica mesmo.
1917
4.2 1,8K Assista AgoraQuem puder, veja no cinema. Foi das melhores experiências que já tive.
1917 é um filme que esbanja qualidade técnica e artística. A escolha de parecer um plano-sequência do início ao fim foi essencial, pois conduz o espectador à tensão da trama. As atuações também são muito boas, e a fotografia é belíssima. O ritmo cai no segundo ato, mas logo recupera-se, e mesmo sem um grand finale, termina deixando o espectador extasiado. Portanto, só vim aqui exaltar essa obra de arte!
A Rosa Azul de Novalis
3.1 29Subversivo ao extremo!
Um filme sobre cu que consegue surpreender. Há momentos bem incômodos, cenas que muita gente tapou os olhos na hora na sala do cinema, mas também há reflexões válidas. Perde quem só vê a erotização.
Quanto aos aspectos técnicos, o roteiro é bom, brinca com os conceitos de ficção e realidade e traz uma teatralidade muito bem bolada; a fotografia é boa, e a câmera trêmula ou dando zoom na maior parte do tempo comunica o que o filme quer passar; a edição/montagem acho que foi o que mais gostei.
Vale a pena ver antes de vir aqui criticar. É, sem dúvidas, um filme chocante, nem todo mundo vai entender ou gostar.
O Farol
3.8 1,6K Assista AgoraAcabei de assistir e vim aqui procurar alguma análise que fizesse sentido. Encontrei o comentário do Rômulo lá embaixo e foi a melhor coisa que li até o momento.
Falocentrismo, solidão e relações de poder resumem O Farol.
Ah, a fotografia é delirante. Impecável.