Adam e Scarlett dão show de atuação! O roteiro também foi muito bem executado, inicia de maneira encantadora, mas logo nos apresenta uma outra face dos protagonistas. Tende a ser previsível em alguns momentos, mas vale a experiência. Vale também - e principalmente - pela reflexão: por que as relações acabam? por que as pessoas machucam umas às outras? O filme não dá respostas, mas mostra como é importante escutar o outro. Na vida real, não existem mocinhos e vilões. Todos nós iremos machucar alguém em algum momento, e provavelmente será quem mais amamos. Iss me lembra um poema de Augusto dos Anjos, poeta paraibano: "o beijo, amigo, é a véspera do escarro / a mão que afaga é a mesma que apedreja." Por fim, a sequência final mostra bem quem Charlie se tornou na vida de Nicole: um fantasma. E a vida tem que seguir.
Ontem assisti The Godfather e hoje The Irishman. Consegui pegar algumas referências e a produção é impecável, sem dúvidas. Mas, definitivamente, não faz meu estilo. Parabéns aos envolvidos, mas essas histórias de velhos mafiosos não me comovem.
Bem executado, sem dúvidas. Atuações muito boas. Mas não consigo ignorar a condição das mulheres e dos negros (estes nem aparecem, são apenas citados) nessa trama. O patriarcado é mostrado como o modelo ideal (quase como a família tradicional brasileira), mas na verdade só causa destruição. As mulheres são apenas reféns, submissas à vontade do Pai, do marido, enfim. Claro que a crítica que faço é anacrônica, já se passaram quase meio século desde o lançamento da obra, mas são traços históricos que precisam ser ressaltados. Sobre os negros, mencionados como animais (todos somos), marginalizados desde sempre. É de fato um retrato do racismo, da misoginia, do patriarcado e das relações de poder. Por isso, não consigo dizer que gostei do filme, pois essas questões ficaram muito latentes pra mim.
Que filme! Que mulher! Que atriz! Que bando de macho escroto! Que merda de patriarcado! Que todo mundo veja esse filme e entenda porquê o feminismo é necessário!
O que eu mais amo nesse filme é a fotografia que vai do azul ao laranja em vários momentos, o que pode ser interpretado de várias maneiras. Ginny vive sufocada na relação com o marido e com o filho incendiário, o que remete às cores quentes. Já quanto às cenas na praia, os tons são mais claros e frios, com o Mickey salva-vidas, uma grande metáfora para o que Ginny procurava: alguém que a salvasse. Infelizmente, essa é a realidade de muitas mulheres: sonham com aquele que as salvará, quando muitas vezes a única pessoa que pode nos salvar somos nós mesmas.
Muit caricato, atuações deprimentes em vários momentos, até mesmo do Thiago Mendonça - que é quem carrega o filme nas costas. Legião Urbana merecia mais.
O retrato da crueldade de uma sociedade patriarcal. As mulheres são violentadas O TEMPO TODO, seja explícita ou simbolicamente. O que mais dói é ver o quanto de real tem na ficção. Ser mulher é carregar dores ancestrais. E pra não dizer que não falei dos aspectos técnicos: PORRA, KARIM! Direção e roteiro impecáveis. Obrigada por tamanha sensibilidade.
Ah, e a Fernanda Montenegro está nesse filme com um único propósito: desidratar os espectadores que seguraram o choro durante 2 horas!
Por mais que seja enfadonho, vale a pena ver. Mas eu confesso que só compreendi a mensagem do filme porque tenho algum conhecimento de psicanálise, então vou deixar aqui alguns spoilers (lê quem quer) de acordo com o que entendi.
Maria (Bárbara Luz) está internada numa clínica psiquiátrica após ter matado friamente a mãe (Patrícia Pillar) e o homem estrangeiro (Lee Taylor) com o fruto envenenado da sua árvore favorita. Ela apresenta um quadro de psicose avançada, em que imagina estar conversando com o pai (que também já faleceu). Desde o início da trama fica evidente que Maria é o centro da narrativa, e que a mãe está em segundo plano. Há um distanciamento entre elas, mesmo que a mãe tente negar isso afirmando que elas são "uma só". A presença desse novo homem na casa gera curiosidade em Maria, e é no momento em que ele se aproxima dela (já no final do filme) e ela o beija a mão que reconhece o cheiro que sentiu nas roupas da mãe. Maria é um sujeito melancólico, marcada pela falta de algo que não se pode nomear. Ela sente falta do pai, mas também da mãe - mesmo ela estando presente o tempo todo. Maria, ao perceber que a mãe está se relacionando com outro homem, sente-se traída. A mãe deveria estar sofrendo tanto quanto ela a falta do pai. A partir daí Maria dá sinais de perversão: vai até a árvore, colhe o fruto "maldito", e espera o momento certo para oferecer ao casal. Quando vê a mãe sofrendo, ela se afasta. Antes da mãe desfalecer, ela a elogia, como em outros momentos: falar da beleza da mãe é uma tentativa de reviver essa mulher dentro dela, a mãe morta que ela carregava. Por fim, depois que tudo se encaixa, ela diz que não tinha como ser diferente. Ela precisava colocar pra fora o revide odioso, a perversão na sua face mais pura: a de um unicórnio.
Então foi basicamente isso que compreendi da narrativa, e portanto gostei bastante. A fotografia, de tão bonita, pode ser uma distração. Portanto, é preciso estar atento aos outros aspectos que compõem essa obra de arte. Lembrou-me bastante o filme "A bruxa", em como a simbologia foi construída através da pureza. Certamente não agradará a todos, mas espero que essa minha breve análise ajude a compreeder alguns pontos.
A cultura popular nordestina resiste! Azougue Nazaré é aquele filme que cativa você desde a primeira cena! Apresenta seus personagens e conflitos muito bem, e consegue transmitir a beleza do Maracatu para o espectador. Único problema é que não há um desfecho satisfatório... Mas estamos falando de contemporaneidade, então isso não precisa ser um problema. "Me chame de catita!" e os desafios de repente pelo zapzap são pontos altos do longa!
Acabei de assistir e nem sei se consigo escrever algo à altura... Que roteiro surpreendente! Que construção de personagens! Que atuações! Eu procuro um defeito e não encontro. É uma verdadeira obra de arte pois nos leva à catarse, nos conduz para um final que põe em jogo nossa moralidade. Parece que são os cidadãos de Dogville que estão sendo testados, mas na verdade somos nós, espectadores. Foram muitas as metáforas construídas na narrativa e vou citar apenas as que mais chamam a atenção.
A primeira é a de tratar-se de um jogo, como Bill e Tom jogavam dama, até que Grace chega e vira o jogo. A outra é a metáfora das maçãs: Grace é assediada e abusada debaixo das macieiras, uma fruta conhecida no imaginário popular e religioso como a que levou Eva à tentação; então a culpa recai sempre sobre a mulher, por ser alguém que desperta os desejos dos homens, então são as culpadas pelos "atos instintivos" destes. E a metáfora do cão (que remete ao nome da cidade), como aquele que guarda a cidade mas não pode proteger os "cidadãos" da suas próprias tiranias, que excedem e muito as brutalidades de qualquer animal.
Por fim, creio que se trata de um grande exemplo de como é difícil defender os Direitos Humanos diante da barbárie! Grace não se chama Grace à toa. A graça é aquela que é dada sem receber nada em troca... Os cidadãos de Dogville a obrigaram a subverter essa lógica, do início ao fim, portanto é compreensível sua escolha, mas e se fôssemos eu e você? Rogaríamos misericórdia, recorreríamos aos Direitos Humanos ou simplesmente seríamos coerentes e aceitaríamos a colheita do mal que plantamos? São perguntas difíceis de responder, mas que são importantes para que não caiamos no deleite sem refletir as implicaturas de cada regozijo.
Criei muitas expectativas e me decepcionei. Tinha tudo pra ser um filme foda, mas não foi dessa vez. Vale pelo roteiro, mas peca no ritmo e na montagem. Quanto à cinematografia: gente, por que ficaram cortando a cabeça das pessoas? Isso foi muito incômodo durante toda a narrativa. A impressão que dá é que não souberam usar direito as lentes da câmera, sério mesmo. O conto das gêmeas é o que mais gostei. Dá pra sacar a ideia dos diretores, de mostrar a ancestralidade do preconceito racial no Brasil, resgatar o sofrimento do povo negro como um filme de terror mesmo, que a gente gostaria que fosse apenas ficção... Uma pena que a execução da obra tenha falhado, mas não deixa de ser um marco no cinema paraibano e no cinema nacional do gênero.
Assisti ontem e ainda hoje estou sem conseguir fazer uma avaliação do filme. Eu não curto filmes de super-heróis, nunca assisti ao Batman (me julguem) e mesmo assim decidi assistir ao Coringa, por todo apelo da crítica sobre ele. Pois bem, não me arrependo de ter assistido, mas pra mim algo não se encaixa. Não sei explicar. Teria sido essa a intenção do diretor? Vai saber. Só consigo dizer que é difícil dizer que amei ou odiei. Talvez minha falta de afinidade com a narrativa justifique minha indigestão - acho que essa palavra define. Joaquim Phoenix realmente é um show à parte, mas toda a trama não me convence. Recentemente tive acesso a um curso sobre cinema e psicanálise, e apenas por esse viés vejo um caminho de interpretação para esse filme, e é algo que não está posto de cara.
A vida de Arthur Fleck resume-se à sua relação com a mãe, não à toa isso é mostrado desde o início do filme. Ele é rejeitado pela sociedade, mas aparentemente tem um seio materno para onde retornar. Um seio bom, que o consola e alimenta. Todavia, quando Arthur descobre que a mãe mentiu para ele e que ela sofre de psicose, tem características de uma mãe narcisista e que é filho adotado, vem o baque.... Tudo isso é "jogado" no filme de maneira irresponsável, eu diria, pois essa é justamente a chave da narrativa, merecia ter sido aprofundada. A mãe nascisista é aquela que projeta suas frustrações no bebê, e pode chegar a agredi-lo, que foi o que aconteceu com Arthur. A psicose da mãe foi passada para o filho, que viviam uma psicose compartilhada, e para chegar à perversão bastava um rompimento, uma frustração que destruisse a idealização criada na mente dele. E foi assim que Arthur atingiu a perversão matando a própria mãe, que era uma maneira de matar a si mesmo, matar o que ele não queria ser. Ele se desconserta por descobrir que o seio bom, na verdade, era mau. Agora ele não tinha mais nada a perder, pois tudo o que tinha era a mãe. A partir disso ele assume a postura do psicopata, aquele que não tem medo, vergonha ou culpa. As três primeiras pessoas que ele matou foram circunstanciais, ele já tinha psicose, mas não era psicopata, tanto que foge logo após.
Por isso minha resistência em avaliar o filme, pois não vejo como seria possível analisar a narrativa apenas no campo social (um pobre proletariado) ou apenas no psiquíco (psicopatia). Ao trazer uma abordagem política, o enredo adquire camadas que podem deixar o espectador focado apenas no raso. A crítica social está muito forte, e isso aliado a problemas mentais pode causar uma confusão na mente de quem assiste. Creio que foi isso que aconteceu comigo. Creio que muita gente não compreendeu de quais problemas psiquícos o filme trata, e que são mais de um - mas afinal, o público não tem obrigação de estudar psicanálise, apesar de que ela é essencial nesse caso.
'Democracia em vertigem' e 'Bacurau' são os filmes nacionais mais importantes de 2019. Petra Costa e Kléber Mendonça Filho conseguiram, através dos seus filmes, nos fazer reviver todo o drama da nossa vertiginosa democracia, e nos convidam a lutar enquanto há vida.
Não sou simpatizante do Olavo, mas resolvi assistir ao documentário já que discordo totalmente de quem o critica sem conhecer. Sim, me surpreendi com a produção e com o próprio Olavo, tão lúcido e sereno, diferentemente de como comumente aparece na internet. Foi bom enxergá-lo como ser humano que é, e escutá-lo falar de como iniciou seus estudos, enfim. Claro que houveram falas sobre PT, marxismo cultural, comunismo etc., mas nós, da esquerda, precisamos aprender a ouvir o diferente. Não concordo com a espécie de patrulha e censura que houve em relação a esse filme ser exibido nas universidades, mas também entendo que Olavo é alguém que se opõe à academia, logo não faz muito sentido ele e seus "seguidores" quererem ser recebidos de braços abertos. Outro ponto que fica evidente é a fetichização da vida ideal americana, família branca classe média reunida à mesa, que vai à missa e reza antes das refeições. É isso que vejo como problemático, porque os brasileiros aprenderam a valorizar esse ideal e a desprezar a nossa própria cultura, negando nossas origens e, principalmente, os problemas sociais que perpassam a história do povo brasileiro. Olavo, aparentemente, possui uma vida e uma família perfeita, através desse filme, mas é preciso entender que se trata de um recorte, assim como o que ele fala sobre o Brasil também é um recorte, é o ponto de vista de um brasileiro que não mora no Brasil. É preciso filtrar o que ouvimos e vemos, como ele mesmo menciona em alguns momentos. Lamento que um homem, aparentemente, tão sóbrio e inteligente, tenha apoiado o maior idiota da nossa história, vulgo nosso atual Presidente da República. Essa é minha maior crítica. No mais, ótima fotografia e roteiro.
Necessário. Poético. Doloroso. Resgatar a memória de alguém é algo, em si, bastante valioso; ainda mais a dessas mulheres. Esse documentário é de uma grandeza sem comparações. A mensagem que fica é que apenas com alegria vencemos a tirania. Esses canalhas não suportam a revolução das mentes que resistem às torturas dos corpos. Continuaremos resistindo!
Americanos e "brancos do sul" não foram colocados no mesmo patamar por acaso. É um retrato da alienação nacional que insiste em uma ideologia eugenista e higienista, que nega suas origens, sua ancestralidade indígena, africana etc., exaltando apenas o ideal europeu e americano de "gente". Quando os motoqueiros vão à Bacurau e a mulher pergunta "quem nasce em Bacurau é o quê?", fica nítida a desumanização contida na fala, o que proporciona o efeito irônico, mas também literal, da resposta da criança: É GENTE! Quem nasce em Bacurau é gente, e gente deve ser tratada como tal. Quem declara guerra a um povo, geralmente não enxerga o outro como gente: é preciso desumanizá-lo para poder destruí-lo. Isso só não ocorre em Bacurau porque eles têm consciência de que são gente e que juntos podem resistir à ameaça. Espetacular!
Outro ponto que quero destacar é o fato de Bacurau não estar no mapa. Essa é uma das grandes metáforas da narrativa.
Em que lugar do Brasil um massacre como esse seria possível "sem deixar rastros"? Vou melhorar a pergunta: Em que lugar do Brasil o povo é massacrado todos os dias e isso não dá em nada? Pois é, vejo em Bacurau a representação das periferias (não apenas do RJ, mas principalmente as de lá); os povoados indígenas, ribeirinhos e quilombolas; a população negra, enfim. Infelizmente, existem vidas que valem mais que outras e "a carne negra é a mais barata do mercado". Então, Bacurau nos mostra como essas pessoas são gente, cada qual vivendo suas vidas, e como sem nenhum motivo são atacados por quem se julga superior.
Eu não ia nem comentar, fiquei aqui lendo os comentários da galera, e a maior crítica paira sobre o roteiro e concordo que tenha sido bem pretensioso, deixa a sensação de vazio no final, mas eu creio que foi um bom desfecho. Vamo preencher esse vazio?
Saí da sessão e fiquei pensando na última frase: "quem nasce sem nome cresce sem medo". De todas as frases prontas e mecânicas da voice over, essa foi a escolhida para fechar, mas na verdade ela abre possibilidades de interpretação e foi isso que fiz... Fiquei viajando e talvez tenha viajado demais, mas vou dizer qual foi o desfecho que criei na minha cabeça.
Penso que toda a narrativa é um retrato de como a vida privada e as aspirações pessoais dos indíviduos invadiram o social. Não há mais privacidade, intimidade. E outra coisa importante: tudo gira em torno do sexo (não da sexualidade), e isso me remete logo ao que estamos vivendo na política brasileira. É como se as decisões estejam sendo tomadas com base no EU, na MINHA FAMÍLIA, nas minhas CRENÇAS, e quem não concordar está errado. A mulher é um mero "instrumento", um depósito de esperma e só é bem tratada quando engravida (vide cadeiras especiais onde as gestantes sentam). E assim chegamos ao bebê sem pai, uma clara referência à narrativa bíblica e que cairia na mesmice se continuasse após o nascimento. O "Messias" de Divino Amor eu entendo como uma metáfora: quem é que nasce sem nome e cresce sem medo? Bem, foi aí que viajei, porque foge da narrativa bíblica, mas eu penso ser uma referência ao atual governo brasileiro. Muita gente duvidou que um asno como esse pudesse chegar a presidência do Brasil, muitos nem sabiam seu nome mesmo, mas ele chegou, ele ganhou popularidade, ele cresceu. Suas ideias, suas crenças e "valores" o fizeram virar um "mito", uma representação do Brasil que a gente não queria ver. Ter Messias no nome foi uma triste coincidência, mas pra mim nunca esteve tão clara a DESTOÂNCIA: cada um tem o Messias que merece. O Brasil pariu o dele.
Assisti hoje no Cine Banguê, em João Pessoa, e foi uma experiência maravilhosa ver o cinema paraibano lotar a sala. A fotografia e a trilha sonora estão um espetáculo, todavia não é só isso que faz um bom filme... O roteiro tem muitas lacunas e não dá pra compreender o que é que move a protagonista - que inclusive é a única que se salva nas atuações. Percebi um tentativa de subjetivar demais, e isso acabou tornando o filme enfadonho. São duas horas de narrativa e no final a gente se pergunta: o que foi isso mesmo? Mas como se trata de um marco no cinema paraibano, eu sendo paraibana não vim aqui só falar dos pontos fracos. É um filme bonito e que seja o primeiro de muitos dessa galera da UFPB!
História de um Casamento
4.0 1,9KAdam e Scarlett dão show de atuação! O roteiro também foi muito bem executado, inicia de maneira encantadora, mas logo nos apresenta uma outra face dos protagonistas. Tende a ser previsível em alguns momentos, mas vale a experiência. Vale também - e principalmente - pela reflexão: por que as relações acabam? por que as pessoas machucam umas às outras? O filme não dá respostas, mas mostra como é importante escutar o outro. Na vida real, não existem mocinhos e vilões. Todos nós iremos machucar alguém em algum momento, e provavelmente será quem mais amamos. Iss me lembra um poema de Augusto dos Anjos, poeta paraibano: "o beijo, amigo, é a véspera do escarro / a mão que afaga é a mesma que apedreja."
Por fim, a sequência final mostra bem quem Charlie se tornou na vida de Nicole: um fantasma. E a vida tem que seguir.
O Irlandês
4.0 1,5KOntem assisti The Godfather e hoje The Irishman. Consegui pegar algumas referências e a produção é impecável, sem dúvidas. Mas, definitivamente, não faz meu estilo. Parabéns aos envolvidos, mas essas histórias de velhos mafiosos não me comovem.
O Poderoso Chefão
4.7 2,9KBem executado, sem dúvidas. Atuações muito boas. Mas não consigo ignorar a condição das mulheres e dos negros (estes nem aparecem, são apenas citados) nessa trama. O patriarcado é mostrado como o modelo ideal (quase como a família tradicional brasileira), mas na verdade só causa destruição. As mulheres são apenas reféns, submissas à vontade do Pai, do marido, enfim. Claro que a crítica que faço é anacrônica, já se passaram quase meio século desde o lançamento da obra, mas são traços históricos que precisam ser ressaltados. Sobre os negros, mencionados como animais (todos somos), marginalizados desde sempre. É de fato um retrato do racismo, da misoginia, do patriarcado e das relações de poder. Por isso, não consigo dizer que gostei do filme, pois essas questões ficaram muito latentes pra mim.
O Jogo das Chaves (1ª Temporada)
3.8 34Muito caricata, atuações bem forçadas, roteiro bem previsível. Gostei não.
Putaria por putaria é melhor ir no xvideos, galeris.
Deus é Mulher, E Seu Nome é Petúnia
3.7 29Que filme! Que mulher! Que atriz! Que bando de macho escroto! Que merda de patriarcado! Que todo mundo veja esse filme e entenda porquê o feminismo é necessário!
A Criada
4.4 1,3KA COBRA criada!
Roda Gigante
3.3 309O que eu mais amo nesse filme é a fotografia que vai do azul ao laranja em vários momentos, o que pode ser interpretado de várias maneiras. Ginny vive sufocada na relação com o marido e com o filho incendiário, o que remete às cores quentes. Já quanto às cenas na praia, os tons são mais claros e frios, com o Mickey salva-vidas, uma grande metáfora para o que Ginny procurava: alguém que a salvasse.
Infelizmente, essa é a realidade de muitas mulheres: sonham com aquele que as salvará, quando muitas vezes a única pessoa que pode nos salvar somos nós mesmas.
Somos Tão Jovens
3.3 2,0KMuit caricato, atuações deprimentes em vários momentos, até mesmo do Thiago Mendonça - que é quem carrega o filme nas costas.
Legião Urbana merecia mais.
A Vida Invisível
4.3 645O retrato da crueldade de uma sociedade patriarcal. As mulheres são violentadas O TEMPO TODO, seja explícita ou simbolicamente.
O que mais dói é ver o quanto de real tem na ficção. Ser mulher é carregar dores ancestrais.
E pra não dizer que não falei dos aspectos técnicos: PORRA, KARIM! Direção e roteiro impecáveis. Obrigada por tamanha sensibilidade.
Ah, e a Fernanda Montenegro está nesse filme com um único propósito: desidratar os espectadores que seguraram o choro durante 2 horas!
Unicórnio
3.0 50Por mais que seja enfadonho, vale a pena ver. Mas eu confesso que só compreendi a mensagem do filme porque tenho algum conhecimento de psicanálise, então vou deixar aqui alguns spoilers (lê quem quer) de acordo com o que entendi.
Maria (Bárbara Luz) está internada numa clínica psiquiátrica após ter matado friamente a mãe (Patrícia Pillar) e o homem estrangeiro (Lee Taylor) com o fruto envenenado da sua árvore favorita. Ela apresenta um quadro de psicose avançada, em que imagina estar conversando com o pai (que também já faleceu). Desde o início da trama fica evidente que Maria é o centro da narrativa, e que a mãe está em segundo plano. Há um distanciamento entre elas, mesmo que a mãe tente negar isso afirmando que elas são "uma só". A presença desse novo homem na casa gera curiosidade em Maria, e é no momento em que ele se aproxima dela (já no final do filme) e ela o beija a mão que reconhece o cheiro que sentiu nas roupas da mãe. Maria é um sujeito melancólico, marcada pela falta de algo que não se pode nomear. Ela sente falta do pai, mas também da mãe - mesmo ela estando presente o tempo todo. Maria, ao perceber que a mãe está se relacionando com outro homem, sente-se traída. A mãe deveria estar sofrendo tanto quanto ela a falta do pai. A partir daí Maria dá sinais de perversão: vai até a árvore, colhe o fruto "maldito", e espera o momento certo para oferecer ao casal. Quando vê a mãe sofrendo, ela se afasta. Antes da mãe desfalecer, ela a elogia, como em outros momentos: falar da beleza da mãe é uma tentativa de reviver essa mulher dentro dela, a mãe morta que ela carregava. Por fim, depois que tudo se encaixa, ela diz que não tinha como ser diferente. Ela precisava colocar pra fora o revide odioso, a perversão na sua face mais pura: a de um unicórnio.
Então foi basicamente isso que compreendi da narrativa, e portanto gostei bastante. A fotografia, de tão bonita, pode ser uma distração. Portanto, é preciso estar atento aos outros aspectos que compõem essa obra de arte. Lembrou-me bastante o filme "A bruxa", em como a simbologia foi construída através da pureza.
Certamente não agradará a todos, mas espero que essa minha breve análise ajude a compreeder alguns pontos.
Azougue Nazaré
3.9 34A cultura popular nordestina resiste!
Azougue Nazaré é aquele filme que cativa você desde a primeira cena! Apresenta seus personagens e conflitos muito bem, e consegue transmitir a beleza do Maracatu para o espectador. Único problema é que não há um desfecho satisfatório... Mas estamos falando de contemporaneidade, então isso não precisa ser um problema. "Me chame de catita!" e os desafios de repente pelo zapzap são pontos altos do longa!
Papicha
4.2 40Lindo e devastador.
Faz-nos repensar o feminismo a partir de outras realidades.
Dogville
4.3 2,0KAcabei de assistir e nem sei se consigo escrever algo à altura... Que roteiro surpreendente! Que construção de personagens! Que atuações! Eu procuro um defeito e não encontro. É uma verdadeira obra de arte pois nos leva à catarse, nos conduz para um final que põe em jogo nossa moralidade. Parece que são os cidadãos de Dogville que estão sendo testados, mas na verdade somos nós, espectadores. Foram muitas as metáforas construídas na narrativa e vou citar apenas as que mais chamam a atenção.
A primeira é a de tratar-se de um jogo, como Bill e Tom jogavam dama, até que Grace chega e vira o jogo. A outra é a metáfora das maçãs: Grace é assediada e abusada debaixo das macieiras, uma fruta conhecida no imaginário popular e religioso como a que levou Eva à tentação; então a culpa recai sempre sobre a mulher, por ser alguém que desperta os desejos dos homens, então são as culpadas pelos "atos instintivos" destes. E a metáfora do cão (que remete ao nome da cidade), como aquele que guarda a cidade mas não pode proteger os "cidadãos" da suas próprias tiranias, que excedem e muito as brutalidades de qualquer animal.
Por fim, creio que se trata de um grande exemplo de como é difícil defender os Direitos Humanos diante da barbárie! Grace não se chama Grace à toa. A graça é aquela que é dada sem receber nada em troca... Os cidadãos de Dogville a obrigaram a subverter essa lógica, do início ao fim, portanto é compreensível sua escolha, mas e se fôssemos eu e você? Rogaríamos misericórdia, recorreríamos aos Direitos Humanos ou simplesmente seríamos coerentes e aceitaríamos a colheita do mal que plantamos?
São perguntas difíceis de responder, mas que são importantes para que não caiamos no deleite sem refletir as implicaturas de cada regozijo.
O Nó do Diabo
3.0 46Criei muitas expectativas e me decepcionei. Tinha tudo pra ser um filme foda, mas não foi dessa vez. Vale pelo roteiro, mas peca no ritmo e na montagem.
Quanto à cinematografia: gente, por que ficaram cortando a cabeça das pessoas? Isso foi muito incômodo durante toda a narrativa. A impressão que dá é que não souberam usar direito as lentes da câmera, sério mesmo.
O conto das gêmeas é o que mais gostei. Dá pra sacar a ideia dos diretores, de mostrar a ancestralidade do preconceito racial no Brasil, resgatar o sofrimento do povo negro como um filme de terror mesmo, que a gente gostaria que fosse apenas ficção... Uma pena que a execução da obra tenha falhado, mas não deixa de ser um marco no cinema paraibano e no cinema nacional do gênero.
Coringa
4.4 4,1KAssisti ontem e ainda hoje estou sem conseguir fazer uma avaliação do filme. Eu não curto filmes de super-heróis, nunca assisti ao Batman (me julguem) e mesmo assim decidi assistir ao Coringa, por todo apelo da crítica sobre ele. Pois bem, não me arrependo de ter assistido, mas pra mim algo não se encaixa. Não sei explicar. Teria sido essa a intenção do diretor? Vai saber. Só consigo dizer que é difícil dizer que amei ou odiei. Talvez minha falta de afinidade com a narrativa justifique minha indigestão - acho que essa palavra define. Joaquim Phoenix realmente é um show à parte, mas toda a trama não me convence. Recentemente tive acesso a um curso sobre cinema e psicanálise, e apenas por esse viés vejo um caminho de interpretação para esse filme, e é algo que não está posto de cara.
A vida de Arthur Fleck resume-se à sua relação com a mãe, não à toa isso é mostrado desde o início do filme. Ele é rejeitado pela sociedade, mas aparentemente tem um seio materno para onde retornar. Um seio bom, que o consola e alimenta. Todavia, quando Arthur descobre que a mãe mentiu para ele e que ela sofre de psicose, tem características de uma mãe narcisista e que é filho adotado, vem o baque.... Tudo isso é "jogado" no filme de maneira irresponsável, eu diria, pois essa é justamente a chave da narrativa, merecia ter sido aprofundada. A mãe nascisista é aquela que projeta suas frustrações no bebê, e pode chegar a agredi-lo, que foi o que aconteceu com Arthur. A psicose da mãe foi passada para o filho, que viviam uma psicose compartilhada, e para chegar à perversão bastava um rompimento, uma frustração que destruisse a idealização criada na mente dele. E foi assim que Arthur atingiu a perversão matando a própria mãe, que era uma maneira de matar a si mesmo, matar o que ele não queria ser. Ele se desconserta por descobrir que o seio bom, na verdade, era mau. Agora ele não tinha mais nada a perder, pois tudo o que tinha era a mãe. A partir disso ele assume a postura do psicopata, aquele que não tem medo, vergonha ou culpa. As três primeiras pessoas que ele matou foram circunstanciais, ele já tinha psicose, mas não era psicopata, tanto que foge logo após.
Por isso minha resistência em avaliar o filme, pois não vejo como seria possível analisar a narrativa apenas no campo social (um pobre proletariado) ou apenas no psiquíco (psicopatia). Ao trazer uma abordagem política, o enredo adquire camadas que podem deixar o espectador focado apenas no raso. A crítica social está muito forte, e isso aliado a problemas mentais pode causar uma confusão na mente de quem assiste. Creio que foi isso que aconteceu comigo. Creio que muita gente não compreendeu de quais problemas psiquícos o filme trata, e que são mais de um - mas afinal, o público não tem obrigação de estudar psicanálise, apesar de que ela é essencial nesse caso.
Democracia em Vertigem
4.1 1,3K'Democracia em vertigem' e 'Bacurau' são os filmes nacionais mais importantes de 2019. Petra Costa e Kléber Mendonça Filho conseguiram, através dos seus filmes, nos fazer reviver todo o drama da nossa vertiginosa democracia, e nos convidam a lutar enquanto há vida.
O Processo
4.0 240Cansativo como tinha que ser. Narrativa crua da distopia brasileira.
O Jardim das Aflições
3.5 152Não sou simpatizante do Olavo, mas resolvi assistir ao documentário já que discordo totalmente de quem o critica sem conhecer. Sim, me surpreendi com a produção e com o próprio Olavo, tão lúcido e sereno, diferentemente de como comumente aparece na internet. Foi bom enxergá-lo como ser humano que é, e escutá-lo falar de como iniciou seus estudos, enfim. Claro que houveram falas sobre PT, marxismo cultural, comunismo etc., mas nós, da esquerda, precisamos aprender a ouvir o diferente. Não concordo com a espécie de patrulha e censura que houve em relação a esse filme ser exibido nas universidades, mas também entendo que Olavo é alguém que se opõe à academia, logo não faz muito sentido ele e seus "seguidores" quererem ser recebidos de braços abertos.
Outro ponto que fica evidente é a fetichização da vida ideal americana, família branca classe média reunida à mesa, que vai à missa e reza antes das refeições. É isso que vejo como problemático, porque os brasileiros aprenderam a valorizar esse ideal e a desprezar a nossa própria cultura, negando nossas origens e, principalmente, os problemas sociais que perpassam a história do povo brasileiro. Olavo, aparentemente, possui uma vida e uma família perfeita, através desse filme, mas é preciso entender que se trata de um recorte, assim como o que ele fala sobre o Brasil também é um recorte, é o ponto de vista de um brasileiro que não mora no Brasil. É preciso filtrar o que ouvimos e vemos, como ele mesmo menciona em alguns momentos. Lamento que um homem, aparentemente, tão sóbrio e inteligente, tenha apoiado o maior idiota da nossa história, vulgo nosso atual Presidente da República. Essa é minha maior crítica. No mais, ótima fotografia e roteiro.
Em Pedaços
3.9 236Sinopse cheia de spoilers, mas o filme ainda consegue surpreender.
Muito bom!
Torre das Donzelas
4.2 23Necessário. Poético. Doloroso.
Resgatar a memória de alguém é algo, em si, bastante valioso; ainda mais a dessas mulheres. Esse documentário é de uma grandeza sem comparações.
A mensagem que fica é que apenas com alegria vencemos a tirania. Esses canalhas não suportam a revolução das mentes que resistem às torturas dos corpos.
Continuaremos resistindo!
Bacurau
4.3 2,8KBacurau é sobre gente; sobre todos os povos brasileiros que resistem cultural e politicamente.
Americanos e "brancos do sul" não foram colocados no mesmo patamar por acaso. É um retrato da alienação nacional que insiste em uma ideologia eugenista e higienista, que nega suas origens, sua ancestralidade indígena, africana etc., exaltando apenas o ideal europeu e americano de "gente". Quando os motoqueiros vão à Bacurau e a mulher pergunta "quem nasce em Bacurau é o quê?", fica nítida a desumanização contida na fala, o que proporciona o efeito irônico, mas também literal, da resposta da criança: É GENTE! Quem nasce em Bacurau é gente, e gente deve ser tratada como tal. Quem declara guerra a um povo, geralmente não enxerga o outro como gente: é preciso desumanizá-lo para poder destruí-lo. Isso só não ocorre em Bacurau porque eles têm consciência de que são gente e que juntos podem resistir à ameaça. Espetacular!
Outro ponto que quero destacar é o fato de Bacurau não estar no mapa. Essa é uma das grandes metáforas da narrativa.
Em que lugar do Brasil um massacre como esse seria possível "sem deixar rastros"? Vou melhorar a pergunta: Em que lugar do Brasil o povo é massacrado todos os dias e isso não dá em nada? Pois é, vejo em Bacurau a representação das periferias (não apenas do RJ, mas principalmente as de lá); os povoados indígenas, ribeirinhos e quilombolas; a população negra, enfim. Infelizmente, existem vidas que valem mais que outras e "a carne negra é a mais barata do mercado". Então, Bacurau nos mostra como essas pessoas são gente, cada qual vivendo suas vidas, e como sem nenhum motivo são atacados por quem se julga superior.
Bacurau
4.3 2,8KBACURAU deveria se tornar elogio... Ou palavrão! PQP QUE EXPERIÊNCIA NORDESTINESCA!
Divino Amor
3.4 241Eu não ia nem comentar, fiquei aqui lendo os comentários da galera, e a maior crítica paira sobre o roteiro e concordo que tenha sido bem pretensioso, deixa a sensação de vazio no final, mas eu creio que foi um bom desfecho. Vamo preencher esse vazio?
Saí da sessão e fiquei pensando na última frase: "quem nasce sem nome cresce sem medo". De todas as frases prontas e mecânicas da voice over, essa foi a escolhida para fechar, mas na verdade ela abre possibilidades de interpretação e foi isso que fiz... Fiquei viajando e talvez tenha viajado demais, mas vou dizer qual foi o desfecho que criei na minha cabeça.
Penso que toda a narrativa é um retrato de como a vida privada e as aspirações pessoais dos indíviduos invadiram o social. Não há mais privacidade, intimidade. E outra coisa importante: tudo gira em torno do sexo (não da sexualidade), e isso me remete logo ao que estamos vivendo na política brasileira. É como se as decisões estejam sendo tomadas com base no EU, na MINHA FAMÍLIA, nas minhas CRENÇAS, e quem não concordar está errado. A mulher é um mero "instrumento", um depósito de esperma e só é bem tratada quando engravida (vide cadeiras especiais onde as gestantes sentam). E assim chegamos ao bebê sem pai, uma clara referência à narrativa bíblica e que cairia na mesmice se continuasse após o nascimento. O "Messias" de Divino Amor eu entendo como uma metáfora: quem é que nasce sem nome e cresce sem medo? Bem, foi aí que viajei, porque foge da narrativa bíblica, mas eu penso ser uma referência ao atual governo brasileiro. Muita gente duvidou que um asno como esse pudesse chegar a presidência do Brasil, muitos nem sabiam seu nome mesmo, mas ele chegou, ele ganhou popularidade, ele cresceu. Suas ideias, suas crenças e "valores" o fizeram virar um "mito", uma representação do Brasil que a gente não queria ver. Ter Messias no nome foi uma triste coincidência, mas pra mim nunca esteve tão clara a DESTOÂNCIA: cada um tem o Messias que merece. O Brasil pariu o dele.
Estrangeiro
3.7 9Assisti hoje no Cine Banguê, em João Pessoa, e foi uma experiência maravilhosa ver o cinema paraibano lotar a sala. A fotografia e a trilha sonora estão um espetáculo, todavia não é só isso que faz um bom filme... O roteiro tem muitas lacunas e não dá pra compreender o que é que move a protagonista - que inclusive é a única que se salva nas atuações. Percebi um tentativa de subjetivar demais, e isso acabou tornando o filme enfadonho. São duas horas de narrativa e no final a gente se pergunta: o que foi isso mesmo? Mas como se trata de um marco no cinema paraibano, eu sendo paraibana não vim aqui só falar dos pontos fracos. É um filme bonito e que seja o primeiro de muitos dessa galera da UFPB!