Eu esperava um filme leve por ter o Fabio Porchat, mas fui surpreendido com um drama introspectivo sobre um homem, pouco a pouco, sendo devorado pelo fantasma da solidão e da crise existencial. Vazio que vai tomando conta da sua vida até que você literalmente não enxerga ninguém ao seu lado.
Gostaria muito de ver o Porchat em mais filmes assim!
Quem disse que o cinema africano só pode falar de guerras, pobreza e desgraças?
"A Garota do Moletom Amarelo", da Uganda, está aí para provar que não é bem assim! Um suspense clássico, com reviravoltas e surpresas bem bacanas. Tem até um personagem que quebra a quarta parede com suas explicações sarcásticas, lembrando muito o estilo de Quentin Tarantino - aliás, as cenas de violência, que incluem até um dedo decepado, tão aí pra reforçar a pegada "tarantinesca" do longa-metragem.
Seria muito bom se a gente tivesse mais acesso a histórias fora do eixo hollywoodiano. A Netflix volta e meia surpreende colocando algumas produções nacionais, sul-coreanas, espanholas, mas a grande maioria das pessoas ainda fica presa a filmes e séries dos EUA.
Por sorte, tem muitos festivais online acontecendo. Um deles é a Mostra de Cinemas Africanos, que foi onde eu vi "A Garota do Moletom Amarelo".
Muito inteligente usar a questão da imigração ilegal como pano de fundo - me lembrando, inclusive, o filme O Que Ficou Para Trás, também disponível na Netflix.
O começo tem uma surpresa quando a gente vê uma personagem falando português ao telefone (uma escolha que não é aleatória, já que o número de brasileiros entrando ilegalmente nos EUA aumentou 5 vezes no último ano).
Ambar, a nossa protagonista, vai em busca do "sonho americano", mas acaba encontrando um verdadeiro pesadelo em seu caminho. Além da pensão macabra, tem de lidar com um emprego péssimo, a solidão, a falta de dinheiro, a indiferença dos americanos e até uma colega golpista.
Gosto muito da atmosfera do filme, de como ele constrói uma casa velha, sombria e que a gente sente ter algo de muito errado, mesmo com o anfitrião Red bancando o bonzinho.
Mas, mesmo partindo de uma boa ideia, Ninguém Sai Vivo esbarra em um problema grave: muitas coisas são jogadas de qualquer jeito sem nenhuma base ou desenvolvimento. É claro que o espectador não precisa ter tudo mastigadinho, mas da forma que fizeram ficou muito mal-construído.
Por exemplo, sabemos que a criatura foi encontrada em uma das escavações do pai de Red no México, mas o que é aquilo afinal? O demônio de uma civilização antiga? Qual a razão de Ambar ter sua vida poupada pelo monstrengo?
Eu até recomendaria para um amigo, mas antes deixaria o alerta de que o longa tem problemas e está longe de ser um daqueles filmes de terror da safra de Corra, Nós, Hereditário, Midsommar, Babadook, A Corrente do Mal, entre outros. Diria que está mais para a cara de um James Wan da vida...
Filmão! Uma grata surpresa que assisti no Festival de Cinema Russo. Nunca imaginei que um filme sobre esgrima me deixaria tenso, mexeria com minhas emoções. É interessante refletir como o Esporte tem a capacidade de unir pessoas: as rivais tornaram-se aliadas, quase amigas, eu diria. No começo,
morria de ódio da Kira porque via ela como uma jovenzinha metida e super mala. Mas, depois que se lesionou na disputa, fiquei com raiva mesmo era da esgrimista veterana porque tava na cara que ela fez de propósito kkkk
A edição do filme é show. Tão ágil como uma disputa de esgrima! Em certos momentos, a gente sente como se estivesse ali entre as duas. Muito legal também ver as Olimpíadas do Rio na tela (claro que não filmado aqui).
Ponto também para a representatividade nessa história com forte protagonismo feminino. Em um país tão machista e conservador como a Rússia, a cena em que as esgrimistas se unem contra o treinador autoritário e grosseiro é simbólica - afinal, um técnico que compara seus atletas com macacos não é o melhor exemplo da profissão. E repare bem que é algo que vai se construindo durante o filme: no começo, uma delas, incomodada com o tratamento, até ensaia uma rebeldia, mas "cai na real" e diz que ali é cada um por si... Até que vem essa cena maravilhosa!
Fiz questão de sair recomendando "Na Ponta" por aí e consegui convencer pelo menos uma pessoa a assistir: meu professor de russo, que diz ter adorado!
Tomara que mais gente descubra essa pérola porque é triste ver apenas mais um comentário aqui no Filmow. Estarei fazendo a minha parte com o tradicional boca a boca!
Assisti a esse filme no celular durante uma viagem de ônibus de São Paulo a Londrina e gostei bastante. Me prendeu com o seu suspense, ação, reviravoltas e tem uma abordagem legal do
Fico imaginando a reação de quem "caiu de paraquedas" nesse filme, sem ter lido a sinopse ou visto o trailer. Tudo indica que vai ser um romance e, de repente, a coisa vai ficando meio sinistra, a história vira de cabeça pra baixo e se torna um suspense onde a gente não sabe quem é vilão e quem é vítima. Tá aí um ótimo exemplo de transição entre gêneros que poderia ser usado até mesmo em faculdades de cinema.
Gostei muito da dupla de atores, da direção, do roteiro, de ser feito em preto e branco. Tem algumas situações forçadas que são até compreensíveis e necessárias para a história andar,
tipo o Eduardo permitir que as visitas entrem na sua casa com a Lili sequestrada lá. Uma pessoa que planejou isso por tanto tempo jamais correria esse risco.
(Filme assistido no Festival Internacional de Cinema Fantástico - Cinefantasy)
Lembra bastante um daqueles filmes independentes que a Netflix compra, coloca o selo "Original Netflix" e lança no streaming - e isso não é um defeito!
O longa tem todos os ingredientes necessários para um bom entretenimento. Tensão, mistério, drama e até um pouco de humor na família que briga sem parar (achei eles bem irritantes e infantis, mesmo sabendo que uma situação extrema como essa certamente leva a conflitos).
O fato de se passar na Coreia do Sul - que tem seu histórico de "tretas" com a Coreia do Norte - torna o cenário perfeito. Tentei imaginar o filme ambientado nos EUA, mas não consegui.
Em alguns momentos, o sofrimento da família enclausurada no portão me lembrou o isolamento que a Covid nos impôs. Com a grande diferença de que em casa temos geladeira cheia, cama gostosa, internet, Ifood e uma série de luxos que os nossos personagens não têm no esconderijo. Por outro lado, a angústia, a dor, a paranoia e o medo de um inimigo invisível (no caso do filme, a radiação e, na vida real, o vírus) são muito semelhantes.
Não será uma grande surpresa se, enfim, encontrarmos o filme entre os "originais Netflix" daqui a alguns meses. E serei uma das pessoas que vai indicá-lo como um passatempo de fim de semana.
"Carro Rei" tem muitas similaridades com o icônico Bacurau: distopia futurista, Nordeste brasileiro servindo de cenário e, claro, muito a dizer sobre o nosso Brasil.
É inegável a semelhança entre os seguidores do Carro Rei e os fanáticos bolsonaristas. Até o hino nacional dá as caras em um momento de "êxtase automobilística" onde pessoas e máquinas parecem tornar-se uma só criatura. E você não ouviu errado - no discurso da praça, o Zé Macaco (interpretado pelo genial Matheus Nachtergaele como um homem que vai ficando cada vez mais selvagem e violento) solta um "Caruaru acima de tudo". Quem mesmo fala isso na vida real?
Os nomes do personagem tampouco são escolhidos por acaso. Além do Zé Macaco (que serve tanto para o primata como para o "macaco" do carro), nosso protagonista chama Uno (nome de carro) e a artista performática, Mercedes (marca de luxo). Já a mocinha que tira sua força da natureza e a ela dedica sua vida se chama Amora (nome de fruta).
Apesar de filmado em 2019, o filme consegue antecipar discussões que ganharam força em 2021. Mercedes escolhe estátuas de ditadores e figuras repressoras da história para fazer suas performances. Uma delas justamente onde? Na estátua do Borba Gato que foi incendiada recentemente!
Vencedor do Festival de Gramado e apontado como um dos longas nacionais mais promissores do ano, Carro Rei capricha no visual, na criatividade (eu nunca pensaria em uma trama assim!) e também na maluquice. Se prepare para cena de sexo entre uma mulher e um automóvel!
PS: Não posso deixar de notar também o fato de ser um filme dirigido por uma cineasta mulher. Representatividade é sempre bem-vinda!
(Filme assistido no Cinefantasy, Mostra Internacional de Cinema Fantástico)
"Meu Pai Marianne" é um daqueles feel good movies. Filmes fofinhos e familiares com finais felizes que te fazem sentir bem. O legal é que aqui trouxeram a questão da transfobia de maneira muito sensível. Um padre sessentão referência na comunidade que se assume como Marianne e passa a usar roupas femininas.
Me identifique bastante também com a Hanna, a protagonista sem emprego, sem amigos, sem sorte no amor e incerta sobre os rumos da vida.
Uma pena que ninguém aqui no Filmow tenha comentado ainda. É um filme divertido que merece ser mais conhecido.
(Filme assistido no Festival Internacional de Cinema LGBTI)
E eu, achando que o filme iria ficar na trama policial mostrando a Regina descobrindo os podres do Camargo, fui surpreendido! A história toma um rumo inesperado e vai mais pro drama/romance sobre como é envelhecer.
Exemplar de qualidade do nosso cinema nacional, com grandes atuações da sempre ótima Fernanda Montenegro e de Raul Cortez.
Como seria FODA se toda criança LGBTQIAP+ tivesse uma família como a da Sasha! Pais e irmãos que acolhem, apoiam, confortam e lutam ao seu lado.
É muito bonito sentir o amor da mãe pela Sasha que, embora tenha apenas 7 anos, já mostra ser uma garota bastante madura e consciente do preconceito que enfrenta. Acredito que toda família com alguma criança trans deveria assistir a esse documentário e se sentir tocado por essa história.
O que mais me chamou atenção foi o preconceito na escola. Um espaço que deveria ser de libertação, aceitação e crescimento pessoal se torna um local de opressão, de desprezo pela Sasha e sua identidade de gênero. E olha que a história se passa na "moderna" França. Imagina como deve ser isso no Afeganistão, na Chechênia, no Sudão ou qualquer outro local onde as pessoas são impedidas de serem elas mesmas.
(Filme assistido no Festival Internacional de Cinema LGBTI+)
O interessante aqui é o formato. A história toda contada através de ligações para a polícia e a gente fica imaginando toda a ação acontecendo. Um filme bem envolvente, humano e surpreendente.
Fica aí pra gente pensar. Se o policial não tivesse confessado o crime, provavelmente a mulher teria se jogado do viaduto. Graças à confissão, ela criou um vínculo com ele e percebeu que todos cometem erros.
Gosto muito do Rodrigo Aragão, mas me decepcionei bastante aqui. Super desinteressante, personagens chatíssimos e sem carisma, muita coisa literalmente cuspida na história sem o mínimo de coesão. A impressão é que bateram no liquidificar várias ideias, juntaram tudo e a mistureba virou "A Mata Negra".
Uma pena... Tomara que nos próximos filmes a gente volte a ver o Rodrigo Aragão de Mangue Negro e As Fábulas Negras
Bobinho.... e SUPER DIVERTIDO! Me identifiquei e ri muito com várias situações do filme. Nosso mundo do trabalho home-office cheio de troca de e-mails, reuniões (ou "calls", pros mais americanizados), chamadas de vídeo, etc.
É aquele negócio: desligar o cérebro dos problemas e curtir sem medo de ser feliz.
Tão bom quanto o primeiro! Além da tensão, aqui a gente tem mais ação, o talento de Cillian Murphy e a interação dos personagens com outros humanos. Mas, pra mim, o maior destaque continua sendo a atriz Millicent Simmonds, que é uma pessoa com deficiência auditiva também na vida real. Ela arrasa muito, faz uma garota cheia de coragem, força, inteligência e determinada a fazer o que for preciso para proteger sua família. Espero que as portas de Hollywood estejam abertas e a gente possa vê-la em mais filmes.
Antes de ver o filme, fiquei sabendo que era dirigido por Lisa Joy, cunhada do Cristopher Nolan. Não sei se essa informação me influenciou, mas eu só conseguia ver o estilo do diretor de A Origem no visual, no roteiro, nos diálogos, na construção dos personagens, nos efeitos especiais.
Gostei da representação do nosso mundo em crise. O colapso climático transformou Miami em uma Veneza corrupta, suja e decadente, a humanidade trocou o dia pela noite, a desigualdade social seguiu escancarada (os ricos morando na parte seca da cidade), as cicatrizes de uma guerra mundial (não explicada de quem contra quem) estão vivas nos traumas, memórias e diálogos dos personagens. Daqui a alguns anos, poderemos dizer, pela nossa própria experiência, onde o filme errou e acertou em comparação com a realidade.
Apesar do capricho visual, o roteiro meio água com açúcar. Mistura elementos clássicos de ficção-científica e transforma em uma grande mistureba de muita coisa que já vimos em outras produções (A Origem e Matrix, pra citar apenas dois). E tem alguns furos que estão ali só por conveniência pra história funcionar.
Por exemplo, em determinado momento, o protagonista vivido pelo Hugh Jackman (que está bem no papel) vai em busca da Mae e acaba sendo espancado pelo policial corrupto interpretado pelo Cliff Curtis. Ora, por que motivos o vilão deixou passar a oportunidade de matá-lo? Pela sua personalidade, não é o tipo de pessoa que tem piedade dos inimigos.
Se eu recomendaria o filme? Claro, para ver num sábado de noite e ver sem pretensões em casa é uma boa. Agora, arriscar pegar Covid indo no cinema pra ver Caminhos da Memória não vale tanto a pena.
O papel da imprensa no buraco que nos metemos. Um documentário crítico, político, que traz algumas informações sobre junho de 2013 que eu mesmo não sabia (o fato da imprensa ter mudado repentinamente o viés da cobertura, direcionando a fúria para o governo federal). Novidade também a história do jornalista que foi preso sem acusações em Minas Gerais, na gestão do Aécio Neves.
O fato de trazer depoimentos de grandes nomes da comunicação como Noam Chomsky (considerado por muitos o maior intelectual vivo) e o premiado Glenn Greenwald agrega bastante em credibilidade e conteúdo para a produção.
Ninguém pode negar que a imprensa tem, sim, culpa pela ascensão do Bolsonaro. Fomentaram o antipetismo na população durante anos, transformaram a Lava Jato em uma trama novelesca, criaram o mito Moro, trataram as declarações do então deputado Bolsonaro como "polêmicas" em vez de "criminosas", convenceram a população de que o PT é comunista (o que virou quase um palavrão no Brasil).
E o Estadão, nas eleições de 2018, ainda meteu o editorial "Uma escolha difícil", meio que colocando Haddad e o capitão genocida no mesmo saco. Hoje, renegam o filho. É aquela frase "Crie corvos e eles te comerão os olhos".
Enfim, que o documentário chegue às faculdades de jornalismo e também à maior quantidade de pessoas fora da área - inclusive, fica a dica para assistir na Amazon.
História envolvente que prende o espectador. Lembrei do filme "Buscando" pela opção em contar o filme através de ações que acontecem no celular/computador.
Só o final que achei um pouco apressado e digamos decepcionante.
Seria mais legal se a Abu fosse alguma criminosa ou alguém querendo passar a perna no Jimmy, um cara bem possessivo, imaturo e apressado nas relações amorosas, diga-se de passagem. O que ela queria, no fim das contas, era sair da situação em que estava e para isso usou o que tinha ao seu alcance. Bastante compreensível a ação dela. Agora imagina o impacto que seria causado no espectador se ela fosse uma filha da p***, se o roteiro fizesse a gente sentir ódio dela da mesma forma que sentimos da Amy em Garota Exemplar? Com certeza elevaria o filme a um outro nível de qualidade.
Tem alguns furos e situações absurdas também. Como, por exemplo, o Jimmy conseguir entrar na sala de vigilância do prédio e roubar as imagens facilmente. Tipo, qualquer edifício coloca um porteiro/segurança para ficar vigiando as câmeras e não deixar ninguém entrar
O amor em tempos de ditadura contado com a sensibilidade típica do cinema chileno (especialista em abordar na telona esse período sombrio de sua história)
No final pode-se levantar o questionamento: afinal, não existia amor entre os dois? A resposta mais óbvia é "e sim, era amor". Mas nossa protagonista não tinha espaço no universo revolucionário dele, tão preconceituoso como tudo que conhecia até então. Ir à luta, pegar em armas, enfrentar ditaduras não está entre as prioridades de uma pessoa que só quer, no fim das contas, ser feliz. Logo, a vida dos dois juntos nunca teria sentido..
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O elenco está muito bom. O Alfredo Castro, que protagoniza o longa, é tipo um Ricardo Darín deles. Só acho que poderiam ter contratado uma atriz trans para o papel principal, assim como fizeram em Uma Mulher Fantástica, produção também chilena.
Fico feliz de ver cada vez mais vozes negras ocupando espaço no cinema, principalmente na direção.The Forty-Year-Old Version é um bom filme e a fotografia em preto e branco combinou perfeitamente.
É só uma pena que o filme tropece na representação de uma outra minoria. O agente gay da Radha, Archie, é totalmente estereotipado de uma maneira que já cansamos de ver em mil filmes e até novelas brasileiras, especialmente em produções que ridicularizam ou usam personagens LGBTs como mero acessório para piadas. Além do estereótipo de gay afeminado e excêntrico, Archie também lança mão de "favores sexuais" para conseguir emplacar alguns dos seus projetos. Aí está outro erro grave: em tempos de Me Too, usar isso como humor (como faz o longa) não é aceitável.
O Brasil da desigualdade, da violência, pobreza e ausência do Estado em tela.
Confesso que não sabia nada sobre o sequestro do ônibus 174 e o massacre da Candelária. Dois incidentes muito tristes que mostram o ciclo interminável da violência no nosso país. Em 2019, inclusive, o Rio também foi palco do sequestro de um ônibus que resultou na execução do sequestrador pela polícia. Dessa vez, com direito a comemoração com pulinhos do então governador no local do crime.
Como muita gente apontou abaixo, a sequência do sequestro em si poderia ser melhor explorada. Achei legal o filme explorar a história de vida do Sandro e mostrar além do estereótipo de criminoso. O diretor Bruno Barreto poderia ter estendido um pouco mais o terceiro ato, evidenciando o despreparo dos policiais, a cobertura midiática e a relação do protagonista com os reféns.
Um simples Google mostra que alguns detalhes da história foram alterados, o que é, até certo ponto, normal nesse tipo de adaptação.
Eu mesmo assisti ao filme e não tinha entendido que o Sandro não era filho da Marisa. Fui perceber só depois de ler os comentários daqui e ver que, na história real, essa confusão também aconteceu.
"Vamos de escolas de terceira para prisões de primeira linha"
Primeira produção original da Amazon, adaptação de uma peça da Grécia Antiga para a Chicago do século XXI - ou melhor, a Chi-Iraq (mistura de Chicago com Iraque). Uma metrópole de conflitos sociais e raciais que, como o próprio filme informa, matam mais cidadãos americanos do que as guerras do Iraque e Afeganistão juntas.
Meio teatral, meio musical, bem-humorado, satírico, com liberdade criativa para idealizar algumas soluções que a gente sabe que na vida real não chegam tão "fácil" assim. Em "Chi-Iraq", Spike Lee, político como sempre, entrega um belo filme. Não só no sentido visual, mas também pela denúncia da desigualdade, racismo e violência que afligem não só Chicago, mas todos os Estados Unidos. Inclusive, vemos alguns cartazes escritos Black Lives Matter, dialogando diretamente com o momento que vivemos.
Samuel L. Jackson quebrando a quarta parede é a cereja do bolo. E o que dizer do discurso do padre interpretado por John Cusack? A junção de um puta texto com uma puta atuação. Um ataque direto aos privilégios de uma elite enquanto a maioria sofre com o desemprego, a falta de acesso à educação, a violência - enfim, com a ausência do Estado. Não pude deixar de pensar que o padre do filme seria taxado de "comunista" e perseguido no Brasil bolsonarista simplesmente por combater as injustiças.
Ótimo filme que é pouquíssimo comentado e lembrado nas rodas cinéfilas.
Entre Abelhas
3.4 830Eu esperava um filme leve por ter o Fabio Porchat, mas fui surpreendido com um drama introspectivo sobre um homem, pouco a pouco, sendo devorado pelo fantasma da solidão e da crise existencial. Vazio que vai tomando conta da sua vida até que você literalmente não enxerga ninguém ao seu lado.
Gostaria muito de ver o Porchat em mais filmes assim!
A Garota do Moletom Amarelo
3.3 9 Assista AgoraQuem disse que o cinema africano só pode falar de guerras, pobreza e desgraças?
"A Garota do Moletom Amarelo", da Uganda, está aí para provar que não é bem assim! Um suspense clássico, com reviravoltas e surpresas bem bacanas. Tem até um personagem que quebra a quarta parede com suas explicações sarcásticas, lembrando muito o estilo de Quentin Tarantino - aliás, as cenas de violência, que incluem até um dedo decepado, tão aí pra reforçar a pegada "tarantinesca" do longa-metragem.
Seria muito bom se a gente tivesse mais acesso a histórias fora do eixo hollywoodiano. A Netflix volta e meia surpreende colocando algumas produções nacionais, sul-coreanas, espanholas, mas a grande maioria das pessoas ainda fica presa a filmes e séries dos EUA.
Por sorte, tem muitos festivais online acontecendo. Um deles é a Mostra de Cinemas Africanos, que foi onde eu vi "A Garota do Moletom Amarelo".
Ninguém Sai Vivo
2.4 201Muito inteligente usar a questão da imigração ilegal como pano de fundo - me lembrando, inclusive, o filme O Que Ficou Para Trás, também disponível na Netflix.
O começo tem uma surpresa quando a gente vê uma personagem falando português ao telefone (uma escolha que não é aleatória, já que o número de brasileiros entrando ilegalmente nos EUA aumentou 5 vezes no último ano).
Ambar, a nossa protagonista, vai em busca do "sonho americano", mas acaba encontrando um verdadeiro pesadelo em seu caminho. Além da pensão macabra, tem de lidar com um emprego péssimo, a solidão, a falta de dinheiro, a indiferença dos americanos e até uma colega golpista.
Gosto muito da atmosfera do filme, de como ele constrói uma casa velha, sombria e que a gente sente ter algo de muito errado, mesmo com o anfitrião Red bancando o bonzinho.
Mas, mesmo partindo de uma boa ideia, Ninguém Sai Vivo esbarra em um problema grave: muitas coisas são jogadas de qualquer jeito sem nenhuma base ou desenvolvimento. É claro que o espectador não precisa ter tudo mastigadinho, mas da forma que fizeram ficou muito mal-construído.
Por exemplo, sabemos que a criatura foi encontrada em uma das escavações do pai de Red no México, mas o que é aquilo afinal? O demônio de uma civilização antiga? Qual a razão de Ambar ter sua vida poupada pelo monstrengo?
Eu até recomendaria para um amigo, mas antes deixaria o alerta de que o longa tem problemas e está longe de ser um daqueles filmes de terror da safra de Corra, Nós, Hereditário, Midsommar, Babadook, A Corrente do Mal, entre outros. Diria que está mais para a cara de um James Wan da vida...
Na Ponta
4.8 3Filmão! Uma grata surpresa que assisti no Festival de Cinema Russo. Nunca imaginei que um filme sobre esgrima me deixaria tenso, mexeria com minhas emoções. É interessante refletir como o Esporte tem a capacidade de unir pessoas: as rivais tornaram-se aliadas, quase amigas, eu diria. No começo,
morria de ódio da Kira porque via ela como uma jovenzinha metida e super mala. Mas, depois que se lesionou na disputa, fiquei com raiva mesmo era da esgrimista veterana porque tava na cara que ela fez de propósito kkkk
A edição do filme é show. Tão ágil como uma disputa de esgrima! Em certos momentos, a gente sente como se estivesse ali entre as duas. Muito legal também ver as Olimpíadas do Rio na tela (claro que não filmado aqui).
Ponto também para a representatividade nessa história com forte protagonismo feminino. Em um país tão machista e conservador como a Rússia, a cena em que as esgrimistas se unem contra o treinador autoritário e grosseiro é simbólica - afinal, um técnico que compara seus atletas com macacos não é o melhor exemplo da profissão. E repare bem que é algo que vai se construindo durante o filme: no começo, uma delas, incomodada com o tratamento, até ensaia uma rebeldia, mas "cai na real" e diz que ali é cada um por si... Até que vem essa cena maravilhosa!
Fiz questão de sair recomendando "Na Ponta" por aí e consegui convencer pelo menos uma pessoa a assistir: meu professor de russo, que diz ter adorado!
Tomara que mais gente descubra essa pérola porque é triste ver apenas mais um comentário aqui no Filmow. Estarei fazendo a minha parte com o tradicional boca a boca!
Céu Vermelho-Sangue
3.0 483 Assista AgoraAssisti a esse filme no celular durante uma viagem de ônibus de São Paulo a Londrina e gostei bastante. Me prendeu com o seu suspense, ação, reviravoltas e tem uma abordagem legal do
subgênero de vampiros. Foi muito boa a ideia de colocar isso dentro de uma trama de terrorismo/sequestro de avião.
Rendez-vous
2.9 4Fico imaginando a reação de quem "caiu de paraquedas" nesse filme, sem ter lido a sinopse ou visto o trailer. Tudo indica que vai ser um romance e, de repente, a coisa vai ficando meio sinistra, a história vira de cabeça pra baixo e se torna um suspense onde a gente não sabe quem é vilão e quem é vítima. Tá aí um ótimo exemplo de transição entre gêneros que poderia ser usado até mesmo em faculdades de cinema.
Gostei muito da dupla de atores, da direção, do roteiro, de ser feito em preto e branco. Tem algumas situações forçadas que são até compreensíveis e necessárias para a história andar,
tipo o Eduardo permitir que as visitas entrem na sua casa com a Lili sequestrada lá. Uma pessoa que planejou isso por tanto tempo jamais correria esse risco.
(Filme assistido no Festival Internacional de Cinema Fantástico - Cinefantasy)
O Porão
2.3 2Lembra bastante um daqueles filmes independentes que a Netflix compra, coloca o selo "Original Netflix" e lança no streaming - e isso não é um defeito!
O longa tem todos os ingredientes necessários para um bom entretenimento. Tensão, mistério, drama e até um pouco de humor na família que briga sem parar (achei eles bem irritantes e infantis, mesmo sabendo que uma situação extrema como essa certamente leva a conflitos).
O fato de se passar na Coreia do Sul - que tem seu histórico de "tretas" com a Coreia do Norte - torna o cenário perfeito. Tentei imaginar o filme ambientado nos EUA, mas não consegui.
Em alguns momentos, o sofrimento da família enclausurada no portão me lembrou o isolamento que a Covid nos impôs. Com a grande diferença de que em casa temos geladeira cheia, cama gostosa, internet, Ifood e uma série de luxos que os nossos personagens não têm no esconderijo. Por outro lado, a angústia, a dor, a paranoia e o medo de um inimigo invisível (no caso do filme, a radiação e, na vida real, o vírus) são muito semelhantes.
Não será uma grande surpresa se, enfim, encontrarmos o filme entre os "originais Netflix" daqui a alguns meses. E serei uma das pessoas que vai indicá-lo como um passatempo de fim de semana.
Carro Rei
2.9 26"Carro Rei" tem muitas similaridades com o icônico Bacurau: distopia futurista, Nordeste brasileiro servindo de cenário e, claro, muito a dizer sobre o nosso Brasil.
É inegável a semelhança entre os seguidores do Carro Rei e os fanáticos bolsonaristas. Até o hino nacional dá as caras em um momento de "êxtase automobilística" onde pessoas e máquinas parecem tornar-se uma só criatura. E você não ouviu errado - no discurso da praça, o Zé Macaco (interpretado pelo genial Matheus Nachtergaele como um homem que vai ficando cada vez mais selvagem e violento) solta um "Caruaru acima de tudo". Quem mesmo fala isso na vida real?
Os nomes do personagem tampouco são escolhidos por acaso. Além do Zé Macaco (que serve tanto para o primata como para o "macaco" do carro), nosso protagonista chama Uno (nome de carro) e a artista performática, Mercedes (marca de luxo). Já a mocinha que tira sua força da natureza e a ela dedica sua vida se chama Amora (nome de fruta).
Apesar de filmado em 2019, o filme consegue antecipar discussões que ganharam força em 2021. Mercedes escolhe estátuas de ditadores e figuras repressoras da história para fazer suas performances. Uma delas justamente onde? Na estátua do Borba Gato que foi incendiada recentemente!
Vencedor do Festival de Gramado e apontado como um dos longas nacionais mais promissores do ano, Carro Rei capricha no visual, na criatividade (eu nunca pensaria em uma trama assim!) e também na maluquice. Se prepare para cena de sexo entre uma mulher e um automóvel!
PS: Não posso deixar de notar também o fato de ser um filme dirigido por uma cineasta mulher. Representatividade é sempre bem-vinda!
(Filme assistido no Cinefantasy, Mostra Internacional de Cinema Fantástico)
Meu Pai Marianne
3.2 1"Meu Pai Marianne" é um daqueles feel good movies. Filmes fofinhos e familiares com finais felizes que te fazem sentir bem. O legal é que aqui trouxeram a questão da transfobia de maneira muito sensível. Um padre sessentão referência na comunidade que se assume como Marianne e passa a usar roupas femininas.
Me identifique bastante também com a Hanna, a protagonista sem emprego, sem amigos, sem sorte no amor e incerta sobre os rumos da vida.
Uma pena que ninguém aqui no Filmow tenha comentado ainda. É um filme divertido que merece ser mais conhecido.
(Filme assistido no Festival Internacional de Cinema LGBTI)
O Outro Lado da Rua
3.5 96E eu, achando que o filme iria ficar na trama policial mostrando a Regina descobrindo os podres do Camargo, fui surpreendido! A história toma um rumo inesperado e vai mais pro drama/romance sobre como é envelhecer.
Exemplar de qualidade do nosso cinema nacional, com grandes atuações da sempre ótima Fernanda Montenegro e de Raul Cortez.
Pequena Garota
4.2 9 Assista AgoraComo seria FODA se toda criança LGBTQIAP+ tivesse uma família como a da Sasha! Pais e irmãos que acolhem, apoiam, confortam e lutam ao seu lado.
É muito bonito sentir o amor da mãe pela Sasha que, embora tenha apenas 7 anos, já mostra ser uma garota bastante madura e consciente do preconceito que enfrenta. Acredito que toda família com alguma criança trans deveria assistir a esse documentário e se sentir tocado por essa história.
O que mais me chamou atenção foi o preconceito na escola. Um espaço que deveria ser de libertação, aceitação e crescimento pessoal se torna um local de opressão, de desprezo pela Sasha e sua identidade de gênero. E olha que a história se passa na "moderna" França. Imagina como deve ser isso no Afeganistão, na Chechênia, no Sudão ou qualquer outro local onde as pessoas são impedidas de serem elas mesmas.
(Filme assistido no Festival Internacional de Cinema LGBTI+)
Culpa
3.9 355 Assista AgoraO interessante aqui é o formato. A história toda contada através de ligações para a polícia e a gente fica imaginando toda a ação acontecendo. Um filme bem envolvente, humano e surpreendente.
Fica aí pra gente pensar. Se o policial não tivesse confessado o crime, provavelmente a mulher teria se jogado do viaduto. Graças à confissão, ela criou um vínculo com ele e percebeu que todos cometem erros.
A Mata Negra
3.2 99Gosto muito do Rodrigo Aragão, mas me decepcionei bastante aqui. Super desinteressante, personagens chatíssimos e sem carisma, muita coisa literalmente cuspida na história sem o mínimo de coesão. A impressão é que bateram no liquidificar várias ideias, juntaram tudo e a mistureba virou "A Mata Negra".
Uma pena... Tomara que nos próximos filmes a gente volte a ver o Rodrigo Aragão de Mangue Negro e As Fábulas Negras
Como Hackear Seu Chefe
2.7 37Bobinho.... e SUPER DIVERTIDO! Me identifiquei e ri muito com várias situações do filme. Nosso mundo do trabalho home-office cheio de troca de e-mails, reuniões (ou "calls", pros mais americanizados), chamadas de vídeo, etc.
É aquele negócio: desligar o cérebro dos problemas e curtir sem medo de ser feliz.
Um Lugar Silencioso - Parte II
3.6 1,2K Assista AgoraTão bom quanto o primeiro! Além da tensão, aqui a gente tem mais ação, o talento de Cillian Murphy e a interação dos personagens com outros humanos. Mas, pra mim, o maior destaque continua sendo a atriz Millicent Simmonds, que é uma pessoa com deficiência auditiva também na vida real. Ela arrasa muito, faz uma garota cheia de coragem, força, inteligência e determinada a fazer o que for preciso para proteger sua família. Espero que as portas de Hollywood estejam abertas e a gente possa vê-la em mais filmes.
Caminhos da Memória
2.8 216 Assista AgoraAntes de ver o filme, fiquei sabendo que era dirigido por Lisa Joy, cunhada do Cristopher Nolan. Não sei se essa informação me influenciou, mas eu só conseguia ver o estilo do diretor de A Origem no visual, no roteiro, nos diálogos, na construção dos personagens, nos efeitos especiais.
Gostei da representação do nosso mundo em crise. O colapso climático transformou Miami em uma Veneza corrupta, suja e decadente, a humanidade trocou o dia pela noite, a desigualdade social seguiu escancarada (os ricos morando na parte seca da cidade), as cicatrizes de uma guerra mundial (não explicada de quem contra quem) estão vivas nos traumas, memórias e diálogos dos personagens. Daqui a alguns anos, poderemos dizer, pela nossa própria experiência, onde o filme errou e acertou em comparação com a realidade.
Apesar do capricho visual, o roteiro meio água com açúcar. Mistura elementos clássicos de ficção-científica e transforma em uma grande mistureba de muita coisa que já vimos em outras produções (A Origem e Matrix, pra citar apenas dois). E tem alguns furos que estão ali só por conveniência pra história funcionar.
Por exemplo, em determinado momento, o protagonista vivido pelo Hugh Jackman (que está bem no papel) vai em busca da Mae e acaba sendo espancado pelo policial corrupto interpretado pelo Cliff Curtis. Ora, por que motivos o vilão deixou passar a oportunidade de matá-lo? Pela sua personalidade, não é o tipo de pessoa que tem piedade dos inimigos.
Se eu recomendaria o filme? Claro, para ver num sábado de noite e ver sem pretensões em casa é uma boa. Agora, arriscar pegar Covid indo no cinema pra ver Caminhos da Memória não vale tanto a pena.
O Processo
4.0 240Conta tudo aquilo que a gente - pessoas bem informadas - já sabe. Mas vale a pena ver e sofrer de novo com esse pesadelo chamado Brasil.
A Nossa Bandeira Jamais Será Vermelha
3.1 24O papel da imprensa no buraco que nos metemos. Um documentário crítico, político, que traz algumas informações sobre junho de 2013 que eu mesmo não sabia (o fato da imprensa ter mudado repentinamente o viés da cobertura, direcionando a fúria para o governo federal). Novidade também a história do jornalista que foi preso sem acusações em Minas Gerais, na gestão do Aécio Neves.
O fato de trazer depoimentos de grandes nomes da comunicação como Noam Chomsky (considerado por muitos o maior intelectual vivo) e o premiado Glenn Greenwald agrega bastante em credibilidade e conteúdo para a produção.
Ninguém pode negar que a imprensa tem, sim, culpa pela ascensão do Bolsonaro. Fomentaram o antipetismo na população durante anos, transformaram a Lava Jato em uma trama novelesca, criaram o mito Moro, trataram as declarações do então deputado Bolsonaro como "polêmicas" em vez de "criminosas", convenceram a população de que o PT é comunista (o que virou quase um palavrão no Brasil).
E o Estadão, nas eleições de 2018, ainda meteu o editorial "Uma escolha difícil", meio que colocando Haddad e o capitão genocida no mesmo saco. Hoje, renegam o filho. É aquela frase "Crie corvos e eles te comerão os olhos".
Enfim, que o documentário chegue às faculdades de jornalismo e também à maior quantidade de pessoas fora da área - inclusive, fica a dica para assistir na Amazon.
Te Vejo em Breve.
3.0 4História envolvente que prende o espectador. Lembrei do filme "Buscando" pela opção em contar o filme através de ações que acontecem no celular/computador.
Só o final que achei um pouco apressado e digamos decepcionante.
Seria mais legal se a Abu fosse alguma criminosa ou alguém querendo passar a perna no Jimmy, um cara bem possessivo, imaturo e apressado nas relações amorosas, diga-se de passagem. O que ela queria, no fim das contas, era sair da situação em que estava e para isso usou o que tinha ao seu alcance. Bastante compreensível a ação dela. Agora imagina o impacto que seria causado no espectador se ela fosse uma filha da p***, se o roteiro fizesse a gente sentir ódio dela da mesma forma que sentimos da Amy em Garota Exemplar? Com certeza elevaria o filme a um outro nível de qualidade.
Tem alguns furos e situações absurdas também. Como, por exemplo, o Jimmy conseguir entrar na sala de vigilância do prédio e roubar as imagens facilmente. Tipo, qualquer edifício coloca um porteiro/segurança para ficar vigiando as câmeras e não deixar ninguém entrar
De qualquer forma, foi legal terem tocado no tema do tráfico e exploração sexual de mulheres, crime que faz em vítimas em grande parte do mundo.
Tá disponível na Amazon e vale a pena assistir num sabadão de noite, no melhor estilo Supercine.
Tenho Medo Toureiro
3.8 34O amor em tempos de ditadura contado com a sensibilidade típica do cinema chileno (especialista em abordar na telona esse período sombrio de sua história)
No final pode-se levantar o questionamento: afinal, não existia amor entre os dois? A resposta mais óbvia é "e sim, era amor". Mas nossa protagonista não tinha espaço no universo revolucionário dele, tão preconceituoso como tudo que conhecia até então. Ir à luta, pegar em armas, enfrentar ditaduras não está entre as prioridades de uma pessoa que só quer, no fim das contas, ser feliz. Logo, a vida dos dois juntos nunca teria sentido..
O elenco está muito bom. O Alfredo Castro, que protagoniza o longa, é tipo um Ricardo Darín deles. Só acho que poderiam ter contratado uma atriz trans para o papel principal, assim como fizeram em Uma Mulher Fantástica, produção também chilena.
7 Caixas
3.9 189 Assista AgoraFilmaço imperdível. Paraguai mostrando que também faz cinema de primeira.
The Forty-Year-Old Version
4.0 31 Assista AgoraFico feliz de ver cada vez mais vozes negras ocupando espaço no cinema, principalmente na direção.The Forty-Year-Old Version é um bom filme e a fotografia em preto e branco combinou perfeitamente.
É só uma pena que o filme tropece na representação de uma outra minoria. O agente gay da Radha, Archie, é totalmente estereotipado de uma maneira que já cansamos de ver em mil filmes e até novelas brasileiras, especialmente em produções que ridicularizam ou usam personagens LGBTs como mero acessório para piadas. Além do estereótipo de gay afeminado e excêntrico, Archie também lança mão de "favores sexuais" para conseguir emplacar alguns dos seus projetos. Aí está outro erro grave: em tempos de Me Too, usar isso como humor (como faz o longa) não é aceitável.
Última Parada 174
3.5 601O Brasil da desigualdade, da violência, pobreza e ausência do Estado em tela.
Confesso que não sabia nada sobre o sequestro do ônibus 174 e o massacre da Candelária. Dois incidentes muito tristes que mostram o ciclo interminável da violência no nosso país. Em 2019, inclusive, o Rio também foi palco do sequestro de um ônibus que resultou na execução do sequestrador pela polícia. Dessa vez, com direito a comemoração com pulinhos do então governador no local do crime.
Como muita gente apontou abaixo, a sequência do sequestro em si poderia ser melhor explorada. Achei legal o filme explorar a história de vida do Sandro e mostrar além do estereótipo de criminoso. O diretor Bruno Barreto poderia ter estendido um pouco mais o terceiro ato, evidenciando o despreparo dos policiais, a cobertura midiática e a relação do protagonista com os reféns.
Um simples Google mostra que alguns detalhes da história foram alterados, o que é, até certo ponto, normal nesse tipo de adaptação.
Eu mesmo assisti ao filme e não tinha entendido que o Sandro não era filho da Marisa. Fui perceber só depois de ler os comentários daqui e ver que, na história real, essa confusão também aconteceu.
Chi-Raq
3.5 45 Assista Agora"Vamos de escolas de terceira para prisões de primeira linha"
Primeira produção original da Amazon, adaptação de uma peça da Grécia Antiga para a Chicago do século XXI - ou melhor, a Chi-Iraq (mistura de Chicago com Iraque). Uma metrópole de conflitos sociais e raciais que, como o próprio filme informa, matam mais cidadãos americanos do que as guerras do Iraque e Afeganistão juntas.
Meio teatral, meio musical, bem-humorado, satírico, com liberdade criativa para idealizar algumas soluções que a gente sabe que na vida real não chegam tão "fácil" assim. Em "Chi-Iraq", Spike Lee, político como sempre, entrega um belo filme. Não só no sentido visual, mas também pela denúncia da desigualdade, racismo e violência que afligem não só Chicago, mas todos os Estados Unidos. Inclusive, vemos alguns cartazes escritos Black Lives Matter, dialogando diretamente com o momento que vivemos.
Samuel L. Jackson quebrando a quarta parede é a cereja do bolo. E o que dizer do discurso do padre interpretado por John Cusack? A junção de um puta texto com uma puta atuação. Um ataque direto aos privilégios de uma elite enquanto a maioria sofre com o desemprego, a falta de acesso à educação, a violência - enfim, com a ausência do Estado. Não pude deixar de pensar que o padre do filme seria taxado de "comunista" e perseguido no Brasil bolsonarista simplesmente por combater as injustiças.
Ótimo filme que é pouquíssimo comentado e lembrado nas rodas cinéfilas.
"NO PEACE, NO PUSSY"