Filme muito bonito e realista sobre a adaptação de uma família sul-coreana à vida nos EUA. Quase um documentário, até porque na introdução do filme a gente já fica sabendo que a história é baseada na vida do diretor Lee Isaac Chung.
"Minari" é, acima de tudo, humano. Família, amor, dinheiro, futuro, reconhecimento. Tudo isso está em jogo na vida do protagonista Jacob (Steve Yeun, famoso por seu personagem de The Walking Dead), seus filhos, sua esposa e sogra. A gente sabe que o Jacob ama a família, mas fica nítido que coloca suas ambições pessoais na frente do bem-estar deles.
Quem rouba a cena é o pequeno Alan Kim, na pele do David. Muito fofo, divertido, carismático e inteligente! Aquelas cenas em que tenta imitar o grito do pai e fala que a avó não é uma avó de verdade são ótimas. Desde cedo, já mostrando tanto talento. Já pensando no Oscar, é justo que o filme receba indicação tripla nas categorias de atuação. Melhor Ator para Steven Yeun, Melhor Ator Coadjuvante para David S. Kim e Melhor Atriz Coadjuvante para Yoon Yuh Jung (a vovó que "não é vovó de verdade" rs).
Infelizmente, considerando o histórico da Academia, acredito que o pequeno David S. Kim acabará esnobado. Digo isso porque, em 2016, Jacob Tremblay teve uma das melhores atuações do ano no filme "O Quarto de Jack" e foi esquecido no churrasco. Estarei na torcida pra que o mesmo não aconteça agora em 2021.
Coincidente, eu tive essa ideia lá em 2016/2017 em um momento de embriaguez. O diretor Thomas Vintenberg, o mesmo de "A Caça" (um dos longas mais impactantes que já vi), foi mais rápido que eu e transformou a pergunta em filme, buscando até uma teoria para validá-la.
Muito divertido ver como, no começo, o álcool torna tudo melhor na vida dos quatro amigos frustrados. As aulas de Martin saem da chatice, da morosidade e se tornam dinâmicas, participativas. É a motivação que estava faltando. Vendo os efeitos positivos, por que não aumentar a dose?
É aí que a conta chega... O que também "livra" o filme de ser acusado pelos moralistas de plantão de glamourizar o consumo excessivo de álcool. Algo que lembra o clássico Trainspotting. Filme no qual também vemos as "maravilhas" e "delícias" do consumo de heroína até que TCHÃ! Um acontecimento sem volta puxa os nossos protagonistas para a dura realidade.
Mads Mikkelsen, mais uma vez, mostra como é um ator foda. A cena final dele dançando é a melhor do filme, um momento de pura liberdade e descarrego do personagem. Se tivesse grana infinita pra fazer o meu próprio filme, super chamaria ele pra compor o elenco - o que o cara fez no já comentado "A Caça" não é pra qualquer um.
"Outra Rodada" (título em português do filme) ficou na minha cabeça dias depois de ter assistido. Mais especificamente as cenas de êxtase embaladas pela música What a Life, de Scarlet Pleasure. A escolha foi cirúrgica! Combinou certinho com o clima do filme e tenho certeza de que vai ficar na cabeça de quem está lendo esse texto também.
♫ What a life, what a night ♫ ♫ What a beautiful, beautiful ride ♫ ♫ Don't know where I'm in five but I'm young and alive ♫ ♫ Fuck what they are saying, what a life ♫
Terror genuinamente nacional com muito sangue, índios, europeus colonizadores, satanismo e fundamentalismo religioso. O grande show é a maquiagem, que não fica devendo em nada para as produções hollywoodianas: os monstrengos do filme se parecem com os orcs do Senhor dos Anéis, tamanho o capricho.
A montagem é um pouco confusa. Tem um momento estilo "A Origem" (rs) com um sonho dentro de um sonho - ou um sonho atrás de outro sonho, não sei. Apesar de ser o filme com o maior orçamento da carreira do Rodrigo Aragão (R$ 2 milhões), não é um dos mais divertidos. Se fosse fazer um TOP 3, colocaria Mangue Negro, Mar Negro e As Fábulas Negras, ou até mesmo A Noite do Chupacabras.
Rodrigo Aragão é um cineasta único no terror nacional, o herdeiro legítimo de José Mojica Marins, embora os filmes dele sejam bem diferentes daqueles do Zé do Caixão. Tenho fé de que vem muita coisa boa por aí.
A beleza da vida está nos pequenos detalhes. Comer uma pizza, sentir o vento no seu rosto, receber o abraço da mãe e uma calça costurada com carinho, ganhar um brinde do barbeiro. Coisas simples que parecem banais, mas que, na verdade, não têm preço. Acredito que essa seja a grande mensagem do filme.
Muito feliz em ver o primeiro protagonista negro em um filme da Pixar/Disney, ainda mais sendo alguém tão cativante como o músico Joe Gardner. Ponto para a representatividade!
Eu queria ter só 10% da criatividade da Pixar. Incrível como eles conseguem sair da casinha e conceber tramas bastante originais, divertidas, pensadas tanto para adultos como crianças. Eu mesmo ri alto e sozinho em dois momentos:
1) Joe e 22 totalmente atrapalhados saindo do quarto no hospital logo depois que a troca de corpos é feita. 2) 22 beijando a tia de Joe na boca.
Por outro lado, traz discussões bem adultas que provavelmente passam despercebidas pelas crianças. Exemplos: O dilema Estabilidade profissional/financeira X ousar e correr atrás dos seus próprios sonhos (Joe sonha em ser parte de uma banda de jazz, mas sua mãe pressiona para aceitar o emprego como professor de música), e vícios e obsessões tomando conta da vida (como no caso da alma presa "no trabalho").
Pra um filme de romance funcionar bem, você precisa criar empatia, se conectar com os personagens, torcer pela união deles. Infelizmente, não consegui ter essa experiência com Seu Nome Gravado em Mim (o "Seu Nome" no título foi uma tentativa de fisgar os fãs de Me Chame Pelo Seu Nome? rs).
Achei que a montagem prejudicou o resultado do filme, apesar dos atores esforçados e talentosos. Muitas idas e vindas na história... Não foi uma boa ideia colocar o menino contando a história para o padre (recurso super clichê também).
Muito inteligente da parte deles terem inserido um subtexto de relacionamento abusivo a esse tradicional personagem de terror. Isso sim que é modernizar, atualizar um clássico com maestria - eu mesmo me lembro de ter assistido à versão com o Kevin Bacon na Globo quando era criança.
A gente vê a protagonista (brilhantemente interpretada por Elisabeth Moss) se levantando no meio da madrugada, driblando um monte de câmeras, alarmes e um muro e logo se dá conta de que tudo isso não é, necessariamente, para proteger a propriedade de um inimigo externo - mas, sim, para mantê-la enclausurada e vigiada nessa verdadeira fortaleza tecnológica.
O filme traz uma sensação de agonia, tensão e desespero bem forte. A gente se sente no lugar da personagem, observando um cômodo vazio, uma parede, imaginando se o Homem Invisível está ou não ali. Uma experiência bem bacana de terror e suspense. Achei legal que, mesmo parecendo louca para os demais, a Cecilia nunca questiona sua própria sanidade. Ela sabe que está certa, afinal, sabe o grau da psicopatia, imprevisibilidade, obsessão e inteligência do seu ex-marido.
O final é perfeito. Não mudaria nada. A gente se sente vitorioso e aliviado junto com a Cecilia. Muitos roteiristas e diretores teriam caído na tentação de deixar o Adrian escapar impune como a vítima da história como forma de já engatar uma continuação. Leigh Whannell, que eu sempre vou lembrar por sua participação na série Jogos Mortais, não caiu nessa. O que é muito bom - mas, por um lado, me deixa pensando se teremos uma sequência, já que não ficaram pontas soltas. Se eu assistiria um Homem Invisível 2? Se tiver Elisabeth Moss e o mesmo capricho na direção e roteiro, com certeza!
O filme começa tropeçando, melhora no meio e termina super bem!
Nesse caso, achei que enrolaram muito tempo no começo. Claro que precisa mostrar um pouco dos personagens, apresentar eles se conhecendo, etc. Mas demora muito para chegar na parte da produção dos bolinhos e da vaca. É aí que tudo fica mais interessante e a gente passa a acompanhar a história com um olhar mais atento. No fundo, é a história de uma bonita e improvável amizade de duas pessoas tentando ascender socialmente num mundo hostil para eles.
Imagino que alguns vão dizer que o longa não tem um final, sendo que, na verdade, ele termina exatamente onde tem de terminar
São tantos filmes de super-herói lançados recentemente que os novos precisam ter algo que se destaque dos demais para serem atrativos. Mulher Maravilha 1984 não tem isso.
O roteiro, ambientado nos anos 80 durante a Guerra Fria, parece saído de um X-Men - dos fracos ainda, tipo o Apocalipse. O humor não funciona (alguém deu risada do Steve Trevor se atrapalhando com uma escada rolante?) e o romance, como é regra em filme de super herói, é chatíssimo e só ocupa tempo de tela que poderia ser usado para outras coisas.
O desenvolvimento da Mulher Leopardo é muito ruim. Motivação super fraca, cartunesca e clichê. Deveriam ter guardado a personagem pra ser a antagonista principal em um próximo filme, não a vilã secundária. O final então...
jura que conseguiram convencer o mundo a abrir mão dos seus desejos e sonhos? As pessoas da década de 1980 eram mais empáticas do que as pessoas de agora, que fazem festas, viajam a lazer e não usam máscara em plena pandemia? A Barbara do nada escolheu ser meio leopardo e meio humana? Maxwell Lord desistiu do plano de dominação mundial pra cuidar de um filho que ele nem ligava? Parece coisa de Sessão da Tarde
A diretora Patty Jenkins disse, em entrevista, que o vilão Maxwell Lord foi inspirado em Donald Trump. E, realmente, ficou bem parecido! O cabelo, os trejeitos, a maneira de falar, o fato de ser um ricaço com presença na TV, a aparência (com a diferença de ser mais jovem e magro). Em dado momento, ele até fala "You are hired" (Você está contratado), lembrando o clássico "You are fired" (Você está demitido), do reality show O Aprendiz, apresentado por Trump. Mesmo que o personagem seja meio tosco e bobo, achei legal e divertida a referência. Consegui gostar dele por causa disso.
Os efeitos especiais melhoraram bastante do primeiro filme para esse. A sequência de abertura, mostrando uma espécie de olimpíadas das amazonas, é LINDA. Tem cenários que eu adoraria ter visto na tela grande do cinema. Gostei muito também da cena da estrada no deserto à la Mad Max, embalada pela já icônica música-tema da Mulher Maravilha.
Vejo muita gente criticando a Gal Gadot como atriz, mas gosto bastante dela. Acho que se deu super bem como Mulher-Maravilha e torço para que consiga ir além disso. Que consiga bons papéis e mostre seu talento em filmes de drama, suspense, romance, terror... Enfim, que sua carreira deslanche no cinema.
Não conheço nada de rap, samba ou da carreira do Emicida, mas adorei o protagonismo negro, toda a parte de história e cultura.
O documentário é tecnicamente admirável, mesclando belíssimas cenas da apresentação no Theatro Municipal com imagens de arquivo e até animações. Mostra a força, a luta e a importância dos negros para a construção desse país chamado Brasil, bem como as injustiças e dores que sofreram e ainda sofrem.
Produção super atual, ainda mais em um ano de Black Lives Matter. O documentário surpreende ao abordar, ainda que de maneira breve, a crise do coronavírus (eu jurava que as filmagens tinham sido finalizadas antes da pandemia). E, em mais um triste reflexo da desigualdade racial e social, o longa confirma aquilo que vemos nos números: os negros são os mais vulneráveis à doença. Na cidade de São Paulo, a mortalidade entre negros é de 172 óbitos por 100 mil habitantes, enquanto da população branca foi de 115 mortes a cada 100 mil, segundo dados do Instituto Pólis, divulgados pela Agência Brasil em agosto.
Fico imaginando se o documentário fosse produzido ao mesmo tempo em que teve o assassinato do João Alberto. As datas não bateram, mas com certeza a discussão ficaria ainda mais rica e impactante ao abordar a história do homem que morreu 2 vezes. A primeira quando foi espancado covardemente até a morte. A segunda quando, também covardemente, passaram a julgar seu passado e alguns, inclusive, a justificar o homicídio com base em supostas informações de que João Alberto teria ficha criminal. Os racistas não respeitam os negros em vida e, muito menos, na morte.
Graças ao documentário, conheci Lélia Gonzalez - engraçado que conhecia Angela Davis de nome, mas Lélia nunca tinha ouvido falar. Por que não estudamos nada sobre o movimento negro brasileiro nas escolas?
Fiquei pensativo com a frase do Simonal. Ele falando que torcia pro filho não ter que enfrentar as mesmas barreiras que a sua geração. Claro que muita coisa mudou, mas ainda tem um longo caminho a ser percorrido, com obstáculos enormes como preconceito, ódio, injustiça e desigualdade. Mas, como diz o rap "Pantera Negra", do próprio Emicida, "Com a garra, razão e frieza, mano// Se a barra é pesada, a certeza é voltar".
Uma fórmula que a gente já viu em vários filmes de Hollywood, mas que aqui ganha um gostinho especial graças ao tempero brasileiro. No lugar de Adam Sandler ou um Jack Black da vida, Leandro Hassum - um comediante talentoso, apesar de eu não ter a mínima vontade de ver filmes como O Candidato Honesto e Até que a Sorte nos Separe. Na ceia de Natal, elementos genuinamente brasileiros, como a piada do pavê e o Roberto Carlos. Faltou o "amigo da onça" pra ficar ainda mais a cara das ceias brasileiras.
No mais, é um longa bem divertido, gostoso de ver, emocionante, humano, como costumam ser as produções natalinas. Faz a gente refletir sobre as relações familiares e humanas. Não por acaso, foi um dos filmes mais vistos da Netflix no exterior.
É legal reparar o cuidado que a produção teve com a passagem de tempo. O protagonista Jorge muda bastante de aparência com o decorrer dos anos: engorda, deixa o bigode, tira o bigode, muda o cabelo, envelhece. Ponto para a equipe de maquiagem e figurino!
The Sound of Metal (título acertadamente adaptado como O Som do Silêncio no Brasil) é aquele filme que você escuta falar bem e, quando vai assistir, percebe que é bom mesmo!
Ruben é um personagem obsessivo... Obsessivo com a sua carreira de baterista, com uma vida que ele se recusa a perceber que não vai ser mais como antes. Meio que a contragosto, aceita ir para a instituição do carismático Joe. A primeira impressão que temos dele ali é de que não vai se encaixar no grupo, que vai continuar deslocado, sem aprender a se comunicar com os seus colegas surdos. Algumas cenas depois, lá está Ruben, brincando com as crianças, dando aula de bateria, conversando com considerável fluidez na linguagem dos sinais.
O problema é que a obsessão pela vida como a conhecia não vai embora.
Na ingenuidade, imagina que um implante restauraria sua audição como era antes. Ledo engano....
Filme bem intimista, humano sem apelar para o sentimentalismo ou lições de morais baratas. Se tivesse que resumir em uma frase, diria que é uma história sobre autoaceitação, sobre adaptar-se a uma nova realidade. Imagine o que é perder a audição para um baterista! Seria como um chef de cozinha perder o paladar, um jogador de futebol perder o movimento das pernas, um fotógrafo perder a visão... por aí vai.
Riz Ahmed está incrível no papel. Não vi outras atuações dele para comparar, mas aqui o ator se entrega de corpo e alma ao personagem Ruben. Um trabalho, inegavelmente, exemplar de atuação. Super merece uma indicação ao Oscar, assim como Paul Raci, humano, sensível e, ao mesmo, dono de palavras firmes como Joe.
Excelente também o trabalho de som. Mas, enquanto via o filme, fiquei com a impressão do que o diretor poderia ter ousado e se arriscado um pouquinho mais. Seria genial se fôssemos colocados na perspectiva pessoal de Ruben e, assim como ele, parássemos de ouvir os sons - ouviríamos o que ele ouve, deixaríamos de ouvir o que ele deixa de ouvir (assim como foi feito nos momentos em que está com o implante). Sem dúvida, O Som do Silêncio se tornaria uma experiência sensorial única, impactante e imersiva.
E que final hein? Quer mensagem mais poderosa sobre autoaceitação do que essa? Muito bonita também a conversa de Joe com Ruben quando ele volta para a instituição após o procedimento. A surdez, para as pessoas dali, não é um defeito ou motivo de vergonha. É uma maneira diferente de viver e explorar o mundo. Filme dos bons em um ano merda como 2020!
Tio Frank é o que normalmente se chama de "feel good movie": aquele filme que você assiste num fim de ano para se sentir bem. É bonitinho, esperançoso, com boas atuações, roteiro bem amarrado, história com calor humano, mensagem familiar, lição de vida, final feliz. E acaba aí mesmo... Poderia ser impactante, memorável, daqueles que você termina de assistir e pensa "puts, tô meio tonto aqui".
Mas tudo bem. Nem todo filme é feito pra ser assim. Tio Frank cumpre ali sua função de contar uma boa história e super indico para outras pessoas.
A cena mais impactante é, sem dúvida, a leitura do testamento. As palavras do pai do Frank são muito duras e tristes. É difícil não se imaginar no lugar dele, sentir a dor, a vergonha, a humilhação.
Li a sinopse, fiquei intrigado e decidi assistir, mas a verdade é que esperava bem mais. Não souberam trabalhar o mistério em cima da morte do ricaço e nem distribuir "pistas" nas três versões sobre o assassinato. A gente termina sem entender o final. Uma pena. Tinha tanto potencial e acaba sendo bem fraco.
Filme extremamente necessário e urgente de ser assistido por todos. Dói ver o peso do machismo, da masculinidade tóxica e da cultura do estupro na vida de Autumn e sua prima. O xingamento de "vadia" na apresentação musical, o pai, o chefe no mercado, o cliente no caixa, o estranho se masturbando no metrô, o garoto "educado" do ônibus (sim, o machismo também aparece na forma de "cavalheiros" insistentes). Isso para não falar do conservadorismo e da hipocrisia religiosa, aqui retratada pela médica que tenta dissuadir Autumn do aborto com um vídeo estúpido e a manifestação em frente à clínica.
Um dos melhores longas que vi no ano. Assisti, fiquei com ele na cabeça e já recomendei para mais pessoas. Será uma enorme injustiça se as grandes premiações hollywoodianas não indicarem Never Rarely Sometimes Always nas categorias principais - e aqui falo, especialmente, das atrizes Sidney Flanigan (Autumn) e Talia Ryder (a prima Skylar).
Vendo o filme, não pude deixar de me sentir triste pensando em como a descriminalização do aborto avança a passos de tartaruga. Ao mesmo tempo em que vemos nossos vizinhos argentinos discutindo e aprovando na Câmara dos Deputados uma legislação nesse sentido, estamos muito, muito distantes de descriminalizar o aborto no Brasil.
É interessante ver também como a Nova York foi construída aqui. Muito distante da cosmópole colorida e cheia de vida que vemos em muitos filmes. A NY de Never Rarely Sometimes Always é uma cidade fria, pouco acolhedora, onde você é só mais um na multidão.
Para mim, na cena do questionário ficou muito claro que Autumn era abusada pelo pai e foi engravidada por ele. Digo isso pela resposta dela se foi forçada a ter relações sexuais. Já tínhamos visto que o cara era um machista escroto e, o fato de ele abusar da própria filha, "casa" muito bem com a proposta do filme de mostrar que o machismo e a cultura do estupro também estão dentro de casa. Algumas pistas podem endossar essa teoria: ela ligar pra mãe e não conseguir contar o que está acontecendo, o fato de em nenhum momento ser feita referência ao suposto pai da criança, especialmente por parte de Skylar, como se ela já soubesse que a prima é vítima de abuso.
Excentricidade e criatividade em um filme com personagens que parecem ter saído da mente do Wes Anderson. Uma família de trambiqueiros cheia de tiques e esquisitices que vive de pequenos golpes. A protagonista Old Dolio é interpretada genialmente por Evan Rachel Wood, que cria trejeitos únicos em sua postura corporal e expressão praticamente de paisagem. Além do figurino, que a veste sempre com roupas longas, típico de uma pessoa introvertida e, de alguma forma, reprimida pela criação inusitada que recebeu.
Não diria que é um defeito, mas, pela própria bizarrice dos personagens, nada parece real no filme. O comportamento das pessoas, as situações, os diálogos, os golpes... nada é crível de acontecer no mundo como o conhecemos - o que, repito, não é necessariamente um ponto negativo.
O começo é melhor do que o meio e o fim, mas, mesmo assim, o resultado é bastante positivo. Ali a gente vê dois personagens que, embora estejam nas ruas como garotos de programa, são bem diferentes.
Mike não tem pra onde correr, distante da família, suplica dinheiro a mais para os clientes, depende dos programas para sobreviver, está à procura da mãe. Scott é de família rica, filho do prefeito, parece viver a vida de GP mais como um ato de rebeldia. E isso, inevitavelmente, acaba sendo crucial para o destino dos dois:
Scott se apaixona e abraça os luxos e privilégios que até então rejeitava, enquanto Mike, abandonado pelo melhor amigo e crush, continua perdido na estrada da vida.
Muito triste a morte tão precoce do River Phoenix. Um ator lindo e talentoso que nesse filme está a cara do David Bowie. Keanu Reeves, queridinho dos cinéfilos, mais uma vez mostra seu talento - e a falta que faz vê-lo em mais filmes assim.
Quer dizer que, antes de aterrorizar os moradores de Bacurau, Udo Kier se envolvia com garotos de programa em hotéis de beira de estrada?
O longa tem um ar teatral bem evidente - muitas vezes os personagens aparentam estar num palco, declamando poesia e falas de peças. Coisa do Gus van Sant, com certeza. Adorei também a cena deles na capa de revista. Criatividade mil!
Filme divertido e gostoso para ver agora na véspera do Natal!
Uma legítima dramédia, mistura de drama com comédia. Me senti muito na pele da Abby porque também não curto essas festas de fim de ano e sempre ficava deslocado nos eventos em família rs. Dá uma raiva de ver como a família da Harper é esnobe, metida e egocêntrica, tratando ela como uma pobre coitada órfã. Em alguns momentos, me lembrou até o terror "Corra" (kkk), até pela semelhança da Mackenzie Davis com a Allison Williams.
Kristen Stewart manda muito bem em cena. Ela é uma atriz super talentosa. Só não gosta quem parou lá em 2008 e ainda fica com a imagem do Crepúsculo na cabeça.
É uma história que com certeza acontece muito nas cerimônias natalinas. Membros da família se esforçando para manter as máscaras e, não duvido, até apresentando um ficante como amigo para não despertar a rejeição dos familiares.
Muita bonita também a homenagem ao clássico "A Felicidade Não se Compra". Grata surpresa em um ano tão difícil como 2020 - não só para o cinema (que viu lançamentos escassos), mas para todos nós.
PS: esse título que tá no Filmow é o título do filme no Brasil mesmo? KKK se for, tá péssimo. Como um amigo sugeriu, seria BEM MELHOR se fosse "A Felicidade Não se Vende". Referência ao clássico e também casaria bem com a temática do filme, com uma família tentando "vender" uma imagem falsa de si mesma.
Produção original da Amazon que parece um episódio de Black Mirror. Tecnologia além da nossa compreensão, dilemas morais, ganância humana... Os ingredientes são os mesmos.
"Black Box" cumpre seu papel. Instiga, entretém com surpresas aqui e ali e tem seus momentos que flertam com o terror. É legal ir descobrindo, pela perspectiva do protagonista, a verdade por trás do acidente e da perda de memória. Destaque para o elenco 100% negro em um filme cujo tema não é o racismo - coisa difícil de se ver no cinema (ponto para a Amazon!).
É aquela coisa... O longa é bom, mas fico imaginando se o projeto tivesse caído nas mãos de um diretor como o Jordan Peele. Com certeza, "Black Box" teria outro patamar.
Fica a dica: se você é aquele tipo de pessoa que, como eu, passa décadas caçando algo para ver no streaming, "Black Box" é uma opção bacana para ver sem grandes compromissos.
É aquela coisa né: é igual a 99% dos slashers. Tudo que tem no filme já vimos em outras produções. Nem por isso deixa de ser divertido de assistir. É envolvente e tem boas cenas.
A comparação é inevitável: o isolamento do personagem lembra exatamente o isolamento que estamos vivendo nessa pandemia (eu, pelo menos, estou isolado desde março para preservar a minha vida e a do próximo).
No lugar dos zumbis, um inimigo invisível, sem cor, sem cheiro, que pode estar na maçaneta, na embalagem de leite do supermercado, no botão do interfone do prédio, na pizza que veio pelo Ifood. Mas o medo é o mesmo.
Cinema sul-coreano sempre entrega bons exemplares e aqui não é diferente.
Gosto bastante de filmes ambientados em hospitais psiquiátricos. Existe algo de misterioso e intrigante na mente humana. O elenco, então, é show! Jim Sturgess, Kate Beckinsale, Ben Kingsley, Michael Caine, David Thewlis, todos ótimos!
Tem umas reviravoltas e uma atmosfera de suspense bem bacana. A qualidade técnica do filme não deixa a desejar em nada. A única coisa que me incomoda é a parte romântica exagerada.
Apesar de se passar no México, lembra bastante o Brasil, hein!
A imprensa a $erviço de quem está no poder. Histórias impactantes criadas da noite pro dia para desviar a atenção da população. Ataques armados a opositores políticos. O Estado lado a lado com o narcotráfico. O governador corrupto com aspirações presidenciais.
Podia ser um pouco mais curto? Podia, o filme até chega a cansar em alguns momentos. Mas vale a pena ver na Netflix enquanto está disponível!
Fazia tempo que um filme de terror não me deixava assustado (mais no sentido de incomodado do que com medo). A tensão é muito bem construída, com o cadáver da jovem exposto durante todo o longa.
O engraçado é que a gente tá tão acostumando com clichês que fica olhando esperando o corpo se levantar, se mexer, virar a cabeça rs. Talvez por não fazer isso, o clima fica ainda mais aterrorizante
As atuações também são muito boas. Emile Hirsch andava meio sumido da indústria, principalmente depois de ser preso por agredir uma executiva de cinema no Festival de Sundance. A relação pai-filho chega a ser uma coisa muito bonita ali no filme, com forte cumplicidade, confiança e companheirismo entre os dois.
Eu gosto de filmes que se passam majoritariamente em um único cenário: aqui, o necrotério da família. Recomendo facilmente A Autópsia para outras pessoas.
Vozes
2.9 305Ruim demais, genérico, clichê, vazio. Igual a trocentos filmes que já foram feitos sobre a mesma temática.
Minari - Em Busca da Felicidade
3.9 551 Assista AgoraFilme muito bonito e realista sobre a adaptação de uma família sul-coreana à vida nos EUA. Quase um documentário, até porque na introdução do filme a gente já fica sabendo que a história é baseada na vida do diretor Lee Isaac Chung.
"Minari" é, acima de tudo, humano. Família, amor, dinheiro, futuro, reconhecimento. Tudo isso está em jogo na vida do protagonista Jacob (Steve Yeun, famoso por seu personagem de The Walking Dead), seus filhos, sua esposa e sogra. A gente sabe que o Jacob ama a família, mas fica nítido que coloca suas ambições pessoais na frente do bem-estar deles.
Quem rouba a cena é o pequeno Alan Kim, na pele do David. Muito fofo, divertido, carismático e inteligente! Aquelas cenas em que tenta imitar o grito do pai e fala que a avó não é uma avó de verdade são ótimas. Desde cedo, já mostrando tanto talento. Já pensando no Oscar, é justo que o filme receba indicação tripla nas categorias de atuação. Melhor Ator para Steven Yeun, Melhor Ator Coadjuvante para David S. Kim e Melhor Atriz Coadjuvante para Yoon Yuh Jung (a vovó que "não é vovó de verdade" rs).
Infelizmente, considerando o histórico da Academia, acredito que o pequeno David S. Kim acabará esnobado. Digo isso porque, em 2016, Jacob Tremblay teve uma das melhores atuações do ano no filme "O Quarto de Jack" e foi esquecido no churrasco. Estarei na torcida pra que o mesmo não aconteça agora em 2021.
Druk: Mais Uma Rodada
3.9 798 Assista Agora"E se levássemos nossas vidas bêbados?"
Coincidente, eu tive essa ideia lá em 2016/2017 em um momento de embriaguez. O diretor Thomas Vintenberg, o mesmo de "A Caça" (um dos longas mais impactantes que já vi), foi mais rápido que eu e transformou a pergunta em filme, buscando até uma teoria para validá-la.
Muito divertido ver como, no começo, o álcool torna tudo melhor na vida dos quatro amigos frustrados. As aulas de Martin saem da chatice, da morosidade e se tornam dinâmicas, participativas. É a motivação que estava faltando. Vendo os efeitos positivos, por que não aumentar a dose?
É aí que a conta chega... O que também "livra" o filme de ser acusado pelos moralistas de plantão de glamourizar o consumo excessivo de álcool. Algo que lembra o clássico Trainspotting. Filme no qual também vemos as "maravilhas" e "delícias" do consumo de heroína até que TCHÃ! Um acontecimento sem volta puxa os nossos protagonistas para a dura realidade.
Mads Mikkelsen, mais uma vez, mostra como é um ator foda. A cena final dele dançando é a melhor do filme, um momento de pura liberdade e descarrego do personagem. Se tivesse grana infinita pra fazer o meu próprio filme, super chamaria ele pra compor o elenco - o que o cara fez no já comentado "A Caça" não é pra qualquer um.
"Outra Rodada" (título em português do filme) ficou na minha cabeça dias depois de ter assistido. Mais especificamente as cenas de êxtase embaladas pela música What a Life, de Scarlet Pleasure. A escolha foi cirúrgica! Combinou certinho com o clima do filme e tenho certeza de que vai ficar na cabeça de quem está lendo esse texto também.
♫ What a life, what a night ♫
♫ What a beautiful, beautiful ride ♫
♫ Don't know where I'm in five but I'm young and alive ♫
♫ Fuck what they are saying, what a life ♫
O Cemitério das Almas Perdidas
3.1 72Terror genuinamente nacional com muito sangue, índios, europeus colonizadores, satanismo e fundamentalismo religioso. O grande show é a maquiagem, que não fica devendo em nada para as produções hollywoodianas: os monstrengos do filme se parecem com os orcs do Senhor dos Anéis, tamanho o capricho.
A montagem é um pouco confusa. Tem um momento estilo "A Origem" (rs) com um sonho dentro de um sonho - ou um sonho atrás de outro sonho, não sei. Apesar de ser o filme com o maior orçamento da carreira do Rodrigo Aragão (R$ 2 milhões), não é um dos mais divertidos. Se fosse fazer um TOP 3, colocaria Mangue Negro, Mar Negro e As Fábulas Negras, ou até mesmo A Noite do Chupacabras.
Rodrigo Aragão é um cineasta único no terror nacional, o herdeiro legítimo de José Mojica Marins, embora os filmes dele sejam bem diferentes daqueles do Zé do Caixão. Tenho fé de que vem muita coisa boa por aí.
Soul
4.3 1,4KA beleza da vida está nos pequenos detalhes. Comer uma pizza, sentir o vento no seu rosto, receber o abraço da mãe e uma calça costurada com carinho, ganhar um brinde do barbeiro. Coisas simples que parecem banais, mas que, na verdade, não têm preço. Acredito que essa seja a grande mensagem do filme.
Muito feliz em ver o primeiro protagonista negro em um filme da Pixar/Disney, ainda mais sendo alguém tão cativante como o músico Joe Gardner. Ponto para a representatividade!
Eu queria ter só 10% da criatividade da Pixar. Incrível como eles conseguem sair da casinha e conceber tramas bastante originais, divertidas, pensadas tanto para adultos como crianças. Eu mesmo ri alto e sozinho em dois momentos:
1) Joe e 22 totalmente atrapalhados saindo do quarto no hospital logo depois que a troca de corpos é feita. 2) 22 beijando a tia de Joe na boca.
Por outro lado, traz discussões bem adultas que provavelmente passam despercebidas pelas crianças. Exemplos: O dilema Estabilidade profissional/financeira X ousar e correr atrás dos seus próprios sonhos (Joe sonha em ser parte de uma banda de jazz, mas sua mãe pressiona para aceitar o emprego como professor de música), e vícios e obsessões tomando conta da vida (como no caso da alma presa "no trabalho").
Seu Nome Gravado em Mim
4.0 180Pra um filme de romance funcionar bem, você precisa criar empatia, se conectar com os personagens, torcer pela união deles. Infelizmente, não consegui ter essa experiência com Seu Nome Gravado em Mim (o "Seu Nome" no título foi uma tentativa de fisgar os fãs de Me Chame Pelo Seu Nome? rs).
Achei que a montagem prejudicou o resultado do filme, apesar dos atores esforçados e talentosos. Muitas idas e vindas na história... Não foi uma boa ideia colocar o menino contando a história para o padre (recurso super clichê também).
O Homem Invisível
3.8 2,0K Assista AgoraMuito inteligente da parte deles terem inserido um subtexto de relacionamento abusivo a esse tradicional personagem de terror. Isso sim que é modernizar, atualizar um clássico com maestria - eu mesmo me lembro de ter assistido à versão com o Kevin Bacon na Globo quando era criança.
A gente vê a protagonista (brilhantemente interpretada por Elisabeth Moss) se levantando no meio da madrugada, driblando um monte de câmeras, alarmes e um muro e logo se dá conta de que tudo isso não é, necessariamente, para proteger a propriedade de um inimigo externo - mas, sim, para mantê-la enclausurada e vigiada nessa verdadeira fortaleza tecnológica.
O filme traz uma sensação de agonia, tensão e desespero bem forte. A gente se sente no lugar da personagem, observando um cômodo vazio, uma parede, imaginando se o Homem Invisível está ou não ali. Uma experiência bem bacana de terror e suspense. Achei legal que, mesmo parecendo louca para os demais, a Cecilia nunca questiona sua própria sanidade. Ela sabe que está certa, afinal, sabe o grau da psicopatia, imprevisibilidade, obsessão e inteligência do seu ex-marido.
O final é perfeito. Não mudaria nada. A gente se sente vitorioso e aliviado junto com a Cecilia. Muitos roteiristas e diretores teriam caído na tentação de deixar o Adrian escapar impune como a vítima da história como forma de já engatar uma continuação. Leigh Whannell, que eu sempre vou lembrar por sua participação na série Jogos Mortais, não caiu nessa. O que é muito bom - mas, por um lado, me deixa pensando se teremos uma sequência, já que não ficaram pontas soltas. Se eu assistiria um Homem Invisível 2? Se tiver Elisabeth Moss e o mesmo capricho na direção e roteiro, com certeza!
First Cow: A Primeira Vaca da América
3.8 131 Assista AgoraO filme começa tropeçando, melhora no meio e termina super bem!
Nesse caso, achei que enrolaram muito tempo no começo. Claro que precisa mostrar um pouco dos personagens, apresentar eles se conhecendo, etc. Mas demora muito para chegar na parte da produção dos bolinhos e da vaca. É aí que tudo fica mais interessante e a gente passa a acompanhar a história com um olhar mais atento. No fundo, é a história de uma bonita e improvável amizade de duas pessoas tentando ascender socialmente num mundo hostil para eles.
Imagino que alguns vão dizer que o longa não tem um final, sendo que, na verdade, ele termina exatamente onde tem de terminar
Mulher-Maravilha 1984
3.0 1,4K Assista AgoraSão tantos filmes de super-herói lançados recentemente que os novos precisam ter algo que se destaque dos demais para serem atrativos. Mulher Maravilha 1984 não tem isso.
O roteiro, ambientado nos anos 80 durante a Guerra Fria, parece saído de um X-Men - dos fracos ainda, tipo o Apocalipse. O humor não funciona (alguém deu risada do Steve Trevor se atrapalhando com uma escada rolante?) e o romance, como é regra em filme de super herói, é chatíssimo e só ocupa tempo de tela que poderia ser usado para outras coisas.
O desenvolvimento da Mulher Leopardo é muito ruim. Motivação super fraca, cartunesca e clichê. Deveriam ter guardado a personagem pra ser a antagonista principal em um próximo filme, não a vilã secundária. O final então...
jura que conseguiram convencer o mundo a abrir mão dos seus desejos e sonhos? As pessoas da década de 1980 eram mais empáticas do que as pessoas de agora, que fazem festas, viajam a lazer e não usam máscara em plena pandemia? A Barbara do nada escolheu ser meio leopardo e meio humana? Maxwell Lord desistiu do plano de dominação mundial pra cuidar de um filho que ele nem ligava? Parece coisa de Sessão da Tarde
A diretora Patty Jenkins disse, em entrevista, que o vilão Maxwell Lord foi inspirado em Donald Trump. E, realmente, ficou bem parecido! O cabelo, os trejeitos, a maneira de falar, o fato de ser um ricaço com presença na TV, a aparência (com a diferença de ser mais jovem e magro). Em dado momento, ele até fala "You are hired" (Você está contratado), lembrando o clássico "You are fired" (Você está demitido), do reality show O Aprendiz, apresentado por Trump. Mesmo que o personagem seja meio tosco e bobo, achei legal e divertida a referência. Consegui gostar dele por causa disso.
Os efeitos especiais melhoraram bastante do primeiro filme para esse. A sequência de abertura, mostrando uma espécie de olimpíadas das amazonas, é LINDA. Tem cenários que eu adoraria ter visto na tela grande do cinema. Gostei muito também da cena da estrada no deserto à la Mad Max, embalada pela já icônica música-tema da Mulher Maravilha.
Vejo muita gente criticando a Gal Gadot como atriz, mas gosto bastante dela. Acho que se deu super bem como Mulher-Maravilha e torço para que consiga ir além disso. Que consiga bons papéis e mostre seu talento em filmes de drama, suspense, romance, terror... Enfim, que sua carreira deslanche no cinema.
AmarElo - É Tudo Pra Ontem
4.6 354 Assista AgoraNão conheço nada de rap, samba ou da carreira do Emicida, mas adorei o protagonismo negro, toda a parte de história e cultura.
O documentário é tecnicamente admirável, mesclando belíssimas cenas da apresentação no Theatro Municipal com imagens de arquivo e até animações. Mostra a força, a luta e a importância dos negros para a construção desse país chamado Brasil, bem como as injustiças e dores que sofreram e ainda sofrem.
Produção super atual, ainda mais em um ano de Black Lives Matter. O documentário surpreende ao abordar, ainda que de maneira breve, a crise do coronavírus (eu jurava que as filmagens tinham sido finalizadas antes da pandemia). E, em mais um triste reflexo da desigualdade racial e social, o longa confirma aquilo que vemos nos números: os negros são os mais vulneráveis à doença. Na cidade de São Paulo, a mortalidade entre negros é de 172 óbitos por 100 mil habitantes, enquanto da população branca foi de 115 mortes a cada 100 mil, segundo dados do Instituto Pólis, divulgados pela Agência Brasil em agosto.
Fico imaginando se o documentário fosse produzido ao mesmo tempo em que teve o assassinato do João Alberto. As datas não bateram, mas com certeza a discussão ficaria ainda mais rica e impactante ao abordar a história do homem que morreu 2 vezes. A primeira quando foi espancado covardemente até a morte. A segunda quando, também covardemente, passaram a julgar seu passado e alguns, inclusive, a justificar o homicídio com base em supostas informações de que João Alberto teria ficha criminal. Os racistas
não respeitam os negros em vida e, muito menos, na morte.
Graças ao documentário, conheci Lélia Gonzalez - engraçado que conhecia Angela Davis de nome, mas Lélia nunca tinha ouvido falar. Por que não estudamos nada sobre o movimento negro brasileiro nas escolas?
Fiquei pensativo com a frase do Simonal. Ele falando que torcia pro filho não ter que enfrentar as mesmas barreiras que a sua geração. Claro que muita coisa mudou, mas ainda tem um longo caminho a ser percorrido, com obstáculos enormes como preconceito, ódio, injustiça e desigualdade. Mas, como diz o rap "Pantera Negra", do próprio Emicida, "Com a garra, razão e frieza, mano// Se a barra é pesada, a certeza é voltar".
Tudo Bem no Natal Que Vem
3.5 563Uma fórmula que a gente já viu em vários filmes de Hollywood, mas que aqui ganha um gostinho especial graças ao tempero brasileiro. No lugar de Adam Sandler ou um Jack Black da vida, Leandro Hassum - um comediante talentoso, apesar de eu não ter a mínima vontade de ver filmes como O Candidato Honesto e Até que a Sorte nos Separe. Na ceia de Natal, elementos genuinamente brasileiros, como a piada do pavê e o Roberto Carlos. Faltou o "amigo da onça" pra ficar ainda mais a cara das ceias brasileiras.
No mais, é um longa bem divertido, gostoso de ver, emocionante, humano, como costumam ser as produções natalinas. Faz a gente refletir sobre as relações familiares e humanas. Não por acaso, foi um dos filmes mais vistos da Netflix no exterior.
É legal reparar o cuidado que a produção teve com a passagem de tempo. O protagonista Jorge muda bastante de aparência com o decorrer dos anos: engorda, deixa o bigode, tira o bigode, muda o cabelo, envelhece. Ponto para a equipe de maquiagem e figurino!
O Som do Silêncio
4.1 986 Assista AgoraOps, parece que senti um cheirinho de Oscar aí!
The Sound of Metal (título acertadamente adaptado como O Som do Silêncio no Brasil) é aquele filme que você escuta falar bem e, quando vai assistir, percebe que é bom mesmo!
Ruben é um personagem obsessivo... Obsessivo com a sua carreira de baterista, com uma vida que ele se recusa a perceber que não vai ser mais como antes. Meio que a contragosto, aceita ir para a instituição do carismático Joe. A primeira impressão que temos dele ali é de que não vai se encaixar no grupo, que vai continuar deslocado, sem aprender a se comunicar com os seus colegas surdos. Algumas cenas depois, lá está Ruben, brincando com as crianças, dando aula de bateria, conversando com considerável fluidez na linguagem dos sinais.
O problema é que a obsessão pela vida como a conhecia não vai embora.
Na ingenuidade, imagina que um implante restauraria sua audição como era antes. Ledo engano....
Filme bem intimista, humano sem apelar para o sentimentalismo ou lições de morais baratas. Se tivesse que resumir em uma frase, diria que é uma história sobre autoaceitação, sobre adaptar-se a uma nova realidade. Imagine o que é perder a audição para um baterista! Seria como um chef de cozinha perder o paladar, um jogador de futebol perder o movimento das pernas, um fotógrafo perder a visão... por aí vai.
Riz Ahmed está incrível no papel. Não vi outras atuações dele para comparar, mas aqui o ator se entrega de corpo e alma ao personagem Ruben. Um trabalho, inegavelmente, exemplar de atuação. Super merece uma indicação ao Oscar, assim como Paul Raci, humano, sensível e, ao mesmo, dono de palavras firmes como Joe.
Excelente também o trabalho de som. Mas, enquanto via o filme, fiquei com a impressão do que o diretor poderia ter ousado e se arriscado um pouquinho mais. Seria genial se fôssemos colocados na perspectiva pessoal de Ruben e, assim como ele, parássemos de ouvir os sons - ouviríamos o que ele ouve, deixaríamos de ouvir o que ele deixa de ouvir (assim como foi feito nos momentos em que está com o implante). Sem dúvida, O Som do Silêncio se tornaria uma experiência sensorial única, impactante e imersiva.
E que final hein? Quer mensagem mais poderosa sobre autoaceitação do que essa? Muito bonita também a conversa de Joe com Ruben quando ele volta para a instituição após o procedimento. A surdez, para as pessoas dali, não é um defeito ou motivo de vergonha. É uma maneira diferente de viver e explorar o mundo. Filme dos bons em um ano merda como 2020!
Tio Frank
3.9 240 Assista AgoraTio Frank é o que normalmente se chama de "feel good movie": aquele filme que você assiste num fim de ano para se sentir bem. É bonitinho, esperançoso, com boas atuações, roteiro bem amarrado, história com calor humano, mensagem familiar, lição de vida, final feliz. E acaba aí mesmo... Poderia ser impactante, memorável, daqueles que você termina de assistir e pensa "puts, tô meio tonto aqui".
Mas tudo bem. Nem todo filme é feito pra ser assim. Tio Frank cumpre ali sua função de contar uma boa história e super indico para outras pessoas.
A cena mais impactante é, sem dúvida, a leitura do testamento. As palavras do pai do Frank são muito duras e tristes. É difícil não se imaginar no lugar dele, sentir a dor, a vergonha, a humilhação.
Quem Matou o Milionário?
2.8 2 Assista AgoraLi a sinopse, fiquei intrigado e decidi assistir, mas a verdade é que esperava bem mais. Não souberam trabalhar o mistério em cima da morte do ricaço e nem distribuir "pistas" nas três versões sobre o assassinato. A gente termina sem entender o final. Uma pena. Tinha tanto potencial e acaba sendo bem fraco.
Nunca, Raramente, Às Vezes, Sempre
4.0 215 Assista AgoraFilme extremamente necessário e urgente de ser assistido por todos. Dói ver o peso do machismo, da masculinidade tóxica e da cultura do estupro na vida de Autumn e sua prima. O xingamento de "vadia" na apresentação musical, o pai, o chefe no mercado, o cliente no caixa, o estranho se masturbando no metrô, o garoto "educado" do ônibus (sim, o machismo também aparece na forma de "cavalheiros" insistentes). Isso para não falar do conservadorismo e da hipocrisia religiosa, aqui retratada pela médica que tenta dissuadir Autumn do aborto com um vídeo estúpido e a manifestação em frente à clínica.
Um dos melhores longas que vi no ano. Assisti, fiquei com ele na cabeça e já recomendei para mais pessoas. Será uma enorme injustiça se as grandes premiações hollywoodianas não indicarem Never Rarely Sometimes Always nas categorias principais - e aqui falo, especialmente, das atrizes Sidney Flanigan (Autumn) e Talia Ryder (a prima Skylar).
Vendo o filme, não pude deixar de me sentir triste pensando em como a descriminalização do aborto avança a passos de tartaruga. Ao mesmo tempo em que vemos nossos vizinhos argentinos discutindo e aprovando na Câmara dos Deputados uma legislação nesse sentido, estamos muito, muito distantes de descriminalizar o aborto no Brasil.
É interessante ver também como a Nova York foi construída aqui. Muito distante da cosmópole colorida e cheia de vida que vemos em muitos filmes. A NY de Never Rarely Sometimes Always é uma cidade fria, pouco acolhedora, onde você é só mais um na multidão.
Para mim, na cena do questionário ficou muito claro que Autumn era abusada pelo pai e foi engravidada por ele. Digo isso pela resposta dela se foi forçada a ter relações sexuais. Já tínhamos visto que o cara era um machista escroto e, o fato de ele abusar da própria filha, "casa" muito bem com a proposta do filme de mostrar que o machismo e a cultura do estupro também estão dentro de casa. Algumas pistas podem endossar essa teoria: ela ligar pra mãe e não conseguir contar o que está acontecendo, o fato de em nenhum momento ser feita referência ao suposto pai da criança, especialmente por parte de Skylar, como se ela já soubesse que a prima é vítima de abuso.
Falsos Milionários
3.4 77 Assista AgoraExcentricidade e criatividade em um filme com personagens que parecem ter saído da mente do Wes Anderson. Uma família de trambiqueiros cheia de tiques e esquisitices que vive de pequenos golpes. A protagonista Old Dolio é interpretada genialmente por Evan Rachel Wood, que cria trejeitos únicos em sua postura corporal e expressão praticamente de paisagem. Além do figurino, que a veste sempre com roupas longas, típico de uma pessoa introvertida e, de alguma forma, reprimida pela criação inusitada que recebeu.
Não diria que é um defeito, mas, pela própria bizarrice dos personagens, nada parece real no filme. O comportamento das pessoas, as situações, os diálogos, os golpes... nada é crível de acontecer no mundo como o conhecemos - o que, repito, não é necessariamente um ponto negativo.
E, nossa, demorou pra sair o beijo das duas hein! Fiquei torcendo o filme inteiro pro casal hahah
Garotos de Programa
3.6 385 Assista AgoraO começo é melhor do que o meio e o fim, mas, mesmo assim, o resultado é bastante positivo. Ali a gente vê dois personagens que, embora estejam nas ruas como garotos de programa, são bem diferentes.
Mike não tem pra onde correr, distante da família, suplica dinheiro a mais para os clientes, depende dos programas para sobreviver, está à procura da mãe. Scott é de família rica, filho do prefeito, parece viver a vida de GP mais como um ato de rebeldia. E isso, inevitavelmente, acaba sendo crucial para o destino dos dois:
Scott se apaixona e abraça os luxos e privilégios que até então rejeitava, enquanto Mike, abandonado pelo melhor amigo e crush, continua perdido na estrada da vida.
Muito triste a morte tão precoce do River Phoenix. Um ator lindo e talentoso que nesse filme está a cara do David Bowie. Keanu Reeves, queridinho dos cinéfilos, mais uma vez mostra seu talento - e a falta que faz vê-lo em mais filmes assim.
Quer dizer que, antes de aterrorizar os moradores de Bacurau, Udo Kier se envolvia com garotos de programa em hotéis de beira de estrada?
O longa tem um ar teatral bem evidente - muitas vezes os personagens aparentam estar num palco, declamando poesia e falas de peças. Coisa do Gus van Sant, com certeza. Adorei também a cena deles na capa de revista. Criatividade mil!
Alguém Avisa?
3.5 340 Assista AgoraFilme divertido e gostoso para ver agora na véspera do Natal!
Uma legítima dramédia, mistura de drama com comédia. Me senti muito na pele da Abby porque também não curto essas festas de fim de ano e sempre ficava deslocado nos eventos em família rs. Dá uma raiva de ver como a família da Harper é esnobe, metida e egocêntrica, tratando ela como uma pobre coitada órfã. Em alguns momentos, me lembrou até o terror "Corra" (kkk), até pela semelhança da Mackenzie Davis com a Allison Williams.
Kristen Stewart manda muito bem em cena. Ela é uma atriz super talentosa. Só não gosta quem parou lá em 2008 e ainda fica com a imagem do Crepúsculo na cabeça.
É uma história que com certeza acontece muito nas cerimônias natalinas. Membros da família se esforçando para manter as máscaras e, não duvido, até apresentando um ficante como amigo para não despertar a rejeição dos familiares.
Muita bonita também a homenagem ao clássico "A Felicidade Não se Compra". Grata surpresa em um ano tão difícil como 2020 - não só para o cinema (que viu lançamentos escassos), mas para todos nós.
PS: esse título que tá no Filmow é o título do filme no Brasil mesmo? KKK se for, tá péssimo. Como um amigo sugeriu, seria BEM MELHOR se fosse "A Felicidade Não se Vende". Referência ao clássico e também casaria bem com a temática do filme, com uma família tentando "vender" uma imagem falsa de si mesma.
Caixa Preta
3.2 175 Assista AgoraProdução original da Amazon que parece um episódio de Black Mirror. Tecnologia além da nossa compreensão, dilemas morais, ganância humana... Os ingredientes são os mesmos.
"Black Box" cumpre seu papel. Instiga, entretém com surpresas aqui e ali e tem seus momentos que flertam com o terror. É legal ir descobrindo, pela perspectiva do protagonista, a verdade por trás do acidente e da perda de memória. Destaque para o elenco 100% negro em um filme cujo tema não é o racismo - coisa difícil de se ver no cinema (ponto para a Amazon!).
É aquela coisa... O longa é bom, mas fico imaginando se o projeto tivesse caído nas mãos de um diretor como o Jordan Peele. Com certeza, "Black Box" teria outro patamar.
Fica a dica: se você é aquele tipo de pessoa que, como eu, passa décadas caçando algo para ver no streaming, "Black Box" é uma opção bacana para ver sem grandes compromissos.
A Casa de Cera
3.1 2,1K Assista AgoraÉ aquela coisa né: é igual a 99% dos slashers. Tudo que tem no filme já vimos em outras produções. Nem por isso deixa de ser divertido de assistir. É envolvente e tem boas cenas.
#Alive
3.2 494 Assista AgoraA comparação é inevitável: o isolamento do personagem lembra exatamente o isolamento que estamos vivendo nessa pandemia (eu, pelo menos, estou isolado desde março para preservar a minha vida e a do próximo).
No lugar dos zumbis, um inimigo invisível, sem cor, sem cheiro, que pode estar na maçaneta, na embalagem de leite do supermercado, no botão do interfone do prédio, na pizza que veio pelo Ifood. Mas o medo é o mesmo.
Cinema sul-coreano sempre entrega bons exemplares e aqui não é diferente.
Ponto fraco: o final com Deus ex-machina, aquela solução mágica que cai do céu (literalmente)
Refúgio do Medo
3.6 373 Assista AgoraGosto bastante de filmes ambientados em hospitais psiquiátricos. Existe algo de misterioso e intrigante na mente humana. O elenco, então, é show! Jim Sturgess, Kate Beckinsale, Ben Kingsley, Michael Caine, David Thewlis, todos ótimos!
Tem umas reviravoltas e uma atmosfera de suspense bem bacana. A qualidade técnica do filme não deixa a desejar em nada. A única coisa que me incomoda é a parte romântica exagerada.
Me lembrou bastante A Ilha do Medo. Bem impactante a cena que causou todo o trauma no Silas, muito bem filmada, montada e dirigida.
A Ditadura Perfeita
4.1 78O poder pelo poder, custe o que custar!
Apesar de se passar no México, lembra bastante o Brasil, hein!
A imprensa a $erviço de quem está no poder. Histórias impactantes criadas da noite pro dia para desviar a atenção da população. Ataques armados a opositores políticos. O Estado lado a lado com o narcotráfico. O governador corrupto com aspirações presidenciais.
Podia ser um pouco mais curto? Podia, o filme até chega a cansar em alguns momentos. Mas vale a pena ver na Netflix enquanto está disponível!
A Autópsia
3.3 1,0K Assista AgoraFazia tempo que um filme de terror não me deixava assustado (mais no sentido de incomodado do que com medo). A tensão é muito bem construída, com o cadáver da jovem exposto durante todo o longa.
O engraçado é que a gente tá tão acostumando com clichês que fica olhando esperando o corpo se levantar, se mexer, virar a cabeça rs. Talvez por não fazer isso, o clima fica ainda mais aterrorizante
As atuações também são muito boas. Emile Hirsch andava meio sumido da indústria, principalmente depois de ser preso por agredir uma executiva de cinema no Festival de Sundance. A relação pai-filho chega a ser uma coisa muito bonita ali no filme, com forte cumplicidade, confiança e companheirismo entre os dois.
Eu gosto de filmes que se passam majoritariamente em um único cenário: aqui, o necrotério da família. Recomendo facilmente A Autópsia para outras pessoas.